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Tradução: Vanessa

Revisão Inicial: Ana Rita


Revisão Final: Gigi
Leitura Final: Patrícia
Conferência: Ariella
Formatação: Ariella
A tradução foi efetuada pelo grupo Doll Books Traduções (DB), de modo a
proporcionar ao leitor o acesso à obra, incentivando à posterior aquisição. O
objetivo do grupo é selecionar livros sem previsão de publicação no Brasil,
traduzindo-os e disponibilizando-os ao leitor, sem qualquer forma de obter lucro,
seja ele direto ou indireto.
Levamos como objetivo sério, o incentivo para o leitor adquirir as obras,
dando a conhecer os autores que, de outro modo, não poderiam, a não ser no
idioma original, impossibilitando o conhecimento de muitos autores
desconhecidos no Brasil. A fim de preservar os direitos autorais e contratuais de
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ou omissão, tentar ou concretamente utilizar a presente obra literária para
obtenção de lucro direto ou indireto, nos termos do art. 184 do código penal e lei
9.610/1998.
Querida vida,
Você é cruel. Você é sem coração. Você é doente. Você está realmente louca.
Você sabe disso?
Não...
Ainda não.
Querido destino... sim, é você.

O que exatamente eu fiz para merecer a vida que você decidiu para mim?
Eu te incomodei tanto assim?
Eu fui horrível?
Eu não orei o suficiente?
Você pegou minha vida em suas mãos, Destino, e a distorceu.
Você a transformou em uma bagunça quebrada e a tornou feia.
Você me fez mal.
Uma vida por uma vida.
Olho por olho.
É assim que funciona, certo?
A vida dela. Agora minha.
Alguém vem atrás de mim, mas você já sabe disso, não é?
Você planejou isso?
Você ao menos tentou dizer a eles que não foi minha culpa?
Que foi um acidente?
Que eu não queria que isso acontecesse?
Ou isso é parte do seu plano doentio e distorcido?
Eu tenho uma última pergunta, Destino, antes de você ir...
Você tem um herói para mim?
Porque vou precisar de um.
Para Lance
Por acreditar em mim e chutar minha bunda para continuar
escrevendo mesmo quando eu não queria.

Por este título incrível. Suponho que seja muito bom ☺

Por sempre me fazer rir, mesmo que eu ocasionalmente bufe.


Por me amar mais do que eu já fui amada.
Por ser a melhor coisa que já me aconteceu.
Isto é para você.
É sempre para você.
Com todo meu coração, obrigada a cada blogueiro, leitor e autor que
apoiou minha jornada. Desde ler meus livros, compartilhá-los, delirar
sobre eles e estar lá para mim. Obrigada. Minha carreira não seria nada
sem nenhum de vocês.
Um grande obrigada às lindas garotas da Give Me Books por organizar
minhas revelações e clipes. Todos vocês fazem um trabalho incrível. Não
importa quantas vezes eu o use, sempre fico impressionada com o quão
eficiente vocês são. Nada nunca é um drama. Obrigada por me dar tanto
apoio.
Um enorme agradecimento a Ben Ellis da Tall Story Designs por esta
capa linda. Você é a pessoa mais fácil e eficiente com quem já
trabalhei. Você deixa minhas capas absolutamente lindas todas as
vezes. Eu não poderia fazer isso sem você.
À adorável Lauren McKellar da Creating Ink pela edição deste
livro. Estou extremamente emocionada com seus comentários adoráveis
e como é fácil trabalhar com você. Você é um sonho absoluto e tão
talentosa. Muito obrigada.
A Rose, de ReadbyRose, que revisou este livro e realmente me ajudou
de maneira rápida e oportuna. Você é absolutamente incrível e ótima para
trabalhar, muito obrigada pelo seu apoio.
E, claro, ao meu administrador, MJ, por SEMPRE manter minha
página funcionando perfeitamente. Eu não poderia fazer isso sem você,
garota. Eu amo seus teasers e sua paixão; obrigada por dedicar o tempo
de sua vida para ajudar esta pobre garota a manter tudo funcionando.
E, por último, mas não menos importante, para meus leitores
leais. Para cada um de vocês que pega meus livros e me dá uma
chance. Para os comentários que vocês escrevem, bons ou ruins. Ao
tempo que você leva para me tornar uma pessoa melhor. Vocês tornam
isso real para mim; nunca parem de dar tanto amor e paixão. Vocês
tornam nossa jornada tão incrível.
Qual é aquele ditado mesmo? Você sabe qual...
Tudo acontece por um motivo.
Como se a vida tivesse um plano para todos. Um plano que dá
certo. Mesmo se você tentar mudá-lo, de uma forma ou de outra você
acabará voltando ao curso. Sem alterações. Sem escolhas. Você apenas
deixa a vida levar e torce pelo melhor.
As pessoas vivem de acordo com essa afirmação. Você deve aprender
lições, se tornar uma pessoa melhor, seja o que for. Em última análise, é
para ensinar algo a você; essa é a regra, de qualquer maneira. Você
deveria sair dela mais forte, mais poderosa. Mesmo que a lição seja cruel,
você crescerá com ela, aprenderá com ela, se tornará uma pessoa
melhor. Se você tiver sorte o suficiente para receber uma boa lição, você
se sentirá mais leve, livre.
É suposto que tudo faça sentido para você, eventualmente,
independentemente da lição.
Mas e se isso não acontecer?
E se a vida for apenas para ferrar firmemente você?
Alguém considera isso?
Se tudo acontece por uma razão, e tudo tem o objetivo de levá-la no
caminho certo, então como, pelo amor de Deus, você explica quando as
coisas vão mal? Quando as coisas estão tão feias, que não há como voltar
atrás? E se o caminho em que você está basicamente determinado ser a
estrada para o inferno? Ele está preparando uma pequena trilha
agradável para você seguir nas profundezas do fogo.
Não estou falando coisas menores aqui; Estou falando do pior dos
piores. As coisas que te fazem querer morrer. As coisas que irão destruir
para sempre cada pedacinho de quem você era, e recriá-lo em alguém
novo, alguém tão quebrado que ninguém pode colocá-lo de volta no lugar
novamente.
Você está me dizendo honestamente que é assim que deve ser?
Essa é a razão? O objetivo?
Se não for, então qual é o propósito? Por que coisas ruins
acontecem? E se não houver nenhuma lição a ser ensinada? E se as
coisas ruins que acontecem simplesmente quebram você até que você
saia do controle e, eventualmente, caia e se machuque?
Eu chamo de besteira essa declaração.
Como se a vida tivesse esse caminho maravilhoso para você que todas
as suas lições vão te levar para baixo, até encontrar o maldito arco-íris
no final.
Não há arco-íris no final.
As lições não têm sentido.
Você não vai parecer uma pessoa melhor.
Você não vai acordar de repente e ver toda a merda ruim fazer sentido.
Não, isso não vai acontecer.
Você quer saber por quê?
Porque a vida é uma maldita cadela sádica com um senso de humor
amargo e seco.
A vida gosta de ferrar com você.
Então, se acostume com isso.
ANTES

Eu joguei minha cabeça para trás, meu longo cabelo caindo no meu
pescoço enquanto o riso fluía da minha boca. Meu corpo é leve, meu
espírito livre. Afinal, quem não sente que o mundo é sua ostra quando
em um passeio com um carro que roubaram de sua mãe? Eu me sinto
muito bem agora.
Alguns podem dizer, invencível.
Não tenho carteira, mas sei dirigir. Papai me ensinou quando eu era
apenas uma menina e, honestamente, quão difícil é? Você o liga e
dirige. Não é uma ciência de foguetes.
— Não posso acreditar que roubamos o carro da sua mãe enquanto
ela estava fora, Callie! — Minha melhor amiga Joanne ri, jogando as mãos
para fora da janela, pegando a brisa. — Como você encontrou as chaves
reserva?
Eu bufo, uma mão no volante, sentindo como se nada no mundo
pudesse me tocar agora.
— Não foi difícil. Ela os deixa em seu cofre, mas eu conheço o
código. É meu aniversário.
— Ela sabe que você conhece o código? — Joanne pergunta.
— Não, mas honestamente, ela poderia ter escolhido algo menos
óbvio!
— Estamos tão mortas por isso, — diz Jessika do banco de trás, rindo
enquanto ela e Sophie bebem das latas de vodka e refrigerante de laranja
que roubamos da geladeira.
Ela foi embora no fim de semana. Meu irmão mais velho, Max, deveria
estar me observando, mas ele saiu com alguns amigos depois que eu
prometi que ficaria. Eu não iria, é claro, mas não acho que ele realmente
se importe. Ele tem dezoito anos; ele quer viver sua vida. Ele não quer
ficar preso à irmã mais nova.
Aos dezesseis anos, estou mais do que pronta para viver minha vida
também.
— Só vamos andar até o lago e depois levá-lo para casa. Vai ficar tudo
bem. Não é como se eu estivesse bebendo. — Eu rio estendendo a mão e
aumentando a música.
— Mas nós estamos! — Jessika grita, rindo e balançando sua lata de
refrigerante e vodka.
Pelo menos não sou estúpida o suficiente para beber e dirigir. Afinal,
eu tenho algum bom senso. Eu não quero morrer. De jeito nenhum. Eu
quero voltar para a minha cama mais tarde. Isso é só um pouco de
diversão.
— Oh meu Deus, — Jessika diz de repente, — Merda.
— O quê? — Eu pergunto, olhando rapidamente para trás.
Jessika está remexendo no assento, com a cabeça baixa, o cabelo
caindo sobre o rosto enquanto ela procura freneticamente por algo. —
Deixei cair minha bebida.
— O quê? — Eu grito em pânico. Este carro é caro. Não vai sair
facilmente dos assentos. Principalmente quando é misturado com
refrigerante de laranja. Minha mãe vai me matar. Oh merda, ela nunca
deveria saber que eu peguei esse carro. Como vou tirar uma mancha
dessas? Ah merda.
— Estava aberto? — Eu pergunto, mantendo uma mão no volante e
olhando para trás novamente.
Espero que não tenha. Por favor, diga que não foi.
— Sim, merda, desculpe! Atingimos aquele pequeno buraco e eu a
deixei cair. Rolou em algum lugar. Não consigo encontrar.
Isso. Rolou.Em. Algum. Lugar.
O que significa que o refrigerante está desencadeando um inferno
no chão do carro muito caro e muito branco da minha mãe.
Eu estou morta.
Totalmente morta.
— Deixe-me ver também, — diz Joanne, inclinando-se no banco da
frente e dando tapinhas no chão, caso ele role para a frente.
— Não consigo sentir nada! — Sophie diz, inclinando-se também.
Jessika ainda está se atrapalhando.
As imagens de refrigerantes coloridos e álcool manchando o carpete
de minha mãe me fazem me arrepender dessa decisão quase
imediatamente. Eu me viro, estendendo uma mão para baixo enquanto
mantenho meus olhos na estrada. Eu dou tapinhas no chão. Minha mão
roça em algo frio - uma lata. — Eu encontrei! — Eu grito, inclinando-me
um pouco mais para baixo, ainda tentando ver a estrada.
É esse momento.
Naquele exato momento.
Isso muda toda a minha vida.
Uma lata. Quatro adolescentes remexendo no chão.
Meus olhos fora da estrada por um segundo.
Só um segundo.
Sophie encontra a lata também, e eu me sento, olhando para a
estrada bem a tempo de ver uma garota, não mais velha do que eu. Ela
dá um passo na frente do carro, seus longos cabelos loiros quase brancos
com o brilho dos meus faróis. O momento acontece tão rápido, mas
parece que está em câmera lenta. Tipo, se eu pensar bem sobre isso,
posso ver as manchas azuis em seus olhos cinzentos.
Vou lembrar que ela não parece assustada. Apenas renunciou.
Vou lembrar que ela sorri um pouco, quase como se estivesse pedindo
desculpas.
Vou me lembrar do momento exato em que o corpo dela bate no meu
carro.
Tento pisar no freio, mas ela está perto demais. Eu bati nela.
Jamais esquecerei esse sentimento, não até o dia de minha
morte. Nunca vou deixar de ouvir o som. Ou não sentir o baque
nauseante quando o carro a leva para baixo e ela desaparece embaixo
dele. É tão forte que eu sei, eu simplesmente sei, que ela não vai ficar
bem.
Não preciso implorar pelo melhor.
Ela não vai sobreviver a isso.
Mas ela sabia disso.
Ela sabia disso.
Eu saio de controle no momento em que colidimos. Perco o controle
total do carro. Ele gira e guincha, os pneus tentando desesperadamente
aderir à estrada. Eu perdi o controle, no entanto. Todo mundo está
gritando. Gritos aterrorizados e horríveis.
O carro gira e gira, e então somos lançadas. Estamos no ar, como se
o carro não pesasse nada. Eu não sei o que acontece naquele
momento. Não sei se me agarro a alguma coisa. Não tenho chance de
pensar. O carro pousa nas quatro rodas, girando para a frente e direto
para uma árvore.
Atinge com tanta força que minha cabeça salta para a frente e bate
no volante, exatamente quando o airbag ganha vida e joga minha cabeça
para trás. Uma dor diferente de tudo que eu já senti rasga meu corpo.
Meu mundo fica tonto. Alguém ainda está gritando.
Mas tudo o que posso ver é ela.
A garota.
E seus olhos.
Aqueles olhos.
Esses olhos - nunca os esquecerei até o dia de minha morte.
AGORA

— Você está livre.


Eu odeio essas palavras. Desprezo. O som revoltante soa em meus
ouvidos enquanto eu saio da prisão grande e bem protegida. A prisão que
chamei de minha casa nos últimos seis anos. Seis longos e exaustivos
anos. Passei os primeiros anos até os dezoito anos no reformatório e
depois fui transferida para uma prisão para adultos. Nunca vou esquecer
o dia em que tive que crescer. O dia em que tive que entrar na prisão
real. Foi horrível.
Os guardas são idiotas. Você aprende isso muito rápido quando está
trancada.
Homicídio culposo.
Culposo. O homicídio em si não significa que foi um
acidente? Portanto, se fosse voluntário, não seria considerado
assassinato? Eu odeio essa palavra estúpida. Culposo. Tipo, como se você
quisesse matar alguém acidentalmente.
Tive muito tempo para pensar nessas coisas. Seis anos é um exagero,
realmente. Principalmente sobre ela. Principalmente ela. Eu revivo aquele
momento toda vez que fecho meus olhos. Repetidamente, vejo seu rosto,
a maneira como ela olhou para mim, a maneira como seus olhos fixaram
os meus. Aquele pequeno sorriso que ela deu. Suas próprias desculpas,
eu decidi. Sua própria maneira de dizer que sentia muito pelo fato de que
estava prestes a ferrar regiamente a minha vida para sempre.
Culposo. Claro que foi culposo.
Eu não queria matá-la.
Mas ela se foi.
Se foi por minha causa.
Jessika está sem uma perna por minha causa.
Sophie nunca mais falou comigo.
Joanne - ela é a única que me resta. A única que esteve ao meu lado
nos últimos seis anos, me empurrando, me mantendo forte, me
lembrando que um dia, um dia, teremos justiça.
O que quer que isso signifique.
Eu não confio no sistema. Não. Nem um pouco. Eles nem mesmo me
deram uma chance.
Ninguém ouviu quando eu disse que ela correu na frente do
carro. Ninguém ouviu meus apelos. Ninguém se importou.
— Como você se sente?
Eu me viro ao som da voz da minha melhor amiga, e meu sorriso é
enorme. Faz muito tempo que não a abraço livremente, sempre houve
olhos me observando. Agora somos apenas nós. Liberdade.
Eu grito e me jogo em seus braços. O guarda de pé ao meu lado, que
com tanto entusiasmo me disse que eu estava 'livre', como se fosse
agradecê-lo por todo o seu trabalho duro, grunhe. Ele pode começar a
fazer piruetas que eu não estou nem aí.
Minha melhor amiga está aqui. Ela está aqui. Ela está comigo.
— Eu não posso acreditar que você está fora, Callie, — ela chora,
soluçando em meu ombro enquanto me abraça com mais força.
Eu a aperto com força, mas não choro.
Parei de chorar há quatro anos, dois meses e três dias. Não que
alguém esteja contando. Inferno, tento nunca me lembrar do momento
em que jurei que nunca mais derramaria uma lágrima. No momento em
que quase desisti e considerei as muitas maneiras pelas quais poderia
terminar minha vida em uma prisão, mas decidi que era forte, mais forte
do que tudo isso, e obteria respostas. De uma forma ou de outra. Eu
obteria respostas.
— Senti sua falta, — digo a ela, recostando-me e pegando seu rosto
em minhas mãos, sentindo como sua pele é macia e quente contra
minhas palmas.
Seus olhos são tão brilhantes. Ela está feliz. Tão feliz.
Isso deve ser incrível.
Eu gostaria de lembrar como me senti. Rir. Para sorrir sem dor. Para
sentir pura alegria. Eu era uma garota inocente de dezesseis anos que
pensava que isso simplesmente não poderia acontecer comigo. Não é isso
que todos nós pensamos? Que isso nunca vai acontecer conosco? Que
somos invencíveis? Eu pensei que sim. Inferno, eu tinha certeza
disso. Tudo o que eu queria fazer era levar o carro da minha mãe para
um passeio com minhas amigas. Em minha mente, nada poderia dar
errado.
Quão errada eu estava.
— Aluguei um apartamento para nós e vou ajudá-la a encontrar um
emprego, — diz Joanne enquanto caminhamos em direção ao carro
dela. — Você não precisa se preocupar com nada.
— Vou ter problemas para encontrar um emprego, — digo a ela. — As
pessoas não gostam de ex-criminosos. — Ela acena com a mão.
— Absurdo. Vai ficar tudo bem. Perfeitamente bem.
Dou a ela um sorriso falso, porque acho que ela está errada. Eu sei
como vai ser difícil para mim aqui. Sempre me perguntei sobre o dia em
que fosse liberada, como seria a sensação, mas eventualmente, parei de
pensar nisso. Estar lá, tornou-se vida. É engraçado como você se
acostuma com coisas às quais tem certeza de que nunca conseguirá se
ajustar.
Esse mundo - é tudo o que sei. Por enquanto, pelo menos.
Lembro-me de como era do lado de fora, não me entenda mal, mas as
pequenas coisas desaparecem. Ter seu próprio espaço, sua própria cama,
comer quando quiser, fazer o que quiser - essas coisas são uma memória
distante. Mas estou ansiosa para me acostumar com elas novamente.
Uma vez que estamos no carro muito legal de Joanne, eu me viro para
ela e digo: — Como estão as coisas com você e Patrick?
Ela exala. — Ok, eu acho. Viver separados está ajudando, acho que
morar junto não estava facilitando a situação.
Joanne se casou com Patrick quando tinha dezenove anos. Ela fez
questão de me enviar todas as fotos. Ele era o amor de sua vida - pelo
menos, ela pensava que era. Ela se sentia como se tivesse encontrado o
'único' e tivesse tudo, mas com o passar dos anos ela amadureceu e
percebeu que talvez Patrick não fosse o que ela realmente queria. Ele se
acomodou, eles começaram a brigar e agora ela está casada com um
homem com quem nem consegue viver, mas está determinada a dar o
seu melhor. Eu a admiro por isso.
— Como ele ficou com a ideia de você morar comigo por um tempo?
Ela encolhe os ombros. — Ele não gostou, mas também não teve
muita escolha. Quer dizer, era isso ou eu saio para sempre. Ele não ia
aceitar que eu fosse embora, então ele aceitou que eu me mudasse por
um tempo. Ele prometeu namorar comigo novamente, realmente se
esforçar.
— É isso que você quer?
Ela sorri; é fraco, mas está lá. Ela é tão incrivelmente linda - eu
gostaria que ela soubesse o quanto. A forma como seu cabelo castanho
mel desce pelas costas e a forma como seus olhos verde-esmeralda
iluminam a sala... ela é provavelmente a mulher mais bonita que já vi. Ela
parece não perceber, no entanto. — Ele é meu marido e um bom
homem. Eu o amo. Acabamos de perder essa chama. Além disso, sair de
tudo agora... Eu só... é tão difícil...
— Você seria capaz de fazer isso, — digo a ela. — Honestamente, não
seria tão ruim.
— Temos uma casa, contas conjuntas, carros, nossas famílias se
amam... não é tão fácil quanto ir embora. Eu gostaria que fosse. Ninguém
entenderia. Você pode imaginar minha família se eu dissesse a eles que
estava deixando Patrick?
Sim, eu consigo imaginar.
Joanne foi criada em uma família perfeita. Pais perfeitos. Vida
perfeita. Carro perfeito. Escola perfeita. Sua filhinha perfeita foi
combinada com um marido perfeito. Eu acredito que ela pensou que
queria aquela vida também, mas quando ela finalmente conseguiu, ela
percebeu como estava totalmente entediada com isso. Quando a conheci,
antes do acidente, ela ainda era muito bem comportada, mas lentamente,
muito lentamente, ela está mudando.
Na semana passada, ela fez uma tatuagem - choque, horror.
É seguro dizer que Patrick não estava feliz.
— Você está certa. Eles não gostariam. — Eu ri. — Mas foda-se eles,
querida. Você é uma mulher crescida; você pode fazer o que você quiser.
— Eu gostaria que fosse tão fácil, — ela exala. — Às vezes, eu
honestamente sinto que estou presa. Não importa como eu olhe para isso,
parece que não há saída.
Eu estendo a mão, apertando seu braço. Fora de algumas lutas, eu
não toquei outro ser humano de uma maneira gentil por anos até hoje. É
uma sensação estranha. O abraço, foi bom, mas confortando
alguém... provavelmente não é mais minha especialidade. Não sei quem
sou, o que devo fazer e até mesmo qual é o meu propósito neste mundo
agora.
Estou perdida - entrando no mundo do desconhecido.
— Sempre há uma saída, — digo a ela.
Ela sorri, depois se esquiva e diz: — De qualquer forma, o que vamos
fazer na sua primeira noite de liberdade? — Eu sorrio para ela.
— Querida, vamos comprar cheeseburgers e cerveja, e ficar
muito, muito bêbadas.
— Parece perfeito para mim!
Ela está certa.
Realmente parece.

— VOCÊ ESTÁ FALANDO SÉRIO? — eu rio, jogando minha cabeça


para trás e sacudindo enquanto o faço, a risada fluindo. Meu cabelo
balança de um lado para o outro.
Uma coisa que me recusei a fazer quando estava lá dentro foi cortar
meu cabelo. Eu deixei crescer, as longas mechas morenas agora tocando
o meio das minhas costas. Eu não queria me tornar uma mulher que
parecia dura. Eu queria sair e ainda me encaixar com o resto do
mundo. Mas a prisão tem um jeito de endurecer partes de você.
—Sim, estávamos bem no meio disso, e ele peidou. Peidou. Eu nem
estou brincando. É tão ruim eu estar tão desanimada com meu próprio
marido? Oh, eu sonho em conhecer algum homem lindo, todo robusto e
coberto de tatuagens, que vai me pegar e me curvar sobre alguma
motocicleta nojenta e me foder até meus olhos lacrimejarem.
Eu rio mais forte até que a cerveja sai pelo meu nariz, e então estou
engasgando, tentando não espirrar o líquido em todo o carpete do nosso
apartamento. — Oh, senhor, você realmente pensou nisso.
— Você não teria, se tivessem peidado durante o sexo?
Nós duas bufamos, depois rimos e bufamos novamente.
É tão bom rir.
— Eu não posso acreditar que ele fez isso. Ele pelo menos pediu
desculpas?
Ela balança a cabeça, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto. — Não,
ele agiu como se nem soubesse que fez isso. O quarto inteiro começou a
cheirar mal e eu estava tentando não vomitar.
— Oh meu Deus! — Eu me dobro, segurando meu estômago, tentando
impedir que eu tenha cólicas de tanto rir.
— Sim, então você pode entender por que estou me sentindo um
pouco perdida no mundo agora. Meu marido, ele é só... Eu não sei...
— Não está mais excitando você, — eu aponto.
— Não, é exatamente isso. De qualquer forma, chega de falar
dele. Vamos falar sobre você. O que você quer fazer agora que está livre?
Eu bufo. — Você faz soar como se eu estivesse trancada para
sempre. Não foi tão ruim. Eu não estou muito velha; Tenho toda a minha
vida pela frente para consertar meus erros.
Joanne parece triste por mim, e eu sei que ela está, porque ela é a
única pessoa que acredita em mim. A única que acredita que Celia Yates
pulou na frente do meu carro naquela noite e que eu não bati nela quando
ela estava atravessando a rua. Nenhuma outra pessoa, exceto meu irmão,
Max, e até mesmo ele tinha dúvidas, acreditava nessa história. Nem
mesmo meus próprios pais acreditaram.
— Você não deve nada a ninguém, — diz Joanne.
— Eu devo, no entanto. Não apenas as outras meninas sofreram, mas
também minha família e a família de Celia. Quero provar que foi um
acidente. Eu não quero viver para sempre como a garota que matou
alguém porque ela não estava prestando atenção.
Joanne franze a testa. — Você não pode provar isso. Se você pudesse,
você nunca teria sido presa. — Eu balancei minha cabeça.
— Não, eu teria ficado presa, mas provavelmente não por tanto
tempo. No final das contas, eu ainda não estava prestando atenção, então
mesmo que ela estivesse atravessando a rua, eu poderia ter batido
nela. Mas ela não estava. Ela parou na frente do meu carro. Pretendo
descobrir por quê.
— Como você irá fazer isso? — Joanne pergunta, recostando-se na
cadeira, parecendo preocupada comigo.
Eu não quero que ela fique.
Eu não quero que ninguém fique.
Jurei quando estava naquela maldita prisão que limparia meu
nome. Não posso recuperar o que perdi, mas serei amaldiçoada se passar
a eternidade sendo tratada como uma assassina. Eu não sou. Eu era uma
garota inocente que cometeu um grande erro de merda que me fez viver
a pior coisa que eu poderia imaginar.
Mas Celia parou na frente do meu carro.
É claro que não houve testemunhas. Todas as garotas que estavam
no carro comigo na época estavam esvoaçando no chão tentando
procurar a lata de álcool derramada. Ninguém estava olhando. Eu fui a
única que a vi sair. A única. Foi minha palavra contra o mundo. Seus
pais disseram que ela não estava deprimida. Ela teve uma vida
perfeita; as coisas estavam ótimas. Seus amigos concordaram. Seus
professores também.
Ninguém acredita em mim.
Exceto Joanne e Max.
Mesmo assim, não sei se eles estão apenas me dizendo o que querem
que eu ouça ou se realmente acreditam que Celia apareceu na minha
frente naquela noite.
— Vou começar a falar com pessoas que ela conhecia, professores,
amigos, quem eu puder. Eu quero descobrir o que aconteceu em sua vida
para fazê-la sentir que precisava acabar com sua vida. Eu quero um
encerramento.
— Como você vai se aproximar da família dela? Eles vão conhecer
você. — Eu balancei minha cabeça.
— Não, eles não vão. Eu vou tomar cuidado. Usar um nome falso. Eu
pareço diferente agora, tão diferente. — Joanne torce o nariz.
— Você está se arriscando muito. — Eu encolho os ombros.
— Eu tenho que fazer isso. Você sabe que tenho que fazer isso.
— Compreensível, — concorda Joanne. — Então, você vai fazer o
quê? Fingir que é outra pessoa e começar a fazer perguntas?
— Sim, é exatamente isso que vou fazer. Eu mereço isso, mas quer
saber? Celia também. Ela estava obviamente passando por algo que
ninguém sabia. Ela estava sozinha; Ela estava assustada. Ninguém se
mata a menos que realmente acredite que não há saída. Celia estava
nesse ponto. Ela merece que alguém entenda sua história, mesmo que
ela não esteja mais aqui.
— Você acha que algo ruim aconteceu com ela? — Eu encolho os
ombros, bebendo minha bebida.
— Eu não sei. Tudo que sei é que a história nunca coincidiu. Fui
presa por algo que foi apenas parcialmente minha culpa. Tenho pensado
nisso todos os dias há seis anos. Eu mereço respostas.
— Sim, — concorda Jo. — Sim, você faz. Bem, vou ajudar no que você
precisar. Apenas me avise.
— Obrigada, — eu digo, estendendo a mão e agarrando a mão dela. —
Por acreditar em mim quando tantos outros não o fizeram.
— Eu sempre vou acreditar em você. — Ela sorri. — Eu te dou
cobertura.
Estou feliz, porque Deus sabe, ninguém mais está me protegendo
agora.
Mas estou bem com isso.
Eu sou forte.
Não tenho outra escolha a não ser.
ANTES - CALLIE

Eu acordo sozinha.
Demoro mais de um momento para perceber o que está
acontecendo. Para lembrar os eventos horríveis que se desenrolaram,
para lembrar por que exatamente estou aqui. No hospital, o bipe
incessante me cerca, um barulho que me lembra o tipo de turbulência
que estou prestes a enfrentar. Posso ter apenas dezesseis anos, mas
soube no momento em que meus olhos se abriram e meu cérebro clareou,
o que iria me enfrentar.
Horror.
Puro horror.
Quando me lembro da garota saindo na minha frente, os monitores
começam a ficar cada vez mais altos. Meu coração dispara. O medo,
diferente de tudo que eu já senti, enrola suas mãos feias em volta do meu
coração e aperta. Eu bati nela com meu carro. A sensação de bater nela,
os sons... Eu começo a entrar em pânico, dobrando-me, embora meu
corpo grite de dor.
Uma enfermeira entra correndo, com as mãos nos meus braços, me
sacudindo, dizendo para me acalmar, para respirar. Eu não consigo me
acalmar. Eu não consigo respirar. Isso não deveria acontecer. Eu só
estava tentando me divertir. Isso foi tudo - apenas diversão. Nunca quis
que ninguém se machucasse. Eu nunca quis que nada disso acontecesse.
Eu sou apenas uma criança.
Por favor.
— Acalme-se e olhe para mim, Callie. Você está bem. Você está no
hospital. Sua mãe está lá fora. Você vai ficar bem.
Suas palavras levam uma eternidade para penetrar, mas quando o
fazem, eu lentamente acalmo minha respiração. Talvez nem tudo seja tão
ruim. Talvez a garota esteja bem, e eu pensei que era pior do que é? Talvez
Joanne, Sophie e Jessika estejam bem? Talvez elas nem estejam
feridas. Estou bem, então elas também devem estar, certo? Talvez a
enfermeira esteja certa. Talvez tudo fique bem.
— Callie!
A voz estridente da minha mãe enche a sala e minha visão clareia
lentamente a tempo de vê-la correndo em minha direção. Ela joga os
braços em volta de mim, seu perfume com cheiro falso queimando meu
nariz. Eu a deixei me abraçar, mas eu realmente queria que ela apenas
me deixasse ir. Eu não quero que ela me abrace. Eu não a quero perto de
mim. Eu sei que ela não se importa; Eu não sou idiota.
Ela se afasta e olha para mim com aqueles olhos vermelhos inchados,
o rímel manchando suavemente suas bochechas. — Eu pensei que
tínhamos perdido você.
Eu fico olhando fixamente para ela e, em seguida, olho para a porta
procurando meu pai.
Ele não entra.
Ele não está aqui.
Claro que ele não está aqui. Ele provavelmente está em algum lugar
com sua nova namorada e seus filhos perfeitos, do tipo que não rouba
carros e não machuca as pessoas. Ele saiu há dois meses. Parte de mim
ainda acha que ele vai voltar. Ele não fez. Não importa o quanto eu ore,
ele não volta.
— Ela está bem, enfermeira? — minha mãe pergunta, sua voz um
gemido patético.
— Ela vai ficar bem. Alguns cortes e hematomas e um pequeno dano
interno que operamos, mas por outro lado, ela vai se recuperar bem.
— Oh! Graças a deus. E as outras meninas? — Minha cabeça gira na
direção da enfermeira, desesperada para ouvir sua resposta. Ela parece
desconfortável.
— Vou ter que esperar pelo médico e, ah, pela polícia. Todos eles
desejam falar com você.
Não.
Não.
Isso é ruim. É tão ruim.
A polícia quer dizer que algo realmente deu errado. Quer dizer, eu sei
que deu muito errado porque bati em alguém e sofri um acidente de carro,
mas uma parte estúpida e imatura de mim esperava que todos nós
superássemos isso e eu só levasse um tapa no pulso por pegar o carro da
minha mãe.
Mas eu sei, no fundo, que não é esse o caso.
— Oh, — minha mãe diz.
Oh.
Sim.
Oh.
A enfermeira vai buscar o médico e eles voltam pouco depois. Um
jovem médico e um policial.
Oh Deus.
Eu quero morrer. Um milhão de vezes.
O médico se apresenta, mas meus ouvidos estão zumbindo e não ouço
seu nome. Eu não consigo respirar. Meu peito parece que vai
desabar. Minha visão está turva - lágrimas, talvez? Eu não sei.
— Calma, Callie. Você vai ficar bem. Respire fundo algumas vezes, —
diz ele.
Eu faço o que ele pede e me acalmo. Depois de me examinar, ele me
diz que o policial, cujo nome eu ouço alto e bom som - Jack - vai falar
comigo, mas o avisa para não me aborrecer muito.
Jack acena com a cabeça e caminha até mim, estendendo a mão. —
Oi Callie. Vou fazer algumas perguntas, está tudo bem? — Eu aceno,
apavorada.
Apavorada com o que ele poderia estar prestes a me dizer.
Apavorada com o que vai acontecer a partir deste ponto.
— Você pode me dizer o que aconteceu, em suas palavras?
Eu engulo, olhando para minha mãe, que está soluçando
novamente. Quase parece que ela se importa. Quase. Mas eu sei que ela
não gosta. Eu sei que ela não gosta porque ela nunca está lá para
nada. Talvez se ela estivesse, eu não teria roubado seu carro. Talvez se
ela estivesse, eu estaria em casa agora, mandando mensagens de texto
para meus amigos em vez de ficar sentada em um quarto de hospital,
sem ter ideia do que está para acontecer.
— Era apenas para ser um pouco de diversão, — eu sussurro, as
lágrimas enchendo meus olhos. — Nós só queríamos dar um passeio,
tomar alguns drinks. Eu não estava bebendo; Eu não sou tão
descuidada. Estávamos indo para o lago. Não pretendíamos fazer nada
mal.
— Eu já disse, — acrescenta minha mãe, — Eu disse a você a má
influência que essas meninas exercem sobre você, mas você não me
escuta. Você nunca roubaria meu carro sozinha. Você nunca seria tão
estúpida. — Eu estremeço com suas palavras, porque elas só me fazem
sentir um milhão de vezes pior.
— Senhora? — Jack pergunta, educadamente, mas posso ouvir o
nervosismo em sua voz. — Se você não se importaria de esperar do lado
de fora?
— Ela é minha filha, e é menor de idade, então não, não vou esperar
lá fora, — minha mãe disparou para ele, cruzando os braços, fungando e
dando-lhe um olhar que apenas o desafia a tentar movê-la.
— Então, se você não se importa, deixe-a falar sem interrupção.
Ela franze os lábios, mas não diz mais nada.
Jack olha de volta para mim. — Continue quando estiver pronta.
— Estávamos dirigindo, apenas nos divertindo. Alguém jogou uma
lata de álcool no chão do carro e todas tentaram encontrar para que não
manchasse o carpete.
Minha mãe parece que está prestes a explodir. Seu rosto está
vermelho com essa revelação. Ela só se preocupa com isso. Seu maldito
carro. E quanto a mim? E minhas amigas? E aquela pobre garota?
— Você pegou a lata? — Jack me pergunta, só agora percebo que ele
tem um gravador na mão, tão pequeno que quase não dá para notar.
— Sim, mas eu estava observando a estrada. Pelo menos, a princípio
estava. Eu apenas desviei o olhar por um segundo e...
A imagem vem colidindo de volta em minha mente, a visão da garota
encontrando meus olhos, seu rosto tão calmo quando ela acaba de entrar
na frente do carro. Eu agarro meu estômago enquanto a dor toma conta
de mim, e olho para Jack, que está me dando uma expressão gentil.
— Quando você estiver pronta.
— Ela saiu na frente do carro, — eu resmungo, lágrimas rolando pelo
meu rosto. — Ela olhou bem para mim e simplesmente saiu.
— Você está dizendo que ela já não estava na estrada? — Jack
pergunta.
— Não, ela não estava. Eu sei o que vi, e ela certamente deu um passo
na minha frente. — Jack balança a cabeça, mas já posso ver a dúvida em
seus olhos.
— O que aconteceu depois?
— Foi tudo muito rápido depois disso. Eu bati nela e... oh Deus, eu
bati nela. Eu bati nela. Eu a esmaguei. Eu senti o carro bater em seu
corpo. O som... — Eu coloco minha cabeça em minhas mãos e choro
histericamente.
Eu machuquei aquela garota.
Eu a machuquei porque não estava olhando.
Se eu estivesse assistindo, isso nunca teria acontecido.
— Está tudo bem, Callie. Por favor, respire. Você vai ficar bem.
— E ela... a garota está bem, Jack? — Jack olha para minha mãe e
depois de volta para mim: — Sinto muito, mas ela faleceu no local.
Não ouço mais nada do que ele diz depois disso.
Meus gritos são tão altos que enchem a sala.
Acabei de deixar de ser uma garota de dezesseis anos... para ser uma
assassina.

