Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
Uma sociedade que se autointitula democrática, ou que assim pretende ser, deve ter
como premissa básica a promoção da igualdade de oportunidades e de direitos para
todos. Isso perpassa, inevitavelmente, por uma educação pautada na pluralidade
cultural e na reelaboração das representações sociais de uma sociedade sobre as
diversas minorias que, ao longo do tempo, têm sido vistas, por segmentos dominan-
tes da sociedade, como grupos “desviantes”, por fugirem aos padrões idealizados, a
exemplo dos negros, indígenas, pessoas com deficiências físicas, sensoriais e mentais,
dentre outros. Nesse sentido, urge que tais temáticas sejam tratadas no contexto
educacional brasileiro contemporâneo, principalmente, nos cursos de formação de
professores, que serão regentes, gestores, coordenadores e outros.
Para tanto, impõe-se, cada vez mais, a necessidade de se repensar a formação
docente, inicial e continuada, para que contemple conhecimentos, competências
e atitudes que possibilitem ao professor compreender a complexidade da prática
docente.
Em tempos de inclusão educacional, busca-se desenvolver uma prática reflexi-
va, pautada em uma concepção de ensino como construção do conhecimento, o
professor como mediador e a escola como um espaço aberto às diferenças, onde as
relações interétnicas e dos sujeitos com deficiência não sejam marcadas por estig-
mas. As diferenças não devem ser vistas só como limites, mas como possibilidades
de aprendizagem social, intelectual e afetiva.
Nessa perspectiva, a educação inclusiva é concebida como uma filosofia e prática
educativa, que pretende melhorar a aprendizagem e participação ativa de todos. Em
um contexto comum, é considerada um processo inacabado que desafia qualquer
339
A formação inicial de professores, nos cursos de licenciatura, tem sido marcada por
tensões, silenciamentos, ao sabor da ideologia hegemônica no espaço/tempo em
que se desenrola. Inicia-se a discussão, trazendo algumas ideias de Mello (2000, p.
102), consideradas pertinentes quando se fala de formação, pois ela alerta que
Essas ideias são reforçadas por Cavalcanti (2002, p. 19), ao ressaltar que “[...]
o espaço geográfico não é apenas uma categoria teórica que serve para pensar e
analisar cientificamente a realidade; ele é essa categoria justamente porque é algo
vivido por nós e resultante de nossas ações.” Por isso, a autora acrescenta que o en-
sino de Geografia deve implicar no compromisso de efetivar reais possibilidades de
contribuir para a formação de cidadãos participativos em seu espaço, permitindo a
formação da consciência espacial-cidadã e de um saber-pensar o espaço, condição
essencial à vida em sociedade, para participar de seus processos, tomadas de deci-
são, agir democraticamente, ser e estar situado nos contextos sociais.
Para tanto, Almeida (2001) adverte sobre a importância de se trabalhar as ca-
tegorias geográficas, desenvolvendo conhecimentos e habilidades (localização,
orientação e representação) e competências espaciais e, ainda, de se respeitar o
desenvolvimento cognitivo do aluno, condição primordial para a aprendizagem ge-
ográfica e cartográfica.
Considerando a importância dessa área de conhecimento, é necessário oportu-
nizá-la a todos os alunos, inclusive, os que têm deficiência. Para tanto, a mediação
assume uma importância impar, pois é concebida, aqui, na perspectiva vygotskyana,
como um
[...] é por causa dos mapas, porque a professora explica o assunto na sala, mos-
trando mapas, eu não posso acompanhar, porque ela não leva mapa tátil para a
sala, só manda procurar a sala de recursos, mas quando a pró da sala de recursos
vai fazer o mapa a explicação já passou (aluno cego – ensino fundamental).
[...] o professor de Geografia fala muito e rápido, às vezes, até o intérprete tem di-
ficuldade, não sou ouvinte e preciso muito do recurso visual (aluno surdo – ensino
fundamental).
Por conta dessas dificuldades, o professor deve estar preparado, do ponto de vis-
ta teórico-prático, para essa mediação, de modo a responder às necessidades desses
alunos, quanto à: interação; recursos cognitivos, didáticos e tecnológicos; tempo,
espaço; e outros.
