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Ética e Relacionamento

Interpessoal

Johny Henrique Magalhães Casado

Artigo científico
ÉTICA NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS: COMPREENDENDO AS RELAÇÕES
HUMANAS

Johny Henrique Magalhães Casado*


RESUMO

A sociedade tem cobrado dos indivíduos e das organizações uma postura ética cada
vez mais atrelada aos seus anseios, sendo assim, é natural que as organizações
que buscam apresentar tal comportamento, acabem sendo privilegiadas na
preferência de seus consumidores. Por outro lado, os indivíduos desenvolvem
comportamentos com base em suas relações humanas, desde o momento que
nascem e durante toda sua vida. Sendo assim, a compreensão sobre aspectos
éticos, e também as relações interpessoais, faz-se necessária a todos que
pretendem estudar sobre as organizações. Neste artigo, serão abordados diversos
conceitos e teorias que estão relacionados ao estudo e à compreensão da ética das
relações interpessoais no dia a dia da sociedade contemporânea.

Palavras-chave: Ética. Sociedade. Relações Interpessoais. Organizações. Relações


Humanas.

INTRODUÇÃO

O presente artigo busca demonstrar a importância do estudo da ética na


sociedade e de como ela influencia as relações humanas e o dia a dia dos
indivíduos. Compreender a ética e todas as suas relações com a forma como a
sociedade se organiza é de fundamental importância para todos, inclusive no
estabelecimento de relações pessoais e no ambiente do trabalho. O estudo da ética,
dada a fundamental importância que possui, deve ser promovido como forma de
buscar melhores resultados nas relações humanas, bem como na promoção de uma
sociedade mais justa e dotada de princípios igualitários e fraternos.
A sociedade cada vez mais tem passado por profundas transformações que
ocasionam diversas reflexões sobre quais caminhos devem ser percorridos daqui em
diante. As evoluções na sociedade têm provocado profundas mudanças na forma
como os indivíduos se relacionam. Por isso a ética e a moral surgem como forma de
equilibrar e garantir um ambiente mais justo para que as relações humanas ocorram
de forma a garantir a boa convivência entre todos.
Objetiva-se, com este artigo, apresentar os conceitos de ética que estejam
relacionados ao dia a dia da sociedade e, também, como ela afeta as relações
humanas no dia a dia. A ética é algo que envolve desde as relações humanas
desenvolvidas no seio familiar, como também as que permeiam as relações
desenvolvidas no ambiente escolar e, principalmente, nas relações de trabalho,

*
Graduado em Administração e Ciências Contábeis pela Universidade Estadual de Maringá (UEM),
graduado em Comércio Exterior pelo Centro Universitário de Maringá (UNICESUMAR), pós-graduado
em Gestão Pública pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e mestre em Contabilidade
pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). E-mail: johny.hmc@gmail.com

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afetando especificamente a forma como as organizações funcionam e tratam seus
colaboradores.

1. CONCEITO DE ÉTICA NA SOCIEDADE: EVOLUÇÃO E REFLEXÕES SOBRE


VALORES

A sociedade evolui com o tempo e com isso as relações humanas também se


modificam e avançam. As inovações e o desenvolvimento de novas tecnologias
acabam afetando diretamente a forma como as pessoas se relacionam umas com as
outras. Atualmente, a constituição social das cidades, dos estados e das nações é
muito diferente do que era há dez anos, por exemplo, e muito mais diferente do que
eram há vinte, trinta, cem anos atrás (ARRUDA; WHITAKER; RAMOS, 2003). Sendo
assim, acompanhar como a sociedade evolui e se modifica se torna necessário para
entender a evolução humana.
A velocidade das mudanças também tem sido cada vez maior, por isso, tem
sido difícil para os indivíduos acompanhar as inovações e as formas como as
pessoas mais jovens se relacionam. As mudanças, apesar de frequentes, não
podem ocasionar que uma parcela da população deixe de acompanhar as evoluções
sociais (ARRUDA; WHITAKER; RAMOS, 2003).
Considerar todos os processos de mudanças ocorridos na sociedade se torna
cada vez mais necessário para que todos os indivíduos acompanhem o processo de
evolução que a ética tem percorrido na sociedade. Acompanhar as mudanças se
torna essencial para entender a ética e como ela interfere nas relações humanas.
Além das mudanças, necessário é importante que todos compreendam que a
ética não pode ser entendida somente acompanhando um aspecto social, ou seja,
não se deve compreender a ética como um fator isolado. A ética se relaciona com
todos, com tudo, por isso ela deve ser compreendida em toda sua amplitude
(ARRUDA; WHITAKER; RAMOS, 2003).
A ética envolve as relações humanas desenvolvidas no seio familiar,
constituindo, assim, a formação dos seres humanos na sua individualidade. A ética,
também está relacionada às relações vivenciadas no ambiente escolar, e afeta
diretamente a forma como as pessoas se relacionam em seu ambiente de trabalho e
no seu dia a dia nas empresas.
Cada vez mais a sociedade tem passado por profundas transformações que
ocasionam diversas reflexões sobre quais caminhos devem ser percorridos pela
humanidade. Sabemos, também, que a ética permeia as relações familiares dos
indivíduos, além de estar relacionada à vida escolar, social e, principalmente,
permear as relações humanas no ambiente das organizações (MARTINS; BENCKE,
2018).
A ética é um assunto amplamente debatido em toda a sociedade, trazido à
tona em discussões acadêmicas, profissionais e em alguns casos até pela mídia.
Debater sobre ética é um grande desafio a todos, pois ao discutir este tema, nota-se
que é exigido um grande aprofundamento em diversas áreas do conhecimento
(ARRUDA; WHITAKER; RAMOS, 2003). Desde a época de Platão, o debate sobre
postura ética já era evidente, segundo Leite (2011, p. 25):

Na escola de Platão, pela primeira vez, a “Ética” surge ao lado da “Lógica” e


da “Física” como disciplinas. É o momento em que esses conteúdos passam
a ser pensados “disciplinadamente”, isto é, passam a ser sistematizados no
âmbito do pensamento e, dessa forma, o próprio pensar é também

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sistematizado. Como Heidegger afirma, “As disciplinas surgem ao tempo
que permite a transformação do pensar em ‘Filosofia’, a Filosofia em
epistéme (Ciência) e a Ciência mesma em um assunto de escola e de
atividade escolar”.