NÃO POSSO OUVIR O QUE ELA ESTÁ dizendo.


Minha mãe está falando freneticamente comigo, algo sobre advogados
e dinheiro, e como isso vai parecer ruim. Ela está falando sobre a família
e como eles ficarão com raiva quando descobrirem o que eu fiz.
O que eu fiz.
Eu matei aquela garota.
Eu a matei porque não estava olhando para onde estava indo.
Eu a matei porque queria me divertir mais do que ficar em casa e ser
apenas uma criança normal.
Eu a matei.
A família dela vai me odiar. Eles têm todo o direito.
Eles vão querer meu sangue, e por que não deveriam? Essa garota
não era mais velha do que eu e agora ela se foi.
Ela se foi para sempre.
Não há como voltar disso.
Nada pode trazê-la para casa.
Ela nunca mais vai provar sorvete, nem sentir a areia sob os dedos
dos pés, nem cheirar os cheiros incríveis que vêm de uma lanchonete,
nem se apaixonar, dar o primeiro beijo, se casar e ter filhos.
Isso é tudo por minha causa. Por minha causa e algum erro estúpido.
Não sei o que devo fazer agora, exceto sentar aqui e esperar. Esperar
a polícia entrar e me levar embora. Apenas esperar que a família dela me
chame de monstro e assassina e lute até que eu não tenha mais
permissão para andar livremente. E deveriam, não deveriam? Eles não
têm esse direito? Esse amor por seu filho?
Claro que sim.
A polícia entra e sai ao longo da próxima hora, e eu descubro o que
aconteceu com todas as minhas amigas. Jessika foi esmagada no carro e
teve que fazer uma cirurgia para remover a perna. Ela está estável, mas
eu arruinei o resto da vida dela também. Ela agora tem que passar pelos
melhores anos de sua vida sem uma perna e se sentindo miserável, tudo
por minha causa. Por causa de um erro estúpido.
Sophie está bem, mas ela está confusa. Ela teve alguns ferimentos,
incluindo uma clavícula, braço e perna quebrados. Ela vai se recuperar
bem, mas está muito traumatizada com a coisa toda. Entendo. Eu
realmente entendo. Foi assustador.
Joanne está bem. De alguma forma, ela sofreu o mínimo dos
danos. Ela tem alguns cortes e hematomas, mas alguém estava cuidando
dela porque ela vai ficar bem. Ela é minha melhor amiga e estou
desesperada para vê-la, principalmente para ter alguém com quem
conversar, mas nem sei se ela quer falar comigo.
Por que ela iria?
Acabei de criar o inferno para ela.
A pior parte é que nenhuma delas viu nada.
Elas estavam todas vasculhando o chão em busca da lata, então
nenhuma pessoa viu a garota sair na minha frente. Ninguém viu. O que
significa que estou sozinha quando compartilho essa parte da história. No
que diz respeito a elas, sou a única que afirma isso e sei o que estão
pensando... Só estou dizendo isso para me livrar das acusações.
Mas eu não estou.
Eu não estou.
Eu estou dizendo a verdade.
Seus olhos, eles estavam quebrados.
Ela estava quebrada.
Ninguém vai acreditar em mim, no entanto.
Estou sozinha.
Completamente sozinha.
Prestes a enfrentar a pior coisa que poderia enfrentar neste mundo.
AGORA - CALLIE

Você tem um registro criminal?


Olho fixamente para a linha do formulário de inscrição para o
emprego de garçonete para o qual estou me candidatando e me pergunto
o que acontecerá se eu disser não. Eles vão olhar? Eles verificarão
mais? Eles fazem uma verificação de antecedentes ou apenas dizem que
sim? Se não o fizerem, e eu conseguir o emprego, e eles descobrirem mais
tarde, posso ter problemas?
Eu não sei.
Eu literalmente não tenho ideia.
Tudo que sei é que preciso de um emprego, de algo para começar,
mas não sei como vou fazer isso, quando cada formulário de emprego que
preenchi pergunta se tenho ficha criminal.
Sim, sim.
Eu matei uma garota inocente.
Tenho certeza que eles adorariam me contratar quando descobrissem
isso.
Eu fico olhando para a ficha, e uma suave voz feminina diz: — Você
está perdida?
Eu olho para a senhora com quem tenho lidado. Ela trabalha aqui e
é simpática, mas não faz ideia de mim. Ela só pensa que sou uma garota
procurando emprego. Eu pareço amigável. Eu sou bonita. Na aparência,
pareço com qualquer outra garota que poderia ter entrado aqui.
Só não sou.
Sou diferente de muitas maneiras.
— Estou bem, — digo, olhando de volta para a pergunta. — Obrigada.
A senhora me estuda e então olha para a pergunta também, antes de
ir embora.
Já coloquei dúvidas em sua cabeça. Se eu disser não, ela com certeza
vai verificar. Ela não vai me contratar agora. Eu expiro e me levanto,
deixando a caneta no papel abandonado, e saio. Qual é o maldito
ponto? Eu não vou conseguir um emprego.
Não tão cedo.
O que diabos devo fazer?
Volto para o apartamento que Joanne alugou tão gentilmente para
nós e paro quando vejo um homem parado na calçada. Eu expiro e franzo
os lábios para o homem muito grande, muito bem construído, muito
duro, mas gentil, parado perto da entrada. Eu o conheço bem. É seguro
dizer que ele gostou muito de mim quando estava na prisão. Nós nos
tornamos amigos. Ele cuidou de mim. Me colocou sob sua
proteção. Certifiquei-me de que saí do quadro em branco.
Ele também manteve os idiotas longe de mim.
E acredite em mim, havia muitos deles.
Ele parece diferente no momento, e me ocorre que nunca o vi sem seu
uniforme de guarda. Quer dizer, por que eu iria? Não é como se
estivéssemos em um café casual juntos. Era uma prisão, pelo amor de
Deus. Claro que ele usava a mesma coisa todos os dias.
Enquanto subo os degraus da frente do prédio, eu o estudo. Ele tem
muitas tatuagens. Eu não peguei isso também. Não. Honestamente, eu
pensei que ele ficaria mais limpo por baixo de tudo.
Tatuagens percorrem seus braços bem formados. Seu cabelo
normalmente penteado para trás está bagunçado, e ele parece mais que
acabou de sair da cama do que do trabalho. Ele está vestindo uma camisa
sem mangas e um par de shorts de corrida, bem como um par de tênis
de corrida. Ugh. Quem corre? Eu não. Não. De jeito nenhum. Prefiro
voltar para a prisão do que tentar fugir. Que prazer você poderia obter
com isso?
— Eu pensei que era contra as regras falar com presidiários, — eu
digo, e ele se vira rapidamente, aqueles olhos azuis se estreitando. Ele
não me ouviu aproximar.
Bem.
Isso não é bom para um guarda, certo?
Aqueles bastardos lá são nojentos.
Seu cabelo escuro está caindo sobre o rosto, e ele o afasta e diz com
aquela voz dura com a qual estou tão acostumada: — Bom dia, Callie.
— Você não respondeu minha pergunta... — Eu digo, passando por
ele e destrancando minha porta.
— Assim que estiver aqui, posso fazer o que quiser.
— Certo, — eu murmuro, empurrando a porta aberta e entrando. —
Então, por que está aqui, policial Corel?
— Você não precisa mais me chamar assim, — diz ele, entrando e
olhando ao redor de Joanne e meu lindo apartamento. — Você pode me
chamar de Ethan.
Eu me viro e estreito meus olhos. — Isso apenas parece... esquisito.
— É meu nome. Você vai se acostumar com isso.
Eu expiro e jogo minha bolsa no balcão da cozinha e digo: — Por que
você está aqui... Ethan?
Seus lábios se contraem. — Eu queria ver como você está.
Eu cruzo meus braços. — Por quê?
— Porque eu gosto de você, Callie. Você é uma boa garota com um
passado ruim. Eu queria ter certeza de que você estava indo bem aqui no
grande e mau mundo.
Eu bufo. — Estou bem. Já lidei com coisas muito piores.
— Eu sei, — ele murmura, caminhando mais para dentro do
apartamento e estudando-o. — Este é um lugar agradável. Como você
conseguiu isso?
— Não estou agachando ou vendendo meu corpo para alugar, acredite
em mim. Minha amiga comprou para mim... para nós.
Ele concorda. — É legal. Agora, coloque seus tênis.
Pisco para ele e quando ele se vira para mim, vejo que está muito
sério. Quer dizer, para ser justo, ele sempre parece sério. Mas agora, ele
está super sério. — Meus tênis?
— Sim, seus tênis. Eu não vou deixar você se afundar. Já vi isso
acontecer muitas vezes. Você vai sair daí, se recompor, e eu estou te
ajudando a fazer isso. Então, calce seus sapatos; nós estamos indo para
uma corrida. A boa forma é fundamental para a saúde mental.
— Tá brincando né? — Eu digo, minha voz um pouco aguda para o
meu gosto.
— Porra, não. Não estou brincando.
Ele disse porra.
Acho que nunca o ouvi dizer porra.
Honestamente, isso é estranho. Ele é um guarda. Não meu amigo.
Embora, ele seja meio que meu amigo. Ele foi tão legal comigo. Muito
bom. Eu devo tudo a ele por fazer a vida lá não ser tão aterrorizante para
mim.
Mas, correndo? Absolutamente não.
— Eu não corro, — eu digo, balançando minha cabeça.
Ele cruza os braços. — Você corre agora.
— Não, sério, policial Co-
— Ethan, — ele me corta.
Eu vocifero. — Ethan. Eu não corro. Você não parece estar ouvindo
isso.
— Estou ouvindo muito bem. Eu não me importo. Estou te dizendo,
de agora em diante, você corre.
— Não. Não, obrigada.
— Sim. Vamos.
Eu mantenho minha posição. — Eu não vou correr.
— Eu não vou embora até que você vá. Uma quadra. Se apresse.
— Você não é o meu maldito chefe aqui fora, — eu estalo, cruzando
os braços.
— Isso é muito infantil, Callie. Eu vou esperar.
Ele se senta no meu sofá, e com um rosnado frustrado, porque eu sei
que ele não vai embora, eu vou para o meu quarto e pego meus
tênis. Tênis que, claro, nunca foram usados para correr.
Fui às compras no segundo dia e comprei todas essas coisas. Joanne
teve a gentileza de comprar o essencial para mim. Comprei tênis,
principalmente para andar por aí e procurar emprego. Não para
correr. Nunca para correr.
Com um bufo de frustração, coloco algo mais digno de corrida - um
par de calças pretas justas e uma regata - e então jogo meu cabelo em
um rabo de cavalo e coloco os malditos tênis de corrida. Maldito seja este
homem. Não posso acreditar que ele está me obrigando a fazer isso. Não
tenho ideia de como ele acha que correr vai fazer as coisas ficarem
melhores. Não vai.
Eu saio e dou a ele um olhar que diz que não estou feliz com sua
decisão, e então murmuro: — Vamos.
Ele se levanta, bate palmas e saímos pela porta da frente.
Este é o pior dia da minha vida.
Ok, ligeiramente dramático.
Mas está perto. Muito perto.
Dane-se a corrida.

OFEGANDO, ME VIRO e OLHO para Ethan.


— Isto é horrível. O que há de errado com você? Você caiu de cabeça
quando era criança? Você tem problemas? Como diabos você acha isso
agradável?
O suor escorre pela minha testa enquanto eu luto para conseguir uma
respiração completa em meus pulmões quebrados. Corremos dois
quarteirões, não um, e parece que todo o meu corpo vai desabar. Eu não
estou em forma. Estou bem, com certeza. Sempre fui assim, felizmente
para mim, e na prisão, dificilmente se alimenta demais, mas não estou
bem. Eu não sou uma corredora. Eu não sou atleta. Eu não faço nada
disso. Nunca usei a academia da prisão. Nem uma vez.
— Você vai aprender a gostar, — Ethan me diz, mal tendo começado
a suar.
— Acho que você está imaginando coisas. Eu nunca poderia gostar
disso.
Ethan dá de ombros.
Viramos a esquina, bem devagar, porque meu corpo todo queima, e
paramos quando vemos Max parado do lado de fora do meu prédio. Não
vejo Max há dezoito meses. A raiva não começa a descrever como estou
totalmente desapontada com ele. Com toda a minha família, aliás. Depois
de um ou dois anos, eles pararam de visitar. Minha mãe aparentemente
teve um colapso mental, incapaz de lidar com o frenesi da mídia.
Eu não me importo.
Eu era apenas uma jovem garota. Eu não tinha ninguém. Eu estava
com medo e aflita.
Ela me devia aquelas visitas.
Meu pai me visitava apenas ocasionalmente e, finalmente, ele seguiu
em frente com sua vida. Provando para mim o quão pouco eu significava
para ele.
Max visitava com frequência, mas nos últimos anos, ele parou. Ele
mandou cartas, pedindo desculpas, mas nunca explicou por que diabos
me deixou quando ele era o único membro da família que eu tinha. Ele
não tinha o direito de fazer isso. A família deve ficar unida. Claro, eu não
esperava que eles me visitassem todas as semanas, mas que
simplesmente me abandonassem? Isso dói. Muito.
— O que você está fazendo aqui? E como você sabe onde eu moro? —
Eu digo quando Max se vira e me encara.
Meu irmão parece mais um homem agora. Suas características de
adolescente se foram. Em seu lugar, ele amadureceu. Ele está forte. Ele
é um cara incrivelmente bonito - sempre foi. Ele é alto, magro, mas
musculoso, tem cabelo escuro curto e bagunçado e olhos castanhos.
— Callie, — ele diz, — Eu não posso acreditar que você está
fora. Joanne me disse onde você estava hospedada, eu disse a ela que
queria visitá-la.
— Não me venha com essa, Max. Não se atreva a me dar isso. Você
não pode estar aqui.
Eu me viro para Ethan, que está olhando para Max com decepção em
seu rosto. Ethan sabe porque ele me viu no dia em que percebi que estava
realmente sozinha. Fora Joanne, ninguém da minha família me
protegeu. Ele me encontrou na minha cela, apenas olhando fixamente
para a parede, completamente quebrada. Ele me ajudou a ficar de
pé. Ethan estava lá para mim.
Max não.
— Você está bem aqui? — Ethan pergunta.
— Está tudo bem, — eu digo para Ethan. — Eu posso lidar com
ele. Obrigada pela corrida. Espere, risque isso. A corrida foi horrível. Mas
obrigada por me verificar.
Ele encara Max por um longo momento, então acena com a cabeça e
me diz que ele estará de volta amanhã para outra corrida. Então ele sai
correndo pela rua como se nós não tivéssemos acabado de fazer
isso. Maldito seja por ser tão bom nisso.
Eu me viro e olho para Max, então murmuro: — Não tenho nada a
dizer a você, Max. Você pode sair.
— Callie, vamos lá, — ele chama enquanto eu passo por ele e entro
na entrada do prédio.
Eu me viro, frustrada. — O que exatamente você quer de mim? Ficar
feliz que você está aqui? Oh, finalmente, os irmãos estão juntos
novamente? Não. Você não veio me ver por quase dois anos. Você tem
alguma ideia do que isso fez comigo? Qualquer noção?
— Eu não tive escolha. Se você apenas me ouvir...
Eu balanço minha cabeça, frustrada. Ele se importa com o que eu
passei? Provavelmente não. Quero dizer, quem diabos faz? Sou notícia
velha, certo?
— Não quero ouvir nada do que você tem a dizer.
— Mamãe estava doente.
Eu paro, cerrando meus olhos fechados. Droga, eu não suporto a
mulher, mas ele sabe que chamou minha atenção. Ele sabe que não sou
uma vadia sem coração.
Eu me viro lentamente para encarar meu irmão. — O que você quer
dizer com ela estava doente?
— Ela foi diagnosticada com câncer de mama. Ela está bem agora,
mas foi um momento muito difícil. Tivemos que ir para uma cidade
diferente por causa do médico que ela insistia em consultar. Não contei
porque sabia que você já estava lidando com o suficiente.
— Olha, — eu digo, mantendo minha voz firme. — Eu entendo tudo
isso, mas o fato é que você me deixou e tudo que eu recebia eram cartas
estúpidas ocasionalmente. Você poderia ter ligado. Você poderia ter feito
qualquer coisa, qualquer coisa, exceto me deixar sentindo como se eu
não tivesse uma única pessoa neste mundo. Uma carta não fez
nada. Uma carta não ajudou. Isso me fez sentir ainda mais sozinha.
Ele fecha os olhos e expira. — Eu sei, mas honestamente, mamãe
estava fora de si, e todo o meu tempo e atenção estava em tentar impedir
que ela tivesse algum tipo de colapso. Eu deveria ter te contado, eu sei
disso...Eu deveria ter feito mais do que cartas...
— Você está certo; Você devia. Agora, se me dá licença, cansei de ouvi-
lo.
— Callie...
Eu entro e bato a porta. Então eu pressiono minhas costas contra ela
e expiro.
Ele sabe. Ele sabe o que eu passei.
Suas desculpas não significam nada para mim. Ele poderia ter estado
lá se realmente quisesse.
Isso só prova o que sei há muitos anos. Você só pode confiar em si
mesma. Todo mundo vai te decepcionar.
Certeza.
ANTES - CALLIE

— A data do julgamento foi definida para daqui a uma semana, —


meu advogado diz a minha mãe e a mim enquanto nos sentamos em uma
mesa enorme de madeira, assim como eles fazem nos filmes.
Todo esse espaço, mas ninguém para preenchê-lo.
— Quais são as chances dela sair dessa? — minha mãe pergunta,
abrindo sua bolsa para tirar um lenço.
Ela ainda está trazendo o drama.
— Sendo honesto, não acho que vamos nos sair bem assim. Não há
evidências para apoiar as afirmações de Callie de que Celia entrou na
frente do carro. A família dela está dizendo que ela não estava deprimida
e nem sofrendo de forma alguma. Ninguém mais viu. Posso retirar as
acusações por dirigir enquanto menor, mas, quanto à acusação de
homicídio culposo? Vou fazer o meu melhor, é claro, para tirar Callie
dessa.
Eu fico olhando entorpecida para a mesa.
O último mês da minha vida foi uma conversa constante sobre o que
está por vir. Advogados e mídia. A família de Celia no noticiário, dizendo
que vai conseguir justiça para a filha. Foi um inferno sem fim. Eu chorei
tanto que não conseguia mais chorar. Agora estou entorpecida. Por trás
do entorpecimento, porém, estou apavorada. Estou com tanto medo do
que está por vir. Com tanto medo de onde vou terminar.
Homicídio culposo é a acusação que eles estão tentando me pegar,
em vez de assassinato.
Assassinato.
Como se eu quisesse matá-la.
Minhas amigas, bem, Joanne, disseram é claro que eu não queria
bater na garota. Ela contou a mesma história que eu - que estávamos
procurando a lata. Só que nenhuma delas realmente a viu sair. Então,
no que diz respeito à lei, eu não estava olhando para onde estava indo, e
ela estava atravessando a rua. Eu bati nela. Eles estão incrivelmente
errados, mas minhas palavras, não importa quantas vezes eu as diga,
pouco significam.
Porque não foi intencional, homicídio culposo é minha
responsabilidade. Posso cumprir pena máxima de oito
anos. Oito. Anos. Meu advogado, Gregory, está tentando me conseguir
uma sentença menor porque sou menor de idade. De qualquer forma, as
chances de eu ir para o reformatório são provavelmente de cem por
cento. Eu não vou sair dessa. Honestamente, por que deveria? Se eu não
fizesse o que fiz, Celia ainda estaria viva hoje.
A primeira vez que ouvi o nome dela, Celia Yates, todo o meu mundo
parou. Eu persegui tudo, do Facebook ao Instagram dela. Sua família
está certa; não parece que ela estava infeliz. Todas as fotos dela a
mostram rindo com amigos ou com seu namorado, Grant. Ela parecia ter
uma vida boa, plena e agradável. Eu tirei isso dela.
Quando comecei a ler os comentários nas páginas do memorial sobre
que tipo de monstro eu devo ser, minha mãe pegou meu telefone. Ela
disse que não preciso de mais nada para me distrair. Eu preciso estar no
meu melhor comportamento. Eu não acho que ela percebe que isso não
é a terceira série. O bom comportamento não vai me levar a lugar
nenhum. Eu não vou ser recompensada e liberada.
Não.
Nada mudará a minha pena. Nada mesmo.
Pelo menos, é assim que eu vejo.
— Eu examinei o caso várias vezes, — Gregory continua. — Se
houvesse algo que indicasse que Celia queria acabar com sua vida,
teríamos um caso mais forte para trabalhar, mas não há absolutamente
nada para apoiar a história de Callie. No entanto, vou contar como está,
jogar com o lado suave do júri. Certamente eles não acreditariam que
você merece ir presa.
— Então as pessoas não acreditam nela? — minha mãe pergunta,
franzindo o nariz.
Gregory balança a cabeça. — Não, me desculpe. Eles não acreditam.
Cansei de tentar dizer a verdade. Por semanas, implorei e contei a
todos o que realmente aconteceu. Minha mãe conseguiu o melhor
advogado que pôde, mas, honestamente, acho que ela nem acredita
nisso. Ela me perguntou tantas vezes por que não digo apenas a verdade,
e diz que, se eu estiver mentindo, só vai piorar para mim. Eles até me
ofereceram um acordo judicial em que, se eu admitir que não estava
olhando e disser que bati em Celia ao atravessar a rua, receberei uma
sentença menor.
Eu queria pegar.
Eu quero pegar.
Minha mãe se recusa.
Ela parece pensar que Gregory pode me livrar com apenas um tapa
no pulso e serviço comunitário, ou até mesmo uma sentença menor,
como dois anos. O acordo judicial é de três anos. Mesmo que ela não
esteja do meu lado, ela acha que ele é bom o suficiente para me livrar. Ela
está errada, mas se recusa a seguir em frente.
— A única recomendação que posso fazer a você, é aceitar o acordo
judicial, — Gregory me diz. — Vai ser uma pena menor.
— Não me sinto confortável com ela aceitando uma sentença menor
quando você deveria fazê-la receber ainda menos do que o acordo judicial,
— minha mãe rebate.
— Com todo o respeito, estou dando o meu melhor. Eu disse que não
estou confiante no resultado deste caso. Se eu tivesse que fazer uma
escolha, aceitaria o acordo.
— Eu quero pegar, — eu digo, frustrada. Eu quero pegar. Não quero
ir embora por mais tempo se eles decidirem que eu mereço isso. Gregory
me disse que pode demorar até oito anos. Oito. Três parece muito menos,
no esquema das coisas. Eu terei apenas dezenove; isso não é tão ruim.
— Essa não é sua escolha. Você é menor de idade, — minha mãe
rosna. — O que estou pagando para você, senão para ganhar?
Gregory exala. — Eu não sou Deus, senhora. Estou fazendo o melhor
que posso; Vou lutar a melhor luta possível. Farei tudo o que estiver ao
meu alcance para que o júri veja que Callie é apenas uma criança que
estava se divertindo com os amigos quando algo de ruim aconteceu. Vou
fazer o melhor que puder. Não posso, entretanto, fazer promessas.
Minha mãe murmura alguma coisa e depois olha para mim. — Não
estamos aceitando aquele acordo judicial!
— Como é que eu não tenho escolha nisso? — Eu estalo, me
levantando. — Eu poderia ficar muito mais tempo se você não aceitar o
acordo! Acorde! Isso não é sobre você.
— Callie! — minha mãe chama quando eu me viro e saio furiosa da
sala.
Eu não olho para trás. Não tenho mais nada a dizer a ela ou a
qualquer outra pessoa. Já perdi a mim mesma, minha reputação e tudo
que me restava.
Agora, provavelmente vou perder uma boa parte da minha vida.
Tudo porque minha mãe não quer me ouvir.
Como todo mundo.
Ninguém ouve o que tenho a dizer.
Ninguém.

— CALLIE ANDERSON, UMA decisão foi tomada. Sua sentença é a


seguinte: por direção imprudente, eu a considero culpada. Por roubo de
propriedade pessoal, não a considero culpada. Pelo homicídio culposo de
Celia Yates, considero você culpada de todas as acusações. Você será
sentenciada a seis anos em uma instalação correcional. Você servirá no
centro de detenção juvenil até os dezoito anos, então será transferida
para uma prisão. Está ordenado.
Há momentos em sua vida em que todo o seu mundo para por
completo.
Tudo ao seu redor desaparece.
Tudo, exceto as batidas fortes do seu coração no peito. Ela se irradia
pela sua cabeça até ser tudo o que você pode ouvir.
Ruídos, pessoas, o ambiente - tudo se torna nada.
Isso é exatamente o que acontece no momento em que minha pena é
pronunciada. Eu não consigo sentir. Eu não consigo pensar. Eu não
consigo me concentrar. Não no lamento da minha mãe, ou na forma como
a família de Celia se abraça. Não na batida do martelo do juiz em sua
mesa. Nada. Tudo se desvanece em nada. Eu não consigo me mover. Eu
não consigo pensar. Eu não consigo sentir.
Nem mesmo quando Joanne se aproxima e sua mão se curva sobre a
minha.
A única amiga que me resta neste mundo. A única que me perdoa.
Quando o guarda me manda ficar de pé, sou levada de volta à
realidade como um tapa brutal na cara. O barulho e o ambiente voltam
à minha consciência, e as lágrimas começam a rolar e rolar pelo meu
rosto.
— Não! — Eu choro, enquanto algemas são colocadas em meus
pulsos. — Não por favor. Eu não fiz isso. Eu não quis dizer isso. Eu não
fiz...
Minha mãe está chorando. Meu pai está tentando chegar até mim,
mas está sendo parado pelos policiais. Max está sem emoção, olhando
para mim com uma expressão de horror no rosto. Joanne está chorando.
A família de Celia, está toda olhando enquanto eu sou puxada para
longe. Eu não me concentro em nenhum deles. Não sei dizer quantos
são. Eu soluço ao ser removida da sala.
Seis anos.
Vou embora por seis anos.
Se o juiz disse mais alguma coisa, não ouvi.
Eu não consigo respirar enquanto eles me levam para fora.
Alguém, por favor, faça parar. Me acorde desse pesadelo. Por favor,
eu estou te implorando.
Por favor.
AGORA - CALLIE

— Você tem que estar me zoando! — Eu estalo, olhando para o pneu


furado do meu carro. Bem, o carro extra de Joanne que ela está me
deixando usar.
Como parte de alguns dos programas para jovens na prisão, pudemos
obter nossa licença, o que foi benéfico para nós quando entramos no
mundo exterior novamente. Também pudemos terminar a escola. Na
época, eu não me importava com nenhuma dessas coisas, mas de repente
estou muito grata agora.
Sou uma motorista nervosa e, toda vez que estou ao volante, sinto
uma forte ansiedade crescendo em meu peito, mas tenho que voltar lá. Eu
tenho que encontrar um emprego. Eu tenho que voltar à vida. Não posso
contar com Joanne para sempre.
Agora estou olhando para o carro dela, me perguntando o que diabos
aconteceu. De alguma forma, desde que saí dele e andei a rua principal
inteira procurando um emprego, ele conseguiu um problema para si.
Não sei como trocar um maldito pneu.
Inferno, eu nem sei que inferno eu preciso fazer.
— Precisa de alguma ajuda?
Eu recuo e fico em pé muito rápido. Eu tropeço para trás e uma
grande mão se enrola em volta do meu braço antes de atingir o pavimento
e me puxar de volta para os meus pés.
Eu olho para cima, atrapalhada. — Merda. Eu sou tão
desajeitada. Obrigada...
Eu paro quando dou uma olhada no homem que me puxou para
cima. Ele é provavelmente a criatura mais terrivelmente bela que já tive
o prazer de colocar meus olhos. Claro, eu não tive muitos homens para
olhar, mas este... Uau.
Ele é alto, tipo, facilmente um metro e oitenta. Seus músculos
praticamente o compõem por inteiro. Ele é musculoso, provavelmente da
cabeça aos pés. Ele é enorme, com ombros largos, bíceps grandes e os
antebraços mais fortes que eu já vi. Ele tem tatuagens percorrendo todo
o caminho, desaparecendo sob sua camisa e aparecendo novamente em
seu pescoço, chegando até sua orelha.
Caralho.
Então há aquele rosto. Ele é o verdadeiro significado de alto, moreno
e bonito. Adicione um pouco de perigo e você terá o homem perfeito. Seu
cabelo escuro está bagunçado no alto da cabeça. Seu rosto está
sombreado por uma barba clara que só o faz parecer mais robusto. Ele
tem os olhos castanhos profundos mais incríveis que já vi. Ele tem uma
mandíbula barbada, lábios carnudos e uma cicatriz na sobrancelha.
Ele é incrível.
— Não mencione isso.
Ele me solta e eu me estabilizo, sentindo minhas bochechas
queimarem. Eu estou corando? Meu Deus, alguém faça isso parar.
— Precisa de uma mão? — ele pergunta novamente.
— Oh, ah, sim, por favor. Meu pneu está furado. Eu nunca tive que
trocar um antes.
Ele olha para mim, como se estivesse surpreso com isso. — Isso
mesmo.
Eu dou a ele um sorriso tímido. — É isso mesmo.
— Deixe-me dar uma olhada para você. Meu nome é Tanner. Qual o
seu?
— Oh, ah, Callie.
Tanner.
Santa gostosura.
Ele caminha até o porta-malas do meu carro quando eu o abro e tira
tudo que ele precisa. Ele começa a trabalhar tirando a roda e
substituindo-a pela reserva.
— Como é que você nunca trocou um pneu?
Porque estou na prisão desde os dezesseis anos.
— Eu simplesmente não estive em uma situação em que alguém teve
um pneu furado, eu acho.
Seus olhos piscam em minha direção, e então ele se concentra de
volta no carro. — Você é nova na cidade? Não vi você nesta área antes.
— Não, quero dizer, bem... Eu suponho. Eu morava aqui quando era
mais jovem. Eu fui embora por um tempo.
— Oh sim? Para onde você foi?
Merda.
Merda.
— Para, ah, Califórnia... — Eu odeio mentir. Desprezo.
— Legal, — ele murmura, apertando os parafusos antes de se levantar
e colocar a roda na parte de trás do meu porta-malas e fechá-lo. — Tudo
feito. Você mora por aqui?
Eu concordo. — Sim, cerca de dez minutos de distância. Estou hoje à
procura de emprego.
Suas sobrancelhas sobem e ele cruza aqueles braços grandes. — Sim,
o que você faz?
— Qualquer coisa. Literalmente, qualquer coisa. Eu só quero
trabalhar.
Ele balança a cabeça e diz: — Minha irmã é dona de um café. Ela está
procurando uma nova equipe. Está na estrada, cerca de dois quarteirões
abaixo. Chama-se 'Cece's Place'. Diga a ela que Tanner enviou você; ela
sem dúvida estará disposta a falar com você.
— Verdade? — Eu digo, minha voz ficando mais alta com a minha
felicidade. — Muito obrigada.
Ele encolhe os ombros. — Sei como pode ser difícil conseguir um
emprego por aqui.
Eu sorrio e coloco o cartão no bolso. — O que você faz?
— Mecânico. Ex-militar. Poucos amigos e eu temos uma oficina logo
ali na esquina. Me mantém ocupado.
— Isso é muito legal. — Eu sorrio.
— Sim, — ele murmura, estudando meus lábios.
De repente, estou muito consciente de mim mesma. Eu pareço
bem? Eu sou o que os homens acham atraente? Eu nem sei qual é o estilo
hoje em dia.
A horrível verdade é... Eu ainda sou virgem.
Quer dizer, eu era quando fui embora e, obviamente, não ia sacrificar
o cartão V na prisão. Eu nem sei o que é um encontro, muito menos como
é estar com um homem.
Eu sei que meu corpo está muito ciente do homem parado na minha
frente. Uma dor surda está se formando entre minhas pernas e não vai
me deixar até que eu vá para casa e a faça desaparecer.
Sim, meu corpo está pronto para o sexo.
Só não tenho ideia de por onde começar.
— Estamos dando uma festa esta semana, celebrando nosso primeiro
aniversário de inauguração. É para todos. Se você quiser sair, ver a
cidade e conhecer pessoas, você é bem-vinda para vir.
Oh Deus. Ele está me convidando para sair. Eu engulo e digo: —
Parece bom.
— Me dê seu número; Vou mandar uma mensagem com o endereço.
Eu dou a ele meu número. Jo também me deu um telefone assim que
saí. Ela disse que eu nunca conseguiria um emprego se não tivesse uma
maneira de as pessoas entrarem em contato comigo.
— Obrigado, vou enviar-lhe o endereço e, em seguida, você terá meu
número também.
Oh garoto.
— Ótimo, obrigada por toda sua ajuda. Eu realmente gostei disso.
Ele balança a cabeça e diz: — Te vejo por aí, Callie.
Eu o vejo caminhar até a sua... moto! Como eu perdi isso? Está
estacionado bem na frente do carro de Jo. Tento não olhar para ele
quando ele joga um capacete, entra na enorme máquina verde e a
liga. Um estrondo alto enche a rua.
Eu mantenho meus olhos nele enquanto ele desaparece. Só quando
ele faz é que me volto para o carro.
Bem, isso foi inesperado.
Talvez isso não seja tão assustador afinal.

