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Artigo científico
ÉTICA NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS: COMPREENDENDO AS RELAÇÕES
HUMANAS
A sociedade tem cobrado dos indivíduos e das organizações uma postura ética cada
vez mais atrelada aos seus anseios, sendo assim, é natural que as organizações
que buscam apresentar tal comportamento, acabem sendo privilegiadas na
preferência de seus consumidores. Por outro lado, os indivíduos desenvolvem
comportamentos com base em suas relações humanas, desde o momento que
nascem e durante toda sua vida. Sendo assim, a compreensão sobre aspectos
éticos, e também as relações interpessoais, faz-se necessária a todos que
pretendem estudar sobre as organizações. Neste artigo, serão abordados diversos
conceitos e teorias que estão relacionados ao estudo e à compreensão da ética das
relações interpessoais no dia a dia da sociedade contemporânea.
INTRODUÇÃO
*
Graduado em Administração e Ciências Contábeis pela Universidade Estadual de Maringá (UEM),
graduado em Comércio Exterior pelo Centro Universitário de Maringá (UNICESUMAR), pós-graduado
em Gestão Pública pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e mestre em Contabilidade
pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). E-mail: johny.hmc@gmail.com
2
afetando especificamente a forma como as organizações funcionam e tratam seus
colaboradores.
3
sistematizado. Como Heidegger afirma, “As disciplinas surgem ao tempo
que permite a transformação do pensar em ‘Filosofia’, a Filosofia em
epistéme (Ciência) e a Ciência mesma em um assunto de escola e de
atividade escolar”.
4
previamente estabelecida, portanto, a definição se algo é moral ou não possui forte
relação com a historicidade do fato em si. A definição do que é um fato moral, deve
ocorrer para que toda a sociedade possa compreender a moral nas mais diferentes
situações. Durkheim (2015, p. 32) “define a moral em função não da utilidade
individual, mas do interesse social. Mas se essa expressão da moralidade é
certamente mais compreensiva que a precedente, não se conseguiria, no entanto,
vê-la como uma boa definição”.
A psicologia tem realizado inúmeros estudos visando compreender como a
razão pode estar associada à moral. Segundo La Taille (2009, p. 69), “acostumou-
nos a reconhecer o quanto a razão pode ser fraca, o quanto ela pode enganar-se.
Sim, mas desse alerta quanto às limitações da razão não decorrem em absoluto
afirmar que ela em nada contribui para guiar nossas ações”, sendo assim, pelo viés
da psicologia pode-se afirmar que a razão acaba sendo um guia para o
desenvolvimento moral1 da sociedade.
Os autores também relacionam o conhecimento como importante componente
da moral, para eles, a moral pode ser compreendida como um objeto do
conhecimento. Segundo La Taille (2009, p. 69):
A moral é, antes de mais nada, um objeto de conhecimento. Ela “diz” coisas
que a pessoa deve conhecer. Mas o que ela diz? Ela fala em regras, e
assim diz o que deve ser feito e o que não deve ser feito. Ela fala em
princípios, ou máximas, e, portanto, diz em nome do que as regras devem
ser seguidas. E ela fala em valores, e assim revela de que investimentos
afetivos são derivados os princípios. Por exemplo, a moral pode afirmar que
a vida é um valor, derivar o princípio segundo o qual a vida deve ser
respeitada, e ditar regras como “não matar”, “não ferir”, “promover o bem-
-estar”.
[...] para que uma formação ética e uma educação moral possam dar seus
frutos, faz-se necessário analisar o contexto cultural no qual elas serão
implementadas. Imagino que o ensino de Matemática ou de Biologia possa
ser proposto levando em conta, sobretudo, as dimensões psicológicas que
presidem a construção desses conhecimentos. No entanto, isso é
impossível quando se trata de ética (“vida boa”) e de moral (deveres) [...]
debruço-me sobre as características da sociedade atual; apresento alguns
“apontamentos” do que se poderia fazer na educação dos jovens. Assim, a
parte dedicada ao plano ético é composta de análise da
contemporaneidade, que intitulei “cultura do tédio”, e de outro, de cunho
educacional, “cultura do sentido”. Na mesma lógica, a parte dedicada ao
plano moral são “cultura da vaidade” e “cultura do respeito de si”.
1A dimensão intelectual não somente está pressuposta pela própria definição de moral, como é
reconhecida como condição necessária às ações reconhecidas como morais. Não podemos, portanto,
descartar essa dimensão, sob pena de fugirmos totalmente a nosso tema, ou de reduzi-lo a
dimensões biológicas, instintivas ou intuitivas (LA TAILLE, 2009. p. 73).
5
importante porque demonstra que o ambiente escolar deve fazer parte da
compreensão sobre o que é ética e como ela deve ser compreendida na sociedade.
É importante destacar que os termos ética e moral podem ser aplicados “a
pessoas quer a sistemas ou teorias morais, o que agrava, ainda mais, o estado de
confusão, pois, quando desejamos classificar a natureza da ação humana e de
sistemas mais alargados em que os sujeitos se inserem” (PEDRO, 2014, p. 485). O
indivíduo comum acaba fazendo uso indiscriminado sobre cada um desses termos.
Portanto, é na prática diária que as maiores dúvidas sobre o que ética e moral
surgem. Segundo Gallo et al. (2010, p. 8):
O fato é que à medida que uma sociedade, quer seja ela uma organização
empresarial, uma entidade representativa de classe, ou a comunidade em
geral, formaliza suas normas e práticas, baseadas em seus valores e
padrões morais, isso representa uma síntese do consenso do grupo, ou
seja, o que os seus integrantes acreditam e valorizam como certo ou errado,
aceito ou não aceito. Assim, espera-se que o indivíduo siga essa referência
ao custo de serem penalizados por condenação legal e/ou moral, muito
embora o atendimento a essas normas seja uma decisão pessoal, em
função do seu livre arbítrio.
