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Líquido Seminal e Desenvolvimento do

Espermograma

Conteudista: Prof.ª Dra. Giovana Massarotto


Revisão Textual: Pérola Damasceno                                                                        
     

Objetivo da Unidade:

Analisar e identi car constituintes celulares presentes no líquido seminal,


assim como as principais alterações celulares envolvidas.

ʪ Material Teórico

ʪ Material Complementar

ʪ Referências

QUESTION B AN KS
1/3

ʪ Material Teórico

Anatomia do Sistema Reprodutor Masculino

Fisiologia Seminal
O líquido seminal é formado por uidos liberados de diferentes órgãos do sistema reprodutor
masculino, que incluem testículos, epidídimos, vesículas seminais, próstata e glândulas
bulbouretrais. Do total de líquido seminal produzido, 5% são espermatozoides, 60-70% uido
seminal, 20-30% uido prostático e 5% uido das glândulas bulbouretrais. Cada uido tem
sua função especí ca para manter, nutrir e permitir que os espermatozoides sobrevivam até
que ocorra a fecundação. A seguir, na Figura 1, temos a demonstração da anatomia do
aparelho reprodutor masculino.
Figura 1 – Sistema Reprodutor Masculino
Fonte: Adaptada de VIEIRA et al., 2021

Vamos entender mais sobre alguns órgãos que fazem parte do sistema reprodutor masculino:

Testículos
Começaremos falando sobre os testículos, que são órgãos de importância fundamental, uma
vez que é neles que ocorre a espermatogênese. As células de Sertoli (Figura 2), que estão
localizadas no interior dos túbulos seminíferos, que, por sua vez, abrigam-se nos testículos,
fornecem nutrientes para as células germinativas durante o processo de espermatogênese.
Quando a espermatogênese naliza, os espermatozoides, ainda imóveis, são transportados
para o epidídimo, onde terminam sua etapa de maturação e adquirem o agelo para
locomoção. O epidídimo tem a função de armazenar os espermatozoides até o momento da
ejaculação.
Na etapa de ejaculação os espermatozoides deslocam-se pelos ductos deferentes e ductos
ejaculatórios, onde recebem o uido produzido pelas vesículas seminais, rico em frutose e
prostaglandinas, que in uenciam a movimentação do agelo necessário para transporte dos
espermatozoides.

Figura 2
Fonte: Adaptada de VIEIRA et al., 2021

Estrutura dos túbulos seminíferos com a localização das


células de Sertoli e das células progenitoras dos
espermatozoides (espermatogônia, espermatócitos
primário e secundário e espermátides).

Próstata
A próstata localiza-se abaixo da bexiga e auxilia na propulsão dos espermatozoides pela
uretra. Há contração da próstata durante a ejaculação permitindo a saída dos espermatozoides.
O órgão tem uma função importante: secreção de uido com elevadas concentrações de
fosfatase ácida, ácido cítrico, zinco e enzimas proteolíticas responsáveis pela coagulação e pela
liquefação do sêmen após a ejaculação.

Glândulas bulbouretrais
As glândulas bulbouretrais estão localizadas abaixo da próstata, possuem papel importante na
secreção de muco com pH alcalino que consegue neutralizar a acidez do líquido prostático,
tornando-o alcalino, o que permite a movimentação dos espermatozoides no ambiente ácido
da vagina. A acidez vaginal compromete a movimentação dos espermatozoides e a
neutralização se faz necessária.

Pênis
O pênis é o órgão copulatório da genitália externa masculina. Nele, encontramos a uretra, que
fornece caminho para o uido seminal ser expelido, assim como é via para saída da urina
produzida.

A divisão anatômica do pênis compreende: raiz, corpo e glande. A raiz xa o pênis ao períneo.
O corpo do pênis é constituído por três tecidos eréteis: um único corpo esponjoso e um par de
corpos cavernosos. A glande é a porção mais distal do corpo esponjoso. O prepúcio é uma
camada de pele que tem a função de proteger a glande.

