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MANUAL DE FORMAÇÃO

FORMAÇÃO MODULAR
CERTIFICADA

UFCD 10373
O Perfil do/a Técnico/a
de Apoio Psicossocial

Área de Formação
762 – Trabalho Social e
Orientação
Ana Bárbara Costa
Março 2021
PERFIL DO/A
UFCD
10373 TÉCNICO/A DE APOIO
PSICOSSOCIAL

PROMOÇÃO E COORDENAÇÃO
SINDICATO DOS PROFISSIONAIS DE SEGUROS DE PORTUGAL

AUTOR
Ana Bárbara Costa

EDIÇÃO E IMPRESSÃO
TIME TO TRAIN

FINANCIAMENTO
POISE – PROGRAMA OPERACIONAL INCLUSÃO SOCIAL E EMPREGO
EIXO PRIORITÁRIO 1 – PROMOVER A SUSTENTABILIDADE E A QUALIDADE NO
EMPREGO
TIPOLOGIA DE OPERAÇÃO 1.08 – FORMAÇÃO MODULAR PARA EMPREGADOS E
DESEMPREGADOS

Amarante, março 2021

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RESUMO
O/a técnico/a de Apoio Psicossocial está destinado a desempenhar uma tarefa
profundamente humana, visto que tem como objetivo preservar na vida das pessoas a sua
segurança íntima, a sua perspetiva de desenvolvimento pessoal, o seu sentimento comunitário e a
sua vivência afetiva.
Assim, este manual tem como conteúdos programáticos:
 O/A Técnico/a de Apoio Psicossocial
o História
o Evolução
o Novas perspetivas futuras
 O Papel do/a Técnico/a de Apoio Psicossocial
o Funções e responsabilidades
o Modalidades de intervenção
 Área educativa
 Área social e comunitária
 Área da saúde
 O Perfil de Competências do/a Técnico/a de Apoio Psicossocial
o Atividades e competências fundamentais
o Atitude, postura e comportamento
o Gestão das emoções
o Gestão do stresse profissional
o Trabalho em equipa multidisciplinar

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………………...4
Âmbito do manual.............................................................................................................4
CAPÍTULO I – O/A Técnico/a de Apoio Psicossocial……………………………………………
5
1.1.História..........................................................................................................................6
1.2.Evolução__________________________________________________________________8
1.3.Novas perspetivas futuras____________________________________________________12
CAPÍTULO II – O Papel do/a Técnico/a de Apoio Psicossocial…………………………………
15
2.1.Funções e responsabilidades.....................................................................................15
2.2.Modalidades de intervenção......................................................................................27
2.2.1.Área educativa___________________________________________________________27
2.2.2.Área social e comunitária__________________________________________________32
2.2.3.Área da saúde____________________________________________________________35
CAPÍTULO III – O Perfil de Competências do/a Técnico/a de Apoio
Psicossocial…………….40
3.1.Atividades e competências fundamentais................................................................40
3.2.Atitude, postura e comportamento...........................................................................43
3.3.Gestão das emoções....................................................................................................45
3.4.Gestão do Stress profissional....................................................................................48
3.5.Trabalho em equipa multidisciplinar......................................................................53
CONCLUSÃO…………………………………………………………………………………...57
REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS…………………………………………………………….58

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INTRODUÇÃO

Âmbito do manual

O presente manual foi concebido como instrumento de apoio à unidade de formação de


curta duração nº 10373 – Perfil do/a Técnico/a de Apoio psicossocial, de acordo com o
Catálogo Nacional de Qualificações.

Objetivos

 Reconhecer o papel do/a Técnico/a de Apoio Psicossocial e as respetivas


funções.
 Identificar as áreas de intervenção do/a Técnico/a de Apoio Psicossocial.
 Identificar as principais competências do/a Técnico/a de Apoio
Psicossocial.
 Reconhecer o papel do/a Técnico/a de Apoio Psicossocial, enquanto
membro integrante de uma equipa multidisciplinar.

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CAPÍTULO I – O/A Técnico/a de Apoio
Psicossocial

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1.1.História

As qualificações de nível intermédio na área psicossocial foram criadas no contexto da


criação dos cursos profissionais de nível secundário, nos anos 90 do séc. XX.

Designadamente:
 Os cursos profissionais de animador social/técnico psicossocial, criados
pelas Portarias n.os 237/92, de 24 de Março, e 531/95, de 2 de Junho,
 Os cursos de animador social/técnico psicossocial, criados pela Portaria
n.º 693/93, de 22 de Julho,
 O curso de animador sociocultural/técnico de reinserção, criado pela
Portaria n.º 531/95, de 2 de Junho.

Mais tarde, em 2006, no âmbito da reorganização dos cursos profissionais, foi criado o
primeiro Curso profissional de Técnico/a de apoio psicossocial, visando a saída profissional de
técnico de apoio psicossocial.

Em 2019, foi finalmente criada a qualificação profissional de Técnico/a de Apoio


Psicossocial corresponde ao Nível 4 do Catálogo Nacional de qualificações (código 762374).

O Catálogo Nacional de Qualificações (CNQ) é um instrumento de gestão estratégica


das qualificações de nível não superior - níveis 2, 4 e 5 do Quadro Nacional de Qualificações
(QNQ) - e de regulação das respetivas modalidades de dupla certificação e dos processos de
reconhecimento, validação e certificação de competências que existem no âmbito do Sistema
Nacional de Qualificações.

O CNQ é organizado de acordo com a Classificação Nacional das Áreas de Educação e


Formação.

A qualificação profissional de Técnico/a de Apoio Psicossocial Insere-se na área de


educação e formação: 762 - Trabalho Social e Orientação.

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A descrição da qualificação (objetivo geral) é o de:

Promover integrado em equipas multidisciplinares, o desenvolvimento psicossocial


de indivíduos, de grupos e comunidades em contextos sociais de maior vulnerabilidade,
com enfoque nos níveis de risco e no ciclo de vida, potenciando as capacidades internas
como apoio na reconstrução de um percurso de vida autónomo, produtivo e com qualidade.

Esta qualificação confere uma dupla certificação:


 Certificação escolar (equivalência ao 12ª ano de escolaridade)
 Certificação profissional, de nível IV, certificando para o exercício da
respetiva profissão.

As Vias de acesso à Qualificação são:


 Para jovens
o Cursos profissionais
o Cursos de aprendizagem
 Para adultos
o Cursos EFA / formação modular
o Reconhecimento, validação e certificação de competências

Esta qualificação encontra correspondência, ao nível da Classificação Portuguesa das


Profissões (2010), com os Técnico de nível intermédio de apoio social (código 3412).

As tarefas e funções do técnico de nível intermédio de apoio social consistem,


particularmente, em:

1.Recolher informação das necessidades da pessoa e avaliar qualificações, pontos


fortes e fracos;

2.Ajudar pessoas idosas ou com deficiência no acesso a serviços e melhorar as suas


capacidades para integração na sociedade

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3.Acompanhar pessoas a identificar opções e a desenvolver planos de ação para
apoio e acesso a recursos comunitários (assistência legal, médica, financeira, apoio social,
alojamento, emprego, transporte, cuidados diários, etc.)

4.Aconselhar pessoas que habitem em prisões e lares de transição, supervisionar e


acompanhar as suas atividades e apoiar nos processos de libertação ou pré libertação

5.Fornecer serviços de intervenção em situações de crise e proteção de emergência

6.Colaborar na organização de seminários sobre aquisição de competências,


programas de tratamento de abuso de substâncias nocivas, gestão de comportamentos e
outros programas de serviços comunitários e sociais

7.Apoiar a avaliação da eficácia das intervenções e programas através da


monitorização e relato dos progressos das pessoas envolvidas.

Conclui-se que a profissão de técnico/a de apoio psicossocial constitui uma


especialização profissionalizante, de nível intermédio (não superior), cuja função será a de
apoiar/ coadjuvar os profissionais de apoio social de formação superior (designadamente os
assistentes sociais ou psicólogos, entre outros) nos seus diversos contextos de intervenção.

1.2.Evolução

A definição de trabalho social, que tem resistido ao longo dos tempos, é a do Conselho da
Europa e data de 1967:

O serviço social é uma atividade profissional específica que tem, como finalidade,
favorecer uma melhor adaptação recíproca das pessoas, das famílias, dos grupos e do meio
social em que vivem, bem como desenvolver o sentimento de dignidade e de

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responsabilidade dos indivíduos, apelando para as capacidades das pessoas, para as
relações interpessoais e para os recursos da coletividade.

Reencontramos, nesta definição, um trabalho social visando a autonomia da pessoa, a sua


participação e a sua integração, dentro de um espírito de responsabilidade e de dignidade.

Ao imergir nas diferentes definições do trabalho social, podemos destacar a seguinte ideia
geral: o trabalho social visa favorecer o bem-estar, a autonomia e a participação social dos
utentes numa perspetiva de liberdade, de igualdade e de respeito pelos direitos humanos.

Está, portanto, presente a ideia de criar, em parceria com o utente, as condições


favoráveis à emergência da sua autodeterminação, o que implica uma intervenção voltada tanto
para a pessoa, como para o meio ambiente em que ela se insere.

A Classificação Portuguesa das Profissões (2010) insere os trabalhadores sociais no


grupo dos Especialistas das Atividades Intelectuais e Científicas, no subgrupo dos
Especialistas em assuntos jurídicos, sociais, artísticos e culturais, no grupo base/profissão
designada por Especialista do Trabalho Social.

As tarefas e funções do Especialista do Trabalho Social consistem em entrevistar


com o intuito de avaliar e aferir relativamente a apoios necessários; analisar situações e
apresentar alternativas para solucionar os problemas; organizar processos, com registos,
relatórios e afins; acompanhar com vista ao desenvolvimento de competências do
individuo; planear e implementar programas de intervenção; investigar e agir no âmbito
da proteção de crianças, jovens e outras pessoas em risco; trabalhar com infratores na sua
(re) integração e mudança de atitudes e comportamento; aconselhar responsáveis de
entidades específicas; agir como advogado; desenvolver programas de prevenção e
intervenção.

A formação do trabalhador social integra conceitos e saberes de diversas disciplinas,


Consequentemente é elaborado um referencial teórico e metodológico próprio.

