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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE


PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOSSISTEMAS

AVALIAÇÃO DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS


UTILIZANDO O MODELO EXPERIMENTAL NELDER
COMO ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL PARA A
AGRICULTURA FAMILIAR NO ESTADO DE SERGIPE,
BRASIL.

ANA VALÉRIA SANTOS NASCIMENTO

2011
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOSSISTEMAS

ANA VALÉRIA SANTOS NASCIMENTO

AVALIAÇÃO DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS UTILIZANDO


O MODELO EXPERIMENTAL NELDER COMO ALTERNATIVA
SUSTENTÁVEL PARA A AGRICULTURA FAMILIAR NO
ESTADO DE SERGIPE, BRASIL.

Dissertação apresentada à Universidade Federal de Sergipe,


como parte das exigências do Curso de Mestrado em
Agroecossistemas, área de concentração sustentabilidade em
Agroecossistemas para obtenção do titulo de “Mestre”.

Orientador
Prof. Dr. Mário Jorge Campos dos Santos

SÃO CRISTÓVÃO
SERGIPE – BRASIL
2011
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Nascimento, Ana Valéria Santos


N244a Avaliação de sistemas agroflorestais utilizando o modelo
experimental nelder como alternativa sustentável para a agricultura
familiar no Estado de Sergipe, Brasil / Ana Valéria Santos
Nascimento. - São Cristóvão, 2011.
92 f. : il.

Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas) – Núcleo de


Pós-Graduação e Estudos em Recursos Naturais, Pró-Reitoria de
Pós-Graduação e Pesquisa, Universidade Federal de Sergipe,
2011.

Orientador: Prof. Dr. Mário Jorge Campos dos Santos

1. Agricultura sustentável - Sergipe. 2. Comunidades vegetais.


3. Recursos naturais. 4. Florestas. I. Título.

CDU 631/635(813.7)
Ao meu Deus, pela graça concedida, nas
inúmeras vezes que clamei seu nome, por sua
infinita misericórdia na minha vida.
DEDICO
Aos meus pais, que souberam entender e
compreender minha ausência, pelo apoio
incondicional ao meu crescimento pessoal e
profissional dando-me amor, carinho, suporte e
segurança para a realização deste trabalho e ao
meu filho Guilherme alicerce que nunca permitiu
que eu esmorecesse nos momentos difíceis.
OFEREÇO
AGRADECIMENTOS

A Deus, por me amparar nos momentos difíceis, me dar força interior para
superar as dificuldades, mostrar os caminho nas horas incertas e me suprir em todas as
minhas necessidades.
Ao meu príncipe, Guilherme, que sentia tanto a minha ausência e, ainda assim,
renovava minhas energias a cada sorriso ou ‘tiradas’ divertidíssimas. O “dever de casa”
de mainha acabou. Aos meus pais, Wivison Amaral e Rosa Angélica, pela educação que
me deram permitindo que eu enfrentasse os mais diversos desafios sempre com
dedicação, honestidade e respeito, permitindo que eu caminhasse respeitando as
hierarquias e cumprindo com meus deveres de cidadã e de mãe. Aos meus irmãos,
Thiago e Marla, que estiveram sempre juntos a mim buscando manter a união familiar,
o que só me deu forças para seguir em frente.
Ao Prof. Mário Jorge Campos dos Santos, que desde o primeiro dia me ajudou a
planejar o meu mestrado com orientações e ensinamentos e que muito contribuiu para o
meu crescimento profissional. Que apesar do jeitão rude e grosso, tem um coração
maior que ele, obrigado por me receber e me orientar, em acreditar e me incentivar até o
último dia, pela amizade, companheirismo e apoio demonstrado em todos as horas
durante a minha vida acadêmica.
Ao prof Dr. Genesio Tâmara Ribeiro, por sua ajuda nos momentos mais
críticos, por acreditar no futuro deste projeto e contribuir para o meu crescimento
profissional e por ser também um exemplo a ser seguido. Obrigada pelos conselhos
profissionais e pessoais, pelos conhecimentos que sempre me passou, pela torcida e
pelas vibrações com as minhas conquistas. Sua participação foi fundamental para a
realização deste trabalho.
A amiga profa Dra Alessandra Reis sou imensamente grata pelo incentivo e
fortalecimento através da leitura do meu manuscrito. Não apenas valorizo os
comentários e observações críticas a respeito do texto como suas ricas sugestões a esse
trabalho. Grata também pela indiscutível solidariedade e afeto inestimável, que se
traduziram sempre em entusiasmadas respostas, continuado estímulo e valiosa parceria.
A seu Carlinhos agradeço, com muito afeto, a disposição e responsabilidade com
que se prestou a dividir a função de cuidar das minhas “filhinhas”, cuidado esse, com
muito amor e esmero. Quero externar meu carinho e reconhecimento pelo belo trabalho
de versão competente, além da prestimosa e indispensável colaboração em muitos
momentos ao longo desse período. Obrigada pelas sugestões e idéias valiosas.
A seu Raimundo, por me ceder gentilmente o laboratório para que eu fizesse as
análises necessárias para a elaboração deste trabalho.
A Universidade Federal de Sergipe (UFS) e ao Programa de Pós – Graduação
em Agroecossistemas (NEREN) pela oportunidade de realização deste trabalho.
Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFECT) pela
disponibilidade e liberação da área para implantação do experimento.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela
bolsa de estudos.
Enfim, a todos que direta e indiretamente contribuíram para a realização deste
trabalho.
SUMÁRIO

PÁG
LISTA DE FIGURAS i
LISTA DE TABELAS ii
RESUMO iii
ABSTRACT iv
CAPÍTULO 1 01
1.0- INTRODUÇÃO GERAL 01
1.1 Antecedentes e Justificativas 03
2.0- REVISÃO DE LITERATURA 06
2.1 Histórico do Sistema Agroflorestal 06
2.2 Aspectos relevantes 06
2.3. Conceitos de Sistemas Agroflorestais 07
2.4. Classificação de Sistemas Agroflorestais 08
2.5 SAFs mais freqüentes 09
2.6 Benefícios e Limitações dos SAFs 11
2.7 Tipos de modelos aplicados (Modelo Nelder) 11
2.8 Modelo Sistemático Tipo “ Leque” 13
3.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS 15

CAPÍTULO 2 – Levantamento da composição florística e fitossociológica


de plantas infestantes em Sistemas Agroflorestais no Município de São
Cristóvão, Sergipe, Brasil.

1.0 RESUMO 18
2.0 ABSTRACT 19
3.0 INTRODUÇÃO 20
3.1 Plantas Infestantes 22
3.2 Interferências das plantas daninhas 23
3.3 Estudos ecológicos em comunidades infestantes 24
4.0- MATERIAL E MÉTODOS 26
4.1 Caracterização da Área de Estudo 26
4.2 Levantamento Florístico 27
4.3 Levantamento Fitossociólogico 28
5.0 - RESULTADOS E DISCUSSÃO 31
5.1 Composição Florística dos Quadrantes Estudados 31
5.2 Levantamento Fitossociológico 36
6.0 – CONSIDERAÇÕES FINAIS 43
7.0-REFERENCIA BIBLIOGRÁFICAS 44

CAPÍTULO 3 - Análise Econômica em Sistemas Agroflorestais


implantados no Modelo Experimental Nelder no Município de São
Cristóvão, Sergipe, Brasil

1.0 RESUMO 49
2.0 ABSTRACT 50
3.0 INTRODUÇÃO 51
3.1 Composição de espécies em Sistemas Agroflorestais 54
3.2 Distribuição espacial dos componentes (arranjos e espaçamentos) 55
3.3 Valoração econômica dos sistemas agroflorestais 56
4.0 - MATERIAL E MÉTODOS 59
4.1 Localização e caracterização da área 59
4.2 Formulação e Descrição do Modelo Agroflorestal Proposto 59
4.3 Fonte de dados 61
4.4 Critérios de avaliação econômica e fluxo de caixa 62
4.4.1 Valor Presente Líquido (VPL) 63
4.4.2 Razão Beneficio/Custo (B/C) 64
4.4.3 Tempo Interna de Retorno (TIR) 65
5 - RESULTADOS E DISCUSSÃO 66
5.1 Análise Econômica 67
6.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 71
7.0 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 72
LISTA DE FIRURAS

PÁG
FIGURA 01. Valores do raio inicial (r0), raios dos tratamentos (r1 a rn),
ângulo entre raios (θ) e área associada a cada planta (A1 a An) no
delineamento sistemático tipo “leque”............................................................................. 14

FIGURA 02. Mapa de localização da área de implantaçao do Nelder no


IFECT.................................................................................................................... 26

FIGURA 03. Índice de precipitações anual utilizando média geométrica


móvel no Município de São Cristóvão, SE......................................................... 27

FIGURA 04. Número de indivíduos das espécies identificadas nos quatro


ambientes estudados localizados no Campus Experimental do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFECT), São Cristóvão, SE. ....
34

FIGURA 05. Densidade (indivíduos/hectare- %) das espécies mais


representativas identificadas nos quatro ambientes estudados localizados
no Campus Experimental do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia (IFECT), São Cristóvão, SE. ......................................................................
37

FIGURA 06. Densidade (indivíduos/ hectare) das famílias mais


representativas identificadas nos quatro ambientes estudados localizados
no Campus Experimental do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia (IFECT), São Cristóvão, SE. ........................................................
40

FIGURA 07. Densidade (%) das famílias mais representativas identificadas


nos quatro ambientes estudados localizados no Campus Experimental do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFECT), São
Cristóvão, SE. .......................................................................................................
41

FIGURA 08. Croqui do experimento instalado baseado no Modelo Nelder


tipo leque .............................................................................................................. 60

FIGURA 09 Representação gráfica do VPL (Valor Presente Liquido) em


função da taxa de juros. ...................................................................................... 68
FIGURA 10. Representação gráfica do VPL (Valor Presente Liquido) em
função da taxa de juros. ...................................................................................... 69

FIGURA 11. Calendário agrícola utilizado pelos agricultores no perímetro


da área de estudo. ................................................................................................ 70
LISTA DE TABELAS

PÁG
TABELA 01 Relação das famílias e espécies encontradas nos quatro
ambientes estudados, apresentando os respectivos locais de ocorrência,
localizados no Campus Experimental do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia (IFECT), São Cristóvão,SE. ...........................................
31

TABELA 02: Matriz de similaridade florística de comunidades de espécies


invasoras presentes nos Quadrantes estudados .......................................... 34

TABELA 03 Espécies ocorrentes na área experimental localizada no


Campus Experimental do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia (IFECT), São Cristóvão, SE com seus respectivos estimadores
fitossociológicos; Densidade absoluta (D. A); Densidade Relativa (DR);
38
Freqüência absoluta (F A) e Freqüência Relativa (FR).

TABELA 04 Fluxo de caixa, em R$ 1,00, para 1 hectare de sistema


agroflorestal no modelo proposto ( Modelo Nelder).......................................... 66

TABELA 05 Indicadores de viabilidade financeira numa área de 1 hectare


do modelo de sistema agroflorestal proposto pelo estudo. ............................... 69
RESUMO

NASCIMENTO, Ana Valéria Santos. Avaliação de Sistemas Agroflorestais


utilizando o modelo experimental Nelder como alternativa sustentável para a
agricultura familiar no Estado de Sergipe. 2011. (Dissertação de Mestrado em
Agroecossistemas) Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão1

Diante do modelo agrícola e florestal atual, fundamentado na ótica da


maximização de uso dos recursos naturais sem considerar a capacidade de suporte dos
ecossistemas constituindo uma das mais impactantes ações do homem moderno nos
ecossistemas, os Sistemas Agroflorestais (SAFs) vêm proporcionando alternativas de
restauração desses ambientes antropizados. Sabendo também que a definição do
espaçamento de plantio, para determinada espécie ou clone, é de alta importância em
silvicultura, pois influencia as taxas de crescimento, sobrevivência e produtividade de
madeira por hectare, afetando as práticas de manejo, colheita e, conseqüentemente, os
custos de produção florestal, o trabalho teve como objetivo avaliar a sustentabilidade
dos SAFs utilizando o modelo experimental tipo Nelder como alternativa sustentável
para a agricultura familiar no Estado de Sergipe. No primeiro capítulo, apresentou-se a
introdução geral do trabalho, o referencial teórico sobre sistemas agroflorestais e
delineamentos sistemáticos. O segundo capítulo consistiu no Levantamento da
composição florística e fitossociológica de plantas infestantes ocorrentes na área de
estudo e no terceiro capitulo foi realizada Análise Econômica em Sistemas
Agroflorestais implantados no Modelo Experimental Nelder.

Palavras-chaves: Delineamentos sistemáticos, agrofloresta, fitossociologia, índices


econômicos

1
Comitê Orientador: Mário Jorge Campos dos Santos (Orientador), Genésio Tâmara Ribeiro – UFS, e Alessandra
Maria Ferreira Reis – UFS.
ABSTRACT

NASCIMENTO, Ana Valéria Santos. Evaluation of Agroflorestry Systems using the


experimental model sustainable Nelder as alternative for agricultural farm in the
Sergipe State . 2011. Charp. I. (Dissertation Master Programm in Agroecossystems)
Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão2.

The current agricultural and forest model, based on the optics of the maximization of
use of the natural resources without considering the capacity of support of ecosystems
constituting one of the impactantes actions of the modern man in ecosystems, the
Agroflorestry Systems (SAFs) come providing alternative of restoration of these
environments. Also knowing that definition of the spacement of plantation, for
determined species or clone, it is of high importance in forestry, therefore it influences
the taxes of growth, survival and wood productivity for hectare, affecting the practical
ones of handling, harvest and, consequently, the costs of forest production the work had
as objective to evaluate the support of the SAFs using the experimental sustainable
Nelder type model as alternative for family agriculture in the Sergipe State . In the first
chapter, it was presented general introduction of the work, the theorical reference on
agroflorestry systems and systematic delineations. As the chapter consisted of the
Survey of the floristic composition and fitossociologic of occurrences weed plants in the
area of study and in third I chapter was carried through economic analysis in
agroflorestry systems implanted in the Experimental Nelder Model..