6
À medida que as pessoas crescem e se desenvolvem elas passam por um
processo no qual desenvolvem seus valores, por isso quando um indivíduo
apresenta valores semelhante ao de outro indivíduo é comum que eles tenham
passado por uma ou mais situações de vida semelhante. Segundo Abreu (2020, p.
50), “à medida que crescemos, vamos criando abstrações – que são também
chamadas de ’crenças’ – a respeito das mais variadas ocorrências do cotidiano.
Desenvolvemos interpretações a respeito da vida e do comportamento dos outros”,
sendo assim, os indivíduos desenvolvem o que é costumeiramente denominado de
conglomerados mentais3.
A compreensão do que é valor permite algumas compreensões de algumas
características, são elas: ideais, irrealidade, apreciáveis, inexauríveis, atemporais,
obrigatoriedade, qualidade, apetecibilidade, bipolaridade, objetividade, hierarquia,
heterogeneidade e sistema lógico. Esses valores são importantes para que o
indivíduo desenvolva o seu ponto de vista ético e atue da forma como a sociedade
espera.
A relação entre valor, ética e moral facilita o entendimento desses conceitos.
Segundo Pedro (2014, p. 488):
O valor denominado de ideais possui uma profunda ligação com o mundo das
ideias e dos pensamentos, portanto está relacionado à forma como o sujeito pensa
as diferentes situações do seu dia a dia. Os ideais, segundo Pedro (2014, p. 494),
estão relacionados ao “sentido em que os valores pertencem ao mundo do
pensamento que os pensa, à imagem dos objetos do pensamento lógico e
matemático; não no sentido em que são absolutos ou transcendentais”.
Esse valor ajuda o indivíduo a pensar e refletir sobre o que é certo ou errado,
ou ainda, sobre como agir em uma situação em específico. Esta reflexão é
necessária, pois a partir dela ele poderá tomar as melhores decisões possíveis
baseadas nos valores que ele traz consigo. Segundo Valls (1994, p. 25), “os homens
no início da pesquisa; tentaremos responder à questão no decorrer deste livro. Mas, desde já, essa
incomparabilidade dos valores morais basta para estabelecer que os juízos morais ocupam um lugar
à parte no conjunto dos juízos humanos, e é tudo o que nos importa” (DURKHEIM, 2017, p. 107).
3“Este processo cria, ao longo do tempo, uma constelação de valores pessoais, altamente
idiossincráticos e que são tidos como uma verdade absoluta por cada um. Desta forma, basta que
uma situação se apresente para que, prontamente, possamos tirar do bolso uma explicação enlatada,
’pronta’ e que serve de parâmetro para descrever o mundo. Veja só que curioso: nos casos mais
extremos, esse mecanismo, quando aparece, é batizado pela mídia leiga de ’preconceito social’.
Alguns exemplos? Vamos lá: branco, negro, gordo, de esquerda, de direita, homo, hétero, do Norte,
do Sul e por aí vai. Este aglomerado de opiniões é tão poderoso que, com o passar do tempo, torna-
se impermeável, ao criar uma verdadeira blindagem ao desenvolvimento (e reconhecimento) de
novos pontos de vista” (ABREU, 2020, p. 50).
7
deveriam procurar, então, durante esta vida, a contemplação das ideias, e
principalmente da ideia mais importante, a ideia do Bem”.
A irrealidade é outro valor que pressupõem reflexão no campo da ética, que,
por sua vez, está relacionado ao fato de que nem tudo é palpável, ou seja, os
valores podem não ser materiais, não possuindo, assim, uma existência objetiva
(CARVALHO, 2004). O valor da irrealidade demonstra que nem sempre o sujeito
conseguirá ver e pegar algo, pois muitas vezes ele tomará as suas decisões
considerando algo relacionado às suas emoções, o que poderá afetar as suas
decisões éticas, de acordo com a forma como ele encara esta irrealidade e
desenvolve seus pensamentos.
A falta de alguns aspectos em relação aos valores também pode influenciar o
indivíduo em relação à sua postura ética, pois nem sempre os valores são
apreciáveis, ou seja, eles nem sempre podem ser estimáveis ou admiráveis, o que
pode provocar dúvidas e gerar frustrações entre os indivíduos. Portanto, a
característica apreciável aos valores poderá influenciar muito a forma como a
tomada de decisão ética ocorre por parte das pessoas, seja de forma individual,
quando elas estiverem em sociedade.
O fato dos valores não serem estimáveis impõe ainda a realidade de que eles
não podem ser elencados, entre mais ou menos importantes, o que faz com que os
indivíduos tomem as suas decisões morais e éticas sem poder considerar se o valor
em si é de fato importante para a situação em si (CARVALHO, 2004).
Uma característica que torna os valores necessários de serem compreendidos
e estudos no campo da ética é o fato de que eles são inexauríveis, ou seja, os
valores não se esgotam conforme eles são apresentados. Um exemplo da
característica inexauríveis dos valores é a bondade, um valor que em muitas
situações pode aparecer, entretanto, quanto mais a bondade é utilizada e aparece,
isso não significa que ela acabará, pois algo bom poderá ser sempre bom. Valores
sendo inexauríveis permitem que os indivíduos façam amplo uso dos mesmos,
assim manifestações éticas e comportamentos ético não precisam ficar reféns do
pouco uso de um valor em si.
Os valores, dentre o rol de características que possuem, ainda são
considerados como atemporais, ou seja, os valores não possuem relação com a
questão do tempo, assim como os indivíduos, por exemplo. Em suma, o uso de um
valor não estará especificamente atrelado a uma época ou ainda a um ano
específico, por isso, ao fazer uso de um valor, o indivíduo não precisa considerar a
relação temporal que esse valor possui ou apresenta.
O valor não deverá estar além do devir temporal, por isso essa característica
de atemporal é de grande importância no estudo e na compreensão dos valores
quando estes estão sendo compreendidos para o estudo da ética e da moral na
sociedade e nas relações humanas.