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Nesta lista encontramos:
 A filosofia limitada à filosofia da ação e da ética;
 Disciplinas fundamentais das ciências sociais: sociologia,
etnologia/antropologia, psicologia, psicologia social, economia e demografia;
 Ciências da ação: ciências da educação e ciências da informação;
 Dois campos da realidade social: a saúde e o direito (descritos nos seus
diferentes ramos), incluindo-se aqui a legislação e as políticas sociais.

Podemos encontrar em todas as formações iniciais em trabalho social de nível


equivalente (educador social, educador de crianças, conselheiro em economia social e familiar e
animador) as mesmas disciplinas, com ponderações diferentes.

A formação de trabalhadores sociais desenvolve uma consciência de intervenção e


mobilização para a ação.

Aquando da formação académica, os trabalhadores sociais conhecem a existência de um


código de conduta, tendo por base alguns princípios fundamentais, nomeadamente, a atuação do
profissional e o seu comportamento, a responsabilidade do trabalhador social perante os utentes,
os colegas, a entidade patronal, a profissão e a sociedade.

Em Portugal, a formação em serviço social inicia-se em 1935, com a criação das


primeiras escolas de serviço social dos serviços sociais públicos. Limitado ao ensino superior
privado ate ao ano 2000, a formação em serviço social sofreu grandes alterações.

Atualmente, destacamos as licenciaturas em serviço social, educação social e animação


sociocultural como as principais formações académicas de base no âmbito da intervenção social.

Os assistentes sociais atuam, normalmente, em equipas multidisciplinares nas áreas da


educação, saúde e ação social junto com profissionais como cientistas sociais, sociólogos,
psicólogos, psicopedagogos, médicos psiquiatras, enfermeiros, terapeutas, gerontólogos,
professores, educadores, formadores, juristas, entre outros.

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Já a oferta pós-graduada nesta área, a nível de pós-graduações, mestrados e
doutoramentos, é mais diversa, conferindo um maior grau de especialização e
interdisciplinaridade, abrangendo áreas como:
 Mediação familiar;
 Intervenção social e comunitária;
 Políticas sociais;
 Desenvolvimento social e comunitário;
 Gestão de equipamentos sociais;
 Economia social e terceiro setor,
 Métodos e técnicas de intervenção em populações específicas;
 Direitos humanos,
 Entre outros.

As instituições empregadoras dos profissionais de intervenção/ apoio social, tanto com


formação profissional como superior, incluem, entre outros:
 Associações culturais e recreativas; ludotecas;
 Autarquias;
 Creches, Jardins-de-infância e ATL's;
 Escolas;
 Centros de Dia, Lares de 3ª Idade
 Centros Comunitários e Sociais
 Instituições Públicas de Solidariedade Social (IPSS)
 Hospitais / Centros de Saúde / Clínicas;
 Centros de cuidados continuados e cuidados paliativos;
 Instituições Prisionais;
 Centros de Acolhimento;
 Colónias de Férias;
 Universidades Sénior;
 Unidades de reinserção social e comunidades terapêuticas;
 ONG e associações de apoio a minorias ou populações vulneráveis;
 Centros Sociais e Paróquias;
 Misericórdias Portuguesas.

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1.3.Novas perspetivas futuras

A criação da Ordem dos Assistentes Sociais corresponde a um velho propósito dos


Assistentes Sociais em Portugal, concretizada com a publicação da Lei 121/2019 de 25 de
setembro.

As principais atribuições da Ordem são:


a) A regulação do acesso e do exercício da profissão;
b) A defesa dos interesses gerais dos destinatários dos serviços prestados pelos
seus membros, assegurando e fazendo respeitar o direito dos cidadãos ao serviço social;
c) A representação e a defesa dos interesses gerais da profissão, em território
nacional, zelando nomeadamente pela função social, dignidade e prestígio da mesma;
d) Conferir, em exclusivo, os títulos profissionais de assistente social e atribuir as
cédulas profissionais aos seus membros;
e) A defesa do título profissional, incluindo a denúncia das situações de exercício
ilegal da profissão, podendo constituir -se assistente em processo-crime;
f) Conferir o título de especialista aos assistentes sociais que cumpram os
requisitos fixados pelos órgãos competentes;
g) A elaboração e a atualização do registo profissional dos seus membros;
h) Assegurar o cumprimento das regras de ética e de deontologia profissional;

Na sequência da nomeação da Comissão Instaladora da Ordem dos Assistentes Sociais


(CIOAS), a 13 de Janeiro de 2020, deu-se início aos trabalhos a 15 de janeiro de 2020.

A primeira das suas incumbências foi a participação no grupo de trabalho que elaborou a
proposta de diploma legal que regulamenta o regime de acesso e o exercício da profissão de
Assistente Social.

É de espera, num futuro próximo, uma mais sistemática orientação, reconhecimento e


validação profissional nesta área e, consequentemente, das profissões que lhe são próximas,
como sendo o apoio psicossocial.

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Atualmente, em Portugal, a contratação de assistentes sociais tem sido fortemente afetada
pelas sucessivas reformas na administração pública e pelas medidas de austeridade.

As crescentes taxas de desemprego na profissão são cada vez mais referenciadas e muitos
dos dados estatísticos apresentados aparentam uma crescente precarização da profissão.

Por conseguinte, em resultado da crise, começou a evidenciar-se o aumento das


desigualdades sociais tanto ao nível da profissão como da formação, dificultando a inserção ou
manutenção dos estudantes no ensino superior.

Neste âmbito, a criação de profissões de nível intermédio pode garantir uma maior
empregabilidade do que as de nível superior, reforçando o compromisso com uma abordagem
plural e interdisciplinar.

Verifica-se que a pobreza e a exclusão social são fenómenos marcantes na sociedade


portuguesa, tendo a desigualdade de acesso a cuidados e recursos vindo a aumentar. Sobretudo
no que se refere às populações mais vulneráveis, as áreas de intervenção social mostram-se
amplamente urgentes e necessárias, tal como proferido nas políticas sociais em vigor.

Estas realidades, cuja complexidade em termos económicos, tecnológicos, culturais e


sociais tem vindo a crescer, carecem de projetos de intervenção, prevenção e reabilitação que
requerem um espectro de formação mais especializada de cada profissional, e ao mesmo tempo a
sua inserção em equipas multidisciplinares.

As formas de atuação da interdisciplinaridade são uma área em desenvolvimento e que


está a ocorrer, dentro e entre as diferentes áreas profissionais e científicas que intervêm nos mais
diversos contextos e dimensões da vida humana.

A interdisciplinaridade deve ser entendida como um sistema de “nós e elos”, capaz de


organizar pessoas e organizações, de forma igualitária e democrática, em torno de um objetivo
comum.

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Esta abordagem possibilita a existência de processos capazes de responder aos seus
requisitos: flexibilidade, conectividade e descentralização das intervenções a implementar sobre
determinada temática, território ou setor de atividade.

O que significa que a interdisciplinaridade, convida a compreendermos os outros, a


aprendermos a negociar e a construir pontes, a adotarmos linguagens comuns e, em última
análise, a encetarmos um processo de transformação das culturas organizacionais, comunitárias,
sociais e políticas.

Alguns dos fatores a ter em consideração para o exercício Profissional na área social, de
acordo com as atuais tendências da sociedade:
 Utilização das novas metodologias de intervenção;
 Investimento na participação social como meio de, por assim dizer,
democratizar a democracia.
 Inovação dos processos de trabalho, deslocalizando-os do gabinete para o
terreno.
 Proximidade como meio de criar sustentabilidade à ação.
 Diferenciação entre o exercício da intervenção de cariz terapêutico, a
intervenção pedagógica e a intervenção sustentável.
 Descentração da atenção dos profissionais do problema social em si
próprio para a intervenção sobre contextos, projetos de vida e qualidade de vida.
 Compromisso com a defesa dos Direitos Humanos.

É fundamental que os profissionais participem nos processos reflexivos e criativos sobre


a atividade profissional para a (re) construção permanente do saber de ação e, desta forma,
contribuir para o avanço do conhecimento sobre processos de mudança social e respostas aos
problemas sociais.

Em suma, o trabalho de intervenção social precisa de poder qualificar a prática


profissional e tornar adequado o seu equilíbrio entre, por um lado, a defesa da sua identidade e,
por outro, a integração no processo de trabalho em equipa multidisciplinar, em parcerias e em
rede.

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CAPÍTULO II – O Papel do/a Técnico/a de Apoio
Psicossocial

2.1.Funções e responsabilidades

De acordo com o respetivo perfil profissional, constituem funções do técnico/a de apoio


psicossocial (CNQ, 2020):
 Colaborar na identificação, análise e avaliação diagnóstica de indivíduos,
grupos ou comunidades em diferentes contextos de vulnerabilidade e risco
biopsicossocial.
 Desenhar e planear em conjunto com as equipas técnicas multidisciplinares
projetos de intervenção social que deem resposta às necessidades diagnosticadas.
 Intervir, integrado em equipas multidisciplinares, na organização e
dinamização de projetos de intervenção social de resposta às necessidades
diagnosticadas.

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 Promover o estabelecimento de redes entre os vários parceiros sociais,
articulando a sua intervenção nas respostas aos problemas detetados.
 Monitorizar e avaliar em equipa multidisciplinar a evolução dos processos
em acompanhamento nos domínios da intervenção.
 Colaborar na implementação de ferramentas de avaliação de impacto
social sustentadas em indicadores que calculam o retorno do investimento nos projetos
permitindo melhorias no seu desempenho e gestão.
 Participar em ações de intervenção preventiva (Universal e Seletiva), em
equipa multidisciplinar, no âmbito dos comportamentos aditivos e nas dependências, com
ou sem substância em diversos contextos, nomeadamente contexto educativo e
comunitário.
 Colaborar em atividades de intervenção de Redução de Riscos e
Minimização de Danos (RRMD) associados aos consumos de sustâncias psicoativas
lícitas e ilícitas, em equipas multidisciplinares.
 Colaborar em atividades de intervenção no âmbito da reinserção social, em
equipas multidisciplinares.
 Colaborar em atividades de intervenção no âmbito da saúde mental, em
equipas multidisciplinares.
 Colaborar em atividades de intervenção no âmbito da deficiência, em
equipas multidisciplinares.
 Colaborar na elaboração de relatórios de atividades do projeto de
intervenção.