Key-words: Systematic delineation, agroflorestry, fitossociologic, economic indies

2
Guidance Committee: Mário Jorge Campos dos Santos (Major professor), Genésio Tâmara Ribeiro – UFS, and
Alessandra Maria Ferreira Reis – UFS.
CAPÍTULO 1

1.0 INTRODUÇÃO GERAL

O modelo agrícola e florestal atual, fundamentado na ótica da maximização de


uso dos recursos naturais sem considerar a capacidade de suporte dos ecossistemas,
constitui uma das mais impactantes ações do homem moderno nos ecossistemas
(GRAZIANO NETO, 1991). O desmatamento e a utilização de práticas agrícolas não
adaptadas ao ambiente tropical têm contribuído fortemente para redução quantitativa e
qualitativa dos recursos ambientais, assim como gerado conflitos socioeconômicos que
se refletem na sociedade como um todo (SANTOS et al., 2002).
Sergipe possui cerca de 90% de áreas com cultivos e pastagens. A vegetação
nativa encontra-se bastante degradada, aparecendo apenas algumas manchas
significativas e preservada de caatinga na região noroeste, que aos poucos estão sendo
substituídas por atividades agropecuárias e extrativistas.
O extrativismo vegetal tem-se acentuado nos últimos anos, com reflexo para o
desmatamento indiscriminado objetivando a incorporação de novas áreas,
principalmente para implantação de pastagens.
Pesquisadores da Embrapa semi-árido/CPATSA, baseado nas informações sobre
o zoneamento agroecológico do nordeste, verificam áreas em processo de desertificação
no semi-árido, tendo como base o tipo e uso do solo, relevo e grau de erodibilidade,
classificando em quatro níveis de degradação ambiental: baixo, moderado, acentuado e
severo. O estado de Sergipe apresentava 271.200 hectares em nível de degradação
severo (EMBRAPA, 1995).
Para tal situação, os Sistemas Agroflorestais (SAFs) vêm proporcionando
alternativas de restauração desses ambientes antropizados. Entende-se como SAFs, a
técnica de produção agrícola na qual se combinam espécies arbóreas lenhosas (frutíferas
e/ou madeireiras) com cultivos temporários, de ciclo anual, que tem capacidade de, ao
longo se seu manejo, tornar produtivas áreas degradadas, melhorando o seu uso
produtivo e ecológico através da cobertura produzida pelos componentes agroflorestais.
Os SAFs tendem a promover o aumento do nível de carbono orgânico no solo
pela decomposição da matéria orgânica, recompor e recuperar áreas com solos
fragilizados, viabilizando a produção de alimentos e recursos vegetais ao longo do
tempo.
A presença do componente madeireiro nos SAFs tem o objetivo de gerar uma
série de benefícios ao solo e ao meio ambiente, tais como: proteção contra a erosão;
deposição de folhas e aumento da matéria orgânica; conservação da água no lençol
freático; aumento de organismos benéficos; menor proliferação de pragas e doenças;
menor ocorrência de invasoras; conservação da biodiversidade (fauna e flora);
microclima favorável ao crescimento de plantas e animais; proteção da área contra as
queimadas e manutenção das condições climáticas da região. Entretanto, alguns
agricultores resistem à adoção do componente madeireiro devido ao seu retorno
econômico demorado (VILAS-BOAS, 1991; CASTRO, 1999; SANTOS, 2000).
Os SAFs são técnicas baseadas em princípios agroecológicos. Utilizam poucos
insumos e não utilizam maquinas agrícolas pesadas. A adubação do solo é feita por
meio de plantio de leguminosas, gramíneas e podas. Nos primeiros anos, são
introduzidas espécies anuais de crescimento rápido, como as leguminosas e as
gramíneas, com o objetivo de cobrir o solo, reter umidade e fornecer matéria orgânica.
O sistema da podas, reduzindo constantemente o sombreamento, viabiliza o cultivo de
vários produtos de base alimentar. Ao longo dos anos são introduzidos grãos, cereais,
frutíferas semiperenes e perenes e, por fim, as madeiráveis (NORONHA, 2008).
Noronha (2008) afirma que a principal meta dos SAFs é produzir uma
diversidade de alimentos e matérias–primas necessárias para o sustento diário da
agricultura familiar. Por ser cultivada uma variedade de produtos, o sistema promove
produção durante todo o ano, ficando o agricultor relativamente mais independente da
sazonalidade da produção tradicional.
1.1 Antecedentes e justificativas

No Brasil colonial instalou-se uma sociedade agrícola de caráter predatório, que


enxergava as florestas outrora exuberantes como uma barreira natural para a ocupação
territorial e expansão das fronteiras. Desde então, os ciclos econômicos que construíram
a história, do pau-brasil, da cana-de-açúcar, do café, da mineração e da pecuária, foram
todos baseados na destruição da cobertura florestal e na ausência de preocupação com o
esgotamento desses recursos. As densas florestas tropicais eram tidas aos olhos dos
colonizadores e, mais tarde, dos proprietários de terras, como inesgotáveis (ENGEL,
1999).
Recentemente, a chamada “Revolução Verde”, pregando o aumento da produção
agrícola por unidade de área para enfrentar as futuras demandas de alimentos, tem sido
viabilizada às custas da uniformização dos sistemas de produção e de um elevado nível
de insumos e provisão de energia externa. Tal processo tem se dado devido à tecnologia
agropecuária importada de regiões temperadas e países desenvolvidos, muitas vezes
inadequada às regiões tropicais, pois os ecossistemas de regiões temperadas e tropicais
são muito diferentes.
Um aspecto relevante está relacionado com a ciclagem de nutrientes. Nas
regiões temperadas, os solos de uma maneira geral são mais férteis e a maior parte dos
nutrientes minerais está armazenada no solo, bem como a matéria orgânica, que se
acumula naturalmente por causa das taxas de decomposição mais baixas. Porém, nas
regiões tropicais, a maior parte dos nutrientes não está disponível de forma imediata e
encontra-se armazenada na própria biomassa. Os solos tropicais, em geral, são pobres,
muito lixiviados e tendem a ser ácidos, dependendo diretamente da matéria orgânica
para a manutenção de sua fertilidade. Logo, a destruição da cobertura florestal e da
matéria orgânica do solo, por si só, remove a maior parte do estoque de nutrientes dos
ecossistemas, levando a uma diminuição de sua fertilidade e capacidade produtiva.
A degradação do solo e diminuição de sua capacidade produtiva geram a
necessidade de novos desmatamentos, e têm ocasionado a ocupação desordenada do
solo em decorrência do crescimento demográfico e do aumento da demanda pelo uso da
terra, ligada às pressões econômicas por ganhos imediatos. Como conseqüência, tem-se
o êxodo rural, a concentração da renda e da posse da terra, e a persistência dos ciclos de
pobreza dos pequenos agricultores nos países tropicais, o que tem gerado a necessidade
da busca de novos modelos de desenvolvimento baseados no uso sustentável dos
recursos, principalmente do solo.
Não muito diferente do que acontece no contexto nacional, no Estado de Sergipe
a intensa ocupação das terras tem contribuído para a retirada da cobertura florestal,
formada por caatinga arbórea e arbustiva e no topo das serras ainda encontram-se
vestígios da Floresta Tropical, a exemplo do que ocorre na Serra da Guia, em Poço
Redondo.
Contudo, a precariedade das condições e da oferta de trabalho tem contribuído
para que o sertanejo retire a cobertura vegetal para buscar o seu sustento, resultando na
degradação ambiental, causando, assim, prejuízo para todos. O semi-árido Sergipano
tem sido alvo de muitos estudos e pesquisas em função dos problemas existentes e que
merecem ser equacionados.
Esses problemas têm incentivado os pesquisadores a desenvolver, divulgar e
transferir para os produtores, sistemas alternativos de produção agropecuária.
Idealmente, buscam-se tecnologias de produção adequadas às características ambientais,
com a finalidade de utilizar os recursos naturais de maneira produtiva e sustentada
(MACEDO; ZIMMER, 1993).
Para tanto, algumas medidas devem ser tomadas conduzindo esforços no
sentido de conscientização dos benefícios dos SAFs no que se refere ao monitoramento,
organização e execução, para que se possa justificar ao agricultor que este tipo de
atividade é fundamental para o desenvolvimento sustentável das famílias rurais da
região (ÁVILA, 1992; RODRIGUES et al., 2000; SANTOS, 2000).
Para se obter um resultado satisfatório no estabelecimento do SAFs, a definição
do espaçamento de plantio das espécies envolvidas é de fundamental importância. Para
a determinação do espaçamento ótimo de plantio, os ensaios experimentais devem
conter um número suficiente de indivíduos mensuráveis, implicando em grandes áreas
para suas instalações (SILVA, 2005). Outro complicador é a necessidade de bordadura
entre os tratamentos, visando evitar a influência exercida pelas árvores de uma parcela
sobre as árvores das parcelas vizinhas. Dessa forma, a instalação de experimentos
tradicionais com repetição, aleatorização dos tratamentos, controle local e bordadura,
têm restringido o número de espaçamentos testados nos ensaios de campo, dadas às
dificuldades relativas às disponibilidades de área e recursos para instalação, manutenção
e avaliações (STAPE, 1995).
Visando superar tais restrições, foram propostos na década de 60 alguns
delineamentos alternativos, entre eles, os delineamentos sistemáticos de Nelder (1962).
Esses delineamentos, inicialmente utilizados na área agrícola, foram usados na área
florestal para estudos preliminares (FREEMAN, 1964; BLEASDALE, 1966; HUXLEY,
1985). Além de permitir avaliar um maior número de espaçamentos possíveis, os
delineamentos sistemáticos também se destacam pela sua compacidade, necessitando de
pequenas áreas experimentais que facilitam o manejo e abrangência.
Stape (1995) comenta que o espaçamento em florestas plantadas influencia nas
taxas de crescimento, sobrevivência, produtividade de madeira por hectare, afetando as
práticas de manejo, colheita e, conseqüentemente, os custos de produção florestal.
Seguindo o principio NELDER utilizados por diversos autores individualmente
nas atividades agrícolas e florestal, o presente trabalho avaliará a sustentabilidade dos
SAFs para agricultura familiar usando delineamento sistemático tipo leque.
Diante do exposto o trabalho tem como objetivo avaliar a sustentabilidade dos
SAFs utilizando o modelo experimental tipo Nelder como alternativa sustentável para a
agricultura familiar no Estado de Sergipe.
2.0 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Histórico do Sistema Agroflorestal

Os Sistemas Agroflorestais (SAFs) são uma prática milenar tanto na Ásia como
na América Latina, sendo desenvolvida mais intensamente nas décadas de 80 e 90. Sua
abrangência é muito grande e tem sido adotados com sucesso em diversos ambientes
biofísicos e socioeconômicos, desde regiões de clima úmido, semi-árido ou temperado e
sistemas de baixo nível tecnológico e uso de insumos à alta tecnologia, tanto em
pequenas como em grandes áreas de produção, áreas degradadas ou de alto potencial
produtivo (NAIR, 1989).
O relato mais interessante conta que em 1806, quando U Pan Hdle em Burna,
estabeleceu um plantio florestal de teca (Tectona grandis) juntamente com culturas
anuais o qual foi denominado de método de TAUNGYA (taung = montes e/ou morro e
ya = cultivo). Este tipo de sistema por ter tido efeitos extraordinários na época, foi
oferecido como presente al Sir Dietrich Brandis. Este sistema se espalhou por toda
Burna e em seguida foi introduzido na África do Sul em 1887 e na Índia em 1890
(BRYANT, 1994).
Nair (1989) e Bryant (1994) comentam que os Sistemas Agroflorestais – SAFs
já eram praticados por populações que habitavam a Europa na Idade Média e Finlândia
nos anos de 1920.
2.2. Aspectos relevantes

Viana (1997) afirma que a busca de sistemas de produção apropriados em


termos socioambientais e viáveis economicamente é um elemento central nas estratégias
voltadas para o desenvolvimento rural sustentável. Isso significa a busca de melhorias
em diversas características dos sistemas convencionais de produção.
Os sistemas agroflorestais apresentam uma série de vantagens – algumas já
comprovadas cientificamente e outras não – em relação aos sistemas convencionais.
Dentre estas incluem-se: (1) a diminuição do uso de fertilizantes, (2) a conservação dos
solos e das bacias hidrográficas, (3) a redução do uso de herbicidas e pesticidas, (4) a
redução dos custos de recuperação de matas ciliares e fragmentos florestais, (5) a
adequação à pequena produção, (6) adequação a populações tradicionais e (7) a
melhoria da qualidade dos alimentos.
Mas as pesquisas sobre sistemas agroflorestais ainda são tímidas diante do seu
potencial e dos esforços já empreendidos no desenvolvimento de tecnologias
convencionais de produção agropecuária e florestal. A priorização da pesquisa sobre
sistemas agroflorestais é hoje plenamente justificável.