A característica da obrigatoriedade apresenta que os valores são categóricos,
pois, segundo Pedro (2014, p. 495), eles “não são neutros, é completamente
impossível sermos-lhes indiferentes. Daí, que sintamos obrigação moral (dever ser)
de sobre eles nos pronunciarmos e tomarmos uma posição”. Com essa
característica é possível compreender que, ao se adotar um valor no momento de
uma tomada de decisão, ou ainda, no momento em que se for tomar uma atitude, o
indivíduo deverá considerar que o valor deverá ser considerado em sua
integralidade e de forma clara e transparente, não podendo se escolher apenas
alguns aspectos deste valor, ou ainda, apenas uma parte do mesmo, por isso, a
8
obrigatoriedade ganha importância como um valor que de fato influencia o processo
de apresentação de uma postura ética na sociedade de forma em geral.
A qualidade é outra característica do valor, pois, de maneira em geral, os
valores são dotados de qualidades que não são reconhecidas pelos indivíduos. A
própria definição do que é qualidade é algo complicado e complexo, a qualidade tem
sido um assunto que tem ganhando cada vez maior destaque nas discussões
acadêmicas e profissionais nos últimos anos. Definir o que é qualidade, portanto, é
importante para compreender como um valor pode ter qualidade atribuída por parte
do usuário.
A compreensão sobre o que é qualidade é condição indispensável para todos
os indivíduos e profissionais. Sendo assim, é interessante ressaltar que o conceito
de qualidade tem se modificado ao longo dos anos, em especial nos últimos
cinquenta anos este conceito agregou uma série de subconceitos que foram
derivados da evolução da sociedade (CARPINETTI; GEROLAMO, 2019).
Segundo Paladini (2019, p. 4), “definir qualidade de forma errônea leva a
Gestão da Qualidade a adotar ações cujas consequências podem ser extremamente
sérias para a empresa (em alguns casos, fatais em termos de competitividade)”.
A evolução do conceito de qualidade, principalmente sob o ponto de vista das
organizações, sempre acompanhou a questão custos. Segundo Carpinetti e
Gerolamo (2019, p. 10):
[...] análise da qualidade do produto tem pouco sentido prático se não for
acompanhada de correspondente análise da relação entre custo e
benefício. O usuário incorre em custos com o produto desde o instante da
aquisição até o descarte. A soma de todos os custos de responsabilidade
do usuário, durante a vida útil do produto, é chamada de custo do ciclo de
vida do produto, que pode ser desdobrado em: custos de aquisição; custos
de operação; custos de manutenção e reparo; e custos de descarte. O uso
do critério do custo do ciclo de vida do produto coloca em evidência o
desempenho ao longo da sua vida útil, uma vez que esse custo é
fortemente influenciado por atributos como confiabilidade, facilidade de
manutenção, durabilidade e eficiência do produto.
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divergem entre si, seja em seu conceito ou por meio da sua aplicabilidade.
Considerando uma tomada de decisão que envolva duas pessoas, ao se analisar os
valores que fizeram essas pessoas tomarem decisões distintas, é possível atribuir
características divergentes a essas decisões. Considerando o exposto, é possível
afirmar que, em caso de uma das pessoas tomar uma decisão considerada boa e
automaticamente a outra pessoa tomar uma decisão contrária a ela, a segunda terá
sua decisão considerada ruim.
A bipolaridade não fica, portanto, restrita ao bom e mau, ela também pode
aparecer no negativo e positivo, no amor e no ódio, na guerra e na paz, ou ainda em
situações como calma e agitação. A bipolaridade acaba aparecendo em várias
situações do processo de tomada de decisões, sendo assim não pode ser
desprezada no momento de se tomar qualquer tipo de decisão que envolva direta ou
indiretamente a ética e a moral. Essa característica bipolar dos valores é visível
desde as contribuições do filosofo grego Aristóteles, pois, segundo os estudos
atribuídos a ele, o bem e o mal são presentes no campo dos estudos sobre a ética,
com a respectiva natureza estará o seu bem, ou o que é bom para ele. Segundo
Valls (1994, p. 35), “cada substância tem o seu ser e busca o seu bem: há um bem
para o deus, um para o homem, um para a planta, etc. Quanto mais complexo for o
ser, mais complexo será também o respectivo bem”.
A complexidade do entendimento de como os valores são desenvolvidos na
sociedade compreende diversos conceitos, sejam eles ligados à bipolaridade ou
não. Um desses conceitos refere-se à complexidade que alguns indivíduos possuem
em se definir como pertencentes a um grupo, sendo assim, é natural que as pessoas
possam se autodenominar participantes de grupos sociais4.
A característica da objetividade também possui influência sobre as decisões
éticas dos indivíduos, o que faz com que ela seja considerada no momento de se
compreender a ética e como ela é aplicada na sociedade. Segundo Pedro (2014, p.
495), na objetividade “os valores são objetivos como as figuras matemáticas, na
medida em que mesmo que tenhamos uma ideia pouco clara da sua representação,
conseguimos intuí-la como sendo algo objetivo”.
O valor objetividade possui uma grande relação com algumas profissões,
dentre elas temos a profissão de jornalistas, pois buscar a objetividade nesse tipo de
trabalho torna o mesmo dotado de ética e também de um maior simbolismo.
Segundo Costa (2017, p. 152), “objetividade seria a ’pedra angular’ da ideologia
profissional dos jornalistas nas democracias liberais. Nesse estudo, ela pretende
enfrentar os críticos à objetividade, em especial aqueles que argumentam que a
mídia deturpa pontos de vista ou não reporta suas atividades com imparcialidade5”.
colocar adiante, exprime algo que está no campo da experiência sensível. O substantivo feminino
“objetividade”, sempre conforme o dicionário, fixa a qualidade, caráter ou condição do que é objetivo;
ou a qualidade do que dá, ou pretende dar, uma representação fiel de um objeto (a objetividade da
ciência); caráter daquele que age rápido, que não perde tempo em lucubrações; é a característica do
que não é evasivo, é direto ou, em filosofia, a realidade exterior ou dessemelhante ao sujeito (o
intelecto cognitivo humano) passível de por ele ser conhecida ou transformada (COSTA, 2017, p.