Segundo Bencke e Martins (2018, p. 3), “conciliar ética profissional, com a


moral e os valores pessoais, exige do contabilista e do discente, conhecimento das
legislações, competência para exercer a profissão, consciência ética, e a capacidade
de refletir e agir de maneira correta”. Sendo assim, ao se buscar estudar e
compreender sobre a consciência ética na sociedade, deve-se levar em
consideração algumas dúvidas pertinentes, dentre elas as principais podem ser
compreendidas como “O que é ética?” e “O que é moral?”.
Compreender ética e moral na sociedade é algo que movimenta estudiosos
desde o início da sociedade, por isso é amplamente debatido em vários aspectos
sociais. A ética é reflexo da sociedade, sendo influenciada diretamente pela forma
como os ínvidos se organizam. É possível afirmar ainda que a influenciam a
compreensão do que é ética acontecimentos como “o avanço tecnológico, das
relações e ações individuais, enfim, do desenvolvimento de toda a sociedade. Não é
possível pensar em aspectos éticos, sem refletir sobre sustentabilidade,
desenvolvimento e sobre as estruturas internas das organizações” (SANTOS, 2019,
p. 4).
Na busca por entender como a ética é compreendida, deve-se considerar que
ela sofre influência do tempo e do local, por isso é de fundamental importância que,
ao se realizar qualquer tipo de estudo sobre o assunto, não seja feito nenhum tipo
de pré-julgamento que possa enviesar a compreensão dos aspectos sociais
relacionados.
A definição do que viria a ser ética pode variar entre os autores. Segundo
Silva et al. (2010, p. 3), “a palavra ética deriva do grego ethos, que significa costume
e índole. Semelhante ao sentido da palavra latina moris, da qual deriva a palavra
moral”. A influência da Grécia para o estudo da ética é inegável, tendo em vista que
inúmeras reflexões apresentadas por importantes filósofos como Sócrates, Platão e
Aristóteles são vistas até os dias atuas como de grande importância para o estudo e
a compreensão do que é ética e como ela afeta as relações na sociedade.
Segundo Valls (1994, p. 24), “a reflexão grega neste campo surgiu como uma
pesquisa sobre a natureza do bem moral, na busca de um princípio absoluto da
conduta. Ela procede do contexto religioso, em que podemos encontrar o cordão
umbilical de muitas”, por isso estudar ou buscar compreender a ética atualmente é
impossível sem ao menos considerar que esses estudos perpassem gerações e têm
acompanhado a sociedade desde os seus primórdios, algo inegável, quando se nota
a importância da filosofia grega e de suas contribuições para a compreensão da
ética e da moral.
O estudo sobre o que é moral e como ela afeta a sociedade ocorre de
maneira ampla e irrestrita em toda a sociedade, partes desses estudos visa
relacionar a moral a razão, pois, segundo La Taille (2009, p. 68), “sejam quais forem
os fundamentos e conteúdos escolhidos para a moral, a razão sempre está, de uma
forma ou de outra, presente”.
Se admitirmos que a moral foi criada por um Deus e que, portanto, ela nos é
revelada, a tarefa da razão é interpretar tal revelação. A moral, em uma sociedade
com crenças e religiões estabelecidas, ganha ainda mais importância na sociedade.
Na sociedade, para que saibam que uma conduta de um indivíduo é moral ou
não, esta conduta deverá ser avaliada em relação à fórmula geral da moralidade

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previamente estabelecida, portanto, a definição se algo é moral ou não possui forte
relação com a historicidade do fato em si. A definição do que é um fato moral, deve
ocorrer para que toda a sociedade possa compreender a moral nas mais diferentes
situações. Durkheim (2015, p. 32) “define a moral em função não da utilidade
individual, mas do interesse social. Mas se essa expressão da moralidade é
certamente mais compreensiva que a precedente, não se conseguiria, no entanto,
vê-la como uma boa definição”.
A psicologia tem realizado inúmeros estudos visando compreender como a
razão pode estar associada à moral. Segundo La Taille (2009, p. 69), “acostumou-
nos a reconhecer o quanto a razão pode ser fraca, o quanto ela pode enganar-se.
Sim, mas desse alerta quanto às limitações da razão não decorrem em absoluto
afirmar que ela em nada contribui para guiar nossas ações”, sendo assim, pelo viés
da psicologia pode-se afirmar que a razão acaba sendo um guia para o
desenvolvimento moral1 da sociedade.
Os autores também relacionam o conhecimento como importante componente
da moral, para eles, a moral pode ser compreendida como um objeto do
conhecimento. Segundo La Taille (2009, p. 69):
A moral é, antes de mais nada, um objeto de conhecimento. Ela “diz” coisas
que a pessoa deve conhecer. Mas o que ela diz? Ela fala em regras, e
assim diz o que deve ser feito e o que não deve ser feito. Ela fala em
princípios, ou máximas, e, portanto, diz em nome do que as regras devem
ser seguidas. E ela fala em valores, e assim revela de que investimentos
afetivos são derivados os princípios. Por exemplo, a moral pode afirmar que
a vida é um valor, derivar o princípio segundo o qual a vida deve ser
respeitada, e ditar regras como “não matar”, “não ferir”, “promover o bem-
-estar”.