— VOCÊ JÁ PEGOU UM NÚMERO? — Joanne chora, olhando para o


cartão que entreguei a ela. — Como isso é possível?
— Meu pneu furou, — digo a ela. — Ele consertou.
— Você quer dizer que tenho um pneu furado. — Ela sorri.
— Merda, sim. Vou pegar outro pneu.
Ela acena com a mão. — Nem se preocupe com isso. Não foi sua
culpa. Agora, conte-me mais sobre esse cara misterioso. Ele era
gostoso? Forte? Rico? Fale comigo.
— Ele era gostoso. — Eu concordo. — Forte. Anda de moto.
— Não me diga! — ela chora. — Que incrível. Ele tinha tatuagens?
— Sobre. Ele. Todo.
— Oh Deus, — ela grita. — Minha pobre vagina!
Eu ri. — Acalme-se aí. Ele me convidou para uma festa de aniversário
da sua oficina, você quer ir?
— Quando?
— No fim de semana.
— Você acha que ele tem amigos gostosos?
— Querida, você é casada.
Ela bufa. — Não significa que eu não posso olhar. Estou totalmente
dentro, de qualquer maneira. Vou verificar se Patrick não tem um
encontro marcado, mas tenho certeza de que não tem. Já superei tudo
isso.
Eu sorrio.
— Diga-me que você vai escalar aquele homem como uma árvore
maldita?
Eu bufo. — Não... não é provável.
— Vamos, você estava na prisão por tanto tempo. Você deve estar
desesperada por um homem.
Eu aperto meus lábios. — Eu não saberia. Eu nunca tive um.
Joanne não sabe disso sobre mim. Ela não tem ideia de que eu nunca
estive com ninguém. Para falar a verdade, todas nós contávamos
histórias quando éramos jovens, sobre fazer sexo e estar com homens,
mas para mim era só isso... uma história. A conversa não voltou a
aparecer desde então, obviamente tínhamos coisas melhores para
conversar quando ela me visitou na prisão.
— Espere um segundo, — ela engasga, colocando as mãos sobre a
boca e murmurando pela casa. — Você é virgem? Mas quando tínhamos
dezesseis você me disse que você e...
Eu reviro meus olhos e a corto. — Eu disse o que todos estavam
dizendo, que eu tinha conseguido. Eu não tinha. Não é grande coisa.
— Querida, não posso acreditar que você escondeu isso de mim. Você
precisa fazer algo sobre isso, o mais rápido possível. Você está perdendo.
— Eu estava planejando lidar com isso em breve...
— Lidar com isso. — Ela revira os olhos agora. — Não é uma criança
travessa; é algo muito importante. Não jogue em ninguém, mas querida,
você precisa jogar em alguém. Digamos, tipo, um cara gostoso em uma
festa no fim de semana...
— Tenho certeza de que ele provavelmente tem garotas todas as
semanas de sua vida. Seria estranho. Eu não sei... nada.
Seus olhos se arregalam. — Nada?
— Bem, eu não sou estúpida. Eu sei como tudo funciona; Já li livros
suficientes para saber o que é romance, mas quando se trata de
experiência, não tenho nenhuma.
— E aquele cara que você estava vendo antes do acidente... Qual era
o nome dele?
— Joshua.
Ela bate palmas. — Sim, ele. Vocês dois ficavam juntos o tempo
todo. Certamente você foi mais longe do que isso?
— Eu dei um boquete nele. — Eu encolho os ombros. — Ele me tocou
desajeitadamente. Era isso.
— Ai Deus. Isso é só... Ai Deus.
— Chocante, eu sei, — murmuro. — Mas eu não tive exatamente
muitas oportunidades nos últimos seis anos.
O rosto de Jo cai. — Querida, sinto muito. Isso foi insensível. Claro
que não.
Eu sorrio para ela. — Não se preocupe. Isso vai acontecer...
— Bem, se você quiser saber alguma coisa, eu sou sua garota. Quer
dizer, só estive com Patrick, mas diria que sei o suficiente para responder
às suas perguntas. Além disso, não estamos mais no ensino médio. Tudo
virá naturalmente para você quando estiver no calor do momento. Meu
único conselho? Deixe o homem liderar e certifique-se de que ele
realmente, realmente, realmente deixa você excitada antes de jogar.
Eu bufo e depois rio. — Jogar?
— Bem, você sabe, deslizar para dentro. — Ela ri.
Eu balancei minha cabeça com um sorriso. — Eu tenho ficha
criminal, mas sou virgem. Quais são as chances?
— Nós vamos consertar isso para você. Não se preocupe.
TOC TOC.
Nós duas nos viramos para ver Patrick entrando na sala. Patrick
é... bem... tão malditamente perfeito. Do jeito limpo, sempre vestindo um
terno. Ele está bem de vida, sem dúvida. Ele dirige sua própria
empresa. Ele é o bilionário bonito que todas as mulheres
desejam. Inferno, eles escrevem livros sobre eles, certo?
Patrick, sim, ele é bonito. De seu cabelo louro-acinzentado bem
cortado, seus olhos azuis e traços esculpidos, direto ao seu corpo alto,
mas bem construído. Ele é rico. Ele está confiante. Ele sem dúvida é o
que muitas mulheres procuram.
Ele também peida durante o sexo. Aposto que eles não escrevem isso
nos romances.
Eu mordo meu lábio com o pensamento. Enquanto estudo ele e seu
terno cinza liso, tudo que posso imaginar é o momento em que isso
aconteceu.
Eu mordo meu lábio com mais força. Droga, por que ela teve que me
dizer isso?
— Callie, é maravilhoso ver você. — Patrick sorri.
É forçado. Nós dois sabemos que ele não gosta de mim.
Tanto faz.
— Você também. Como você está, Pat?
Ele odeia Pat. Jo me lança olhos grandes por cima do ombro, mas eu
os ignoro. Esse babaca nunca foi meu tipo de homem favorito para minha
melhor amiga. Eu odeio que ela sinta que está presa a ele. Ninguém
deveria sentir que está preso. Ninguém. Não importa as circunstâncias,
sempre há uma saída.
Eu aprendi isso.
Eu aprendi muitas coisas.
— Maravilhoso. Eu estava passando para ver se você gostaria de
jantar hoje à noite, querida?
Ele está falando com Jo agora, obviamente. Eu quero me
encolher. Eca. Ele é tão... falso. Doce tão melado.
Ele é um lobo em roupas de cordeiro, sem dúvida. Há algo - sempre
houve algo sobre este homem. Seu poder, com certeza, mas outra
coisa. Um valentão profundo está dentro de Patrick. Acho que Jo sabe
disso. Acho que Jo sabe disso melhor do que ninguém, e essa é parte da
razão pela qual ela não vai embora. Ela está com medo? Se for assim, ela
não vai falar.
Ela não fala muito sobre o homem que decidiu se tornar seu marido.
— Claro, — Jo diz, mas eu vejo a maneira como seu corpo cai
ligeiramente. Ela não quer ir. Eu gostaria que ela me contasse o que
realmente está acontecendo. — Que horas?
— Eu irei buscá-la às seis. Podemos conversar lá fora?
Ela concorda.
— É bom ver você, Patrick, — eu grito, vendo-os sair.
Dez minutos depois, Jo volta para dentro. Ela
parece... exausta. Cansada, até. Como se tudo o que ele disse esmagasse
um pequeno pedaço de sua alma.
— Você está bem? — Eu pergunto a ela.
Ela concorda. — Sim, apenas a mesma velha luta, sabe? Ele me quer
em casa. Ele gosta de me lembrar do poder que detém. Do que não terei
se realmente o deixar e mudar sozinha. Que todas essas vantagens com
as quais ainda estou vivendo não existirão mais. Claro que ele termina
com um 'Estou com saudades, querida. Eu quero você em casa comigo. '
Que grande quantidade de porcaria. — É realmente tão ruim que você
não pode sair?
Ela desvia o olhar por um breve segundo. — Eu quero fazer meu
casamento dar certo. Vai ficar tudo bem. Vamos conversar sobre o que
você vai vestir no fim de semana.
Evasão rápida da conversa ali. Bem jogado, realmente. — Vou usar o
que você tiver para me emprestar.
Ela ri, mas há tristeza em seus olhos.
Eu gostaria que ela falasse comigo.
Eu realmente, realmente gostaria.
ANTES - CALLIE

EU ESTOU com medo.


Com tanto medo.
Todas as pessoas aqui me encararam enquanto os guardas me
levaram. Todas as pessoas que foram trancadas bem antes de se
tornarem adultas. Todos eles são rudes e assustadores, e me olham
fixamente para me dizer que não vou gostar de estar aqui nem um
pouco. Eu sou a garota branca rica, pequena e frágil. Sou um alvo, goste
ou não.
Já assisti programas suficientes na televisão para saber o que vai
acontecer com uma garota como eu em um lugar como este.
Eu engulo e tento manter meus ombros eretos, mas eles caem para
frente contra minha vontade, me mostrando que mesmo que eu queira
tentar ser forte, por dentro, não sou. Eu não sou nem um pouco forte. Eu
sou uma assassina - isso é quem eu sou. Pelo menos, é assim que as
pessoas vão me ver quando ouvirem o que eu fiz.
Sou uma garota morta caminhando.
O processo de entrada é longo. Minha mãe tem que preencher vários
formulários. Ela ainda está chorando. Eu sei que, no fundo, ela não se
preocupa comigo. Ela se preocupa com ela mesma, sua reputação, tudo
que há de errado em seu mundo. Como isso vai afetá-la. Como isso vai
arruinar a vida dela. O que ela vai fazer quando andar pela rua e todos
perguntarem sobre sua filha criminosa?
Ela nunca vai superar isso.
Sou revistada e recebo algumas roupas para vestir - um par de calças
compridas verdes e uma camiseta preta. Então, sou ensinada sobre todo
o processo do centro. Horários para comer, quando tomar banho, quanto
tempo tenho que ficar em minha cela por dia, todas as atividades de que
devo participar, que incluem, mas não se limitam a trabalho externo,
limpeza e ajuda na cozinha. Não é um passeio gratuito ou férias.
Eu sou então colocada na minha cela. Quatro D.
Estou com outra garota. Ela também tem pele clara. Estou grata,
porque ela não parece tão assustadora. Ela tem longos cabelos negros e
grandes olhos cinzentos, e é magra. Como se ela não tivesse comido muito
nos últimos meses. Eles não nos alimentam adequadamente aqui? Eu
não sei. Não sei de nada, exceto que estou com tanto medo, estou lutando
contra todas as reações em meu corpo. Chorando, gritando, implorando
- você escolhe, estou sentindo.
— Esta é Madeline. Ela é sua companheira de cela, — o guarda me
diz. — Qualquer briga terá você trancada na solitária. Não lidamos com
violência por aqui. O jantar é em duas horas.
Ele bate a porta do quarto. Não é uma cela como tal, o que significa
que não tem grades, mas sim uma porta. Estou grata por isso.
Eu me viro com as mãos trêmulas e olho para Madeline. Não tenho
certeza se ela é amigável ou se vai tentar me matar enquanto durmo. Acho
que estou prestes a descobrir.
— Ei, — eu digo, minha voz trêmula. — Eu sou Callie.
Ela balança a cabeça, não de uma forma agressiva, graças a Deus. —
Melhor do que a última garota que eles tiveram aqui comigo.
A vontade de perguntar o que aconteceu com a última garota é forte,
mas eu não pergunto. Provavelmente porque, no fundo, eu realmente não
quero saber.
— Ela saiu, — Madeline diz para mim, claramente lendo minha
expressão. — Eu não vou te machucar, abusar de você ou ser cruel. Não
se preocupe. Já estou aqui há um ano. Eu sei como esse lugar
funciona; você está segura nesta cela.
Oh. Graças a Deus.
— Obrigada, — eu digo baixinho, olhando para a cama e presumindo
que seja minha.
Cada uma de nós tem uma, e como Madeline está sentada em uma,
só posso assumir minha posição sobre a minha. A cama pequena e
estreita range quando me sento nela. As molas enferrujadas sob o colchão
claramente estão ali há muito, muito tempo. É limpo, porém, e a roupa
de cama aparentemente bem cuidada. O quarto é bastante grande, com
toda a franqueza. Uma cama se alinha em cada parede e, no fundo, no
canto, há um pequeno cômodo que sem dúvida contém um banheiro.
Há uma escrivaninha entre as duas camas com uma lâmpada velha,
mas fora isso o quarto é bastante sem graça. Sem televisão. Sem
sofá. Nada além de nossas camas e aquela escrivaninha. Mas não é
horrível. Certamente não o que eu tinha evocado em minha mente
durante todo o caminho até aqui. As paredes são pintadas de verde claro
e os pisos são de algum tipo de vinil feito para parecer madeira.
— Por que você está aqui? — Madeline pergunta, inclinando a cabeça
para me estudar. — Você dificilmente parece que esteve do lado errado
dos trilhos.
Ela pode dizer isso só de olhar para mim? Não sei como.
— Eu... — Eu hesito. Eu digo a ela? E se ela me odiar e eu tiver que
passar os próximos cinco anos em uma cela com uma garota que não me
suporta? Eu não sei. — Eu sofri um acidente de carro...
Ela estreita os olhos. — Olha, eu não estou aqui para julgar
ninguém. Estou presa por arrombar e entrar com uma arma
carregada. Tentei roubar um banco. Então eu saí com o dinheiro e roubei
um carro.
Jesus. Uau. Isso é outra coisa.
— Oh, bem, eu peguei o carro da minha mãe e estávamos
dirigindo... algumas amigas e eu... e uma garota... ela saiu para a estrada
na minha frente e, ah, ela faleceu.
Os olhos de Madeline se arregalam. — Não me diga. Você é aquela
garota? Eu vi tudo no noticiário.
Merda. Se ela viu, isso significa que todos os outros aqui viram.
— Não vou me encaixar bem, vou? — Eu sussurro.
Ela morde o lábio e diz: — Olha, nunca é fácil quando você é carne
nova. Você só vai ter que ficar comigo. Eu vou te ajudar. Não diga a
ninguém quem você é; vai tornar as coisas mais fáceis se eles não
souberem. Muitas pessoas aqui conhecem sua história. Muitas pessoas
aqui iriam atacar você por causa disso, todos eles pensam que você
matou uma garota inocente.
— Eu não machuquei intencionalmente aquela garota, — eu digo,
minha voz um pouco mais dura.
Madeline levanta as mãos. — Sem julgamento, lembra? Posso ver que
você não é do tipo que parece que vai bater em alguém e acabar com
isso. De qualquer maneira, isso não importa para eles. Por isso tenha
cuidado. Fique comigo. Vou te informar.
Meus ombros caem e olho ao redor da sala - a sala que vai ser minha
casa pelos próximos cinco anos.
Não tenho ideia do que vem pela frente. Isso me assusta mais do que
qualquer coisa que já suportei.
Eu nem sei se vou conseguir sair disso viva.
Tudo o que sei é que estou presa aqui e não há como voltar atrás.
Não há como mudar isso.

— BEM, VOCÊ OLHARIA para isso. Uma menina rica.


Eu me viro e aperto minha toalha no meu peito, olhando para as três
garotas maiores vindo em minha direção. Acabei de terminar meu banho
e estava prestes a me trocar. O guarda de plantão acabou de sair para
verificar outra discussão acontecendo na próxima linha, deixando-me
trocando de roupa.
Só estou aqui há três dias, mas Madeline me avisou que essas
meninas são as únicas para ficar longe. Aquelas que tornam a vida de
todos um inferno, especialmente os novos moradores do bairro. Eu
consegui evitar seus olhares raivosos durante o jantar e hora do exercício,
mas eu sabia que, eventualmente, eles me alcançariam.
— Ouvi falar de você, — diz a maior garota do grupo - acho que
Madeline disse que seu nome é Trisha.
Ela é grande em constituição, com ombros largos. Muito
masculina. Seu cabelo castanho escuro está bem preso na cabeça. Seus
olhos castanhos se estreitam enquanto ela se aproxima, sorrindo para
revelar dentes realmente brancos.
— Foi você quem matou aquela garota inocente.
Como elas descobriram isso?
Oh Deus.
Eu engulo e digo: — Não estou procurando problemas.
Trisha ri. — Eu não estava perguntando se você estava.
Dou um passo para trás e suas duas amigas ficam atrás dela
enquanto todas se aproximam de mim. Minhas costas batem em um
armário e digo: — Por favor, não estou aqui para lutar.
Eu pareço patética.
Eu sei que pareço patética.
Trisha ataca, agarrando-me pela garganta. Ela é pelo menos dois
tamanhos maior do que eu, então ela lida com meu corpo com
facilidade. — Eu me pergunto como essa família está se sentindo,
sabendo que uma garotinha branca rica roubou a vida de sua filha
porque ela queria sair e se divertir um pouco com as amigas e dirigir um
carro sem licença. Você vê o rosto dela toda vez que fecha os olhos? —
Ela aperta com mais força. — Você com certeza vai agora.
Eu começo a ofegar por ar, me debatendo. Seu outro punho ataca e
bate em meu estômago, me fazendo chiar e cair para frente. Ela me solta
e eu caio no chão, incapaz de puxar o ar para meus pulmões em chamas.
— Você é um lixo. Eu gosto de descartar o lixo aqui, — ela rosna,
levantando a perna para me chutar.
— Trisha!
A voz do guarda enche a sala, e Trisha se vira para ela e diz: — Eu
estava apenas ajudando essa garota. Ela deve ter escorregado.
O guarda se aproxima, ficando na cara de Trisha. — O que diabos
você pensa que está fazendo? Você já está em seu último aviso.
Trisha levanta as mãos. — Eu não sei do que você está
falando. Pergunte a ela, se quiser. Eu estava apenas ajudando ela quando
ela escorregou.
O guarda olha para mim e eu me levanto, ainda curvada de dor. Estou
tentando firmar a respiração, tentando parar as lágrimas rolando pelo
meu rosto na frente dessas meninas, tentando não gritar. Elas querem
isso. Elas querem que eu tenha medo delas. Elas querem que eu siga
todas as suas regras estúpidas.
— Isso está certo? — o guarda me pergunta.
— Não, não está, — eu suspiro. — Elas entraram aqui e me
encurralaram. Elas sabem o que eu fiz e querem me fazer pagar por isso.
O rosto de Trisha, por um pequeno minuto, pisca de surpresa. Ela
não esperava isso de mim. Sei que haverá retaliação por isso, mas
também não posso sobreviver neste lugar se seguir suas regras, fazendo
o que ela quer que eu faça e tendo medo. Esta é minha única opção.
— Trisha, venha comigo e reporte-se ao oficial encarregado esta
noite. Callie, você será escoltada até a enfermaria para que seja
examinada.
Trisha é puxada para longe, suas garotas a seguindo, mas não antes
de lançar olhares de morte em minha direção. Um guarda entra na sala
pouco antes de elas saírem para me levar ao posto de enfermagem. Eu
fico olhando para o guarda homem e estou bastante surpresa com o quão
incrivelmente bonito ele é. Seu cabelo escuro está penteado para trás e
ele tem olhos azuis amáveis. Sua pele, de um tom profundo de oliva, se
destaca ainda mais contra o uniforme azul marinho.
— Callie? — ele diz, caminhando em minha direção.
— Ah, sim, — eu digo, ainda curvada, a dor em minhas costelas
piorando progressivamente.
— Sou o oficial Corel. Vou levá-la ao posto de enfermagem.
— Obrigada.
Eu o sigo para fora e pelos corredores, através de algumas portas e,
em seguida, em um escritório onde uma jovem enfermeira está ocupada
escrevendo algo. Ela olha para cima quando entramos e suas bochechas
ficam vermelhas. — Ethan, como você está esta noite?
Oh. Ela gosta dele.
— Boa noite, Mary. Estou bem, como você está?
— Ótima, obrigada. Qual é o problema?
— Esta é Callie. Ela teve um desentendimento com Trisha.
Mary franze o rosto, parecendo sentir um pouco de pena de mim. —
Oh, bem, isso não é bom. Venha aqui e sente-se na cama. Diga-me o que
aconteceu?
Ethan... Oficial Corel... não se move. Em vez disso, ele vem e fica ao
meu lado na cama, sem sair. Eu acho que isso era esperado. Eu poderia
atacar a pobre Mary e tentar qualquer coisa. Tenho certeza de que já
aconteceu muitas vezes antes.
— Eu tinha acabado de terminar meu banho e Trisha me encurralou
no vestiário. Ela me deu um soco no estômago e estava me
estrangulando. Está tudo bem, — eu digo suavemente. — Estou bem.
— Eu tenho que dar uma olhada de qualquer maneira. Vou apenas
me limpar e pegar o que preciso. Se você esperar aqui, estarei de volta
em um momento, — diz Mary, virando-se e desaparecendo da sala.
Eu não faço contato visual com o oficial Corel. Eu realmente não
quero mais julgamento.
— Você não foi feita para este lugar.
Suas palavras me surpreendem, e eu me viro e olho para ele
timidamente. — Por que você diz isso? Estou aqui, não estou? Alguém
achou que eu merecia.
— Você é a coisa mais inocente que eu vi passar por essas portas nos
últimos cinco anos. Ninguém fala mais tão gentilmente. Não há um osso
ruim em seu corpo. Posso dizer isso à primeira vista. Posso ler as
pessoas; você não é má pessoa.
— Tenho certeza de que metade das pessoas aqui não são pessoas
más, — digo a ele.
— Você estaria errada. A maioria deles tem um bom motivo para estar
aqui.
— Com todo o respeito, senhor, tenho boas razões para estar aqui
também.
— Homicídio culposo, eu ouvi. Todos ouviram. A maior história que
surgiu em anos. Ainda não acredito que você quis dizer isso.
— Não é isso que homicídio culposo é? Claro que não quis fazer
isso. Mas eu fiz isso. Então aqui estou.
Ele me estuda. — Vi seu dia no tribunal; Eu era um dos guardas de
serviço. Você disse que ela saiu na sua frente.
Eu olho para ele e sussurro: — Não importa o que eu dissesse. A
pessoa que poderia mudar isso não acreditou em mim.
Seus olhos ficam suaves e eu já sei que vou gostar do Oficial Corel. Ele
é gentil, e pessoas assim são poucas e raras em um lugar como este. —
Deve ser uma existência difícil, estar aqui sem uma única pessoa no
mundo ao seu lado.
Isso me atinge com força, bem no coração. É a pior sensação que eu
poderia imaginar.
— Você não tem ideia, — eu sussurro baixinho, colocando minha
cabeça para baixo.
— Se importa, — ele me diz, cruzando os braços, — eu acredito em
você.
Eu olho para ele, chocada.
Mary volta para a sala antes que eu possa dizer mais alguma
coisa. Ela me diz para deitar na cama, e eu o faço.
Ela levanta minha camisa e pressiona meu estômago e arredores. —
Eu não acho que alguma coisa está quebrada, mas você já tem um
hematoma aparecendo. Você vai ficar dolorida por alguns dias. Vou te
dar alguns analgésicos agora e você volta em algumas horas para mais.
Sento-me, puxando minha camisa e dizendo: — Obrigada. Eu
agradeço.
Ela inclina a cabeça para o lado, me estudando também. Da mesma
forma que o oficial Corel fez. — Você é uma criança doce, — ela
murmura. — Tenha cuidado lá fora. Mantenha sua cabeça baixa. Eu não
quero ver nada de ruim acontecer com você, ok?
Eu concordo.
Meus olhos voam para o oficial Corel, e ele me dá um pequeno sorriso.
Talvez, apenas talvez, eu consiga superar isso afinal.
Talvez.
AGORA - CALLIE

— Espere, você é amiga de um guarda da prisão? — Jo pergunta


enquanto caminhamos em direção à garagem para a festa na noite de
sábado.
— Sim, e ele não é da prisão, ele é do reformatório. Quando me mudei,
ele não era meu guarda, mas me visitava com frequência, pois estava
sempre na prisão trabalhando.
— Isso é tão fofo. Então ele gostou, cuidou de você?
— Você poderia dizer isso, sim.
Ela sorri. — Por que você não está se jogando contra ele? Ele é
gostoso? Ele é casado? Eu não entendo.
Eu rolo meus olhos, ajustando o vestido no meu corpo mais uma
vez. Não estou acostumada a usar vestidos. Inferno, eu não uso um desde
que provavelmente tinha quinze anos. Jo escolheu o vestido mais
apertado e sexy que ela podia, alegando que eu precisava enlouquecer
mais cedo ou mais tarde. Aparentemente, não tenho escolha no assunto.
— Não é assim com Ethan e eu. Ele... Não sei, ele era meio que meu
protetor. Ele me ajudou em alguns dos piores momentos da minha
vida. Eu não teria conseguido passar sem ele. Ele é como meu melhor
amigo. Ele não é casado, é incrivelmente bonito, mas não
sei... simplesmente não é assim.
— Seriamente? — Jo engasga. — Ele parece um herói. Eu estaria
escalando ele como uma árvore.
Eu rio. — Claro que você faria. Não, Ethan e eu? Isso simplesmente
não vai acontecer.
Quer dizer, eu tive uma queda por ele por alguns anos. Eu não posso
negar. Quando você está sozinha em uma prisão e há um homem lindo
cuidando de você, você não consegue evitar de desenvolver algum tipo de
sentimento por ele. Mas, eu não sei, nunca vi isso como nada mais do
que isso. Não que Ethan não fosse um parceiro incrível; ele era.
Só não acho que ele seja para mim.
— Bem, vamos esperar que esse novo cara seja algo para se
gabar. Aqui vai. Você está pronta?
Eu aceno e olho para a oficina enorme na minha frente. É enorme,
como a maior oficina que já vi. Possui facilmente dez vagas para carros,
além de outras três no final repletas de motocicletas. O prédio comercial
é maior que nosso apartamento.
— Este lugar é enorme, — eu sussurro, olhando para ele.
— É incrível. Já ouvi falar; mas eu nunca vi isso. Uau. Nome super
legal também.
Eu olho para a grande placa que é feita de letras de caligrafia
cromada. Saltos e rodas. Há uma frase de efeito abaixo dela. Colocaremos
suas rodas na estrada novamente para que os saltos fiquem sobre seus
ombros novamente.
Corajoso.
Eu gosto disso.
— Isso é muito engraçado. — Eu rio, balançando minha cabeça.
Caminhamos mais para dentro e vemos que o lugar está realmente
cheio de gente. Há castelos de salto para as crianças e barracas de comida
montadas no amplo estacionamento. Alguns carros de espetáculos,
incluindo carros de corrida, estão em exibição, e as pessoas estão
olhando para eles. O cheiro de comida e cerveja está soprando para fora,
e meu estômago ronca. Ainda não consegui comer o que quero. Nesse
ritmo, vou acabar maior do que esta oficina, mas estou totalmente bem
com isso agora.
— Então, me mostre este homem lindo de quem você me falou? — Jo
pergunta.
Eu olho ao redor e, quando o noto, minha garganta fica um pouco
seca. Ele está parado no bar improvisado, conversando com outro
homem. Ele sorri e acena com a cabeça e, oh, meu pobre coração. Ele faz
uma pequena vibração estúpida, e eu me viro para Jo e sussurro: —
Pronto. Perto do bar.
Ela olha para onde eu aponto e seus olhos se arregalam. — Puta
merda. O gostoso de cabelo escuro?
— Sim.
— Oh. Meu. Deus. Querida, se você não pilotar todo o caminho para
casa, eu irei.
Eu sufoco um bufo com minha mão e empurro ela com meu
ombro. Tanner se vira mais em nossa direção, e seus olhos me
encontram, travando nos meus e me dando um arrepio que percorre meu
corpo. É diferente de tudo que eu já senti. De repente, estou muito pronta
para não ser virgem, e mais do que pronta para saborear o homem que
atualmente caminha em minha direção.
— Senhoras, — ele murmura naquela voz baixa, grossa e rouca
enquanto para na nossa frente. — Estou muito feliz por você ter vindo.
Bom Deus. Alguém o faça parar de ser lindo.
— Joanne, — diz Joanne, estendendo a mão.
Tanner a pega, enrolando seus grandes dedos ao redor de sua
mãozinha. — Tanner.
— Até o seu nome é quente, — ela murmura baixinho.
Ele sorri. Eu quase morro.
— Venha tomar uma bebida. Vou apresentá-las aos meus amigos e
coproprietários deste lugar.
Jo coloca seu braço no meu e anuncia: — Mostre o caminho!
Tanner sorri novamente, e então se vira e o seguimos de volta para o
bar onde um grupo de homens está parado.
Eu pensei que Tanner era o homem mais quente que eu já coloquei
meus olhos, que só poderia haver um dele. Estou errada. São seis, para
ser exata. Seis homens incrivelmente deslumbrantes, homens que você
não acreditaria que fossem reais, a menos que estivesse exatamente onde
estou, olhando para eles. Pisco algumas vezes, apenas para ter certeza
de que não estou vendo coisas.
Eu não estou.
Santo Deus.
A inspiração aguda de Jo é alta o suficiente para interromper a
conversa.
— Tanner, você tem algumas amigas, — diz outro homem alto,
moreno e bonito.
Os dois são parecidos, exceto que esse cara tem cabelo um pouco
mais longo, cacheado nas pontas de uma forma que parece incrivelmente
sexy. Seus olhos são do azul mais claro que eu já vi, e entre sua pele
morena, ele parece algum tipo de deus. Ele tem uma barba, que é tão
sexy que dá vontade de pular em cima dele. Tatuagens percorrem seus
braços, desaparecendo sob a camisa que está enrolada até os cotovelos,
assim como a de Tanner.
Quente.
— Sim, — Tanner diz ao homem. — Senhoras, este é meu melhor
amigo e irmão vitalício, Tatum.
Doce Jesus. Ele também tem um nome T.
— Oh, cara, — sussurra Jo.
Tatum olha para ela e dá um sorriso lento e sexy que honestamente
tiraria a calcinha de qualquer mulher. — Qual é o seu nome, querida?
Oh meu Deus. Alguém o faça parar.
— Joanne, — ela sussurra, sua voz claramente incapaz de fazer uma
aparição. Ela limpa a garganta, as bochechas ficam vermelhas, e cara,
ela está tão bonita, não é de se admirar que Tatum esteja de olho nela. —
Prazer em conhecê-lo.
— O prazer é todo meu, acredite em mim.
Em seguida, seus olhos se movem para os meus, e algo tipo flashes
através deles. Não sei o quê, para ser exato. É um momento fugaz, e ele
sorri e diz: — Você deve ser Callie. Tanner me contou sobre você.
Eu aceno, estendendo a mão. — Prazer em conhecê-lo.
Seu aperto é firme, um pouco firme demais. Ele aperta minha mão e
a solta.
Tanner se vira para o resto do grupo e os apresenta um por
um. Demoro um momento para processar a gostosura de cada
um. Seriamente.
— Este é Chad, — Tanner diz, apontando para um homem lindo de
cabelo loiro claro, com os olhos cinza-aço mais incríveis que eu já vi. Ele
também é alto, enorme, exceto pela pele limpa. Nenhuma gota de tinta
nele. Pelo menos isso eu posso ver.
— Oi... — Eu aceno sem jeito.
— E Garrett, — Tanner continua, apontando para o próximo
homem. Ele é como seu próprio homem da montanha. Ele é alto,
musculoso e tem a melhor barba que já vi. Seu cabelo é algo entre
castanho claro e médio. Ele tem olhos verde-esmeralda nos quais você
poderia se perder, eles são tão penetrantes. Ele é absolutamente lindo e
parece que pertence a uma cabana em algum lugar nas Montanhas
Rochosas, cortando lenha.
Quente. Tão quente.
Jo e eu acenamos para ele.
— Então você tem Logan e Luka.
Eu fico olhando para os outros dois homens. Logan é um nativo
americano e, Senhor, ele é lindo, de uma forma exótica e misteriosa. O
cabelo comprido e escuro desaparece em algum lugar em suas costas -
não tenho ideia de quão longe. Ele tem olhos castanhos mais profundos,
mais escuros do que Tanner, e a pele castanha mais suave que já vi em
um homem. Ele é absolutamente lindo.
Luka é algo totalmente diferente, com o cabelo ruivo mais escuro que
já vi, tão escuro que quase parece que poderia ser castanho na luz errada,
mas no momento você pode ver o tom de vermelho flamejante nas mechas
grossas. Seus olhos são do mais lindo cinza metálico.
Todos os homens são altos, todos os homens são construídos como
paredes de pedra e todos eles são tão lindos à sua maneira, é difícil dizer
qual deles você escolheria se tivesse a opção.
Meus olhos voam de volta para Tanner, é claro, porque cara, ele faz
algo em mim.
Os olhos de Jo voltam para Tatum, e eu sei que se ela pudesse
escolher um homem, seria o lindo e robusto que está olhando para ela
com a mesma intensidade que ela está olhando para ele.
Pobre garota.
Eu me pergunto se ela vai contar a ele que é casada. Eu me pergunto
muitas coisas depois de conhecer esses homens, na verdade.
Principalmente, eu me pergunto, como diabos vou manter minha
calcinha por uma noite inteira.
Problemas de primeiro mundo, se você me perguntar.

A FESTA É DIVERTIDA, E eu bebi demais.


