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Discente: Nathan Funchal de Rezende

Matrícula: 2019022618
Turma: EA1

Transferência de calor por convecção e radiação combinadas em


uma barra cilíndrica

Objetivo
Determinar experimentalmente o coeficiente de transferência de calor
combinado, referente aos processos de convecção natural e radiação térmica em
uma barra cilíndrica. Tal barra é aquecida por resistores elétricos internos e exposta
ao ar ambiente nas posições horizontal e vertical de forma a possibilitar a
comparação entre os valores obtidos experimentalmente para esse coeficiente e o
valor estimado pela fundamentação teórica.

Introdução
A termodinâmica foi um dos últimos campos da física clássica a ser estudado
e ter um embasamento teórico fundamentado, com isso, fenômenos presentes
diariamente na vida humana envolvendo calor e temperatura, como, por exemplo, a
convecção, passaram a ter leis matemáticas que os descreviam. Uma dessas leis
ficou conhecida como Lei do resfriamento de Newton e modela a taxa de
transferência de calor de uma superfície com a área dessa superfície e a diferença
de temperatura que gera o fluxo de calor, seguindo a relação:


𝑄 = ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣 𝑆 (𝑇𝑠 − 𝑇𝑎𝑟)


Nessa equação, a taxa de tranferência de calor (𝑄 ) é relacionada com o

produto da área superficial (𝑆) pela diferença entre a temperatura da superfície (𝑇𝑠)

e a temperatura do ar ambiente (𝑇𝑎𝑟) através de uma constante chamada de

coeficiente de troca de calor por convecção (ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣). A convecção a ser observada

nesse experimento é de caráter natural, ou seja, não é forçada; logo, nenhuma


corrente de ar é movimentada sobre a barra utilizando bombas de fluido e/ou
sopradores, além disso, é válido mencionar que os valores típicos para esse
coeficiente podem variar de 2 até 100000 dependendo do fluido, do tipo de
convecção e se há ou não mudança de fase no processo. No experimento a ser
discutido, a convecção é realizada pelo ar, de forma natural e sem mudança de
fase, o que restringe os valores do coeficiente a uma faixa que vai de 2 a 25
2
𝑊/(𝑚 𝐾), ademais, dependendo se o escoamento for laminar ou turbulento, o
coeficiente pode ser aproximado pelas equações apresentadas na Tabela 1, abaixo.

Tabela 1 - Equações simplificadas para convecção natural

Com base nessa tabela, o que define se o escoamento é laminar ou


turbulento é o número de Rayleigh (Ra), definido como o produto entre o número de
Grashof (Gr) e o número de Prandtl (Pr). Esses adimensionais podem ser
calculados pelas seguintes relações,

3 2
𝐺𝑟 = 𝑔β(𝑇𝑠 − 𝑇𝑎𝑚𝑏)𝑥 /𝑣 e 𝑃𝑟 = µ𝐶𝑃/𝐾

Nessas relações, 𝑔 representa a aceleração da gravidade, β é o coeficiente


de dilatação volumétrica (inverso da temperatura absoluta), 𝑥 é uma propriedade
geométrica característica da superfície (diâmetro 𝑑 para um cilindro na horizontal e
comprimento 𝐿 para um cilindro na vertical) e 𝑣 é a viscosidade cinemática. Além
disso, na segunda fórmula, as propriedades dinâmicas do ar são a viscosidade
dinâmica µ, o calor específico a pressão constante 𝐶𝑃 e a condutividade térmica 𝐾; é

importante salientar que essas propriedades são avaliadas na temperatura de filme,


𝑇𝑓 = (𝑇𝑠 + 𝑇𝑎𝑚𝑏)/2.

A convecção não é a única forma de transferência de calor presente no


experimento, além dela, para as temperaturas alcançadas, a radiação térmica é
relevante para a análise a ser feita. A taxa de transferência de calor emitida por
radiação obedece a lei de Stefan-Boltzmann, a qual define que essa taxa será igual
ao produto entre a emissividade ε, a área da superfície 𝑆, a temperatura absoluta 𝑇𝑠
−8 2 4
e uma constante de Stefan-Boltzmann σ = 5, 67 𝑥 10 𝑊/(𝑚 𝐾 ), portanto,

• 4
𝑄 = ε σ 𝑆 (𝑇𝑆)