2.3. Conceitos de Sistemas Agroflorestais

O conceito de sistemas agroflorestais não é novo. Novo é o termo para designar


um conjunto de práticas e sistemas de uso da terra já tradicionais em regiões tropicais e
subtropicais.
Existem muitas definições para sistemas agroflorestais (SAF’s); desde “plantar
árvores em fazendas para melhorar a qualidade de vida dos agricultores pobres e
proteger os recursos naturais”, transmitida ao público pelo ICRAF (2000); bem como
outras mais ricas e complexas percepções do sistema de vida. Entre tantas cita-se mais
algumas: “Os SAF’s são formas de uso e manejo dos recursos naturais nas quais
espécies lenhosas (árvores, arbustos, palmeiras) são utilizadas em associação deliberada
com cultivos agrícolas ou com animais no mesmo terreno, de maneira simultânea ou em
seqüência temporal” (OTS; CATIE, 1986).
Nos SAFs, as espécies florestais, além de fornecer produtos úteis para o
agricultor, preenchem também um papel importante na manutenção da fertilidade dos
solos. Com esses atributos os SAFs podem trazer benefícios a partir das interações
ecológicas e econômicas que acontecem nesse processo (HUXLEY, 1985; NAIR, 1993;
LOPES CAVALCANTE, 1995, REEVES, 1998).
Os SAFs residem no objetivo de otimizar os efeitos benéficos das interações
que ocorrem entre componentes arbóreos, cultivos agrícolas e animais, na obtenção da
maior diversidade de produtos, diminuindo a necessidade de insumos externos e reduzir
os impactos ambientais negativos da agricultura convencional (YOUNG, 1991;
NAIR,1993).

2.4. Classificação de Sistemas Agroflorestais

A classificação de sistemas agroflorestais dada a elevada diversidade de formas


existentes se torna um enquadramento em determinados grupos ainda muito
heterogêneos (VIANA et al., 1997). Uma forma simples é entre sistemas silvipastoris
(animais e árvores ou arbustos), agrossilviculturais (plantas anuais e árvores ou
arbustos) e agrossilvipastoris (animais, plantas anuais e árvores ou arbustos). Os
sistemas agroflorestais podem ser classificados de acordo com sua: estrutura no espaço,
seu desempenho ao longo do tempo, a importância relativa, a função dos diferentes
componentes, seus objetivos de produção e com as características sociais e econômicas
que prevalecem.
Várias são as classificações dos SAFs, mas na atualidade adota-se a classificação
que é utilizada pelo ICRAF (International Council for Research in Agroforestry) e
Centro Agronômico Tropical de Investigación y Enseñanza (CATIE) (OTS;CATIE,
1986) e pela Rede Brasileira Agroflorestal (REBRAF), que se baseia no tipo de
componentes incluídos e na associação entre eles. Essa classificação é descritiva, e a
denominação da cada sistema indica os principais componentes empregados. O sistema
apresenta a idéia de sua fisionomia e suas principais funções e objetivos, todas têm suas
vantagens e desvantagens.
A dificuldade de se adotar um único sistema de classificação é satisfazer a todos
os requisitos. Por vezes, são necessárias classificações baseadas em critérios definidos
que atendem a diferentes propósitos (NAIR, 1993).
Na classificação dos SAFs, os critérios mais comumente usados têm sido os
relacionados aos atributos dos sistemas, tais como: os componentes (arbóreo, agrícola e
animal); as saídas (produção ou serviço); a dinâmica (arranjo espacial e temporal dos
componentes), as entradas (nível tecnológico e de insumos); a hierarquia (escala da
produção) e o ambiente do sistema (agroambiental).
Uma das principais características do SAF é uso do componente arbóreo em
sistema agrícola. Portanto, a árvore é usada como referencial para a classificação dos
SAFs (COMBE; BUDOWSKI, 1979; NAIR, 1993).
A primeira tentativa de classificação dos SAFs foi feita por Combe e Budowski
(1979) e aperfeiçoada por Nair (1993). Estas classificações baseiam-se nos seguintes
critérios: - Estrutural: refere-se à composição, arranjo espacial do componente arbóreo,
estratificação vertical e ao arranjo temporal dos componentes; - Funcional: refere-se à
principal função ou papel do componente arbóreo no sistema; - Sócio-Econômico:
refere-se ao nível de utilização de insumos no manejo e intensidade ou escala do manejo
e aos objetivos comerciais; e - Ecológico: refere-se às condições ambientais e de
sustentabilidade ecológica dos sistemas, ao assumir que certos tipos de sistemas podem
ser mais apropriados a determinadas condições ecológicas.

2.5 SAFs mais freqüentes

Devido, entre outros fatores, à versatilidade e a dinâmica da Agricultura


Familiar, um grande número de sistemas e práticas agroflorestais distribuíram-se em
diferentes regiões geográficas, os quais foram compilados por Nair (1993). Entre os
mais importantes SAFs, incluem-se os cultivos: itinerantes, taungya, pomar caseiro
(home-garden), aléias, combinação de perenes e silvipastoris.
Cultivo itinerante: conhecido também como agricultura migratória (shifting
cultivation) ou agricultura de derruba e queima, refere-se ao sistema de uso do solo no
qual a cobertura vegetal é derrubada e queimada, cultivo com espécies alimentícias por
alguns anos, e então a área é abandonada para regeneração (pousio) com vegetação
natural (HUXLEY, 1985; NAIR, 1993).
Nair (1993) considera que a África e a América Latina são duas regiões dos
trópicos que mais utilizam este sistema de cultivo. Nestas áreas tropicais, com baixa
densidade demográfica, onde os colonos têm áreas a disposição para o cultivo alcança a
relação de 10 para 1. Em geral o sistema é estável e ecologicamente balanceado.
Entretanto, com o aumento da pressão populacional, em muitas áreas o período de
pousio é drasticamente reduzido e o sistema torna-se degenerado, resultando em sérios
danos causados por erosão dos solos, queda na fertilidade e produtividade.
Por estes motivos é que se vem tentando introduzir algumas modificações nos
sistemas existentes, a exemplo do que se chama de pousio melhorado e pousio com
árvores ou pousio plantado, cujo objetivo é a manutenção e/ou melhoria da fertilidade
do solo. No pousio com árvores, o sistema é rotacional com espécies de árvores
selecionadas (ou preferidas), em seqüência com espécies alimentícias, como no cultivo
tradicional. Neste caso, as árvores selecionadas servem como produto econômico do
sistema de pousio e ainda prestam serviço como melhoradoras do solo.
Os sistemas silviagrícolas são caracterizados pela combinação de árvores ou
arbustos com espécies agrícolas. Já os sistemas silvipastoris se caracterizam pela
combinação de árvores ou arbustos com plantas forrageiras herbáceas e animais em
áreas de pastagem (NAIR; FERNADES, 1984; MACEDO, 1993).
Os sistemas agrossilvipastoris são caracterizados pela criação e manejo de
animais em consórcios silvi-agrícolas, por exemplo: criação de porcos em agroflorestas
ou, ainda: um quintal com fruteiras, hortaliças e galinhas.
Dentre os sistemas agroflorestais, o Taungya é considerado um dos mais
importantes pois envolve grande variedade de combinações de espécies, e modalidades
e adaptações às condições regionais (NAIR, 1993; BEER et al., 1994).
O quintal agroflorestal ou Quintal Caseiro (Homegarden), por sua vez, consiste
no conjunto de plantas, as quais incluem árvores, arbustos, trepadeiras e herbáceas,
cultivadas próximas ou nos arredores das moradias nas fazendas ou nas vilas rurais.
Na modalidade cultivo em faixas ou aléias (Alley Cropping), pelo critério
estrutural, estão inclusos os cultivos do cacaueiro, seringueira, dendezeiro, coqueiro,
cafeeiro, cajueiro, chá e pimenta-do-reino (ELEVITCH; WILKINSON, 2010).

2.6 Benefícios e Limitações dos SAFs

Os SAFs podem promover alguns benefícios, os quais não se aplicam da


mesma forma a todos os lugares e combinações de floresta, culturas agrícolas e animal
(YOUNG, 1991; WILSON, 1990).
Os SAFs podem aumentar a renda familiar; contribuir para a melhoria da
qualidade alimentar das populações rurais; promover a manutenção ou a melhoria da
capacidade produtiva da terra; facilitar a sedentarização dos agricultores; reduzir o risco
para os produtores devido a uma maior diversificação da produção em cada
propriedade; melhorar distribuição da mão-de-obra ao longo do ano, tornando mais
confortável o trabalho na lavoura; além de preencher um papel muito importante na
recuperação de áreas em via de degradação, bem como contribuir para a proteção do
meio ambiente (MAC. DICKEN; VERGARA,1990; NAIR, 1993).
As limitações dos SAFs ocorrem em função dos conhecimentos limitados dos
agricultores e até dos técnicos e pesquisadores sobre SAFs.
Como principais desvantagens dos SAFs destacam-se: o manejo é mais
complicado que o cultivo de espécies anuais ou de ciclo curto; o custo de implantação e
monitoramento dos SAFs é mais elevado; o componente florestal pode diminuir o
rendimento dos cultivos agrícolas e pastagens dentro dos SAFs; apresentam limitações
quanto à mecanização; muitos produtos gerados pelo sistema têm mercados limitados e
as árvores, quando grandes e mais velhas, podem causar acidentes.
2.7 Tipos de modelos aplicados (Modelo Nelder)

A definição do espaçamento de plantio, para determinada espécie ou clone, é de


alta importância em silvicultura, pois influencia as taxas de crescimento, sobrevivência
e produtividade de madeira por hectare, afetando as práticas de manejo, colheita e,
conseqüentemente, os custos de produção florestal (STAPE, 1995; RONDON, 2002).
Para determinação do espaçamento ótimo de plantio, os ensaios experimentais
devem conter um número suficiente de indivíduos mensuráveis, implicando grandes
áreas para suas instalações (SILVA, 2005). Outro complicador é a necessidade de
bordadura entre os tratamentos, visando evitar a influência exercida pelas árvores de
uma parcela sobre as das parcelas vizinhas. Dessa forma, a instalação de experimentos
tradicionais com repetição, aleatorização dos tratamentos, controle local e bordadura,
têm restringido o número de espaçamentos testados nos ensaios de campo, dadas às
dificuldades relativas às disponibilidades de área e recursos para instalação,
manutenção e avaliações (STAPE, 1995).
Visando superar tais restrições, foram propostos na década de 1960 alguns
delineamentos alternativos, entre eles os delineamentos sistemáticos de Nelder (1962).
Os delineamentos sistemáticos com fator quantitativo contínuo são aqueles em
que os tratamentos representam doses ou valores crescentes de um determinado fator e
que são arranjados nas unidades experimentais em ordem crescente ou decrescente
(FREEMAN, 1988).
Estes delineamentos foram inicialmente propostos para a área hortícola por
Nelder (1962), baseando-se na homogeneidade da área experimental e na baixa
correlação entre parcelas vizinhas. Além disso, o autor sugere que os delineamentos
sistemáticos, para estudo de espaçamentos, quando compactos e colocados em
gradientes crescentes, poderiam dispensar as plantas de bordadura, pois os efeitos das
parcelas anterior e posterior em relação a uma determinada parcela seriam
compensatórios, apresentando assim como vantagem um delineamento mais compacto,
redução de heterogeneidade local e inexistência de bordadura.
2.8 Modelo Sistemático Tipo “Leque”

Dentre os cinco delineamentos sistemáticos com fator quantitativo contínuo


propostos por Nelder (1962), destaca-se o denominado delineamento sistemático tipo
“leque” que se caracteriza por ser baseado num sistema de raios e arcos de círculos
concêntricos, onde a retangularidade, ou seja, a razão entre as distâncias inter e intra
linhas, é constante. Neste delineamento, a área por planta aumenta com o aumento da
distância à origem, sendo os raios separados por um ângulo constante e os arcos
espaçados por uma progressão geométrica da distância radial. O cálculo desses valores
de geometria plana e suas relações são detalhados pelo autor, e reforçados ou ampliados
na sua utilização por Bleasdale (1966), Namkoong (1966), Freyman e Dolman (1971),
Rogers (1972) e Chalita (1991).
A definição de retangularidade nos delineamentos tipo “leque”, é detalhada por
Rogers (1972) uma vez que as distâncias entre plantas, nos arcos, podem ser tomadas
sobre o arco, ou sobre a corda que imaginariamente unem as plantas vizinha
Da sua concepção para área hortícola os delineamentos tipo “leque” foram
rapidamente aplicados em plantas arbóreas por Freeman (1964) no estudo de
espaçamento em cacau. Seguiram-se a instalação de delineamentos tipo “leque” na área
florestal por Van Slyke (1966) e Chacko (1966), citados por Evert (1971), Myers et al.
(1970), Tennent (1975), Wright (1976) e Land e Nance (1987). E, por conseguinte, há a
necessidade de se estudar a aplicação deste tipo de delineamento em sistemas
agroflorestais.
Em delineamento sistemático tipo “leque”, conforme o modelo proposto por Nelder
(1962), o arranjo fica totalmente caracterizado ao definirem-se os valores do raio inicial
r0 (distância do centro do círculo à bordadura interna), a razão da progressão geométrica
dos raios (α) e o ângulo entre os mesmos (θ). Com estes valores podemos calcular os
raios dos tratamentos (r1 a rn), a área associada à cada planta (A1 a An), que é
representada pelo setor circular que a contém, e a retangularidade (τ), que representa a
relação entre as distâncias médias entre plantas nos raios e nos arcos. Estes valores estão
ilustrados na Figura 01 (NELDER, 1962; BLEASDALE, 1966; CHALITA, 1991).
Figura 01. Valores do raio inicial (r0), raios dos tratamentos (r1 a rn), ângulo entre raios (θ) e área
associada a cada planta (A1 a An) no delineamento sistemático tipo “leque”.
3.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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73.
CAPÍTULO 2

Levantamento da composição florística e fitossociológica de plantas infestantes em


Sistemas Agroflorestais no Município de São Cristóvão, Sergipe, Brasil

NASCIMENTO, Ana Valéria Santos. Levantamento da composição florística e


fitossociológica de plantas infestantes em Sistemas Agroflorestais no Município de
São Cristóvão, Sergipe, Brasil. In: Avaliação de Sistemas Agroflorestais utilizando o
modelo experimental Nelder como alternativa sustentável para a agricultura familiar no
Estado de Sergipe. 2011. Cap II (Dissertação de Mestrado em Agroecossistemas)
Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão3

1.0 RESUMO

O trabalho teve como objetivo caracterizar a composição florística e fitossociológica de


plantas infestantes em sistemas agroflorestais quanto ao grau de interferência no
sistema. O estudo foi desenvolvido no Campus Experimental do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia (IFECT), Campus São Cristóvão localizado no
município de São Cristóvão, Sergipe, Brasil. O levantamento florístico foi realizado no
primeiro semestre de 2010, em quatro quadrantes utilizando Modelo Nelder, sendo que
cada quadrante foi representado por uma espécie arbórea como, eucalipto; seringueira,
gliricídia e craibeira todas estruturadas em um delineamento sistemático tipo “leque”,
conforme o modelo Nelder. Foram identificadas 16 espécies de plantas infestantes na
área experimental distribuídas em 14 famílias. As famílias mais representativas em
número de espécies foram a Asteraceae e a Gramineae. Os resultados considerados no
estudo indicaram que a diversidade das plantas infestantes nos SAFs está diretamente
associada a má condução das práticas de manejo e espaçamento o que interferiu no
aumento e/ou diminuição das comunidades infestantes. O modelo proposto na aplicação
dos SAFs (Modelo Nelder) apresentou resultados significativos no que se refere ao
controle de plantas infestantes, sendo que, por ser um trabalho pioneiro, serão
necessários mais estudos para sua adoção.