Compreender razão e conhecimento a partir dos estudos sobre moral


colabora para que a sociedade possa ampliar a compreensão sobre como a moral
está relacionada ao seu dia a dia. A área da educação tem grande importância no
estudo da ética, pois a formação ética de uma sociedade acontece de forma
consistente durante os anos escolares, segundo La Taille (2009, p. 8):

[...] para que uma formação ética e uma educação moral possam dar seus
frutos, faz-se necessário analisar o contexto cultural no qual elas serão
implementadas. Imagino que o ensino de Matemática ou de Biologia possa
ser proposto levando em conta, sobretudo, as dimensões psicológicas que
presidem a construção desses conhecimentos. No entanto, isso é
impossível quando se trata de ética (“vida boa”) e de moral (deveres) [...]
debruço-me sobre as características da sociedade atual; apresento alguns
“apontamentos” do que se poderia fazer na educação dos jovens. Assim, a
parte dedicada ao plano ético é composta de análise da
contemporaneidade, que intitulei “cultura do tédio”, e de outro, de cunho
educacional, “cultura do sentido”. Na mesma lógica, a parte dedicada ao
plano moral são “cultura da vaidade” e “cultura do respeito de si”.

Compreender como a ética está relacionada à fase em que o indivíduo está


em busca da sua formação, ou seja, na fase onde ele anseia por educação se faz

1A dimensão intelectual não somente está pressuposta pela própria definição de moral, como é
reconhecida como condição necessária às ações reconhecidas como morais. Não podemos, portanto,
descartar essa dimensão, sob pena de fugirmos totalmente a nosso tema, ou de reduzi-lo a
dimensões biológicas, instintivas ou intuitivas (LA TAILLE, 2009. p. 73).

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importante porque demonstra que o ambiente escolar deve fazer parte da
compreensão sobre o que é ética e como ela deve ser compreendida na sociedade.
É importante destacar que os termos ética e moral podem ser aplicados “a
pessoas quer a sistemas ou teorias morais, o que agrava, ainda mais, o estado de
confusão, pois, quando desejamos classificar a natureza da ação humana e de
sistemas mais alargados em que os sujeitos se inserem” (PEDRO, 2014, p. 485). O
indivíduo comum acaba fazendo uso indiscriminado sobre cada um desses termos.
Portanto, é na prática diária que as maiores dúvidas sobre o que ética e moral
surgem. Segundo Gallo et al. (2010, p. 8):

O fato é que à medida que uma sociedade, quer seja ela uma organização
empresarial, uma entidade representativa de classe, ou a comunidade em
geral, formaliza suas normas e práticas, baseadas em seus valores e
padrões morais, isso representa uma síntese do consenso do grupo, ou
seja, o que os seus integrantes acreditam e valorizam como certo ou errado,
aceito ou não aceito. Assim, espera-se que o indivíduo siga essa referência
ao custo de serem penalizados por condenação legal e/ou moral, muito
embora o atendimento a essas normas seja uma decisão pessoal, em
função do seu livre arbítrio.

Cotidianamente os conceitos de moral e da ética são utilizados como


sinônimo. Parte da confusão está associada à origem e significado etimológico da
palavra: moral vem do latim mos, e ética do grego ethos, ambas significam costume”
(MARTINS; BENCKE, 2018, p. 4). Os conceitos de ética e moral demandam,
também, que seja apresentado o significado de valor, ou seja, os três termos devem
ser apresentados em conjunto para que possamos compreender como se forma a
consciência na sociedade.
Quando tratamos de valor, não estamos atribuindo valor pecuniário às coisas
– aqui o significado de valor deve ser compreendido como a relação que o sujeito
tem com algo. Segundo Pedro (2014, p. 492):

Os valores constituem, assim, uma resposta natural às necessidades


sentidas pelo sujeito; daí, a sua importância e contributo para a
transformação da realidade; daí, o papel crucial que a educação pode
representar no entrelaçar dos seus objetivos com o ganho de consciência
reflexiva e prática acerca dos valores com vista à realização do sujeito, de
acordo com as suas preferências.

A compreensão do que são valores deve ocorrer a partir do entendimento de


acordo com o seu caráter relacional, sendo assim, eles devem ser entendidos
sempre de acordo com a ótica de algum sujeito em específico. Portanto,
compreender o que são valores sempre se fará necessário um sujeito e um objeto.
Segundo Hessen (2001, p. 23), “valor é sempre valor para alguém, ele é a qualidade
de uma coisa, que só pode pertencer-lhe em função de um sujeito dotado de uma
certa consciência capaz de a registrar”.
Segundo Durkheim (2017), a moral também possui intrínseca relação com os
valores humanos, sendo assim, o campo de estudo responsável por essa
compreensão deve considerar essa relação. Os valores morais, conforme são
apresentados pelo das ciências sociais estão relacionados ao juízo moral2 que a
sociedade promove.
2“Uma habilidade técnica, embora grande, jamais se fez passar como virtude; jamais pareceu que um
ato de improbidade pudesse ser compensado por uma feliz invenção, um quadro de gênio ou uma
descoberta científica. Em que consiste esse valor, o que o caracteriza é o que nós não podemos dizer