Com base nos pressupostos vygotskyanos de que as leis gerais que atuam no
desenvolvimento das crianças com deficiências são as mesmas leis que atuam no
desenvolvimento das demais crianças, há que se considerar as dificuldades desses
alunos, mas não com o olhar de piedade e descrédito e, sim, em uma perspectiva
dialética, que percebe as limitações, mas também as possibilidades. Para o referido
autor, todas as crianças podem aprender e esclarece que:
O mapa acima, mesmo sendo pictórico, para a sua utilização é preciso que os
alunos já tenham construído os pré-requisitos para isso, ou seja, noção de legenda;
proporção e escala; lateralidade, referências e orientação espacial, dentre outras.
Porém, quanto ao processo de ensino/aprendizagem dos alunos cegos, deve-se
enfatizar a percepção tátil, mas tendo a clareza de que o conhecimento não é um
Essas proposições assumem uma importância ímpar para os alunos com defici-
ência visual, visto que eles precisam experienciar o espaço, os objetos concretos e
estabelecer relações com os objetos espaciais. Entretanto, a realidade das chamadas
escolas inclusivas, ainda deixa muito a desejar, no que se refere ao uso dos recursos
táteis. Isso ficou bastante visível, durante a pesquisa, pois, quando indagados sobre
o uso de mapas táteis nas aulas de Geografia, as respostas dos alunos ratificavam a
afirmação anterior, a saber: “uma vez na 6ª série a pró levou um mapa das regiões” ou
ainda, “já conheci o mapa tátil com a pró da sala de recurso”; “quando a professora traz
mapa para os alunos normais, me manda procurar depois a sala de recurso.”
Postas essas reflexões, importa discutir algumas possibilidades de ampliar o co-
nhecimento espacial dos alunos com deficiência visual, na tentativa de superar as
restrições provocadas pela ausência da visão ou por uma prática docente lacunar,
possibilitando a alfabetização cartográfica (escala, localização direção, orientação,
codificação, outros) desses alunos. Para tanto, é necessário uma preparação, grada-
tiva, atentando para as possibilidades cognitivas de percepção e representação do
espaço, bem como a necessidade de suportes, de referências concretas, para a cons-
trução da função simbólica, do espaço representativo, das relações topológicas de
envolvimento ou fechamento (noções de interior, exterior, centralidade, contorno),
e projetivas (lateralidade).
É conveniente ressaltar que a preocupação não deve se limitar à idade crono-
lógica, mas incluir a avaliação da capacidade cognitiva dos alunos, considerando a
Zona de Desenvolvimento Real, ou seja, as aprendizagens já efetivadas, e a Zona
de Desenvolvimento Potencial, isto é, as capacidades em vias de serem construídas
com a mediação do outro, professor ou colega.
Para desenvolver atividades com mapas táteis, deve-se observar alguns aspectos
tais como: se o aluno já tem a percepção tátil desenvolvida para o reconhecimento de
linhas, figuras, texturas, símbolos, bem como uma adequada orientação espacial, para
que os alunos possam buscar pontos de referência dentro do que estão explorando.
Nesse tipo de Cartografia é possível apropriar-se de variáveis visuais, adaptando
-as ao tato, para atender às limitações da pessoa com deficiência visual. No entanto,
a cor é uma variável que não tem como ser transformada em tátil, por isso deve ser
substituída por diferentes texturas. Ainda sobre a confecção da cartografia tátil Vascon-
cellos (1993) alerta que é importante ter uma preocupação quanto à quantidade de
informação expressa no mapa, para não sobrecarregá-lo, dificultando a compreensão.
A referida autora recomenda, ainda, a observância de outros aspectos, como:
o tamanho, porque os mapas não devem ser muito grandes, pois o tato é bem mais
restrito que o campo da visão; e um maior grau de generalização com omissões,
exageros de acordo com os objetivos definidos. Dessa forma, um mapa temático
(climas) com várias texturas não deverá ter informações sobrepostas que não sejam
essenciais, a exemplo da divisão política, para não confundir o usuário.
Assim, a Cartografia tátil, embora prime pela simplicidade, ela não é simplista.
Essa cartografia coaduna-se com o que afirma Castellar (2011, p. 133) “[...] a car-
tografia é uma linguagem a partir da qual se comunica fatos, conceitos, e sistemas
conceituais; é uma linguagem iconográfica de comunicação que permite ler e es-
crever características do território.” Nessa direção, esclarece ainda que o domínio
Considerações Finais
Referências