Não que eu esteja muito preocupada se vou arrastar minhas palavras
e fazer algo estúpido, mas o suficiente para eu rir livremente, o que não
faço há muito tempo, e me esquecer de que meu mundo virou de cabeça
para baixo. É bom, por apenas um momento, não pensar sobre como os
últimos seis anos da minha vida foram.
— Querida, — Jo diz, sentando ao meu lado nas cadeiras confortáveis
que encontramos perto do bar. Ela me entrega uma bebida e continua:
— Eu tenho que ir. O carro de Patrick quebrou e ele precisa de uma
carona.
Eu franzi a testa. — Ah não! Estávamos nos divertindo tanto!
— Está tudo bem aqui, senhoras?
Nós duas olhamos para ver Tanner, Garrett e Tatum caminhando em
nossa direção. Deus, meu pobre corpo. Parece que toda vez que Tanner
está por perto, ele quer se jogar em cima dele.
— Eu tenho que ir. Nossa, ah... — Ela hesita. Pela primeira vez na
vida, ela hesita, depois expira e murmura: —... o carro do meu marido
quebrou.
Tatum não parece surpreso. Em vez disso, ele inclina a cabeça para
o lado e murmura: — Precisa de ajuda com isso?
— Oh, não, — ela diz rapidamente, — quero dizer, obrigada, mas ele
enlouqueceria se eu aparecesse com você...
Ela está certa. Ele iria.
Tatum sorri, apenas uma leve ponta dos lábios. Cara, ele está
bem. Pobre Jo.
— Então, de qualquer maneira, você vem agora ou quer pegar um táxi
para casa? — Jo me pergunta.
— Eu, ah...
— Vou dar uma carona a ela, — diz Tanner, encontrando meus olhos.
Oh meu Deus.
Jo sorri, e então pega sua bolsa ao meu lado e diz: — Bem, é isso
então. — Ela me abraça e sussurra em meu ouvido: — Faça-o lembrar de
você, querida. Não seja tímida.
Ela acena para os homens, segurando os olhos de Tatum um pouco
mais que o resto, e desaparece na multidão.
Eu olho para os três homens atualmente assistindo ela ir, então todos
eles se viram e olham para mim. Eu sorrio nervosamente e digo: — Bem,
acho que todos vocês estão presos a mim.
— Poderia ser muito pior, — Garrett diz, e então agarra o ombro de
Tatum e eles se viram e vão embora.
Tanner se senta ao meu lado, recostando-se na cadeira, esticando as
pernas e cruzando os tornozelos. Oh meu Deus. Por que tudo o que ele
faz é tão atraente? Estou como uma virgem. Eu acabei de inventar isso,
mas parece uma coisa. Meu corpo nunca experimentou um homem, mas
está mais do que pronto para isso, e Tanner sentado ali, cheirando como
cheira e olhando com aqueles olhos, está tornando muito difícil para mim
não imaginar todas as coisas que ele poderia fazer para mim.
Eu sei que ele seria experiente, sem dúvida.
— Diga-me algo sobre você, Callie. — As grandes mãos de Tanner
enrolam em torno de sua cerveja, e ele a leva à boca.
— Não há muito para saber. Eu sou apenas uma garota. Você sabe,
a mesma velha história.
Ele se vira e olha para mim. — Eu duvido muito que você seja a
mesma velha história. Há algo sobre você que me diz que você é muito
mais do que isso.
Eu engulo.
Ele adoraria saber mais, tenho certeza, mas certamente não vou dizer
a ele como ele está certo. Não sou a mesma velha história. Sou um
maldito pesadelo, sobre o qual ninguém quer ouvir. Isso muda tudo sobre
quem eu sou. Tentei muito deixar Callie na prisão quando saí por aquelas
portas.
— Acho que você está errado, — sussurro, e mudo de assunto. — E
você, Tanner? Qual a sua história? Família? Amigos?
Ele encolhe os ombros. — Você sabe, o de sempre. Duas irmãs, pais
ainda juntos, reuni meu grupo de amigos para administrar este lugar -
eu diria que a vida é muito boa. A vida toda vem junto como deve ser.
Ele estaria errado sobre isso. A vida é uma grande merda.
— Sim, — digo com cuidado, em seguida, continuo: — Em que tipo
de carros você trabalha aí? — Eu aceno na direção de sua oficina.
Ele se levanta e estende a mão. — Eu vou te mostrar.
Meu coração dispara, e eu quero gritar, pular e surtar, tudo ao mesmo
tempo. Estamos indo lá? Ficaremos sozinhos? Deus.
Eu pego sua mão e não posso deixar de estremecer por dentro com a
sensação de seus dedos se enrolando em torno dos meus. Suas mãos são
de mecânico, tão masculinas, com pequenos calos nas palmas. Elas
também são grandes. Uma de suas mãos provavelmente poderia assumir
duas das minhas.
Passamos por todas as pessoas e noto alguns de seus amigos nos
observando com expressões estranhas em seus rostos. Isso é algo que ele
geralmente não faz? Ou eles sabem o que vai acontecer? De qualquer
forma, eles estão assistindo, e isso me deixa um pouco
desconfortável. Tomo minha bebida novamente, imaginando que se
conseguir ficar um pouco mais bêbada, não vou me importar.
Okay, certo.
Estou tão ansiosa.
Entramos na oficina enorme e Tanner acende as luzes. Eu fico
olhando ao redor, os olhos arregalados, hipnotizada pela visão na minha
frente. Pisos de concreto preto polido revestem o enorme espaço. As luzes
são brilhantes, trazendo-o à vida, e há vãos e mais vãos cheios de carros
sendo consertados ou desmontados. É incrível. Absolutamente
espetacular.
— Uau, — eu respiro. — Isso é incrível, Tanner. Que lugar bonito.
Ele dá um som meio riso, meio bufo de sua garganta e diz: — Não
tenho certeza se bonito é o visual que eu estava procurando...
Eu ri. — Você sabe o que eu quero dizer. É incrível.
Ele me dá um pequeno sorriso e pergunta: — Você gosta de carros?
Eu engulo.
Não, eu não gosto de carros. Eu os dirijo apenas se for necessário e,
quando o faço, fico ansiosa o tempo todo. Não gosto de estar neles se não
for preciso. Não gosto de nada a ver com eles, para ser honesta. Se eu
disser isso a Tanner, ele perguntará por quê. Eu não quero responder a
essa pergunta.
— Claro, — eu minto. — Eu gosto deles.
Ele me estuda, como se pudesse ouvir a mentira em minha voz, então
diz: — Venha e dê uma olhada aqui então.
Ele me leva para baixo, passando por algumas baías e por uma porta,
e entramos no que só poderia ser classificado como um showroom1. É
incrível e está repleto de todos os tipos de carros antigos que foram
restaurados, ou estão sendo restaurados nas vagas ao redor do
showroom. Eu fico olhando com admiração para os belos veículos
antigos.
— Uau, — eu respiro. — Isso é incrível. Você restaura carros antigos?
Ele concorda. — Nós restauramos, sim, mas aqueles três no
meio? Eles são meus.
Eu fico olhando para os três carros no meio do showroom. Existe um
Ford Mustang, disso eu sei, porque quando era mais jovem, sempre quis
um. É vermelho e conversível, e absolutamente lindo. A idade teria que
ser em torno da marca de 1965 e é intocada. Não reconheço o segundo
carro, mas também é absolutamente espetacular. Depois, há um carro
de corrida verde, decorado para velocidade e potência.

1 Espaço destinado aos mostruários.


— Você participa de corridas? — Eu pergunto a ele, caminhando até
o carro de corrida e olhando para ele. É incrível.
— Sim, eu gosto de levá-lo para corridas de rua.
Corrida de rua. Isso é incrível e totalmente quente. — Isso é incrível.
— Suba. É ainda melhor por dentro.
Eu dou uma olhada nele. — Você está tentando me colocar em seu
carro para que possa tirar o máximo proveito de mim?
Ele me lança um olhar que me deixa com os joelhos fracos. — Acho
que você terá que descobrir.
É este o momento em que devo dizer a ele que sou virgem? Ou eu
apenas vou com isso, acabo com isso e sigo em frente?
Eu não sei.
Não sei o que devo fazer agora, exceto entrar no carro.
Então, é isso que eu faço.
Vamos, destino. Pela primeira vez, dê-me o que preciso.
ANTES - CALLIE

— EU PEGUEI isso pra você, — policial Corel diz, entregando-me um


pacote de livros.
Eu fico olhando para eles por um momento, e então os pego dele,
olhando para baixo. Harry Potter. Nunca li esses livros, mas são grandes
e, sem dúvida, vão demorar um pouco. Não sei por que ele os comprou
para mim. Ele sente pena de mim?
É seguro dizer que as coisas não estão indo bem para mim aqui.
Trisha não gostou que eu falasse sobre ela, então ela fez da minha
vida um inferno, me atormentando de todas as maneiras que pode. O
oficial Corel está comigo a maior parte do tempo quando estou fora,
então, por enquanto, ela não conseguiu me alcançar de novo, mas está
esperando. Eu sei que ela está esperando. Ele sabe que ela está
esperando. Ela vai se vingar de mim, e estou apavorada no momento em
que isso acontecer.
Até esse momento, ela não faz nada além de lançar ameaças contra
mim. Ela vai me bater até eu engasgar com meu próprio sangue; ela vai
cortar meu cabelo; ela vai me fazer desejar nunca ter nascido. Não tenho
certeza de como vou fugir dela. Não posso evitá-la para sempre, e o
policial Corel não pode estar ao meu lado a cada segundo de cada
dia. Tenho certeza que em breve ele será designado para outro lugar e
terei um novo guarda menos simpático de plantão.
— Você tem permissão para me dar isso? — Eu pergunto a ele,
pegando os livros de suas mãos.
— Sim, eu tenho. Eles estão limpos; Não estou escondendo nada para
você. Você tem permissão para ler, e achei que gostaria de ler isso.
— Obrigada, — eu digo, incrivelmente grata. — Muito obrigada.
— De nada. Compartilhe-os com Madeline; ela parece uma garota
legal.
Madeline é uma boa garota. Embora arisca, ela é uma boa colega de
quarto e me ajuda quando pode. Ela me deu uma bronca quando Trisha
me procurou e disse que eu não deveria ter dito nada. Ela acha que eu
deveria ter dito que nada aconteceu e deixar para lá. Ela provavelmente
está certa, mas, na hora, achei que não recuar fosse a melhor
opção. Madeline me disse, aqui, absolutamente não.
Agora, tenho que aprender a lutar, porque a única maneira de fazer
com que Trisha me deixe em paz é ser mais forte do que ela.
Não posso ser mais forte do que ela. Ela tem o dobro do meu tamanho
e não tenho ideia de como lutar.
Madeline está me mostrando algumas coisas, mas com toda a
honestidade, acho que meu tempo aqui vai ser difícil. Muito mais difícil
do que eu poderia ter imaginado.
— Vou a uma conferência amanhã por uma semana. Designei um
bom guarda para você e a informei de seus problemas com Trisha. Você
deve estar segura enquanto eu estiver fora.
Meu coração afunda com suas palavras.
Eu não conheci outro guarda aqui que realmente se importe com as
meninas nesta ala. Eles só se preocupam em fazer seu trabalho e voltar
para casa; nosso bem-estar pouco importa para eles. Mas confio no
Oficial Corel. Talvez haja outro guarda que não conheço. Ele não me
deixaria em perigo, certo?
— Oh, — eu digo suavemente. — OK.
— Vai ficar tudo bem, eu prometo. Eu expliquei a situação. Você será
cuidada.
Eu aceno, mas estou com medo. Eu não digo isso a ele. Não é seu
trabalho me fazer sentir melhor; é seu trabalho proteger as meninas
nesta ala. Ele já está fazendo mais por mim do que qualquer outra
pessoa, mas sou extremamente grata a ele, então não digo nada. Ele é a
única pessoa fora de Madeline que tenho do meu lado. Vou pegar o que
puder.
— Obrigada, — eu digo, e então aceno para os livros. — Estes são
ótimos.
— De nada. Quando terminar, vou trazer mais um pouco.
Eu sorrio, fraca e quebrada, mas um sorriso do mesmo jeito. Ele
merece saber o quão incrivelmente grata sou a ele. Sem ele, eu
honestamente não acho que sobreviveria aqui. Eu não sabia que
precisava dele até que eu o tivesse, e agora, a própria ideia de ele não
estar aqui me apavora. Ainda assim, eu me mantenho. Devo isso a ele,
no mínimo.
— Eu espero que você aproveite seu tempo longe, — eu digo.
Ele sorri enquanto sai da sala. — Trabalho é trabalho, mesmo quando
você não está aqui. Mantenha a cabeça baixa, Callie. Vai ficar tudo bem.
Espero que ele esteja certo.
Puxa, espero que ele esteja certo.

A GUARDA NÃO ESTÁ cuidando de mim.


Jemma é o nome dela, ela é jovem e está claramente assumindo uma
postura dura para assustar os prisioneiros. Ela provavelmente tem a
mesma idade do policial Corel, por volta dos vinte e poucos anos. Ela é
bonita, em certo sentido, com seu cabelo castanho e olhos azuis, mas dá
um show e tanto. Ela adora se dar a conhecer e ter certeza de que estamos
com medo dela.
Acho que a verdade é que ela tem medo do que vai acontecer com ela
aqui se não for dura. Ela é apenas uma mulher de constituição
menor. Isso me faz pensar por que ela decidiu escolher um trabalho como
este. Acho que ela sabia o que queria e foi atrás disso. De qualquer forma,
ela obviamente disse uma coisa ao policial Corel e está planejando fazer
outra.
Ela não está sendo cruel comigo, de forma alguma. Ela está sendo
amigável, mas deixou claro que não pode ser vista me dando um
tratamento especial. Então ela tem que me colocar para fora com o
resto. Hoje, isso significa que estou nos jardins, arrancando ervas
daninhas e arrumando-as. Trisha também está nos jardins, o que
significa que estou lá com ela e não tenho proteção.
Estou com medo, porque sei que três guardas não podem fazer muito
para nos proteger quando estamos aqui fora, trabalhando. Eles têm
muitos olhos entre eles, e somos pelo menos trinta, trabalhando no
jardim e no quintal hoje. Eles não terão controle da situação se uma luta
começar. Eles iriam chegar lá rapidamente, mas não antes que algum
dano pudesse ser feito.
Estou evitando Trisha a todo custo, ficando perto de Jemma e
certificando-me de que quando ela se afastar, vou limpar o jardim ao lado
dela. O sol está muito quente e minha pele dói sob seus raios
violentos. Estou de chapéu, mas não ajuda muito a me proteger. O suor
escorre pela minha testa enquanto trabalho no chão, arrancando ervas
daninhas e colocando um pouco de cobertura morta fresca para proteger
as plantas.
Jemma se move para a minha esquerda para ajudar outra garota, e
eu me encontro desprotegida no jardim. Eu fico de olho nela, mas ela está
ocupada ajudando.
Uma voz dura enche meus ouvidos e minha pele se arrepia quando
me viro e vejo Trisha se aproximando. Ela fica de joelhos, então não é
óbvio que ela está causando um problema. Eu olho para trás para
Jemma, que está discutindo algo com outro guarda, então os dois vão até
outra garota, ainda mais longe. Ela não parece bem, seu rosto está pálido
e ela está curvada, ofegante.
— Você não achou que poderia se esconder para sempre, não é? —
Trisha sussurra.
Eu me viro para ela, e então abaixo minha cabeça e continuo
trabalhando.
— Me ignorar não vai fazer isso ir embora. Você me colocou em sérios
problemas. Minha sentença é de alguns meses a mais por causa de você
e de sua bunda rica imunda. Você não poderia pensar que eu iria deixar
você escapar impune.
— Por favor, — eu murmuro. — Apenas me deixe em paz.
— Seu namoradinho guarda não está aqui cuidando de você esta
semana; você está aberta para receber. Tenho grandes planos para você,
Callie.
Eu olho para ela e estalo, — Apenas me deixe em paz!
Ela sorri e se levanta. Por um momento, apenas um momento, acho
que ela vai se afastar.
Em vez disso, ela levanta o pé e bate nos meus dedos. Tento puxar
minha mão, mas ela torce a bota, esmagando-a com tanta força na terra
que não consigo puxar. Eu grito em agonia quando um som de trituração
pode ser ouvido. Ela torce a bota, sem parar, até que estou gritando para
ela parar.
Então, ela dá um passo para trás e se vira sem outra palavra e vai
embora.
A dor irradia pela minha mão quando eu a levanto e olho para
baixo. Meus dedos já estão inchando e um deles está sentado em um
ângulo estranho. Ela quebrou. Ela quebrou meu dedo. O vômito sobe na
minha garganta enquanto a dor dispara pelo meu corpo.
— Callie, o que aconteceu? — A voz de Jemma corta o som latejante
em meus ouvidos.
— EU... Deixei cair uma tora nos meus dedos, — digo a ela, pensando
na única coisa que posso. Há troncos que revestem o canteiro do jardim
e são pesados. Nós os corrigimos conforme avançamos. Não é uma
mentira terrível. — Eu não queria. Eu caí para frente...
— Tem certeza que foi isso que aconteceu? — Ela pergunta, me
ajudando a ficar de pé e olhando ao redor.
— Sim, tenho certeza, — digo, minha voz tremendo de dor.
— Vamos levá-la à enfermeira.
Ela chama outro guarda e me leva para fora do jardim e para dentro,
mas não antes de eu olhar para Trisha. Ela me observa ir embora, um
sorriso baixo no rosto. Ela sabe que me tem bem onde ela me quer. Ela
sabe que não vou dizer nada. Ela sabe disso e vai continuar fazendo isso.
Meu peito aperta com dor e ansiedade. Não quero passar os próximos
cinco anos aqui. Não quero ser atormentada pelo resto da minha pena.
Lágrimas explodem e rolam pelo meu rosto. A guarda que está me
ajudando não tem absolutamente nenhuma simpatia por mim, e nem
mesmo recua com os meus soluços. Dor e mágoa fazem uma mistura
agonizante em meu corpo.
Eu quero ir para casa. Eu faria qualquer coisa, qualquer coisa no
mundo agora para estar em casa.
Eu não posso fazer isso.
Eu não posso sobreviver aqui.
Por favor, faça isso parar.
AGORA - CALLIE

— Isso é incrível - digo a Tanner, olhando para o interior de seu carro


de corrida muito legal.
Tem barras de segurança e gaiolas nas janelas em vez de vidro, e é
absolutamente incrível. Eu diria que adoraria dar um passeio, mas,
honestamente, essa ideia me apavora. Fazendo curvas, arriscando um
acidente? Isso traz de volta memórias que passei os últimos seis anos
tentando o meu melhor para esquecer. Não quero pensar nisso, então me
inclino e olho para o banco de trás, estudando o resto do carro.
— É muito divertido. Você deve se juntar a mim um desses dias. É
uma correria.
Eu engulo e me forço a dizer: — Parece divertido— Eu me viro e
enfrento Tanner. — Você é um homem de muitos talentos, não é?
Ele dá de ombros, cruzando os braços e recostando-se no lado do
motorista do carro. — Você poderia dizer isso, sim. Gosto de uma
variedade de coisas, carros antigos são uma das minhas paixões.
— E ainda assim eu vi você em uma motocicleta no dia em que te
conheci.
Ele sorri e dá uma risada baixa e, porra, é sexy. — Eu acho que a
maneira correta de dizer isso seria eu tenho uma paixão por qualquer
coisa com rodas. Gosto da velocidade de uma motocicleta, da estrada
aberta, do vento no rosto, mas adoro a sensação de carros antigos, a
história, as histórias e as gerações que passaram por eles.
Eu sorrio, então caminho até o Mustang, correndo meus dedos sobre
a pintura lustrosa e brilhante. — Este carro teria algumas histórias para
contar, eu imagino, — eu digo, minha voz rouca.
Tanner se aproxima, abrindo a porta traseira e apontando para o
assento. — Entre.
Eu faço o que ele pede, subindo com muito cuidado no assento de
couro creme. Eu inclino minhas costas contra ele, respirando aquele
cheiro antigo que parece tanto com o meu lar. Ainda, ao mesmo tempo,
traz uma dor no meu peito que eu nunca consigo aliviar quando estou
dentro de um carro. Nunca vai embora. Sempre lá. Sempre me
atormentando.
— Você é linda, Callie, — Tanner diz, sua voz baixa e tão sexy que
estou com medo de me virar e olhar para ele. Estou com medo de como
seus olhos vão capturar os meus e não vou conseguir desviar o olhar. —
Você sabe disso, certo?
Eu olho para ele e dou um pequeno sorriso. — A beleza está nos olhos
de quem vê, suponho.
Ele estreita os olhos ligeiramente e, em seguida, estende a mão e enfia
uma mecha de cabelo atrás da minha cabeça. — Você não vê a sua beleza.
— Eu vejo a beleza da superfície.
— Você não vê beleza interior também?
Eu quero mudar de assunto. Isso está ficando muito perto. Perto
demais do segredo que mantenho apertado contra o peito, com medo de
deixá-lo livre, com medo de compartilhá-lo com outra alma.
— Claro, — minto, depois lambo meus lábios e desvio o olhar,
esperando uma distração.
Tanta coisa está passando pelo meu corpo agora - principalmente
antecipação. Especialmente quando Tanner estende a mão, seus dedos
passando pela minha perna lentamente, me fazendo estremecer de dentro
para fora. Faz muito tempo que não me aproximo de um homem e,
mesmo quando aproximava, era básico e desleixado. Homens como
Tanner não te beijam desleixadamente; eles não te fodem
desleixadamente. Não tenho dúvidas de que, se Tanner me comer, nunca
serei capaz de desviar o olhar. Nunca serei capaz de pensar em qualquer
outro homem da mesma forma que penso nele. Ele vai me arruinar para
o resto da vida.
— Você parece nervosa, — ele murmura, aquela voz me fazendo
querer apertar minhas pernas juntas para parar a forte dor se formando
entre elas. — Não vou fazer nada que você não queira fazer, Callie. Mas
não vou mentir; se eu não provar você, não vou parar de pensar nos seus
lábios e em como eu acho que eles são incríveis.
Oh. Deus.
— Estou um pouco nervosa, — hesito, me perguntando se devo
simplesmente contar a ele. É melhor se ele souber? Ou vai apenas
desligá-lo? Ele saberá no momento em que me beijar? Meu peito aperta
com mal-estar e ansiedade, e sei que não vou ficar bem a menos que diga
a ele, porque terei muito medo de cometer um erro. — Eu quero que você
me beije. É apenas... Eu sou... Não sou muito experiente.
Tanner se afasta e olha para mim. — Como exatamente?
— Isso é constrangedor, — digo, desviando o olhar e murmurando: —
Sou virgem.
Por um momento, ele fica em silêncio. Estou com medo de olhar para
trás, com medo do que vou ver. Eu finalmente me viro para vê-lo apenas
olhando para mim, confuso, então seus olhos ficam um pouco mais
encobertos. — Bem, uma coisa é certa, os planos que eu tinha para você
na parte de trás deste carro não vão acontecer esta noite.
Sinto a decepção me socar no peito. — Oh...
Ele estende a mão, segurando meu queixo. — Não pelas razões que
você pensa, acredite em mim. Você é boa demais para perder a virgindade
na parte de trás de um carro, não importa o quão bom seja, com um
estranho.
Oh senhor. Ele é uma criatura tão bonita e incrível sobre a qual quero
atacar agora. Eu o quero tanto. Não sabia que era possível querer alguém
que você mal conhece, mas acontece que é uma coisa muito real.
— Tenho que saber, — ele continua, — como uma garota como você,
com um rosto como o seu e uma bunda tão doce, é virgem?
Merda.
Encolho os ombros e sussurro: — É uma longa história, mas
simplesmente não conheci ninguém que tenha despertado isso em mim
e não sei... Eu simplesmente não sei. Não aconteceu.
— Bem, — ele rosna, sua voz baixa e rouca, — eu posso mudar isso
para você, querida, mas eu não vou fazer isso aqui neste carro. Eu vou,
no entanto, beijar você.
Deus.
Eu engulo e dou um pequeno aceno de cabeça.
Ele se inclina para frente, sua mão ainda no meu queixo e seus lábios
pressionam contra os meus. Os beijos de que me lembro dos meninos do
colégio? Esses beijos foram horríveis, horríveis, desleixados e
definitivamente nada excitantes.
Beijo de Tanner? Oh senhor, o beijo de Tanner é o beijo dos seus
melhores sonhos. O beijo que faz todo o seu corpo tremer. O beijo que faz
seu coração palpitar e sua barriga torcer. É tudo embrulhado em um
pacote lindo. Suas mãos, a forma como elas roçam meu rosto, segurando
meu queixo, deslizando para trás do meu pescoço. Sua boca, a maneira
como começa a se mover lentamente, seus lábios carnudos persuadindo,
e então sua língua, a maneira como ela dança e se agita, tocando
suavemente a minha, antes de desaparecer e me fazer querer mais.
Sua barba por fazer arranha minha pele, e eu adoro isso. Eu quero
mais, mas quero saborear este momento para sempre, para nunca me
cansar disso.
O beijo se aprofunda. Minha respiração se transforma em ofegantes
espaços, e minhas mãos encontram seu peito, vagando por seus
músculos, sentindo cada centímetro duro deles. Suas mãos deixam meu
rosto, deslizando por baixo de mim e me puxando para mais perto,
segurando minha bunda e apertando. O beijo se aprofunda e se torna
frenético. Nossas línguas param de dançar e começam a foder. Elas
colidem e nossos gemidos vibram na minha boca.
Eu quero ele. Não me importa se está no banco de trás deste carro. Eu
o quero tanto que não consigo respirar. Ele me puxa para o seu colo e eu
sinto o comprimento duro de seu pau contra a minha boceta.
Ele para.
Eu choramingo.
— Não posso, — ele rosna. — Eu não posso fazer isso em um carro. De
jeito nenhum.
A decepção me bate de novo, misturada com admiração, o que é uma
sensação estranha. Estou desapontada porque quero mais, quero muito
mais, mas estou maravilhada que ele esteja sendo tão gentil e que ainda
existam homens como ele por aí. Homens que não pegam apenas o que
querem, independentemente de qualquer outra coisa.
— Não me olhe assim, — ele murmura, agarrando meus quadris e
esfregando minha boceta ao longo de seu pau. — Você pode sentir o
quanto eu te quero, mas eu não vou tirar sua virgindade na parte de trás
de um carro. Tem que respeitar isso, querida.
Bem, foda-se.
Eu respeito.
Mas eu realmente quero.
— Entendi. Obrigada, — eu sussurro.
— Levar você para sair, certo? Um encontro.
Um encontro.
Tanner não parece o tipo de homem para namorar.
Por que ele iria querer namorar uma completa estranha quando ele
poderia ter qualquer mulher apenas fazendo contato visual com ele?
— Você não parece o tipo de namoro, — eu digo.
Seus olhos procuram meu rosto. — Há muitas coisas que você não
sabe sobre mim. Não julgue um livro pela capa.
Ai. — Você está certo. Eu sinto muito. Eu só... você poderia ter
qualquer mulher que você quisesse no banco de trás deste carro. Por que
eu?
Ele estende a mão e segura meu queixo novamente. — Você só vai ter
que esperar e descobrir, não é?
Eu acho que vou.
Sim, acho que vou.

— VAMOS LÁ, CALLIE, SE APRESSE! — Ethan grita, enquanto


cruzamos a estrada para o parque onde ele quer que eu continue
correndo.
Eu não corro, porra.
Ele não está entendendo - ainda não, pelo menos. Ele ainda parece
pensar que sou completamente capaz e posso correr minha bundinha por
este quarteirão todas as manhãs.
Ele é horrível. Eu não gosto dele de jeito nenhum.
Isso é uma mentira. Eu adoro ele.
Mas a corrida, caramba. Eu odeio isso.
— Eu não posso correr mais, — eu lamento enquanto corro pela
estrada. — Já se passaram duas semanas e ainda odeio isso.
— Você vai se acostumar com isso, — Ethan diz, sem uma maldita
respiração ofegante em sua voz.
— Quando? — Eu suspiro, parando e me inclinando, ofegando e
agarrando meus joelhos.
— Leva noventa dias para fazer um novo hábito.
Eu bufo. — Ditado estúpido.
Ele para e se vira para mim. — Vamos, Callie. Você está indo
bem. Fique com isso.
Eu olho para ele, minhas bochechas coradas. — Podemos parar por
um segundo? Um segundo?
Ele acena com a cabeça e aponta para um banco de parque. Nós dois
caminhamos e sentamos nele, eu levando mais do que alguns minutos
para recuperar o fôlego. Quando o faço, dirijo-me a ele e digo: — Vou
começar o meu novo emprego esta noite.
— Você conseguiu um emprego? — ele pergunta, levantando as
sobrancelhas. — Onde?
— Um amigo meu tem uma irmã que dirige um café. Ela me deu um
emprego quando ele me recomendou.
— Ele? — Ethan pergunta. — Não sabia que você já tinha feito amigos.
Eu encolho os ombros e olho para os meus joelhos:
— Um dia furei o pneu e ele me ajudou. Ele me convidou para uma
festa. Eu fui; nós nos tornamos amigos. Estou feliz, porque a irmã dele
parece muito legal e ela me deu uma chance, que ninguém mais
daria. Quer dizer, eu não contei a ela sobre meu passado, mas ela não
perguntou, então sou grata por isso. Não é o melhor trabalho do mundo,
mas é um trabalho, e estou grata.
Ethan acena com a cabeça. — Estou feliz por você. É bom voltar ao
ritmo das coisas.
— Sim é.
— Como você tem lidado com o resto?
Eu encolho os ombros. — Bem e mau. Estou um pouco perdida, para
ser sincera. Não sei o que fazer comigo mesma na maioria dos dias, fico
confusa e tão acostumada com a rotina que vivi por seis anos. Eu esqueço
que sou capaz de sair e fazer o que eu quiser. Isso é um sentimento
estranho para mim.
— Você deveria explorar mais longe. Ir à praia. Vá e curta um filme. Vá
a um museu ou a um teatro. Há tantas coisas para ver nesta cidade.
Eu aceno e sorrio. — Você está certo. Eu chegarei lá.
— Vou para uma galeria de arte que será inaugurada no final desta
semana. Quer ir comigo?
Eu fico olhando para ele. Não tenho certeza se ele está me convidando
para sair, ou se apenas sente pena de mim e quer ajudar. Eu não sei. Eu
só não sei com Ethan. Às vezes, ele olha para mim como se sentisse muito
mais do que amizade, e outras vezes ele apenas parece um homem
querendo ajudar um amigo.
— Não é um encontro, Callie, — ele murmura, vendo claramente
minha expressão confusa. — Só estou ajudando você.
Certo.
Desajeitado.
— Sim, claro. Adoraria ir, obrigada.
— Bom, — ele diz, batendo nos joelhos e se levantando. — Vamos
continuar.
— Ethan, não! — Eu lamento quando ele se levanta e começa a
correr. Eu me forço a ficar de pé e o sigo. Maldito seja. Isso é péssimo.
Mas tenho que admitir, ter Ethan do meu lado? É uma sensação
agradável. É bom saber que você não está completamente sozinha em um
mundo que você tinha tanta certeza de que desistiu de você.
Voltamos para o meu apartamento, e estou dobrada e bufando. Estou
tão focada em tentar não morrer na calçada que não percebo que Ethan
ficou completamente parado ao meu lado. Na verdade, eu nem percebo
que ele não está respondendo quando eu lamento, ou falo, ou reclamo
sobre como estou sem fôlego. Estreitando meus olhos, eu fico de pé e olho
para ele. Ele está olhando para o meu carro na calçada.
Meus olhos se movem para ele.
Meu sangue gelou.
Tudo em meu corpo parece congelar e todo o meu mundo para, como
se o tempo tivesse parado. Olho para a tinta vermelha brilhante pingando
no carro prateado que Joanne me emprestou e sinto que vou vomitar. O
spray pintado em toda a lateral do carro é 'Assassina'.
Assassina.
Eu quero me enrolar e morrer.
Eu quero gritar e correr.
Eu quero fazer qualquer coisa, menos olhar para essa palavra agora,
uma palavra que parece que está rasgando minha alma.
Minha pele se arrepia e eu sussurro: — Ethan.
Minha voz está dolorida, quebrada e assustada. Alguém sabe que este
é o meu carro. Alguém sabe que sou a assassina da Celia. Alguém sabe
que moro aqui. Alguém não gosta de mim. Alguém está me avisando que
não estou segura. Alguém.
Fodido alguém.
— Está tudo bem, — Ethan diz, sua mão indo para o meu ombro e
apertando. — Tenho certeza que é apenas uma brincadeira. Está bem.
Não está bem.
Também não é apenas uma brincadeira.
Não entendo. Eu não entendo. Como é que alguém sabe que moro
aqui? É alguém em busca de vingança? É alguém só querendo me fazer
sofrer? Não entendo. Caramba, eu não entendo. Achei que estava livre
disso, do julgamento e do horror, mas descobri que não estou livre de
nada.
— Alguém está me observando, — eu digo, minha voz baixa e
trêmula. — Alguém sabe que é o carro que eu dirigi. Eles sabem que eu
moro aqui e o que eu fiz. Ethan, alguém está me dando uma mensagem.
— Não pense demais nisso. Pode ser qualquer um. Não vamos nos
precipitar. Vou chamar a polícia e conseguiremos segurança extra em
sua casa, além das fechaduras e câmeras normais. Tente não entrar em
pânico. Vamos entrar.
Ele praticamente me arrasta para dentro de casa e, quando entramos,
Joanne está saindo do quarto. Ela trabalhou até tarde ontem à noite,
então estava dormindo quando saímos para correr. Com o cabelo
despenteado e os olhos ainda semicerrados, ela resmunga: — Ei, como
foi sua corrida?
Eu apenas fico olhando para ela, me perguntando como vou dizer a
ela que alguém sabe que eu moro aqui e que alguém pintou seu carro
com spray - algo que sem dúvida será incrivelmente caro de consertar.
— Está tudo bem? — ela me pergunta.
— Alguém pintou seu carro com spray, — Ethan diz a ela. — Uma
mensagem dirigida a Callie.
Joanne esfrega os olhos e murmura: — O quê? O que você quer dizer?
— Alguém sabe que estou aqui, — digo a ela, minha voz ainda trêmula
e baixa. — Eles pintaram com spray 'assassina' em seu carro, Jo. Eu
sinto muito. Vou consertar e...
— Uau! — Jo me interrompe. — O quê?
— Acabamos de ver quando voltamos de nossa corrida. Não estava lá
quando partimos. Alguém deve ter feito isso assim que saímos de casa,
— Ethan diz a ela. — Estou chamando a polícia.
Ele desaparece da sala com seu telefone, e eu me viro para Jo, que
está vindo na minha direção. Ela coloca as mãos nos meus ombros e diz:
— Você está bem?
— Não sei, — digo, exalando e depois inspirando profundamente para
tentar recuperar a calma. — Não sei por que alguém faria isso. Eu nem
sei quem faria isso. Como alguém sabe que estou aqui? Alguém me segue
desde que saí da prisão? Eu simplesmente não entendo.
— Pode ser um amigo da Celia, — diz Jo. — Ou seu namorado, um
membro da família - alguém que está procurando justiça por sua
morte. Pode ser qualquer um. A melhor coisa que podemos fazer é chamar
a polícia. Eles vão resolver isso. Tenho certeza de que é apenas uma
ameaça.
Talvez seja.
Talvez não seja.
De qualquer maneira, pensei que meu pesadelo finalmente tivesse
acabado.
Parece que está apenas começando.
ANTES - CALLIE

— Você está bem, Callie ? — Meu pai diz, olhando para mim do outro
lado da mesa.
Ele veio visitar. Muito nobre da parte dele. Exceto quando eu estava
no hospital, e por meio de alguns processos judiciais, meu pai não estava
lá para mim como deveria. Ele fez questão de me evitar. Não sei se é ele
ou sua nova esposa, mas sei que é como se o homem que um dia adorei
se fosse e em seu lugar está um homem que não tem mais orgulho de
mim.
Ele tem vergonha de me chamar de filha. Sua nova esposa não me
quer nos mundos preciosos de suas filhas.
Eu sou o monstro mais novo em seu armário.
— Não, — eu digo, minha voz baixa e trêmula. — Estou com dois
dedos quebrados.
Percebi que ele olhou para minha mão quando entrou, mas não
perguntou o que aconteceu; ele apenas agiu como se não tivesse
visto. Como se não importasse.
Eu nem sei por que ele está aqui. Eu não me importo.
— O que está acontecendo? — Ele pergunta, olhando para minha
mão. — Alguém te machucou?
— O que você acha, pai? É um centro de detenção. Não é um passeio
no parque.
Ele exala. — Callie, eu sei que você está passando por um momento
difícil. Eu gostaria que houvesse algo que eu pudesse fazer...
— Você poderia acreditar em mim, — eu digo. — Você poderia ter
ajudado. Eu poderia ter aceitado aquele acordo judicial se você lutasse
contra a mamãe, mas você estava com muito medo de encará-la, então a
deixou decidir. Então agora, em vez de três anos, estou aqui por
seis. Você tem alguma ideia de como é isso? Você tem alguma ideia de
como é?
Ele tem a decência comum de pelo menos parecer um pouco culpado.
— Eu tentei falar com sua mãe; ela não queria minha ajuda. Eu sinto
muito. Ela ainda me odeia. Não havia nada que eu pudesse fazer...
Eu balanço minha cabeça, horrorizada. — Sempre há algo que você
pode fazer. Você optou por não me apoiar. Eu não fiz nada
intencionalmente; ninguém acreditou em mim. Nem mesmo você.
— Callie...
— Não se preocupe, pai. Não tenho mais nada a dizer a você. Não sei
por que você está se incomodando em me visitar, para ser honesta.
— Porque você é minha filha, — ele argumenta. — E eu te amo.
Eu bufo, balançando minha cabeça. — Você não me ama. Se você me
amasse, você teria lutado por mim. Você sabe o quê? Não se preocupe em
voltar. Eu não preciso de você. Eu não preciso de nenhum de vocês. —
Eu me levanto e me viro para o guarda. — Estou pronta para sair agora.
Ele balança a cabeça e pede a alguém para acompanhar meu pai para
fora.
— Callie! — meu pai chora enquanto eles o conduzem para fora da
porta.
Eu não olho para ele quando ele sai. Por que eu deveria? Não tenho
mais nada a dizer. Ele me decepcionou, mais do que ele jamais saberá.
Sou levada de volta ao meu quarto e, uma vez que a porta é fechada,
me viro e encaro Madeline, que está sentada na beira da cama, olhando
para mim. — Como foi? — ela pergunta.
— Meu pai não dá a mínima para mim. Não sei por que ele veio.
Madeline concorda. — Estive lá, fiz isso. Você aprenderá a ter suas
próprias costas em breve. Você não precisa de mais ninguém.
Ela está certa sobre isso. Eu não preciso.
— Você viu Trisha desde o incidente? — ela continua.
Eu balancei minha cabeça. — Não. Tive alguns dias de folga por causa
dos meus dedos, mas vou voltar esta noite para ajudar na cozinha. Só
espero que ela não esteja por perto.
— Eu gostaria que você tivesse me ouvido, — Madeline suspira.
— Eu não contei a eles sobre meus dedos.
— Não, mas é tarde demais. Você já a ajudou a se levantar, e ela não
é o tipo de pessoa que simplesmente desiste. Ela tem uma coisa contra
você agora.
Eu aceno, sentando na cama. — Então o que eu faço? Eu não posso
evitá-la para sempre.
— Você mantém a cabeça baixa e tenta ficar fora do caminho dela. Até
que ela fique entediada com você, ela não irá a lugar nenhum. Você só
pode esperar que ela encontre alguma carne nova para brincar em breve.
Ótimo. Simplesmente perfeito.
— Sim, — murmuro.
— Queixo para cima. Pelo menos você saiu do quintal.
A que custo? Meus dedos - foi a pior dor que já senti. O oficial Corel
só estará de volta amanhã, ou possivelmente no dia seguinte. Não sei o
que mais devo fazer. Minha mão está ruim e estou sozinha.
Estou fodida. Verdadeiramente fodida.
Eu só quero ir para casa.
Eu faria qualquer coisa, qualquer coisa no mundo, para retirar o que
aconteceu.
Esse é o pior sentimento que se pode ter - querer tão
desesperadamente voltar e mudar as coisas, e saber que não pode.
Não importa o que você faça, não importa quantas lágrimas você
derrame, você não pode mudar isso.
Você não pode voltar.