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À medida que as pessoas crescem e se desenvolvem elas passam por um
processo no qual desenvolvem seus valores, por isso quando um indivíduo
apresenta valores semelhante ao de outro indivíduo é comum que eles tenham
passado por uma ou mais situações de vida semelhante. Segundo Abreu (2020, p.
50), “à medida que crescemos, vamos criando abstrações – que são também
chamadas de ’crenças’ – a respeito das mais variadas ocorrências do cotidiano.
Desenvolvemos interpretações a respeito da vida e do comportamento dos outros”,
sendo assim, os indivíduos desenvolvem o que é costumeiramente denominado de
conglomerados mentais3.
A compreensão do que é valor permite algumas compreensões de algumas
características, são elas: ideais, irrealidade, apreciáveis, inexauríveis, atemporais,
obrigatoriedade, qualidade, apetecibilidade, bipolaridade, objetividade, hierarquia,
heterogeneidade e sistema lógico. Esses valores são importantes para que o
indivíduo desenvolva o seu ponto de vista ético e atue da forma como a sociedade
espera.
A relação entre valor, ética e moral facilita o entendimento desses conceitos.
Segundo Pedro (2014, p. 488):

Assim, da relação tridimensional valores, moral e ética, podemos aduzir


valores morais e valores éticos; todavia, nem a moral nem a ética reduzem,
obviamente, a sua esfera de pensamento e de ação somente a este tipo de
valores, dado que o mundo dos valores é imenso e infinito. Por isso, nunca
é demais assinalar uma outra confusão que habitualmente ocorre ao
identificar valores somente a valores morais, esquecendo a panóplia imensa
do tipo de valores existentes (ex: políticos, éticos, morais, estéticos,
ecológicos, vitais, espirituais, económicos, religiosos). Esta associação
deve-se ao facto de, por razões culturais, ter existido ao longo dos séculos,
uma proximidade histórica e cultural entre a esfera dos valores religiosos e a
realidade social que, não obstante, se tem assumido, ultimamente, de cariz
eminentemente laico e secular, mas ainda, de raiz judaico-cristã.

O valor denominado de ideais possui uma profunda ligação com o mundo das
ideias e dos pensamentos, portanto está relacionado à forma como o sujeito pensa
as diferentes situações do seu dia a dia. Os ideais, segundo Pedro (2014, p. 494),
estão relacionados ao “sentido em que os valores pertencem ao mundo do
pensamento que os pensa, à imagem dos objetos do pensamento lógico e
matemático; não no sentido em que são absolutos ou transcendentais”.
Esse valor ajuda o indivíduo a pensar e refletir sobre o que é certo ou errado,
ou ainda, sobre como agir em uma situação em específico. Esta reflexão é
necessária, pois a partir dela ele poderá tomar as melhores decisões possíveis
baseadas nos valores que ele traz consigo. Segundo Valls (1994, p. 25), “os homens

no início da pesquisa; tentaremos responder à questão no decorrer deste livro. Mas, desde já, essa
incomparabilidade dos valores morais basta para estabelecer que os juízos morais ocupam um lugar
à parte no conjunto dos juízos humanos, e é tudo o que nos importa” (DURKHEIM, 2017, p. 107).
3“Este processo cria, ao longo do tempo, uma constelação de valores pessoais, altamente

idiossincráticos e que são tidos como uma verdade absoluta por cada um. Desta forma, basta que
uma situação se apresente para que, prontamente, possamos tirar do bolso uma explicação enlatada,
’pronta’ e que serve de parâmetro para descrever o mundo. Veja só que curioso: nos casos mais
extremos, esse mecanismo, quando aparece, é batizado pela mídia leiga de ’preconceito social’.
Alguns exemplos? Vamos lá: branco, negro, gordo, de esquerda, de direita, homo, hétero, do Norte,
do Sul e por aí vai. Este aglomerado de opiniões é tão poderoso que, com o passar do tempo, torna-
se impermeável, ao criar uma verdadeira blindagem ao desenvolvimento (e reconhecimento) de
novos pontos de vista” (ABREU, 2020, p. 50).

