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ARTIGO

TRAJETÓRIAS DE DESLOCAMENTOS: EXPERIÊNCIAS E


NARRATIVAS DE MORADORES DA "RUA DO BURACO" NO
ESPAÇO URBANO DE IPATINGA-MG 1 • r

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INTRODUÇÃO CLÁUDIO MÁRCIO L. DE CASTRO * nagens centrais do conto de


conto "Os Dragões", Rubião são atraentes "chaves"

O
MAGDA DE ALMEIDA NEVES **
de Murilo Rubião interpretativas dos cenários e
(1998), tem como RESUMO das trajetórias sociais que se
Este trabalho constitui um estudo dos trajetórias constituem objeto deste tra-
cenano uma cidade na qual
socia is de trabalhadores que migraram poro balho. O cenário, a cidade de
o aparecimento desses seres
lpotingo, atraídos pelo implantação dos Usinas Ipatinga, em sua formação e
misteriosos gera muitas con- Siderúrgicos de Minas Gerais (USIMINAS), mos
desenvolvimento como pólo
trovérsias entre os moradores: que, não tendo sido formalmente incorporados
urbano-industrial, situado na
seriam eles "enviados do de- ao projeto sócio-urbanístico do Empresa,
Região Metropolitana do Vale
mônio", apesar da "aparência formaram o primeiro núcleo de pobreza urbano
do Aço, ao leste do Estado de
dócil e meiga"? Ou seriam do cidade: o Ruo do Buraco. Examinam-se,
Minas Gerais, a partir do final
"monstros antediluvianos"? O pois, no trabalho, os processos socioculturois e
da década de 1950, no bojo
estranhamento provocado pela os cenários urbanos nos quais os moradores do
Ruo teceram os suas trajetórias como requisito do processo nacional-desen-
presença dos dragões na cidade
fundamental para compreender o seu destino volvimentista de expansão e
acabou por sujeitá-los às mais social no cidade, passados mais 40 anos do
dinamização da indústria de
discrepantes idéias e práticas início do suo formação.
base no país. As trajetórias,
dos citadinos. Primeiramente,
ABSTRACT por sua vez, protagonizadas
ao encerramento "numa casa
por trabalhadores que migra-
velha, previamente exorcis- This work constitutes o study of the social
trajectories of workers who migroted to lpotingo, ram para a cidade buscando
mada, onde ninguém poderia
ottrocted by the implontotion of the Siderurgicol se integrar a esse emergente
penetrar"; depois à sugestão de Plont of Minas Gerais (USIMINAS), but since universo urbano-industrial
seu aproveitamento na tração they hove not been formolly incorporoted to e, não sendo formalmente
de veículos e, mais tarde ainda, the sociol-urbonistic project of the Compony incorporados ao projeto da
à tese de que deveriam receber os o consequence they formed the first nucleus moderna cidade traçada pelo
nomes na pia batismal e serem of urbon poverty in the city: "the Street of the arquiteto e urbanista Rafael
alfabetizados. Em meio a tantas Hole" . Therefore, rt rs exomined in the work, the Hardy Filho\ ali criaram seu
e diferentes interpretações, os sociocultural processes ond the urbon scenes in primeiro núcleo de pobreza:
which the inhobitonts of the Street hod woven its
dragões seguiam o curso da a Rua do Buraco.
trajectories os bosic requisite to understond its
vida, por vezes, abandonados, A implantação e o funcio-
social destinotion in the city, ofter 40 yeors from
noutras, embalando o conví- the beginning of its formotron. namento do empreendimento
vio com as pessoas, com seu siderúrgico que nascia da co-
* Mestre em Sociologia pela Universrdade Federal de
dom de vomitar fogo. Em suas Minas Gerais. operação técnico-financeira
trajetórias urbanas, a maioria nipo-brasileira, a USIMINAS
** Doutoro em Sooologra, professora do Programa
dos dragões morreu afetada por da Pontifício Universrdode Católico de Minas Gerais -Usinas Siderúrgicas de Minas
moléstias, enquanto os poucos (PUC-Minos).
Gerais - dependiam funda-
sobreviventes foram corrom- mentalmente do recrutamento
pidos na vida do lugar, numa "resistência surda" aos de força de trabalho operária para a região, que, do
ensinamentos morais que lhes foram dispensados. ponto de vista da ocupação humana, até então se
O cenário e as trajetórias ficcionais dos perso- constituía em um "vazio verde". Em pouco tempo, a

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então Vila Ipatinga- nascida em torno da Estação da de "higienização" da mesma se efetivou em meados
Estrada de Ferro Vitória-Minas, no início da década da década de 1990, mais precisamente no período de
de 1920, e da atividade de produção de carvão vegetal 1995 a 1998, por meio do projeto denominado "Novo
para abastecer os fornos da Companhia Belgo Minei- Centro". Embalado pela onda de iniciativas de "revi-
ra, iniciada na década seguinte- recebeu uma grande talização" de centros urbanos nas grandes metrópoles
leva de pessoas à procura de trabalho assalariado no mundiais e nacionais, o referido projeto foi desenvol-
sistema fabril. vido contando com recursos da Prefeitura Municipal
Formada por um amontoado de becos e ruelas, e financiamento do Banco de Desenvolvimento
a Rua do Buraco se constituiu, então, em um universo Econômico de Minas Gerais (BDMG) e do Banco
paralelo à "Cidade Usiminas", concebida no plano Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento
urbanístico de Hardy Filho como braço da produção (BIRD). 3 Por ter como objeto das intervenções um
industrial. Um universo destinado a abrigar os diver- espaço urbano historicamente ocupado, o processo
sos tipos sociais que chegavam à cidade-eldorado para de "revitalização" do centro implicou a retirada de,
explorar, de alguma maneira, as oportunidades que aproximadamente, 1200 famílias ali residentes.
ali surgissem, mas que acabaram por ficar à margem No período que antecedeu a aprovação do pro-
dos mecanismos formais de inserção social à época - jeto Novo Centro, 325 famílias foram "removidas" da
emprego e habitação (RIBEIRO, 1994)- assim como área, em razão de terem sofrido os impactos de uma
das políticas de assistência social em saúde, auxílio ali- grande enchente do ribeirão Ipanema, em 1993. A
mentação e crédito, dispensadas pela Empresa a seus maioria dessas, 187, fora indenizada pelas benfeitorias
trabalhadores formais. Um universo com identidade do imóvel de origem, ao passo que 51 famílias, que
sócio- territorial distintiva, que se compôs de diversos eram de inquilinos na área central, receberam ajuda
territórios, no qual, respectivamente, se desenvolviam financeira referente a um ano de aluguel, e outras 87
e preponderavam diferentes tipos de sociabilidades: foram reassentadas em outros bairros da cidade, em
o das famílias, o da criminalidade, e o do meretrício, moradias cujas dimensões variavam entre 20 e 29
ali implantado na década de 1960, para explorar o metros quadrados. 4 Com a aprovação do projeto Novo
r
tempo livre do enorme contingente de trabalhado- Centro, o processo de "remoção e reassentamento"
res, amontoados em alojamentos construídos pela dos moradores da Rua do Buraco seria objeto de um
empresa e suas empreiteiras. subprojeto habitacional específico, destinado a apro-
É, pois, sob a perspectiva do universo da Rua ximadamente 875 famílias remanescentes na área,
do Buraco e de seus moradores que analisamos o após a enchente. Cerca de 600 famílias residentes em
contexto de formação e transformação da cidade de áreas de risco (alagáveis e encostas) -aí considerando
Ipatinga. Uma Rua na qual transcorreram "episódios o atendimento de famílias moradoras de aluguel e a
pequenos, mas característicos dos processos a longo margem da contingência - foram reassentadas em
prazo e em larga escala a que costumamos referir-nos um novo bairro denominado Planalto 2, construído
com termos como 'industrialização', 'urbanização' a aproximadamente dois quilômetros do centro da
ou 'desenvolvimento comunitário"' (ELIAS, 2000, cidade. Metade dessas famílias, por ter a posse de seus
p. 68). Uma Rua pensada diacronicamente, em seu imóveis na área de origem, recebeu novas unidades
movimento de formação sócio-espacial e identitá- habitacionais prontas. A outra metade, que residia
ria, no curso do processo dialético de construção e na Rua na condição de inquilino, obteve novas casas,
crescimento da cidade de Ipatinga. Uma Rua fadada mediante a participação na sua construção em regime
a desaparecer da paisagem urbana, e ao esquecimento de mutirão, coordenado pela Prefeitura Municipal.
na memória coletiva, pela força do urbanismo voltado As demais famílias, que não foram reassentadas no
à construção de uma cidade moderna e disposto a dela Planalto 2, assim como os proprietários de imóveis
extirpar os elementos destoantes. que nela não residiam, foram indenizadas.
Depois de sucessivas tentativas de "desfaveliza- Passados mais de quarenta anos do início da
ção" da área, nas décadas de 1970 e 1980, o intento formação da cidade de Ipatinga, período no qual