Considerando-se que a transferência ocorre em um corpo cinza


(emissividade térmica igual a absortividade) e que além de emitir radiação o corpo
também absorve uma parte da radiação do meio em que ele se encontra, uma
quantidade de radiação líquida que é transferida de uma superfície pode ser
determinada pela seguinte relação,


𝑄𝑟𝑎𝑑 = ℎ𝑟𝑎𝑑 𝑆 (𝑇𝑆 − 𝑇𝑣𝑖𝑧)
2 2
ℎ𝑟𝑎𝑑 = ε σ (𝑇𝑆 + 𝑇𝑣𝑖𝑧)(𝑇𝑆 + 𝑇𝑣𝑖𝑧)

O coeficiente de transferência de calor combinado é determinado, então,


como a soma algébrica dos coeficientes de convecção e de radiação térmica, logo,

ℎ𝑐𝑜𝑚𝑏 = ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣 + ℎ𝑟𝑎𝑑

Material Utilizado
Fonte de tensão contínua com medidores de tensão e corrente elétrica,
cabos para conexão elétrica, barra cilíndrica metálica com resistores internos, base
de madeira para a barra metálica, termopar tipo K, medidor de temperatura para
termopar e paquímetro. A montagem do experimento está representada na Figura 1:

Figura 1 - Montagem de bancada do experimento


Método
Com a montagem do experimento já realizada para a barra na posição
horizontal, inicia-se o fluxo de corrente definindo um valor de tensão (𝑉) na fonte
elétrica; o produto dessa tensão pela corrente (𝐼) que circula pelos resistores vai
definir a taxa de transferência de calor na barra, já que a energia elétrica está sendo
convertida em calor. O termopar é inserido em um pequeno orifício no meio da barra
e através dele é possível acompanhar o aumento progressivo da temperatura da
barra, essa temperatura vai passar por um transiente e em algum momento vai
alcançar um regime permanente caracterizado por pequenas oscilações de
temperatura em torno de um valor fixo.
Quando o regime permanente for alcançado, mede-se - utilizando o
paquímetro - o diâmetro e o comprimento da barra que serão utilizados para calcular
a área da superfície de troca de calor. Além disso, nesse instante mede-se a tensão
e a corrente elétrica sobre os resistores e, também, mede-se a temperatura da barra
e a temperatura ambiente, esses valores serão utilizados nas relações
apresentadas na Introdução para o cálculo dos coeficientes de troca de calor. Em
seguida, muda-se a montagem do experimento para a barra na posição vertical,
aguarda-se a troca de calor alcançar o regime permanente e repete-se todos os
procedimentos e medições descritos para a primeira parte.

Resultados e discussões
Os valores obtidos e suas incertezas estão apresentados na Tabela abaixo.

Tabela 2 - Grandezas relevantes e suas incertezas

Barra na horizontal (18:15) Barra na vertical (19:05)

Grandeza Valor Incerteza Valor Incerteza

V (V) 32,00 ± 3% 32,00 ± 3%

I (A) 0,314 ± 3% 0,314 ± 3%

L (mm) 193 ± 0,5 mm 193 ± 0,5 mm

d (mm) 26,5 ± 0,1 mm 26,5 ± 0,1 mm

𝑇𝑆 (ºC) 73,5 ± 1 ºC 74,2 ± 1 ºC

𝑇𝑎𝑚𝑏 (ºC) 24,3 ± 1 ºC 24,1 ± 1 ºC


Inicia-se o cálculo do coeficiente de transferência de calor experimental pelo
fato de que a energia elétrica (V x I) é toda transformada em calor, ou seja, a taxa

de transferência de calor da barra para o ar é igual a 𝑄 = 𝑉𝐴𝐵 𝐼 , além disso, a área

da superfície é definida por 𝑆 = π 𝑑 𝐿, assim:


𝑄 = ℎ𝑒𝑥𝑝 𝑆 (𝑇𝑠 − 𝑇𝑎𝑟)

𝑉𝐴𝐵 𝐼 = ℎ𝑒𝑥𝑝 (π 𝑑 𝐿) (𝑇𝑠 − 𝑇𝑎𝑟)

ℎ𝑒𝑥𝑝 = 𝑉𝐴𝐵 𝐼/[π 𝑑 𝐿(𝑇𝑠 − 𝑇𝑎𝑟)]

Para a barra na horizontal


−3 −3
ℎ𝑒𝑥𝑝 = (32)(0, 314)/[π(26, 5𝑥10 )(193𝑥10 )(73, 5 − 24, 3)]