Responsabilidades e âmbitos de intervenção

Intervenções diretas vs. Intervenções indiretas

Intervenções diretas

1) Acolher-Apoiar-Acompanhar
 O acolhimento
 A clarificação
 O suporte

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 A compreensão de si
 O acompanhamento

2) Informar-Orientar-Educar
 A informação
 A orientação
 O acesso aos direitos
 A assistência material
 A educação

3) Persuadir-Influenciar
 O conselho
 A confrontação
 A persuasão

4) Controlar-Exercer uma autoridade


 O trabalho de acompanhamento
 As exigências e os limites
 O controlo

5) Relacionar-Criar novas oportunidades


 Relacionar
 A abertura e a descoberta
 A utilização e a criação de equipamentos da envolvente e a participação
nestes

6) Estruturar uma relação de trabalho com o utente


 A estruturação no tempo
 A utilização do espaço
 A focalização em objetivos de trabalho

Intervenções indiretas

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1)Organização e vigilância social
 A organização do espaço
 A organização do tempo de trabalho
 A documentação
 A vigilância social

2) Conduta de projetos em trabalho social de grupo


 As fases preliminares da implementação de um grupo
 A organização de atividades de grupo pontuais
 A escolha de atividades de suporte no programa de um grupo

3) Intervenções na envolvente dos personagens


 As pessoas significativas
 A mediação
 As redes

4) Colaboração entre trabalhadores sociais


 A ligação
 O trabalho de acompanhamento
 O trabalho de equipa
 A consulta
 O partenariado

5) Intervenções ao nível dos organismos sociais

Intervenção individual vs. Intervenção em grupo

A intervenção psicossocial é uma atuação de suporte, apoio e orientação às pessoas com


problemas no seu funcionamento social.

São problemas de funcionamento social aqueles que afetam a vida da pessoa na sua
relação com a realidade exterior, aos diferentes níveis da sua vida pessoal, familiar ou social

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como, por exemplo, no plano das relações interpessoais, no plano económico, no plano
habitacional, no profissional, etc.

Na realidade, o objetivo da intervenção psicossocial não é o problema em si mas a


situação de vida que com ele está relacionada e a forma como a pessoa lida com ela.

Podemos classificar em sete as qualidades consideradas essenciais à intervenção


individual:

A preocupação sincera com o outro


 Significa que o deixamos usar os conhecimentos e competências que
pomos à sua disposição, permitindo-lhe (com limites) que faça tentativas e que erre,

A capacidade de compreensão
 Refere-se à atitude de respeito pelo cliente na recolha de informações
sobre a sua situação de vida,

O compromisso
 Entrar em relação implica assumir responsabilidades em relação à
estratégia definida em função dos objetivos dessa interação,

A aceitação e expectativa
 Referem-se à atitude ativa de aceitar no sentido de receber como adequado
ou satisfatório, de encarar como verdadeiro, de acreditar, de receber o que o outro dá.
Significa acreditar e respeitar a capacidade dos outros, encarar os seus comportamentos e
atitudes como tentativas e esforços para lidar com as situações,

A Empatia
 É a atitude de compreender os sentimentos dos outros, no sentido de
perceber como eles sentem. Não é, no entanto, identificar-se com eles, no sentido em que
passaria a sofrer com eles,

A autoridade

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 A relação profissional está imbuída de dois tipos de autoridade – uma que
advém do facto de representar uma instituição com objetivos e meios de trabalho
definidos e outra que advém do estatuto e papel que a instituição atribui à profissional,

A congruência
 Refere-se à verdade e honestidade do profissional que se manifesta na
consistência daquilo que diz e faz ao longo do tempo em relação ao utente.

O grupo funciona como um território experimental, como um laboratório.


Algumas características que condicionam as estratégias de intervenção:
 Os interesses do grupo estão centrados na busca de identidade,
 Do ponto de vista da sua estrutura, trata-se de um grupo de acesso restrito,
dotado de significativa coesão e orientado para atividades que satisfaçam a busca de
identidade dos seus membros,

As características apontadas recomendam que qualquer estratégia de intervenção seja


precedida da criação de um clima de confiança recíproca.

A questão da reciprocidade é fundamental no estabelecimento de uma relação sólida entre


o interventor e o grupo.

Isto significa que, se o primeiro tem de dar provas de que aceita o grupo e cada um dos
seus elementos, estes têm de aprender a respeitá-lo como seu aliado mas com direito à diferença
de opiniões e condutas.

O grupo de adultos apresenta as seguintes características:


 Os seus interesses são menos difusos que nos grupos de crianças e
adolescentes, muitas vezes centrando-se em problemas concretos que não conseguem
resolver sozinhos, ligados ao desempenho do papel de pais, de ativos, de cidadãos e de
familiares.
 Devido à estratificação social habitualmente existente e os interesses
específicos atrás referidos o grupo de adultos é bastante seletivo,

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 Dadas as características físicas dos seus elementos as atividades destes
grupos são mais de natureza verbal que motora,
 A inibição face a certos tabus de ordem social, sexual e outros, recomenda
grande prudência por parte do interventor, no sentido de não ferir suscetibilidades
desnecessariamente, e a habilidades em desenhar estratégias de intervenção que façam
cair esse tipo de barreiras quando necessárias.

O comportamento do interventor perante um grupo de adultos deve apoiar a sua


autonomização como pessoas e como cidadãos numa perspetiva de empoderamento, podendo
por vezes ter de assumir um papel mais diretivo de advogado social dos seus interesses.

Tanto no diagnóstico como no processo de intervenção, há que ter em conta a


heterogeneidade etária em presença, a fim de prevenir os efeitos nefastos de eventuais conflitos
de interesses e de potenciar a extraordinária riqueza que constitui a diversidade quando se sabe
tirar partido dela.

Contextos de interação com o utente

O acolhimento
O acolhimento é a interação subjacente e/ou suporte de qualquer intervenção, sustentada
no contacto interpessoal, que visa a possibilidade de o Utente se vir a sentir como fazendo parte
da equipa terapêutica, ocupe o seu direito de centralidade na mesma e atue como seu
protagonista.

O processo de acolhimento resulta do cruzamento da identidade Pessoal e Profissional do


Técnico com o Utente. Como grande parte destes só volta se for cativada, é de crucial
importância a forma de proceder no acolhimento, pois este condiciona a aproximação (ou não)
do Utente.

Cada acolhimento é um ato singular, uma situação/momento único entre duas (ou mais)
Pessoas, num contexto específico.

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O acolhimento projeta a imagem da organização junto dos Utentes. Compete ao Técnico
assegurar que a relação estabelecida atinja o equilíbrio entre o fator humano e a componente
técnica.

É através da relação interpessoal - processo transacional - que se desencadeiam as


probabilidades de atuação.

Por isso, importa mobilizar as competências (pessoais e profissionais) no domínio da


comunicação, enquanto processo multifacetado e plural.

Alguns pressupostos para a boa prática de Acolhimento:


 Conhecer bem toda a Unidade de Cuidados e os serviços que disponibiliza.
 Relação personalizada e humanizada.
 Fornecer o horário de atendimento.
 Proporcionar um espaço físico que garanta condições de proximidade,
privacidade e segurança.
 Favorecer a empatia e respeitar integralmente os direitos do utente.

Se o Utente utiliza a Unidade Local pela primeira vez, facilitar-lhe a integração através
da:
 Apresentação individual recíproca;
 Apresentação do espaço e, eventualmente, dos espaços que poderá vir a
utilizar para os processos subsequentes.

Em todas as interações estabelecer uma relação harmoniosa, disponível e focalizada no


Utente:
 Respeitar a privacidade do Utente;
 Escutar atentamente, deixando ou incentivando o Utente a expor
totalmente a opinião;
 Prestar atenção visual, olhar o Utente;
 Valorizar a singularidade - cada Pessoa é única;
 Dialogar utilizando linguagem acessível, clara e precisa;
 Mediar-integrando o projeto terapêutico na especificidade cultural;

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 Validar sempre com o Utente a informação transmitida;
 Assumir as suas responsabilidades e responsabilizando;

Para além de favorecer a integração do Utente nos serviços da Unidade Local (UL) e no
respetivo projeto/processo terapêutico, a boa prática de Acolhimento é um princípio inerente à
qualidade dos cuidados prestados por qualquer organização de saúde.

A relação de ajuda
A Relação de Ajuda (RA) constitui a componente central, a essência e o suporte do
cuidado ao utente.

Conceitos base da RA:


 A confiança no ser humano e o respeito pela sua dignidade
 A tendência atualizante que o impulsiona a explorar as suas
potencialidades
 A importância da autonomia na evolução pessoal
 A necessidade da relação como húmus favorecedor do desenvolvimento do
ser humano
 A utilização do técnico como instrumento e modelo de mudança

É uma relação de natureza terapêutica que reconhece o Outro (Utente/Beneficiário de


cuidados) como parceiro de cuidados. É operacionalizada através de entrevistas de ajuda,
programadas ou não programadas.

Para o estabelecimento da RA o Enfermeiro utiliza a sua própria Pessoa como


instrumento terapêutico e, através da relação interpessoal não-diretiva, estimula a comunicação
da Pessoa/Utente consigo própria e com o contexto em que se insere, permitindo que o Utente
(Pessoa e/ou Família) descubra e mobilize as suas capacidades internas e os seus recursos,
necessários à manutenção/recuperação da sua dignidade, saúde e bem-estar.

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Numa abordagem holística e humanista, a RA consiste numa interação particular entre
duas Pessoas, Enfermeiro e Utente, ambas contribuindo para a satisfação de uma necessidade de
ajuda presente no Utente.

Exige-se que o Enfermeiro adote uma maneira de estar e de comunicar focalizada no


Utente e que se dirija aos objetivos com este negociados. Estes objetivos relacionam-se, quer
com a compreensão do pedido do Utente, quer com a intencionalidade inerente à intervenção
desenvolvida pelo Enfermeiro.

O foco de atenção/intervenção na RA são as vivências, emoções da pessoa, no “aqui e


agora”, uma vez que a intervenção é centrada no presente; no entanto, o conhecimento das
vivências do passado pode contribuir para melhor compreender o utente.

É um processo em que o Enfermeiro está implicado pessoalmente e para isso necessita de


se desenvolver enquanto Pessoa e enquanto profissional.

A prática de Relação de Ajuda exige o desenvolvimento de competências, de habilidades


e de atitudes, para além dos saberes que foram adquiridas no contexto da formação profissional,
a saber:

Autoconhecimento
 O estabelecer de uma RA exige que a Pessoa que ajuda assuma a busca do
equilíbrio consigo própria, o que pressupõe o desenvolvimento do conhecimento das suas
características pessoais, da sua forma de estar e de se relacionar, a fim de tornar
conscientes e geríveis os seus recursos (potencialidades e vulnerabilidades) e a sua forma
de interagir.