Palavras-chaves: Plantas daninhas, agrofloresta, competição, fitossociologia

3
Comitê Orientador: Mário Jorge Campos dos Santos (Orientador), Genésio Tâmara Ribeiro – UFS, e Alessandra
Maria Ferreira Reis – UFS.
Survey of the floristic and fitossociologic composition of weeds plants in
Agroflorestry Systems in São Cristóvão Municipality - Sergipe, Brazil

NASCIMENTO, Ana Valéria Santos. Survey of the floristic and fitossociologic


composition of weeds plants in Agroflorestry Systems in São Cristóvão
Municipality - Sergipe, Brazil. In: Evaluation of Agroflorestry Systems using the
experimental model sustainable Nelder as alternative for agricultural farm in the State of
Sergipe. 2011. Charp. II. (Dissertation Master Programm in Agroecossystems)
Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão4.

2.0 ABSTRACT

The work had as objective to characterize the floristic composition and fitossociologic
of weeds plants in agroflorestry systems how much its degree of interference in the
system. The study it was developed in the Experimental Campus of the Federal Institute
of Education, Science and Tecnology (IFECT), in Cristóvão located in Cristóvão
country - Sergipe, Brazil. The florístic survey was carried through in the first semester
of 2010, in four quadrants using Nelder Model, being that each quadrant was
represented by a arboreal species as, eucalipto; seringueira, gliricídia and craibeira all
structuralized in a systematic delineation type “fan”, as the Nelder model. 16 species of
weeds plants in the experimental area distributed in 14 families had been identified. The
families most representative in species number had been the Asteraceae and the
Gramineae. The results considered in the study had indicated that, the diversity of the
weeds plants in the SAFs directly is associated to the bad conduction of practical of
handling and the spacement what intervened with the increase and/or reduction of the
communities weeds. The model considered in the application of the SAFs (Nelder
Model) presented significant resulted as for the control of weeds plants, being that for
being a pioneering work, more studies for its adoption are necessary.

Key-words: Weeds plants, agroflorestry, competition, fitossociologic

4
Guidance Committee: Mário Jorge Campos dos Santos (Major professor), Genésio Tâmara Ribeiro – UFS, and
Alessandra Maria Ferreira Reis – UFS.
3.0 - INTRODUÇÃO

A forma pela qual os agroecossistemas são atualmente manejados passa por


questionamentos de ordem econômica, política, social, ambiental e cultural. Do ponto
de vista ambiental, um dos mais sérios questionamentos é o manejo do solo. O sistema
convencional de preparo do solo (aração e gradagem, com intenso revolvimento do
solo) foi utilizado por muitos anos nos campos de cultivos, principalmente de culturas
anuais. A principal motivação para sua utilização consistia no controle das comunidades
de plantas espontâneas que competiam com as culturas (LANA, 2007).
Com o tempo, as práticas empregadas no sistema convencional começaram a
mostrar impactos negativos sobre o solo, percebidos na forma de erosão, redução dos
teores de matéria orgânica, compactação e perda da camada superficial do solo. Aliado
aos problemas de ordem ambiental, o custo das operações de preparo do solo tornou
este sistema pouco eficiente também do ponto de vista econômico (LANA, 2007).
A adoção de sistemas agroflorestais tem sido indicada como uma das
alternativas para o desenvolvimento da agricultura familiar, mediante a geração de
renda, emprego e proteção ao meio ambiente (SANTOS; CAMPOS, 1996; SANCHES,
1995; SCHEER; CURRENT, 1995).
Nos sistemas agroflorestais, os componentes produtivos são alocados para serem
eficazes e sustentáveis, de modo a usarem com máxima eficácia os fatores de produção
com menor competição entre si. Entretanto, o aparecimento de plantas daninhas pode
comprometer o equilíbrio dos fatores de produção, por competir com estes para o seu
crescimento.
As plantas invasoras (daninhas) são, em sua maioria, bastante rústicas,
desenvolvem-se em diversos tipos de solos, em várias altitudes e longitudes, e suportam
extremos de temperatura, escassez de água e injúrias (BRANDÃO et al., 1985).
De maneira geral, requerem os mesmos fatores exigidos pela cultura, ou seja,
água, luz, nutriente e espaço físico, estabelecendo um processo de competição e
interferência que pode ser determinado pela composição florística (espécie, densidade e
distribuição), pela cultura (cultivar e densidade), pelo ambiente (solo, clima e manejo) e
pelo período de convivência (PITELLI, 1985; KARAM et al., 2006).
Uma vez que a composição florística das comunidades invasoras pode variar em
função do tipo e da intensidade de tratos culturais impostos, o reconhecimento das
espécies presentes torna-se fundamental (ERASMO et al., 2004). O levantamento
florístico da comunidade invasora é imprescindível para decidir sobre o tipo de manejo
e controle adequados (ALBERTONI; ALMEIDA NETO, 1981; MACEDO; et al., 2003;
POTT et al. , 2006).
Já os estudos fitossociológicos permitem avaliar a composição da vegetação,
obtendo dados de freqüência, densidade, abundância, índice de importância relativa e
coeficiente de similaridade das espécies constatadas; e fazer várias inferências sobre as
mesmas (ERASMO et al., 2004).
Apesar do avanço das pesquisas relacionadas aos sistemas agroflorestais nos
últimos anos, ainda são poucas aquelas relacionadas ao manejo das plantas daninhas,
sendo a maioria conduzida, principalmente, com o objetivo de verificar o potencial do
uso de cobertura morta (CARVALHO; TORRES, 1994; ALLEY et al., 1999;
KAMARA et al., 2000), bem como do sombreamento proporcionado pelas árvores
(JAMA et al. 1991; RAO et al., 1998; STAVER et al., 2001; ROSÁRIO et al., 2004).
Estas estratégias de manejo das plantas daninhas, de um modo geral, estão associadas à
busca de sistemas agroflorestais propostos para desenvolvimento de sistemas de
produção alternativos àqueles com uso de insumos industrializados, muitas vezes
associados à agricultura de subsistência e à produção orgânica.
Sendo assim, o presente trabalho teve como objetivo realizar o estudo florístico e
fitossociológico da comunidade invasora em sistemas agroflorestais com diferentes
espaçamentos (Modelo Nelder) procurando-se determinar o grau de infestação e
distribuição das populações de acordo com os diferentes arranjos dos componentes do
sistema.
3.1 Plantas Infestantes

Uma planta qualquer, cultivada ou não, é considerada daninha se ela estiver


influindo negativamente numa determinada atitude humana, ou seja, no conceito de
planta infestante ou daninha está implícito o principio de indesejabilidade.
Na realidade, o conjunto de plantas que infestam áreas agrícolas, pecuárias e de
outros setores do interesse humano, sendo conceituadas como daninhas, são plantas com
características pioneiras, ou seja, plantas que ocupam locais onde por qualquer motivo,
a cobertura natural foi extinta e o solo tornou-se total ou parcialmente exposto. Este tipo
de vegetação, que não é exclusivo de ecossistema agrícola, sempre existiu e já foi muito
importante na recuperação de extensas áreas onde a vegetação original, foi extinta por
um processo natural.
Várias definições foram propostas para plantas daninhas. Lorenzi (2000) afirma
que estas plantas são consideradas como plantas invasoras aquelas que crescem em
lugares indesejáveis. Entretanto para Pitelli (1985), plantas infestantes são aquelas que
emergem espontaneamente em cultivos agrícolas causando interferência no
desenvolvimento dos mesmos, tornando alvo de controle.
Essas plantas conseguem se desenvolver rapidamente em diversos locais onde
causam prejuízos por competirem com as outras plantas que são do interesse humano
(LORENZI, 1990 e 2000; HOLM et al., 1991). Lorenzi (1990) afirma que a competição
das plantas oportunistas com outras plantas ocorre principalmente devido à sua
agressividade e grande produção de sementes com alta capacidade de disseminação e
longevidade. Outros fatores que também caracterizam algumas espécies de plantas
invasoras são: as suas exigências fisiológicas relativamente baixas, as altas taxas de
crescimento e as elevadas tolerâncias às variações ambientais (LORENZI, 1990).
3.2 Interferências das plantas infestantes

Os efeitos negativos observados no crescimento, desenvolvimento e


produtividade de uma cultura, devido à presença de plantas invasoras, não devem ser
atribuídos exclusivamente à competição imposta por esta, mas sim, a resultante de um
total de pressões ambientais diretas (competição, alelopatia, interferência na colheita) ou
no ambiente (PITELLI, 1985). Portanto, o termo interferência refere-se a todo o
conjunto de processos e ações pelos quais as plantas oportunistas podem interferir sobre
uma determinada cultura.
No Brasil, a redução da produtividade pode atingir altos níveis, de acordo com o
período crítico de ocorrência e o grau de infestação, podendo comprometer até 95% da
produção da cultura de interesse econômico (BLANCO; OLIVEIRA, 1976). Quanto
maior a incidência de plantas daninhas, maior a interferência das mesmas no
estabelecimento e na redução do rendimento da cultura. Além disso, o grau de
interferência depende das características da cultura (variedade, espaçamento e densidade
do plantio), da comunidade infestante (composição específica, densidade e distribuição),
do ambiente e da época e duração do período de convivência entre as plantas, podendo
ser alterado também pelas condições climáticas, edáficas e tratos culturais.
As plantas invasoras são, em sua maioria, bastante rústicas, desenvolvem-se em
diversos tipos de solos, em várias altitudes e longitudes, e suportam extremos de
temperatura, escassez de água e injúrias (BRANDÃO et al., 1995).
De maneira geral, requerem os mesmos fatores exigidos pela cultura, ou seja,
água, luz, nutriente e espaço físico, estabelecendo um processo de competição e
interferência que pode ser determinado pela composição florística (espécie, densidade e
distribuição), pela cultura (cultivar e densidade), pelo ambiente (solo, clima e manejo) e
pelo período de convivência (PITELLI, 1985; KARAM et al., 2006).
Podem depreciar a qualidade e o rendimento de um cultivo, dificultar a colheita
e, em casos extremos, inviabilizá-la. Lorenzi (1976) estimou perdas ocasionadas por
plantas invasoras em torno de 30 a 40% e 20 a 30% referentes às produções agrícolas
mundial e nacional, respectivamente.
As plantas espontâneas reduzem a produtividade das culturas vegetais através da
competição por recursos e da contaminação das colheitas (PEACHEY et al, 2004). O
número de plantas espontâneas que emerge do início da estação determina o nível de
competição por recursos com a cultura e decide qualquer intervenção adicional
necessária para regular a competição (DIELMANN et al, 1996, apud PEACHEY et al,
2004).
O grau de competição exercido pelas invasoras varia com a composição
florística e com o tipo e a intensidade de manejo utilizado na área, tais como roçadas,
capinas, aplicação de herbicidas, adubações, irrigação, entre outros fatores (ERASMO
et al., 2004).