— TIRE ESTES PRATOS, — ordena o chef, e faço o que ele diz, pego a
pilha de pratos limpos, equilibro o melhor que posso com minha mão
fodida e guardo-os.
Há um guarda de plantão na cozinha conosco hoje, e cinco de nós
trabalhando aqui, ajudando com a louça e limpando. É claro que não
temos permissão para chegar perto de facas ou objetos
pontiagudos; esses são mantidos do outro lado da sala, mas ajudamos a
lavar, guardar e encher as bandejas de comida quando necessário.
Ninguém sai ileso por não trabalhar por aqui.
Estou feliz, porém, porque prefiro estar ocupada do que fazer nada. O
tempo parece passar um pouco mais rápido quando estou ocupado.
— Alana, — alguém grita do outro lado da cozinha. — Tenho outra
para você. Ela está causando problemas aqui.
Eu me viro para ver um guarda trazendo Trisha para a cozinha. Meu
coração afunda, meu estômago se revira e minha pele se arrepia. Eu não
a quero aqui. Pensei que talvez, apenas talvez, me afastasse dela até que
o oficial Corel voltasse. Em vez disso, ela está aqui, seus olhos se
movendo direto para mim. Alana, a guarda de plantão, balança a cabeça
e diz: — Ajude a guardar esses pratos.
Não.
Não.
Eu me viro para Alana e digo: — Posso trabalhar com outra pessoa?
Alana, mulher raivosa que ela é, rosna e diz: — Isso parece uma
viagem divertida para você? Você vai fazer o que diabos eu mandar.
— Compreendo; é só isso...
— É melhor você cuidar da sua boca, garota, ou você vai se encontrar
em um monte de problemas.
Eu aperto minha boca fechada e vejo o sorriso se espalhar no rosto
de Trisha enquanto ela caminha e para ao meu lado. A maldade em seus
olhos é enervante. Ela pega uma pilha de pratos e, com um sorriso lento,
começa a guardá-los. Alana me encara por cerca de cinco minutos antes
de ir para o outro lado da sala para ajudar as outras garotas.
Estou sozinha com a Trisha.
Não totalmente sozinha, mas sozinha o suficiente para que ela
pudesse fazer algo se quisesse.
— Nenhuma quantidade de pedidos vai te afastar de mim, — Trisha
zomba, enquanto pega uma pilha de pratos do balcão.
— Por favor, — eu digo, minha voz frustrada e assustada, e um monte
de coisas diferentes ao mesmo tempo. — Apenas me deixe em paz. Você
fez seu ponto.
Trisha sorri. — Oh, eu ainda nem comecei a deixar meu ponto de
vista.
— O que é que você quer? — Eu digo. — Para que eu saiba que você
é o número um por aqui, que ninguém mexe com você, que você é a
chefe? Entendi. Você tem minha atenção. Vou respeitar seu lugar. Agora,
deixe-me em paz.
Os olhos de Trisha brilham e ela rosna: — Pequenas vadias como você
são a razão de eu estar aqui para começar.
— Então você tem uma vingança contra garotas como eu? Por causa
de algo com o qual não tenho nada a ver? Talvez você deva ver sua atitude
como sendo a razão pela qual você está aqui, — eu murmuro.
— O que você acabou de dizer para mim, sua vadia branca?
Chamar-me de vadia branca é hilário, considerando que ela mesma é
uma vadia branca. Trisha acha que todos aqui devem algo a ela, e estou
cansada disso. Estou cansada dela e de sua intimidação.
— Eu disse, — eu me aproximo, — sua atitude é a razão de você estar
aqui. Não culpe garotas como eu. Garotas como você precisam atacar
garotas como eu para que você possa se sentir melhor. Você é uma
escória. Você é inferior à escória. Você apenas não admitiu isso para si
mesma ainda.
Sei no momento em que essas palavras saem de meus lábios que são
a pior coisa que eu poderia ter dito a ela. Seus olhos ficam frios e ela
sorri, lentamente, e sussurra: — Você acabou de cometer um grande erro,
menina.
A pilha de pratos em suas mãos cai e, no momento em que atingem o
solo, se espatifam em centenas de pedaços pontiagudos. Meus olhos se
arregalam e eu rapidamente me inclino para começar a pegá-los. Trisha
se inclina também, mas não vejo a ponta afiada que ela pegou
na mão. Ela se aproxima quando ouço Alana gritar: — Que diabos? — e
Trisha enfia o pedaço de vidro na minha lateral.
A dor explode pelo meu corpo e minha boca se abre em um grito
silencioso. Ela puxa a ponta afiada para fora e então a enfia novamente. O
prato é tão afiado que atravessa minhas roupas com facilidade.
Alana aparece, e Trisha rapidamente joga o pedaço de vidro na
mistura de centenas e fica de pé, olhando para Alana. — Eu cortei minha
mão. Aquele idiota deixou cair todos esses pratos. Eu preciso de uma
enfermeira.
Alana começa a gritar e outros guardas entram, mas não consigo me
mover. Eu não consigo pensar. A dor do meu lado é insuportável. Estou
sendo colocada de pé antes que eu perceba, e nenhum protesto dolorido
tem alguém me ouvindo. Sou arrastada de volta para o meu quarto com
a promessa de uma grande punição por um ato como esse.
Mal consigo ouvir.
Sangue quente está escorrendo pelo meu lado, e estou em tanta
agonia que sinto que poderia me enrolar e morrer. Minha mão já
quebrada não é nada comparada a dor em meu corpo agora.
Sou jogada no meu quarto e a porta é fechada com força. Madeline
não está aqui, e eu caio na cama, com muito medo de olhar, com muito
medo de fazer qualquer coisa. Lágrimas explodem e escorrem pelo meu
rosto, e meu corpo começa a tremer. Eu agarro meu lado, rezando para
que a dor vá embora, mas não vai - fica muito pior.
Pego um uniforme extra e pressiono contra o ferimento, e deixo a
escuridão tomar conta de mim, lentamente me arrastando para baixo até
desmaiar.
Não é assim que minha vida deveria ser.
Eu não posso mais viver assim.
Eu simplesmente não consigo.
AGORA - CALLIE

— Você vai ficar bem aqui. É fácil e as pessoas são ótimas, — Andrea
me conta.
Andrea é a irmã mais velha de Tanner e proprietária do café em que
trabalho agora. É um ótimo lugar no coração da cidade, com um menu
incrível e um ótimo ambiente. Nas poucas vezes em que vim aqui antes
de começar, sempre esteve ocupado, as pessoas em toda parte, a
máquina de café ronronando constantemente. É um bom trabalho, pelo
que posso ver até agora, e é um bom pagamento.
— Obrigada por isso, — digo a ela, principalmente agradecida por ela
não ter pedido um cheque criminal porque seu irmão me recomendou. Se
ela tivesse, eu não estaria aqui. — Agradeço muito e vou trabalhar muito.
Andrea sorri. Quando ela sorri, ela se parece com Tanner. Ela tem o
mesmo cabelo escuro, mas seus olhos são mais âmbar do que
castanhos. Ela é alta, magra e muito bonita. — De nada. Se você quiser
anotar os pedidos dessas três mesas hoje, — ela aponta para algumas
mesas, — vamos trabalhar com você a partir daí.
Eu aceno e vou direto ao assunto. Eu aceito pedidos, limpo sem que
me peçam e me certifico de deixar a melhor impressão em Andrea e nas
pessoas de seu café. Há três outras meninas trabalhando hoje também -
uma na máquina de café, uma na cozinha e a outra nas mesas comigo. As
refeições chegam e saem da cozinha o dia todo e têm um aspecto
incrível. Todo o lugar é fantástico.
Minha mente vai constantemente para a mensagem pintada no carro
de Joanne. Chamamos a polícia e eu dei um depoimento, mas quando
perguntado quem eu achava que faria algo assim, não tive uma
resposta. Não sei nada sobre a família de Celia, ou seus amigos, ou
qualquer outra pessoa em sua vida. Como posso dizer honestamente
quem eu acho que faria algo assim comigo?
Nunca conheci ninguém do lado dela.
O policial me disse que investigaria o caso, mas sem nenhuma
evidência eles só podem fazer perguntas, e me disseram para
simplesmente ficar de olho e avisar a polícia se algo mais acontecesse.
Eles não estão do meu lado, e por que estariam? Nessa situação, eu
sou o cara mau, não sou? Eu sou a garota que teve problemas. Eu sou a
garota que foi para a prisão. Eles têm pouca ou nenhuma simpatia por
mim.
Eu disse a Joanne que pagaria pelo carro, o que ela recusou, dizendo
que o seguro cobriria. Ela não contou a Patrick, o que sou muito grata,
porque não quero que ele tenha outro motivo para não gostar de mim.
Esta será a semana em que inicio minha jornada para limpar meu
nome. Pelo menos, limpando parte do meu nome.
Não vou começar com a família dela. Se eles sabem que estou fora da
prisão e têm alguma ideia de onde estou ou se tiveram algum
envolvimento na vandalização, não posso correr o risco de piorar as
coisas. Preciso ser sutil em minha pesquisa. Vou começar com a escola
que ela frequentou. Tenho certeza de que poderei encontrar algo. Meu
rosto não apareceu em todos os noticiários depois do acidente, porque eu
era menor de idade e minha mãe exigia privacidade.
Meu nome pode ser bem conhecido, mas meu rosto não deveria ser.
Espero que seja esse o caso, de qualquer maneira.
— Você está indo muito bem, — diz Andrea logo após minha pausa
para o almoço. — Você é rápida e eficiente. Como você está aproveitando
seu primeiro dia?
Eu sorrio para ela. — Estou amando isso. É um ritmo tão rápido; é
ótimo. — Ela concorda.
— É muito agitado, mas torna o dia mais rápido. — Ela está certa
sobre isso - o dia está voando.
— Com certeza.
Ela bebe seu café, apenas começando seu intervalo enquanto estou
terminando o meu.
— Ouça, eu sei que você é nova na cidade e provavelmente não
conhece muitas pessoas, mas alguns amigos e eu vamos para a praia e
depois saíremos sábado à noite, se você estiver interessada em se juntar
a nós.
— Verdade? — Eu digo, incapaz de esconder meu sorriso. — Isso
parece ótimo.
— Claro! Vou mandar uma mensagem com meu número. Você pode
trazer amigos também.
Amigos.
Joanne e Ethan são os únicos amigos que tenho. Minha mente vai
para Jessika e Sophie, e me pergunto se elas têm alguma coisa a ver com
meu carro.
Não vi ou ouvi falar de nenhuma delas desde o acidente. Sophie estava
mentalmente confusa e ela e seus pais se mudaram. Eu a vi uma vez no
hospital brevemente, e então ela se foi. Jessika se recusou a ver ou falar
comigo depois de perder a perna. Entendi. No final, ela perdeu muito
também. Ela perdeu muito.
Mas elas me atormentariam? Eu não sei.
Pretendo ver as duas, só preciso encontrar coragem para fazer
isso. Quero me desculpar, quero dizer a elas que sinto muito por enviar
suas vidas em espirais, mas não tenho certeza se elas vão me ver, muito
menos aceitar isso.
Ainda assim, tenho que tentar.
— Parece ótimo, — digo a Andrea, voltando ao aqui e agora. — Tenho
certeza de que minha melhor amiga, Joanne, gostaria de ir.
— Perfeito! Mandarei uma mensagem com os detalhes mais tarde. —
Ela sai e termina seu intervalo, e eu volto ao trabalho.
Quando meu turno termina às cinco, eu saio e sigo em direção à
estrada. Vou ter que chamar um táxi, considerando que não há nenhuma
maneira possível de dirigir um carro pintado com 'assassina'.
— Precisa de uma carona?
Eu me viro e vejo Tanner subindo a calçada em minha direção.
Meu coração quase salta da minha garganta, e quando eu o
considero, ele rapidamente começa a acelerar. Eu realmente gostaria que
ele não fosse como é; isso torna muito mais difícil para mim me
concentrar. Ele está caminhando em minha direção vestindo uma calça
jeans desbotada, aquelas botas e uma camiseta preta justa que se
estende por seus músculos de uma forma que me dá água na boca.
Só um pouco.
— Tanner, — eu digo, pressionando a mão no meu peito. — Você me
assustou. Não ouvi ninguém chegando.
— Você deveria prestar mais atenção, — ele murmura, parando na
minha frente. — Nem todo mundo que se aproxima de você é tão bom
quanto eu. Não gostaria de ver você se metendo em problemas. Como
você está, Callie?
A maneira como ele diz meu nome. Inferno, a maneira como ele
fala? Quase me deixa de joelhos. — Estou bem, — minto. Obviamente,
não posso contar a ele sobre o incidente, porque, bem, ele teria muitas
perguntas. Perguntas que ainda não estou pronta para responder ou
enfrentar.
Ele inclina a cabeça para o lado e diz em voz rouca e baixa: — Você é
uma péssima mentirosa.
Merda.
— Desculpe, longo dia, — eu digo, sorrindo. — A propósito, sua irmã
é adorável. Ela tem sido tão legal comigo.
— Fico feliz em ouvir isso. Onde está o seu carro?
Eu engulo e digo: — Não tenho hoje. Está quebrado, então está no
conserto. Eu tenho que pegar um táxi.
— O que há de errado com isso? — Merda. Merda. Esqueci
completamente que ele é mecânico. Não tenho ideia do que há de errado
com os carros, então não tenho nem uma boa mentira para
compartilhar. Meu coração dispara e murmuro: — Não tenho
certeza. Joanne percebeu. Eu disse que pegaria um táxi por alguns dias.
— Eu sorrio, esperando que Tanner não faça mais perguntas.
Felizmente, ele não o faz.
— Vamos lá. Vou te dar uma carona.
Eu olho para além dele e para a rua um pouco, e vejo sua
motocicleta. Uma motocicleta. Eu sou ruim o suficiente em carros; Não
consigo imaginar como seria naquela máquina da morte. — Naquilo?
Ele se vira e olha para sua moto, então olha para mim, sorrindo. —
Sim, querida, nisso.
— Oh. Bem, não, obrigada. Estou bem aqui.
Ele ri. — Eu não achei que você fosse o tipo medrosa.
Eu bufo: — Bem, você está errado. Essa coisa é louca. Não estou com
vontade de morrer hoje.
Seu sorriso fica maior. — Bem, você apenas terá que confiar que não
vou matá-la e pular.
— Não, não. Eu estou bem.
— Vamos. Vou levá-la para comer alguma coisa, por minha conta, e
depois te deixo em casa.
Droga. Por que ele tem que dizer coisas assim? Porque agora eu
realmente quero ir. A ideia de conseguir algo para comer com Tanner é
muito boa. A ideia de me enroscar em volta dele naquela motocicleta
também não me parece tão ruim.
Ainda... é uma motocicleta.
— Eu não sei. — Eu hesito. — Quer dizer, eu quero comer com
você; Estou um pouco nervosa...
Ele estende a mão, uma mão grande e viril. — Confie em mim,
Callie. Eu não vou te machucar.
Eu seguro seus olhos, e então minha mão se move por conta própria,
colocando-se na dele.
Eu confio nele.

EU ESTOU ATERRORIZADA.
Por um breve momento, estou apavorada.
Enquanto a moto de Tanner acelera pela estrada, eu o agarro como
se a estrada estivesse prestes a me engolir. O capacete não faz com que
me sinta mais segura, mas ter meus braços em volta dele ajuda.
A moto é lisa e rápida e vibra bem entre minhas pernas, exatamente
onde não preciso que vibre nesta situação atual.
Tanner está na minha frente; isso é o suficiente para deixar qualquer
garota com os joelhos fracos. Meus braços em volta dele? Isso vai aquecer
tudo. A maneira como ele cheira? Bem, isso é simplesmente cruel. Meu
corpo está acelerado, uma mistura de antecipação e medo envolvendo-se
em uma grande reverência. Estou com medo, mas estou
emocionada. Estou ansiosa, mas estou cheia de adrenalina até o topo.
Depois de alguns momentos, relaxo um pouco e, finalmente, começo
a olhar em volta. A cidade está começando a se iluminar lentamente
enquanto o sol começa a se posicionar no horizonte. Realmente fica lindo
na parte de trás de uma moto. Tanner contorna algumas esquinas e
depois desacelera em um restaurante bar. Eu não tinha visto isso antes,
mas parece muito bom. Amigável e divertido.
Ele estaciona a motocicleta e eu desço, odiando ter que deixá-la, mas
animada por poder passar um pouco de tempo com ele. Ele desce também
e se vira para mim. — Eles fazem uma ótima pizza aqui. Espero que você
coma.
Eu concordo. — Você está de brincadeira? Eu como de tudo.
Ele sorri e pega minha mão, me levando para dentro. A emoção que
percorre meu corpo me faz sentir como se fosse um milhão de
dólares. Isso me faz sentir como se minha vida não tivesse sido uma
grande bagunça até este ponto. Isso me faz sentir viva, algo que sinto
falta há muito tempo.
Tanner e eu encontramos uma mesa e ele pediu duas cervejas e uma
pizza. Ele assume a liderança. Ele assume o controle. Ele é um homem
que sabe o que quer e que provavelmente consegue sempre que
procura. Eu gosto disso nele. Ele não responde a ninguém, não duvida
de si mesmo e confia em suas escolhas. Isso é realmente incrível.
— Como foi seu primeiro dia? — ele me pergunta quando nossas
cervejas chegam.
Eu enrolo minhas mãos em torno do vidro frio e digo: — Foi ótimo. É
um café movimentado, mas gostei muito. Andrea é muito boa
também. Ela me convidou para ir à praia e depois para sair uma noite no
sábado, o que foi muito bom.
Tanner estreita os olhos. — Ela fez, não é?
— Sim. Tudo bem, certo?
Ele concorda. — Sim claro. Ela pode fazer o que quiser.
— Será bom conhecer gente nova, — digo a ele. — Eu realmente não
conheço muitas.
— E a família? — ele me pergunta, bebendo sua cerveja. Tento não
olhar para como sua mandíbula se move quando ele o faz, ou como sua
garganta flexiona quando ele engole.
Eu odeio que ele esteja fazendo esse tipo de coisa comigo. Eu me sinto
como uma adolescente que acaba de descobrir meninos. Eu preciso sair
dessa.
— Minha família e eu não somos tão próximos. Meu irmão,
Max? Ainda falo com ele, mas meus pais e eu não realmente... lido, me
dou bem, convivo.
— Por quê?
Eu encolho os ombros, bebendo minha cerveja.
— Minha mãe é egoísta. Ela é fria e sem coração. Tudo neste mundo
foi feito para ela, ou sobre ela - pelo menos é o que ela pensa. Meu pai a
deixou e conheceu outra mulher com dois bons filhos que não fazem nada
de errado. Com o passar dos anos, parei de falar com ele. Eu acho que é
assim que funciona. E você?
— Você conhece o básico da minha história.
Eu concordo. — Você é ex-militar; por quanto tempo você serviu?
— Quase dez anos. Saí quando eu tinha dezoito anos e voltei quando
eu tinha vinte e sete.
— Quantos anos você tem? — Eu pergunto.
Ele sorri. — Quantos anos você tem, Callie?
Eu rio suavemente. — Quase vinte e três.
— Jovem pra caralho, — ele murmura, — Mas muito doce.
— Você não respondeu minha pergunta, — eu aponto.
— Tenho trinta e um.
Trinta e um.
Isso o torna um pouco mais velho do que eu. Bem, são menos de dez
anos, o que nos dias de hoje não é grande coisa, mas significa que ele
tem muito mais experiência do que eu. Ele está por aí. Ele viu coisas. Fez
coisas. Não tenho nem experiência sexual; ele provavelmente teve
centenas e centenas de mulheres com aquele rosto maldito.
Ok, centenas provavelmente é rebuscado, mas ainda assim.
A idade me faz sentir um pouco... estranha.
— Você está preocupada com a diferença, — diz ele, não uma
pergunta, mas uma declaração.
— Não é isso não. Estou preocupada com o quão inexperiente sou...
Seus olhos ficam semicerrados. — Isso é apenas um problema para
você.
Oh garoto.
— Você é madura para sua idade, Callie. Como você viu o mundo um
milhão de vezes. Já conversei com outras garotas de mesma idade e elas
não sabem nada comparadas a você. Possua isso; você é um achado raro.
Ele precisa parar, antes que eu me jogue sobre ele por cima da
mesa. — Obrigada, — eu digo, dando a ele um sorriso genuíno.
— De nada, — ele murmura de volta, fazendo meu coração dar aquela
coisa engraçada que pula uma batida. — Não vou mentir - é difícil sentar
aqui, me perguntando o quão bom você pode se sentir debaixo de
mim. Dizer que você é virgem me deixou selvagem.
Oh.
Deus.
Eu engulo e digo em voz baixa: — Bem, se você jogar suas cartas
direito, você pode apenas descobrir como é isso.
Seus olhos ficam vigorosos. Meu Deus. O que esse homem está
fazendo comigo?
Seja o que for, não quero que pare.
Bebemos, comemos e conversamos como se nos conhecêssemos
desde sempre. A conversa flui facilmente, e estou um pouco tonta quando
voltamos para a motocicleta de Tanner e subimos. A viagem para casa é
muito menos preocupante do que a viagem para o restaurante. Eu me
sinto livre, como se nada no mundo pudesse me tocar. Eu entendo agora,
porque ele ama tanto essa moto. Isso realmente faz com que tudo pareça
bem.
Quando chegamos ao meu apartamento, desço da motocicleta e
espero por Tanner. Meu coração está disparado a um milhão de
quilômetros por hora. Estou me perguntando o que faremos; ele vai
entrar? Esta será a noite para mim? Será horrível? Eu não sei. A
antecipação está me matando, e não tenho certeza do que devo fazer a
seguir, então me viro e sorrio para Tanner. — Você quer entrar?
Ele me estuda, então acena com a cabeça, — Sim.
Deus.
Oh Deus.
Eu me viro e subo os degraus da frente e agarro a maçaneta da
porta. A porta se abre, o que é estranho. Joanne vai ficar na casa de
Patrick esta noite; eles aparentemente estão indo a um
encontro. Palavras dela, não minhas. Se eu fosse ela, não estaria fazendo
nada com aquele idiota. Só acho que ela merece coisa melhor.
Tentando lembrar freneticamente se eu tranquei a porta quando saí
para o trabalho hoje, eu a empurro e entro. Eu fico olhando ao redor do
apartamento e, em seguida, acendo uma luz. À primeira vista, nada
parece errado, mas quando eu entro mais longe, vejo duas cadeiras
viradas na cozinha. Com o coração acelerado, olho em volta, minha
cabeça girando para a esquerda e para a direita.
— Tudo certo? — Tanner pergunta.
— Alguém esteve aqui.
Ele dá um passo ao meu lado. — Como se tivesse sido invadido?
— Sim, exatamente isso. A porta estava aberta e aquelas cadeiras
estão viradas.
— Fique aqui, — Tanner ordena. — Não se mova. Eu vou dar uma
olhada. Não se mova, Callie.
Eu não me movo e observo enquanto ele caminha pela casa. Ele
retorna um momento depois e parece que viu um fantasma. Ele estreita
os olhos e diz cuidadosamente: — Há algo que você deveria ver.
Eu engulo e fecho meus olhos, lutando para manter a calma. — O que
é isso? — Eu sussurro.
— Vamos.
Ele me leva pelo corredor e para o meu quarto. No momento em que
entramos, eu olho para a parede e minha pele se arrepia. Eu sinto todo o
sangue correr do meu rosto. A mesma palavra que foi espalhada pelo
carro de Joanne agora está espalhada pela minha parede. Assassina. Em
letras maiúsculas.
Palavras que Tanner pode ver e ler.
— Oh, Deus, — eu sussurro, agarrando a parede para me impedir de
cair.
— Você quer me dizer o que está acontecendo aqui? — Tanner
pergunta, sua voz calma. — O que é isso? Quem fez isto?
— Eu não sei, — eu digo.
Eu não posso contar a ele.
Eu não posso.
Ele nunca mais vai falar comigo. Eu não posso viver com isso. Nem
mesmo nos conhecemos. Se ele descobrir que passei os últimos seis anos
na prisão, nunca mais vai querer se aproximar de mim.
— Quem fez isto? — ele pergunta, virando-se e olhando para mim.
— Tanner, eu não sei.
— Você não tem ideia do que se trata?
— Não, — digo a ele. — Não, eu não. Deve ter algo a ver com
Joanne. Eu deveria chamar a polícia.
— Quem iria querer fazer algo com Joanne? — Tanner pergunta. —
Ela está com problemas?
Deus. Ele está fazendo muitas perguntas.
— Eu tenho que chamar a polícia. Eu sinto muito. Obrigada por sua
ajuda, Tanner. Você pode ir.
Ele olha para mim, seus olhos se estreitando. — Você acha que eu
vou te deixar quando você pode estar em perigo? Não pense assim,
porra. Vou ficar. Você pode chamar a polícia, mas não vou embora.
Droga.
Maldito seja.
Adoro que ele queira me ajudar, mas chamar a polícia quando ele está
aqui e responder às suas perguntas só vai piorar as coisas.
— Está tarde, — eu digo suavemente. — Ligarei para eles amanhã.
Tanner me estuda, então dá um passo à frente e enrola suas grandes
mãos em volta dos meus ombros. — Eu não vou deixar você aqui, então
fique confortável. Eu vou ficar.
Eu realmente queria que ele não fosse tão perfeito.
Eu realmente gostaria de não ter que mentir para ele.
Eu realmente queria que tudo fosse diferente.
ANTES - CALLIE

A dor é insuportável. Eu não consigo me mover. Eu nem quero me


mover.
Estou enrolada de lado na cama, a dor da facada se transformou em
uma forte latejante. Minha camisa está ensopada de sangue, então puxei
um cobertor sobre mim. Minha luta acabou. Estou cansada. Eu estou
assustada. Não tenho ninguém do meu lado. Quero ir para casa, mas
nem lá sou bem-vinda. Eu não tenho nada.
Madeline voltou, mas eu fingi estar dormindo. Logo ela mesma
adormeceu.
Então, suportei a pior noite da minha vida, sentindo mais de uma vez
que meu corpo iria desistir de mim, e meio que esperando ao mesmo
tempo.
Quando amanheceu, eu sabia que teria que contar a alguém.
— Callie?
A voz masculina e o som da minha porta se abrindo me fazem rolar e
gritar de dor. O oficial Corel entra na sala, seus olhos em mim. Ele
percebe o sangue quando o cobertor se move e corre. — O que aconteceu?
— EU... Eu apenas me machuquei. Não é nada, — eu sussurro, o suor
escorrendo pelo meu rosto. Um suor frio e úmido.
Eu não me sinto bem. De modo nenhum.
— Você precisa me dizer o que aconteceu agora. Estou levando você
para a enfermeira. Você deveria ter sido levada imediatamente. Alguém
responderá por isso.
Madeline se senta, esfregando os olhos. — O que está acontecendo?
— Eu esperava que você pudesse me dizer — Oficial Corel pergunta,
ajudando-me a sair da cama.
Eu me curvo e grito quando a dor atinge meu lado. É então que o
oficial Corel percebe minha mão. — O que diabos aconteceu aqui?
— Não é nada. Estou propensa a acidentes, — eu rangi os dentes
cerrados. — Não se preocupe com isso.
— Estamos indo para a enfermeira.
Ele me ajuda a sair da sala, seu braço me apoiando. Estremeço todo
o caminho até a enfermaria e, quando entramos, e me deito naquela
cama, uma lágrima rola pelo meu rosto. O oficial Corel liga para Mary. Ela
corre depois de alguns minutos, e seus olhos caem sobre mim. — Ah
não. De novo não.
— O que está acontecendo, Mary? Fale comigo.
— Ela chegou há poucos dias com os dedos quebrados. Precisávamos
fazer com que fossem examinados pela Dra. Grace. Ela disse que deixou
cair algo sobre eles no jardim, mas agora isso... Você pode me dizer o que
aconteceu, Callie?
Eu estremeço quando ela lentamente levanta minha camisa e seus
olhos se arregalam. — EU... Deixei cair alguns pratos e caí e...
— Você está mentindo, — murmura o oficial Corel. — Diga a verdade,
por favor.
— Essa é a verdade.
— Trisha, — ele murmura. — Você está com medo de dizer qualquer
coisa, mas Callie, vou mandá-la embora. Eu farei algo, se você apenas
me contar o que aconteceu.
Eu digo a ele? Devo confiar nele depois que ele me disse que tudo
ficaria bem quando ele fosse embora?
Eu não sei.
Eu não sei de nada.
— Sim, — eu sussurro. — Trisha.
— Isso vai precisar ser examinado. Meu palpite são feridas de
faca; eles vão precisar de pontos. Vou chamar o médico, — diz Mary,
saindo da sala.
O oficial Corel se vira para mim. — O que aconteceu enquanto eu
estava fora?
Eu digo a ele. Conto tudo o que aconteceu e quando.
Enquanto eu falo, seu rosto se contrai de raiva. Ele parece que está
prestes a estourar. Quando termino, ele rosna: — Eu tinha instruções
estritas para você ficar longe de Trisha. Vou falar com o oficial
encarregado sobre isso, mas, por enquanto, vou pedir que você faça uma
declaração formal. Já faz algum tempo que quero que Trisha se
mude; isso deve ser o suficiente para que isso aconteça.
— E se isso não acontecer...? — Eu sussurro, me sentindo
incrivelmente mal agora.
— Vai acontecer. Ela é um perigo para todos ao seu redor. É hora de
ela ser colocada de volta em seu lugar. Lamento que isso tenha
acontecido. Você é uma boa criança, Callie. Você não pertence a este
lugar.
Eu viro minha cabeça e olho para a parede, uma lágrima silenciosa
rolando pela minha bochecha. Ele está errado, eu pertenço. Isso faz com
que pareça ainda pior, porque cada vez que penso nisso, cada vez que
fico triste, lembro-me da vida de Celia e não consigo sentir pena de mim
mesma. Ela não tem mais vida. Estou aqui porque tirei isso dela.
— Você está bem? — Oficial Corel pergunta.
Eu concordo.
Não há mais nada a dizer.
Não mereço piedade e não mereço um tratamento especial.
Mary volta depois de alguns minutos e anuncia que o médico está
chegando. Ela me dá um alívio da dor e começa a limpar as feridas
enquanto o oficial Corel toma um depoimento oficial e chama outro
oficial, pedindo que ele assuma para que possa ir e levar o meu
depoimento para quem está no comando. Estou supondo, de qualquer
maneira.
O homem que assume é o oficial Barney. Ele é mais velho e bastante
quieto. Ele não fala muito, mas eu o noto olhando para as feridas de faca
na minha lateral, e então seus olhos encontram os meus. Ele parece que
poderia ser o avô de alguém. Ele é? Ele está olhando para mim e se
perguntando como se sentiria se eu fosse sua filha? Ele teria tanta
vergonha de mim quanto meus pais?
Eu me viro e olho para a parede novamente.
Não aguento mais olhares.
Mais simpatia.
Fiz minha cama e agora tenho que deitar nela.
Mesmo que seja feito de navalhas e pedaços quebrados.