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várias intervenções públicas de cunho urbanístico e Além do trabalho de memória dos referidos
social foram efetivadas, qual teria sido o destino dos moradores, para o alcance dos objetivos pretendi-
moradores da Rua do Buraco? Teriam sido, ou não, dos com a pesquisa, fez-se necessário ainda realizar
inseridos no tecido social e urbano da "cidade mo- ampla pesquisa documental em arquivos públicos
derna"? Quais teriam sido, para eles, as conseqüências e privados, bem como trabalho de observação em
sócio-culturais do projeto de "revitalização" do centro campo, sobretudo, em duas áreas nas quais parte dos
da cidade? E, enfim, como lembram e representam moradores da Rua se encontra assentada hoje: o bairro
suas trajetórias? Planalto 2; e a antiga Rua Araxá, onde funcionava a
O objetivo deste trabalho é refletir sobre essas zona boêmia, denominada Juá.
perguntas, procurando demonstrar que a trajetória Em síntese, a análise das trajetórias sociais de
dos moradores da Rua do Buraco é integralmente moradores da Rua assentou-se na investigação: 1)
marcada pela sua inclusão, subordinada à dinâmica dos cenários urbanos da cidade em que foram e são
sócio-econômica da cidade. O que significa dizer que, tecidos a "cidade", a "Rua" e os "bairros", entendidos
ao invés de socialmente excluídos, esses moradores aqui como estruturas condicionantes; assim como 2)
foram integrados à referida dinâmica, em posições e das representações de seus protagonistas acerca do
condições sociais que, além de não lhes possibilitar percurso social realizado, expressas nas lembranças
disputar efetivamente as vantagens sociais, contri- selecionadas e articuladas em suas narrativas.
buíram para retro-alimentar a lógica produtora de
desigualdades na cidade (DEMO, 1998). FRAGMENTAÇÃO ESPACIAL E
Para compreender a Rua em seu movimento e as SEGREGAÇÃO SOCIAL: A PRODUÇÃO DAS
experiências sócio-urbanas de seus moradores, ado- DESIGUALDADES
tamos como perspectiva metodológica fundamental Na "Cidade Usiminas" o espaço foi, então,
a investigação das trajetórias sociais de oito destes, dividido em bairros concebidos como unidades de
através do trabalho de memória 5 que realizaram. As vizinhança autônomas, destinadas a abrigar distinta e
trajetórias sociais dos moradores da Rua do Buraco separadamente os funcionários da empresa, de acordo
são essencialmente marcadas pela experiência de com as suas posições na escala hierárquica. Essa con-
deslocamentos, pensados em suas dimensões espacial, cepção implicava cada bairro possuir suas próprias
temporal, social e identitária. Deslocamento é uma áreas de comércio, educação e lazer, apostando-se,
noção aqui compreendida no sentido do desarticular- com isso, na criação de várias centralidades como me-
se de algo e/ou de algum lugar, que expressa, em boa canismo de dispersão e de segregação sócio-espacial
medida, as experiências do sujeito moderno em um dos diferentes segmentos populacionais.
universo no qual, como disse Marx6 , "tudo o que é Entretanto, fratura maior logo se constituiria
sólido desmancha no ar'~ entre o espaço da cidade que emergia sob o signo
As trajetórias dos moradores da Rua constituem, da modernidade e as áreas não-incorporadas ao
pois, experiências singulares cujas interpelações de plano urbanístico da Empresa, sobretudo o povoado
processos históricos, movidos basicamente pelas mes- pré-existente, sintomaticamente chamado "Ipatinga
mas variantes sócio-econômicas e culturais, acabaram Velha". Esses dois universos paralelos em termos de
por gerar a interconexão entre diferentes temporalida- infra-estrutura urbana - habitados por diferentes
des em um lugar- a Rua do Buraco. Por isso, embora classes sociais - inscreviam, assim, as marcas das
singulares, essas trajetórias têm como experiência diferenças sociais no espaço urbano da cidade. De
comum: a migração para Ipatinga; a habitação num um lado, a "cidade planejada" dos trabalhadores da
território segregado sócio-espacialmente, o que lhes USIMINAS, dos "segmentos formalmente integra-
conferiu o estigma da impureza e do perigo e, por fim; dos" ao sistema sócio-econômico vigente; do outro,
as conseqüências sócio-culturais da remoção do seu a "cidade espontânea", habitada, majoritariamente,
lugar de vida por ocasião do projeto de "revitalização" por trabalhadores que mantinham uma relação de
do centro da cidade. externalidade com o modo de produção capitalista,

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e viviam em precárias condições sócio-ambientais Por se configurar como um lugar de precárias
(RIBEIRO, 1994). condições urbanístico-ambientais, no qual se cris-
Inicialmente, cerca de dez mil trabalhadores talizou a primeira imagem da pobreza urbana em
foram recrutados pela política de recursos humanos Ipatinga e, sobretudo, por ter sido um espaço aberto
da USIMINAS. Porém, apenas parte desses traba- ao abrigo de todos os tipos sociais que chegavam
lhadores foi assentada no espaço urbano, segundo à cidade, a Rua do Buraco tornou-se socialmente
o plano elaborado e executado pela Empresa. Pois, a segregada e, com efeito, adquiriu uma identidade
estratégia de recrutamento adotada pela mesma era distintiva. Pois, nos termos de Marcuse (2004), a
a de arregimentar mais trabalhadores do que efeti- segregação é o "processo pelo qual um grupo popu-
vamente demandava, de modo que pudesse realizar lacional é forçado, involuntariamente, a se aglomerar
a seleção de pessoal com margem significativa para em uma área espacial definidà' (MARCUSE, 2004,
substituição. p. 24). Os moradores da Rua eram, em sua grande
Em decorrência desse procedimento, formou-se maioria, trabalhadores informais, com baixos níveis
uma reserva de mão-de-obra no sítio em que esta- de escolaridade, qualificação profissional e renda,
va instalada a Empresa, ou, nos termos marxistas, integrados de forma subordinada ao sistema sócio-
econômico vigente.
um "exército industrial de reserva" que, além de se
A lida em condições sociais adversas e a circuns-
constituir em forte entrave à organização da classe
crição da vida ao mesmo "buraco social" resultaram
operária, deu origem ao primeiro contingente de
na emergência de diversos tipos sociais, com seus
pobres na cidade. Esse excedente programado de
modos de vida, valores e sociabilidades, os quais
trabalhadores não incorporados imediatamente às
produziram diferentes territorialidades no espaço da
atividades produtivas formais protagonizou a consti-
Rua. Dentre esses tipos sociais, os mais comuns eram
tuição de diversas atividades econômicas informais, a
figurados pelo trabalhador informal, "biscateiro"; a
ocupação desordenada e precária de espaços urbanos, dona de casa; a cafetina; a prostituta; o boêmio; e o
dando origem aos primeiros núcleos de pobreza da malandro. Este último, um personagem que, no uni-
cidade - verdadeiros universos de negação à pretensa verso simbólico social do período desenvolvimentista
"civilidade urbana" que haveria de resultar do projeto nacional, se constituía na expressão da ociosidade e
de sua construção. da esperteza. Mais do que às representações sociais
A implantação e urbanização de Ipatinga da pobreza, o malandro era associado à indisciplina,
transcorreram, pois, como parte do amplo processo aos interstícios entre a ordem e a desordem, ao não-
de transformação da antiga sociedade rural expor- trabalho (SCOREL, 1999, p. 37).
tadora, e a emergência de uma complexa sociedade Portanto, no cenário de uma cidade que desde a
urbano-industrial. Processo que, embora marcado origem se fizera fragmentada sócio-urbanisticamente
por um razoável grau de mobilidade ocupacional e de e desigual, para os moradores da Rua sobrou a se-
integração à vida urbano-industrial, caracterizou-se gregação sócio-espacial e a impressão do estigma
pelo surgimento de um "vasto, instável e heterogê- de sujos, promíscuos e violentos. Para o seu lugar
neo contingente de trabalhadores pobres urbanos, de vida, a discriminação social, principalmente por
inseridos em variadas formas precárias de produção conter entre seus diversos territórios um dedicado
e sobrevivência" (RIBEIRO, 1994, p. 263-264). exclusivamente à boemia.
Desde cedo, o "velho" núcleo da cidade se cons-
tituiu, no cenário da cidade moderna, o que Lefebvre
A BUSCA DA CURA: A CIDADE COMO
denomina uma "heterotopia"- "o outro lugar e o lugar ORGANISMO, A RUA COMO PATOLOGIA
do outro, ao mesmo tempo excluído e imbricado. Or- Nas décadas de 1960 e 1970, o processo de pro-
dem distante", em relação à isotopia - "os lugares do dução e apropriação do espaço urbano em lpatinga
mesmo, mesmos lugares", representada pela "Cidade se deu em um ritmo aceler?do, ditado pelas elevadas
Usiminas" (LEFEBVRE, 2000, p. 120). taxas de crescimento da população. 7 Esse processo