Escroto
Escroto é uma bolsa cutânea que abriga os testículos. Constituído por duas camadas: pele
(mais super cial) e a fáscia (profunda). Fibras musculares lisas do músculo dartos permeiam
através da fáscia de dartos, dando uma aparência enrugada ao escroto.
Coleta de Material para Espermograma
A análise do líquido seminal é indicada para avaliação da fertilidade masculina em situações
como: para homens com di culdade para engravidar suas parceiras, após seis meses de
tentativa sem utilizar nenhum método contraceptivo; exame pré-nupcial, como parte da
avaliação da fertilidade masculina; avaliação de enfermidades diagnosticadas em pacientes
com histórico de doenças que possam comprometer a fertilidade, tais como varicocele,
endocrinopatia, criptorquidia, orquite, infecções genitais, entre outros; homens na idade
reprodutiva expostos a substâncias que possam provocar alterações nos espermatozoides,
como medicamentos, radiação, calor excessivo e narcóticos; avaliação de tratamentos de
fertilidade; após realização de vasectomia para avaliação da efetividade do método.

Coleta da Amostra
O paciente deve ser orientado a realizar a coleta por masturbação sem o uso de preservativos
para que não ocorra contaminação com agentes espermicidas. Antes da realização da coleta, o
paciente deve urinar para esvaziar a bexiga, principalmente se há suspeita de ejaculação
retrógrada (caso em que o sêmen re ui para o interior da bexiga).

No momento que antecede a coleta o paciente deve ser orientado a lavar as mãos com
sabonete antisséptico. A coleta é realizada em recipiente plástico fornecido pelo laboratório. O
frasco deve apresentar abertura larga e tampa rosca, além de ser atóxico e estar esterilizado. O
frasco deve ser etiquetado com as informações do paciente, a data e a hora da coleta – essa
informação é importante para que seja possível calcular o tempo de liquefação.

Importante informar ao paciente de que toda amostra ejaculada deve ser coletada no frasco,
sem que ocorram perdas, uma vez que cada fração diz respeito a uma parte da composição do
sêmen e são essenciais na avaliação. A fração ejaculatória inicial é composta de uido
prostático, rico em espermatozoides, enquanto a fração nal é rica em uido das vesículas
seminais. 

Amostra deve ser colhida no laboratório, em área reservada. É importante que a coleta seja
realizada no laboratório para garantir que a amostra seja processada dentro de, no máximo, 1
hora após a coleta. Até o momento da análise deve ser mantida a 37°C. 

Fatores psicológicos, relacionados a alguns pacientes, podem di cultar a coleta do material


em laboratório. O laboratório deve avaliar se há possibilidade de conceder uma exceção para
coleta do material em casa, orientando o paciente sobre como proceder a coleta e reforçando
que a entrega no laboratório deve ocorrer num prazo de 30 minutos para garantia da
integridade da amostra. A mesma deve ser transportada em contato com corpo para assegurar
a temperatura adequada para manutenção de 37ºC. Neste caso, o paciente deve assinar um
Termo de Compromisso informando que o material biológico pertence a ele.

O tempo de abstinência sexual é um fator a ser considerado para coleta. Deve ser respeitado o
período mínimo de 2 dias e máximo de 5 dias. Se o tempo for superior a 5 dias a motilidade
dos espermatozoides pode estar diminuída. 

Para melhor coerência nos resultados liberados da análise, recomenda-se a coleta de pelo
menos duas amostras de sêmen, com intervalo mínimo de 15 dias entre as coletas. Caso
existam discrepâncias superiores a 20% nas análises (em qualquer uma das características
consideradas), deve-se repetir uma ou mais vezes o exame antes do médico emitir o parecer
nal.

Avaliação dos Parâmetros Físicos o


Líquido Seminal
Precauções de biossegurança devem ser seguidas para manipulação das amostras de sêmen.
Devem ser utilizados EPIs: luvas de procedimentos, óculos e/ou protetor facial e avental.

Logo após a coleta, é comum que o sêmen coagule em contato com a temperatura ambiente,
tornando-se liquefeito, em torno de 20 minutos, quando mantido em temperatura ambiente.
Algumas amostras podem levar mais tempo para liquefazer, porém este tempo nunca é
superior a 60 minutos. Amostras que levam mais que 60 minutos para liquefazer, podem ser
indicativo de de ciência na secreção prostática. 
Grânulos gelatinosos podem permanecer nas amostras liquefeitas e não são indicativos de
patologias. 