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deveriam procurar, então, durante esta vida, a contemplação das ideias, e
principalmente da ideia mais importante, a ideia do Bem”.
A irrealidade é outro valor que pressupõem reflexão no campo da ética, que,
por sua vez, está relacionado ao fato de que nem tudo é palpável, ou seja, os
valores podem não ser materiais, não possuindo, assim, uma existência objetiva
(CARVALHO, 2004). O valor da irrealidade demonstra que nem sempre o sujeito
conseguirá ver e pegar algo, pois muitas vezes ele tomará as suas decisões
considerando algo relacionado às suas emoções, o que poderá afetar as suas
decisões éticas, de acordo com a forma como ele encara esta irrealidade e
desenvolve seus pensamentos.
A falta de alguns aspectos em relação aos valores também pode influenciar o
indivíduo em relação à sua postura ética, pois nem sempre os valores são
apreciáveis, ou seja, eles nem sempre podem ser estimáveis ou admiráveis, o que
pode provocar dúvidas e gerar frustrações entre os indivíduos. Portanto, a
característica apreciável aos valores poderá influenciar muito a forma como a
tomada de decisão ética ocorre por parte das pessoas, seja de forma individual,
quando elas estiverem em sociedade.
O fato dos valores não serem estimáveis impõe ainda a realidade de que eles
não podem ser elencados, entre mais ou menos importantes, o que faz com que os
indivíduos tomem as suas decisões morais e éticas sem poder considerar se o valor
em si é de fato importante para a situação em si (CARVALHO, 2004).
Uma característica que torna os valores necessários de serem compreendidos
e estudos no campo da ética é o fato de que eles são inexauríveis, ou seja, os
valores não se esgotam conforme eles são apresentados. Um exemplo da
característica inexauríveis dos valores é a bondade, um valor que em muitas
situações pode aparecer, entretanto, quanto mais a bondade é utilizada e aparece,
isso não significa que ela acabará, pois algo bom poderá ser sempre bom. Valores
sendo inexauríveis permitem que os indivíduos façam amplo uso dos mesmos,
assim manifestações éticas e comportamentos ético não precisam ficar reféns do
pouco uso de um valor em si.
Os valores, dentre o rol de características que possuem, ainda são
considerados como atemporais, ou seja, os valores não possuem relação com a
questão do tempo, assim como os indivíduos, por exemplo. Em suma, o uso de um
valor não estará especificamente atrelado a uma época ou ainda a um ano
específico, por isso, ao fazer uso de um valor, o indivíduo não precisa considerar a
relação temporal que esse valor possui ou apresenta.
O valor não deverá estar além do devir temporal, por isso essa característica
de atemporal é de grande importância no estudo e na compreensão dos valores
quando estes estão sendo compreendidos para o estudo da ética e da moral na
sociedade e nas relações humanas.
A característica da obrigatoriedade apresenta que os valores são categóricos,
pois, segundo Pedro (2014, p. 495), eles “não são neutros, é completamente
impossível sermos-lhes indiferentes. Daí, que sintamos obrigação moral (dever ser)
de sobre eles nos pronunciarmos e tomarmos uma posição”. Com essa
característica é possível compreender que, ao se adotar um valor no momento de
uma tomada de decisão, ou ainda, no momento em que se for tomar uma atitude, o
indivíduo deverá considerar que o valor deverá ser considerado em sua
integralidade e de forma clara e transparente, não podendo se escolher apenas
alguns aspectos deste valor, ou ainda, apenas uma parte do mesmo, por isso, a

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obrigatoriedade ganha importância como um valor que de fato influencia o processo
de apresentação de uma postura ética na sociedade de forma em geral.
A qualidade é outra característica do valor, pois, de maneira em geral, os
valores são dotados de qualidades que não são reconhecidas pelos indivíduos. A
própria definição do que é qualidade é algo complicado e complexo, a qualidade tem
sido um assunto que tem ganhando cada vez maior destaque nas discussões
acadêmicas e profissionais nos últimos anos. Definir o que é qualidade, portanto, é
importante para compreender como um valor pode ter qualidade atribuída por parte
do usuário.
A compreensão sobre o que é qualidade é condição indispensável para todos
os indivíduos e profissionais. Sendo assim, é interessante ressaltar que o conceito
de qualidade tem se modificado ao longo dos anos, em especial nos últimos
cinquenta anos este conceito agregou uma série de subconceitos que foram
derivados da evolução da sociedade (CARPINETTI; GEROLAMO, 2019).
Segundo Paladini (2019, p. 4), “definir qualidade de forma errônea leva a
Gestão da Qualidade a adotar ações cujas consequências podem ser extremamente
sérias para a empresa (em alguns casos, fatais em termos de competitividade)”.
A evolução do conceito de qualidade, principalmente sob o ponto de vista das
organizações, sempre acompanhou a questão custos. Segundo Carpinetti e
Gerolamo (2019, p. 10):
[...] análise da qualidade do produto tem pouco sentido prático se não for
acompanhada de correspondente análise da relação entre custo e
benefício. O usuário incorre em custos com o produto desde o instante da
aquisição até o descarte. A soma de todos os custos de responsabilidade
do usuário, durante a vida útil do produto, é chamada de custo do ciclo de
vida do produto, que pode ser desdobrado em: custos de aquisição; custos
de operação; custos de manutenção e reparo; e custos de descarte. O uso
do critério do custo do ciclo de vida do produto coloca em evidência o
desempenho ao longo da sua vida útil, uma vez que esse custo é
fortemente influenciado por atributos como confiabilidade, facilidade de
manutenção, durabilidade e eficiência do produto.

A qualidade é algo abstrato, sendo assim o que é qualidade para um indivíduo


pode não ser para outro. Às organizações cabe a difícil missão de apresentar seus
produtos e serviços e fazerem com que os seus clientes considerem todos os
atributos apresentados como qualidade. Ao considerar o campo da ética e da moral,
torna-se necessário que os ínvidos compreendam a importância da qualidade como
forma de se estabelecer valores de qualidade ao seu processo de tomada de
decisão.
Segundo Pedro (2014, p. 495), os valores possuem algumas características.
Dentre essas características, uma é que eles têm grande influência nas decisões
éticas dos indivíduos, ela está ligada à apetecibilidade. Ainda segundo o mesmo
autor, “esta característica verifica-se, na medida em que os valores não são
indiferentes ao sujeito, mas exercem sobre si uma força atrativa que reside, mais
precisamente, na sua dimensão ideal e significativa” (PEDRO, 2014, p. 495). Em
suma, temos que os valores acabam ao serem utilizados para a tomada de
decisões, atraindo outros valores que orbitam em seu entorno, tornando as decisões
ainda mais coesas e dotadas de sentimento e características muito parecidas e
também assemelhadas.
A bipolaridade possui grande importância na análise dos valores sob o ponto
de vista ética, pois em muitas análises a bipolaridade é atribuída a valores que