Conhecimentos técnico-científicos sobre a disciplina e a profissão de enfermagem, o seu


enquadramento conceptual e os processos da Relação de Ajuda.

Expressão de Atitudes recetivas, ou facilitadoras da relação (Autenticidade,


Compreensão empática, Respeito caloroso)

Ana Bárbara Costa 25


TIME TO TRAIN
Expressão de Atitudes ativas, postas em prática através da comunicação
(Especificidade, Imediaticidade, Confrontação).

Competências de comunicação (escuta ativa, expressão verbal e não verbal,


assertividade, reformulação) e de compreensão/interpretação das mensagens do Utente, de
acordo com a experiência subjetiva deste.

Utilização das seguintes capacidades:


o Ser explícito e fazer com que o Utente se exprima de forma explícita.
o Respeitar-se e respeitar o Utente como ser único, com tudo o que vive e
sente.
o Ser congruente consigo próprio e com o Utente.

A Relação de Ajuda potencia o papel profissional do Enfermeiro enquanto facilitador,


que orienta e apoia o Utente em cada uma das etapas do processo de resolução dos respetivos
problemas, visando o alcance dos objetivos previamente negociados:
 Ultrapassar uma experiência desagradável;
 Resolver uma situação problemática na vida atual;
 Encontrar um funcionamento pessoal mais satisfatório;
 Detetar o sentido da existência.

Desenvolve-se em situações específicas, de grande envolvência emocional, carregadas de


grande sofrimento ou indecisão para a qual o profissional necessita de mobilizar diferentes
conhecimentos, recursos e estratégias.

Devido à complexidade da RA, é fundamental que o enfermeiro se disponibilize para


pedir apoio e supervisão.

O determinante crucial para o cuidado de enfermagem ser terapêutico é a qualidade da


relação entre o enfermeiro e o doente.

O contrato

Ana Bárbara Costa 26


TIME TO TRAIN
O contrato com os utentes constrói-se sobre uma série de princípios simultaneamente
éticos e operacionais:
 A participação ativa dos interessados na resolução dos seus problemas;
 A autodeterminação dos utentes, isto é, o seu direito a escolher e a escolher
com conhecimento de causa, tendo acesso a todas as informações;
 O reconhecimento das pessoas enquanto sujeitos ativos e enquanto
membros de uma sociedade, no seio da qual devem encontrar um lugar onde se inserir
garantidos pela sociedade.

O contrato entre o trabalhador social e o utente estipula o acordo feito quanto aos
objetivos a atingir, quanto à formulação das expectativas recíprocas assim como,
quanto ao tempo, lugar e frequência dos encontros.

Trata-se, pois, de uma formalização precisa e explícita do que vai ser empreendido em
conjunto, a formulação de um acordo comum.

O contrato é uma etapa no processo de intervenção, apoia-se numa relação já construída


ao longo das etapas precedentes. Intervém após uma fase preliminar de tomada de contacto, de
encontro, de compreensão da situação da pessoa e de diagnóstico desta situação.

Ana Bárbara Costa 27


TIME TO TRAIN
2.2.Modalidades de intervenção

2.2.1.Área educativa

O alargamento da escolaridade obrigatória, o alargamento das taxas de cobertura do


ensino secundário e a generalização da ideia de que a educação não se deve circunscrever às
camadas infantojuvenis mas estender-se
 A montante, às crianças em idade pré-escolar e,
 A jusante, a toda a população adulta, ativa ou não,

Tem contribuído para pressionar os sistemas educativos com uma sobrecarga de


exigências a que estes não têm conseguido dar resposta.

Em consequência deste quadro geral têm vindo a crescer os problemas de ensino-


aprendizagem cuja resolução exige uma intervenção concertada, entre os protagonistas
diretamente ligados ao sistema educativo e a comunidade envolvente.

Exemplos típicos são os problemas do acesso, absentismo, insucesso, abandono e


orientação escolar.

Qualquer intervenção sobre este tipo de problemas deve ser precedida de um diagnóstico
precoce e personalizado, para o que é indispensável uma parceria sólida entre escola e
comunidade envolvente, com os objetivos de visar o desenvolvimento pessoal e social de todos
os protagonistas e a criar uma rede social que os apoie nesse processo.

É neste contexto que a intervenção psicossocial, de carácter comunitário, pode ter (e tem
tido) um significativo papel socioeducativo como instrumento de educação intercultural e, num
sentido mais amplo, de educação para o desenvolvimento e todos os agentes no processo
educativo.

Ana Bárbara Costa 28


TIME TO TRAIN
Na realidade, as crianças em idade escolar passam mais tempo em espaços de
aprendizagem do que em qualquer outro ambiente social.

Por isso, a criação de um sistema de cuidados dentro desses espaços pode ajudar a
garantir que as crianças recebem a atenção e o apoio adequados.

O apoio psicossocial é garantido essencialmente através de espaços amigos da criança e,


associada à aprendizagem social e emocional promovida em espaços de aprendizagem
temporários e escolas amigas da criança.

Em espaços de aprendizagem, as crianças entram em contacto diário com vários


profissionais, através dos quais a equipa pode fazer avaliações, disponibilizar aconselhamento,
intervir quando necessário, consultar outros profissionais formados e fazer encaminhamentos e
assegurar o acompanhamento das crianças, conforme o que for necessário.

Isto torna os espaços de aprendizagem cenários únicos para o apoio a crianças – ainda
mais se tivermos em conta que a maior parte dos problemas de saúde mental e psicossociais
podem ser prevenidos ou detetados precocemente, em idades mais jovens, e se esses problemas
forem tratados o mais cedo possível, podem-se minimizar consequências negativas futuras na
educação, no emprego e na família.

Além disso, ao se integrar os serviços de AP a crianças e respetivas famílias num sistema


existente, os espaços de aprendizagem – em particular, as escolas, os seus currículos, estruturas,
políticas e recursos – assumem-se como locais promissores onde as intervenções podem ser
sustentáveis.

Intervenções bem-sucedidas utilizam uma abordagem global da escola, centrada na


promoção da saúde mental positiva, no desenvolvimento de competências sociais e emocionais,
na inclusão de todas as crianças na escola, e que é implementada durante um longo período de
tempo.

Os serviços de Saúde Mental e Apoio Psicossocial promovidos em escolas do século XXI


"serão orientados para a prevenção, com base numa psicologia positiva e fortes parcerias escola-

Ana Bárbara Costa 29


TIME TO TRAIN
família-comunidade que enfatizam práticas proactivas e sistémicas de desenvolvimento de
competências sócio emocionais de todas as crianças.

O ambiente da escola tem uma grande influência na eficácia dos programas de


aprendizagem social e emocional – as escolas são microcosmos da sociedade e, a menos que
sejam devidamente apoiadas, a violência existente fora da escola acabará por se fazer sentir
dentro das mesmas.

Sugere-se uma abordagem que possa promover o bem-estar social e emocional das
crianças, centrando-se:
a) No ambiente da sala de aula e da escola,
b) No ensino da pedagogia e no apoio aos funcionários da escola e
c) No desenvolvimento de competências dos alunos,

Como se descreve, brevemente, de seguida:


 Os/as alunos/as que se sintam seguros, cuidados e apoiados são mais
capazes de aprender. Isto consegue-se através da criação de um ambiente escolar em que
os alunos tenham uma sensação de controlo e previsibilidade e onde existam regras e
consequências claras para o seu comportamento.
 Os professores capacitam os/as alunos/as para desenvolverem e colocarem
em prática competências sociais e emocionais, através de técnicas educativas e de ensino
eficazes. Os gestores e administradores escolares podem assumir um papel de liderança e
orientação que promova a aplicação destas capacidades por parte dos alunos fora da sala
de aula. Importa ter em consideração que, quando os professores trabalharam para
melhorar os seus próprios conhecimentos e competências de aprendizagem social e
emocional, os alunos também beneficiam.
 Proporcionar oportunidades de desenvolvimento de competências e de
prática de exercícios permite que os alunos demonstrem e modelem competências sociais
e emocionais com os seus pares, professores e pais. Os programas que usam formas
ativas de aprendizagem, que atribuem tempo suficiente para o desenvolvimento de
competências e têm metas de aprendizagem explícitas cumprem, geralmente, esses
critérios.

Necessidades das crianças e Intervenções Psicossociais possíveis:

Ana Bárbara Costa 30


TIME TO TRAIN
Sentido de pertença
 Estabelecer uma estrutura educativa na qual as crianças se sintam
incluídas.
 Restaurar as práticas culturais e tradicionais de acolhimento de crianças,
sempre que possível.

Relação com os pares


 Assegurar uma rotina confiável e interativa, através da escola ou outra
atividade educativa organizada.
 Disponibilizar atividades de grupo e de equipa (desporto, expressão
dramática, etc.) que impliquem cooperação e que sejam interdependentes

Ligações pessoais
 Identificar professores/as que tenham a capacidade de estabelecer relações
de cuidadores/as para com as crianças.
 Proporcionar oportunidades de integração social e unidade, ensinando e
mostrando respeito por todos os valores culturais, independentemente das diferentes
origens. Estimulação Intelectual
 Contribuir para o desenvolvimento da criança, disponibilizando um
conjunto de diferentes experiências educativas.

Estimulação física
 Incentivar a participação em atividades recreativas e criativas, quer
tradicionais, quer inovadoras, através de jogos, desporto, música, dança, etc.

Sentir-se valorizado/a
 Criar oportunidades de expressão através de discussões individuais e em
grupo, desenho, escrita, drama, música, entre outras, que promovam o orgulho em si
próprio e a autoconfiança.
 Reconhecer, incentivar e elogiar as crianças.

Ana Bárbara Costa 31


TIME TO TRAIN
Outro contexto de intervenção será com crianças e jovens em risco que se encontram
institucionalizadas, em acolhimento ou outras medidas tutelares.

O suporte afetivo e emocional e o sentimento de pertença são fatores de grande


importância para o processo de desenvolvimento das crianças e jovens.

É possível iniciar um processo, que não deixa de ser terapêutico, no qual são discutidas as
razões do acolhimento e os sentimentos que desperta na criança/jovem o que, por sua vez,
potenciará o início de uma relação de empatia.