3.3 Estudos ecológicos em comunidades infestantes

Os estudos ecológicos de comunidades infestantes são de suma importância para


o desenvolvimento de programas de manejo de plantas daninhas em razão dessa
vegetação ser conseqüência das condições ecológicas promovidas artificialmente pelo
homem nos agroecossistemas (BLANCO, 1972). Erasmo et al. (2004) informam que as
comunidades infestantes modificam sua composição e densidade populacional em
função do tipo de manejo agrícola empregado, sendo que, de acordo com Kuva et al.
(2000), esse é um dos fatores mais críticos do processo de produção agrícola.
Estudos ecológicos em agroecossistemas têm sido realizados por meio da
avaliação da interferência das plantas daninhas sobre as culturas e do estudo de índices
fitossociológicos das comunidades infestantes. O estudo da interferência tem tido como
base, principalmente, a determinação dos períodos onde a produção das culturas é mais
afetada pela competição imposta pelas plantas infestantes. Por sua vez, o estudo dos
índices fitossociológicos tem tido como base, principalmente, a determinação das
espécies de plantas daninhas mais importantes que ocorrem nas áreas de produção.
Deve-se ressaltar que o setor florestal, com as múltiplas funções das florestas,
traz consigo numerosos benefícios fundamentais para o homem, como o
desenvolvimento social e econômico, a redução da pobreza, a geração de empregos, a
energia rural, o abastecimento de produtos florestais essenciais, a conservação do solo e
da água, a recuperação de áreas degradadas, entre outros. Estudos da Organização das
Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) estimam que nas próximas
décadas haverá um déficit mundial de cerca de 700 milhões de m³ de madeira roliça
(SAGPyA FORESTAL, 1997) e que o aumento de produtividade somente será possível
com o controle dos fatores limitantes do crescimento e desenvolvimento das árvores.
Dentro desses fatores se destacam os que estão relacionados com a presença de plantas
oportunistas, pois estas competem por água, luz, elementos nutritivos e espaço, podendo
ainda exercer pressão de natureza alelopática, atuando como hospedeiros intermediários
de pragas e doenças, prejudicando a colheita e outras operações silviculturais e
aumentando o risco de incêndios (WIECHETECK, 1988; citado por KOGAN;
FIGUEROA, 1998).
Pitelli e Marchi (1998) afirmam que a interferência imposta pelas plantas
infestantes às culturas florestais é mais severa, principalmente, na fase inicial de
crescimento, ou seja, do transplante até cerca de 1 ano de idade.
Estudar a composição específica, ou seja, identificar corretamente as espécies
que se encontram em determinada área é de fundamental importância para a escolha do
melhor método de manejo das plantas daninhas. A composição das comunidades
infestantes em um agroecossistema é dependente das características de solo, clima e das
práticas agrícolas, tais como o manejo de solo e a aplicação de herbicidas (GODOY et
al., 1995; VOLL et al., 2001).
Sendo assim, essas comunidades podem variar sua composição também em
função do tipo e da intensidade dos tratos culturais impostos, tornando fundamental o
reconhecimento das espécies presentes, levando-se em consideração o custo financeiro e
ambiental dos métodos de manejo adotados (ERASMO et al., 2004). Segundo os
autores, é importante investir em métodos que auxiliem no conhecimento das
comunidades infestantes para utilização de um manejo adequado.
4.0- MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Caracterização da Área de Estudo

O levantamento foi realizado em área do Campus Experimental do Instituto


Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFECT), Campus São Cristóvão localizado
no município de São Cristóvão, situado a 10º54’30” latitude S e 37º11’00” longitude W
(Figura 01).

Figura 01: Mapa de localização da area de implantaçao do Nelder no IFECT


Fonte : SEPLAN-SE, 2009.

A região apresenta precipitação média anual de 1.200mm, temperatura média de


25,5ºC e umidade relativa do ar de 75% com período chuvoso concentrando-se entre os
meses de abril a junho de acordo com a aplicação da média móvel centralizada (Figura
02). O clima da região, de acordo com a classificação de Köppen, é do tipo As, tropical
chuvoso com verão seco.
Figura 02: Índice de precipitações anual utilizando média geométrica móvel no Município de
São Cristóvão, SE. Fonte: SEMARH,SE.

4.2 Levantamento Florístico

O levantamento das plantas invasoras foi realizado durante o mês de maio de


2010, em quatro áreas de cultivo, variando em cada área o componente florestal: clone
de eucalipto; clone de seringueira, gliricídia e uma quarta área plantada com craibeira;
todas estruturadas em um delineamento sistemático tipo “leque”, conforme o modelo
proposto por Nelder (1962).
A amostragem das plantas infestantes foi feita em cada área de estudo levando-
se em consideração o centro e a bordadura do experimento em parcela de 10m2 de área
sorteada ao acaso. Após a identificação preliminar feita no campo e a estimativa do grau
de infestação, as plantas invasoras foram cortadas rente ao solo, separadas e levadas ao
laboratório para completar o trabalho de separação por espécie e identificação. Após a
separação das plantas por espécie, foi feita a contagem de todos os indivíduos em cada
subárea amostrada, inclusive plântulas, quando era possível se distinguir. Para facilitar a
identificação botânica, foram preparadas, ainda no campo, exsicatas de todas as espécies
encontradas. Procedeu-se uma breve descrição das principais características das plantas,
tais como porte da espécie, altura, tipo de folha e de flores, quando encontradas. Foram
preparadas fichas para catalogação, onde foram anotados nome comum e científico, data
e local da coleta.
O trabalho de identificação foi feito, em princípio, por comparação, utilizando-se
as seguintes referências Leitão Filho et al .(1972); Albuquerque (1980); Kissmann;
Groth (1993); Le Bourgeois; Merlier (1995); Kissmann; Groth, (1997).

4.3 Levantamento Fitossociólogico

A avaliação de comunidades de plantas invasoras e do seu comportamento nos


diferentes habitats foi feita usando-se parâmetros fitossociológicos: densidade absoluta
(DA), freqüência absoluta (FA), densidade relativa (DR), freqüência relativa (FR) e
coeficiente de similaridade (CS).
Para a obtenção dos parâmetros e índices, os dados foram processados no
programa Microsoft Office Excel 2007, seguindo a rotina desenvolvida por Souza;
Lorenzi (2004; 2005) sendo empregadas as fórmulas usuais da fitossociologia com o
auxilio do Software FITOPAC – 1.0 (SHEPHERD, 1996). Os parâmetros
fitossociológicos foram determinados com auxilio de trabalhos realizados por Martins
(1979), Cavassan et al. (1984) e Hosokawa et al. (1998).
Para o estudo quantitativo, foi efetuada a contagem do número de plantas de
cada espécie. Posteriormente foram realizados os cálculos de freqüência de absoluta
usando-se a fórmula a seguir:
n
FA = x100 (01)
N
Sendo:
FA = Freqüência Absoluta
n = número de parcelas ocupadas, isto é, em que ocorre uma dada espécie
N = número total da parcelas editadas
A freqüência absoluta é sempre expressa em porcentagem da área em que
ocorre, sendo a área total igual a 100% (CARVALHO; PITELLI, 1992; SOUSA, 1995).
A freqüência relativa (FR) é a porcentagem de ocorrência de uma espécie em
relação à soma das freqüências absolutas de todas as espécies. Para o cálculo desta
freqüência utilizou-se a seguinte fórmula:
( p
FR = FA ÷ ∑i=1 FA x100 ) (02)

Sendo:
FR = Freqüência Relativa
FA = Freqüência Absoluta
∑ FA = Soma total das freqüências absolutas.

A Densidade Absoluta (DA) foi determinada pela contagem do número total de


indivíduos pertencentes a uma mesma espécie, em relação à unidade de área
(LAMPRECHT, 1962; CARVALHO; PITELLI, 1992; Sousa, 1995):

DA = n / área (3)
Sendo:
DA = Densidade Absoluta
n = Número de indivíduos

A Densidade Relativa (DR) foi definida pela porcentagem da densidade absoluta


(LAMPRECHT, 1962; 1964)

n / área
DR = x100 (4)
N / área
Sendo:
DR = Densidade Relativa
n = Número de indivíduos de cada espécie
N = Número total de indivíduos

O cálculo do coeficiente de similaridade foi realizado baseando-se na seguinte


fórmula proposta por Sorensen, (1972), citado por Carvalho; Pitelli (1992) e Sousa
(1995).
2C
CS = × 100 (5)
(A + B)

CS = Coeficiente de Similaridade (%)


A= número de espécies do quadrante A;
B= número de espécies do quadrante B;
C= número de espécies comuns a dois quadrantes.
5.0 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Composição Florística dos Quadrantes Estudados


Foram identificadas 16 espécies de plantas infestantes nas quatro áreas
experimentais distribuídas em 14 famílias (Tabela 01). As famílias mais representativas
em número de espécies foram a Asteraceae e a Gramineae.

Tabela 01 Relação das famílias e espécies encontradas nos quatro ambientes estudados, apresentando os
respectivos locais de ocorrência, localizados no Campus Experimental do Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia (IFECT), São Cristóvão,SE.
Quadrantes
Famílias / Espécies Nome Popular I II III IV
ASTERACEAE (COMPOSITAE)
Wedelia paludosa DC. Margarida p p p a
Taraxacum officinale Weber Dente de leão p p p p
COMMELINACEAE
Commelina erecta L.. Santa-luzia a a p a
CONVOLVULACEAE
Ipomea cairica Ipomeia a p p p
CYPERACEAE
Tiririca-branca p p p p
Dichromena ciliata Vahl
FABACEAE
Desmanthus illinoensis Maria fecha a porta p p p p
GRAMINEAE ( POACEAE)
Andropogon bicornis Capim- rabo-de-burro p p a p
Setaria geniculata (Lam.) Beauv. Capim-rabo-de-raposa p p p p
Echinochioa colona Capim arroz a a p p
LAMIACEAE
Hyptis suaveolens (L.) Poit. Salva- limão p p p p
LYTHRACEAE
Cuphea calophylla Cham. & Schelecht. Sete sangrias p p p a
MALVACEAE
Urena lobata L. Malva a p a a
RUBIACEAE
Spermacoce capitata Ruiz & Pav.. Poaia-da-praia a p p a
SOLANACEAE
Solanum paniculatum Jurubeba-verdadeira a a a p
URTICACEAE
Fleurya aestuans L. Cansanção p a a a
VERBENACEAE
Lantana camara L. Chumbinho a a a p

Legenda: a= ausente; p= presente

Todas as espécies de plantas coletadas na área experimental são relatadas como


plantas infestantes de agroecossistemas por Lorenzi (2000), Kissmann; Groth (1997).
A composição específica da comunidade infestante é um fator de fundamental
importância na determinação do grau de interferência, pois as espécies de plantas
integrantes da comunidade variam substancialmente em relação aos seus hábitos de
crescimento e exigências em recurso do meio. Roush; Radosevich (1985) afirmam que,
normalmente, as plantas que apresentam maior porte e crescimento mais rápido são as
que causam maior interferência competitiva.
No Quadrante I (consórcio eucalipto, feijão e milho) foram registrados 2201
indivíduos, distribuídos em 8 famílias e 9 espécies; no Quadrante II (consórcio craibeira
milho e feijão) 2182 indivíduos, 9 famílias, e 10 espécies; no Quadrante III (consórcio
seringueira milho e feijão), 6060 indivíduos, 10 famílias, e 12 espécies e no Quadrante
IV (consórcio gliricídia milho e feijão) foram registrados 1743 indivíduos, 9 famílias e
10 espécies.
Das espécies amostradas no levantamento, as que apresentaram maior número
de indivíduos foram Andropogon bicornis (3466), Dichromena ciliata Vahl (1915)
Wedelia paludosa DC. (1512), Echinochioa colona (980), Desmanthus illinoensis. (976)
e Taraxacum officinale Weber (874), Spermacoce capitata Ruiz & Pav. (756) (Figura
03).
Figura 03: Número de indivíduos das espécies identificadas nos quatro ambientes estudados localizados
no Campus Experimental do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFECT),
São Cristóvão, SE.

A matriz de similaridade florística (Tabela 02) mostrou que existe alta


semelhança das espécies entre as áreas onde foram desenvolvidos os levantamentos.
Todos os contrastes tiveram valores superiores a 50% para os índices percentuais de
similaridade (IS%) demonstrando que pelo menos metade das espécies foi comum às
áreas contrastadas.

Tabela 02: Matriz de similaridade florística de comunidades de espécies invasoras presentes nos
Quadrantes estudados
QUADRANTES I II III IV
I - 73,68% 76,19% 63,15%
II - - 81,81% 60%
III - - - 72,72%
IV - - - -

A análise da composição total da vegetação mostrou indícios de forte relação


entre as composições florísticas obtendo-se 71,21% de índice de similaridade.
Matteucci; Colma (1982) afirmam que valores acima de 25% indicam similaridade entre
os fatores comparados por este índice.
A maior similaridade se deu entre os quadrantes II e III, cujo índice de Sorensen
foi mais próximo de 1 (0,8181). Essa similaridade florística, de acordo com Gauch
(1982), pode ser considerada alta (similaridade maior que 0,5). A semelhança entre
esses grupos justifica-se pelo alto número de espécies comuns (9 espécies) em relação
ao total de espécies encontradas nos dois grupos (22 espécies) e também pela
proximidade dos quadrantes.
O menor índice de similaridade ocorreu entre os quadrantes II e IV, mas também
considerado alto (0,60), fato que pode ser explicado pela distância entre os quadrantes.
Para cada quadrante determinado, existem espécies exclusivas (Tabela 01). São
espécies que tem relação limitada e muito forte a certas características ambientais. Por
outro lado, é possível comprovar a existência de muitas espécies comuns a todos os
quadrantes. Essas espécies podem ser consideradas generalistas e se caracterizam pela
baixa susceptibilidade às variações dos fatores abióticos.
As espécies Fleurya aestuans L; Urena lobata L, e Commelina erecta L foram
exclusivas nos quadrantes I, II e III, respectivamente. No quadrante IV Q(IV), as
espécies exclusivas foram a Solanum paniculatum e Lantana camara L. (Tabela 01).
Foi observado que 7 espécies foram comuns aos quadrantes QI e QII; 8 aos
quadrantes QI e QIII; 6 aos quadrantes QI e QIV; 9 aos quadrantes QII e QIII; 6 aos
quadrantes QII e AIV; 8 aos quadrantes QIII e QIV e 5 espécie se fizeram presentes nos
4 ambientes (Tabela 1). As famílias Urticaceae, Malvaceae e Commelinaceae foram
exclusivas dos quadrantes I, II, e III, respectivamente. No quadrante IV, as famílias
Solanaceae e Verbenaceae foram exclusivas dessa área. (Tabela 01).
As famílias mais representativas em número de espécies encontradas no estudo
(Asteraceae e Gramineae) se assemelham às identificadas por outros autores
(BRANDÃO et al., 1995) no Estado do Rio de Janeiro. Em trabalhos de caracterização
fitossociológica em áreas alteradas pela atividade agropecuária, Curtinhas et al. (2010)
observaram também que as famílias de plantas daninhas que apresentaram maior
destaque foram Gramineae e Asteraceae.
As Gramineaes estão entre as famílias de plantas economicamente mais
importantes no mundo e é, freqüentemente, bastante representativa em termos de
espécies de plantas infestantes em vários ambientes (HOLM et al., 1991; LORENZI,
2000; ERASMO et al., 2004). Um estudo desenvolvido por Souza et al. (2003)
identificou uma alta interferência de plantas invasoras em agroecossistemas de cupuaçu
e pupunha, sendo que as espécies da família Gramineae foram as mais representativas,
assim como o observado no presente estudo. Holm et al. (1991) afirmam que grande
parte das espécies da família Gramineae (Poaceae) é perene e produz elevada
quantidade de sementes, o que aumenta consideravelmente o seu poder de disseminação
e colonização de diversos tipos de ambientes, mesmo que suas condições sejam
inóspitas.
A alta densidade da Gramineae encontrada neste trabalho também pode ser
justificada em função da proximidade com áreas de pasto, sendo o gado bovino o
principal agente de dispersão das sementes (CRUZ et al., 2009).
LORENZI (2000) afirma que as Asteraceae estão entre as primeiras plantas
daninhas que surgem após o preparo do solo devido a sua grande adaptação em locais
desbravados; possuir elevada produção de sementes, podendo uma única planta produzir
de 3000 a 6000 sementes; apresentar fácil processo de dispersão bem como seu
mecanismo de dormência, onde as sementes enterradas no solo podem germinar após
três a cinco anos.