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divergem entre si, seja em seu conceito ou por meio da sua aplicabilidade.
Considerando uma tomada de decisão que envolva duas pessoas, ao se analisar os
valores que fizeram essas pessoas tomarem decisões distintas, é possível atribuir
características divergentes a essas decisões. Considerando o exposto, é possível
afirmar que, em caso de uma das pessoas tomar uma decisão considerada boa e
automaticamente a outra pessoa tomar uma decisão contrária a ela, a segunda terá
sua decisão considerada ruim.
A bipolaridade não fica, portanto, restrita ao bom e mau, ela também pode
aparecer no negativo e positivo, no amor e no ódio, na guerra e na paz, ou ainda em
situações como calma e agitação. A bipolaridade acaba aparecendo em várias
situações do processo de tomada de decisões, sendo assim não pode ser
desprezada no momento de se tomar qualquer tipo de decisão que envolva direta ou
indiretamente a ética e a moral. Essa característica bipolar dos valores é visível
desde as contribuições do filosofo grego Aristóteles, pois, segundo os estudos
atribuídos a ele, o bem e o mal são presentes no campo dos estudos sobre a ética,
com a respectiva natureza estará o seu bem, ou o que é bom para ele. Segundo
Valls (1994, p. 35), “cada substância tem o seu ser e busca o seu bem: há um bem
para o deus, um para o homem, um para a planta, etc. Quanto mais complexo for o
ser, mais complexo será também o respectivo bem”.
A complexidade do entendimento de como os valores são desenvolvidos na
sociedade compreende diversos conceitos, sejam eles ligados à bipolaridade ou
não. Um desses conceitos refere-se à complexidade que alguns indivíduos possuem
em se definir como pertencentes a um grupo, sendo assim, é natural que as pessoas
possam se autodenominar participantes de grupos sociais4.
A característica da objetividade também possui influência sobre as decisões
éticas dos indivíduos, o que faz com que ela seja considerada no momento de se
compreender a ética e como ela é aplicada na sociedade. Segundo Pedro (2014, p.
495), na objetividade “os valores são objetivos como as figuras matemáticas, na
medida em que mesmo que tenhamos uma ideia pouco clara da sua representação,
conseguimos intuí-la como sendo algo objetivo”.
O valor objetividade possui uma grande relação com algumas profissões,
dentre elas temos a profissão de jornalistas, pois buscar a objetividade nesse tipo de
trabalho torna o mesmo dotado de ética e também de um maior simbolismo.
Segundo Costa (2017, p. 152), “objetividade seria a ’pedra angular’ da ideologia
profissional dos jornalistas nas democracias liberais. Nesse estudo, ela pretende
enfrentar os críticos à objetividade, em especial aqueles que argumentam que a
mídia deturpa pontos de vista ou não reporta suas atividades com imparcialidade5”.

4“Os grupamentos constituem-se em microssociedades, em que se desenvolvem comportamentos


peculiares, que fazem surgir novas crenças e valores. A compreensão desses fenômenos sociais e as
prescrições para melhorar a produtividade e a qualidade dos agrupamentos constituem o principal
campo da Sociologia aplicada à administração, trazendo para dentro da organização os
conhecimentos obtidos com os grupos sociais. Outra preocupação da Sociologia aplicada ao contexto
empresarial tende a ser o estudo da comunidade organizacional, a forma e a maneira pelas quais
essa comunidade organiza as relações sociais de poder e autoridade” (ABREU, 2020, p. 3).
5A palavra “objetivo”, que vem do latim objectivus, derivado de objectus, Costa define a ação de

colocar adiante, exprime algo que está no campo da experiência sensível. O substantivo feminino
“objetividade”, sempre conforme o dicionário, fixa a qualidade, caráter ou condição do que é objetivo;
ou a qualidade do que dá, ou pretende dar, uma representação fiel de um objeto (a objetividade da
ciência); caráter daquele que age rápido, que não perde tempo em lucubrações; é a característica do
que não é evasivo, é direto ou, em filosofia, a realidade exterior ou dessemelhante ao sujeito (o
intelecto cognitivo humano) passível de por ele ser conhecida ou transformada (COSTA, 2017, p.
152).

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Os valores que influenciam as decisões éticas possuem ainda a
características de serem heterogêneos, ou seja, mesmo que a possibilidade de
ordená-los de acordo com suas características específicas eles não se misturam e
mantêm sua essência. A última característica dos valores é que eles devem seguir o
sistema lógico, portanto deverão apresentar consistência ao serem utilizados no
momento de uma tomada de decisão. Segundo Pedro (2014, p. 495), “coerente no
tipo de relações que estabelece entre os diferentes valores”, os valores ao serem
elencados no momento de uma tomada de decisão, deverão considerar, também,
que, no caso de surgir a necessidade de serem justificados, os mesmos deverão
seguir um sistema de justificativa lógica e concisa.
Necessário notar que todas essas características apresentadas em relação
aos valores devem ser consideradas de forma independente, mas também devem
ser consideradas de forma conjunta, em que um valor poderia influir sobre o outro no
momento em que o sujeito passar por uma situação de tomada de decisão. A
compreensão sobre os valores é de fundamental importância para o estudo da ética
nas relações humanas, pois são os valores que influem diretamente na forma como
as pessoas adotam determinados comportamentos e que, portanto, agem em
relação aos seus interesses e suas vontades.
Resgatando a filosofia grega e sua contribuição para o estudo da ética, é
possível observar que os valores já faziam parte desse campo de estudo, pois eles
apareciam de forma um pouco mais limitada, como importantes pontos que
influenciam os indivíduos em suas tomadas de decisões. O filósofo Platão, somente
para citar um exemplo, citava algumas virtudes como importantes para que os
indivíduos pudessem ser considerados detentores de um perfil ético, essas virtudes
podem ser apresentadas de diversas formas atualmente, entretanto Valls (1994, p.
27) os apresenta como:

Justiça (dike), a virtude geral, que ordena e harmoniza, e assim nos


assemelha ao invisível, divino, imortal e sábio; Prudência ou sabedoria
(frônesis ou sofía) é a virtude própria da alma racional, a racionalidade como
o divino no homem: orientar-se para os bens divinos. Esta virtude, que para
Platão equivale à vida filosófica como uma música mais elevada, é aquela
que põe ordem, também, nos nossos pensamentos; Fortaleza ou valor
(andréia) é a que faz com que as paixões mais nobres predominem, e que o
prazer se subordine ao dever; Temperança (sofrosine) é a virtude da
serenidade, equivalente ao autodomínio, à harmonia individual (VALLS,
1994, p. 27).