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foi marcado por agudas disputas entre alguns poucos dade enquanto concentração de mão-de-obra e como
agentes políticos-econômicos locais, que operavam centro de negócios, oferecendo uma infra-estrutura
no ramo imobiliário por meio da concentração devas- contendo os efeitos úteis de aglomeração, necessários
tas extensões de terra, com objetivos especulativos e ao crescimento industrial" (RIBEIRO, 1994, p. 111 ).
políticos. Além da estrutura fundiária concentradora, Por isso, nas décadas de 1970 e 1980, a área
que forçou a cidade a se expandir prematuramente ocupada pela Rua do Buraco seria alvo de sucessivas
para áreas mais distantes do centro, outros dois fato- tentativas de "desfavelamento", todas elas fracassadas ,
res articulados entre si se fizeram importantes nesse entre outros fatores, por incorporarem, de forma as-
processo: I) a USIMINAS e a sua infra-estrutura sistencialista e pontual, o enfrentamento da questão
viária voltada à garantia da eficiência da produção da pobreza que a encerrava.
siderúrgica e a auto-suficiência em infra-estrutura ur- É interessante notar que em análise técnica ins-
bana (água, energia, etc.), habitações e equipamentos crita no diagnóstico realizado para subsidiar a elabo-
sociais para reter e manter ativa a força de trabalho; e ração do Plano Diretor da cidade, em 1991, afirma-se
2) a dominação política exercida por grupos conserva- que a proposta de "desfavelamento" da década de 1980
dores da região, até o final da década de 1980, diga-se, pretendia realizar uma "cirurgia urbana visando dar
de proprietários rurais, que assumiram diretamente o à cidade um centro 'moderno' em total consonância
poder público municipal. com a imagem obtida através do sistema viário",
Nesse processo, o poder público municipal, implantado no final na década de 1970. Porém, se
mesmo após a emancipação político-administrativa disse ainda, em tal análise que: "a proposta atenderia
do "distrito Ipatingà', em 1964, desempenhou um primordialmente aos interesses imobiliários, não re-
papel subordinado e complementar. Nem por isso, solvendo a grave questão habitacional e fundiária da
as freqüentes mutações do espaço urbano da cidade, área central", e que o mérito da mesma restringia-se,
decorrentes da sua acelerada ocupação, deixaram de apenas ao fato de tornar pública "a premente discussão
recair como demandas prementes por investimentos sobre a revitalização da área e sobre qual imagem o
do poder público para implantação de adequada centro de Ipatinga deve refletir': 8
infra-estrutura e serviços urbanos, equipamentos A ocupação de considerável parte da área central
públicos e sociais, sistema viário, dentre outros. As pelos denominados "moradores do buraco" se cons-
respostas a tais exigências se consubstanciavam em tituía em um entrave à sua apropriação pelo capital
intervenções sempre mais voltadas à manutenção imobiliário, o qual as classes dominantes, incrustadas
do ideário de cidade moderna do que à inclusão das nas estruturas estatais, buscaram superar por meio de
populações periféricas ao tecido urbano da cidade. dois artifícios fundamentais: as representações estig-
Não por acaso, denominou-se "Cura Ipatinga" matizantes da população ali residente, como forma
o projeto por meio do qual a Prefeitura Municipal de legitimar suas propostas de "desfavelização" da
iniciou, na década de 1970, o saneamento do vale área; e, o uso recursivo do aparato da polícia estatal,
do Ribeirão Ipanema, com o objetivo expresso de para pressionar os moradores da Rua a se retirarem
promover a integração da população de Ipatinga, des- da área.
caracterizando a área não planejada como 'periferia' Assim, se a cidade, vista como organismo, refor-
da cidade da USIMINAS. çava a idéia do planejamento como ação global em um
Contudo, e a despeito dos objetivos declarados, sistema regido por leis, a sua perturbação implicava
a extensão do cenário próprio à "cidade da Usiminas" patologias sobre as quais deveriam ser aplicados os re-
a outras áreas pretendia tão-somente uniformizar o médios necessários ao restabelecimento da harmonia
espaço urbano em consonância com o projeto de do corpo urbano. Nesse sentido, o processo histórico
cidade moderna e, assim, o subordinar aos interesses de formação e desenvolvimento urbano de Ipatinga
da acumulação capitalista. Objetivo esse alinhado à transcorreu segundo uma lógica que combinou,
concepção da city efficient, que emerge no início do tensa e contraditoriamente, o enfrentamento entre
século XX, para defender "a função econômica da ci- a intenção de "apagar" a Rua do Buraco do cenário

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urbano- posto que[?] representava a negação da sua segundo mandato, por seguir o receituário do plane-
pretensa racionalidade- e a necessidade de integração jamento estratégico em voga nas grandes metrópoles
subordinada e funcional de seus moradores, uma vez nacionais e mundiais. O governo municipal assim se
que se constituíam em força produtiva fundamental mobilizou, no sentido de converter a cidade em um
aos interesses da cidade formal. ator político que, no plano econômico, deveria se
colocar em condições favoráveis para a disputa por
O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E A investimentos com as outras cidades do país. Nou-
RESSIGNIFICAÇÃO DO DISCURSO DE tros termos, deveria criar atrativos infra-estruturais,
MODERNIZAÇÃO DA CIDADE fiscais e socioculturais para investidores e usuários
A emergência de novos atores políticos e sociais, solventes.
em meados da década de 80, dispostos a participar A alteração das paisagens urbanas se constitui-
da definição dos rumos de uma cidade ainda em for- ria, assim, em uma das primeiras medidas administra-
mação e desprovida de um arranjo institucional que tivas, buscando-se construir, simbolicamente, novos
viabilizasse a participação dos diferentes segmentos e referentes identitários para a cidade. Convertidos em
grupos sociais que compunham a população, se con- vantagens comparativas por meio do marketingpúbli-
substanciou como uma corrente contra-hegemônica co, esses novos símbolos se tornariam fundamentais
que promoveria a mudança da correlação de forças na promoção da retomada econômica da cidade, face
políticas, no âmbito do poder local. Organizados em à crise econômica e institucional global.
um movimento de esquerda de amplas bases (sindi- Não por acaso, o ribeirão Ipanema, que nesse
cal, partidária, religiosa e comunitária), esses atores contexto "cortava" a cidade com suas águas poluídas
formularam um discurso fortemente marcado pelo pelas contribuições de efluentes líquidos industriais
enfretamento da USIMINAS, inscrevendo, assim, em e sanitários, seria apropriado pela administração mu-
sua plataforma política a necessidade de promoção nicipal como símbolo das intervenções urbanísticas
da autonomia do poder público municipal em relação que se realizariam na urbe. Os territórios segregados
à Empresa. presentes no espaço geográfico da cidade, desde o seu
Capitaneado pelo Partido dos Trabalhadores nascedouro, seriam, assim, reunidos sob um mesmo
(PT) 9, o referido movimento conquistou a Prefeitura signo, o rio, significado como um símbolo da cidade:
e vários assentos no Legislativo, nas eleições muni- o Pouso de Água Limpa, terminologia apropriada do
cipais de 1989, inaugurando um mandato Executivo vocabulário dos mais antigos habitantes da região,
que se estenderia até o ano de 2004. O discurso que os índios Botocudo, para designar o novo ciclo de
conduziu o PT à vitória era marcado por algumas desenvolvimento de Ipatinga.
idéias centrais: I) a necessidade de superação da Além de artifício simbólico-discursivo, por meio
opressão imposta aos operários, nas relações de do qual se buscava representar a unidade de uma
trabalho e na política sindical; 2) a necessidade de cidade fragmentada sócio-espacialmente, o ribeirão
se minimizar os impactos ambientais gerados pela Ipanema se constituiu referência concreta para pro-
produção siderúrgica; 3) a necessidade de inverter jetos voltados à transformação da paisagem urbana.
prioridades, provendo de infra-estrutura e serviços Em suas margens, na altura da área central da cidade,
urbanos a parcela da cidade que crescera desorde- realizaram-se importantes intervenções, a partir da
nadamente; e 4) a necessidade de se instaurar no década de 1990. Primeiramente, a consolidação do
município um governo "democrático-popular", capaz Parque Ipanema 10 , um complexo de lazer projetado,
de criar e implantar mecanismos de democratização ainda na década de 1980, por Roberto Burle Marx.
do planejamento da cidade. Em seguida, em 1995, em uma nova investida da ad-
No entanto, inserido num contexto em que ministração municipal, o projeto de "revitalização" do
operavam profundas transformações político-eco- centro da cidade. Trata-se, neste caso, da atualização
nômicas em escala mundial, o governo do Partido de um velho projeto acenado pelas classes sociais que,
dos Trabalhadores, em Ipatinga, optou, desde o seu por trinta anos, se fizeram politicamente dominantes:

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a higienização da área central da cidade e a sua inte- Juá, na Rua do Buraco, mas fracassaram em função do
gração ao conjunto das forças produtivas, a partir da descompasso entre as intenções grandiosas do projeto
"remoção" da população que ocupava, irregularmen- de "revitalização" e o fôlego político-institucional e
te, a sua parte baixa - a "Rua do Buraco': econômico necessário à sua efetivação.
É, pois, no conjunto das ações estratégicas Além de se inscreverem no conjunto de ações
desenvolvidas pela administração municipal de concertadas entre o Poder Público e a iniciativa
Ipatinga, no sentido de construir novos referentes privada, a localização e os usos que esses projetos
identitários para a cidade, que se deve situar o projeto arquitetônicos buscavam conferir à área evidenciam
Novo Centro. Um projeto que, embora sem a escala e o caráter enobrecedor que se pretendia imprimir
o potencial das intervenções realizadas nas grandes ao empreendimento de "revitalização" do centro da
metrópoles nacionais e mundiais, seguiu a tendência cidade. Ressalte-se que, a despeito do uso indiscrimi-
da ressignificação dos espaços urbanos que marcam nado do termo "enobrecimento" na caracterização de
tais intervenções, de modo a torná-los convidativos projetos de revitalização de áreas centrais em grandes
do ponto de vista turístico e comercial~ 1• cidades, não há porque hesitar em considerar como
O projeto Novo Centro foi, pois, nesse novo con- "enobrecedores" os objetivos e, em menor medida, os
texto, em termos de intervenção urbana, a primeira de efeitos do projeto Novo Centro no espaço urbano em
um conjunto de ações concertadas da parceria entre que foi efetivado. Isso porque, hoje, já não se restrin-
a iniciativa pública e a privada na cidade, na maioria ge a utilização do termo apenas a situações em que
das vezes, com financiamento público. Portanto, se procede a reabilitação do estoque arquitetônico
a denominada "revitalização do centro urbano de existente em uma área, a fim de torná-lo passível de
Ipatinga" nos oferece importantes pistas acerca das reapropriação por parte da população e do capital e,
configurações do poder local face às condicionantes com efeito, inserir a cidade em melhores condições na
político-econômicas da globalização. Obviamente, "concorrência inter-cidades': Seu uso tem-se estendi-
esse conjunto de iniciativas, congruentes à hegemo- do à designação dos efeitos gerados por construções
nia do ideário neoliberal mundo afora, só se tornaria totalmente novas. O conceito, assim, se alargou assu-
integralmente perceptível mais tarde, como uma peça mindo a configuração adotada por Leite (2004), em
musical cuja melodia só se pode apreciar integral- consonância com Harvey (1992) e Zukin (1995): de-
mente mediante a sucessão rítmica e harmônica de signa "formas de empreendimentos econômicos que
cada nota. elegem certos espaços da cidade como centralidades
Além da privatização da USIMINAS, em e os transformam em áreas de investimentos públicos
1991, vários signos da modernidade foram, no e privados" (LEITE, 2004, p. 61).
referido período, sucessivamente implantados em Com efeito, a concepção presente no projeto
Ipatinga 12 . O embevecimento com tais signos, que em- urbanístico de Ipatinga começa a ganhar novo fôlego
balou importantes transformações no espaço urbano, e feições mais modernas, ou pós-modernas: fazer da
político-econômico e cultural da cidade, estimulou cidade uma rica fronteira a ser explorada pela inicia-
a elaboração de dois grandes projetos, que merecem tiva privada, enfim, uma "cidade aberta". Então, uma
aqui uma análise mais detalhada em função da sua cidade gerida com estilo empresarial, fruto da coaliza-
relação com os esforços da parceria público-privado ção de interesses entre o mundo dos negócios, a mídia
com objetivo de "revitalizar" o centro da cidade: o e a burocracia pública, e empenhada em projetar sua
Museu do Aço, destinado a "resgatar a memória da auto-imagem moderna para potenciais investidores.
mineração e da siderurgia no Brasil, além de ser um Dois agentes político-econômicos locais se incum-
centro de excelência e tecnologia do aço" (Jornal biram de coordenar esse processo, empunhando o
Diário do Aço. Revista Vale do Aço 2000: Um século emblema da "parceria": a Prefeitura Municipal e a
de história. Ipatinga/MG, 1999, P. 121); e o Mercado empresa USIMINAS.
Modelo Municipal. Ambos tinham a implantação pre- Portanto, a partir da década de 1990, as práticas
vista no espaço onde se localizava a zona boêmia do discursivas se voltaram à construção da sempre reno-

CASTRO, C. M. L. de e NEVES, M. de A. Trajetórias de deslocamentos ... , p. 97 - 113 1103


vada idéia de "modernização da cidade': como uma e comercial do município. Os próprios
embalagem de iniciativas que se traduziram, concre- resultados verificados até agora, com
tamente, na transformação da paisagem urbana; na
a eliminação das tragédias e a grande
indução de novos modos de vida, relacionados a novas
valorização imobiliária, comprovam
formas de viver, imaginar e representar a cidade; e, por
esses avanços. É importante ressaltar
fim, na desregulamentação da economia local, isto é,
na investida pela supressão dos entraves à acumulação que no bojo do projeto estão incluídas
capitalista. Como lembra Maricato "em nível local a modernização institucional, a
o 'Plano Estratégico' cumpre o papel de desregular, informatização dos setores da Prefeitura
privatizar, fragmentar e dar ao mercado um espaço e a elaboração de um planejamento
absoluto" (MARICATO, 2002, p. 59). estratégico (jornal Diário do Aço.
Seguindo o roteiro do Plano Estratégico, a Revista Vale do Aço 2000: Um século de
legitimação da "onda modernizadora" por parte da história. Ipatinga/MG, 1999, p. 139).
população foi mediada por um processo persuasivo,
assentado em dois pilares fundamentais: de um lado, A efetivação do projeto Novo Centro signifi-
a disseminação da consciência de crise (social e eco- cou, conseqüentemente, a indução de novos usos
nômica), cujos efeitos locais mais evidentes foram a e a atração de novos usuários para o espaço então
elevação do desemprego, da violência e da pobreza reestruturado. Em um dos lados da avenida central
urbana; e, de outro, a fabricação do consenso em ali construída, vêm se instalando, gradativamente,
torno da idéia segundo a qual, o enfrentamento dos empreendimentos comerciais e de outros serviços. No
desafios da globalização passava, necessariamente, outro lado, às margens do ribeirão lpanema, a ampla
pela "modernização" da cidade, sendo a renovação calçada e as quadras poliesportivas construídas têm
urbana um atalho (VAINER, 2000). figurado, até então, como enormes espaços vazios. Há,
A despeito de se constituir um problema objetivo ainda, um outro espaço reestruturado pelo projeto,
que, recursivamente, afligia a população da Rua do cujo uso proposto é essencialmente para o lazer. Além
Buraco, provocando perdas humanas e materiais, a de uma ampla área livre, destinada à realização de
enchente de 1993 foi, oportunamente, tomada pela eventos de massa e à instalação de circos e parques de
administração municipal como acontecimento e mo- diversão, na qual se construiu também uma Estação
mento propício para justificar o projeto Novo Centro de acesso a um exemplar de Maria Fumaça, uma relí-
junto aos órgãos financiadores. Ela serviu como fator quia apropriada como atração turística, a qual, desde
de forte apelo emocional à população da cidade. A então, passou a percorrer a estrada de ferro "caminho
ampla cobertura da enchente na mídia local e regional das águas': às margens do Ribeirão Ipanema, na cir-
representou não apenas a oportunidade de publicizar cunscrição do Parque de mesmo nome.
mais uma catástrofe experimentada por uma popula- Assim, a discussão sobre "qual imagem o cen-
ção já sofrida, mas, sobretudo, de evidenciar a solução tro de Ipatinga deveria refletir", suscitada nas décadas
urbanística para uma "velha doença social e urbana" de 1970 e 80 com as propostas de "desfavelização"
da cidade. Observe-se o discurso do ex-Prefeito João da área, ressoaria, mais tarde, com o mesmo viés
Magno: discriminador com o qual as elites olhavam as ditas
Do ponto de vista urbanístico a cidade "classes perigosas': O diferencial reside no discurso
ganhou um verdadeiro centro, pois, de justificação da retirada da população da área:
anteriormente, aquela região era
"ao invés de 'desfavelizar: 'modernizar' a cidade" foi
assumido como um objetivo alinhado aos tempos de
apenas um aglomerado de ruas e
globalização.
casebres que abrigavam famílias pobres,
Nota-se, pois, a perpetuação de um interesse-
desempregados e marginais. O Novo
projeto entre grupos políticos de diferentes e diver-
Centro também trouxe vantagens na gentes matizes ideológicos, que se fizeram presentes
ampliação das áreas de serviço, de lazer na cena política local, em diferentes contextos his-