Aparência e Cor do Sêmen


A cor característica do sêmen normal é branco-opalescente, levemente translúcido. Quando o
número de espermatozoides é pequeno, a amostra ca ainda mais translúcida. Alterações na
cor e opacidade estão relacionadas a condições especí cas:

Opacidade e coloração mais esbranquiçada: indicam presença de leucócitos e


infecções do trato reprodutivo;

Coloração rosa ou avermelhada: é indicativo da presença de hemácias, o que não é


comum;

Coloração amarelada: pode estar associada a contaminação com urina, abstinência


prolongada e também pode ocorrer em pacientes com icterícia ou em uso de
algumas vitaminas ou medicações. A urina é tóxica para os espermatozoides e
afeta a avaliação da motilidade.

Odor do Sêmen
O sêmen, em sua condição normal, apresenta odor característico. Odor semelhante à urina ou
putrefação devem ser relatados, pois podem estar associados a patologias.

Determinação do Volume de Sêmen


A determinação do volume com pipeta, apesar de comum na rotina laboratorial, não é
indicada, pois acaba sendo perdido um volume de 0,3 e 0,9 mL em razão da di culdade em
capturar toda a amostra.  Há algumas outras técnicas para determinação, por exemplo, através
do peso do recipiente vazio e cheio, mas também pode-se colocar a amostra em um recipiente
graduado e ler o volume diretamente do recipiente.  
O volume normal varia entre 1,5 e 5 mL. Em situações em que estiver aumentado, há
indicativo de períodos de intensa abstinência ou também pode estar relacionado a in amações
nas glândulas acessórias. A hipospermia (termo que designa volume reduzido de sêmen) está
associada à infertilidade e sugere de ciência na secreção das vesículas seminais por
obstrução, agenesia, hipoplasia de dutos ejaculadores, canais deferentes e/ou vesículas
seminais. Deve ser investigado se redução do volume não está associado à perda de parte da
amostra durante a coleta, por ejaculação parcialmente retrógrada ou de de ciência
androgênica. Outra condição apresentada é aspermia, ou seja, ausência de ejaculação na
presença de orgasmo, o que sugere ejaculação retrógrada ou alterações neurológicas que
afetam os mecanismos normais de emissão do sêmen. 

Viscosidade do Sêmen
A viscosidade do sêmen está associada à consistência do uido e à liquefação. Amostras que
não estão completamente liquefeitas apresentam grumos e alta viscosidade. 

As amostras de sêmen podem ser consideradas normais quando facilmente pipetadas e


formam os nos de, no máximo, 2 cm quando liberadas da pipeta. Aumento da viscosidade é
visto em amostras que formam os maiores que 2 cm e di culta a motilidade espermática. 

Para melhorar o processo de análise, amostras muito viscosas podem ser tratadas da mesma
forma que as amostras que apresentam liquefação incompleta. A viscosidade pode ser relatada
como normal, alta ou baixa. 

Importante!
Em amostras com alta viscosidade e/ou liquefação incompleta, o
sêmen pode ser aspirado com seringa e agulha de diâmetro largo (30 ×
12 mm) e expelir o sêmen através de agulha de diâmetro menor (25 × 7
mm) e, novamente, em uma agulha de calibre ainda menor (13 × 4,5
mm). Estas passagens repetidas em seringas com agulha de diâmetros
decrescentes dissolvem os grumos e diminuem a viscosidade,
facilitando a análise.

Determinação do pH do Sêmen
O pH do sêmen é uma associação entre o pH básico da secreção das vesículas seminais e pH
ácido da secreção prostática. As secreções das vesículas seminais são constituídas por frutose,
com pH básico e é fonte de energia para os espermatozoides, e pelas secreções da próstata,
constituída por ácido cítrico, pH ácido, utilizado no ciclo de Krebs. O pH deve ser medido em,
no máximo, 1 hora após a coleta da amostra, já que sofre in uência da perda de CO2.