A instituição de acolhimento deve constituir-se como um ambiente estável e responsivo


às necessidades da criança acolhida, não apenas na dimensão física, mas também na dimensão
afetiva e emocional.

Nesta última têm um papel fundamental os técnicos, que se devem constituir como um
porto de abrigo para os jovens, com quem devem tentar estabelecer um vínculo, que se pretende
afetivo.

O Projeto Educativo da instituição é essencialmente um projeto de construção pelo


ambiente, pelo afeto, pela aceitação empática e pela liberdade responsável.

Trata-se de um projeto com sentido de e para a vida, cuja finalidade é aprender a viver,
aprender a conviver e aprender a descobrir os valores em si próprio e nos outros.

Para cumprir os objetivos delineados no Projeto Educativo, a equipa técnica, em


articulação com a equipa de apoio, deverá concretizar alguns princípios metodológicos:
 Estimular a realização de atividades, utilizando meios apelativos e
motivadores e um ambiente envolvente acolhedor e afetivo, onde haja Lugar à
comunicação, à convivência, comunitária, ao trabalho cooperativo, ao diálogo, à amizade
e à expressão do afeto.
 Promover a autoeducação e a autorrealização da criança/jovem como
pessoa, colocando ao seu dispor os recursos adequados à sua formação pessoal, social e
profissional – aprender a aprender na e para a vida.

Ana Bárbara Costa 32


TIME TO TRAIN
 Promover a disciplina, interiorizar as regras sociais e a lei comum, de
forma a construir uma convivência social ancorada numa liberdade responsável. O
ambiente envolvente flsico-natural e comunitário são o ingrediente determinante.

A finalidade da intervenção é fazer aprender, de forma ativa, os saberes e o saber-fazer


necessário para a inserção plena na sociedade.

2.2.2.Área social e comunitária

Cada vez mais se verifica uma maior organização e mobilização das comunidades em
tornos dos seus próprios problemas e necessidades, com base nas suas potencialidades e
recursos.

Este envolvimento e participação dos cidadãos, numa localidade específica e nos


processos de decisão a favor da comunidade, contribui significativamente para o aumento do
sentimento de pertença e identidade de comunidade e promove um maior índice de satisfação e
qualidade de vida dos indivíduos.

As comunidades continuam a manifestar sintomas de atrasos significativos no seu


desenvolvimento integral provocados pelas realidades sociais e geográficas dos territórios.

Acentua-se o fosso socioeconómico, educativo, social e cultural entre as comunidades


rurais e urbanas.

Estes são estigmas materializados na desumanização do território provocados por


sintomas exógenos e endógenos: bolsas de pobreza associadas à falta de oportunidades de
emprego, ao défice de dinamização da economia local, ao abandono dos territórios e à elevada
taxa de analfabetismo.

Uma realidade que conduz à exclusão social das populações mais vulneráveis.

O envelhecimento da população associado ao declínio da população jovem e adulta ativa


provocado pelos movimentos do êxodo rural, o desânimo e descrenças nas melhorias da

Ana Bárbara Costa 33


TIME TO TRAIN
qualidade de vida individual e coletiva são causas para as quais, é preciso encontrar soluções
participadas.

A intervenção comunitária preconiza uma ação no interior dos territórios, exigindo que as
comunidades e as instituições públicas ou privadas locais sejam participantes ativas, com a
finalidade de mais eficazmente se alcançar os objetivos de uma dada intervenção.

Nos últimos anos tem-se observado uma alteração nos padrões do trabalho comunitário,
que vão no sentido de não limitar a intervenção à prestação de serviços, mas sim de a promover,
também, ao nível da mobilização e capacitação das comunidades locais.

As metodologias de Planeamento de Inovação Comunitária (PIC) sustentam-se


justamente em intervenções no cidadão enquanto agente de mudança social e política, criando e
fomentando uma maior consciência do seu próprio papel como agente comunitário.

A capacitação dos agentes e organizações de base local permite concentrar esforços na


comunidade, formando e fomentando lideranças informais, tornando assim os processos de
mudança internos mais orientados para as necessidades das comunidades.

O objetivo da intervenção psicossocial, ao nível social e comunitário, é contribuir para


melhorar a relação das pessoas com o seu meio ambiente de forma a que, por um lado, possam
atingir a sua plena realização como pessoas e, a nível do meio ambiente, possam produzir-se
transformações que promovam essa mesma realização.

Ao nível da pessoa, o apoio psicossocial traduz-se em diferentes ações que podem


agrupar-se e 4 níveis:
 Capacitar as pessoas para assegurarem a sua sobrevivência,
 Desenvolver comportamentos que favoreçam o sentimento de pertença e
possibilitem às pessoas estabelecer relações próximas com outros no seu meio ambiente,
utilizando de uma forma construtiva os recursos informais, formais e sociais.
 Desenvolver comportamentos que conduzem ao crescimento e realização
pessoal e que habilitam a pessoa a realizar-se e a contribuir para si mesma e para os
outros.

Ana Bárbara Costa 34


TIME TO TRAIN
 Desenvolver padrões de comportamento que possibilitem fazer face com
êxito, a situações novas.

Ao nível do meio social poderemos agrupar a intervenção em 5 níveis:


 Facilitar o recurso às redes informais (família, amigos, vizinhança),
 Favorecer o recurso a estruturas formais a fim de providenciar a resposta a
necessidades (materiais ou outras – ex. oportunidades de emprego).
 Favorecer um funcionamento mais adequado das macroestruturas tais
como as instituições educativas, de saúde, de justiça, etc.
 Favorecer a emergência de novos papéis sociais que respondam às novas
expectativas,
 Contribuir para a mudança, a nível legal, de políticas sociais, costumes e
regras de funcionamento social.

Seja qual for o grupo social envolvido, a estratégia de intervenção passa por dois
processos:
 Pelo empoderamento do sistema-utente, visando dotá-lo de uma força
interna que lhe permita uma autonomia progressivamente maior na resolução dos seus
problemas e a consequente inclusão social;
 Pela advocacia, por parte do sistema-interventor, assumindo deste modo o
papel de instrumento de luta pelos Direitos Humanos da população excluída.

É fundamental, no processo de “empoderamento” da pessoa-utente, que o profissional de


trabalho social utilize este meio de ação – a informação – de forma adequada à situação-
problema e certificando-se que a pessoa-utente compreendeu e está capaz de agir de acordo com
essa compreensão.
 Apoio a nível da reclamação e reivindicação de direitos;
 Intervenção ao nível das organizações.

Muitas vezes, a complexidade do funcionamento dos organismos encarregados de aplicar


as medidas de política social, sejam elas do tipo prestação (em dinheiro ou em serviços) ou do
tipo informação, aconselhamento ou apoio psicossocial, é tendente a criar reais dificuldades aos
utentes.

Ana Bárbara Costa 35


TIME TO TRAIN
Mas a intervenção ao nível das organizações não se limita à atuação a propósito de
conflitos de comunicação entre pessoa-utente e organismo.

Em muitas situações, os organismos, regendo-se estritamente pela lei, criam situações


aberrantes, situações de injustiça relativa, ou outro tipo de situações traumatizantes para as
pessoas e famílias que delas são objeto.

Orientação para estruturas da comunidade – para além dos outros organismos e serviços
junto dos quais os assuntos da pessoa-utente têm implicações, a intervenção psicossocial entre
em linha de conta, na sua estratégia, com as estruturas formais e informais da comunidade que,
pelas suas funções de suporte social, podem beneficiar a pessoa-utente.

Neste âmbito, compete ao técnico:


 Conhecer a realidade da comunidade em que se pretende intervir (recursos,
grupos, barreiras);
 Identificação dos parceiros-chave para a intervenção, reforçando ou
ajudando a criar novos recursos;
 Ser capaz de promover e incentivar a articulação com os parceiros
institucionais locais;
 Ser capaz de identificar, analisar e definir orientações para a intervenção
comunitária, segundo as necessidades territoriais diagnosticadas;
 Ser capaz de dinamizar intervenções de modo a facilitar o
encaminhamento de casos e aproveitamento de todas as sinergias comunitárias;
 Ser capaz de estabelecer e dinamizar circuitos de articulação
interinstitucional com vista ao planeamento, monitorização e coordenação;
 Facilitar a partilha de experiências e conhecimentos entre as diferentes
intervenções no território;
 Avaliar as necessidades de adaptação das diferentes intervenções de forma
a melhor corresponder às necessidades, alvo de intervenção.

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TIME TO TRAIN
2.2.3.Área da saúde

No domínio da proteção da saúde das populações podem identificar-se três campos em


que as técnicas de intervenção comunitária têm sido usadas com êxito:
 No apoio a cidadãos fragilizados por condições de saúde particulares;
 Em programas de cuidados primários de saúde
 Em instituições de cuidados diferenciados de saúde

No que respeita aos cidadãos sanitariamente mais fragilizados como os idosos, os


deficientes, os doentes crónicos, os doentes mentais, os toxicodependentes e os doentes
terminais, o tipo de apoio requerido pode agrupar-se em duas vertentes, a ajuda logística e o
apoio psicossocial, qualquer deles exigindo um forte empenhamento comunitário.

Alguns dos programas atrás referidos podem ser desenvolvidos nos Centros de Saúde que
constituem instrumentos fundamentais da organização e do desenvolvimento das comunidades
locais.

São exemplos de ações em que tal tem sido observado, diversas campanhas de vacinação
em massa, programas de apoio a grávidas em geral e a certos grupos de risco (mães demasiado
novas ou demasiado velhas), ações de educação para a saúde e programas de prevenção de
epidemias.

Também os hospitais, como recursos da comunidade deveriam ser encarados pelos


utilizadores como instituições seguras e instrumentos de cura.

O sucesso da Educação para a saúde (EPS) é fortemente condicionado pelo modo como o
técnico se posiciona, sendo fundamental que este:
 Assumir o papel de facilitador / mediador;
 Criar um ambiente de bem-estar;
 Estimular no Utente o exercício de reflexão e a tomada de decisão, baseada
em conhecimentos científicos sobre os aspetos positivos e negativos que interferem na
saúde – visando a sua autonomia;
 Validar com o Utente a informação por este percebida e utilizada.

Ana Bárbara Costa 37


TIME TO TRAIN
A capacitação do Utente implica aprendizagem e, para que esta ocorra, é decisivo que
educador e Utente partilhem o mesmo objetivo que é o “apoiar a atitude saudável de mudar o
comportamento, apesar de as mudanças não serem imediatas ou observáveis.