5.2 Levantamento Fitossociológico

A densidade total calculada dos quatro quadrantes estudados foi de 12.186


indivíduos/ha.
As espécies com maior número de indivíduos por hectare foram: Andropogon
bicornis com 3466; Dichromena ciliata Vahl, com 1915; Wedelia paludosa D.C com
1512; Echinochioa colona com 980; Desmanthus illinoensis com 976; Taraxacum
officinale Weber com 874; Spermacoce capitata Ruiz & Pav. com 756 e Setaria
geniculata (Lam.) Beauv. com 583. Estas espécies detêm 90,77% do total de indivíduos
amostrados (Figura 04)
Figura 04 Densidade (indivíduos/hectare- %) das espécies mais representativas identificadas nos quatro
ambientes estudados localizados no Campus Experimental do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia (IFECT), São Cristóvão, SE.

As espécies daninhas que apresentaram as maiores porcentagens de freqüência


relativa foram Taraxacum officinale Weber, Dichromena ciliata Vahl, Desmanthus
illinoensis e Setaria geniculata (Lam.) Beauv. (Tabela 03).
Tabela 03 Espécies ocorrentes na área experimental localizada no Campus Experimental do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFECT), São Cristóvão, SE
com seus respectivos estimadores fitossociológicos; Densidade absoluta (D. A); Densidade Relativa (DR); Freqüência absoluta (F A) e Freqüência Relativa (FR).
Família Espécie Popular DA D R (%) F. A FR (%)
Wedelia paludosa DC Margarida 1512 12,41 75 7,90
Asteraceae
(Compositae) Taraxacum officinale Weber. Dente de leão 874 7,17 100 10,50
Commelinaceae Commelina erecta L. Santa Luzia 127 1,04 25 2,63
Convolvulaceae Ipomea cairica Ipomeia 239 1,96 75 7,90
Cyperaceae Dichromena ciliata Vahl Tiririca branca 1915 15,71 100 10,50
Fabaceae Desmanthus illinoensis Maria fecha a porta 976 8,00 100 10,50
Gramineae Andropogon bicornis Rabo de burro 3466 28,44 75 7,90
Setaria geniculata (Lam.) Beauv. Rabo de raposa 583 4,78 100 10,50
Echinochioa colona Capim arroz 980 8,04 50 5,30
Continuação da tabela...
Família Espécie Popular DA D R (%) F. A FR (%)
Lamiaceae Hyptis suaveolens (L.) Poit. Salva limão 315 2,58 25 2,63

303
Lythraceae Cuphea calophylla Cham. & Schelecht. Sete sangrias 2,48 75 7,90
Malvaceae Urena lobata L. Malva 52 0,42 25 2,63
Rubiaceae Spermacoce capitata Ruiz & Pav. Poaia da Praia 756 6,20 50 5,26
Jurubeba-
Solanaceae Solanum paniculatum verdadeira 16 0,13 25 2,63
Urticaceae Fleurya aestuans L. Cansanção 52 0,43 25 2,63
Verbenaceae Lantana camara L. Chumbinho 20 0,16 25 2,63
TOTAL 12186 100,00 950 100,00
De forma geral a espécie Andropogon bicornis apresentou elevados valores de
densidade relativa. As famílias mais bem distribuídas na área estudada foram:
Asteraceae, Cyperaceae, Fabaceae e Gramineae ocorrentes nos quatro quadrantes.
(Figura 05).

Figura 05: Densidade (indivíduos/ hectare) das famílias mais representativas identificadas nos quatro
ambientes estudados localizados no Campus Experimental do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia (IFECT), São Cristóvão, SE.

Apesar de representarem apenas 30,76% do total das famílias amostradas, mas


totalizando 75,06% da densidade total, as famílias mais bem representadas foram:
Asteraceae (2386 indivíduos/ ha), Gramineae (5029 indivíduos/ ha), Cyperaceae (1915
indivíduos/ ha), Fabaceae (976 indivíduos/ ha) e Rubiaceae (756 indivíduos/ ha) (Figura
06).
Figura 06. Densidade (%) das famílias mais representativas identificadas nos quatro ambientes estudados
localizados no Campus Experimental do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
(IFECT), São Cristóvão, SE.

Asteraceae e Graminea são típicas em estudos com plantas daninhas


(CARVALHO; PITELLI, 1992; DUARTE; DEUBER, 1999; MODESTO-JÚNIOR;
MASCARENHAS, 2001; CARDINA et al., 2002; JAKELAITIS et al., 2003;
ERASMO et al., 2004; MURPHY et al., 2006; DUARTE et al., 2007), provavelmente
por apresentarem alta disseminação e elevada ocorrência em ambientes antropizados
(PEDROTTI ; GUARIM-NETO, 1998).
Em se tratando das espécies comuns aos quatros quadrantes e sua localização
nos mesmos (centro e borda), a Dichromena ciliata Vahl (Cyperaceae) se fez presente
apenas na borda dos quatro quadrantes. Tal situação pode ser explicada, pois em
condições ambientais favoráveis, onde há temperatura elevada e intensa luminosidade,
seu estabelecimento é rápido devido ao intenso crescimento vegetativo e a produção de
novos tubérculos; razão primária da sua vantagem competitiva com as culturas
(JAKELAITIS et al., 2003), comprovando assim a sua ocorrência na área do
experimento onde os espaçamento são maiores.
É importante ressaltar que a área onde foi alocado o experimento possui um
córrego perene que atravessa os quadrantes um e dois. Essa situação explica a
incidência da espécie Taraxacum officinale Weber, espécie ocorrente em ambientes
úmidos.
A Setaria geniculata (Lam.) Beauv., ocorreu com maior densidade no centro dos
quadrantes. Essa espécie é característica de terrenos baldios, situação semelhante a da
área de estudo pois a mesma nunca foi utilizada para outro fim. Observou-se também
que a maior germinação ocorrida no centro dos quadrantes se deu, pois houve uma
menor incidência de luz proveniente das espécies florestais presentes em cada
quadrante. Em trabalhos realizados no Cerrado, Carmona et al (1998) observaram que a
luz não promoveu a germinação das sementes de Setaria geniculata (Lam.) Beauv.
6.0 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo prévio da área a ser manejada e um planejamento minucioso na


elaboração do arranjo agroflorestal são imprescindíveis para minimizar as adversidades
que podem ocorrer ao longo da linha de pesquisa com SAF.
Por ser um sistema dinâmico envolvendo múltiplas variáveis, o tempo também é
um fator extremamente importante, principalmente quando se trata de culturas perenes
ou a interação entre estas e culturas anuais, pois isto pode acarretar subestimativa das
respostas que poderiam advir com o tempo.
Os resultados considerados no estudo indicaram que, a diversidade das plantas
infestantes nos SAFs está diretamente associada à má condução das práticas de manejo
interferindo no aumento da comunidade infestante.
7.0-REFERENCIA BIBLIOGRÁFICAS

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CAPÍTULO 3

Análise Econômica em Sistemas Agroflorestais implantados no Modelo


Experimental Nelder no Município de São Cristóvão, Sergipe, Brasil.

NASCIMENTO, Ana Valéria Santos. Análise Econômica em Sistemas Agroflorestais


implantados no Modelo Experimental Nelder no Município de São Cristóvão,
Sergipe, Brasil. In: Avaliação de Sistemas Agroflorestais utilizando o modelo
experimental Nelder como alternativa sustentável para a agricultura familiar no Estado
de Sergipe. 2011. Cap III (Dissertação de Mestrado em Agroecossistemas)
Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão5

1.0 RESUMO

O trabalho teve como objetivo avaliar os aspectos econômicos do sistema de produção


agroflorestal implantado no modelo proposto por Nelder como alternativa tecnológica
de produção rural e verificar se os investimentos proporcionam rentabilidade financeira
aos produtores rurais da região. O sistema foi implantado em junho de 2009 no Campus
Experimental do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFECT), Campus
São Cristóvão localizado no município de São Cristóvão, Sergipe, Brasil utilizando-se
mudas de diferentes espécies em uma área de 1 ha. O SAF foi avaliado utilizando-se os
seguintes critérios financeiros de avaliação de projetos: Valor Presente Líquido (VPL),
Razão Benefício/Custo (RB/C) e Payback para as culturas agrícolas anuais. Foram
quantificados os custos de implantação e as receitas obtidas. Após dois anos de
implantação, a renda gerada (R$ 3.320/ha), foi suficiente para pagar despesas totais do
projeto. Os resultados considerados no estudo indicaram que para as condições pré-
estabelecidas no estudo a exploração de policultivos (SAFs) em delineamentos
sistemáticos (NELDER) contribuiu de forma positiva para a redução dos riscos sócio-
econômicos e ecológicos, inerentes às monoculturas.

Palavras-chaves: Indicadores econômicos, agrofloresta, viabilidade

5
Comitê Orientador: Mário Jorge Campos dos Santos (Orientador), Genésio Tâmara Ribeiro – UFS, e Alessandra
Maria Ferreira Reis – UFS.
Economic analysis in implanted Agroflorestrys Systems in the Experimental Model
Nelder in Cristóvão, Sergipe, Brazil.

NASCIMENTO, Ana Valéria Santos. Economic analysis in implanted Agroflorestrys


Systems in the Experimental Model Nelder in Cristóvão, Sergipe, Brazil. In:
Evaluation of Agroflorestry Systems using the experimental model sustainable Nelder
as alternative for agricultural farm in the State of Sergipe. 2011. Charp. II. (Dissertation
Master Programm in Agroecossystems) Universidade Federal de Sergipe, São
Cristóvão6.

2.0 ABSTRACT

The work had as objective to evaluate the economic aspects of the implanted system of
agroflorestry production in the model considered for technological Nelder as alternative
of agricultural production and to verify if the investments they provide financial yield to
the agricultural producers of the region. The system was implanted in June of 2009 in
the Experimental Campus of the Federal Institute of Education, Science and Tecnologia
(IFECT), in São Cristóvão, Sergipe, Brazil using itself dumb of different species in an
area of 1 ha. The SAF was evaluated using the following financial criteria of evaluation
of projects: Liquid Present Value (VPL), Benefit/Cost (B/C) and Payback for the annual
agricultural cultures. The costs of implantation and the gotten prescriptions had been
quantified. After two years of implantation, the generated income (R$ 3,320/ha), it was
enough to pay total expenditures of the project. The results considered in the study had
indicated that for the conditions preset in the study the exploration on agroforestry
systems (SAFs) in systematic delineations (NELDER) contributed of positive form for
the reduction of the partner-economic and ecological risks, inherent to the cultivations.

Key-words: Economic indicator, agroforestry, viability

6
Guidance Committee: Mário Jorge Campos dos Santos (Major professor), Genésio Tâmara Ribeiro – UFS, and
Alessandra Maria Ferreira Reis – UFS.
3.0 INTRODUÇÃO