A medição pode ser feita com tas de pH ou com pHmetro. O procedimento é realizado
removendo-se um volume de material su ciente para o aparelho ou uma gota de sêmen sobre
a tira reagente. O pH normal do sêmen varia entre 7,2 e 7,8, Elevação do pH está associado a
infecções agudas das glândulas acessórias ou quando há demora na realização da análise,
enquanto que a redução, com pH inferior a 7, acontece quando há contaminação com urina.
pHs muito baixos relacionam-se ao quadro de agenesia ou hipoplasia de dutos
ejaculadores/canais deferentes ou vesículas seminais. 
Importante!
A dosagem de frutose somente é indicada quando o volume do
ejaculado for inferior a 1,5mL, na presença de azoospermia.

Avaliação Microscópica do Líquido Seminal


Na avaliação microscópica de nimos a concentração, vitalidade e morfologia espermática,
além da determinação do número de células redondas, e em especial de leucócitos.

Inicialmente é feita uma avaliação para termos uma visão geral da amostra. Para tanto,
observamos o material a fresco entre lâmina e lamínula. Utiliza-se 10 μL de material entre
lâmina e lamínula de 22 × 22 mm para obter uma câmara de, aproximadamente 20, μm de
profundidade. Para avaliação inicial também pode ser utilizada a câmara de Makler. 

Em aumento de 100x, inicialmente, analisa-se a presença de lamentos de muco, agregação


ou aglutinação espermática, a presença de células epiteliais, células redondas (leucócitos e
células progenitoras dos espermatozoides) e cabeças ou caudas isoladas de espermatozoides. 

Com aumento de 200x, avalia-se a motilidade espermática. A agregação pode ocorrer quando
espermatozoides imóveis aderem uns aos outros, em lamentos de muco ou em outros
elementos. A aglutinação acontece normalmente entre as partes que formam o
espermatozoide, como cabeças, caudas ou partes distintas e é importante de ser relatada, uma
vez que pode estar associada a causas imunológicas de infertilidade, como presença de
anticorpos antiespermatozoides (AEEs), que podem ser investigados de forma mais especí ca
por outras metodologias.
Avaliação da Motilidade Espermática
A avaliação da motilidade é parâmetro essencial para a fertilidade. Os espermatozoides são
capazes de se movimentar de forma linear e progressiva, considerando que conseguem
alcançar o colo do útero de um modo mais e ciente, já que no percurso há necessidade da
passagem pelo mucosa uterina, pelas trompas até que ocorra a fecundação. A avaliação
laboratorial da motilidade pode ser feita entre lâmina e lamínula ou na câmara de Makler,
através da diluição da amostra para melhor visualização. Devem ser observados número
mínimo 200 de espermatozoides para avaliação da motilidade.

A Organização Mundial da Saúde recomenda a classi cação em: móveis progressivos (MP),
móveis não progressivos (NP) e imóveis (I). Motilidade progressiva, quando se movimentam
ativamente, de forma linear ou em grande círculo, independentemente da velocidade;
motilidade não progressiva, quando se movimentam sem progressão com batimentos de
cauda ou cabeça; e imotilidade, quando não apresentam nenhum movimento. Os resultados
são reportados como percentual de cada categoria de motilidade. Os valores de referência são
iguais ou acima de 40%.

Outra classi cação determinada, classi ca a presença de motilidade da seguinte forma:

Grau A: espermatozoides com progressão rápida e linear, atravessam o campo


óptico de forma rápida, de nida e linear;

Grau B: conseguem atravessar o campo óptico, porém de forma lenta e irregular;

Grau C: têm di culdades de locomoção, espermatozoides com movimentos de


batimento de cauda ou cabeça, ou circulares;

Grau D: espermatozoides que não se movimentam, permanecem imóveis.

Os espermatozoides com bom percentual de característica de motilidade entre os graus A e B


(mais que 32%) são considerados normais.  
Avaliação da Concentração de Espermatozoides
A concentração espermática é um parâmetro que está relacionado com as taxas de sucesso
para gestação. O número de espermatozoides considerado normal é superior a 20 milhões de
espermatozoides/mL, com as concentrações entre 10 e 20 milhões/mL sendo consideradas
limítrofes. 

A concentração de espermatozoides pode ser determinada pela contagem em câmara de


Neubauer ou Makler. A contagem em câmara de Makler não é tão dedigna quanto a realizada
em câmara de Neubauer, porém para um exame inicial, fornece bons indicadores dos
parâmetros seminais.  