Mais especificamente, as finalidades da educação para a saúde são:


(1) Ensinar a promover a saúde e prevenir a doença
(2) Apoiar as famílias no sentido de lidarem com os seus atuais problemas de
saúde e regimes de tratamento.

Para o desempenho desta função, independentemente de a intervenção ser informal,


formal, planeada ou não, dirigida a uma só Pessoa ou a um Grupo, é fundamental mobilizar
conhecimentos sobre:
a) Modelos e técnicas relacionadas com o Comportamento Individual de Saúde e
o Comportamento Interpessoal de Saúde;
b) Processo de ensino-aprendizagem, designadamente conhecer os domínios
envolvidos: cognitivo, afetivo e psicomotor, e métodos e meios pedagógicos que
facilitem a aquisição de conhecimentos, atitudes e comportamentos (recomendam-se os
métodos participativos).
c) Processo de comunicação.

Para além das competências técnicas e relacionais, o técnico terá ainda de mobilizar
competências multiculturais, dados os fortes condicionalismos que a esfera sociocultural
(valores, atitudes, habitus, crenças e/ou mitos) desempenha no domínio dos comportamentos de
saúde/doença.

O planeamento terá de ser estar sempre presente, pelo menos na mente do técnico
interventor em EPS.

Daí a relevância de relembrar aqui as etapas do Planeamento:

1.º Avaliação/Definição de necessidades e de problemas de Saúde, que inclui


(1) A identificação de determinantes objetiva e subjetivas, com especial atenção
às causas comportamentais;

Ana Bárbara Costa 38


TIME TO TRAIN
(2) A seleção de intervenções prioritárias, como respostas a algumas questões:
“Qual a magnitude do problema no indivíduo e na comunidade?”, “Que soluções são
possíveis?” “Qual a disponibilidade do Utente para integrar o processo?”.

2.º Definição de objetivos que, na EPS, são comportamentais.

Ter presente que EPS não visa apenas a transmissão de informação, mas a mudança
comportamental.

3.º Elaboração do Plano da intervenção educativa com “Que Objetivos


educacionais?”, “Que estratégias?”, “Que métodos?”, “Que atividades?”, “Que meios?”, “Existe
necessidade de fornecer mais conhecimento?”.

Podemos começar por enumerar os potenciais alvos de mudança que podem interferir
positivamente na situação e os factores causais que dão forma aos comportamentos relacionados
com a saúde.

4.º Sobre a intervenção apenas relembrar que, em função da evolução de cada ação ou
processo educativo, pode ser necessário alterar a ordem prevista para cada um dos itens a
abordar e/ou reformular a mensagem de modo a garantir, não só o envolvimento do Utente, mas
toda a eficácia das ações.

5.º Avaliação. Trata-se, sem dúvida, da etapa mais problemática, não só por motivos
culturais (do avaliador), mas também porque nem sempre se pode evidenciar clara e
distintamente a relação entre as intervenções e os resultados e impactos. Apesar destes
constrangimentos, a avaliação não pode ser descurada.

É ainda importante estabelecer e manter a relação com os serviços socio-sanitários para


assegurar a eficaz e adequada referenciação, que possa efetivamente garantir a satisfação de
necessidades não resolvidas da pessoa doente.

A articulação permite posicionar as respostas na comunidade onde se insere e aferir a


qualidade e tipologia de relações que se estabelecem em benefício dos utilizadores destes
serviços.

Ana Bárbara Costa 39


TIME TO TRAIN
As instituições podem funcionar como suporte substitutivo da família, combater o
isolamento social, facilitar a reconstrução de laços sociais e a assunção dos direitos e deveres de
cidadania dos utentes.

A articulação institucional pode e deve basear-se no trabalho em rede. As redes são


ferramentas que se caracterizam por disponibilizarem serviços, recursos, informação,
alojamento, apoio emocional (entre outros), com interações frequentes com as estruturas que
cedem apoios significativos à população alvo das intervenções.

Neste âmbito, o/a técnico/a deve:


 Ser capaz de referenciar, de forma adequada, as necessidades da pessoa;
 Ser capaz de seguir adequadamente as pessoas referenciados;
 Facilitar o contacto entre as entidades promotoras e as estruturas/serviços
da comunidade;
 Facilitar e sensibilizar as estruturas da comunidade para a intervenção
 Compreender os padrões normais de desenvolvimento humano;
 Compreender adequadamente os procedimentos de redução de riscos
 Conhecer abordagens eficazes para a transmissão de mensagens
promotoras de ganhos em saúde.
 Ser capaz de transmitir informação sobre o impacto das doenças a nível
comportamental, psicológico, social e físico;
 Ser capaz de transmitir a informação de forma adequada à compreensão da
pessoa sob intervenção;
 Valorizar as mudanças progressivas, independentemente da sua dimensão;
 Orientar o trabalho junto das pessoas no sentido do empoderamento no seu
processo de mudança.
 Compreender a avaliação do risco e o seu papel na mudança do
comportamento;
 Compreender a importância do processo de avaliação;
 Conhecer metodologias de avaliação do risco.
 Reconhecer a importância da avaliação para a escolha das estratégias de
intervenção;

Ana Bárbara Costa 40


TIME TO TRAIN
 Desenvolver sensibilidade e capacidade necessárias para avaliar
comportamentos de risco.

CAPÍTULO III – O Perfil de Competências do/a


Técnico/a de Apoio Psicossocial

3.1.Atividades e competências fundamentais

Conhecimentos

Ana Bárbara Costa 41


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Noções de:
 Suicídio.
 Perturbações do sono-vigília.
 Educação sexual.
 Análise de resultados.
 Segurança, e saúde no trabalho.
 Políticas sociais.
 Economia Social.
 Intervenção socioeducativa.
 Saúde.
 Doença.
 Patologia.
 Bullying.
 Violência doméstica.
 Desenvolvimento Sustentável.
 Equipa multidisciplinar.
 Contabilidade e cálculo financeiro.

Conhecimentos de:
 Ética e Deontologia profissional.
 Deficiência.
 Transtorno do Espetro do Autismo.
 Multideficiência.
 Perturbações relacionadas com abuso e negligência.
 Controlo dos impulsos e do comportamento.
 Rede de respostas sociais.
 Populações vulneráveis.
 Exclusão social e minorias étnicas.
 Estimulação e Reabilitação cognitiva.
 Funções Cognitivas.
 Formas de trabalhar a motricidade fina e global.

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 Psicologia.
 Sociologia.
 Psicopatologia.
 Prevenção universal, seletiva e indicada.
 Redução de Riscos e Minimização de Danos (RRMD).
 Desenvolvimento do ciclo vital.
 Grupos de risco.
 Inclusão, exclusão e reinserção social.
 Instituições do terceiro sector.
 Organização e gestão de organizações do terceiro sector.
 Desenvolvimento biopsicossocial das diferenças faixas etárias: infância,
adultos e velhice.
 Técnicas de motivação, empoderamento e advocacia social.
 Tecnologias de informação e comunicação.
 Protocolos e parcerias.
 Técnicas de monitorização e avaliação de parcerias.

Conhecimentos aprofundados de:


 Saúde mental.
 Metodologias de desenho e gestão de projeto.
 Metodologias de planeamento e programação de atividades.
 Metodologias e técnicas de organização e dinamização de atividades.
 Métodos, técnicas e instrumentos de avaliação de projetos de intervenção.
 Intervenção e desenvolvimento comunitário.
 Gestão de conflitos.
 Técnicas pedagógicas.
 Técnicas de treino de comunicação, facilitação e proximidade.
 Técnicas de comunicação oral e escrita.
 Prevenção, promoção e intervenção.
 Gestão de risco e encaminhamento.
 Trabalho em equipa multidisciplinar.
 Retorno Social de Investimento (SROI).

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TIME TO TRAIN
 Técnicas e instrumentos de elaboração de relatórios de atividades.
 Reinserção social.
 Políticas sociais de intervenção, integração e reinserção.
 Rede de respostas sociais.
 Instrumentos de avaliação de atividades.

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TIME TO TRAIN
3.2.Atitude, postura e comportamento

Os técnicos/as de apoio psicossocial têm a exigência ética de cumprir os valores e


princípios da profissão a concretizar na relação: respeito por si próprio, pelas pessoas, pelas
organizações sociais empregadoras ou outras, pela sociedade, pela profissão e pelas outras
profissões.

Neste âmbito, as suas atitudes, postura e comportamento devem:


 Respeitar os princípios de ética e deontologia inerentes à profissão.
 Trabalhar em equipas multidisciplinares e cooperar para objetivos comuns
de acordo com as prioridades definidas.
 Comunicar, de forma clara e assertiva, com interlocutores diferenciados.
 Demonstrar empatia, inteligência emocional e competências sociais de
integração e adaptação a diferentes contextos socioculturais.
 Demonstrar sensibilidade e capacidade para a interação e o diálogo
intercultural e intergeracional.
 Demonstrar capacidade para adequar a sua intervenção aos grupos-alvo de
intervenção.
 Demonstrar autocontrolo e inteligência emocional na gestão do stresse e
das emoções.
 Demonstrar capacidade de resiliência, autodomínio e superação de
pressões.
 Demonstrar sentido de responsabilidade, empenho e disponibilidade na
execução das atividades previstas e na resolução de problemas e/ou situações
imprevistas.
 Demonstrar autonomia e capacidade de organização do trabalho, revelando
orientação para resultados e prazos.
 Cumprir o sigilo profissional relativo aos grupos-alvo abrangidos pela sua
ação.
 Cumprir e fazer cumprir as normas e procedimentos de gestão do risco e
prevenção, segurança e saúde no exercício da atividade.

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TIME TO TRAIN
 Demonstrar capacidade de sensibilização e informação pública para a
prevenção de risco biopsicossociais.
 Demonstrar proatividade e atitude positiva na intervenção e
acompanhamento dos grupos-alvo com vista à sua capacitação para a mudança.
 Motivar os outros para a mudança na alteração de comportamentos de
risco e promover a autoconfiança e capacitação dos grupos-alvo.