152).
10
Os valores que influenciam as decisões éticas possuem ainda a
características de serem heterogêneos, ou seja, mesmo que a possibilidade de
ordená-los de acordo com suas características específicas eles não se misturam e
mantêm sua essência. A última característica dos valores é que eles devem seguir o
sistema lógico, portanto deverão apresentar consistência ao serem utilizados no
momento de uma tomada de decisão. Segundo Pedro (2014, p. 495), “coerente no
tipo de relações que estabelece entre os diferentes valores”, os valores ao serem
elencados no momento de uma tomada de decisão, deverão considerar, também,
que, no caso de surgir a necessidade de serem justificados, os mesmos deverão
seguir um sistema de justificativa lógica e concisa.
Necessário notar que todas essas características apresentadas em relação
aos valores devem ser consideradas de forma independente, mas também devem
ser consideradas de forma conjunta, em que um valor poderia influir sobre o outro no
momento em que o sujeito passar por uma situação de tomada de decisão. A
compreensão sobre os valores é de fundamental importância para o estudo da ética
nas relações humanas, pois são os valores que influem diretamente na forma como
as pessoas adotam determinados comportamentos e que, portanto, agem em
relação aos seus interesses e suas vontades.
Resgatando a filosofia grega e sua contribuição para o estudo da ética, é
possível observar que os valores já faziam parte desse campo de estudo, pois eles
apareciam de forma um pouco mais limitada, como importantes pontos que
influenciam os indivíduos em suas tomadas de decisões. O filósofo Platão, somente
para citar um exemplo, citava algumas virtudes como importantes para que os
indivíduos pudessem ser considerados detentores de um perfil ético, essas virtudes
podem ser apresentadas de diversas formas atualmente, entretanto Valls (1994, p.
27) os apresenta como:
11
profissionais”. Compreender a ética a partir dos valores permite aos estudiosos um
ótimo campo de estudo, garantindo assim, uma visão da complexidade da mesma
em toda a sua essência e também a sua aplicabilidade nos diferentes pontos das
relações familiares, relações sociais e relações no ambiente de trabalho.
Compreender a relação da ética com profissão deve ser uma tarefa de todos
os gestores que almejam atingir altos postos de trabalhos nas organizações na
atualidade. A visão de mundo desses gestores deve levar em consideração os
sujeitos e a relação estabelecida entre política, economia, cultura na sociedade.
Segundo Gonçalves (2007, p. 5):
6Segundo G. Friedmann, o trabalho assume as seguintes facetas: aspecto técnico, que implica
questões referentes ao lugar de trabalho e adaptação fisiológica e sociológica; aspecto fisiológico,
cuja questão fundamental se refere ao grau de adaptação homem-lugar de trabalho-meio físico e ao
problema da fadiga; aspecto moral, como atividade social humana, considerando especialmente as
aptidões, as motivações, o grau de consciência, as satisfações e a relação íntima entre atividade de
trabalho e personalidade; aspecto social, que considera as questões específicas do ambiente de
trabalho e os fatores externos (família, sindicato, partido político, classe social etc.). “Há de se
considerar sob tal perspectiva a interdependência entre trabalho e papel social e as motivações
subjacentes; aspecto econômico, como fator de produção de riqueza, geralmente contraposto ao
capital, e unido em sua função a outros fatores: organização, propriedade, terra” (KANAANE, 2017, p.
99).
12
necessidade de se apresentar um comportamento ético na profissão também é
necessária (SOUZA, 2019).
A denominada crise de valores7, em que se observam, entre as pessoas,
posturas mais individualizadas, cuja sociedade não apresenta situações de
compartilhamento, onde a competição impera, tem feito com que seja experimentada
na sociedade uma situação em que as pessoas se questionam a todo o momento se
devem ou não adotar uma postura ética em sua tomada de decisão.
A crise de valores é algo visível e presente em toda a sociedade, pois:
[...] essa crise de valores vem sendo combatida ao se adotar uma postura
mais ética em diversas situações. Para isso, muitos segmentos da
sociedade unem-se em movimentos significativos com objetivo de acabar
com as injustiças sociais. Essa mesma tendência à mobilização se verifica
no mundo do trabalho. E não são com iniciativas somente dos
trabalhadores. Muitas empresas, preocupadas com a ética no trabalho, têm
adotado uma nova política em relação a funcionários, empregados, chefes e
líderes, bem como com o meio ambiente, buscando o bem-estar de todos.
Tudo isso comprova que a postura ética tem sido, cada vez mais, um
requisito para a valorização do profissional no mundo do trabalho. Daí a
necessidade de reconhecer que devemos aprimorar nossa educação e a
das novas gerações, tanto para melhorar a sociedade na qual atuamos
como para sermos mais valorizados no mercado de trabalho, ao
apresentarmos algo que hoje é visto como grande diferencial: nossa
integridade moral. (BARBOSA, 2011, p. 9)
7“A compreensão da conduta humana possibilita conceber atitude como resultante de valores,
crenças, sentimentos, pensamentos, cognições e tendências à reação, referentes a determinado
objeto, pessoa ou situação. Desta maneira, o indivíduo, ao assumir uma atitude, vê-se diante de um
conjunto de valores que tendem a influenciá-lo” (KANAANE, 2017, p. 73).
13
conhecimento, não violência e também solução democrática. As diferenças entre as
idades, dos novos e dos velhos profissionais, também implicam na forma como estes
consideram a ética em seu desenvolvimento profissional. Ressalta-se aqui a
importância de considerar, também, as características relacionadas às identidades
geracionais:
(...) é o ato humano, e seu objeto formal é a moralidade desse ato. Portanto,
a Ética lida com questões do bem, do direito, da justiça, da honestidade, da
transparência, da sinceridade e do bem comum. Segundo o dicionário
Aurélio, Ética é “o estudo dos juízos de apreciação que se referem à
conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do
mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto”.