]041 REVISTA DE Ci1NCIAS SOCIAIS v.37 n.2 2006


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tóricos. Maricato aponta duas razões cruciais para por populações de baixa renda; 2) a permanência no
designar a "confusão ideológica" que teria ocorrido centro, em uma de suas poucas ruas remanescentes,
em "cidades progressistas", dobradas aos encantos do uma vez não incorporados no plano de remoção e
Plano Estratégico. Primeiro o fato de a participação reassentamento do projeto; 3) a troca do imóvel de
democrática ser extremamente valorizada em suas origem por outro, em núcleos habitacionais situados
diretrizes, embora seja uma participação que "implica em bairros já existentes - Bethânia; Vale do Sol; Alto
em subordinação dos interesses de muitos aos inte- Iguaçu; e Bom Jardim; 4) mudança para o bairro Pla-
resses hegemônicos: unidade para salvar a cidade e nalto 2, seja obtendo nova unidade habitacional em
levá-la a uma vitória sobre as demais que competem troca pelo imóvel que possuíam na Rua do Buraco,
pelos mesmos investimentos" (MARICATO, 2002, p. ou mediante a participação na construção da nova
60). Segundo, o fato desse planejamento ter ocupado morada, em regime de mutirão.
o espaço deixado pelo plano modernista, fragilizado Ao negligenciar os demais e diferentes destinos
num contexto marcado pela desregulamentação e a da população interpelada pelo projeto de "revitaliza-
crise fiscal. Nesse sentido, o Plano Estratégico teria ção" do centro, o discurso oficial não apenas induziu
aparecido como uma alternativa pragmática, para a uma visão parcial da experiência, como a que se
governos municipais desnorteados, face ao aumento perdesse de vista os seus reais efeitos, em termos da
do desemprego e das demandas sociais, simultanea- superação da segregação sócio-espacial que afligia os
mente à diminuição dos recursos públicos nacionais, moradores da Rua do Buraco. E, mesmo a premiada
decorrente da crise do capitalismo internacional. experiência de construção do Planalto 2, foi marcada
por uma concepção reducionista, por parte do go-
A "REVITALIZAÇÃO" DO CENTRO E O
verno municipal, pois se restringia à realização das
DESTINO DOS MORADORES DA RUA obras físicas. Somente dois anos após a construção
É preciso, pois, perguntar pela extensão do do bairro, se iniciaram as ações de desenvolvimento
projeto Novo Centro, no que se refere ao destino dos da comunidade, por meio do denominado projeto de
moradores da Rua do Buraco, uma vez que ele repre- "Fortalecimento da comunidade do Planalto 2". Pro-
senta uma forte ruptura no curso de suas trajetórias jeto esse que só se efetivou porque uma Organização
de vida. O exame do discurso inscrito no marketing Não -- Governamental que em 1997 havia realizado
público acerca do projeto evidencia que as referên- estudo sobre os bolsões de pobreza da cidade, sob
cias ao destino dos moradores da Rua se restringem encomenda da Prefeitura Municipal, captou recursos
ao bairro Planalto 2, cuja experiência de construção junto ao Ministério das Relações Exteriores da Itália.
valeu à Prefeitura Municipal o prêmio "Gestão Pública Essa postura da administração municipal se reflete
e Cidadania': oferecido pela Fundação Getúlio Vargas na declaração de Fátima, moradora do bairro, em
e pela Fundação Ford. Ademais, a experiência ren- entrevistada que nos concedeu: "Aqui, nós estamos
deu à Prefeitura de Ipatinga o reconhecimento, pelo esquecidos':
Banco Mundial e pelo BDMG, como referência para Desloquemos a atenção para as famílias que
iniciativas semelhantes na América Latina. Portanto, permaneceram no centro, na antiga Rua Araxá,
o viés restritivo adotado pelo discurso do marketing cujo nome fora substituído por "Nossa Senhora das
público acerca da experiência acabou por salientar Graças", em um esforço deliberado de depuração da
suas dimensões consoantes às recomendações práticas memória coletiva, uma vez que ali funcionou, até o
dos organismos que a financiaram. início da década de 1990, a zona boêmia do Juá. Se a
No entanto, a execução do "sub-projeto de re- poligonal traçada no projeto de revitalização do cen-
moção e reassentamento" culminou em quatro tipos tro implicou a "remoção" de cerca de mil e duzentas
básicos de encaminhamentos/destinos dos morado- famílias da área central, ela, contudo, passou ao largo
res: 1) o recebimento de indenização pelo imóvel de de algumas famílias residentes na referida Rua.
origem, e a mudança para diferentes bairros da cidade, A ação habitacional do projeto Novo Centro
na maioria das vezes, distantes do centro, e habitados incorporou apenas as famílias residentes em um dos

CASTRO, C. M. L. de e NEVES, M. de A. Trajetórias de deslocamentos... , p. 97 - 113 1105


lados da então Rua Araxá. Em meio a uma paisagem por itinerários construídos pelas próprias famílias.
depurada, a fração remanescente da antiga Rua Ara- Situação essa que se pode entender como expressão
xá acabou por se transformar, nos termos de Milton de sua liberdade ou ainda como uma condicionante
Santos (2004), em uma "rugosidade", ou seja, em que impõe às suas vidas a perda de antigas redes de
uma "herança sócio-territorial", em um "resíduo do sociabilidade, entendidas como patrimônios que
passado" (SANTOS, 2004, p. 43). Resíduo esse que, de possibilitavam amenizar os riscos sociais.
certa forma, se constitui um obstáculo para o intento Das ruínas da memória dos moradores da Rua,
civilizador/modernizador do planejamento urbano. passados mais de quarenta anos de sua formação,
Por seu forte contraste com a paisagem depurada compreendemos que seu lugar-destino social resulta
implantada do outro lado da Rua, em pouco tempo da produção de um esquecimento que teve como
essa porção remanescente da rua ficou conhecida, na seu ponto culminante o projeto de "revitalização" do
opinião pública, como "cracolândia", e seus pobres centro de Ipatinga. Do ponto de vista das conseqü-
residentes, esquecidos pela política habitacional, por ências sócio-culturais desse projeto para a vida dos
morarem a poucos metros da poligonal que compre- moradores, uma palavra pronunciada pelos entrevis-
endia o projeto urbanístico, sujeitos a um estigma tados desta pesquisa para designar tais conseqüências
re-editado- de "promíscuos" e de "drogados". A con- pode ser elucidativa: "espalhados': O projeto estatal
dição de vulnerabilidade social em que se encontra provocou não apenas a separação dos moradores
parte significativa desses moradores se expressa na e destes de seu lugar de vida, implicando ainda o
insegurança e precariedade das condições habita- desmonte de suas redes de sociabilidade e estratégias
cionais, em função dos riscos físicos e da ameaça de de sobrevivência, a ruptura de sua historicidade e
despejo, por parte dos supostos proprietários dos identidade coletiva.
imóveis; nos baixos níveis de renda e escolaridade; na Mesmo talhados pelos tantos deslocamentos
desestruturação familiar; e na sua flagrante exposição geográficos, sociais e identitários vividos ao longo
ao risco de violência. de suas trajetórias sociais, os moradores experimen-
Os demais núcleos habitacionais construídos taram a sensação de terem sido apanhados por uma
para reassentar os moradores da Rua do Buraco avalanche capaz de revirar suas referências de espaço-
foram introduzidos no seio de bairros periféricos e tempo. Uma sensação de desenraizamento, cara às
densamente ocupados por populações pobres. Nes- suas identidades pessoal e social. Talvez a expressão
tes, as ações pós-reassentamento se reduziram a um mais emblemática dessa experiência, por nós escuta-
acompanhamento pontual, em função da demanda da, tenha sido proferida por Wilson, proprietário de
dos moradores. Diferentemente da situação daqueles um boteco remanescente da zona boêmia do Juá: "o
que se mudaram para o Planalto 2, nestes casos as progresso matou a gente': A figuração da morte nessa
dificuldades de reintegração social a um novo espaço expressão se emoldura no cenário da Rua boêmia
não passaram pela necessidade de enfrentamento da em cuja vivacidade das experiências criava para seus
rejeição social da vizinhança ali já assentada. Pri- protagonistas a noção de sua duração. Nesse sentido,
meiro, por serem poucos no meio de contingentes implícita em seu discurso está a idéia de um deslo-
populacionais maiores. Segundo, porque igualados camento temporal, em histórias pessoais e coletivas,
na condição social de pobres. provocado pelo progresso. Progresso este que, dada
Situação de maior vulnerabilidade social seria, força de suas representações em circulação na opinião
entretanto, experimentada pela grande maioria dos pública, é percebido como um processo inexorável,
moradores que foram indenizados. Compelidos ou que ora se apresenta como uma avalanche.
decididos a tal opção, nesses casos enfrentaram não A imagem por meio da qual Wilson procura
apenas os riscos inerentes ao mercado imobiliário representar o "progresso" é a de um fenômeno trai-
informal na aquisição de suas novas moradas. A çoeiro, que aparece na vida das pessoas trazendo
re-inserção sócio-espacial, em geral em lugares pe- promessas de felicidade, mas que pode lhes reservar a
riféricos e por vezes impróprios à habitação, se deu "morte". Seu golpe fatal teria sido a "revitalização" do

