Você está na página 1de 3

Universidade Federal do Piauí

Campos Senador Helvídio Nunes de Barros


Curso: Letras - Língua e Literatura de Língua Portuguesa
Disciplina: Sociologia da Educação
Docente: Prof. Dra. Cristiana Barra Teixeira
Discente: Fernanda Oliveira Lima

Sociedade, educação e vida moral – Alberto Tosi Rodrigues


O homem faz a sociedade ou a sociedade faz o homem?

Tema de inúmeros debates e reflexões, o papel do homem na sociedade figura


como uma das questões primordiais da sociologia, ciência que se ocupa justamente do
estudo da sociedade. Em função de sua profundidade, os sociólogos, buscando
responder à pergunta que inicia o capítulo, traçaram caminhos distintos entre si, já que
parte deles acreditava que a sociedade exercia sua influência sobre os indivíduos de
forma coercitiva, enquanto a outra defendia que as estruturas sociais eram obras
humanas, resultado de sua capacidade criativa.

Esta temática também recebeu a atenção do filósofo francês Émile Durkheim,


que, ao invés de escolher um lado e observar por apenas um ângulo, desenvolveu uma
linha de pensamento em que afirmava que os indivíduos assumiam diante da sociedade
ambos os papéis, o de produtor e o de produto.

Durkheim e o pensamento sociológico

Durkheim, manifestando suas tendências positivistas e a influência cientificista


que sofreu, adotou uma perspectiva naturalista para analisar a sociedade, a qual chamou,
tal como os reinos biológicos, de “reino moral”. Ele acreditava ainda que a sociedade
era regida por leis, imutáveis como as da física, que promoviam a manutenção da
coesão social, e que caberia aos sociólogos, cientistas, a tarefa de identificá-las.

Durkheim desenvolveu também a teoria dos fatos socias, descrita por


RODRIGUES (2007), como “modos de agir que exercem sobre o indivíduo uma
coerção exterior e que apresentam uma existência própria, independente das
manifestações individuais que possam ter”, e que para conhecê-los é preciso criar
representações mentais deles. É com esta teoria que Durkheim constrói a ideia de que a
sociedade está na mente de todos, de modo individual e também como conjunto.

A sociedade na cabeça de cada um

O sociólogo francês defende que a sociedade é constituída pelo conjunto de


concepções individuais que formam as crenças e os valores que orientam a vida
humana, o que torna cada pessoa uma parte imprescindível desse processo de formação
e construção. No entanto, tendo em mente que a sociedade é uma construção coletiva,
Durkheim alerta para a impossibilidade de analisar a sociedade a partir da observação
de um único indivíduo, “pois se é verdade que ela existe em cada um, em cada um só
existe um fragmento dela” RODRIGUES (2007).

A diferenciação da sociedade

Grande parte das regras a que nos submete a vida social, argumenta Durkheim,
não foram criadas por nós, ao contrário, existem desde muito antes do nosso
nascimento, mas que foram transmitidas geração após geração, nos permitindo conhecê-
las. São estas regras que orientam nosso comportamento na sociedade, através do que
Durkheim chamou de divisão do trabalho social.

Para que a sociedade possa existir de forma coerente é indispensável o


estabelecimento de um consenso entre seus membros. A teoria da divisão do trabalho de
Durkheim resulta, de acordo com ele, em dois tipos de solidariedade, a mecânica e a
orgânica, que podem auxiliar ou dificultar a manutenção desse consenso. A primeira
pode ser percebida de modo destacado nas sociedades primitivas, onde a pouca divisão
do trabalho insere os indivíduos em um contexto social comum e, consequentemente,
aproxima suas maneiras de pensar, promovendo, portanto, um consenso natural entre
eles. Enquanto a segunda, mais comum na contemporaneidade e potencializada pelo
sistema capitalista, é o produto de uma divisão do trabalho bastante definida, em que
cada um atua em uma área específica de um todo, como engrenagens em uma máquina,
e a solidariedade se estabelece a partir da relação de dependência de uns com os outros,
ao mesmo tempo que os afasta e enfraquece o consenso necessário à sociedade na
medida que promove o individualismo.

Educação para vida


Em vista da realidade apresentada por Durkheim, pela perspectiva da divisão do
trabalho social, o autor questiona o porquê de a sociedade nunca ter entrado em colapso,
já que o pensamento coletivo está cada vez mais enfraquecido e em seguida utiliza-se
novamente das ideias durkheimianas para respondê-lo.

O sociólogo acreditava ser a educação a principal responsável pela manutenção


da coesão social, ensinando às crianças como se inserir na sociedade. No entanto, ele
também argumentava que “socializar-se é aprender a ser membro da sociedade, e
aprender a ser membro da sociedade é aprender o seu devido lugar nela”, não sendo
possível pensar na educação como um sistema homogêneo, pois ao mesmo tempo que é
necessário aprender regras específicas de uma determinada área da sociedade em que se
está inserido, também é de suma importância aprender as “regras gerais” que regem a
vida social.

Para Durkheim, a educação deve adotar, portanto, uma postura dicotômica,


ensinando às crianças o que necessário para se encaixar em seu meio moral, mas sem
deixar de prepará-lo para o contato com membros de meios morais diferentes.

Você também pode gostar