ℎ𝑒𝑥𝑝 = (10, 048)/(0, 7905)


2
ℎ𝑒𝑥𝑝−ℎ = 12, 7 𝑊/(𝑚 𝐾)

Para a barra na vertical


−3 −3
ℎ𝑒𝑥𝑝 = (32)(0, 314)/[π(26, 5𝑥10 )(193𝑥10 )(74, 2 − 24, 1)]

ℎ𝑒𝑥𝑝 = (10, 048)/(0, 8050)


2
ℎ𝑒𝑥𝑝−𝑣 = 12, 5 𝑊/(𝑚 𝐾)

Resultado das incertezas expandidas pelo EES

Portanto, o resultado final obtido experimentalmente foi:

2
● Barra horizontal: ℎ𝑒𝑥𝑝−ℎ = 12, 7 ± 0, 6 𝑊/(𝑚 𝐾)
2
● Barra vertical: ℎ𝑒𝑥𝑝−𝑣 = 12, 5 ± 0, 6 𝑊/(𝑚 𝐾)

Cálculo do valor teórico

Para obter um valor teórico para o coeficiente pode-se utilizar as relações


apresentadas na introdução e, com isso, verificar se os resultados experimentais
estão de acordo com o embasamento teórico. Para tal, foi considerado um valor de
emissividade para a barra ε = 0, 60 (com base em uma tabela de valores típicos
2
para determinados materiais) e o valor da gravidade considerado foi 𝑔 = 9, 78 𝑚/𝑠
(aceleração local em Belo Horizonte). Assim,

● Para a barra horizontal

𝑇𝑓−ℎ = (73, 5 + 24, 3)/2 = 48, 9 °𝐶 = 322 𝐾


−3 −1
β = 1/𝑇𝑓−ℎ = 1/322 = 3, 1 𝑥10 𝐾

Com essa temperatura, utilizando uma tabela de propriedades do ar,


obtêm-se os seguintes valores para a viscosidade cinemática e o número de Prandtl
−6
𝑣 = 18 𝑥 10 𝑚²/𝑠 e 𝑃𝑟 = 0, 70

Com isso,
3 2
𝐺𝑟 = 𝑔β(𝑇𝑠 − 𝑇𝑎𝑚𝑏)𝑥 /𝑣

−3 3 −6 2
𝐺𝑟 = (9, 78)(3, 1 𝑥10 )(73, 5 − 24, 3)(0, 0265) /(18 𝑥 10 )
𝐺𝑟 = 85680

Portanto, 𝑅𝑎 = 𝐺𝑟 𝑃𝑟 = (85680)0, 7 = 60000 e segundo a Tabela 1, isso


indica um escoamento laminar para a barra na horizontal, logo, o coeficiente de
transferência de calor por convecção é dado por:

1/4
ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣 − ℎ = 1, 32 (∆𝑇/𝑑)
1/4
ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣 − ℎ = 1, 32 (73, 5 − 24, 3/0, 0265)
2
ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣 − ℎ = 8, 66 𝑊/(𝑚 𝐾)

O coeficiente referente a transferência de calor por radiação pode ser


calculado pela equação:
2 2
ℎ𝑟𝑎𝑑 − ℎ = ε σ (𝑇𝑆 + 𝑇𝑣𝑖𝑧)(𝑇𝑆 + 𝑇𝑣𝑖𝑧)
−8 2 2
ℎ𝑟𝑎𝑑 − ℎ = (0, 6)(5, 67 𝑥 10 )(346, 5 + 297, 3 )(346, 5 + 297, 3)
2
ℎ𝑟𝑎𝑑 − ℎ = 4, 56 𝑊/(𝑚 𝐾)

O coeficiente de transferência de calor combinado é, então

ℎ𝑐𝑜𝑚𝑏 − ℎ = ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣 + ℎ𝑟𝑎𝑑


2
ℎ𝑐𝑜𝑚𝑏 − ℎ = 8, 66 + 4, 56 = 13, 2 𝑊/(𝑚 𝐾)

● Para a barra vertical

𝑇𝑓−ℎ = (74, 2 + 24, 1)/2 = 49, 1 °𝐶 = 322 𝐾


−3 −1
β = 1/𝑇𝑓−ℎ = 1/322 = 3, 1 𝑥10 𝐾

Assim,
−6
𝑣 = 18 𝑥 10 𝑚²/𝑠 e 𝑃𝑟 = 0, 70

Com isso,
3 2
𝐺𝑟 = 𝑔β(𝑇𝑠 − 𝑇𝑎𝑚𝑏)𝑥 /𝑣

−3 3 −6 2
𝐺𝑟 = (9, 78)(3, 1 𝑥10 )(74, 2 − 24, 1)(0, 193) /(18 𝑥 10 )
6
𝐺𝑟 = 33, 7 𝑥 10