1061 REVISTA DE OtNCIAS SOCIAIS v.37 n.2 2006


centro da cidade e o desmonte do universo da Rua do promoveu, inclusive, a transformação de valores
Buraco. O mesmo progresso que lhes propiciou a reti- morais da sociedade.
rada das duras relações rurais em declínio e a inserção
no universo urbano-industrial, palco das promessas Isso aqui [zona boêmia do Juá] o coro
da modernidade: o cinema que os encantava, os car- comia, rapaz. Nossa mãe! Eu via aquilo,
ros cuja circulação os paralisava, sobretudo quando rapaz, e ficava assim olhando aquele
ainda "meninos da Ruà: ou a urbanização que os fazia negócio, pensava: 'Pôxa .. .'... Eu não,
deslocar pela cidade, em explorações de descobertas naquela época quase todos que morava
deste novo cenário; e ainda a possibilidade de acesso aqui pensava: 'Esse lugar não acaba
a bens de consumo durável, embora na maioria das
nunca! Nunca mais isso acaba!' Deus me
vezes frustrada, os quais quando obtidos com muito
perdoa, eu achava que aquilo era bom .. .
trabalho eram usufruídos sob a ameaça de sua perda
bom (depoimento verbal). 14
nas cheias do ribeirão Ipanema.
As narrativas que se seguem expressam em boa À medida que tempo/espaço compõem o quadro
medida o que estou chamando de da experiência de no interior do qual o sujeito se re-conhece, a perda
deslocamento espaço-temporal. Comecemos por do espaço torna a identidade vacilante. Isso porque "a
Joventino, ex-morador da Rua do Buraco, indeniza- mobilidade do espaço e das coisas nele situadas e a in-
do, e que hoje mora no bairro denominado Vale do determinação dos lugares desorganizam referenciais':
Sol. As mudanças a que se refere em sua trajetória dissolvendo, com isso, a estabilidade fundamental
não se restringem ao lugar de vida, mas, sobretudo, ao sentimento de pertença e ao re-conhecimento
ao tempo em que se reconhecia integrado sócio- identitário (D'ALLÉSIO, 1998, p. 272). Nesse sentido,
territorialmente. os processos articulados de apropriação do espaço
urbano e enquadramento da memória da cidade
Eu achei que eu ia morrer ali [na Rua]. de Ipatinga por seus grupos dominantes reforçam a
Eu faço uma avaliação da minha vida proposição de Guarinello segundo a qual "a memó-
assim: eu achava que eu ia nascer e ria coletiva se constitui uma das dimensões da ação
morrer ali ( ... ). Ali foi o lugar que eu coletiva e um veículo de poder". Seja o poder "de
cheguei e me apeguei no lugar. Fiz uma transmitir ou perenizar uma memória de si, ou de
amizade, um relacionamento ali muito propor ou impor uma dada memória à coletividade;
sadio. Durante quarenta, praticamente
poder de criar, refazer ou destruir identidades sociais,
de dar sentido, corpo e eficácia aos atos coletivos"
quarenta anos morando ali... (... ) Eu
(GUARINELLO, 1994, p. 189).
fico pensando, eu avalio a minha vida
Além do desmonte das redes de sociabilidade,
assim: que eu achava que ia morrer ali.
nos novos lugares-destinos reeditaram-se a velha
Eu achava que eu não ia sair pra lugar
segregação sócio-espacial e o estigma, impressos aos
nenhum (... ). E eu tinha vontade ... Eu moradores da Rua do Buraco. Fale-se em Planalto 2,
não queria muita coisa não. Eu só queria Vale do Sol, Alto Iguaçu, e nos tantos lugares ocupa-
um emprego fixo pra eu tratar da minha dos pelos que foram indenizados, em vez de trocar
família, criar a minha família ali. Isso é suas casas por outras, em novos núcleos construídos
que era o meu desejo, só! (depoimento pela Prefeitura de Ipatinga, e espere-se a reação dis-
verbal). 13 criminatória da grande maioria dos citadinos. Com
o artifício discursivo da ameaça que representam à
Em sua narrativa, Geraldo, morador e, mais sociedade, limitam-se as possibilidades de seus mo-
tarde, proprietário de boteco na zona boêmia do Juá, radores disputarem as vantagens sociais e restringem-
também manifestou sua perplexidade com o que se, em grande medida, suas relações sociais a seus
representa como uma reviravolta do tempo, a qual respectivos bairros.

CASTRO, C. M. L. de e NEVES, M. de A. Trajetórias de deslocamentos ... , p. 97 - 113 1107


Uma vez vivendo em áreas distantes do centro tados que declararam que a renda familiar era de até
(e de outras "centralidades"), para além da necessi- O1 salário mínimo representavam, respectivamente,
dade de rearticulação sócio-espacial, colocava-se o 55,0%, 46,8% e 33,7% do total, o que evidencia uma
desafio da própria reprodução social. No entanto, elevação do nível de renda das camadas mais pobres
as pequenas dimensões dos lotes nos quais foram dos moradores da Rua.
construídas as casas no Planalto 2 e demais bairros, Nas faixas de renda de 1 a 2 salários mínimos 15 ,
limitaram as alternativas em termos de geração os percentuais não se alteraram de forma significativa,
de renda, os conduzindo mais diretamente para o ao longo do período de tempo analisado, ficando em
centro da economia monetária. Com a redução das torno de 32,0%. Nas faixas subseqüentes, verificam-se
possibilidades de se socorrer na autoprodução e nos elevações pouco significativas dos níveis.
rendimentos in natura para prover a sua subsistência, A observação das variações de renda na cidade
os ex-moradores da Rua se tornaram ainda mais de- em 1977, a partir da pesquisa domiciliar realizada
pendentes de trabalho e renda regulares, direitos cuja neste mesmo ano, indicava que a renda média dos
maioria jamais acessou, ao longo de sua trajetória na moradores da Rua do Buraco era a mais baixa. Na
cidade. Soma-se ainda, no caso do Planalto 2, o fato "região do Buraco", 84% das famílias auferiam renda
de que a valorização imobiliária do bairro, dada a sua mensal inferior a dois salários mínimos, ao passo que
relativa proximidade do centro e as boas condições
nos "bairros da Usiminas': 86% das famílias ganhavam
de infra-estrutura urbana, se constituiu em um dos
mais de três salários mínimos.
principais fatores da saída de significativa parcela
Já em 1998, a renda per capta média no Planalto
da população ali originalmente reassentada. Assim,
2 era de apenas V2 salário mínimo, a pior dentre as
em lugar da valorização imobiliária se converter em
verificadas nos 23 "bolsões de pobreza" pesquisados
ganhos apropriados por seus moradores e em fator
na cidade. A renda média entre os que estavam traba-
de estímulo à sua fixação no novo bairro, a ação dos
lhando era de apenas 1,4 salários mínimos, também
especuladores imobiliários se fez, e vem se fazendo,
entre as menores, se comparada com a dos trabalha-
atraente para uma população que, mesmo com o
dores dos demais "bolsões".
ganho habitacional, continuou empobrecida - o
Quanto ao grau de escolaridade dos chefes de
que se pode notar, entre outros aspectos, pelos seus
persistentes baixos níveis de qualificação profissional, família, moradores da Rua do Buraco, observa-se
renda e escolaridade. que, em 1974, 52,0% destes eram analfabetos (7%
Pesquisas sócio-econômicas realizadas sob enco- não declararam), enquanto em 1995, somando os
menda da Prefeitura Municipal de Ipatinga, nos anos analfabetos com aqueles chefes que possuíam apenas
de 1974, 1977, 1995 e 1998, com o objetivo de subsi- o primário incompleto, alcançava-se a proporção de
diar a elaboração e execução de projetos urbanísticos 67,0%. Destaque-se ainda que, conforme resultados
e sociais no centro e em áreas periféricas da cidade, da pesquisa de 1995, 95,7% dos responsáveis pelos
evidenciam a histórica reprodução da condição de domicílios não possuíam o curso fundamental com-
pobreza da população da Rua. Condição essa expressa: pleto. Portanto, observa-se que os baixíssimos níveis
1) na precariedade e baixo grau de qualificação pro- de escolaridade da população não se alteraram, ao
fissional exercido pela população economicamente longo do período a que as pesquisas se referem.
ativa da Rua; 2) nos baixos níveis de renda familiar Comparativamente, nota-se que em 1977, a po-
e nos altos índices de desemprego que passaram a pulação da Rua do Buraco possuía o mais baixo nível
figurar, na população, a partir da década de 1980; 3) de escolaridade, em relação aos demais bairros da
nos baixos níveis educacionais; e 4) na precariedade cidade. Na escala proposta em termos de classificação
da condição habitacional. dos índices de escolaridade, a Rua foi a única área
Tratando, pois, dos resultados das pesquisas no cujo referido índice foi considerado "muito baixo': À
que se refere à renda familiar, verificam-se os baixos época, 68% dos "chefes de família" da Rua possuíam
níveis auferidos pelos moradores da Rua, ao longo escolaridade inferior ao "primário completo': uma das
de sua trajetória. Em 1974, 1977 e 1995, os entrevis- maiores proporções da cidade.

