Nesse processo de culpa a pressão foi tanta que deu por si paralisado, no
lugar da pobre mulher cega e surda. Intuitivamente, associou o movimento de
alguém a vir na sua direção que logo reconheceu como sendo o miúdo que fora acusado injustamente pela D. Lucinda. Essa descoberta deveu-se à lembrança do cheiro único a praia que sentira somente ao entrar naquele pitoresco café aquando a presença do desventurado rapaz. Este ao chegar ao seu pé rasgou um grande abraço fazendo o forasteiro acordar. Com este disforme episódio teve a certeza de que precisava de agir o mais rapidamente a fim de inocentar o gaiato. Como de costume, na sua ida ao café, encontrou o rapaz, no entanto, decidiu convidá-lo a sentar-se com ele. Automaticamente, surgiu uma enorme empatia apercebendo-se quase instantaneamente da inocência do Martim. Durante esta longa conversa, este conta o marcante momento onde teria sido julgado como culpado. Com um profundo ar de tristeza, o Martim, aos poucos, foi desvendando o motivo pelo qual foi acusado: D. Lucinda teria o culpado de furtar os gatos do sem-abrigo que era conhecido por viver num mundo imaginário. Explicou também que, num dos seus biscates, entrou um dia no café e encontrou a D. Lucinda a realizar uma transação dos tais gatos por uma enorme quantia de dinheiro. Só que este foi notado a bisbilhotar a grande porta esbranquiçada da sala de descanso pondo-o como principal alvo a abater.