— COMO VOCÊ ESTÁ? — MINHA MÃE pergunta, olhando para mim


como se algo fosse passar de mim para ela, como se este lugar estivesse
cheio de doenças e horror. Ela está olhando para mim como se nunca
tivesse visto algo tão horrendo em sua vida, muito menos teve que
chamar de filha.
Ela não liga. Eu não sou idiota.
Ela me visitou duas vezes desde que estou aqui, sendo esta a segunda
vez. Na primeira vez, ela me disse que pediria a um advogado para
examinar o caso novamente. Eu não tive notícias dela depois disso até
agora; nem ouvi de um advogado. Eu não sou idiota. Eu sei que ela não
vai fazer nada para me ajudar. Em algum lugar, no fundo de sua mente,
tenho certeza que ela acha que eu mereço esse castigo.
Eu não deveria ter roubado o carro dela; isso é o que ela me disse um
milhão de vezes.
Se eu tivesse feito o que me foi dito, se eu apenas tivesse ouvido e
seguido sua orientação, nada disso teria acontecido.
Como se eu não tivesse pensado nisso mil vezes na minha cabeça.
Eu choro até dormir todas as noites pensando em todas as coisas que
eu poderia ter feito diferente, desde não levar o maldito carro, não ter
álcool nele, não levar meus amigos, não tirar meus olhos estúpidos
daquela estrada, nem mesmo por um segundo. Eu examinei todas essas
coisas; ela não precisa me lembrar. Vou viver neste pesadelo para
sempre. Ela pode continuar com sua vida.
— Tudo bem, — murmuro, respondendo a sua pergunta. — Estou
bem.
Ela me estuda, estreitando os olhos como se tivesse um milhão de
coisas para me perguntar, mas não vai. O que ela poderia querer
saber? Estou sendo abusada aqui? Sim. É o inferno? Sim. Estou
desejando a cada dia algo diferente? Sim.
Sim. Sim. Sim.
— Você não parece bem. O que aconteceu com sua mão?
— Eu quebrei meus dedos.
— Como?
— Uma garota pisou neles e os quebrou, então ela me esfaqueou com
um prato quebrado. Alguma outra pergunta, mãe? Você não achou que
eu teria um tempo maravilhoso aqui, não é? Você não achou que seria
tudo rosas e longas caminhadas?
O rosto de minha mãe se contorce em uma carranca e ela responde:
— Não preciso do seu sarcasmo. Você não é a única que está sofrendo,
Callie.
— Oh. — Eu rio amargamente. — Você mal está se
segurando? Imagine como me sinto, sendo trancada neste inferno pelos
próximos seis anos porque você recusou um acordo judicial. Às vezes me
pergunto se você esperava que eu ficasse mais tempo, e é por isso que
você não aceitou.
— Não me acuse de tais coisas! — ela engasga. — Eu sou sua mãe e
amo você. Eu não posso acreditar que você achou nada menos.
— Se você me amasse, estaria me visitando com mais frequência. Se
você me amasse, teria demonstrado preocupação com o fato de meus
dedos estarem quebrados e de eu ter feridas de faca em meu corpo. Não
insulte a palavra amor, mãe. Você não sabe o significado disso.
Sua boca se abre, depois se fecha novamente e se abre. — Você acha
que eu não me importo? Vou falar com o chefe deste lugar sobre o seu
tratamento. Não permitirei que minha filha seja abusada.
Reviro os olhos porque, honestamente, o que mais há para fazer? Ela
está agindo como se tivesse qualquer tipo de poder, como se suas
palavras significassem qualquer coisa. Eles vão apenas rir dela e seguir
em frente. Ela está simplesmente dizendo o que ela acha que eu quero
que ela diga, então ela se parece com a mãe troféu, em vez da inútil que
ela sempre aparenta.
— Não se preocupe, — eu murmuro. — Não tem sentido.
— Eu não quero que você seja tratada assim.
Eu expiro. — Como está Max?
— Ele está bem. Ele está trabalhando duro e fazendo algo de si
mesmo. Ele é tudo que me resta agora.
— Eu estou presa, não morta, — eu vocifero. — Pare de falar como se
eu estivesse.
— Do jeito que as coisas estão para mim e Max agora, você pode muito
bem estar. Estamos lutando com as consequências do seu erro.
Meu erro.
Meu. Erro.
— Eu terminei aqui, — eu digo, levantando e colocando minhas mãos
sobre a mesa, olhando para ela. — Não se incomode em me visitar se você
só vai piorar as coisas. Eu sei o que fiz. Eu sei exatamente onde errei,
não preciso de seus lembretes constantes. Se você quiser voltar, faça-o
com amor e apreço por sua maldita filha, ou nem se preocupe.
Eu me viro para sair, deixando-a se abanando e soluçando como se
eu tivesse acabado de arrancar seu coração.
Eu não fiz.
Ela vai sair deste lugar, levar um lenço de papel ao olho, enxugar as
lágrimas falsas, entrar em seu carro caro e voltar para casa.
Eu não vou cruzar sua mente novamente.
É assim que ela funciona.
É como ela sempre trabalhou.
Ela nunca será o que eu preciso.
Nunca.
AGORA - CALLIE

Os lábios de Tanner são macios, duros e quentes. Seu rosto está


arranhando minha pele e seu corpo está duro, pressionado contra o
meu. Estou em seu colo, meus joelhos de cada lado dele, empurrando o
sofá, e suas mãos estão na minha bunda, me segurando perto, me
esfregando contra ele. Estou tão molhada, tão molhada que dói. Tudo
dói. Meus mamilos. Minha buceta. Meu corpo. Tudo.
Quero mais dele do que ele pode dar neste exato segundo, e ainda
quero saborear cada momento e rezar para que nunca pare.
Suas grandes mãos percorrem minhas costas, sob minha camisa, e
são quentes e ásperas contra minha pele. Seu pau está duro debaixo de
mim, sondando meu jeans, fazendo nós dois gemermos quando eu
balanço para frente e para trás sobre ele, esfregando-me para cima e para
baixo em seu comprimento. É um comprimento impressionante, se é que
posso dizer. Não estou familiarizada com o quão grandes eles
normalmente são, mas tenho certeza de que Tanner está se saindo bem
nesse departamento.
— Nós deveríamos estar falando sobre o que aconteceu aqui esta
noite, não fingindo como um casal de adolescentes com tesão, — Tanner
rosna, então morde meu lábio inferior.
Eu corro minhas mãos por seu cabelo grosso e murmuro: — Mas eu
gosto muito de ficar como adolescentes excitados, você não?
Ele geme quando eu empurro meus quadris ao longo de seu pau. —
Acredite em mim, porra, mas você não está segura e quero saber por
quê. Eu adoraria continuar esta pequena dança até que meu pau esteja
tão profundo em você, posso sentir minhas bolas batendo em sua doce
boceta, mas isso não seria a coisa certa a fazer.
— Não há nada que você possa fazer aqui, — eu sussurro, inclinando-
me e inalando o maldito perfume masculino incrível rolando de seu
pescoço. — Vou chamar a polícia pela manhã e partiremos daí, ok?
— Sinto como se você não estivesse me contando tudo o que há para
saber, — ele murmura.
Eu expiro e me afasto. — Tanner, por favor, podemos simplesmente
esquecer isso?
Ele estreita os olhos e procura meu rosto. — Não aprecio mentiras, e
você está escondendo algo. Eu posso ver em seus olhos.
— Alguém tem um problema comigo, ok? É uma longa história e não
quero entrar nisso agora. Por favor, estou te implorando, podemos parar
com isso?
Posso ser suave e flexível quando preciso, mas também sou teimosa
e firme. Eu não gosto de perguntas, e Tanner não parece gostar que eu
não responda aquelas para as quais ele claramente quer as
respostas. Não estou pronta para ir com ele.
— Ok, — ele diz, sua voz baixa e rouca. — Ok, eu vou esquecer
isso. Mas eu tenho que ir; tenho que pegar Andrea e levá-la para casa. Ela
mandou uma mensagem dizendo que precisa de uma carona. Não gosto
de deixar você aqui sozinha. Quando Joanne volta para casa?
— Ela não vai, — eu digo, — mas estou bem. Vou travar e manter
meu telefone fechado. Vai ficar tudo bem.
Ele parece hesitante. — Vou ligar para Andrea e dizer que não posso
ir...
— Está tarde, Tanner. Ela não será capaz de pegar outra carona a
esta hora da noite, sem mencionar que ela não precisa que você salte e
dê uma carona porque você está saindo com a nova garota. Por favor, vou
ficar bem.
Ele exala e acena com a cabeça. — Ok, se você tem certeza. Vou
mandar uma mensagem para você e quero uma resposta assim que você
conseguir. Qualquer coisa que acontecer, qualquer coisa, você me
liga. Eu não me importo que horas.
Maldito doce, este homem. — Ok, — eu sussurro.
— Quanto a isso, — ele murmura, passando os dedos para cima e
para baixo em minhas coxas, — não tenho tempo para terminar do jeito
que eu quero, mas vou terminar por agora.
Não tenho certeza do que ele quis dizer até que ele pegou minha calça
jeans e começou a movê-la para baixo. Por um momento, fico confusa,
então percebo que ele quer que eu as tire. Não querendo discutir, meu
corpo está muito tenso, eu vou com ele e saio de seu colo, tirando minha
calça jeans o mais devagar que posso para não tropeçar ou fazer algo
incrivelmente sem atrativos. Então, quando estou até minha calcinha, eu
subo de volta em seu colo.
— Você tem um corpo lindo pra caralho, Callie.
— Idem, — eu sussurro.
Seus dedos percorrem minhas coxas e quando ele alcança minha
calcinha, ele a desliza de lado, revelando minha boceta muito
molhada. Ele passa um dedo e rosna baixo.
— Molhada e pronta para mim porra. Você está tornando isso tão
difícil de parar.
Eu gostaria que ele não parasse.
Deus, eu gostaria que ele não parasse.
Eu também respeito pra caralho ele por não pegar o que ele quer e
ser feito com isso; isso é realmente outra coisa. Tenho certeza de que é
de boa qualidade.
Tanner esfrega círculos lentos sobre meu clitóris, massageando-o
suavemente. Raios de prazer rasgam meu corpo e eu choramingo,
agarrando-o. Ele desliza o dedo para cima e para baixo, absorvendo-o na
minha excitação e usando isso para me fazer sentir ainda melhor
enquanto ele acaricia e provoca. Eu vou perder minha mente. Isso está
muito longe do trabalho desastrado de terror que tive quando era mais
jovem. Tanner sabe exatamente onde tocar e como tocar.
Eu deixo cair minha cabeça na curva de seu pescoço enquanto o
prazer começa a construir, ficando mais e mais alto enquanto seu dedo
esfrega o feixe de nervos sensível entre as minhas pernas. À medida que
vai crescendo, esqueço onde estou, esqueço tudo e deixo meu corpo
mergulhar verdadeiramente no sentimento.
— Tanner, — eu suspiro em seu ombro enquanto a pressão fica um
pouco mais forte, e eu não posso segurar o orgasmo nem mais um
segundo.
Eu grito enquanto o prazer agarra meu corpo e me leva a lugares que
eu nunca pensei serem possíveis. Meu corpo inteiro treme, minhas
pernas se apertam de cada lado das dele, e não consigo evitar os gemidos
suaves que escapam dos meus lábios enquanto saboreio a sensação
consumindo meu corpo.
Desço lentamente e Tanner não para até que eu o faça. Quando ele
tira os dedos de mim, ele os coloca entre nós e os desliza em sua
boca. Nunca vi algo tão erótico em toda a minha vida. Eu vejo enquanto
ele me limpa dele, e então murmura: — Esperando o momento, essa é
minha boca entre suas pernas.
Bom Deus.
Este homem vai ser o meu fim.
Eu simplesmente sei disso.

— OI, — EU DIGO, OLHANDO para a garota na minha frente. Ela está


usando um avental e me olhando como se estivesse entediada e
esperando que eu dê uma ordem para que ela possa ir para casa. — Você
é Amber?
Vim a este café porque descobri que uma amiga da Celia trabalha
aqui. Demorou um pouco para encontrar alguns deles. Eu tive que ir para
sua escola antiga e agir como se estivesse escrevendo um artigo sobre ela
para homenagear sua memória quando o aniversário de sete anos de sua
morte se aproxima, o que é verdade.
O Google tinha tantas informações. Suponho que a família queria sua
privacidade, o que é compreensível, então havia apenas o básico
nisso. Ela tem uma mãe e um pai, um irmão, uma irmã, os quais não
têm nomes. Seus pais eram simplesmente chamados de Sr. e Sra.
Yates. Entendi; eles passaram por o suficiente sem ter seus nomes
espalhados para que todos vissem.
Felizmente, a escola que ela frequentou estava na notícia quando eles
fizeram um memorial para ela.
Então foi um começo.
Eu fui para a escola. Falei com algumas pessoas e, para minha sorte,
o diretor era o mesmo que estava lá há seis anos. Ele era um sujeito
tagarela e mais do que feliz em falar sobre Celia e como ela era uma ótima
aluna. Mencionei os amigos dela, e ele voluntariamente cedeu alguns
nomes; não foi difícil encontrá-los depois disso. Tenho certeza de que ele
provavelmente não deveria ter me dado seus nomes, mas ei, quem está
reclamando?
Depois disso, rastreei Amber Rays. Ela era a única amiga que ainda
morava por aqui. Encontrei algumas pessoas com esse nome, mas depois
de uma rápida pesquisa no Facebook, descobri que ela era quem parecia
mais próxima da idade de Celia. Felizmente para mim, em suas
informações, ela tem seu local de trabalho - um café a cerca de vinte
minutos de onde eu moro. As pessoas realmente deveriam estar mais
preocupadas com a facilidade de encontrar informações atualmente.
Eu não colocaria nada no Facebook. De jeito nenhum. É tão fácil
descobrir o que você deseja saber com pouco ou nenhum esforço. Essa
merda me assusta. Eu preferia que as pessoas não soubessem nada
sobre mim.
— Sim, — Amber diz me trazendo de volta ao aqui e agora. Ela é uma
garota bonita - baixa, mas magra, com longos cabelos castanhos
amarrados no topo da cabeça e lindos olhos castanhos.
— É possível que você fosse amiga de Celia Yates? — Eu pergunto a
ela.
Seu rosto cai e ela parece triste, o que puxa a dor no meu peito que
tento empurrar furiosamente todos os dias.
— Não ouço esse nome há alguns anos, — diz Amber. — Eu me sinto
mal. Como... Eu quase esqueci.
Pobre garota. Não tive a intenção de despertar sentimentos ruins por
ela.
— Sinto muito, — eu digo genuinamente. — Então, vocês duas eram
amigas?
— Sim, — Amber me diz, em seguida, estreita os olhos. — Por que
você pergunta?
— Eu também sou uma amiga dela. Bem, mais como uma prima, se
você quiser, mas amigas do mesmo jeito. Estou preparando um memorial
para seu sétimo aniversário e gostaria de conversar com alguém que
ainda está nesta área que a conheceu. Ela costumava mencionar seu
nome; Espero que você não se importe por eu ter procurado você.
Eu odeio estar mentindo. Que estou enganando as pessoas. Mas
quero saber o que aconteceu com Celia Yates, mesmo que tenha que
mentir para encontrar a resposta.
Amber sorri e diz: — Qual é o seu nome, desculpe? Eu perdi.
— Meu nome é April. — Eu sorrio. — Prazer em conhecê-la, Amber.
Parece que ela está tentando se lembrar se Celia alguma vez
mencionou uma April, mas não parece preocupá-la por muito tempo,
porque ela diz: — Não acho que ela mencionou uma prima, mas estou
feliz em conhecê-la. Já se passou muito tempo desde que falei sobre Celia.
— Eu também, — eu admito, o que é parcialmente verdade. Ethan foi
a última pessoa com quem me sentei e realmente expressei como me
sentia em relação a Celia. Depois disso, raramente mencionei o nome
dela. — Você se importaria de me encontrar, para que possamos
conversar sobre ela, e eu posso conseguir algumas coisas para seu
memorial?
— Certo. Termino meu turno em meia hora, se você quiser esperar?
— Parece bom.
Sento-me a uma mesa e peço um café. Amber termina seu turno e se
junta a mim quando ela termina. Tenho meu telefone registrado, então
não perco nada. Tenho que ter muito cuidado com o que digo aqui,
porque se parecer que estou procurando respostas, Amber vai ficar
desconfiada.
— Há quanto tempo você está na área, April? — Amber me pergunta.
— Alguns meses. Eu voltei. Conversei com alguns membros da família
de Celia, mas principalmente estou tentando ver quantos de seus amigos
ainda estão aqui. Até agora, parece que você pode ser a única.
Amber concorda. — Sim, até onde eu sei, Kirsty e Vi deixaram a
cidade alguns anos atrás. Eu ainda os sigo no Facebook. Tenho certeza
que eles adorariam ajudar, mesmo que não estejam aqui.
Kirsty e Vi. Faço uma anotação em minha cabeça para procurar a lista
de amigos de Amber no Facebook e ver se posso encontrá-los. Quanto
mais respostas eu conseguir, melhor.
— Você e a Celia eram melhores amigas? — Eu pergunto a Amber,
tomando meu café.
Amber concorda. — Éramos, por cerca de cinco anos antes de ela
morrer. Nós nos encontramos por acaso; é uma história engraçada, na
verdade. Alguém atropelou meu gato, o que não é engraçado, é claro, e
Celia o encontrou, e ficou muito chateada. Ela foi batendo em todas as
portas até encontrar seu dono, ela estava tão triste e queria ter certeza
de que ele faria o enterro certo. Ela era boa assim, muito doce.
— Sim, — eu digo suavemente. — Eu lembro.
— Quando ela bateu à minha porta, me senti tão mal por ela que nos
tornamos amigas. Enterramos meu gato juntas e foi isso. Éramos
inseparáveis.
— Eu realmente sinto muito, Amber, — eu digo, e eu estou falando
sério, eu realmente quero dizer isso. — Deve ter sido muito triste para
você perdê-la.
Amber acena com a cabeça, seus olhos tristes. — Foi o pior dia da
minha vida quando recebemos aquela ligação. Não pude acreditar. Não
importa quantas vezes eu ouvisse o que meus pais estavam me contando,
eu não conseguia acreditar. Ela não poderia ter ido. A pior parte é que
brigamos um pouco antes, então nunca pude contar a ela que ela era a
melhor amiga que já tive.
Deus.
Isso está puxando minhas cordas cardíacas de uma maneira que eu
gostaria que parasse.
Isso só me lembra do que tirei deste mundo. Às vezes me pergunto se
teria sido mais fácil saber que Celia era uma pessoa horrível. Acho que
não, porque morte ainda é morte, mas quando penso em como ela
obviamente era gentil e amorosa, isso me faz sentir muito pior.
— Eu sinto muito que vocês estavam brigadas. Tenho certeza que ela
sabia o quanto você se preocupava com ela, — digo a Amber. — Amigos
brigam; é completamente normal.
— Mas foi uma briga ruim. Eu sabia que algo estava errado com
ela. Ela estava fazendo uma cara corajosa para todo mundo ver, mas algo
havia sumido de seus olhos. Eu queria saber o que era. Suspeitei que
tivesse alguma coisa a ver com o namorado dela, mas ela ficou com raiva
de mim e me disse para sair, que eu só estava tentando causar
problemas. Eu não estava, no entanto. Eu estava preocupada.
Engraçado, isso não foi mencionado quando eu estava tentando dizer
a todos que Celia entrou na frente daquele carro. Todos que a conheciam
diziam que ela estava feliz; obviamente Amber não se aproximou e disse
a eles suas suspeitas.
— Oh, isso mesmo, eu esqueci dele. Qual é o nome dele mesmo? —
Eu pergunto, agindo como se estivesse tentando muito me lembrar.
— Chase.
Eu estalo meus dedos, — Isso mesmo! Chase! Você sabe, eu nunca o
conheci. Como ele era?
Amber encolhe os ombros. — Ele era o cara mais bonito da
escola; você conhece aquele com quem toda garota queria estar. Celia o
pegou, e ela estava tão feliz. Ela o achava incrível. Mas, eu não sei, ele
era arrogante. Ele parecia pensar que nada poderia dar errado em seu
mundo, como se ele não pudesse fazer nada errado. Não sei o que
aconteceu entre eles, só sei que algo deu errado porque, a portas
fechadas, Celia estava lutando.
Deus, gostaria que Amber tivesse falado. Mas agora é um pouco tarde
demais. Tudo o que posso fazer é trabalhar com o que tenho.
— Você sabe algo sobre onde Chase está agora? — Eu pergunto.
Amber balança a cabeça. — Não, ninguém o vê há anos. Era como se
ele simplesmente tivesse desaparecido depois que ela morreu. Na
verdade, pensando bem, pouco antes de ela morrer, ele desapareceu e ela
estava muito frenética. Não sei se ela falou com ele antes do acidente ou
não; depois foi tudo um borrão... você sabe...
— Sim, — eu digo suavemente. — Sim, eu sei. Eu me pergunto onde
Chase está agora.
Amber encolhe os ombros. — Eu não posso te ajudar nisso. Eu sei
que os pais dele moravam na Avenida Planet, mas não sei se eles ainda
moram ou não. Eu nunca procurei saber sobre isso; Eu apenas tentei
seguir em frente com minha vida.
— Ele foi... no funeral dela? — Eu pergunto.
Amber balança a cabeça. — Não, mas aparentemente ele ficou
arrasado, então talvez ele não pudesse enfrentar isso... você sabe? Eu
não posso julgar; minha mãe meio que me forçou a ir. Eu estava tão
chateada. Eu não aguentava. Não me lembro de ter visto você lá, mas
estava uma bagunça. Não me lembro muito.
— Eu realmente sinto muito, Amber. Obrigada por conversar
comigo. Eu avisarei quando eu avançar com seu memorial.
Amber sorri. — De nada. É uma coisa boa que você está fazendo por
ela, April. Ela precisa que as pessoas se lembrem dela. Ela era uma em
um milhão.
Tenho certeza que sim. Oh, tenho certeza que ela era.
É exatamente por isso que pretendo descobrir o que aconteceu com
ela.
Celia mergulhou fundo no meu coração agora. Eu preciso saber
mais. Preciso saber tudo o que há para saber sobre ela.
Porque alguém a machucou.
Pretendo descobrir quem é.
ANTES - CALLIE

— Eu sinto sua falta, — eu digo para Max, olhando para ele do outro
lado da mesa. — Você não me visita com frequência. Mamãe disse que
você está lutando.
Max encolhe os ombros. — Estou bem. Quer dizer, não é fácil ser
irmão de alguém que está aqui por homicídio culposo.
Essas palavras parecem um soco no estômago. Minha garganta
aperta, meu peito aperta e eu sinto as emoções girando, ameaçando se
libertar. Não acredito que Max disse algo assim. Não acredito que ele
pensa que sou assim... tão ruim.
Eu não queria matá-la.
Ele sabe disso.
Ele deve ver a expressão no meu rosto porque ele exala e diz: —
Desculpe, irmã. Eu não quis dizer isso. Eu sei que você diz que não queria
fazer isso e...
— Ela apareceu na minha frente, Max. Você sabe disso.
Ele assente, mas posso ver, no fundo de seus olhos, que ele não
acredita em mim.
Ele não sabe.
Eu odeio isso.
— Por que você está aqui, — digo, minha voz morrendo lentamente,
pouco a pouco, — se você pensa isso de mim?
— Você é minha irmã; Eu queria ver você.
— Mesmo que tudo o que eu faça seja tornar sua vida muito pior? —
Ele suspira e passa as mãos pelos cabelos.
— É difícil, você sabe, trabalhar e se locomover pela cidade. As
pessoas sabem quem eu sou. Eles sabem que você está aqui. Eles
falam. As pessoas dizem coisas para mim. Eu entro em brigas. Também
não é fácil estar do outro lado, Callie. Acredite em mim.
— Eu realmente sinto muito que você esteja passando por isso, eu
sinto, mas eu nunca pretendi que nada disso acontecesse. Você sabe
disso.
Ele concorda. — Sim, de qualquer maneira, vamos falar sobre outra
coisa. Como você está lidando aqui? — Eu encolho os ombros, mas meu
lábio inferior treme.
É difícil. Tão difícil. A cada dia parece que fica muito pior. Trisha
mudou, mas agora suas amigas, Tony e Peta estão no meu caso. Eles
estão se preparando e levando o título de maiores vadias deste lugar, e
estão prometendo tornar minha vida um inferno por me livrar de
Trisha. É como se eu tivesse me livrado de um só para ganhar dois. Não
tem fim. Alguns dias, alguns dias, me pergunto se seria mais fácil se eu
não estivesse aqui.
Esses pensamentos me aterrorizam.
Eu não quero tê-los, e ainda assim eles atormentam minha mente
como uma doença maldita rastejando lentamente pelo meu corpo até que
finalmente assuma o controle.
— Callie, se você está com dificuldades, precisa falar com alguém, —
Max diz.
Oh, porque é tão fácil.
As pessoas de fora, realmente não percebem como funciona aqui. Não
há como falar com alguém; não há como fugir disso. Você tem que
enfrentar isso, ou você aceita a derrota e cede. Se você ceder, viverá uma
vida de miséria. Se você enfrentar isso, terá que viver sua vida lutando,
porque é a única maneira de sobreviver e sair mais forte.
Não há com quem falar. Deus, se fosse assim tão fácil.
— Eu não quero estar aqui, Max, — eu sussurro. — Eu não quero.
— Eu sei. Eu sinto muito.
Eu olho para cima, meus olhos se arregalando quando uma ideia
surge em minha mente. — Você pode descobrir a verdade para mim. Se
você encontrar algo, qualquer coisa, eles podem examinar o caso
novamente e eu posso sair. Eu não tenho que ficar aqui se você me
ajudar.
Ele me encara, confuso.
Não acredito que não pensei nisso antes. É genial.
— Callie, não consigo encontrar nada que ainda não tenha sido
investigado. Eles investigaram. Era muito preto e branco, realmente...
— Não, quero dizer Celia. Algo a fez parar na minha frente naquela
noite. Eu quero que você descubra o que era. Olhe para a vida dela,
converse com seus amigos, qualquer pessoa. Descubra o que aconteceu
com ela. Se você puder provar que algo aconteceu, algo horrível, posso
ter meu caso reconsiderado. Por favor, preciso que você faça isso por
mim. Não posso sobreviver mais seis anos aqui.
— Callie...
— Por favor, Max. Se você acredita em mim, você fará isso por
mim. Eu não mereço isso, eu não mereço.
— Callie...
Lágrimas explodem e correm pelo meu rosto. — Max, por favor. Estou
morrendo aqui.
Ele balança a cabeça e se levanta. — Não há nada para encontrar. A
polícia já investigou tudo. Talvez, em vez de negar o tempo todo, você só
precise aceitar que estava errada, que não estava olhando e bateu
nela. Você precisa ter isso.
Minha boca se abre e meu lábio treme, — Max, — eu sussurro. —
Você sabe que não fui eu. Ela se jogou na minha frente. Você tem que
acreditar em mim.
— Todos em sua vida disseram que ela era feliz e borbulhante. Eu
estava lá, Callie. Eu ouvi tudo. Ninguém acredita que ela faria algo assim,
e você está me pedindo para ir e jogar mais dor na vida dessas pobres
pessoas fazendo perguntas por você. Eu não posso fazer isso. Eu quero
te ajudar, eu quero, mas você não é a única que sofre. Mamãe e eu...
— Mamãe e você falam que estão aí para me ajudar, mas não estão!
— Eu choro, cerrando os punhos. Um guarda dá um passo à frente e sei
que eles escoltarão Max, porque estou ficando muito chateada. — Você é
meu irmão. Você deveria me amar, você nem mesmo está tentando.
— Estou tentando, Callie! — ele brada. — Estou tentando sobreviver!
O guarda agarra seu braço e diz que é hora de ir embora, e eu fico em
minha cadeira gritando: — Max, por favor, não posso mais ficar aqui. Por
favor!
Ele não se vira.
Um guarda me agarra.
— Max! — Eu grito. — Por favor. Por favor, não me deixe aqui.
Ele desaparece e a porta se fecha.
Choro todo o caminho de volta para o meu quarto.
Minha própria família me abandonou.
Meu próprio irmão, alguém que eu pensei que nunca faria algo assim,
me deixou ir.
Como diabos vou sobreviver quando não tenho ninguém?
Eu estou sozinha.
Eu não aguento mais.

— LUTE COMIGO ENTÃO, — EU GRITO , usando toda a minha força


e empurrando Tony no peito duas vezes.
Ela tropeça para trás, escorregando e caindo de bunda. Peta se vira,
um punho acertando meu rosto. Os guardas estão correndo. As pessoas
estão ao nosso redor. Eu sei que vai acabar tão rápido quanto começou,
mas eu não me importo. O sangue escorre pelo meu lábio e eu giro,
batendo e batendo em Peta de volta, a raiva borbulhando na superfície,
uma raiva que não consigo mais controlar.
Eu não posso lidar com seu tormento.
Eu não consigo lidar com nada disso.
Eu só quero que isso pare. Se isso significar que eu acabarei sendo
espancada até a morte, que seja.
Essas meninas vão me atormentar para sempre, então vou
lutar. Mesmo se eu perder.
— Você quer lutar comigo, então lutar comigo, porra, — eu grito
quando Tony se levanta e Peta balança novamente, acertando minha
bochecha e me fazendo girar fora de controle até eu cair no chão com um
baque.
Os guardas as agarram, puxando-as de volta, e alguém me puxa para
cima. É o policial Corel - posso dizer porque ele nunca me trata de
maneira rude, embora me segure com firmeza.
— Isso é o suficiente, — ele rosna em meu ouvido. — Você precisa
parar, Callie. Agora mesmo.
— Leve-a para o confinamento por dois dias! — o chefe da guarda dá
ordens ao oficial Corel. — Agora.
Estávamos jantando, um grande grupo, todos sentados às mesas de
aço inoxidável da sala de jantar. Tony estava me provocando; Peta estava
me batendo embaixo da mesa com suas botas. Eu não aguentava
mais. Então me levantei e perdi o controle. Perdi a cabeça. Eu não me
importo se eu tiver que sentar em uma sala sozinha por dois dias. Inferno,
eu não me importo se terei que ficar lá para sempre. Estou tão farta deste
lugar e de todos nele.
O oficial Corel me puxa pelos corredores, passando por algumas
portas, até chegarmos às duas salas nos fundos do centro que são usadas
para pessoas que causam problemas, como eu. São quartos simples,
segundo Madeline me disse, e são muito chatos. Você não pode deixá-los.
Eu não me importo.
Eu estou bem com isso.
O oficial Corel abre a porta e nós entramos. Eu olho ao redor do
quarto. Sim, tudo bem. Nem uma única coisa está aqui para
entretenimento. Nem mesmo uma mesa. Tem uma cama, um banheiro e
um chuveiro, e é isso. As paredes são brancas. O chão é totalmente
cinza. Não há nada aqui para fazer você se sentir seguro. Mas esse é o
ponto, não é? Eles não nos querem felizes; eles querem que aprendamos.
— O que você estava pensando, Callie? — Oficial Corel pergunta,
virando-se para mim.
Eu fico olhando para ele, cruzando os braços. Há sangue escorrendo
pelo meu queixo e minha bochecha está latejando, mas não me
importo. Eu honestamente não me importo. — Eu estava pensando que
estou farta daquelas garotas que me atormentam.
— Se você está cansada disso, venha falar com alguém!
Eu rio, amargamente. — Vamos. Você e eu sabemos que ninguém vai
fazer nada para me ajudar. Eles vão avisá-las, o que por sua vez as
deixará mais furiosas, e eu acabarei tendo que lidar com sua ira. Não
vamos brincar de idiotas aqui; nós dois sabemos que essas meninas não
vão parar até que eu revide. Então, eu revidei.
— Errado, — rosna o oficial Corel. — Você luta de volta, você vai seguir
o mesmo caminho que Trisha. Você vai ficar mais tempo aqui. Você quer
isso? Você quer ficar aqui, Callie?
— Estou aqui há seis malditos anos! — Eu grito. — Você acha que
isso importa? Você acha que alguma coisa importa?
Eu não consigo parar; lágrimas explodem e rolam pelo meu rosto. A
frustração toma conta do meu peito e sinto uma mistura de incrível
tristeza e incrível raiva. Eu não posso mais lidar com isso. Eu nem quero
tentar. Estou tão cansada de estar aqui, tão cansada de me sentir assim
o tempo todo. Nada que eu faça vai fazer isso ir embora.
— Meu próprio irmão nem mesmo quer me ajudar. Meu pai tem
vergonha de mim. Minha mãe está mais preocupada consigo
mesma. Também não tenho mais nada lá fora, entendeu? Estou sem
nada. Aqui ou ali. De que adianta lutar quando você não tem nada pelo
que lutar? Eu não me importo mais. Eu não me importo.
— Ouça aqui, — rosna o policial Corel, agarrando meu ombro e me
jogando com força, então estou sentada na cama. Ele se inclina para
perto e, em voz baixa, rosna: — Você não desiste tão facilmente. Você me
entende? Você luta. Você luta por sua justiça. Você luta pela sua
verdade. Você não precisa de outras pessoas para segurá-la na vida,
Callie. Você só precisa de si mesma. Então sua família desistiu. Danem-
se eles. Você é mais forte do que tudo isso.
— Eu não sou, — eu sibilo de volta. — Eu não sou mais forte do que
tudo isso. Essa garota está morta por minha causa. Ela se foi. Ela se foi
porque eu não estava prestando atenção. Talvez ela tenha saído na minha
frente, mas no final, isso importa? Se eu estivesse olhando, teria sido
capaz de vê-la e diminuir o ritmo. Eu ainda teria batido nela. No final,
isso é comigo, não importa o quê. Max está certo; é hora de eu aceitar e
enfrentar isso.
— Sim, você está certa, estava com você, e você estava fazendo a coisa
errada. Você está pagando por isso. Isso significa que você não merece
saber a verdade? Que outros não merecem saber a verdade? Não, claro
que não. Você deve a essa garota descobrir o que aconteceu para fazê-la
se sentir assim. A única maneira de fazer isso é superar isso. Seja forte,
Callie. Você não sobreviverá a este mundo se não o fizer.
Ele me solta e se vira, sai e tranca a porta.
As lágrimas continuam rolando pelo meu rosto.
Ele tem razão; Eu devo isso a ela para descobrir o que aconteceu para
fazê-la sentir que ela teve que pisar na frente daquele carro.
O único problema é que não sei se ainda tenho mais forças.
Eu sinto que estou me afogando.
Só que desta vez não quero tentar nadar.
Eu só quero afundar.
AGORA - CALLIE

— Você vai falar com Sophie e Jessika? — Ethan pergunta, encostado


no meu balcão e tomando um café. — Tem certeza de que é uma boa
ideia?
— Eu tenho que enfrentar essas pessoas eventualmente, Ethan. Devo
a elas pelo menos me desculpar pelo que fiz. Elas não têm que me
perdoar, mas elas merecem isso.
— Sim, elas merecem, mas é um grande negócio. Pode trazer à tona
coisas que elas não querem enfrentar...
Eu dou de ombros, porque, bem, eu tenho que fazer isso, não importa
o que isso traga para elas. Eu entendo perfeitamente que me ver pode
lembrá-las de um momento ruim em suas vidas, mas tenho que consertar
isso. Eu tenho. Uma coisa que aprendi estando longe é que você não pode
segurar essas coisas; você tem que deixá-lo ir, ou ele vai te comer.
— Você me disse uma vez que eu tenho que enfrentar o que fiz. Esta
sou eu enfrentando isso. A vida de Celia não foi a única afetada pelo que
aconteceu naquela noite. Devo a elas, pelo menos, pedir desculpas.
Ethan me estuda, então acena com a cabeça. — Você está certa; você
deve isso a elas. Esteja preparada, pois pode correr muito mal.
— Oh, acredite em mim, estou me preparando para o pior. Tem mais...
— Ele levanta as sobrancelhas.
— Meu pai me convidou para jantar esta noite... — Por um momento,
não consigo ler sua expressão, então ele murmura:
— Essa é uma má ideia.
Ele está certo, provavelmente é, mas ele é meu pai, e eu não o via há
muito tempo. No mínimo, quero saber por que ele desistiu de mim. Quero
dizer o que tenho a dizer, e se não o vir novamente, tudo bem. Eu vou
embora e nunca mais vou voltar. Mas eu tenho que fazer isso. Eu tenho
que fazer tudo isso. Não importa o quão difícil seja.
Ethan franze os lábios, depois expira e diz: — Você está realmente
mergulhando de cabeça nisso. Em seguida, você dirá que está saindo com
alguém.
Eu dou a ele uma expressão de culpada, e seus olhos se arregalam.
— Como diabos você já conheceu alguém? — Eu rio suavemente.
— É uma história estranha, realmente. Consegui um pneu furado e
ele estava lá para me ajudar. Nós conversamos... Não sei, meio que partiu
daí.
— Eu o conheço? — Ethan pergunta, parecendo um pouco chateado.
Eu entendo, eu entendo. Ele é protetor. Ele me ajudou a atravessar
alguns dos piores momentos da minha vida. Mas ele não precisa mais me
proteger. Eu posso me proteger.
— Eu não sei. Seu nome é Tanner. Ele trabalha naquela oficina na
cidade... a grande nova.
Os olhos de Ethan se estreitam. — Ele tem alguns amigos que
trabalham com ele, certo?
— Sim.
— Eu conheço eles. Eles são problemas, Callie. Seja cuidadosa. Tive
alguns encontros com alguns deles na prisão. Eles estiveram envolvidos
em invasões, drogas e algumas multas por excesso de velocidade em
carros de corrida. Não tenho certeza se esse é o melhor tipo de pessoa
para você estar agora.
Quer dizer, não posso dizer que estou surpresa que Tanner e seu
grupo tenham tido alguns encontros com a lei. Eles são meninos Maus
com M maiúsculo. Mas eu não diria que são pessoas ruins. Nem
perto. Eles são bons em todos os aspectos importantes. Eles podem ser
um problema, mas não são horríveis - há uma grande diferença. Eu não
sou uma boa pessoa. Já fiz coisas ruins, mas isso significa que magoei
alguém deliberadamente ou fiz algo horrível? Absolutamente não.
No mínimo, todos merecem uma chance. — Talvez seja verdade, mas
eles têm sido bons para mim. Não estou no negócio de julgar as pessoas
sem primeiro conhecê-las.
A mandíbula de Ethan fica tensa e ele murmura: — Isso não significa
que você precisa ser estúpida com suas escolhas. Envolver-se com uma
turma ruim pode colocá-la de volta naquele lugar. É isso que você quer?
Ele está me frustrando agora. Sei que ele está cuidando de mim e
respeito isso, mas às vezes acho que Ethan pensa que tem controle sobre
as coisas que faço. Ele é protetor, o que eu adoro nele, mas ele precisa
entender que não sou burra e posso cuidar de mim mesma.
— Aprendi muito e uso o cérebro. Não vou fazer ou me envolver em
nada de ruim. Se eu vir que ele está fazendo algo ruim, vou me retirar da
situação. Mas eu gosto de Tanner e vou ver onde isso vai dar.
Ethan parece chateado, mas não diz mais nada. — Eu tenho que
trabalhar.
Ele se vira e sai, batendo a porta atrás de si. Eu expiro e meus ombros
caem. Gostaria que ele entendesse que não estou tentando magoá-lo ou
incomodá-lo. Eu só preciso descobrir minha própria vida.
Começando agora - indo para a casa do meu pai pela primeira vez em
mais de seis anos.
Isso poderia correr bem.
Ou pode ser muito, muito ruim.