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Os resultados da pesquisa de 1998 evidenciam forma de inclusão que não possibilita aos subordina-
uma relativa melhora da situação da população do dos disputar em condições de igualdade as vantagens
Planalto 2, em termos dos níveis mais baixos de es- sociais e, assim, retro-alimenta o sistema com sua
colaridade. Essa afirmação se apóia na constatação lógica de produção de desigualdades sociais. Do
de que a proporção de analfabetos caiu para 11%, em ponto de vista dos formalmente integrados à dinâ-
função do programa de alfabetização implantado no mica sócio-econômica, "os subordinados" não são
município, no início da década de 1990. No segmento necessários apenas enquanto força de trabalho, mas,
da população com idade acima de 25 anos, o analfabe- igualmente, como não concorrentes aos privilégios
tismo alcança o índice de 20%. Contudo, essa melhora sociais (DEMO, 1998).
em termos de alfabetização não implicou a elevação Mesmo com a especificidade do caso dos mo-
dos níveis mais gerais de escolaridade dos moradores. radores da Rua no cenário sócio-urbano de Ipatinga,
Note-se, pois, que 74% dos entrevistados declararam há que se considerar que a sua inclusão subordinada
possuir apenas o primeiro grau, incluindo os que o possui estreita relação com a "lógica da inclusivi-
concluíram e os que não concluíram esta fase do en- dade" que marca a sociedade brasileira, como uma
sino formal. Outros 8% possuíam o nível médio. sociedade relaciona!. Essa lógica opera por meio de
Contudo, a pesquisa de 1998 demonstra que oposições hierárquicas e complementares, buscando
não é mais a falta de acesso à escola o principal fator a compensação dos extremos da escala hierárquica
explicativo dos baixos níveis de escolaridade da po- da sociedade (DA MATTA apud SCOREL, 1999).
pulação. Estes se devem, sobretudo, às dificuldades Com efeito, tal lógica abre margens para que as classes
enfrentadas pelos estudantes no processo pedagógi- pobres não percam o fio (às vezes, de esperança) da
co, cujos principais efeitos são os elevados níveis de sua conexão social a um sistema que se orienta pelo
"atraso escolar" e de "abandono do ensino". Dentre credo igualitário da modernidade, mas que despoja
a população com idade entre 07 e 20 anos, verificou- a pobreza de sua dimensão ética e a naturaliza (TEL-
se que 22% abandonaram a escola e, dentre os que LES, 1999). Como interpretar, pois, os baixíssimos
nela permanecem, 62% encontram-se em situação patamares dos indicadores sócio-econômicos que
de atraso, entre 1 e 3 anos. acompanharam os moradores da Rua, ao longo de
Com a análise desses índices não se pretende su- toda a sua trajetória senão por essa lógica que, se
gerir a abordagem da pobreza apenas como carência. não os excluiu por completo, acabou por lhes negar
Mais do que isso, ela deve ser vista como "expressão o acesso às vantagens sociais?
do acesso às vantagens sociais, denotando que faz O intento de produção sociopolítica do es-
parte da dinâmica dialética da sociedade, que se divide quecimento da Rua do Buraco se desenvolveu, pro-
entre aqueles que concentram privilégios, e aqueles gressivamente, ao longo de mais de quarenta anos,
que trabalham para sustentar o privilégio dos outros" até alcançar o seu ponto de maturação. Mas, não se
(DEMO, 2001, p. 13). A pobreza é, assim, resultado da tratou de um processo pautado pela intenção "pura"
discriminação no terreno das vantagens sociais. Nesse de expulsar seus moradores daquele espaço urbano.
sentido, às precárias condições materiais é preciso Seja porque os direitos que definem a civilização
relacionar a segregação e o estigma da população da não possibilitaram opor-se completamente a eles, ou
Rua - re-editados no bairro Planalto 2 e demais áreas porque em sua trajetória ocuparam um lugar social
para as quais se mudaram- como fatores que histori- que não se pode confundir propriamente com o dos
camente se constituíram em obstáculos à superação excluídos. Os moradores da Rua foram integrados
da sua condição de pobreza. Essa é uma terrível face ao sistema sócio-econômico vigente como força de
da exclusão social: a da sua funcionalidade ao sistema; trabalho barata e disposta a realizar atividades com
a face da integração dos pobres pela via da exclusão, baixas remunerações e/ou sem as garantias trabalhis-
ou seja, como forma de pertença. É justamente essa tas legais, para todo tipo de demandadores, sobretudo
face da exclusão social que, ao longo desse trabalho, famílias e empresas integradas à "cidade Usiminas";
estamos chamando de "inclusão subordinadà': uma bem como movimentando o universo boêmio da

CASTRO, C. M. L. de e NEVES, M. de A. Trajetórias de deslocamentos ... , p. 97- 1131] 09


zona do Juá, que, por muito tempo, se constituiu em ência comum de terem sido removidos do lugar onde
um dos mais importantes lugares de sociabilidade construíram a maior parte de suas trajetórias de vida
da cidade, contribuindo de forma eficaz para o lazer e, para a metade dessas famílias, de ter participado do
e a fixação da mão-de-obra operária então recrutada mutirão que condicionava o acesso à nova casa. Essas
pela grande empresa. experiências se constituem, pois, novos elementos
A conquista habitacional, a "dádiva" da apo- incorporados a uma historicidade dilacerada, cujos
sentadoria "por idade': bem como o acesso a outros cacos se encontram espalhados com os tantos sujeitos
benefícios sociais recentemente concedidos pelo go- que se inscreviam em seu fluxo/percurso. No Planalto
verno federal a uma parte dos ex-moradores da Rua 2, subsistem mais fragmentos desses cacos, os quais
por meio das políticas de assistência social, não vêm favorecem, ainda que com baixa potencialidade, a
se constituindo em fatores capazes de incluí-los ao te- resistência dos moradores ao processo de re-edição
cido social da cidade fragmentada e, muito menos, de da sua estigmatização e segregação sócio-espacial.
reinventar a cidadania do excluído (DEMO, 1998). O que se apresenta com maior visibilidade é o
Cabe finalmente perguntar se o intento de time de futebol, cujo nome fora preservado - Beira
produção do esquecimento da Rua e de seus mora- Rio-, embora a sua referência, em termos de locali-
dores teria sido efetivamente alcançado, do ponto de zação espacial, não seja mais as margens do ribeirão
vista dos supostamente "esquecidos': Nesse sentido, Ipanema. Sua preservação em condições adversas,
podemos nos perguntar sobre os substratos da me- uma vez que requereu o enfrentamento de outros
mória dos moradores da Rua. Eles subsistem? E em atores sociais interessados no espaço do campo,
subsistindo, de que se nutriria a sua sobrevivência? E, representou muito mais do que manutenção de um
ainda, qual o seu significado para os ex-moradores da espaço destinado ao lazer dos moradores. A principal
Rua em sua condição presente? Seriam tais substratos motivação desse enfrentamento foi o desejo de pre-
fontes de uma atitude de resistência? servação de uma herança cultural do grupo, então
Para os ex-moradores da Rua, o tempo presente ameaçada; de um substrato cultural da memória e
é marcado pela necessidade de reconstrução dos refe- da identidade coletiva. Note-se, por outro lado, que
renciais simbólicos e identitários capazes de lhes pro- esse enfrentamento se constituiu um dos primeiros
ver o senso de pertencimento a um novo lugar, com atos de afirmação (lembrança) da presença dos mo-
seu conjunto de relações sociais. Em seus diferentes radores do Planalto 2 na cidade face à operação de
lugares-destinos, os enfrentamentos dessa necessida- esquecimento.
de de reconhecimento sócio-cultural, somados à de Essa presença na cidade se afirma também por
superação da persistente carência material, figuram meio do componente de transgressão às normas e
de formas diferentes, em função do contexto local: aos valores socialmente aceitos, que marca os atos
acesso a infra-estrutura e serviços urbanos, configu- de violência de alguns de seus moradores, e que goza
ração das redes de sociabilidade; acesso a trabalho e de amplo espaço na mídia regional. Apostamos, aqui,
a serviços sociais, exposição aos riscos de violência, na idéia segundo a qual o excesso de exposição pe-
entre outros aspectos. jorativa e discriminatória, na mídia regional, é com-
No Planalto 2, bairro construído exclusivamen- batido pelos "desviantes" com a busca da exposição
te para abrigar aproximadamente 600 famílias de recursiva. Em resposta à afirmação de que "eles são
ex-moradores da Rua, subsistem alguns referentes violentos", se afirma um desejo de transgressão que
simbólicos que se constituem o fio de ressignificação tem na violência o maior potencial de reverberação na
da identidade do grupo, mesmo que este se encontre opinião pública. Nesse sentido, além de terem raízes
agora fragmentado. Nesse processo de ressignificação, nos fatores sócio-lógicos que explicam a violência
às experiências vividas na Rua, que igualam a todos no meio urbano, os atos de violência dessa parcela
como "sofredores", posto que submetidos às intempé- de moradores do Planalto 2 têm como marca de
ries da pobreza urbana, se somam as mais recentes, especificidade o seu acentuado componente trans-
do período de transição para o novo bairro: a experi- gressor. Assim, a prática de crimes com elementos