Aristóteles afirmou que a finalidade da ética é promover o bem-estar. Disse
ainda que o estudo do bem tem natureza política e que mais importante que
o bem-estar do indivíduo é o bem-estar da coletividade. Ética diz respeito ao
comportamento humano voluntário livre. O comportamento ético não se
impõe: é uma adesão livre ao que se apresenta como bom, e não uma
submissão exterior a um conjunto de regras e proibições. Obviamente, na
maior parte dos casos, essa submissão é necessária, já que o
comportamento ético é também um comportamento legal, mas não se reduz
a ele. Em determinados casos, tratando-se de leis injustas, o
comportamento ético exige o descumprimento dessas leis.
15
importância na definição do que se pode e não se pode quando na prestação de
serviço ligados a esta profissional.
O código de ética do advogado é um dos instrumentos profissionais mais
completos em relação aos preceitos éticos, segundo este código:
16
As organizações devem se preocupar em construir uma identidade própria e,
a esta identidade, elas devem buscar alinhar suas expectativas de negócios e os
anseios de todos seus stakeholders. A identidade da organização é composta pela
forma como ela atua na sociedade de forma geral, mas também de sua missão,
visão e valores internos que acabam por considerar todas as especificidades que
envolvem o se negócio.
A cultura organizacional faz parte da construção da identidade da organização
que, por sua vez, acaba por influenciar muito o desenvolvimento da ética na
sociedade, sendo assim, o estudo da ética passa pela compreensão de todo o
aspecto cultural que cerca o indivíduo. A alta competitividade, que começa desde
quando criança e avança com o passar do tempo, acaba impregnando a cultura
escolar, social e também a cultura empresarial.
As organizações têm enfrentado um ambiente de grande competitividade,
sendo assim, há a necessidade de se estabelecer vencedores e perdedores no
campo da concorrência empresarial, portanto, isso acaba influenciando que algumas
organizações acabem tomando decisões ou adotando padrões de comportamento
longe da ética que lhes é esperada. Um ambiente de grande competitividade é
aquele em que, segundo La Taille (2009, p. 172), “o ‘vencedor’ não é apenas quem
se dá bem na vida, mas quem se dá melhor que os outros. E quem são os
‘perdedores’? Ora, são justamente esses outros e, evidentemente, aqueles que
estão excluídos do mundo do trabalho”. Está realizada, por sua vez, acaba por
hierarquizar as pessoas dando maior ou menor importância as suas conquistas,
causando assim, um aumento da competitividade entre as organizações.
Em ambientes onde a figura dos “vencedores” e “perdedores” são frequentes,
temos que a individualidade impera sobre a coletividade, portanto, as decisões
acabam sendo tomadas de forma a garantir que “vencedores” continuem
prevalecendo, o que pode provocar injustiças e conflitos. Esse ambiente de grande
competitividade possibilita uma intersecção entre o que é ética individual e o que é
ética empresarial. Segundo Souza (2019, p. 12):
17
As dimensões da ética empresarial se apresentam por meio de diferentes
aspectos do dia a dia das organizações, sendo assim, ela pode ser observada
também no processo de desenvolvimento, implantação e validação das políticas
institucionais. Considerar que a ética perpassa a forma como as organizações agem
e atuam é uma das formas que a sociedade encontra para cobrar das empresas e
de seus gestores a adoção de princípios éticos (SANTOS, 2019).
A ética corporativa pode ser observada por meio de duas dimensões distintas.
A primeira dimensão é a referente à abordagem, que se apresenta por meio da
sustentabilidade e do respeito à multicultura. Respeitar o meio ambiente é algo
esperado de todas as organizações, principalmente das que atuam explorando a
fauna e a flora nacional, portanto é esperado que as organizações desenvolvam
programas que visem repor tudo que elas extraem da natureza.
O comportamento ético da organização ganha cada vez mais importância na
análise das organizações, principalmente quando se trata de organizações que por
suas particularidades estão mais expostas na mídia. Brandão et al. (2017, p. 21)
afirma que “não há dúvidas quanto à importância de um comportamento empresarial
ético, alinhado aos imperativos legais e regulatórios, ao respeito às boas práticas da
concorrência, à atenção com o respeito ao meio ambiente e aos costumes da
sociedade em que a empresa atua”.
O respeito à multicultura também é muito forte. Dada a miscigenação
presente na constituição do Brasil, é natural que as organizações tenham em seus
quadros de colaboradores pessoas de raças, religião e culturas diferentes, portanto,
elas devem respeitar e proporcionar o respeito cultural de todas as culturas em sua
estrutura, bem como, devem também se adaptar para atender clientes de culturas
diferentes. O respeito, segundo Brandão et al. (2017, p. 60), “é a conduta de
acolhida e consideração favorável à presença e à existência do outro; sua prática
inclui o cuidado para que nossas escolhas, decisões ou atos não o prejudiquem”.
A segunda dimensão é a dimensão operacional e do desenvolvimento da
organização. Ela está relacionada a três itens específicos: aprendizado contínuo,
inovação e governança corporativa (SANTOS, 2019). A sociedade muda, as
tecnologias evoluem e as pessoas alteram seus gostos e costumes, portanto as
organizações devem acompanhar esse ambiente em constante mudança para que
possam se adaptar as necessidades de colaboradores e clientes. Sendo assim, as
organizações precisam estar em constante desenvolvimento para que possam
atender as mudanças impostas pelo seu ambiente.
A inovação possui intrínseca relação com a qualidade8 ofertada, fazendo
parte, também, da dimensão operacional e do desenvolvimento da organização. Ela
é importante para que as empresas que desejam melhorar seu desempenho possam
se adequar aos anseios de seus clientes e do mercado (SANTOS, 2019). A inovação
ganha grande importância no desenvolvimento organizacional, pois a partir dela é
que se torna possível à empresa oferecer novos produtos e serviços. Segundo
Kanaane (2017, p. 110):
8Pode ser que você acredite firmemente em oferecer a maior qualidade possível para seus produtos
com uma boa dose de inovação, mas em virtude de crises econômicas e diminuição nas receitas,
você se veja obrigado a trabalhar com preços mais baixos – mesmo sabendo que se cobrasse mais,
poderia oferecer produtos melhores (BRANDÃO et al., 2017, p.81).