O avanço da fronteira agrícola sobre as áreas naturais vem descaracterizando o


ecossistema original, com sérios prejuízos à qualidade de vida das populações
(OHASHI et al., 2004). O desenvolvimento e modernização da agropecuária brasileira,
inegavelmente proporcionaram significativos aumentos da área plantada, da
produtividade e, consequentemente, da produção de produtos de origem animal embora
tenha provocado uma grande diminuição da cobertura florestal natural.
Outra realidade é que grande parte dos pequenos produtores rurais com pouca
renda para sua sobrevivência necessitam de alternativas de aumento de emprego e renda
na propriedade rural (RODIGHERI, 2004).
Os Sistemas agroflorestais (SAFs) surgem então, como uma alternativa de
desenvolvimento ambiental e sócio-econômico, que busca beneficiar o sistema
produtivo através do enriquecimento de espécies dentro de uma mesma área,
aumentando a vida útil das culturas e gerando renda para o produtor.
Nesses casos, o produtor pode racionalizar a ocupação de suas terras usando-as
melhor, com cultivos agrícolas anuais e, obedecendo à legislação, ocupando as terras
com potencial silvicultural com o plantio de árvores.
Sendo assim, os SAFs constituem práticas de cultivo envolvendo espécies
arbóreas e cultivos anuais ou perenes, como forma de buscar a otimização do uso da
terra e a maximização dos retornos por unidade de área.
Dubois (1996) afirma que os sistemas agroflorestais podem ser definidos como
sendo a modalidade de uso integrado da terra para fins de produção florestal, agrícola e
pecuária
De maneira geral, os sistemas agroflorestais são caracterizados pelo “uso de
árvores com qualquer outro cultivo, ou pela combinação de árvores com cultivos
alimentícios” (VERGARA, 1985). Uma definição clássica é a que descreve os sistemas
agroflorestais como sistemas de uso da terra em que se combinam, deliberadamente, de
maneira consecutiva ou simultânea, na mesma unidade de aproveitamento da terra,
espécies arbóreas perenes com cultivos agrícolas anuais, e/ou animais, para obter
permanentemente maior produção (ICRAF, 1983).
Um dos propósitos dos sistemas agroflorestais consiste em diversificar a
produção de quem o implanta, possibilitando tanto a melhoria do nível de vida da
família – com a elevação do autoconsumo – como a diminuição dos riscos dos
empreendimentos, mediante a geração de renda pelo conjunto das culturas do sistema
(VAN LEEUWEN et al., 1997).
Apesar da concordância de que os SAF’s apresentam vantagens ecológicas e
podem reduzir os riscos de investimento em uma só cultura, constata-se que estes
representam uma atividade complexa que apresenta tantos riscos e incertezas como
outras atividades agrícolas e florestais mais conhecidas; partindo daí a importância de se
fazer avaliações econômicas (BENTES-GAMA, 2003). A obtenção de números
referentes aos custos de implantação e rentabilidade desses sistemas se faz necessária
para que se possa fazer uma avaliação da viabilidade econômica, que permita que os
técnicos, assim como os produtores rurais, conheçam os investimentos necessários e a
rentabilidade possível de ser obtida num sistema agroflorestal.
Diante dos estudos sobre consórcios agroflorestais há necessidade de resultados
concretos que demonstrem a viabilidade sob os aspectos financeiros como forma de
aumentar a aceitabilidade dos sistemas agroflorestais (SAFs) pelos produtores e definir
parâmetros que possam respaldar os diferentes modelos agroflorestais propostos aos
produtores rurais (GOMES et al. , 2002).
Em estudos desta magnitude, é possível verificar o grau de dependência dos
sistemas agroflorestais pela mão-de-obra do produtor rural, se há produção contínua e
geração de receita em todos os anos de cultivo, bem como a viabilidade financeira dos
diversos sistemas existentes.
Smith et al. (1998) afirmam, porém, que, para que os sistemas agroflorestais
sejam difundidos como sistemas de produção viáveis, e até mesmo ideais, devem-se
concentrar esforços no aprimoramento do conhecimento sobre o planejamento e a
otimização da sua implantação, a fim de garantir um retorno econômico desejável; isso
passa, necessariamente, pelo estudo de mercados, pela análise do desenvolvimento
agroindustrial regional, pelo conhecimento da organização das comunidades envolvidas
na atividade, pelas condições de crédito existentes, pelo ambiente regulador e fiscal e
pelas questões de posse da terra.
Outro entrave para os baixos níveis de adoção de SAFs refere-se aos poucos
estudos sobre a viabilidade econômica desses sistemas (OLIVEIRA; VOSTI, 1997; SÁ
et al., 2000; SANTOS et al., 2002; ARCO-VERDE, 2003; REYDON et al., 2003); para
o caso específico da avaliação da eficiência de uso da terra dos SAFs em relação a um
monocultivo, bem como no que se refere à avaliação do risco de investimento em
empreendimentos dessa natureza, a carência é ainda maior.
No Brasil, as pesquisas com SAFs iniciaram-se no final da década de 1980,
voltadas para avaliações biológicas e técnicas das interações entre as espécies
componentes desses sistemas constatando-se um reduzido esforço de pesquisa na sua
avaliação econômica. De maneira geral, Rodrigues (1992) afirma que, existiam
disponíveis, até o inicio da década de 1990, poucas pesquisas sobre sistemas
agroflorestais, que se concentravam, sobretudo, em aspectos técnicos e biológicos,
havendo, assim, a necessidade de se promover avaliações econômicas dos sistemas já
utilizados.
Por sua vez, estudos já realizados por Santana et al. (1998) apontam que os
valores destes produtos para as populações rurais e urbanas podem revelar-se como
importante componente dentro do esforço para conservar, gerenciar, enriquecer e
explorar racionalmente os recursos naturais, recuperar áreas degradadas, assim como
dinamizar o desenvolvimento rural, dado a vantagem comparativa natural que dispõe e a
possibilidade real de criar vantagens competitivas sustentáveis.
Diante dessa abordagem teórica conceitual das interfaces entre a produção em
SAF, meio ambiente e rentabilidade financeira, este estudo objetiva avaliar os aspectos
econômicos do sistema de produção agroflorestal implantado no modelo proposto por
Nelder como alternativa tecnológica de produção rural e verificar se os investimentos
proporcionam rentabilidade financeira aos produtores rurais da região
Para tanto, determinaram-se os custos dos fatores de produção dos sistemas e a
rentabilidade, por meio dos indicadores econômicos: Valor Presente Líquido (VPL),
Razão Benefício/ custo (B/C) e Taxa Interna de Retorno (TIR).

3.1 Composição de espécies em Sistemas Agroflorestais

As características referentes ao desempenho de cada consórcio devem-se em


grande parte a interação das espécies que farão parte da sua composição, bem como o
tipo de arranjo, os espaçamentos utilizados, o nível tecnológico do produtor etc. Os
SAFs trazem a vantagem de diversificação do plantio pela possibilidade de
combinações variadas das espécies em uma mesma área. Dubois et al (1996) afirmam
que a escolha da espécie e o momento de introdução no sistema é um critério importante
no planejamento.
O consórcio é constituído por uma ou mais espécies perenes agrícolas,
associadas às espécies adjuvantes ou de serviço. Nesses consórcios, as espécies
adjuvantes preenchem, de fato, diversas funções, tais como: fornecer sombra ou
proteção aos cultivos agrícolas, produzir madeira com forte demanda no mercado,
manter ou aumentar a fertilidade do solo, contra o calor do sol e o impacto das chuvas
(DUBOIS et al., 1996; OLIVEIRA et al., 2005). Algumas culturas, mesmo em solos de
baixa fertilidade, que poderiam apresentar um menor rendimento, se beneficiam da
associação com outras espécies influenciando positivamente na sua produção.
Tratando dessa complexidade e dinamismo que envolve esses sistemas de
cultivo, as espécies arbóreas envolvidas são de extrema importância e devem ser
estudadas cuidadosamente para que haja o planejamento adequado da implantação das
culturas e as trocas que ocorrerão ao longo do tempo, visto que as práticas culturais são
introduzidas de formas diferenciadas, desde o plantio, podas, adubações ou aplicações
posteriores de insumos.
Em determinadas culturas, com relação à produtividade, pode ocorrer um efeito
conjunto do sistema de produção e do tempo. Esse efeito pode ser determinado pelos
tipos de culturas associadas ou mesmo pela característica da própria cultura.

3.2 Distribuição espacial dos componentes (arranjos e espaçamentos)

Para a exploração comercial do sistema é necessário o planejamento de todas as


fases, particularmente daquelas diretamente ligadas à implantação. Qualquer erro
cometido nesse período pode comprometer seriamente a exploração, resultando em
baixas produtividades e menor longevidade das espécies ou mesmo inviabilizando a
atividade por onerar o custo de produção.
Normalmente se utilizam o máximo de conhecimentos sobre os fatores que
contribuem para o melhor crescimento e para a maior produção, embora muitas
variações ou adaptações sejam hoje adotadas em função do sistema de produção
utilizado (NECAF, 2009).
O sucesso da implantação está na soma de decisões a serem tomadas, quanto a
escolha das espécies e o método de plantio, visando a composição do mosaico
agroflorestal, de acordo com o estágio sucessional.
O posicionamento das espécies arbóreas e arbustivas na composição dos vários
extratos no SAF deve ser baseado no conhecimento do nível de tolerância das espécies
componentes. As árvores mais altas devem ser heliófilas, com altas taxas de
evapotranspiração, enquanto os componentes dos extratos inferiores devem ser
tolerantes à sombra e à alta umidade relativa do ar (ENGEL, 1999).
A densidade de cada espécie e seu arranjo, tanto na estrutura vertical como
horizontal, visam maximizar a capacidade produtiva por unidade de área, em função de
aspectos agronômicos como viabilidade dos tratos culturais e colheita, a minimização da
competição inter e intra-específica e otimização da área agrícola disponível (OLIVEIRA
et al., 2005).
Dubois et al. (1996) comentam que a distribuição espacial das espécies
adjuvantes dentro do sistema é variável. A definição do espaçamento de plantio, para
determinada espécie, é de alta importância em silvicultura, pois influencia as taxas de
crescimento, sobrevivência e produtividade, afetando as práticas de manejo, colheita e,
conseqüentemente, os custos de produção (STAPE, 1995; RONDON, 2002).
O plantio adensado e diversificado em SAFs possibilita um melhor
aproveitamento das áreas de plantio, ocupando todos os estratos e diferentes
profundidades de solo, diferenciando-se dos monocultivos, onde os espaçamentos
convencionais são grandes e o solo geralmente fica descoberto, favorecendo o
surgimento das chamadas plantas espontâneas. O plantio diversificado e adensado busca
uma ocupação mais eficiente dos diferentes nichos ecológicos do agroecossistema, com
a substituição de espécies pertencentes a diferentes grupos sucessionais e aumento da
biomassa ao longo do tempo (ROSÁRIO et al., 2004).
O arranjo é outro aspecto que deve ser levado em consideração, com preferência
para as espécies nativas, isso pelo fator adaptação, tanto em relação ao local de
implantação, quanto à espécie que se vai consociar.

3.3 Valoração econômica dos sistemas agroflorestais

A atividade agroflorestal reúne em seu processo produtivo uma série de etapas


decorrentes das práticas agrícolas e florestais necessárias à condução e ao manejo das
espécies que compõe o sistema. Por esse motivo, a análise financeira de um cenário
agroflorestal se torna complexa, uma vez que envolve a combinação de diversas
variáveis técnicas e custos, cujas informações muitas vezes não estão facilmente
disponíveis (BENTES-GAMA, 2003).
De maneira geral, no Brasil, as pesquisas a respeito de sistemas agroflorestais
têm abordado mais aspectos biofísicos, ecológicos e sociais, deixando uma lacuna em
relação aos aspectos econômicos. A demanda por informações acerca da viabilidade
econômica de sistemas agroflorestais tem crescido em função da busca por alternativas
para diversificação de produção e renda, e recuperação ambiental de áreas antes usadas
na agricultura tradicional e que atualmente apresentam-se degradadas ou estão em
algum nível de degradação.
Para Rodrigues et al. (2008) uma importante característica dos SAFs é que eles
estão inseridos numa perspectiva de sustentabilidade em seu escopo ambiental, uma vez
que a perenidade implica o uso permanente da mesma área, o que necessita de certa
estabilidade do sistema. Entretanto, para que os SAFs possam se projetar como vetores
do desenvolvimento sustentável, torna-se essencial o entendimento de seus preceitos
básicos, ou seja, suas potencialidades e limitações não apenas sob seus princípios
ambientais, mas também econômicos.
Além dos aspectos ecológicos, como a proteção do solo e a diversidade de
espécies, reduzindo os ataques de pragas e evitando os riscos da monocultura, os
sistemas agroflorestais têm como características a possibilidade de entradas de receitas
em varias épocas ao longo do horizonte de planejamento.
Couto e Passos (1995) afirmam que o estudo econômico do sistema é importante
porque mostra ao produtor a viabilidade do empreendimento, aponta a possibilidade de
aumentar a fonte de renda familiar, diversifica a origem de renda e diminui os riscos de
variação dos preços devido à época de safra.
Sendo assim, para a análise econômica de SAFs existem basicamente três
perspectivas, considerando os atores envolvidos. A primeira está relacionada ao agente
financeiro que visa rentabilidade dos sistemas; a segunda está relacionada ao produtor
em satisfazer suas necessidades urgentes com a máxima garantia do investimento; e a
terceira, ligada a ambientalistas, com a finalidade de proteger o meio ambiente e
garantir desenvolvimento sustentável (LABARTA-CHAVARRI; LANSING, 2005).
Os mesmos autores afirmam ainda que os níveis de avaliação dos SAFs
dependem dos indicadores financeiros, de indicadores do produtor e da avaliação dos
impactos ambientais. É importante também considerar na avaliação econômica que os
SAFs têm componentes diversos inter-relacionados em tempo e espaço e que a natureza
dos SAFs requer uma avaliação de rentabilidade financeira diferenciada.
Entre as alternativas mais consistentes para análise de investimentos, têm-se o
valor presente líquido ou valor atual (VPL), que é indicado pela diferença entre receitas
e custos atualizados para determinada taxa de desconto (REZENDE, 2001). O valor
presente líquido determina a viabilidade de um cultivo pela diferença positiva entre
benefícios e custos (RODRIGUES et al., 2008).
Outro critério utilizado é a Razão Benefício/Custo, que consiste em determinar a
relação entre o valor presente dos benefícios e o valor presente dos custos, para uma
determinada taxa de juros ou descontos. Um projeto é considerado viável
economicamente se B/C > 1. Entre dois ou mais projetos, o mais viável é aquele que
apresentar o maior valor de B/C (REZENDE, 2001). A análise de benefício/custo
permite comprovar a viabilidade econômica do investimento, ao comparar as receitas do
projeto com os custos e investimentos nele efetuados, ao longo de sua vida útil.
Para culturas florestais utiliza-se o valor esperado da terra (VET). Este critério
representa o valor presente líquido para uma série infinita de rotações de uma mesma
atividade florestal (DOSSA, 2000).
Dentre os estudos de avaliação econômica de sistemas agroflorestais realizados
pelo Brasil, em geral, os resultados obtidos foram satisfatórios para o pequeno produtor
(RODRIGUES, 2005; DUBÉ, 1999; SANTOS, 1996).
4.0 - MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Localização e caracterização da área

Em junho de 2009 teve início a implantação do sistema utilizando-se mudas de


diferentes espécies. O sistema foi implantado conforme o modelo proposto por Nelder,
com adaptações para as condições locais.
O SAF foi implantado numa área de 1 ha no Campus Experimental do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFECT), Campus São Cristóvão localizado
no município de São Cristóvão. A área escolhida situa-se a 10º54’30” latitude S e
37º11’00” longitude W. A região apresenta precipitação média anual de 1.200mm,
temperatura média de 25,5ºC e umidade relativa do ar de 75% com período chuvoso
concentrando-se entre os meses de abril a junho onde predomina o clima tipo As,
tropical chuvoso com verão seco de Köpen.