O profissional, no seu exercício, observa os valores humanos pelos quais se regem o


indivíduo e os grupos em que este se integra e assume o dever de:
a) Cuidar da pessoa sem qualquer discriminação económica, social, política,
étnica, ideológica ou religiosa;
b) Salvaguardar os direitos das crianças, protegendo-as de qualquer forma de
abuso;
c) Salvaguardar os direitos da pessoa, promovendo a sua independência física,
psíquica e social e o autocuidado, com o objetivo de melhorar a sua qualidade de vida;
d) Salvaguardar os direitos da pessoa e colaborar ativamente na sua reinserção
social;
e) Abster-se de juízos de valor sobre o comportamento da pessoa assistida e não
lhe impor os seus próprios critérios e valores no âmbito da consciência e da filosofia de
vida;
f) Respeitar e fazer respeitar as opções políticas, culturais, morais e religiosas da
pessoa e criar condições para que ela possa exercer, nestas áreas, os seus direitos.

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3.3.Gestão das emoções

A profissão confronta o técnico/a de apoio psicossocial com sofrimentos, problemas e


angústias de outros seres humanos que procuram respostas e soluções junto das
Instituições.

De acordo com os campos de atividade os profissionais procuram os equilíbrios possíveis


para gerir as emoções que ocorrem sem perder a sensibilidade mas garantindo a capacidade de
continuar a trabalhar, apesar das emoções fortes que fazem parte do seu quotidiano.

Podem correr o risco de perder sensibilidade ao sofrimento dos outros, para se


protegerem e aguentarem as situações.

Perante as situações de sofrimento, de angústia, de contacto com problemas graves para


resolver, o controlo as emoções é fundamental para que o profissional reaja com sensibilidade
mas ao mesmo tempo com serenidade que lhe permita encontrar soluções e definir processos de
resolução dos problemas.

Dependendo do tipo de problemas esse controlo emocional apresenta amplitude variável,


sempre problemático.

Pode ser difícil controlar emoções negativas quando o profissional interage com um pai
ou mãe que maltrata uma criança, quando acolhe um sem-abrigo cujo odor é verdadeiramente
insuportável, ou quando precisa de se confrontar com jovens que agridem verbalmente os adultos
com quem se relacionam.

Também as emoções de partilha de sofrimento podem envolvê-lo de tal forma que o


profissional assimila o estado das pessoas que pretende ajudar e não consegue o distanciamento
necessário para analisar o problema, as soluções e as saídas possíveis.

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O controlo de emoções será um saber que só se consegue com o acumular de experiência
e o reconhecimento de que os problemas têm muitas origens, são complexos, são produto de
percursos de vida individuais e coletivos que escapam ao profissional.

As competências emocionais são fatores de proteção para um conjunto de condições,


incluindo problemas comportamentais ou perturbações psicopatológicas.

A competência emocional inclui:


1) Consciência do estado emocional, incluindo a possibilidade de experienciar
múltiplas emoções;
2) Capacidades para discernir as emoções dos outros;
3) Capacidade de utilizar o vocabulário de emoções e expressões de acordo com
os níveis de desenvolvimento;
4) Capacidade para um envolvimento empático e simpático nas experiências
emocionais dos outros;
5) Capacidade de perceber que nem sempre os estados emocionais internos
correspondem à expressão exterior e que a expressão emocional causa impacto nos
outros;
6) Capacidade para lidar adaptativa ente com emoções aversivas ou dolorosas;
7) Consciência de que a estrutura ou natureza das relações é definida, em parte,
tanto pelo grau de genuinidade emocional como pelo grau de reciprocidade ou simetria na
relação;
8) Capacidade para a autoeficácia emocional, isto é, a capacidade de controlar os
estados emocionais.

O ambiente de trabalho saudável depende essencialmente dos colaboradores e da sua


capacidade de contornar eventuais situações menos positivas que possam surgir no dentro da
organização e na interação com outros colaboradores.

O amplo interesse das organizações pela Inteligência Emocional pode estar relacionado
com a suposição de que as pessoas com melhor gestão das suas próprias emoções são,
possivelmente, as mais bem-sucedidas.

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A inteligência emocional está relacionada com outros resultados de trabalho, como a
satisfação no trabalho, estilos de resolução de conflitos e compromisso organizacional.

A inteligência emocional ao nível individual, refere-se à capacidade do indivíduo estar


consciente, de gerir as suas próprias emoções e gerir com sucesso as emoções e reações emotivas
dos outros.

Por sua vez, a inteligência emocional grupal, é um fenómeno que ocorre ao nível dos
grupos, que permite ao grupo utilizar os seus processos sinérgicos de forma a se tornarem um
coletivo o mais emocionalmente inteligente, podendo este processo aumentar a performance e
outputs do grupo.

A inteligência emocional grupal baseia-se na ideia de que os indivíduos emocionalmente


inteligentes utilizam-na durante a interação entre indivíduos.

Assim pode ser possível que os grupos desenvolvam uma inteligência emocional coletiva
durante a interação com outros membros do grupo.

A inteligência emocional e mais particularmente a habilidade para lidar com as próprias


emoções, permite aos membros da equipa serem mais predispostos a ouvir pontos de vista
alternativos e ver soluções superiores, sem se sentirem ameaçados pela possibilidade de estarem
errados.

Para além disso, a média ao nível da inteligência emocional numa equipa é influenciada
pelo estilo de resolução de conflito; equipas com altos níveis de inteligência emocional preferem
estratégias de resolução de conflito colaborativas, enquanto equipas com baixos níveis de
inteligência emocional preferem estratégias de evitamento.

Em suma, um nível emocional equilibrado (controle de emoções) será um fator positivo


para uma tomada de decisão ponderada e bem aceite na relação interpessoal.

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3.4.Gestão do Stress profissional

Os riscos psicossociais relacionados com o trabalho são definidos como “todos os aspetos
relativos ao desempenho do trabalho, assim como à organização e gestão e aos seus contextos
sociais e ambientais, que têm o potencial de causar danos de tipo físico, social ou psicológico.

Os riscos psicossociais decorrem de deficiências na conceção, organização e gestão do


trabalho, bem como de um contexto social de trabalho problemático, podendo ter efeitos
negativos a nível psicológico, físico e social tais como stresse relacionado com o trabalho,
esgotamento ou depressão.

Os riscos psicossociais andam de mãos dadas com a experiência de stresse relacionado


com o trabalho, reconhecido como uma das principais causas de doenças profissionais.

O stresse relacionado com o trabalho é a resposta que as pessoas podem ter quando
apresentadas a exigências e pressões do trabalho que não são compatíveis com os seus
conhecimentos e habilidades e que desafiam a sua capacidade de coping.

Outra questão que também tem ganho prevalência como um resultado da exposição a um
ambiente psicossocial pobre e da experiência de stresse excessivo relacionado ao trabalho é o
burnout, definido como um estado de exaustão física, emocional e mental, que resulta de um
envolvimento de longo-prazo em situações de trabalho emocionalmente exigentes.

Um ambiente psicossocial positivo promove o bom desempenho e o desenvolvimento


pessoal, bem como o bem-estar mental e físico dos trabalhadores.

Os trabalhadores sentem stresse quando as exigências do seu trabalho são excessivas,


superando a sua capacidade de lhes fazer face.

Além de problemas de saúde mental, os trabalhadores afetados por stresse prolongado


podem acabar por desenvolver graves problemas de saúde física, como doenças cardiovasculares
ou lesões músculo-esqueléticas.

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A profissão de prestador de cuidados requer disponibilidade sincera, tolerância, aceitação
do próximo. É então com a repetição dos traumatismos e da sua intensidade que o foro
psicológico e emocional sofre um grande impacte.

A especificidade do prestador de cuidados reside, portanto, na diversidade de


problemáticas trazidas pelos próprios utentes.

A vulnerabilidade dos trabalhadores sociais ao burnout tem subjacentes causas de vária


ordem:
 Umas resultam da especificidade da intervenção social, da natureza do
trabalho social;
 Outras derivam do contexto social, das políticas sociais, do contexto de
trabalho onde o profissional se insere e
 Por último, apontar causas de ordem individual, inerentes à personalidade
do técnico, ao seu quadro de normas e valores que nunca são dissociáveis da prática
profissional.

A vulnerabilidade dos profissionais de apoio social ao stress e ao burnout passa também


pela intervenção em situações de dificuldade/desigualdade, dado que o seu objeto é a situação
social vivenciada pelos destinatários da intervenção, situação que se configura quase sempre
como uma situação-problema.

Estes profissionais, a nível da estrutura organizacional, estão constantemente expostos a


diversos fatores indutores de Stress ocupacional, que afetam diretamente o bem-estar do
individuo, tais como, as longas jornadas de trabalho, o número insuficiente de pessoal, a pressão
no trabalho, a falta de feedback por parte das chefias, falta de autonomia e falta de participação
nas tomadas de decisão.

Quando as dificuldades relacionadas com o trabalho não são reconhecidas nem


enfrentadas, começa a existir por parte dos técnicos um constante desgaste pessoal, intelectual e
profissional.

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Há inúmeras estratégias que ajudam o técnico de apoio psicossocial a lidar com o stress
profissional, sendo que as equipas constituem um suporte fundamental na gestão dos riscos
psicossociais associados.
 Reconhecer aspetos da profissão que possam contribuir para stress
excessivo e síndrome de exaustão (burnout);
 Conhecer estratégias de prevenção e controlo dos riscos psicossociais e do
stress no trabalho (como diversificar tarefas, reuniões periódicas de equipa para
autoajuda e formação específica).
 Ser capaz de identificar os sintomas de stress;
 Ter a capacidade de lidar com o stress e de se autorregular face a
determinadas situações desencadeadoras de stress;
 Ser capaz de pedir ajuda a supervisores, colegas e outros serviços (ex.:
saúde ocupacional ou externos) quando surgirem sinais mais evidentes de stress ou
burnout.
 Cooperar na criação de um bom ambiente de trabalho;
 Participar ativamente na coesão da equipa.

Lidar com o sofrimento de outras pessoas, por incumbência profissional, ou voluntariado,


pode ter as suas consequências emocionais e, em situações mais graves, psicológicas.

O desenvolvimento de uma boa resiliência é fundamental, principalmente em contacto


com populações traumatizadas e em que a exigência pode ser elevada.

Saber o que fazer, ter as funções bem definidas, assim como adotar práticas de bem-estar
são passos excelentes para o cuidador se proteger do stresse da função.

O apoio de colegas (pares) é eficaz, rápido e próximo.

É normal, nas relações profissionais, que se estabeleçam relações de proximidade e que,


entre as equipas, os pares reconheçam se alguma tarefa, evento, incidente ou pessoa, afetou mais
este profissional ou outro.