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Desse modo, percebe-se que, apesar de os colaboradores não saberem de
forma clara a missão da organização, conhecem os objetivos da
organização e entendem que esta deseja ser uma empresa inovadora no
seu segmento, ganhando destaque dentre as concorrentes. Por ser uma
empresa consolidada e com grande número de franquias, vários negócios
são realizados, o que gera uma movimentação no mercado de viagens e
afeta inúmeros stakeholders da empresa. Partindo para uma compreensão
da dinâmica interna da organização, buscando compreender a
produtividade da equipe, os colaboradores afirmam trabalhar com alta
produtividade, pois respondem a uma grande quantidade de solicitações por
dia, e, portanto, precisam ser ágeis nas respostas. Contudo, quando
dependem de respostas de terceiros (fornecedores) para executar suas
tarefas, a produtividade diminui, visto que os fornecedores também estão
com excesso de trabalho, gerando um círculo vicioso.
9A cada dia novas empresas lançam seus respectivos Códigos de Ética e criam comitês ou conselhos
responsáveis por salvaguardar a adoção e a prática de atitudes éticas. Não existe receita para
elaborar um código de ética, visto que cada empresa tem sua maneira de atuar no mercado, o que
abrange os próprios valores, sua cultura e seus conceitos. Por isso, não se pode simplesmente copiar
o código de ética de outra organização. Também “é recomendável que o código seja revisto e
atualizado periodicamente, com base no histórico de ocorrências verificadas na própria empresa, de
modo a torná-lo cada vez mais abrangente e condizente com a própria cultura organizacional. Não se
19
Para Brandão et al. (2017, p. 20):
trata de um manual de procedimentos operacionais, nem deve estar voltado apenas para compliance,
ou seja, procedimentos de controle top-down na estrutura hierárquica” (SOUZA, 2019, p. 15).
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[...] a sociedade civil, no âmbito da cidadania, deverá ter uma atitude de
engajamento na busca da solução dos problemas nacionais, organizando-
se de forma a efetuar o controle social sobre as atividades exercidas pela
administração pública. Essa nova atitude de comprometimento e ação por
parte da sociedade civil, demandando produtividade e economicidade do
serviço público, pressupõe a existência de transparência e prestação de
contas por parte dos agentes públicos (BRANDÃO et al., 2017, p. 153).
10“Em relação aos cargos a maioria não leva em conta as características pessoais de seus ocupantes
ou os ambientes complexos e dinâmicos nos quais os trabalhos devem ser executados. Assim,
quando uma pessoa começa a fazer um trabalho, geralmente se evidencia que tarefas omitidas da
descrição do cargo precisam ser executadas para que o papel seja desempenhado com sucesso”
(WAGNER; HOLLENBECK, 2020, p. 199).
21
Segundo Wagner e Hollenbeck (2020, p. 199):
22
O poder social é dotado de uma série de características que o tornam complexo de
ser entendido.
A característica denominada de referência do poder social está associada
diretamente ao fato das pessoas seguirem e copiarem outras que elas admiram,
sendo assim é natural que pessoas que exercem grande admiração acabem por
influenciar as outras em vários aspectos da sua vida. No ambiente das
organizações, a referência também pode ser percebida, o denominado colaborador
padrão, que é tido pela estrutura organizacional, como o profissional modelo para os
demais. Esses trabalhadores, “que, aos olhos de seus colegas, desempenham muito
bem em sistemas de remuneração por produção, muitas vezes ganham títulos
pejorativos, como funcionário padrão” (WAGNER; HOLLENBECK, 2020, p. 227).
A imitação, a partir da referência, poderá ocorrer por meio da imitação de
gestos, estilos de vida e do consumo. Desse modo, os profissionais de marketing
exploram muito a característica da referência no poder social, ao se utilizarem de
artistas e esportistas para anunciar produtos e buscar aumento do consumo de
produtos específicos.
O poder de referência cria uma sensação, mesmo que fantasiosa, de que, ao
se assemelhar a um grupo, o indivíduo estará automaticamente possuindo as
características daquele grupo, o que tornaria possível estabelecer um marcador de
classe em relação a aquele grupo. Essa lógica do poder de referência pode ser
compreendida pela psicologia através da contribuição de Mancebo et al. (2002, p.
329):
11“Na Era da Informação, o emprego está se tornando cada vez mais flexível, mutável, parcial e
virtual. Daí a necessidade de ocupabilidade, ou seja, a capacidade de manter uma atualização
profissional intensiva e constante que assegure flexibilidade, oportunidades de carreira, projetos e
tarefas dentro ou fora da organização” (CHIAVENATO, 2014, p. 22).
23
Os indivíduos têm acesso à informação a todo o momento, com o atual
avanço da tecnologia é possível receber informações sobre diferentes assuntos de
diferentes formas. Segundo Lisboa (2000, p. 7), “assistir à televisão, falar ao
telefone, movimentar a conta no terminal bancário e pela internet, verificar multas de
trânsito, comprar discos, trocar mensagens com o outro lado do planeta, pesquisar e
estudar são hoje atividades cotidianas, no mundo inteiro e no Brasil”.
A sociedade da informação está à disposição de todos, alguns com maior
acesso e outros com menor acesso devido às condições financeiras, entretanto, há
informações disponíveis a todos e que cada vez mais tem sido utilizada por pessoas
e organizações para encontrar grupos de interesse e aumentar o seu poder social. A
sociedade da informação cria ambientes em que os indivíduos se informem e
conheçam um pouco de tudo, sendo assim, a informação passa a transitar com
maior velocidade. Na Era da Informação, “estão predominando ativos intangíveis e
bens intelectuais. A era do tijolo e do concreto está cedendo lugar para uma nova
era de ideias e concepções. O capital intelectual está em alta" (CHIAVENATO, 2014,
p. 15).