4.2 Formulação e Descrição do Modelo Agroflorestal Proposto

O modelo proposto para o trabalho baseia-se no modelo de delineamento


sistemático proposto por Nelder em 1962.
Com base nas características edafoclimáticas, socioeconômicas e na produção
local, as espécies selecionadas para compor o SAF de referência para a região foram:
Eucalipto (clone), Craibeira (Tabebuia áurea), Seringueira (Clone), Gliricídia
(Gliricidia sepium), milho (Hib. AG-1051 CSL) e feijão (Phaseolos vulgaris).
O eucalipto foi considerado principalmente pela produção de madeira. A escolha
da craibeira baseia-se também na produção de madeira e sombra proporcionando
conforto térmico para uma possível introdução do animal ao sistema. A seringueira foi
selecionada com a finalidade de testar a produtividade do látex como agregador de
valores para a agricultura familiar. A gliricídia foi escolhida para aumentar a fertilidade
do solo, a ciclagem de nutrientes e a disponibilidade de matéria orgânica do solo. As
culturas anuais (milho e feijão) foram selecionadas tanto para a segurança alimentar
(consumo próprio) quanto para o mercado, uma vez que permitem retornos durante o
período de implantação do sistema.
A distribuição espacial das espécies pode ser observada através da figura 01
onde foi representada a disposição das mesmas em seus diferenciados espaçamentos.

Figura 01.Croqui do experimento instalado baseado no Modelo Nelder tipo leque


As culturas anuais estão dispostas nas entre linhas dos componentes arbóreos
distribuídas em cinco linhas de milho e quatro linhas de feijão em faixas intercaladas,
com espaçamentos de 0,70m x 1m para cada cultura.
4.3 Fonte de dados

Os dados obtidos foram convertidos a preços de mercado e estimados para uma


área de um hectare. Desta forma, foram calculados o custo total de implantação do
sistema e a receita obtida. Durante o período avaliado apenas o milho e feijão,
apresentaram produção. Foram calculados os custos referentes à implantação, manejo e
o fluxo de caixa, para cada uma dessas culturas individualmente.
Desta forma, de posse dos dados referentes às receitas geradas por cada uma
delas, foi possível determinar a contribuição de cada uma para o sistema como um todo.
Pelo fato do sistema ter sido implantado apenas há dois anos, as espécies
florestais não foram contempladas na análise econômica devido ao fato de que são
necessários mais alguns anos para que se possa realizar uma estimativa mais segura da
renda que poderá ser obtida com essas espécies. Sendo assim, os valores do fluxo de
caixa foram determinados considerando apenas a renda gerada pelas culturas agrícolas
de ciclo curto.
Desta forma os critérios de análise financeira apresentados neste trabalho não
têm a finalidade de apresentar uma conclusão definitiva sobre a viabilidade financeira
do sistema, tendo em vista o pouco tempo de implantação do mesmo.
A metodologia utilizada para a realização da análise dos indicadores de
viabilidade financeira considerou as atividades de mão-de-obra e os insumos requeridos
nas diversas fases de implantação e manutenção do sistema.
Quanto aos custos de mão-de-obra foram relacionadas despesas de atividades de
limpeza e preparo da área para plantio, capina e roçagem manual, gradagem,
demarcação da área, marcação das linhas de plantio, plantio, replantio, capina, colheita
e adubação.
Foram utilizados também dados fornecidos pelos produtores da região por meio
de entrevistas informais.
Os critérios utilizados têm a finalidade de inferir sobre a distribuição dos custos
de implantação e fazer uma avaliação de caráter preliminar, procurando determinar
quais culturas geraram renda suficiente para pagar seus respectivos custos de
implantação e a porcentagem dos custos totais, que já foram pagos pela receita gerada
pelo conjunto das culturas.
4.4 Critérios de avaliação econômica e fluxo de caixa
O SAF foi avaliado utilizando-se os seguintes critérios financeiros de avaliação
de projetos: Valor Presente Líquido (VPL), Razão Benefício/Custo (RB/C) e Taxa
Interna de Retorno (TIR) para as culturas agrícolas anuais que entraram em fase
produtiva até o momento de conclusão deste trabalho. Para os referidos cálculos foram
consideradas taxas de desconto de 6% e 8% ao ano.
Os fluxos de caixa representam as estimativas de entradas (receitas) e saídas
(custos) de recursos monetários em um determinado projeto produtivo ao longo do
tempo. O resultado líquido desses fluxos pode ser calculado subtraindo-se das receitas
as despesas. Nesse processo, é usado como referência, um único momento no horizonte
de tempo para o qual todos os valores são atualizados por meio de fórmulas financeiras
de acumulação ou desconto de juros (SANTOS; CAMPOS, 2000).
Para os cálculos econômicos foi utilizada a planilha eletrônica MATFIN
(matemática financeira).

4.4.1 Valor Presente Líquido (VPL)

Entre as alternativas mais sólidas para análise de investimentos, tem-se como o


dado mais consistente o VPL, que estima o valor atual de um fluxo de caixa, usando
para isso uma taxa mínima de atratividade do capital. Assim, o VPL determina a
viabilidade de um cultivo pela diferença positiva entre benefícios e custos. A atividade
será desejável se o VPL for positivo (maior que zero). Logo, devem-se trazer os valores
de cada período de tempo para o valor atual, tanto dos investimentos quanto dos custos
e receitas (DOSSA et al., 2000).
A atividade é desejável se o VPL for superior ao valor do investimento pagando-
se a taxa de juros determinada para o uso alternativo daquele dinheiro.
O critério de adoção deste método é o seguinte: um VPL positivo indica que o
projeto é economicamente viável, para uma determinada taxa utilizada. Deve-se aceitar
o investimento com VPL positivo e, conseqüentemente, rejeitar aquele com VPL
negativo (HIRSCHFELD, 1998; REZENDE; OLIVEIRA, 2001; SILVA et al., 2002).
Desta forma, os valores de cada período de tempo devem ser atualizados para o
valor atual dos investimentos, dos custos, das receitas, através da fórmula apresentada a
seguir:

n n
Rt Ct
VPL = ∑ −∑
t t (01)
T =0 (1 + i ) T =0 (1 + i )

Onde:
Rt = receita ao final do ano ou período de tempo t;
Ct = custo ao final do ano ou período de tempo t;
i = taxa de desconto;
t = duração do projeto, em anos ou período de tempo

4.4.2 Razão Benefício/Custo (B/C)

A B/ C é um indicador de eficiência econômico financeira por sugerir o retorno


dos investimentos a partir da relação entre a receita total e as despesas efetuadas para
viabilizá-la, ou seja, indica quantas unidades de capital recebido como benefício são
obtidas para cada unidade de capital investido (DOSSA et al., 2000).
Quando a razão é maior do que um, ela indica que o produtor teve ganhos e deve
efetuar a aplicação dos recursos. E, ele teria prejuízos, na situação em que a razão fosse
inferior a unidade. A relação Benefício/Custo é dada pela fórmula abaixo (LIMA
JUNIOR, 1995).

n
Rt n
Ct (02)
B/C = ∑ t
÷∑ t
T =0 (1 + i ) T =0 (1 + i )
Onde:
Rt = receita ao final do ano ou período de tempo t;
Ct = custo ao final do ano ou período de tempo t;
i = taxa de desconto;
t = duração do projeto, em anos ou período de tempo.

4.4.3 Taxa Interna de Retorno (TIR)

A TIR, como relata Silva et al. (2005), é a taxa de desconto que iguala o valor
presente das receitas ao valor presente dos custos, ou seja, iguala o VPL a zero. Além
disso, a TIR pode, também, ser entendida como a taxa percentual do retorno do capital
investido. Ela representa o valor do retorno intrínseco do projeto e, portanto é
independente das taxas de juros do mercado.
Um projeto é economicamente viável se a sua TIR for superior a uma taxa de
juros correspondente à taxa de remuneração alternativa do capital, ou seja, a taxa
mínima de atratividade (OLIVEIRA e MACEDO, 1996). Lima Júnior (1995) afirma
que os projetos só podem ser comparados diretamente pelo método da TIR se tiverem o
mesmo investimento inicial; neste caso, quanto maior taxa interna de retorno, melhor é
o projeto.

n n
TIR = ∑ Rj (1 + TIR ) −j
= ∑ Cj (1 + TIR) − j (03)
j =0 j =0

Onde:
Rj= Receitas no final do ano j
Cj= Custos no final do ano j
n= Duração do projeto em anos
5.0- RESULTADOS E DISCUSSÃO

O custo total de implantação do sistema durante o primeiro ano foi de R$


1931,00/ha. Neste período, o sistema apresentou fluxo de caixa negativo sendo
importante ressaltar que apesar do saldo ter sido negativo, foram obtidas receitas
resultantes da introdução de culturas de ciclo curto, evidenciando assim, a importância
destas para a redução dos custos de implantação.
A partir do primeiro ano, com o início da produção de espécies agrícolas de ciclo
curto, iniciou-se a geração de receita, resultando numa renda bruta de R$1692,00/ha,
frente aos custos de R$ 1.300,00, proporcionando saldo positivo de R$ 392,00 (Tabela
01).

TABELA 01 Fluxo de caixa, em R$ 1,00, para 1 hectare de sistema agroflorestal no modelo proposto (
Modelo Nelder).
Ano Custo (R$/ha) Receita (R$/ha) Saldo (R$/ha)
0 1.931,00 1.628,00 -303,00

1 1.300,00 1.692,00 392,00

Total 3.231,00 3320,00 89,00

Por meio do fluxo de caixa, verifica-se que este consórcio agroflorestal


apresenta retorno financeiro positivo no primeiro ano após a implantação, devido à
receita gerada pelas culturas anuais. O que está de acordo com May e Trovatto (2008)
quando citam que na formação do sistema convém escolher espécies anuais como o
arroz, feijão, entre outras, consorciando com espécies que iniciam a sua produção
quando termina a fase de espécies de ciclo curto.
Analisando as culturas agrícolas do sistema, o cultivo do milho foi o mais
rentável, sendo responsável por 88,65% da receita gerada pelo sistema até o primeiro
ano de implantação, sendo o feijão responsável pelos 11,34% restantes já que as
espécies florestais não apresentaram até o momento produtividade
5.1 Análise Econômica
Elaborado o fluxo de caixa, as receitas e despesas totais atualizadas com a taxa
de desconto de 6% e 8% ao ano, chegou-se aos indicadores de desempenho financeiro
da atividade
A análise financeira não teve a finalidade de apresentar uma conclusão definitiva
sobre a viabilidade econômica do sistema, tendo em vista que isso não seria possível,
devido ao pouco tempo de implantação do SAF.
Os critérios utilizados (VPL, B/C e TIR) têm a finalidade apenas de fazer
avaliação de caráter preliminar, procurando determinar quais culturas geraram renda
suficiente para pagar seus respectivos custos de implantação e produzir excedentes, e a
porcentagem dos custos totais que já foram pagos pela receita gerada pelo conjunto das
culturas.
A viabilidade econômica do sistema agroflorestal pelo método do valor presente
líquido (VPL) foi calculada pela diferença entre as receitas e custos, atualizados de
acordo com as taxas de desconto mencionadas acima. Corresponde ao lucro líquido
atual do empreendimento no período analisado, ou seja, o valor atual dos benefícios
gerados pela atividade. No estudo, o VPL calculado foi de R$ 63,03 à taxa de juros de
6% a.a, (Figura 02) e R$ 55,52 considerando a taxa de juros de 8% a.a. (Figura 03),
indicando que a receita foi superior aos custos de implantação do projeto, evidenciando
assim que a atividade apresenta viabilidade econômica (Tabela 02).
Figura 02 Representação gráfica do VPL (Valor Presente Liquido) em função da taxa de juros
Figura 03. Representação gráfica do VPL (Valor Presente Liquido) em função da taxa de juros
Tabela 02 Indicadores de viabilidade financeira numa área de 1 hectare do modelo de
sistema agroflorestal proposto pelo estudo.
Indicadores financeiros Taxa 6% Taxa 8%
Valor Presente Líquido R$ 63,03 RS 55,52

Relação: Beneficio – Custo R$ 1,02 R$ 1,02

Na análise do indicador relação benefício/custo, verificou-se que quando os


cálculos foram efetivados a uma taxa de desconto de 6 e 8% ao ano, produziram o valor
da B/C de 1,02. Isso indica que para cada R$ 1,00 de custo, que o modelo absorve, ele
tem capacidade de retornar R$ 1,02 como benefício.
O reduzido retorno econômico até o momento se deve à baixa produção obtida
pelas culturas agrícolas implantadas no sistema. Outro fator a ser considerado é que a
renda que poderia ser obtida com as espécies florestais não foi contemplada na análise
econômica. No entanto, estas espécies poderiam ser convertidas em renda para o
produtor pela retirada da madeira, demonstrando que no presente, podem ser
consideradas como poupança verde. Além disso, a espécie utilizada como adubo verde
(gliricídia) já poderia ser convertida como entrada anual de nutrientes em valores
monetários. Essa conversão monetária mostraria outra dimensão da avaliação
econômica desse sistema obtendo-se um maior VPL, tornando o sistema viável às taxas
de juros mais restritas.
É importante ressaltar que o cenário apresentado envolve somente as culturas de
ciclo curto (milho e feijão) seguindo o calendário agrícola da região de estudo (Figura
04).

Figura 04 Calendário agrícola utilizado pelos agricultores no perímetro da área de estudo.


7.0 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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