Quando a contagem é realizada em câmara de Neubauer (Figura 3), primeiramente é feita uma
diluição do líquido seminal de 1:20 em água destilada. Essa diluição imobiliza os
espermatozoides e facilita a contagem, também pode ser utilizada formalina a 1%. 
Figura 3 – Representação do Retículo da câmara de
Neubauer
Fonte: VIEIRA et al., 2021 

Espermatozoides são contados nos quatro quadrantes dos


cantos e no quadrante central do retículo central da câmara
de Neubauer (Letra R).
Deve-se contar somente espermatozoides inteiros (com cabeças e caudas) e considerar a
cabeça para localização. Observar o limite de cada quadrado, que é indicado pela linha média
das 3 linhas, e somente contar os espermatozoides cuja maior parte da cabeça estiver entre as
duas linhas internas, e não contar se estiver nas duas linhas mais externas.

Com o auxílio de uma micropipeta de 100μL retirar uma amostra do sêmen diluído e
homogeneizado. Deve-se preencher, cuidadosamente, cada lado da câmara de contagem,
encostando a ponta da pipeta na borda da lamínula, e deixando o líquido preencher apenas um
lado da câmara de cada vez e deixar os espermatozoides e as células sedimentarem por cinco
minutos. A câmara deve ser colocada em uma câmara úmida (por exemplo, dentro de uma
placa da Petri, contendo papel de ltro saturado com água) para evitar ressecamento da
amostra. 

São contados, geralmente, os quatro cantos e o centro do quadrante central, mesmo local
onde são contadas as hemácias em outros uidos biológicos. Focalizar a área de contagem
com objetiva de menor aumento. Passar para a objetiva de maior aumento (40x) e realizar a
contagem de espermatozoides em várias leiras de cinco quadrados determinados pelas três
linhas na área 5, e também nas áreas 4 e 6, obter a média de contagem, e, a seguir, multiplicar
o total obtido pelo fator de diluição. O número total de espermatozoides é encontrado

multiplicando-se o total obtido até aqui por 10.000. 1mL = 1.000mm3. A profundidade da

câmara é de 0,1mm3. Para se chegar ao total/mm3, basta multiplicar por 10. Portanto 10x1.000

= total por mm3 ou por mL. Se for feita a diluição de 1:20 e forem contados os cinco
quadrantes centrais citados, basta multiplicar o número de espermatozoides contados nos
cinco quadrados por 1.000.000 para obter a concentração em milhões/mL. 

A contagem é realizada em câmara de Neubauer por ser mais acessível aos laboratórios, porém
em câmara de Makler Figura 4 ela se torna mais simples, já que não há necessidade de ser
feita a diluição. Alguns laboratórios. por questões de praticidade, preferem realizar a contagem
de espermatozoides em câmara de Makler que foi desenvolvida unicamente com esta
nalidade.
Figura 4 – A e B: Câmara de Makler
Fonte: Adaptada de NEVES et al., 2011

O retículo da câmara de Makler é composto por cem quadrantes (Figura 5). Uma gota do
líquido seminal liquefeito é colocada entre a câmara e coberto pela lamínula especial para
câmara de Makler. A câmara possui uma profundidade xa de 10μL, que permite que os
espermatozoides se movimentem livremente. O retículo é dividido em 10×10 células, e, para se
obter o número de espermatozoides em milhões/mL, deve-se contar o total dos
espermatozoides presentes em dez quadrados da câmara. Exemplo: Se forem observados vinte
espermatozoides em dez quadrados, o total é de 20 milhões/mL de sêmen. Amostras muito
concentradas podem ser diluídas com solução salina tamponada. Em amostras com baixo
número de espermatozoides recomenda-se a contagem de toda a câmara. O número de

espermatozoides contados será multiplicado por 105.


Figura 5 – Representação da Câmara de Markler. A
contagem de 10 quadrantes equivale à concentração em
milhões/mL
Fonte: VIEIRA et al., 2021

Concentração e Análise de Células Redondas


As células redondas presentes no líquido seminal incluem as células progenitoras dos
espermatozoides (espermátides e espermatócitos) e também os leucócitos,
predominantemente os polimorfonucleares e células epiteliais. É importante relatar a
presença de leucócitos, uma vez que um número maior que 1 milhão de leucócitos/mL, em
especial polimorfonucleares, indica infecção e deve ser investigada e tratada. A contagem é
realizada juntamente com a contagem de espermatozoides em câmara.