— É BOM VER VOCÊ , Callie.


Eu fico olhando para meu pai. Os anos foram bons para ele. Claro,
eu sabia que sim. Ele parece o mesmo da última vez que o vi.
Ele me disse que estava se mudando. Max disse por um tempo que
sim, mas conseguiu um emprego e voltou. Claro que ele não me disse
isso e nunca veio me ver. Isso doeu mais do que ele jamais saberá. Porque
ele devia a mim ser um pai solidário. Nunca pensei que ele me
decepcionaria. Quando eu era pequena, ele era tudo para mim.
Mesmo as pessoas que você mais ama podem decepcioná-la quando
você menos espera.
Portanto, a melhor coisa a fazer é não esperar.
— Pai, — eu digo, minha voz baixa e hesitante.
— Venha aqui. Deixe-me olhar para você. — Ele sai para a luz de sua
varanda e segura meus ombros em suas mãos. Eu recuo. Seus olhos
encontram os meus e ele sabe que não quero que ele me toque. Ele sabe,
no fundo, que eu o odeio tanto que quero gritar e arrancar seus olhos. No
entanto, eu o amo tanto que sua traição me mata. É uma sensação
horrível de se ter. Amar e odiar alguém tão incrivelmente.
Qual lado você escolhe?
Como você faz uma escolha dessas?
Ele me observa e, em voz baixa, diz: — Você cresceu muito.
Claro que fiz. Quando você vai embora por seis anos, está fadado a
mudar. Não sou mais uma jovem; Eu sou uma mulher jovem. Uma jovem
endurecida que viu demais.
— Sim, isso acontece, — murmuro.
Ele me solta e diz: — Que rude da minha parte. Entre. Deanne está
morrendo de vontade de conhecê-la.
Deanne, a mulher por quem ele nos deixou. Em seguida, ele
basicamente adotou suas duas filhas, Crystal e Shirley. As filhas
perfeitas. Ambas deixaram a escola com notas perfeitas e foram para a
faculdade. Ambas têm parceiros incríveis e estão deixando seus pais
orgulhosos a cada respiração.
Então há eu.
A filha que matou alguém.
A filha que foi para a prisão.
Sim, essa sou eu. O brilho da vida das pessoas.
Enquanto entro na casa enorme do meu pai, olho ao redor e a vontade
de balançar a cabeça é enorme. Ele forneceu coisas para minha mãe
também, é claro. Tínhamos o melhor de tudo. Isso, entretanto? Isso vai
além do que temos. Há lustres pendurados nos malditos telhados, pelo
amor de Deus. Quem realmente precisa dessa porcaria?
A casa tem o dobro do tamanho daquela em que cresci. Inferno, essas
meninas provavelmente têm quartos maiores do que a minha casa.
É insano.
— Deanne? — meu pai chama quando entramos na maior cozinha
campestre que já vi. Há madeira branca, armários por quilômetros e
espaço de bancada grande o suficiente para que você possa dançar e não
derrubar nada.
— Aqui! — A própria senhora sai. Deanne.
Eu vi fotos, é claro. Meu pai costumava tentar fazer com que eu a
conhecesse, mas eu não estava interessada. Porque diabos eu
estaria? Ela é uma maldita rainha e pegou tudo o que eu tinha.
Ok, um pouco injusto, porque ele fez isso também, mas ainda assim.
Cabelo loiro comprido cai sobre os ombros delicados de Deanne. Seus
olhos são grandes e redondos e perfeitamente azuis. Ela parece uma
boneca de porcelana. Sua pele é tão perfeita e sem rugas que me faz
pensar em que tipo de injeções ela está usando. Ou isso, ou a mulher
tem alguns genes incríveis. Ela está usando um vestido cor de girassol,
com um avental xadrez azul enrolado em sua cintura fina. Alguém pode
dizer dona de casa perfeita?
Eu posso.
Dona de casa perfeita.
— Oh, olá! Bem-vinda! Sou Deanne! — ela diz, correndo e estendendo
sua mão com unhas perfeitamente pintadas. — É um prazer conhecê-la.
Não, não é. Nós duas sabemos que não.
Ela não me quer em sua casa. Ela está dando um show para o meu
pai, mas posso ver a maneira como ela está me estudando, me acolhendo,
me examinando. Ela não está impressionada comigo. Ah não. De modo
nenhum. Na verdade, tenho certeza de que se ela tivesse o que queria,
ela não me aceitaria nesta casa.
— Você também, — digo a ela, pegando sua mão. Posso ver como seus
olhos se contraem um pouco quando minha mão envolve a dela.
— As meninas estarão aqui momentaneamente. Eu vou ir e me
refrescar. Você pode alcançar seu pai.
Eu a vejo ir e depois me viro para papai. — Lugar legal.
Ele olha em volta. — Sim é. Sente-se. Posso pegar uma bebida para
você?
Eu aceno, e ele me traz um refrigerante. Deus me livre de beber
álcool; talvez eu fizesse algo estúpido como roubar um carro e matar
alguém.
É seguro dizer que meus pais ficaram chocados quando descobriram
que eu estava completamente sóbria naquela noite; eles até perguntaram
se eu tinha drogas no meu sistema. Eles não conseguiam processar como
ou por que eu roubaria seu carro e faria um passeio alegre se estivesse
completamente sóbria.
— Como vão as coisas? Você falou com Max?
— Sim, eu o vi uma vez. Não estou com pressa de vê-lo novamente.
Meu pai franze a testa. — Seu irmão estava preocupado com
você. Tenho certeza que ele adoraria ver você de novo.
— Meu irmão me abandonou, assim como todo mundo na minha
família. Não devo nada a ninguém.
Ele exala. — Olha, eu sei que não fui te visitar como deveria, Callie. Eu
realmente sinto muito. Eu não queria te machucar. As coisas aqui
estavam loucas, e me mudei. Não foi intencional.
— Eu não quero ouvir suas desculpas, para ser honesta. Você poderia
ter atendido o telefone. Escrito uma carta. Há um milhão de coisas que
você poderia ter feito. Você optou por não fazer isso. Em vez de culpar
tudo pela loucura das coisas por aqui, talvez tente assumir isso.
Ele vai abrir a boca, mas a porta da frente se abre e duas mulheres
incrivelmente bonitas entram. Ah, elas estão aqui. As filhas
perfeitas. Seus olhos vão imediatamente para mim, e Crystal, a mais
jovem das duas, faz uma careta. Oh, ela não gosta de mim. Bem, o
sentimento é muito mútuo. Shirley me dá um pequeno sorriso, mas ela
ainda parece que preferia que eu estivesse em qualquer lugar, menos
aqui.
— Papai! — Crystal chora, correndo e abraçando meu pai quando ele
se levanta.
Papai. Ele não é seu maldito papai. Ela provavelmente tem um pai em
algum lugar que não conseguia lidar com sua mãe arrogante, então ele
fugiu com outra mulher. Oh espere; aquele era meu pai. Dez dólares
dizem que suas histórias são assustadoramente semelhantes. Eu vejo
meu pai abraçar as duas meninas como se fossem suas próprias filhas,
e quando ele se afasta, vejo o orgulho em seu rosto.
Isso me atinge como um soco no estômago.
Um desejo desconhecido agarra meu coração, e eu odeio isso. Eu
odeio isso. Porque isso significa que ainda dói. Isso significa que ainda
me importo.
— Crystal, Shirley, gostaria que conhecesse minha filha Callie.
Eu aceno para as duas meninas, que estão me estudando. Me levando
como se eu fosse uma espécie de escória de rua. Elas que se
danem. Quem elas pensam que são?
— O Max está vindo? — Crystal pergunta, nem mesmo me
reconhecendo.
— Não, ele não pôde vir. Vamos sentar.
Todos nós vamos sentar à mesa, e é a sensação mais estranha da
minha vida. Eu quero gritar e arrancar meus olhos apenas para fazer
uma cena, porque provavelmente seria mais confortável do que aquela
em que estou sentada agora.
— Então, Callie, você encontrou um emprego desde que foi libertada
da prisão? — Crystal pergunta, sua voz ríspida.
Cadela.
Vadia rude.
— Sim, na verdade, eu tenho. As pessoas são muito complacentes
com nós, criminosos.
Ela faz uma careta.
Meu pai olha para ela, como se dissesse para ela parar. Isso mesmo,
papai querido. Mantenha sua filha sob controle.
Sinto aquela dor no meu peito novamente. Esse sentimento eu não
quero vir à tona.
— Você tem gostado de viver na cidade? — Shirley pergunta. Pelo
menos sua pergunta é gentil.
— Eu gosto disso. Fiz alguns amigos, conheci alguns caras. Tem sido
bom.
— Você disse àqueles caras que matou alguém? Tenho certeza de que
eles não gostariam de saber que estão se envolvendo com uma ex-
criminosa, — rebate Crystal.
— Crystal! — Meu pai adverte. — Não fale assim com ela.
— Sinto muito, papai, mas não gosto dela. Ela matou alguém. Você
não pode esperar que eu me sente aqui e fique bem com ela estar na
minha casa.
Sua casa. Jesus.
— Crystal, — Deanne diz, saindo da cozinha. — É o bastante.
— Oh, como se você pudesse falar, mãe. Eu ouvi você falando mais
cedo, e você também não quer uma assassina em sua casa. Você mesma
disse. Então, você passou a nos dizer para guardar os objetos de valor
porque ela também poderia ser uma ladra. Você nunca sabe o que eles
ensinam nessas prisões.
Minhas bochechas queimam e a vergonha atinge meu peito. Eu me
sinto estúpida, magoada e incrivelmente envergonhada.
Claro, isso é exatamente o que Crystal queria. Eu posso dizer pelo
sorriso triunfante em seu rosto. Lágrimas queimam minhas pálpebras,
lágrimas que consegui manter escondidas por tanto tempo. Mas saber
que meu pai permitiu esse tipo de conversa, que ele não me defendeu,
isso me machuca. Isso dói muito.
— Crystal! — ele rosna. — É o bastante.
Eu me levanto, jogando o meu guardanapo no chão. — Você sabe o
quê? — Eu digo, olhando para meu pai. — Eu não mereço isso. Não vou
me defender para um bando de idiotas metidos que nunca
experimentaram nada fora de um salão de cabeleireiro. Você quer me
julgar? Continue. Já ouvi coisas piores, mas você, pai, pode ficar fora da
minha vida. Você provou para mim o que eu significava para você quando
me abandonou. Eu não sei o que eu pensei que ia tirar vindo aqui esta
noite, mas certamente me provou que eu estava certa sobre você, sobre
isso... Eu mereço melhor. Eu mereço uma família. Você não é isso.
Pego meu telefone e minha bolsa. — Vou sair sozinha.
Eu me viro, mesmo quando ele chama meu nome, e vou embora. Meu
peito queima, minha garganta aperta, minhas narinas doem e as
lágrimas empurram minhas pálpebras, ameaçando escapar. Eu saio da
casa enorme e desço o caminho da frente para meu carro estacionado na
rua. Abro a porta e entro quando vejo um pedaço de papel enfiado nos
limpadores de para-brisa. Estendo a mão com a visão turva e o pego,
virando-o.
Parece que meu coração foi cortado por uma.
Há uma foto da Celia no papel. Uma bela foto dela sorrindo. Em
seguida, rabiscado em uma caligrafia confusa embaixo, diz: — Ela teve
uma vida. Você tirou isso dela. Assassina.
As lágrimas explodem e rolam pelo meu rosto.
ANTES - CALLIE

— O que você vai fazer sobre isso? — Eu rosno, cruzando os braços e


olhando para a garota na minha frente.
Ela é maior do que eu.
Ela é mais assustadora do que eu.
Mas eu não me importo mais.
Quando você não se importa, você não teme nada, e quando você não
teme nada, você não pode se machucar. Você não pode se machucar
porque não se importa com o que acontece com você. Fui agredida,
abusada e constantemente em apuros no último ano, mas
sobrevivi. Aceitei garotas maiores do que eu, menores do que eu e tudo
mais.
Trisha é coisa do passado. Muito longe.
Essas meninas, as novas, são muito piores.
— Vou cortar a sua maldita língua e enfiar na sua garganta, — Amie
sibila.
Amie está aqui por agressão, agressão grave. Ela bateu na mãe quase
até a morte, depois agrediu os policiais quando tentaram detê-la. Ela não
é uma garota enorme, mas é selvagem. Ela veio a este lugar com um peso
no ombro, e ela não tinha medo de nada nem de ninguém.
Ela iria se certificar de que todas nós soubéssemos que ela não seria
confundida.
Claro, eu não dei ouvidos a esse aviso, e me certifiquei de que ela
soubesse que eu também não seria incomodada.
E aqui estamos.
Eu bufo com a ameaça dela e me inclino mais perto, dizendo: — Eu
gostaria de ver você tentar. Na verdade, eu te desafio.
Seus olhos brilham e ela dá um passo à frente, prestes a me
empurrar, ou me bater, ou algo assim, quando ouço alguém gritar meu
nome. Amie dá um passo para trás imediatamente, e eu me viro para ver
o oficial Corel caminhando em minha direção. Ele está zangado; claro que
ele está. Ele está tentando me ajudar, mas eu não quero sua maldita
ajuda. Eu não quero a ajuda de ninguém. Eu só quero continuar com
minha vida do jeito que está agora.
— Você pode sair, Amie, — ele rosna para ela, e ela me dá um olhar
mortal antes de se virar e voltar para sua mesa.
O policial Corel olha para mim e responde: — Você vem trabalhar
comigo lá fora hoje.
— Por quê? — Eu murmuro.
— Porque eu muito bem disse isso. Agora vá.
Ele agarra meu ombro com mais força do que nunca, o que meio que
puxa as cordas do meu coração. Gosto do policial Corel e, embora eu o
deixe louco, ele está sempre lá para me ajudar. Eu o empurrei longe
demais? Provavelmente, e eu também mereço sua ira.
Eu o sigo para fora sem reclamar. No segundo em que saímos, o sol
queima sobre nós. Está quente hoje. O meio do verão não é bom para
nós, e todos nós tentamos evitar ter que trabalhar fora, e é exatamente
por isso que o oficial Corel me trouxe aqui, tenho certeza.
Ele caminha até o galpão do jardim comigo e o abre. — Vamos plantar
árvores e limpar os jardins. Você não vai reclamar.
— Eu não estava planejando isso, — murmuro.
Ele se vira para mim, estreitando os olhos. — Por que você insiste em
fazer isso com você mesma, Callie? Já vi milhares de garotas passarem
por essas portas, nenhuma delas tão boa quanto você, e ainda assim você
quer provar que é tão ruim quanto o resto delas. Você está se forçando a
sair dos trilhos. Por quê?
Suas palavras me confundem.
Não sei como responder imediatamente.
— Porque ninguém se preocupa comigo, então por que diabos eu
deveria me preocupar comigo mesma? Estou simplesmente sobrevivendo
aqui, policial Corel.
Minhas palavras chocam a mim e a ele, porque são brutais e
honestas.
— Então sua família te decepcionou; isso deveria ser mais uma razão
para provar que o mundo estava errado, para ter a sua própria proteção,
para sair daqui e mostrar a todos que você não afundou.
Eu desviei o olhar. — Podemos apenas chegar lá?
— Callie...
— Eu não quero falar sobre isso. Você é um guarda, não um maldito
conselheiro.
Com raiva, ele se vira e tira tudo o que precisamos. Ele não diz mais
nada enquanto começamos a trabalhar no calor escaldante. Eu trabalho
duro, o suor escorrendo pelo meu rosto. Eu não olho para ele e não falo
com ele. Quero entrar, onde é legal, mas não reclamo. Eu não vou
reclamar. Aqui não. Agora não.
Estou ocupada removendo um monte de terra quando me distraio
com uma luta que está se desenrolando do outro lado do centro. Eu
abaixo a pá sem olhar e bato com o dedo do pé. A dor irradia pelo meu
corpo e eu grito de raiva, frustração e pura agonia.
Jogo a pá no jardim e começo a chutar coisas. Eu chuto e grito,
agarrando qualquer coisa no meu caminho e jogando o mais longe que
posso. Estou com tanta raiva. Tão cansada. Estou tão cansada de estar
aqui. Eu não quero mais me sentir assim. Não quero mais chorar até
dormir e depois ter pesadelos com Celia Yates. Não quero sentir o peso
em meu peito que me faz querer arrancar meu próprio coração.
Não quero viver o resto da minha vida com esse tipo de dor.
— Callie! — O policial Corel me agarra, prendendo rapidamente meus
pulsos nas laterais do corpo. Estou ofegante, as lágrimas rolando pelo
meu rosto.
— Não quero mais me sentir assim, — soluço. — Estou tão cansada
de me sentir tão vazia por dentro. Sinto que mesmo quando sair daqui,
não terei nada. Sempre serei a garota que tirou uma vida
inocente. Sempre serei uma assassina. Nunca vou dormir uma noite sem
ver o rosto dela. Eu não tenho família. Eu só tenho mais uma amiga. Não
há mais nada para mim, aqui ou lá fora. Eu apenas... Terminei.
— Ouça-me, — ele rosna, e eu olho para ele, com lágrimas escorrendo
pelo meu rosto. — Você não está sozinha, nem aqui nem lá. Você vai
superar isso. Vai ser difícil. Vai parecer que você não consegue
respirar. Mas você vai superar isso. Ela merece que você lute por ela, para
descobrir o que aconteceu com ela, para sair daqui e ser a melhor versão
de você mesma para que ela não morresse por nada. Se você desistir
agora, ela nunca terá ninguém a seu lado. Você pode ter cometido um
erro, mas Callie, você pode consertá-lo. Você não precisa de família. Você
não precisa de amigos. Você só precisa de si mesma.
— Não sei se aguento mais cinco anos. Eu não acho que posso. Eu
nem quero pensar nisso. É uma vida inteira quando você tem a minha
idade. A ideia de estar aqui, a ideia de viver com o horror com que vivo
todos os dias - não vale a pena para mim.
— Você quer evitar esse horror? Então comece a ouvir. Posso protegê-
la desse horror, mas não se você continuar procurando. Cinco anos não
são nada quando comparados a oitenta. Callie, você ainda tem muitos
anos. Não desista agora. Você é muito mais forte do que pensa.
— E se você não estiver aqui? — Eu sussurro, olhando para ele. — O
que então?
— Não vou a lugar nenhum, então comece a fazer o que mandam e
você descobrirá que a vida aqui não é tão horrível quanto você pensa.
Ele está certo? Devo ceder e ouvi-lo? Devo começar a lutar pela Celia?
Ou devo simplesmente desistir e aceitar que nada mudará?
Estou sendo dividida entre duas mentes agora.
Acho que, no final, a mais forte vencerá.
AGORA - CALLIE

Eu desprezo as lágrimas.
No entanto, não posso impedi-las.
Quanto mais perto eu chego da oficina de Tanner, mais eu choro. Eu
choro sobre a foto. Eu choro com a traição do meu pai. Eu choro por
Celia, principalmente. É sempre por Celia. A vida que foi tirada cedo
demais. Repetidamente, me pergunto o que ela estaria fazendo agora se
ainda estivesse aqui. Ela se casaria? Teria filhos? Ela estaria viajando
pelo mundo? Como seria sua vida?
Chego à oficina e saio do carro.
Não estou pensando com clareza. Tudo que sei é que agora preciso de
alguém e, por algum motivo, o estranho de que passei a gostar tanto é a
pessoa por quem me sinto atraída.
Eu caminho até a porta da frente da oficina e bato. Parece que não
tem ninguém aqui, embora ele tenha me enviado uma mensagem de texto
dizendo que trabalharia até tarde. Frustrada, bato mais alto, sem parar,
até que finalmente a porta se abre.
Não sou recebida por Tanner. Sou recebida por uma mulher
seminua. Ela está vestindo uma blusa e calcinha, e nada mais. Seu
cabelo está solto, fluindo sobre seus ombros, e ela é tão linda que faz
meus olhos doerem só de olhar para ela. De seus grossos cabelos negros,
seus lábios carnudos e olhos cinza-aço, ela tem os traços perfeitos. Seu
corpo é minúsculo e cheio de curvas, e o sonho de todo homem.
Ela está na oficina de Tanner.
Um momento depois, ele aparece atrás dela. Ele está totalmente
vestido, mas parece que meu mundo chega a uma parada brusca quando
percebo no que acabei de pisar. Estou chorando como uma adolescente
e ele esteve aqui fazendo sexo com uma mulher linda. Não importa como
eu olhe para isso, vai doer.
— Sinto muito, — eu digo, minha voz falhando. — Achei que você
estivesse sozinho.
Eu giro no meu calcanhar e corro de volta para o meu carro.
— Callie! Espera! — Tanner vem atrás de mim, batendo a mão na
porta do meu carro quando eu abro para entrar. A porta se fecha e eu me
viro, de frente para ele. Ele está inclinado sobre mim, parecendo um
maldito milagre. Quero arrancar suas roupas, abraçá-lo e dar um tapa
nele, tudo ao mesmo tempo.
— Espere, — ele rosna, sua voz rouca.
— Eu sinto muito; Não sabia que você estava ocupado. Eu só
precisava conversar com alguém. Está tudo bem...
— Callie, — ele ordena, — eu disse para esperar.
— Tanner, honestamente, eu não preciso disso agora. Está bem. Você
é um homem solteiro. Você pode fazer o que você quiser.
— Eu não estava fazendo nada.
— Olha, eu realmente preciso ir. Por favor, deixe-me ir.
Eu giro e agarro minha porta, abrindo-a. Ele dá um passo para trás
e eu entro no carro, bato a porta e ligo o carro antes de recuar e ir
embora. As lágrimas continuam caindo, lágrimas de raiva que correm
pelo meu rosto. Passei anos escondendo-as e agora eu as liberto,
chorando tanto que não consigo parar. Não importa o que eu faça, não
posso fazê-las ir embora.
Dirijo para casa, grata por Jo estar no trabalho, porque não quero
que ela me veja assim. Eu não quero que ninguém me veja assim.
Durante a viagem para casa, começou a chover torrencialmente, o
que só me deu vontade de gritar e chorar mais. Eu saio assim que paro o
carro e fico imediatamente encharcada. Em vez de entrar, fico lá. Eu
deixei as gotas de água geladas molharem minha pele e rolarem pelo meu
corpo, misturando-se com minhas lágrimas. Fecho os olhos e deixo
encharcar meu corpo, como se a chuva pudesse levar embora todo o mal
que mancha minha alma. Tipo, se eu ficar aqui por tempo suficiente,
talvez consiga sair limpa.
— Callie.
Abro meus olhos e vejo Tanner, encharcado, olhando para mim. —
Tanner? — Eu coaxo.
— O que você está fazendo? Você vai congelar até a morte. Vamos.
Ele tenta me alcançar, mas eu o impeço com a mão levantada. — O
que você está fazendo aqui?
— Eu queria vir e explicar...
— Você não tem que explicar nada, — eu digo, minha voz rouca e
perdendo o tom de todo o choro. — Entendi. Não estamos juntos; inferno,
nós nem mesmo fizemos sexo. Honestamente, não sei por que você está
aqui. Você não me deve nada.
— Callie...
— Sério, Tanner. Não sou boa para você, ou qualquer outra
pessoa. Você deveria apenas sair.
Eu me viro para ir embora e tropeço. Como se o universo me odiasse
mais do que já me odiava. Eu tropeço e caio sobre minhas mãos e
joelhos. Estou frustrada. Quero gritar, mas não grito. Já fiz papel de boba
esta noite; Eu não preciso continuar com isso. Em vez disso, eu choro,
como uma humana patética e quebrada que não consegue se recompor.
Tanner se inclina e me pega em seus braços como o maldito herói que
é e nos leva até a porta da frente. Muito silenciosamente, entrego a ele a
chave do bolso e ele a pega, abre a porta e entra. Ele acende algumas
luzes e desce direto para o meu banheiro. Lá, ele me coloca de pé e me
encara, aqueles incríveis olhos castanhos fazendo meu coração saltar.
— Você deve pensar que eu sou patética? — Eu sussurro.
— Não, eu não acho você patética. Acho que você está quebrada.
Eu quero ele.
Eu o quero tanto que meu corpo está desesperadamente querendo
avançar e se lançar nele. Quero jogar meus braços em volta do pescoço
dele, beijá-lo, fazer amor com ele, fazer todas as coisas em que estive
pensando desde que nos conhecemos.
Então por que diabos eu não faço?
Por que não?
Dou um passo à frente e alcanço, tirando o cabelo molhado da
testa. Com meus olhos fixos nos dele, eu o beijo. Eu me pergunto se ele
vai me beijar de volta, mas em segundos, nós dois esquecemos de todo o
resto. Suas mãos vão para meus quadris e ele me puxa para mais perto,
então ele está me beijando com tanta ferocidade que meu corpo queima
de paixão.
Suas mãos se movem rapidamente, pegando minhas roupas
molhadas e removendo-as do meu corpo. Primeiro minha camisa, depois
meu sutiã, então meu short e minha calcinha. Em minutos, estou de pé
diante dele, nua, ofegante, molhada como o inferno e pronta para o que
acontecer a seguir. Ele dá um passo para trás, seus olhos correndo
lentamente pelo meu corpo, observando cada centímetro. Eu vi a garota
com quem ele estava; Eu sei que não tenho curvas incríveis como as dela,
mas eu não me afasto. Eu fico na frente dele, deixando-o ver tudo de
mim. A versão não editada.
— Você é linda pra caralho, — ele murmura, pegando sua camisa e
puxando-a sobre a cabeça. Seus jeans vão rapidamente atrás, e ele está
diante de mim, nu.
Sou capaz de captar cada centímetro dele e, ah, eu faço. Eu deixei
meus olhos percorrerem seu corpo incrível, lentamente arrastando de
seus ombros rasgados, para seu peito largo, para sua pele tatuada, para
seu tanquinho definido, até o pau que já está duro. É longo e
grosso. Também é totalmente assustador. Tanner é um homem adulto,
forte e másculo. Cada parte dele prova isso.
Ele está prestes a fazer amor comigo.
Com isso.
Com tudo isso.
Eu engulo e encontro seus olhos, e Deus, ele parece tão sexy que eu
não posso esperar mais um segundo. Eu pulo para frente e ele me pega,
me puxando para cima para que minhas pernas fiquem em torno de seus
quadris. Ele nos leva até o chuveiro, nossos lábios travados, beijando-se
furiosamente. Minhas mãos percorrem seus ombros, pescoço e cabelo
grosso enquanto ele liga o chuveiro e, quando está quente, entra.
No momento em que a água toca minha pele, eu estremeço. Eu não
percebi o quão frio eu estava até este momento. Tanner geme e nos vira
para que eu fique na água principalmente, me aquecendo enquanto ele
se esforça. Eu gostaria que houvesse algo errado com este homem para
que eu pudesse encontrar um motivo para me esconder e fugir, mas não
há nada de errado com ele. Ele é tão perfeito que me dá dor.
Quando o chuveiro está totalmente embaçado, minhas costas batem
na parede e o beijo de Tanner se aprofunda. Nossas línguas dançam,
nossos lábios se apertam, e nós dois estamos frenéticos. Lentamente,
Tanner me coloca de pé e dá um passo para trás, olhando para mim com
aqueles olhos semicerrados. Então, ele se abaixa de joelhos. Meu coração
dispara e começa a bater mais forte quando percebo o que ele vai
fazer. Ele pega uma das minhas pernas e coloca meu pé em seu ombro,
e então sua boca está em mim.
Na minha boceta.
Sua língua desliza pelas dobras e encontra meu clitóris.
Eu choramingo e coloco minhas mãos de cada lado da parede para
me firmar, porque tenho medo de cair. Tanner lambe e suga, sua língua
destruindo todas as fantasias que eu já tive e substituindo por uma muito
melhor. Nunca acreditei que isso pudesse ser tão incrivelmente bom, mas
estava errada. Muito errada. Eu choramingo e gemo enquanto ele devora
minha boceta como se fosse sua última refeição e ele está caminhando
no corredor da morte.
Eu grito de prazer absoluto quando um orgasmo agarra meu corpo,
me fazendo tremer e choramingar seu nome de prazer.
Espero que ele se levante, mas ele não o faz. Em vez disso, ele levanta
um dedo e o desliza lentamente em minha boceta enquanto sua boca
continua a me atormentar da melhor maneira. Seus lábios se fecham ao
redor do meu clitóris e ele suga, Deus, ele chupa, enquanto seu dedo
desliza para dentro e para fora, muito suavemente, revestindo-se de meu
prazer. Meus dedos se enrolam nas paredes ao meu lado e minha cabeça
cai para trás enquanto um prazer diferente de qualquer outro que já senti
sobe à superfície.
Quando estoura, grito seu nome, meu corpo treme enquanto a
sensação mais incrível passa por mim. Tanner arranca até o último
estremecimento de mim, e só então ele se levanta. Seus olhos encontram
os meus e ele se inclina, beijando-me lentamente, deixando-me sentir o
meu gosto em sua língua.
Estou pronta.
Estou mais do que pronta.
— Eu quero você, — eu sussurro para ele, estendendo a mão e
enrolando meus dedos em seu cabelo. — Agora, Tanner.
Ele me leva novamente, me colocando em seus quadris, e posso sentir
seu pau pressionando contra mim. Isso vai doer, eu sei que vai doer, mas
não me importo. Eu quero sentir a dor da queimação quando ele entrar
em mim pela primeira vez. Eu quero sentir o alongamento enquanto
minha boceta recebe o seu pau. Eu quero tudo isso. A dor e o prazer.
— Isso vai ser desconfortável, querida, — ele murmura. — Desculpe.
— Eu não me importo, — eu choramingo. — Por favor, me foda,
Tanner.
— Puta merda, — ele rosna, e então, lentamente, ele se empurra para
dentro de mim.
A primeira parte queima, Deus, queima. O alongamento está fora
deste mundo, e meu corpo recua, tentando empurrá-lo para fora de
mim. Eu cerro meus dentes e meus dedos apertam em seu cabelo.
— Relaxe, baby, — ele rosna, sua voz gutural e grossa. — Vai doer
mais se você não relaxar.
Eu choramingo enquanto ele empurra mais longe, mas ainda estou
lutando contra a invasão. Tanner para por um segundo e sua boca
encontra a minha. Ele me beija, tão profundamente, tão
apaixonadamente, que me esqueço do que está para acontecer, estou
muito focada no gosto incrível de seus lábios, na forma incrível como sua
língua fica contra a minha.
Ele empurra.
Eu grito quando a dor irrompe em meu corpo.
Não se deixe enganar pelos romances; isso dói como o inferno. Quem
disser que não está mentindo. Uma grande mentira.
Eu fico tensa em torno de Tanner, e ele faz uma pausa por um
momento, se afastando para que possa olhar para mim. — Desculpe. Era
a única maneira.
— Está tudo bem, — eu sussurro. — Está bem.
Olho em seus olhos e vejo a água escorrer por sua testa e pingar sobre
eles, e não posso acreditar que tenho sorte de estar aqui com um homem
que se parece com ele, se comporta como ele, e quem é tão incrível. Estou
cheia de alegria, mas principalmente, sou grata, porque nunca pensei
que experimentaria isso na minha vida. Sinceramente, não.
Talvez Ethan estivesse certo. Talvez haja uma vida aqui para mim -
só tenho que criá-la sozinha.
— Você pode se mover, — eu digo suavemente, segurando sua
bochecha.
Ele se move. Lentamente. Para dentro e para fora, arrastando seu pau
para fora do meu corpo, em seguida, deslizando-o suavemente de volta
para dentro. Nas primeiras vezes eu me sinto dolorida, mas lentamente,
essa dor se transforma em uma dor fraca e então um prazer incrível toma
o seu lugar. No início, isso queima, lentamente rastejando
profundamente dentro do meu corpo, e então eu aperto em torno dele
quando se torna uma dor que precisa desesperadamente ser liberada.
— Puta merda, você tem que parar de apertar em mim, querida. Sua
boceta é tão apertada. Você está me matando.
Sua voz rouca.
Suas palavras.
A maneira como ele está me fodendo, um pouco mais forte agora -
tudo traz meu prazer e não consigo mais segurar.
Eu aperto em torno dele, então eu explodo, gritando enquanto a
sensação mais incrível lava sobre meu corpo. É calor, prazer e um calor
tão profundo que nem sabia que era possível.
Tanner rosna, e então eu sinto sua liberação se juntar à minha. Seu
pau pulsa enquanto ele goza dentro de mim, mais e mais, nossos corpos
tremendo.
Meus lábios encontram os dele e ele me beija de prazer, nossos
gemidos se juntando como um só. É a experiência mais incrível da minha
vida. Eu a reviveria uma e outra vez, se fosse possível.
Quando nós dois descemos do nosso orgasmo, eu olho para ele e seus
olhos estão relaxados, felizes.
É nesse momento que percebo que não usamos proteção.
Nem verifiquei se ele estava limpo.
É naquele momento que a realidade, a vadia que é, volta para me
despertar.
Sempre esse caminho.