11 o I REVISTA DE CI~NCIAS SOCIAIS v.37 n.2 2006


de crueldade - como assassinatos a pauladas; ou auto-representação, aqui a conquista do patrimônio
precedidos de encarceramento até a sujeição da vítima habitação, para os moradores do Planalto 2; e, para
à agressão de cães ferozes - assume uma dimensão outros, a obtenção da aposentadoria, se constituem
aterrorizante; expressa, em boa medida, o desejo de aspectos que pesam a favor da afirmação da vitória.
seus agentes de se auto-representarem como "maus" Lembre-se, pois, que a maioria dos narradores e,
e, dessa forma, de afirmarem sua presença na cidade como de resto, dos moradores da Rua, é formada por
como uma ameaça aos citadinos. Trata-se, portanto, retirantes dos sertões e de pequenas cidades do Estado
de uma violência cujo sentido não se esgota em sua e do país, que chegaram a lpatinga quase sem nada,
prática, mas que se estende à sua repercussão pública. apenas com seus denominados "galos de briga".
Ela assim se constitui em um insulto ao ideal de cidade Por fim queremos dizer que, neste trabalho de
que jamais incorporou e continua a não incorporar pesquisa acerca da trajetória dos moradores da Rua
os ex-moradores da Rua. do Buraco no cenário urbano de Ipatinga, estivemos
A resistência à produção do esquecimento pode a juntar os fragmentos nas ruínas da memória de
ser notada, ainda, na preservação do clima e do rit- um grupo social com baixo nível de organização e
mo de vida boêmio, por parte de moradores da Rua consciência de sua historicidade. Ouvir as narrativas
Nossa Senhora das Graças, onde funcionava a antiga de alguns de seus moradores assumiu o sentido de
zona boêmia do Juá. Mesmo com o fim da zona e a atualização de memórias silenciadas e esfaceladas.
transformação do cenário local, boa parte dos mora- Somam-se a nossa escuta e as suas narrativas face
dores mantém o costume de dormir durante o dia, ao silêncio pretendido pelos discursos oficiais domi-
reservando energias para a vida noturna, momento nantes; discursos marcados pelo sempre renovado
em que o trânsito de automóveis diminui, cedendo conteúdo de construção de uma cidade moderna e
lugar à presença daqueles que se sentam às portas depurada. Escutamos memórias que de tão fragmen-
das casas, ao meio fio ou ocupam as esquinas, num tadas se fazem insuficientes para nutrir a constituição
movimento que desperta a suspeição da Polícia. de uma memória comunitária de resistência, capaz
Também nas narrativas dos sujeitos que entre- de movê-los rumo à busca organizada e política do
vistamos, o processo de produção do esquecimento direito à cidade.
foi enfrentado em uma tripla perspectiva: primeiro Escutamos, por vezes, entre os narradores aos
por meio da afirmação do seu protagonismo na cons- quais solicitamos o trabalho de memória uma voz
trução e no desenvolvimento da cidade. A estratégia frágil, apelando para a junção dos cacos da memória
discursiva utilizada por eles foi, então, a de evidenciar coletiva do grupo. Orestes foi um desses narradores
as marcas e os vestígios de sua participação em acon- que manifestaram seu apelo, sem expressar em seu
tecimentos, lugares e objetos que compõem a história discurso a consciência dos reflexos das tantas rupturas
e o cenário da cidade. De forma coerente ao protago- experimentadas em suas trajetórias para a historici-
nismo afirmado, o discurso da trajetória vitoriosa é, dade dos moradores da Rua. Disse ele: "Quando tem
noutra perspectiva, também um gesto de resistência mais de um, a lembrança vem com mais força. Quer
ao esquecimento. A afirmação da vitória não se ver o exemplo da Bíblia? A Bíblia é assim: um passa e
apóia na comparação com as outras classes sociais, vê o crime, o outro vê o sangue escorrendo, o terceiro
em termos das desigualdades de acesso às vantagens passa e vê o assunto. Eles todos juntos fazem um apa-
sociais na cidade, embora tenham plena consciência nhado grande". Sua fala é a expressão do sentimento
desse fato. A narrativa da vitória se assenta, antes, na de fragilidade que aflorou na cena enunciativa diante
confrontação dos anseios e perspectivas de vida que de uma memória em fragmentos e da solidão para
traziam consigo, quando da chegada à cidade com recompor seus cacos.
as conquistas efetivamente obtidas ao longo da tra- As contradições do projeto original da cidade,
jetória pessoal. Em que pese o fato de que o trabalho bem como do projeto de revitalização de sua área cen-
de narrar a experiência vivida é sempre o processo tral, apontam para a necessidade de se incorporar ao
de construção de um si-mesmo, portanto, de uma planejamento urbano os princípios do direito à cidade

CASTRO, C. M. L. de e NEVES, M. de A. Trajetórias de deslocamentos ... , p. 97 - I 13 1111


como direito à vida urbana: "aos locais de encontro dinamização das atividades comerciais, a diversificação da vida
e de trocas, aos ritmos de vida e empregos do tempo urbana e de lazer do espaço então descongestionado, após a
que permitem o uso pleno e inteiro desses momentos retirada da população ali residente.

e locais" (LEFEBVRE, 2001, p. 143). Para tanto, é pre- 12 Dentre esses signos, destaca-se a implantação, pela USIMINAS,
de um Shopping Center, tendo como âncoras um moderno
ciso avançar no sentido de conceber a cidade como
Centro Cultural e um Hipermercado. Outros empreendimentos
lugar capaz de comportar as diferenças e integrá-las surgiram na esteira desse processo: hipermercados; hotéis;
em lugar de segregá-las e de separá-las. centros universitários privados; um time de futebol que rem o
nome da cidade e disputa a primeira divisão do Campeonato
do Esrado de Minas Gerais, bem como algumas competições
NOTAS nacionais; eventos culturais e exposições tecnológicas.
Destaquem-se, ainda, os esforços da USIMINAS no sentido de
Este trabalho foi apresentado no 30° Encontro da ANPOCS
ampliar o sistema de aviação regional, interligando através de
(Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências
vôos diários o Vale do Aço aos principais aeroportos de Minas
Sociais), no Grupo de Trabalho: "Cidades: sociabilidades.
e do país.
cultura, participação e gestão", em Caxambu, Minas Gerais.
13 Entrevista que nos foi concedida por Joventino Feliciano, em
2 O projeto elaborado por Rafael Hardy Filho foi encomendado
27/11/05.
pela [então] recém-criada empresa USIMINAS.
14 Entrevista que nos foi concedida por Geraldo Fernandes
3 Nos informes publicitários da Prefeitura Municipal de lpatinga,
Barbosa, em 19 e 20/08/05.
constam que os investimentos totais no Projeto somaram 35
milhões de reais. Destes, 51 o/o financiados pelo BDMG/BIRD 15 Obviamente, a referência do Salário Mínimo nesta análise rem
e 49% provenientes do orçamento da Prefeitura Municipal de como ponto negativo o faro de que o mesmo representou, nos
lpatinga. contextos considerados (1974, 1977, 1995 e 1998), diferentes
poderes de compra para os trabalhadores, questão que não
4 IPA riNCA. Prefeitura Municipal. Projeto Novo Centro:
aprofundamos neste trabalho.
Sub-projeto: Remoção e Reassentamento. Programa Somma,
l995c.
5 Para Edéa Bosi (1994), lembrar não é reviver, mas re-fazer
o passado. As pessoas que se colocam a recordar no presente REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
estão, pois, a realizar um trabalho de auto-representação.
ARANTES, Otília Beatriz Fiori. Uma estratégia fatal. In:
6 Expressão cunhada em 1848, em seu Manijésto do Partido
Comunista. ARANTES, Otília Beatriz Fiori. A cidade do pensamento
único: desmanchando consensos. Petrópolis: Vozes, 2000.
7 Conforme consta em diagnóstico que subsidiou a elaboração da
proposta de Plano Diretor para Iparinga (1991), excetuando a BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de Velhos. 3• ed.,
década de 1990, a cidade teve taxas de crescimento populacional São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
superiores às médias nacional e estadual-mais de 18% ao ano, CASTRO, Cláudio Márcio Letro de. Trajetórias de deslocamentos:
na década de 1960 e 12, lo/o nos anos 1970. No período entre
experiências e narrativas de moradores da "Rua do
1980 a 1996, no entanto, esse crescimento foi de 1,7% ao
ano. Buraco" no espaço urbano de Ipatinga, 2006, 268 páginas.
8 IPATINCA. Prefeitura Municipal. Diagnóstico do Plano Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) - Programa de
Diretor de lparinga. Volume l, 1991, p. 70. Pós-Graduação, Pontifícia Universidade Católica de Minas
9 O Partido dos Trabalhadores deteve o mandato do Executivo Gerais, Belo Horizonte.
municipal, no período de 1989 a 2004. O Prefeito Chico D'ALÉSSIO, Márcia Mansor. Intervenções da memória na
Ferramenta exerceu três mandatos: 1989-1992; 1997 -2000;
historiografia: identidades, subjetividades, fragmentos,
200 1-2004; e o Prefeito João Magno exerceu o mandato no
período de 1993 a 1996. poderes. Revista Projeto História. São Paulo, n. 17, nov.

lO O Parque lpanema foi construído às margens do ribeirão 1998.


lpanema, em terreno desapropriado pela Prefeitura Municipal, DA MATTA, Roberto. Você sabe com quem está falando? Um
na década de 1980. Sua área é superior a um milhão de metros ensaio sobre a distinção entre Indivíduo e Pessoa no Brasil.
quadrados, e abriga dentre outros equipamentos, um estádio de
In: DA MATTA, Roberto. Carnavais, Malandros e Heróis. 3•
futebol, quadras poliesporrivas, karródromo; parque científico-
educacional, área de lazer e para apresentações culturais. ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1981.

li Às intervenções do projeto Novo Centro, se seguiram outras DEMO, Pedro. Discutindo exclusão social. In: DEMO, Pedro.
etapas de "requalificação ambiental" do centro, como parte do Charme da exclusão social. Campinas/ SP: Autores Associados,
Programa Novo Som ma, aprovado em 200 I, cuja ênfase era a 1998. (Coleção Polêmicas do nosso tempo, v. 61).

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