A formação da consciência ética na sociedade passa pelo entendimento do


que de fato seja ética, moral e também de todas as características que os valores
apresentam. A influência da internet na constituição dos valores na sociedade atual
tem causado grandes mudanças nos padrões éticos da sociedade, principalmente
quando se aborda a questão dos jovens e de como eles se relacionam pro meio da
internet e das redes sociais.
Segundo Abreu (2020, p. 94), “nossos jovens, ao se debruçarem cada vez
mais nas realidades paralelas da internet, constroem sua autoestima apenas de
maneira temporária, ou seja, são alguém e se orgulham apenas do que são do lado
de lá, e, quando retornam ao mundo real possuem muito pouco”, essa vida nas
redes sociais em confronto com a realidade, acaba cirando um descompasso entre a
vida virtual e a vida pessoal.
Para Silva et al. (2010, p. 4), “a consciência ética possui um aspecto particular
de observação que vai desde seu conceito, até os conflitos com as práticas sociais e

11
profissionais”. Compreender a ética a partir dos valores permite aos estudiosos um
ótimo campo de estudo, garantindo assim, uma visão da complexidade da mesma
em toda a sua essência e também a sua aplicabilidade nos diferentes pontos das
relações familiares, relações sociais e relações no ambiente de trabalho.

2. ÉTICA EMPRESARIAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO

A ética permeia as relações humanas em diversos aspectos, seja nas


relações familiares, no grupo de amigos, nos ambientes escolares, em espaços de
convivência social e, principalmente, no ambiente de trabalho. Considerando o
exposto, temos que a ética nas relações empresariais acaba sendo como um dos
focos da gestão das organizações, pois a ética empresarial é algo que vem sendo
discutido e abordado na sociedade de forma geral.
A profissão escolhida pelos indivíduos acaba por considerar uma série de
aspectos relacionados que influem diretamente na forma como ele atua e age diante
da sociedade. Sendo assim, a profissão pode ser entendida como dimensões de
ordem prática, que somente se manifestam pro meio de uma ação concreta que, por
sua vez, são transformadoras do mundo e da realidade (SOUZA, 2019).

2.1 Ética Profissional e suas Especificidades

Compreender a relação da ética com profissão deve ser uma tarefa de todos
os gestores que almejam atingir altos postos de trabalhos nas organizações na
atualidade. A visão de mundo desses gestores deve levar em consideração os
sujeitos e a relação estabelecida entre política, economia, cultura na sociedade.
Segundo Gonçalves (2007, p. 5):

Entender o mundo do trabalho em suas múltiplas facetas, bem como


perceber-se parte dessa totalidade, contribuindo, participando, autorizando
e recusando diferentes práticas sociais é a exigência feita ao trabalhador
cidadão, tanto em sua vida profissional, quando na própria constituição de
sua identidade.

O trabalho assume diversas facetas inesperadas e que impactam diretamente


na vida humana, sendo assim, torna-se natural a necessidade de estudar o trabalho
como um importante fator relacionado à ética. Dentre as facetas6 que o trabalho
assume, temos o aspecto técnico, aspecto fisiológico, aspecto moral, aspecto social
e aspecto econômico (KANAANE, 2017).
A complexidade sobre o debate a respeito do que seja uma postura ética é
cada vez mais evidente em toda a sociedade, é possível observar que os indivíduos
são cobrados por adotarem comportamentos éticos em seu dia a dia, portanto a

6Segundo G. Friedmann, o trabalho assume as seguintes facetas: aspecto técnico, que implica
questões referentes ao lugar de trabalho e adaptação fisiológica e sociológica; aspecto fisiológico,
cuja questão fundamental se refere ao grau de adaptação homem-lugar de trabalho-meio físico e ao
problema da fadiga; aspecto moral, como atividade social humana, considerando especialmente as
aptidões, as motivações, o grau de consciência, as satisfações e a relação íntima entre atividade de
trabalho e personalidade; aspecto social, que considera as questões específicas do ambiente de
trabalho e os fatores externos (família, sindicato, partido político, classe social etc.). “Há de se
considerar sob tal perspectiva a interdependência entre trabalho e papel social e as motivações
subjacentes; aspecto econômico, como fator de produção de riqueza, geralmente contraposto ao
capital, e unido em sua função a outros fatores: organização, propriedade, terra” (KANAANE, 2017, p.
99).