A coloração com peroxidase (teste de Endtz) permite diferenciar os leucócitos em


polimorfonucleares, já que o citoplasma dos leucócitos neutró los polimorfonucleares é rico
em peróxido de hidrogênio, que reage frente à peroxidase, adquirindo um aspecto
amarronzado característico, permitindo a diferenciação de células primordiais, epiteliais,
linfócitos e monócitos dos neutró los propriamente ditos, que não se coram por essa técnica.
A desvantagem é que essa técnica não detecta polimorfonucleares ativados após terem
liberado seus grânulos, nem linfócitos e monócitos ou macrófagos, que não contêm a
peroxidase. São contadas 200 células e se obtém o percentual de células peroxidase positivas.

Determinação de Hemácias
Hemácias também podem estar presentes no líquido seminal em um número considerado
normal de até 1 milhão de hemácias/mL de sêmen. Valores superiores indicam a presença de
hemospermia. A contagem é realizada em câmara da mesma forma que as células redondas e
concentração de espermatozoides.
Vitalidade Espermática
A avaliação da vitalidade espermática determina o percentual de espermatozoides vivos e
mortos presentes na amostra (Figura 6). A vitalidade é avaliada em esfregaço de sêmen
corado por eosina-Y (eosina amarela) ou eosina/nigrosina, que fornece um fundo escuro e
facilita a análise dos espermatozoides. 
Figura 6 – Vitalidade: coloração com eosina. Observa-se a
presença de espermatozoide não corado (vivo) e corado
(morto)
Fonte: Adaptada de NEVES et al., 2011

Para coloração eosina/nigrosina, em um frasco coloca-se uma gota de 100μL do sêmen e


adicionar, na sequência, uma gota de 100μL do corante eosina a 1% (diluído em solução
isotônica), deve-se agitar o frasco e colocar duas gotas de 100μL do corante nigrosina a 10%
(diluído em solução isotônica). Agitar novamente o frasco e efetuar um esfregaço do material
corado e a contagem.

Para realização do exame são analisados 200 espermatozoides em aumento de 400x. A


membrana das células mortas está lesada e permite a entrada do corante. Desta forma, os
espermatozoides mortos são preenchidos pelo corante (eosina) e visibilizados facilmente
contra o fundo escuro fornecido pela nigrosina. Os espermatozoides vivos não se coram,
sendo facilmente diferenciados. 

Considera-se normal a presença de, pelo menos, 58% de formas vivas. A diminuição desse
total é chamada de necrozoospermia.

Avaliação da Morfologia dos Espermatozoides


A variação na morfologia dos espermatozoides pode estar relacionada com a sua capacidade
fértil. A morfologia normal do espermatozoide está representada na Figura 7 e pode ser
avaliada por esfregaços de sêmen corados por Papanicolaou modi cado ou coloração de
Giemsa. Existem colorações comerciais mais simples, como, por exemplo, Di -Quick® (Dade
Diagnostics, Miami, USA), prontas para uso, sendo mais simples, de baixo custo e alta
qualidade.
Figura 7 – Componentes da morfologia normal do
espermatozoide. Cabeça, peça intermediária e cauda
Fonte: Adaptada de VIEIRA et al., 2021

Na análise, devem ser observados 100 a 200 espermatozoides, em objetiva de aumento 1.000x,
utilizando-se óleo de imersão. O espermatozoide considerado normal tem que apresentar as
seguintes características: 

Cabeça com formato oval lisa (3 a 5μm de comprimento e 2 a 3μm de largura,


quando corados pela técnica de Papanicolaou; ou 5 a 6μm de comprimento e 2,5 a
3,5μm de largura, quando corados pelo Di -Quick®), com acrossomo bem
de nido e ocupando 40 a 70% da área da cabeça;
Não deve apresentar defeito na peça intermediária ou na cauda, ou gota
citoplasmática maior que metade do tamanho da cabeça;

A peça intermediária deve ser delgada, com menos de 1μm de largura, e seu
comprimento deve ser de, aproximadamente, uma vez e meia maior do que o
comprimento da cabeça;

A cauda deve ser uniforme, levemente mais na que a peça intermediária, não
enrolada e com, aproximadamente, 45μm de comprimento.