A terceira característica do poder social está relacionada ao poder legítimo,
pois, nas relações sociais, diversos tipos de profissionais dispõem desse tipo de
poder por possuírem conhecimento específico em sua área de atuação. As
organizações por sua vez reconhecem esse poder e fazem uso dele em suas
campanhas de marketing, dentre os mais utilizados, destacam-se as campanhas de
creme dental que invariavelmente trazem um dentista referendando determinados
benefícios que uma marca afirma trazer aos seus consumidores.
O indivíduo tornado referência na sociedade deve considerar que todo seu
conhecimento “técnico e profissional é balizado e direcionado sob uma égide de
responsabilidade humana e social, onde cada decisão, conselho ou consideração
leva em conta a condição da humanidade dentro do contexto social” (KANAANE,
2017, p. 8). Sendo assim, ele possui uma responsabilidade em relação a esta
confiança que a sociedade deposita em sua pessoa e, principalmente, em seus
conhecimentos. O poder exercido pela referência, conforme Chiavenato (2014, p.
231), apresenta:
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referência do líder, ou seja, ela se baseia na pessoa do líder. O que caracteriza a
verdadeira liderança é a capacidade efetiva de gerar resultados por meio das
pessoas”.
A quarta característica do poder social é o poder de expertise12. Esse tipo de
poder funciona de forma muito aproximada com o poder legítimo, porém, aqui o
poder é derivado de um conhecimento específico que uma pessoa tenha e que seja
útil em uma determinada, sendo assim, um sujeito é elevado a condição de detentor
de um conhecimento muito específico e que é demandado. Um exemplo muito
comum da expertise é o uso por uma montadora de automóveis que contrata um
piloto profissional para que lhe ajude a projetar algum de seus veículos.
A recompensa é a quinta característica do poder social. Ela ocorre quando
uma pessoa ou um grupo social possui meio de recompensar alguém por seu ato.
Em geral, essa característica garante que determinados comportamentos do
indivíduo sejam recompensados, permitindo, assim, que ele condicione suas
relações interpessoais de forma a garantir essas recompensar. Diversas pesquisas
já foram realizadas com o interesse de demonstrar a importância das recompensas e
também das punições, na forma de condicionar os comportamentos humanos e as
relações interpessoais. Segundo Skinner (1983, p. 50):
25
A sexta característica ligada ao poder social é o poder coercitivo, que é o
responsável por envolver aspectos como intimidação, ou ainda, haver pressões
sociais para que o indivíduo adote comportamentos agressivos13 esperados em suas
relações interpessoais.
No marketing, por exemplo, o comportamento agressivo por parte de alguns
vendedores, ou ainda, a estratégia de insistentes ligações de telemarketing é
considerada como uma forma de poder coercitivo, porém, cada caso deve ser
analisado separadamente.
Toda e qualquer organização que pretende se comunicar com determinado
perfil de público, deve primeiramente saber qual a identidade social que parte
daquele público comunga, quais suas principais referências, bem como, quais as
influências que eles utilizam para decidir quais produtos consumir. Ao buscar
compreender como os indivíduos estabelecem suas relações interpessoais, os
estudiosos do comportamento humano almejam encontrar padrões que tornem
possível as complexas tarefas de prever como indivíduos se comportarão em
diferentes situações (MOREIRA, 2019).
A modelagem de comportamento é uma técnica que vem sendo amplamente
utilizada para direcionar os indivíduos a comportamentos esperados. Sendo assim, é
necessário conhecer como um comportamento se modela e como influenciar o
mesmo, para que assim seja possível condicionar as relações humanas. Segundo
Martin e Pear (2018, p. 69), a modelagem de comportamento pode ser definida:
13Há também sinais de comportamento agressivo entre os funcionários, os quais muitas vezes se
veem sem uma diretividade (definição de objetivos), deixando-os vinculados a padrões
comportamentais aleatórios, na medida em que a opção pela realização das tarefas (KANAANE,
2017, p. 46).
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oriundos das ciências sociais. A psicologia social tem contribuído nesses estudos
com uma abordagem abrangente das relações interdependentes entre homens e o
trabalho que eles excutam, entretanto, outras ciências também têm contribuído, tais
como, “Sociologia, Antropologia, Ciência Política têm contribuído de forma
acentuada para a compreensão do fenômeno qualidade de vida. Essas ciências
trazem como proposta a compreensão do homem e dos grupos sociais” (KANAANE,
2017, p. 51).
A identificação dos mecanismos presentes nos diferentes campos de estudos
permite compreender as relações interpessoais com um complexo campo ainda a
ser descoberto por todos. Dentre os estudos disponíveis que ainda precisam ser
mais bem elaborados, existem os rótulos sociais e a forma como eles influenciam
nas relações humanas. Segundo Martin e Pear (2018, p. 5):
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formar um padrão de ações e interesses” (BANOV, 2017, p. 43). Dentre as
informações que fazem diferença, estão, por exemplo, se o consumidor prefere
morar no campo ou na cidade, qual o tipo de trabalho que ele possui, quais seus
tipos de lazer preferido e quais crenças e valores ele comunga. Banov (2017, p. 43)
afirma ainda que “do ponto de vista econômico, o estilo de vida de uma pessoa está
asso- ciado à maneira como ela usa o seu dinheiro e, mais ainda, à quantia que ela
direciona para as diferentes categorias de produtos”.
Os fatores sociais são primeiramente divididos em grupos primários e
secundários. Enquanto os primários são compostos por aqueles relacionamentos
que o indivíduo possui com família e amigos, sendo mais próximos e duradouros, em
que o poder da propaganda “boca a boca” acaba sendo muito importante
(MOREIRA, 2019). Os grupos sociais secundários são aqueles um pouco mais
distantes em se comparando com o outro, e que estão ligados à autoestima do
indivíduo, esses grupos podem ser ligados ao trabalho, clubes, igreja, escola,
universidade, entre outros.