— NÓS NÃO USAMOS PROTEÇÃO, — sussurro para Tanner uma vez


que saímos do chuveiro e nos vestimos.
Ele olha para mim. — Você não está tomando pílula?
Eu estou, na verdade. Jo me disse no primeiro dia em que saí que era
a primeira coisa que eu precisava fazer. Fui imediatamente e coloquei o
DIU. Aparentemente, é o melhor que existe agora, e não preciso me
lembrar de tomar um comprimido diariamente, então isso é algo.
— Estou protegida. Eu só quero dizer...
— Estou limpo, Callie. Eu te prometo isso. Eu sempre uso proteção.
— Você não fez isso...
— Isso é porque eu fui o seu primeiro, a menos que você e sua boceta
sejam mentirosas, o que eu duvido, porque eu nunca senti algo tão
apertado em volta do meu pau em minha vida.
Minhas bochechas ficam rosadas, o que me surpreende. Depois de
seis anos na prisão, não parece que muito me incomode o suficiente para
eu enrubescer, mas acontece que isso sim. Isso é algo que não
experimento há muito tempo.
— Oh, — eu digo suavemente, olhando para ele.
— Sim, — ele murmura, passando o polegar sobre meu lábio
inferior. — Oh.
— Obrigada, — eu digo enquanto caminhamos de volta para o meu
quarto. — Por hoje à noite.
— Eu não fiz nada... — Eu encolho os ombros,
— Você sabe o que quero dizer. Você realmente me ajudou lá, na
calçada da frente.
— Não ia te deixar na chuva, querida.
Eu sorrio para ele e sento na ponta da minha cama. Ele se senta
também e olha para mim, aqueles olhos castanhos procurando meu
rosto. — O que aconteceu esta noite?
Eu olho para as minhas mãos. A maior parte de mim só quer contar
tudo a ele e acabar com isso, mas a parte egoísta de mim quer sentir isso
para sempre. Se ele souber, pode muito bem sair por aquela porta e
nunca mais voltar, e ainda não tenho certeza se estou pronta para
isso. Eu quero saber mais sobre ele. Eu quero que ele me dê uma chance
antes que ele conheça os demônios que mantenho trancados lá dentro.
Então, eu não digo a ele, mesmo que seja a coisa certa a fazer.
— Fui jantar na casa do meu pai. Nós realmente não nos damos
bem... Ele não esteve lá para mim, mas pensei em dar uma chance a ele
de qualquer maneira. Sua nova esposa e suas filhas estavam lá, e eles
estavam falando sobre como todos eles não me queriam lá, e até mesmo
ele concordou. Foi horrível. Nunca me senti tão estúpida em toda a minha
vida. Então, eu saí, e não sei... apenas doeu, eu acho.
— Lamento saber que seu velho é um idiota, — diz Tanner.
Eu rio suavemente. — Essa é uma maneira de colocar as coisas.
— Sobre a garota com quem eu estava, — ele começa, e eu me viro
para ele.
— Tanner, você não me deve nada. Não estamos juntos.
— Não, não estamos, mas eu acabei de tirar algo muito especial de
você e quero conhecê-la mais, então devo dizer-lhe que não foi nada. Eu
costumava vê-la e ela apareceu e começou a tirar a roupa na esperança
de chamar minha atenção. Eu não tinha intenção de transar com ela,
nem mesmo uma vez. — Eu olho para ele e sorrio.
— Está bem; você não me deve nada, mas obrigada por esclarecer isso
de qualquer maneira. Eu agradeço.
Ele se estica, agarrando meu queixo. — Eu quero estar aqui com você,
mais do que você jamais entenderá.
Isso me faz sentir bem por dentro. Muito bem mesmo.
— Obrigada.
— Você ainda vai sair com Andrea e seus amigos?
— Sim, eu vou. Estou ansiosa para isso.
— Seja cuidadosa. Os amigos dela são exagerados e ficam um pouco
malucos.
Eu ri. — Eu posso cuidar de mim mesma, acredite em mim.
— Tenho certeza de que você pode, — ele murmura. — Quando
terminar, traga sua amiga Jo para minha casa. Os meninos e eu vamos
nos reunir. Conhecê-las mais.
— Verdade? — Eu pergunto, chocada com seu convite aberto. Acho
que ele está falando sério quando diz que quer que isso vá mais longe.
— Sim, porra. Eu disse que quero saber mais sobre você; Eu quis
dizer isso. Você está pronta para isso?
— Parece bom. — Eu sorrio.
— Certo. — Ele se levanta e se inclina, beijando minha testa. — Eu
tenho que correr. Tenho que terminar o carro e já estive distraído com
você por muito tempo esta noite. Não que eu esteja reclamando porque
você é doce pra caralho. — Eu coro novamente. Droga.
— Me ligue amanhã quando você acordar. Diga-me como sua boceta
está dolorida. Quero que você pense em mim a porra do dia inteiro. Na
verdade, quero que você sempre se lembre de que fui eu quem primeiro
entrou em você.
— Eu acho que você tornou muito difícil esquecer, — eu sussurro,
olhando para ele através dos meus cílios.
Ele passa o dedo pelo meu queixo. — Algo sobre você me diz que é um
problema, mas estou animado para descobrir mais.
Então ele se vira e sai me deixando perplexa e sem palavras, e muito,
muito dolorida.
Da melhor maneira possível, é claro.
Eu me preparo para dormir. Foi uma noite longa e exaustiva.
Jo volta para casa cerca de meia hora depois que Tanner sai. Ela entra
e espia em meu quarto, e posso ver imediatamente que ela está
chorando. Ah não.
— Ei, — eu digo baixinho, caminhando até a porta. — Você está bem?
— Eu não sabia se você estaria acordada. Podemos conversar?
— Sim, claro. Entre.
Ela entra e deita de costas na minha cama. Ela faz muito isso; às
vezes ela até fica aqui. Acho que Jo está solitária, tão solitária, e ela está
quebrada, e quer desesperadamente que sua vida seja outra coisa senão
o que é, esse pensamento a faz se sentir culpada, porque ela sabe que
poderia ser muito pior. Ela está presa em uma espiral da qual não
consegue se desvencilhar. Eu sinto por ela. Todo mundo merece
felicidade. Todos.
— O que aconteceu? — Eu pergunto, carregando meu telefone e, em
seguida, deitei na cama ao lado dela.
— Pat e eu tivemos uma grande briga quando fui vê-lo depois do
trabalho. Quero dizer, enorme.
— Como? — Eu pergunto a ela.
— Eu nem sei como começou para ser honesta. Estávamos
conversando sobre eu voltar para lá e eu disse a ele que não estava
realmente pronta. Quer dizer, acabamos de fazer sexo e foi horrível. Era
chato e eu me sentia tão distante. Eu tentei me divertir, realmente tentei,
mas simplesmente não estava lá para mim. Isso me fez sentir muito pior
do que já me sinto. Então, obviamente, eu não estava muito animada com
a ideia de ter minha vida novamente.
— Compreensível, — eu digo.
— Então, eu disse a ele que não estava pronta. Faz apenas algumas
semanas e, honestamente, ele mal tentou. Ele me leva para jantar aqui e
ali. Ele nunca dormiu aqui; Eu sempre vou na casa dele. Ele não está
tentando. Não de verdade. É como se às vezes ele pensasse que acabou
de colocar na bolsa, como se ele fosse me manter de qualquer jeito. Como
se ele fosse meu dono. Então eu disse a ele que não, não estou pronta
para voltar. Ele o perdeu. Ele disse que fica mal para ele quando vai
trabalhar sozinho, e as pessoas no escritório estão conversando.
Oh. Pobre Pat.
Não.
Se ele se apresentasse e realmente fizesse algum esforço por sua
mulher, ele poderia descobrir que ela ficaria mais animada em voltar a
morar com ele.
— Eu disse a ele que sentia muito por ele estar passando por isso,
mas não é o suficiente para apenas me fazer voltar. Ele disse que até
mesmo as garotas do trabalho estão tentando atacá-lo e é muito difícil
para ele ficar longe delas quando sua própria esposa não o quer.
— Oh, ele não fez isso! — Ela concorda.
— Sim, ele fez. Bem, você pode imaginar que acabei de apertar um
botão. Eu disse a ele que se é assim que ele se sente, por que diabos ele
está se importando comigo? Ele pode muito bem me deixar, sair e
terminar com isso. Ao que ele respondeu que não vai desistir tão
facilmente e que não vai me deixar sair. Mas percebi que a única razão
pela qual ele não quer que eu vá embora é porque ele sabe muito bem o
tipo de conversa que isso vai gerar. Alguém com seu poder parecerá tão
ruim, e Deus me livre, ele ficará mal. Sem mencionar a divisão do
dinheiro; ele também não está disposto a compartilhar isso. Ele está
contente com sua vidinha chata e está contente em ter uma esposa chata
em casa. Eu não estou, no entanto.
— Querida, — eu digo cuidadosamente, — por que você está
ficando? O que está segurando você? Você é uma mulher forte, orgulhosa
e cheia de coragem. Por que ficar em um lugar onde você não está feliz?
— Ela exala.
— Porque eu fiz uma promessa a ele, a mim mesma. Eu o
amava; merda, eu ainda o amo, suponho, mas me casei com ele. Eu me
comprometi. Não apenas isso, mas a separação separaria nossas
famílias. Seria tão confuso, tão feio, que simplesmente não sei se vou
aguentar. Isso realmente me derrubaria, eu sei que iria - não apenas eu,
mas a imprensa... Todo mundo teria um dia de campo se o homem mais
rico de sua faixa etária de repente fosse despedido. Isso causaria uma
tempestade de merda na mídia.
Ela está certa. Pat, sendo tão rico quanto é, e tão conhecido por sua
idade, causaria uma tempestade de merda na mídia. Sem mencionar o
fato de que ela tiraria um monte de merda da família dele, a família dela,
e tudo iria dar muito, muito mal. Mesmo assim, ela não deveria ser
forçada a ficar quando não está feliz; ninguém merece viver metade de
sua melhor vida.
— Você não pode ficar aí para sempre, sentindo-se assim. — Ela
suspira e rola para o lado.
— Eu sei. Vou descobrir algo. Eu vou. Por enquanto, eu disse a ele
que vou ficar aqui. Claro, ele me ligou todo o caminho para casa, me
dizendo o quanto ele está arrependido. Estaria tudo bem se ele realmente
quisesse dizer isso, mas ele não faz. Eu sei que ele não quer, e ele sabe
que não. Ele simplesmente não quer o furacão que viria com nosso
divórcio. Honestamente, ele provavelmente já tem uma amante. — Não
me surpreenderia se ele estivesse recebendo de outro lugar. De modo
nenhum.
— Tenho certeza que não, — digo, porque não sou uma idiota e não
vou fazer minha melhor amiga se sentir pior do que ela já está.
— De qualquer forma, diga-me algo incrível. Não consigo lidar com
mais nenhuma conversa de Patrick.
— Bem, — eu digo, e um sorriso grande e estúpido se espalha pelo
meu rosto, — eu perdi minha virgindade esta noite. — Seus olhos se
arregalam e ela grita:
— De jeito nenhum! De jeito nenhum! E você me deixou continuar
por tanto tempo sobre o fedorento do Patrick?
Eu ri. — Bem, você precisava de mim. Eu não sou tão egoísta.
— Da próxima vez, seja egoísta! Foi Tanner? Oh, por favor, me diga
que foi Tanner?
— Foi Tanner. — Eu sorrio.
Ela afofa um travesseiro sob a cabeça e diz: — Certo, me conte tudo.
Então eu faço.
Eu conto tudo para ela.
ANTES - CALLIE

— O que você achou do novo livro? — Oficial Corel me pergunta


enquanto caminhamos pelos corredores em direção à sala de jantar para
o jantar.
Já se passaram três anos. Três longos e difíceis anos, mas finalmente
estou saindo do outro lado do inferno em que estava vivendo. O oficial
Corel tem sido um dos principais motivos para isso. Ele me manteve
lúcida quando pensei que iria afundar. Ele me pegou no caminho certo e
estreito. Ele estava lá quando minha família me abandonou
completamente. Ele ouviu. Ele concordou em me ajudar com Celia
quando eu saísse.
Ele tornou a vida muito mais fácil de viver.
Agradeço todos os dias por ele.
Não ajuda o fato de eu ter dezenove agora e estar ciente de como ele
é atraente e gentil. Falamos sobre tudo, mas nunca sobre seus
relacionamentos. Ele está completamente inconsciente da paixão gigante
que tenho por ele, é claro. Quer dizer, estou trancada. Isso me dá
esperança de vida fora dessas paredes, no entanto.
Para experimentar essa sensação, talvez até com ele.
É difícil saber se ele está namorando ou não. Ele não diz e estou muito
nervosa para perguntar a ele, correndo o risco de dar errado e criar uma
distância entre nós, o que me mataria agora. Ele é a única coisa pela qual
eu acordo, e ele me ajudou a superar a coisa mais difícil que já
experimentei na minha vida. Eu não posso fazer isso sem ele. Não tenho
certeza se estou disposta a arriscar isso.
— Achei estranho, — digo a ele sobre sua pergunta sobre o livro. —
Quer dizer, adorei e não consegui parar, mas era muito estranho de ler.
— Ele acena com a cabeça, sorrindo.
— Você está certa, era, mas eu gostei muito. Eu tenho um pouco mais
para você; Vou trazê-los amanhã.
— Você certamente vai ficar sem livros em breve. Eu sou a leitora
mais lenta do mundo, mas você me trouxe muitos livros ao longo dos
anos.
— Eu tenho muitos livros; são a minha maneira de relaxar depois de
um dia duro de trabalho. Não se preocupe, não vamos acabar tão cedo.
— Bem, eles devem durar até eu sair daqui, pelo menos.
— Sim, eles vão, e se não, eu irei à biblioteca e pegarei mais para você.
Minhas bochechas coram enquanto eu sorrio. Eu gosto que ele faça
isso por mim. Gosto que ele me dê livros e ninguém mais os receba. É
como nossa coisinha. Nunca fomos inadequados, nem demos a ninguém
motivos para pensar que há algo acontecendo entre nós. Os guardas
falam com os prisioneiros o tempo todo; Acontece que o oficial Corel gosta
mais de falar comigo.
— O que você fez no fim de semana? — Eu pergunto a ele, enquanto
viramos para a sala de jantar.
— Eu fui a um encontro com Mary, na verdade, — ele me diz.
Eu fico quieta, puramente por causa do choque. Ele nunca me contou
muito sobre sua vida fora dessas paredes. Claro, eu sempre pergunto o
que ele comeu no jantar e o que ele fez no fim de semana, e ele geralmente
fica feliz em me dizer o básico, mas nunca entra em
detalhes. Nunca. Nunca. Então, me surpreende que ele tenha me dito
isso tão abertamente.
— Sério? Isso é bom, — eu digo, mas meu estômago está
estranho. Torce um pouco dolorosamente. — Foi agradável?
Minha voz está diferente?
Eu pareço com ciúme?
Eu pareço com ciúme. Eu sei que eu pareço.
— Foi tudo bem, — ele me diz. — Ela era um pouco cheia de si.
Oh. Graças a Deus. — Oh, sinto muito em ouvir isso. Tenho certeza
que você encontrará alguém em breve.
— Sim, não estou com pressa. — Ele olha para mim e tem uma
expressão estranha no rosto.
Eu aceno e me afasto, e caminhamos em silêncio por alguns
momentos, então eu digo: — Então, que comida incrível você comeu no
fim de semana?
Ele ri. — Você e sua comida.
— Ei, nós temos as mesmas refeições aqui, e você sabe como elas são
ruins. Uma garota tem que sonhar. Vamos, derrame.
— Eu comi pizza no sábado.
— Oh, Deus, o que tinha nela?
— Você sabe...
— Pepperoni e queijo! — Bato palmas alegremente, fazendo as duas
pessoas na nossa frente se virarem e olharem para mim. Eu fico olhando
fixamente para eles até que desviem o olhar. — E no domingo?
— Panquecas no café da manhã e depois comi um bife quando saí no
domingo à noite.
— Estou com tanto ciúme. — Eu suspiro. — Acho que a primeira coisa
que vou fazer quando sair daqui é comer tudo o que estiver à
vista. Provavelmente vou acabar tão gorda que não conseguirei me mexer,
mas não me importo.
— Você nunca vai ser gorda, — ele murmura.
Minhas bochechas coram novamente. Droga. Eu gostaria de saber por
que isso aconteceu.
— Eu fiz alguns bons relatórios para você, tentando ver se você
consegue uma versão anterior sobre bom comportamento. Não posso
prometer nada, mas se o seu advogado examinar isso, ele pode considerar
levar o caso ao juiz para examinar novamente. — Eu olho para ele com
os olhos arregalados e sussurro: — Você fez?
— Sim, eu fiz. Você não merece estar aqui, Callie. Eu sempre acreditei
em você. Fora um começo difícil, você se comportou excepcionalmente
bem e acho que merece ser recompensada por isso. Se eu conseguir que
alguns guardas também façam relatórios, talvez tenhamos uma
chance. Claro, no final, tudo depende do juiz, mas vale a pena tentar.
— Obrigada, — eu digo, e eu quero dizer isso. Oh, eu quero dizer isso.
Não sei onde estaria sem ele.
Eu realmente não quero saber.

— NÃO FOI CONCEDIDO, — DIZ meu advogado, sentado à minha


frente na mesa de visitantes. — Sinto muito, Callie. Acho que a juíza tem
uma opinião forte sobre o caso. Ela prefere que você cumpra sua pena
completa.
Meu coração afunda. Meu corpo parece que vai desabar na cadeira.
Mesmo sabendo que isso poderia acontecer, uma parte de mim, uma
pequena parte, esperava que talvez, apenas talvez, eu pudesse sair daqui
mais cedo. Eu sei que não deveria ter depositado esperança nisso, mas a
verdade é que eu estava depositando esperança nisso. Eu estava
sonhando com todas as coisas que faria e com todo o tempo que
conseguiria. Saber que isso não vai acontecer é como uma faca no
coração.
— Ela deu uma razão para isso? — Eu pergunto, minha voz rachada.
— Não, ela apenas negou. Não temos o direito de perguntar por
quê. Sua decisão é sua escolha. Eu sinto muito. Vou continuar tentando,
mas não posso fazer muito mais.
Agradeço a ele com uma voz maçante e quebrada, e ele vai embora. Eu
fico olhando para a porta, esperando que ele se vire e me diga que está
apenas brincando. Lembro-me de Celia e de todas as coisas que ela
perdeu. Quem sou eu para chorar por não sair mais cedo? Talvez a juíza
ache que mereço estar aqui para ver a sentença completa. Talvez ela
esteja certa.
Sou escoltada de volta ao meu quarto e meu coração está pesado e
apertado no peito. Sento-me na beira da cama, mas não choro. Eu parei
de chorar. Eu parei de deixar as emoções me consumirem. Eu as sinto,
todas iguais, mas acho que acabei de chorar. Afinal, eu chorei por tanto
tempo, não posso chorar mais.
Ainda sonho com Celia todas as noites.
Ainda penso nela todos os dias.
Mas ela tirou todas as minhas lágrimas. Ela as pegou e elas não vão
voltar.
— Eu ouvi.
Eu olho para cima e vejo o oficial Corel. Ele está na porta, os braços
cruzados.
— Desculpe. Achei que você tivesse uma chance. Eu não deveria ter
te contado sobre isso.
— Está tudo bem, — eu digo suavemente. — Honestamente, é. Eu
não deveria ter tido muitas esperanças. Agradeço o fato de você ter
tentado, de se importar o suficiente para tentar me ajudar. Eu realmente
agradeço.
— Não é para sempre. Você veio até aqui; você fará o resto. Eu sei que
parece uma eternidade, mas não é. Em breve, você vai se perguntar como
é estar aqui, porque você terá esquecido.
Eu aceno e olho para as minhas mãos. — O advogado disse que talvez
a juíza achasse que eu merecia ficar aqui pelo que aconteceu. Ele disse
que ela estava apaixonada pelo caso. É assim que vai ser para
sempre? Serei sempre a garota que matou Celia Yates? As pessoas
sempre vão me julgar de forma tão insensível?
— Provavelmente, — ele me diz. — Mas depende de você como você
escolhe reagir e fazer o julgamento deles. Você pode absorver ou deixá-
los sentir o que sentem e seguir em frente com sua vida. No final, você
não pode fazer escolhas de outras pessoas; você só pode escolher como
eles afetam você.
— Não sei quando você ficou tão inteligente, — digo. — Mas é
realmente irritante.
Ele ri.
— Sabe, estou neste ramo há muito tempo.
— Você deveria ser um mentor de vida, não um guarda prisional.
— Você provavelmente está certa. Levante o queixo, Callie. Pense só -
você vai me tolerar um pouco mais, e eu tenho muitos livros para você
ler.
Eu olho para ele e sorrio.
— Há coisas piores no mundo, — ressalta.
Ele tem razão; existem coisas piores no mundo.
Se passar os próximos anos aqui com ele como meu amigo é o que
terei de suportar, então que seja.
Eu vim até aqui com ele.
Eu posso muito bem ver isso.
AGORA - CALLIE

Eu olho para a casa em que eu cresci.


A casa que não vejo há tantos anos.
A última vez que estive nela, vivi algumas das piores dores da minha
vida. Meu pai não apenas nos deixou nesta casa, mas eu também me
sentei naquela sala, olhando pela janela, com medo do que a vida me
reservaria porque eu tinha acabado de bater acidentalmente em uma
garota inocente. Eu era tão jovem naquela época. No esquema das coisas,
parece que foi há muito tempo, mas na realidade, não era.
Realmente não foi.
Eu engulo e cruzo os braços, me perguntando se isso é uma boa
ideia. Quer dizer, eu tenho que ir ver minha mãe eventualmente. Não
posso me esconder para sempre, mas estou pronta para entrar lá e
enfrentar mais do que apenas ela?
Posso enfrentar os demônios que deixei para trás no dia em que fui
presa?
Posso enfrentar tudo isso?
Eu levanto minha mão e bato na porta. Por um momento, o mundo
parece incrivelmente silencioso e, então, finalmente, ouço um barulho de
dentro e minha mãe abre a porta.
Já se passou muito tempo e ela mudou bastante. Seu cabelo, antes
loiro, agora é negro como o corvo. Seus olhos, que costumavam ser
perfeitos, são opacos e mais cinzentos do que azuis. Sua pele está mais
pálida e ela está muito mais magra do que costumava ser. Max disse que
ela ficou doente, mas agora está bem. Ela não parece bem agora. Ela
parece mais velha e muito mais frágil do que a mulher que vi pela última
vez há tantos anos.
— Mãe, — digo, minha voz mais forte do que eu gostaria, mas é difícil
não me sentir assim perto dela. Ela me abandonou quando eu precisei
dela.
— Eu estava me perguntando quanto tempo você demoraria para vir
visitar sua mãe.
Não, 'Oh meu senhor, é minha filha.' Ou: 'Você finalmente está
aqui. Eu não posso acreditar. '
Não, em vez disso, tudo é sobre ela. Eu vejo que não mudou nada.
— Pensei em deixá-la pelo tempo que levasse para me visitar naquele
lugar, mas pensei que nunca iria vê-la então, e não sou uma cadela de
coração frio, então aqui estou. — Seus olhos se arregalam e seus lábios
se abrem ligeiramente.
— Vejo que esse lugar mudou você.
— Aquele lugar não me mudou, — eu digo, minha voz baixa e fria. —
Pessoas que deveriam estar lá para mim, e que em vez disso me deixaram
sozinha, me mudaram. — Ela exala.
— Callie, estou cansada. Se você vai criar drama, por favor, venha
outro dia. Como você sabe, não estou bem.
— Lamento ouvir isso, realmente sinto, mas me decepciona
amargamente que é assim que você cumprimenta sua própria filha depois
de ter ficado longe dela por tantos anos. Achei que isso poderia ser muito
diferente, mas é claro que estava errada. Eu sempre estou.
— Se você vai continuar, então podemos pelo menos fazer isso lá
dentro? Meu vizinho é um fofoqueiro terrível.
Está muito longe, realmente, tão longe que você quase não acreditaria
que a pessoa que me criou pode ser tão fria. Acontece, no entanto. Eu
sou a prova viva. Parada aqui na minha velha varanda, olhando para a
mulher que me trouxe a este mundo, e me perguntando como no inferno
fodido eu realmente sobrevivi por tanto tempo sob seus cuidados.
— Vou entrar porque quero pegar algumas coisas no meu quarto.
Ela olha para mim, seus olhos se estreitando. — Seu quarto não é
mais seu. Eu empacotei todas as suas coisas quando você... saiu. Eu dei
a maior parte para a caridade. Eu tenho algumas caixas que você pode
levar agora.
Caridade.
Ela deu minhas coisas como se eu estivesse morta. Não presa.
Frio. Coração. Monstro.
— Vou levar essas caixas, — digo, minha voz um sibilo baixo, — então
vou sair da sua frente e ficar fora disso.
Ela me estuda, depois esfrega o rosto como se estivesse cansada.
— Estou exausta, Callie. Podemos fazer isso outro dia?
— Não, estamos fazendo isso agora. Traga essas caixas para mim ou
darei aos vizinhos algo para realmente conversar.
Seus olhos brilham com aquele drama familiar de que me lembro tão
bem, e então ela responde: — Eu já volto.
Ela se vira e desaparece, e eu fico olhando para a casa. É basicamente
a mesmo de quando eu deixei, só que agora há alguns móveis novos. Eu
olho para todas as fotos na enorme vitrine que ela sempre teve na sala de
estar. A partir daqui, posso ver que há pelo menos cinquenta delas.
A partir daqui, também posso ver que ela me derrubou de cada uma.
Ela me tirou deste mundo. Ela me levou embora como se eu nunca
tivesse existido.
Isso dói; Eu não posso negar isso. Eu não herdei o gene do coração
frio dela.
Ela retorna, e eu recuo, dando um passo para trás. Ela me entrega
duas caixinhas que, honestamente, não podem conter muita coisa. Eu as
pego e fico olhando para ela.
— Eu não voltarei para incomodá-la novamente. Tenho um milhão de
coisas que gostaria de dizer a você, mãe, mas vou ser breve. Você me
decepcionou. Você me decepcionou em um momento em que eu precisava
de você da mesma forma que precisava do ar que respiro. Você permite
que seus próprios problemas e seu próprio egoísmo a conduzam, em vez
de dar a sua filha o que ela tanto precisava. Uma mãe. Eu gostaria que
fosse diferente, mas agora posso ver que você nunca vai mudar. Você
sempre será a mulher egoísta e de coração frio que eu sei que você é. Eu
nunca deveria ter esperado nada diferente. O engraçado é que estou
melhor sem você. Eu superei, mesmo quando pensei que não poderia. Eu
fiz isso sozinha. Vou continuar fazendo isso sozinha. Você me deu à luz,
mas não é mãe; você não é minha mãe. Desejo-lhe tudo de bom, mas
mereço muito mais.
Eu giro no meu calcanhar e saio com as caixas na mão.
E eu fecho a porta neste capítulo da minha vida para sempre.
É um avanço para mim agora.
O passado não existe mais.

— VOCÊ É UMA TRABALHADORA DURA, Callie, — Andrea diz


enquanto trancamos as portas do café tarde da noite.
Fizemos um evento e estou aqui desde às seis da manhã ajudando
Andrea porque ela estava com pouco pessoal. Foi uma longa noite, mas
foi incrível. Isso me manteve ocupada e manteve minha mente no
momento, em vez de reviver o que aconteceu no dia anterior com minha
mãe, que nunca ligou ou tentou consertar as coisas. Ela me deu a
resposta final para todas as perguntas que eu estava fazendo.
Ela não liga.
Por mim tudo bem.
— Foi uma ótima noite. Você foi incrível, — eu digo a ela enquanto
viramos e caminhamos para o meu carro.
Pego minhas chaves e o destranco, em seguida, viro para Andrea, que
está me olhando com um sorriso no rosto.
— Você ainda vem no sábado à noite? — ela me pergunta.
— Não perderia por nada no mundo. Estou trazendo minha amiga
Jo; deve ser ótimo. Tanner me convidou para outra festa em sua casa
depois dela, então, sem dúvida, a noite vai ficar complicada.
Ela ri. — Será se você estiver com Tanner e os meninos. Eles festejam
muito, mas são muito divertidos.
— Bem, é melhor eu ir antes de adormecer em pé. Obrigada,
Andrea. Foi uma ótima noite.
Ela sorri e diz: — Tenha cuidado ao chegar em casa.
Quando ela vai embora, entro no carro e volto para o
apartamento. Não sei se Jo está lá ou não, mas sei que vou cair direto na
cama assim que entrar.
Subo os degraus da frente assim que estaciono, vasculhando minha
bolsa em busca das chaves. Depois de alguns minutos, volto vazia. Ah
não. Deixei minhas chaves no trabalho? Uso a lanterna do meu telefone
para procurar novamente, mas elas não estão aqui.
Frustrada, e me perguntando como diabos as esqueci, já que
geralmente estão na minha bolsa, vou até o local da chave reserva. Jo é
péssima para lembrar os lugares das chaves, então ela me mostrou seu
lugar secreto da chave reserva, que fica no jardim sob uma pedra. Está
bem escondido e, a menos que você tenha ficado cavando por muito
tempo procurando, não o encontrará. Você teria que ter alguma
determinação para fazer algo assim.
Eu encontro a reserva e destranco o apartamento, entro e tomo um
banho antes de cair na cama. Eu mando uma mensagem para Tanner
antes de dormir, e ele me deseja uma boa noite, com um monte de
conversa sexy antes. Meu coração dispara e sorrio enquanto caio em um
sono agradável.
Eu acordo com o som de uma porta rangendo.
Por um momento, me pergunto se Jo está em casa, talvez ela e Pat
tenham brigado? Sento-me na cama e grito o nome dela, mas ninguém
entra. Uma porta range novamente. Desta vez é a minha. Eu vejo uma
figura sombria na porta, e todo o meu corpo congela. — Jo? — Eu digo
novamente. — É você?
A figura desaparece.
Tem alguém na minha casa.
Meu coração dispara e sinto que todo o meu corpo está congelado. Eu
não consigo me mover. Eu não consigo respirar. Eu não consigo
pensar. Eu não posso fazer nada além de olhar para a porta ligeiramente
aberta, me perguntando o que diabos eu devo fazer. Meus dedos tremem
quando me viro para pegar meu telefone. Algo se quebra na cozinha.
Oh Deus.
Pego meu telefone e tento desbloqueá-lo, discando para Tanner. Sua
voz sonolenta atende após alguns toques. — Tudo bem, querida?
— Há alguém na minha casa, — eu sussurro, apavorada.
— O que? O que você quer dizer?
— Eu ouvi alguém entrar, houve um som de batida e eu o vi na
porta. Eu estou assustada.
— Tem certeza que não é Jo? — ele me pergunta, e eu posso ouvi-lo
farfalhar.
— Eu tenho certeza.
— Ok, aguente firme. Eu estarei aí.
Eu não me movo, meus olhos firmemente fixos na porta, apenas
esperando alguém entrar e fazer algo horrível. É esta a pessoa que está
me atormentando? Eles estão aqui para piorar as coisas? Ou é outra
pessoa? Alguém apenas arrombando e entrando? Por que não os ouvi
tentando entrar? Como eles entraram? Tantas perguntas, todas
responderei quando Tanner estiver aqui e eu estiver segura.
Estendo a mão e pego a lâmpada da mesa de cabeceira. Não é muito,
mas se alguém entrar aqui, vou poder, no mínimo, lutar um pouco.
Então, eu apenas fico sentada como ele me disse, os olhos na porta,
e espero.
Eu espero e espero.
Não ouço nenhum barulho até que finalmente, cerca de dez minutos
depois, ouço a caminhonete de Tanner chegar e um momento depois, as
luzes da minha casa estão se acendendo e ele aparece na minha porta. Eu
não percebi o quão assustada eu estava até este momento. Eu fecho meus
olhos e meu lábio inferior treme. Eu solto a lâmpada e ela cai na minha
cama. Alguém estava em minha casa; qualquer coisa poderia ter
acontecido. Respiro fundo e me recomponho, e então abro os olhos para
ver Tanner de pé no final da minha cama, vestindo um par de jeans e
uma camisa de mangas compridas.
— Não consegui ver ninguém lá, mas quero que você se sente aqui
para que eu possa olhar o lugar, ok?
— Ok, — eu sussurro.
Ele desaparece e, cerca de cinco minutos depois, entra e me diz: —
Querida, não há nada que indique que alguém estava em sua casa. Sem
janelas quebradas. Nada aparentemente roubado ou quebrado. Tem
certeza de que não estava sonhando e apenas ficou desorientada?
— Não, não, eu estava bem acordada. Eu ouvi algo bater lá fora. Eu
vi uma figura na minha porta. Tenho certeza disso, Tanner.
Ele concorda. — Bem, sua porta da frente estava destrancada, então
se alguém entrou, é possível que tenha saído da mesma maneira. Mas
não faz muito sentido. Por que alguém entraria aqui e não faria nada?
Porque alguém está brincando comigo.
Alguém está tentando me levar ao limite.
Alguém está jogando.
— Eu não sei, — eu sussurro. — Eu sei que tranquei a porta da frente.
— Tem certeza?
Tento pensar no passado. Eu estava muito cansada. Lembro-me de
procurar a chave reserva. Lembro-me de entrar, mas talvez não tenha
trancado a porta atrás de mim. Não importa o quanto eu destrua meu
cérebro. Não consigo me lembrar se fiz ou não.
— Eu não sei, — eu digo, minha voz baixa. — Mas eu não estava
imaginando isso, juro.
Ele acena com a cabeça e caminha até a cama, tirando as botas e
agarrando sua camisa e puxando-a para cima e sobre a cabeça.
— O que você está fazendo? — Eu pergunto, trazendo o cobertor para
o meu peito.
— Baby, eu não vou deixar você aqui sozinha. É melhor ficar
confortável.
— Aqui, — eu digo, minha voz caindo mais baixo com o pensamento
do que pode acontecer. — Comigo?
Ele sorri. — Sim, aí, com você.
Oh garoto.
Isso deve ser interessante.
AGORA - CALLIE

— Sim, — Tanner rosna, dedos emaranhados em meu cabelo,


puxando apenas o suficiente para enviar uma picada agradável pelo meu
couro cabeludo. — Fode, sim, baby. É isso aí.
Eu deslizo minha boca para cima e para baixo em seu pau duro,
levando-o para dentro e para fora, relaxando minha garganta assim como
ele me encorajou. Estou amando cada segundo disso, desde a maneira
como ele rosna a cada poucos segundos, até a forma como seu pau se
sente na minha boca. A pele lisa como a seda me permite deslizar
facilmente. Uma mão está segurando suas