6 6
Portanto, 𝑅𝑎 = (33, 7 𝑥 10 )0, 7 = 23, 6 𝑥 10 e segundo a Tabela 1, isso
indica um escoamento laminar para a barra na vertical, logo, o coeficiente de
transferência de calor por convecção é dado por:
1/4
ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣 − 𝑣 = 1, 42 (∆𝑇/𝐿)
1/4
ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣 − 𝑣 = 1, 42 (74, 2 − 24, 1/0, 193)
2
ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣 − 𝑣 = 5, 70 𝑊/(𝑚 𝐾)

O coeficiente referente a transferência de calor por radiação pode ser calculado pela
equação:
2 2
ℎ𝑟𝑎𝑑 − 𝑣 = ε σ (𝑇𝑆 + 𝑇𝑣𝑖𝑧)(𝑇𝑆 + 𝑇𝑣𝑖𝑧)
−8 2 2
ℎ𝑟𝑎𝑑 − 𝑣 = (0, 6)(5, 67 𝑥 10 )(347, 2 + 297, 1 )(347, 2 + 297, 1)
2
ℎ𝑟𝑎𝑑 − 𝑣 = 4, 58 𝑊/(𝑚 𝐾)

O coeficiente de transferência de calor combinado é, então

ℎ𝑐𝑜𝑚𝑏 − 𝑣 = ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣 + ℎ𝑟𝑎𝑑


2
ℎ𝑐𝑜𝑚𝑏 − 𝑣 = 5, 70 + 4, 58 = 10, 3 𝑊/(𝑚 𝐾)

Os resultados obtidos são coerentes, os valores experimentais estão dentro


da faixa esperada para a convecção, o valor calculado para o coeficiente combinado
na posição horizontal está dentro da faixa de incerteza do valor experimental.
Apesar do valor calculado para a posição vertical não estar dentro da faixa do valor
experimental, eles estão muito próximos e possuem a mesma ordem de grandeza e
isso indica que o embasamento teórico possui uma boa aplicabilidade em situações
reais.
O experimento demonstrou que a taxa de transferência de calor combinada
de uma barra na vertical é menor do que na horizontal, já que, na vertical é mais
difícil para as correntes de convecção fluírem, logo, há uma transferência menor de
calor - o que resulta em uma temperatura mais elevada na barra. Por fim, as
incertezas calculadas são relativamente baixas, ambas próximas de 5%, o que
indica que o experimento possui confiabilidade e pode ser utilizado como
demonstração da teoria.
Conclusão
A partir dos procedimentos descritos neste relatório e dos cálculos acima
realizados, foi possível chegar aos seguintes resultados para o coeficiente de
2
transferência de calor combinado, todas os valores da tabela estão em 𝑊/(𝑚 𝐾).

Tabela 3 - Comparativo dos valores experimentais e teóricos

Barra horizontal Barra vertical

Valor experimental ℎ = 12, 7 ± 0, 6 ℎ = 12, 5 ± 0, 6

Valor calculado ℎ = 13, 2 ℎ = 10, 3

Como já mencionado anteriormente, os resultados obtidos foram muito bons,


porém algumas intervenções poderiam ser realizadas para que esses resultados
fossem mais precisos. Em primeiro lugar, o experimento poderia ser realizado num
espaço onde não houvesse fluxo de ar externo interferindo, apesar de não ter tido
fortes correntes de ar na sala, as janelas e portas estavam abertas e isso, com
certeza, afetou o resultado de alguma maneira. Portanto, manter portas e janelas
fechadas é uma boa intervenção, além disso, as medições de temperatura de
superfície, temperatura ambiente, diâmetro e largura da barra deveriam ser
realizadas em um período de tempo próximo e também deveriam ser realizadas
somente quando o sistema atingisse o regime permanente, isso para evitar efeitos
de variação de temperatura externa e de dilatação térmica devido ao calor. Por
último, os equipamentos utilizados deveriam possuir uma incerteza associada
fornecida pelo fabricante, como eles não possuíam, foram atribuídas incertezas
genéricas que garantiram uma certa confiabilidade, porém, reduziram a precisão.

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