A representação das alterações encontradas nos espermatozoides podem ser visualizadas na


Figuras 8 e 9.
Figura 8 – Principais defeitos de cabeça, peça
intermediária e cauda encontrados em espermatozoides
Fonte: Adaptada de VIEIRA, 2021

Figura 9 – Espermatozoides humanos corados pelo


Panótico e observados à microscopia óptica sem contraste
de fase 1000x
Fonte: Adaptada de SOARES et al., 2012

A) Espermatozoides anormais, segundo critério de


Tygerberg. Observe um espermatozoide com a cauda
enrolada e outro com a cabeça redonda microscopia óptica
sem contraste de fase 1000x; B) Espermatozoides normais,
segundo mesmo critério. 

Coloração de Papanicolaou Modi cada para


Espermatozoides
Recomenda-se a realização de pelo menos dois esfregaços por amostra de sêmen e deixar
secar ao ar à temperatura ambiente. Os esfregaços devem secar por, pelo menos, 4h e podem
ser armazenados por até uma semana, antes de serem xados e corados. Fixar os esfregaços
em uma solução de etanol/éter (50% etanol + 50% éter) por 30min e corar as lâminas,
seguindo a técnica de Papanicolaou modi cada para espermatozoides, conforme Neves (2011):

Hidratar em etanol a 80% (dez imersões);

Hidratar em etanol a 70% (dez imersões);

Hidratar em etanol a 50% (dez imersões);

Lavar em água corrente (dez imersões);

Corar em hematoxilina de Harris por 3min;

Deixar em água corrente por 5min;

Lavar em etanol-ácido (duas imersões);

Lavar em água corrente por 5min;

Deixar em solução de Scott por 4min;

Lavar em água destilada (uma imersão);

Desidratar em etanol a 50% (dez imersões);

Desidratar em etanol a 70% (dez imersões);

Desidratar em etanol a 90% (dez imersões);

Desidratar em etanol a 95% (dez imersões);

Corar com Orange G6, por 2min;

Lavar em etanol a 95% (dez imersões);


Lavar em etanol absoluto (dez imersões);

Corar com eosina – 36 por 5min;

Lavar em etanol a 95% (dez imersões);

Lavar em etanol absoluto (cinco imersões);

Lavar em etanol absoluto (cinco imersões);

Deixar em xilol por 15min;

Retirar do xilol e deixar secar ao ar ambiente.

Os critérios de normalidade, de acordo com a OMS, utiliza-se apenas a coloração de


Papanicolaou, cujos valores normais situam-se acima de 30%. Valores inferiores a 30% de
formas anormais indicam teratozoospermia. O limite inferior de referência de
espermatozoides com morfologia normal é 4%.

Na Figura 10 podemos observar os valores de referência para todas as análises realizadas no


Espermograma.
Figura 10 – Valores de referência para os parâmetros
seminais, de acordo com os critérios da World Health
Organization (WHO)
Fonte: SOARES et al., 2010

A seguir, segue modelo de laudo para liberação do exame de Espermograma:


Figura 11 – Laudo para liberação de Espermograma
Fonte: NEVES et al., 2011
 
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ʪ Material Complementar

Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta


Unidade:

  Livros  

Espermograma e Correlações Clínicas


ESTEVES, S. C.; NAKAZATO, L. T. Espermograma e correlações clínicas. In: NEVES, P. A.;
NETTO JUNIOR, N. R. Infertilidade masculina. São Paulo: Atheneu, 2002. p. 5.

Urinalysis and Body Fluids


STRASINGER, S. K.; DI LORENZO, M. S. Urinalysis and body uids. 6. ed. Philadelphia: F. A.
Davis Company, 2015.

  Leitura  

Vitri cation of Neat Semen Alters Sperm Parameters and DNA


Integrity
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ACESSE

World Health Organization Reference Values for Human Semen


Characteristics

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE
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ʪ Referências

LINDA, C. Fisiologia. Grupo GEN, 2018.

NEVES, A. P.; FAZANO, A. T. BORGES, E. F. J. Manual Roca Técnicas de Laboratório - Análise


do Sêmen. Grupo GEN, 2011.

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