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Existe mais "à vontade" para falarmos sobre o que mais nos afetou, com alguém com
quem lidamos frequentemente, do que com um estranho – mesmo sendo este “estranho” um
profissional de saúde mental.

É por esta razão que o apoio providenciado por colegas é tão importante, principalmente
em trabalhos exigentes.

Apesar de haver programas estruturados de apoio de pares, a base assenta no cuidado, na


observação e disponibilidade para ouvir e apoiar um colega com manifestações maiores de
stresse.

Ficam algumas estratégias que podem ajudar:

Estar disponível
 Se for solicitado para prestar suporte, tentar estar disponível. Apesar de
nem todos quererem falar, as pessoas que passaram por uma experiência stressante
geralmente gostam de saber que alguém está lá para eles. Estar disponível, sem ser
intrusivo.

Gerir a situação e os recursos disponíveis


 Se necessário, ajudar a certificar-se de que a pessoa está segura, protegida;
confirmar a existência de privacidade e que tem acesso à ajuda de que necessita, por
exemplo, um médico se estiver doente.

Providenciar informação
 Proporcionar à pessoa informações precisas e reais – por forma a ajudar a
colocar a situação em perspetiva, dum modo mais objetivo e controlável.

Ajudar a pessoa a estabelecer controlo pessoal


 Respeitar a capacidade da pessoa para tomar decisões e gerir a situação.
Ouvir e apoiar na tomada de decisões. Permitir que a pessoa expresse sentimentos, sem
julgamento.

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Encorajar
 Algumas pessoas sentem-se culpadas ou têm perda de autoestima durante
situações stressantes. Encorajar a pessoa a ter uma visão mais positiva, ao ajudar a
encontrar explicações objetivas e pensamentos alternativos.

Manter a confidencialidade
 A confidencialidade é uma pedra angular de todo o apoio dos pares –
revelando-se essencial para a integridade de todo o processo. Não compartilhar a história
do seu colega com os outros ou fornecer detalhes sobre eles para terceiros.

Providenciar follow-up
 Pode ser adequado disponibilizar-se para fazer follow-up à pessoa que está
a ajudar, através de um telefonema ou de uma conversa, em presença. Ser discreto e não-
intrusivo no follow-up. Não avançar com quaisquer promessas para se manter em
contacto.

O suporte social está fortemente relacionado com o conceito de stress. O suporte social
contribui para o ajustamento positivo e para o desenvolvimento pessoal da pessoa, permitindo
combater os efeitos de stress.

Os sujeitos que recebem mais suporte social deviam apresentar maior bem-estar e valores
de stress mais baixos do que os sujeitos que recebem menor suporte social, e que a relação entre
a maior quantidade de apoio e stress poderia emergir da maior necessidade de suporte social,
fazendo assim, com que surja o maior apoio.

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3.5.Trabalho em equipa multidisciplinar

A Equipa multidisciplinar deve ser composta por profissionais de diversas áreas, com
formações académicas diferentes, e que trabalham em prol de um único objetivo. Esta equipa
permite uma ação unificada decorrente de ângulos diferentes do saber.

Ao contrário da visão isolada de cada um dos seus representantes, que possuem um olhar
para o problema baseado exclusivamente na sua experiência, a equipa multidisciplinar permite
dotar os seus elementos de estratégias com as quais podem construir uma resposta mais
integradora à situação em questão.

O trabalho em equipa eficiente exige certas competências que devem ser constantemente
desenvolvidas, tais como “o aprender a viver junto, a viver com os outros, a conviver, aprender a
questionar o próprio conhecimento, aprender a aprender com o outro. Implica, em última
instância, em trabalhar o autoconhecimento e a autoestima.

A característica mais importante a ser desenvolvida no profissional, além do respeito


mútuo, é a empatia.

Considerada como a capacidade de reconhecer e entender os sentimentos da outra pessoa


em determinada situação, ela contribui para a criação de um clima interpessoal de confiança,
elemento básico no relacionamento de assistência à saúde e desenvolvido lentamente à medida
que uma pessoa conhece a outra.

É imprescindível que a equipe multiprofissional tenha em conta a importância da


comunicação interpessoal no contexto organizacional, pois é através dessa consciência
organizacional que poderá trabalhar a eficiência de seu relacionamento com o paciente em meio
hospitalar.

Trabalhar em colaboração com profissionais de outras áreas, que têm diferentes pontos de
vista, é um desafio que, mais do que competência técnica, requer interações eficazes, perícia
dentro da equipa, competências específicas de colaboração como a capacidade para comunicar

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eficazmente com os profissionais de outras disciplinas, para resolver problemas, conflitos,
aceitar diferenças, e para fazer planos de cuidados em conjunto.

A importância do modelo colaborativo, referindo que implica a existência de uma cultura


de confiança, crenças e atitudes comuns, empowering dos membros da equipa, reuniões para
gestão da equipa e feedback sobre o funcionamento da mesma.

As qualificações diferentes desenvolvem a independência dos membros e a


complementaridade das intervenções; elas podem, numa equipa coesa, tornar-se um fator
importante de eficácia e de progresso mútuo.

A competência do membro de uma equipa deve traduzir-se no domínio de uma área (a


sua «especialidade», ou o seu ponto forte), na capacidade em ligar-se a uma rede humana e
técnica, quer no interior do serviço quer no seu exterior.

A diversidade e a diferença enriquecem a reflexão e as práticas e contribuem para o


equilíbrio dinâmico de uma equipa, tendo, no final, um impacto positivo sobre o que é
produzido.

O respeito de cada um, o lugar que cada pessoa ocupa no grupo, a tolerância e o
reconhecimento do valor do outro são indispensáveis para um funcionamento satisfatório da
equipa.

A discussão entre os membros da equipa permite pesar os prós e os contras de cada


alternativa e permite que ela constitua um quadro de referência ética. Não se pode ser ligeiro a
tomar decisões que podem vir a ter repercussões graves na vida de um utente.

As discussões de equipa em torno destas situações são úteis para criar uma ética e
uma cultura de intervenção. Podem também alargar-se a programas coletivos de
intervenção (por exemplo, para treino de uma atividade, para trabalho de acompanhamento de
tarefas quotidianas, etc.).

Embora a complementaridade se construa sobre as diferenças, os membros do grupo


devem estar de acordo num ponto: o desejo e a vontade de cooperar. Assim, dão provas de

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maturidade e de coragem, empenham-se em relações, por vezes, conflituosas, mas construtivas, e
abrem novas perspetivas.

A equipa apresenta-se, então, como um intermediário entre a pessoa e a sociedade,


restituindo um poder legítimo, tanto ao utente, como ao trabalhador social.

O trabalho do «líder» de equipa consiste em favorecer o confronto das expectativas dos


vários parceiros, quer sejam os utentes dos serviços, quer sejam os colaboradores ou a hierarquia
da organização.

A principal tarefa do líder da equipa consiste em criar um contexto que permita que cada
ator se torne numa «agência individual» e que os seus conhecimentos e as suas competências
sejam colocados em rede, de forma a produzirem mais-valias para toda a equipa.

Neste âmbito, o papel de coordenação é absolutamente fundamental. O coordenador da


equipa não apenas coordena a ação da equipa mas apoia os colegas no desenvolvimento das
competências de colaboração.

Ter a capacidade para apoiar os colegas de outras profissões na arte da negociação, na


gestão de conflitos e da mudança, é um desafio

A supervisão constitui assim uma ferramenta que permite: o desenvolvimento da equipa,


assegurar a qualidade do trabalho e disponibilizar suporte emocional, através de um espaço onde
cada elemento pode partilhar o impacto da intervenção em si e receber apoio sobre a melhor
forma de gerir este impacto.

A supervisão pode ser definida como um método de trabalho que:


 Integra uma parte do processo de gestão, atuando simultaneamente como
um ambiente de aprendizagem;
 Garante a prestação de cuidados de qualidade;
 Permite o crescimento do interventor, pessoal e profissionalmente;
 Melhora o desenvolvimento profissional.

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A supervisão pode ser dividida em 3 categorias, não obstante de, na prática, poderem ser
operacionalizadas em simultâneo:
 Administrativa, no âmbito do planeamento, organização e monitorização e
enquanto canal de comunicação entre os profissionais e com os seus superiores
hierárquicos;
 Educativa, já que fomenta a emergência de elementos fundamentais a um
bom desempenho profissional;
Suporte, dado que apoia os profissionais a lidar com situações de stress e de pressão.

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Conclusão

O/a técnico/a de Apoio Psicossocial não deverá ter a pretensão de substituir outras áreas
de especialidade (psicologia, sociologia, pedagogia, medicina ou enfermagem, entre outras), nem
assumir sozinho a responsabilidade de situações que não estão ao alcance da sua formação. É seu
dever colaborar sempre com os/as técnicos/as das áreas exigidas pela situação de intervenção,
fazendo o encaminhamento das situações que saem do seu âmbito de ação.
Esta necessidade torna-se evidente quando se tem em conta as diversa áreas de
intervenção deste/a técnico/a, sendo que estas são tão diversas que de fato não era possível
formar um/a técnico/a tão polivalente e ao mesmo tempo tão espacializado.

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REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS

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de danos: competências dos interventores, Ed. SICAD, 2016

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Amaro, Maria Inês, Urgências e Emergências do Serviço Social – Fundamentos da Profissão na


Contemporaneidade. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2012

Banks, Sarah, Ética prática para as profissões do trabalho social, Ed. Porto Editora, 2008

CNQ, Perfil Profissional do Técnico/a de Apoio Psicossocial, 2020

INE, Classificação Portuguesa das Profissões 2010, 2010

Fachada, O., Psicologia das Relações Interpessoais, Ed. Rumo, Lisboa

ONU, Direitos Humanos e Serviço Social: Manual para Escolas e Profissionais de Serviço
Social, Série Formação Profissional, nº 1, 1999

OPP, Parecer OPP: Proposta de criação da qualificação de Técnico/a de Apoio Psicossocial,


2019

Ornelas, J., Diversidade e Desenvolvimento Comunitário, In J. Ornelas, S. Maria (Eds.),


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Robertis, Cristina, Metodologia da intervenção em trabalho social, Ed. Porto Editora, 2011

Weber, Philipe, Dinâmicas e Práticas do Trabalhador Social, Ed. Porto Editora, 2010

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