Os fatores culturais são também influenciadores do comportamento do
consumidor, eles podem ser: valores, crenças, mitos, hábitos, rituais, normas e leis e
a linguagem (MOREIRA, 2019). Em relação aos valores, os profissionais de
marketing devem se preocupar em identificá-los para não ferir eles em suas
campanhas. Além disso, o marketing pode com suas campanhas reforçar os valores
e se aproximar ainda mais dos consumidores. Os fatores externos influenciam os
fatores culturais, pois, segundo Kanaane (2017, p. 42):
As crenças são aquilo que o consumidor acredita mesmo não sendo real,
esse tipo de informação auxilia a compreender como o consumidor se comporta e
age. Os mitos são quando pessoas possuem grande credibilidade perante o público,
esse tipo pode ser interessante quando se anuncia um produto que precisa
representar segurança e confiabilidade, por exemplo, uma pessoa
reconhecidamente bem-sucedida anunciando um produto financeiro. Os hábitos são
aqueles comportamentos que já estão arraigados na rotina dos consumidores, um
exemplo é a necessidade de se tomar café da manhã todos os dias, empresas que
comercializam produtos que são utilizados nessa refeição, acabam se aproveitando
desse hábito para formular suas campanhas.
Os rituais possuem certa semelhança com os hábitos, eles, porém,
acontecem em grupo, um exemplo de ritual é reunir a família aos domingos, assistir
jogos de futebol com amigos, ou realizar confraternização com colegas do trabalho.
A linguagem14 é o último componente da cultura, ela pode ser compreendida
como os significados compartilhados pelos membros de uma cultura, essa
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linguagem deve ser a mesma utilizada nas campanhas que a organização promover,
pois, caso haja divergência entre o tipo de linguagem do grupo social e a utilizada
pela organização, a mensagem pode não ficar clara o suficiente gerando ruídos na
comunicação. Um fator importante a ser considerado sobre os fatores culturais15 é
que eles são transmitidos de geração em geração, portanto, eles possuem grande
influência da família, dos amigos e dos demais grupos sociais no quais os indivíduos
faz parte. A cultura ainda pode ser influenciada pelos meios de comunicação de
massa, governos, tecnologia e incorporação de novos hábitos (MOREIRA, 2019).
Um grupo social específico pode lançar comportamentos que têm o potencial
de se alastrar e contaminar toda a sociedade, sendo assim, o grupo do qual o
indivíduo faz parte tem o poder de influenciar o seu comportamento, assim como,
pode influenciar o comportamento de vários outros indivíduos. O relacionamento
interpessoal também é muito influenciado pela forma como os indivíduos atuam no
ambiente externo da organização. Segundo Kanaane (2017, p. 69):
15 Hão de se considerar as influências da cultura, tanto em seu aspecto social quanto nas condições
estabelecidas pela própria organização, como fator fundamental na determinação das concepções
sobre o trabalho e na caracterização deste em respectivos momentos históricos da sociedade
industrial e pós-industrial. E é aí que fica ressaltada a importância da Antropologia nas organizações,
que propicia a compreensão do que conhecemos por cultura organizacional (KANAANE, 2017, p. 6).
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colaboradores é constantemente apontada pelo setor de recursos humanos das
organizações como uma oportunidade para a melhoria do clima organizacional.
O relacionamento interpessoal é uma temática de grande importância entre os
colaboradores, para que assim seja possível tirar o máximo de vantagens e diminuir
eventuais perdas que possam surgir a partir do relacionamento interpessoal ruim
todos na organização (KANAANE, 2017).
Oferecer um bom clima de trabalho é uma ótima forma na qual as
organizações têm de buscar melhores resultados nas suas ações. Existem diversas
interações disponíveis entre as pessoas dentro de uma organização, dentre as
principais temos: indivíduo-indivíduo, indivíduo-grupo, grupo-organização, entre
outras, cada uma demonstra o estágio no qual a organização se situa.
Quanto maior a interação entre os indivíduos dentro de uma organização,
melhores serão os resultados que estes indivíduos proporcionarão a esta
organização. Sendo assim, os gestores precisam encontrar formas de integrar seus
colabores cada vez mais. A valorização dos indivíduos é uma das formas que as
organizações possuem de melhorarem as relações interpessoais no ambiente de
trabalho (MOREIRA, 2019). Os seres humanos possuem necessidades, segundo
teorias de motivação, como a teoria das necessidades de Maslow. Estas
necessidades se estendem desde as necessidades básicas como alimentação e
moradia, até as necessidades mais sofisticadas como a aceitação por grupos
sociais, sendo assim, as organizações têm um importante papel ao proporcionarem
a valorização dos indivíduos em seu ambiente de trabalho.
A valorização dos indivíduos pode ser considerada como um processo
contemporâneo, cujos resultados são imprescindíveis para o efetivo
desenvolvimento organizacional. Pessoas valorizadas e satisfeitas em seu ambiente
de trabalho tendem a oferecerem melhores resultados. Outra característica é que
pessoas valorizadas tendem a desenvolver melhores relações com seus colegas de
trabalho (CHIAVENATO, 2014). O departamento de recursos humanos das
organizações deve sempre que possível buscar a valorização dos trabalhadores,
nem sempre com aumentos de salários, mas em muitos casos atitudes simples já
apresentam bons resultados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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bem como, elas influenciam a forma como os indivíduos atuam. Conclui-se, portanto,
que indivíduos e organizações possuem enorme responsabilidade na forma como
atuam na sociedade. Desse modo, os mesmos precisam mensurar as forças de suas
ações e buscar a minimizar sempre que possíveis eventuais impactos negativos.
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BIBLIOGRAFIA
C, C. T. Ética, jornalismo e nova mídia, uma moral provisória. São Paulo: Zahar,
2017.
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K, R. Comportamento humano nas organizações: o desafio dos líderes
no relacionamento intergeracional. São Paulo: Atlas, 2017.
33
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discentes do curso de Ciências Contábeis. In: XVII Congresso Brasileiro de Custos
em Belo Horizonte, Anais... MG, Brasil, 03 a 05 nov. 2010. Disponível
em: <https://anaiscbc.emnuvens.com.br/anais/article/download/837/837>. Acesso
em: 10 jul. 2020.
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