12
necessidade de se apresentar um comportamento ético na profissão também é
necessária (SOUZA, 2019).
A denominada crise de valores7, em que se observam, entre as pessoas,
posturas mais individualizadas, cuja sociedade não apresenta situações de
compartilhamento, onde a competição impera, tem feito com que seja experimentada
na sociedade uma situação em que as pessoas se questionam a todo o momento se
devem ou não adotar uma postura ética em sua tomada de decisão.
A crise de valores é algo visível e presente em toda a sociedade, pois:

[...] essa crise de valores vem sendo combatida ao se adotar uma postura
mais ética em diversas situações. Para isso, muitos segmentos da
sociedade unem-se em movimentos significativos com objetivo de acabar
com as injustiças sociais. Essa mesma tendência à mobilização se verifica
no mundo do trabalho. E não são com iniciativas somente dos
trabalhadores. Muitas empresas, preocupadas com a ética no trabalho, têm
adotado uma nova política em relação a funcionários, empregados, chefes e
líderes, bem como com o meio ambiente, buscando o bem-estar de todos.
Tudo isso comprova que a postura ética tem sido, cada vez mais, um
requisito para a valorização do profissional no mundo do trabalho. Daí a
necessidade de reconhecer que devemos aprimorar nossa educação e a
das novas gerações, tanto para melhorar a sociedade na qual atuamos
como para sermos mais valorizados no mercado de trabalho, ao
apresentarmos algo que hoje é visto como grande diferencial: nossa
integridade moral. (BARBOSA, 2011, p. 9)

No ano de 1992, o Ministério da Educação (MEC) formaliza em portaria


própria a necessidade de diversos cursos de graduação e inserir as discussões
sobre ética em suas grades curriculares, portanto, a educação superior passaria a
ter a discutir este assunto como uma disciplina curricular. Com a ação do MEC,
estabeleceu-se no Brasil a necessidade de estudar ética ao longo da graduação,
portanto, os profissionais formados a partir de então poderiam discutir tais temas
ainda ao longo da sua formação superior.
É importante considerar que a demanda pelo estudo da ética não faz parte de
nenhum modismo passageiro, pois há uma clara cobrança por toda a sociedade que
as mais diferentes profissões possam exercer suas profissões pautadas pela ética e
transparência. Profissionais éticos têm sido uma demanda crescente e real entre
todos os setores da sociedade, portanto as universidades, faculdades e demais
centros de formação superior devem agregar em seus cursos o estudo da ética
como forma de atender as demandas e aos anseios de toda a comunidade.
A partir do momento em que a ética passa a integrar o currículo da maioria
dos cursos superiores no Brasil, nota-se que a sociedade apresenta uma sutil
mudança em seu mindset. Sendo assim, nota-se que os novos profissionais sejam
capazes de fazer um juízo crítico da realidade que os cercam, bem como, possam
avaliar situações, consultar normas estabelecidas, interiorizar ou recusar padrões de
comportamento que entrem em choque com o que a sociedade espera de seu
comportamento (GONÇALVES, 2007).
Existem inúmeros comportamentos que são esperados por parte dos
profissionais como forma de serem reconhecidos como profissionais éticos. Dentre
os comportamentos mais apontados pela teoria estão três características:

7“A compreensão da conduta humana possibilita conceber atitude como resultante de valores,
crenças, sentimentos, pensamentos, cognições e tendências à reação, referentes a determinado
objeto, pessoa ou situação. Desta maneira, o indivíduo, ao assumir uma atitude, vê-se diante de um
conjunto de valores que tendem a influenciá-lo” (KANAANE, 2017, p. 73).

13
conhecimento, não violência e também solução democrática. As diferenças entre as
idades, dos novos e dos velhos profissionais, também implicam na forma como estes
consideram a ética em seu desenvolvimento profissional. Ressalta-se aqui a
importância de considerar, também, as características relacionadas às identidades
geracionais:

Ao se fazer o reconhecimento das identidades geracionais, pode-se


compreender, por exemplo, a forma distinta com que antigamente e hoje
mulheres ou homens investem no projeto de constituir uma família ou de
construir uma carreira profissional; como são diferentes as formas de
perceber, sentir e agir de mulheres e homens que vivem em cidades
grandes em relação àqueles que vivem em cidades pequenas; a maior
facilidade com que os jovens encaram a tecnologia em comparação com os
mais velhos. (KANAANE, 2017, p. 148)

A característica conhecimento é um dos principais pressupostos que ajudam


a orientar a moral do indivíduo no momento em que ele está desempenhando a suas
funções de trabalho (GONÇALVES, 2007). O conhecimento acaba sendo um
balizador e um validador dos profissionais em toda a sociedade, com isso,
profissionais que possuam conhecimento validado pela sociedade acabam sendo
também apontados como indivíduos éticos e dotadas de moral importante diante de
todos.
Na medicina é possível observar que os indivíduos que atuam
profissionalmente nesta área acabam por utilizar do conhecimento obtido em sua
formação profissional, como uma forma de demonstrar seu valor para seus clientes e
pacientes. É comum, ao visitar um profissional médico em seu ambiente de trabalho,
deparar-se com inúmeros certificados e diplomas no local, pois essa é uma forma de
apresentar a sociedade que ele possui os conhecimentos necessários para o
desempenho daquela função em que se está sendo demandando.
A característica da não violência é outra que faz parte do rol de aspectos que
estão relacionados ao fato dos profissionais serem apontados como éticos para
sociedade em geral. A decisão do indivíduo de não fazer uso da violência em
situações de estresse em seu dia a dia transmite uma imagem de equilíbrio, que
permite à sociedade referendar as suas ações e tomadas de decisão como dotadas
de ética e moral. A não violência garante também que, em situações em que o
profissional estiver passando por um processo de coação, ou seja, caso ele esteja
sendo chantageado, ameaçado ou qualquer outro tipo de coação, ele não deverá ser
julgado por essas ações, já que as mesmas independeram de sua vontade
(GONÇALVES, 2007).
A terceira e última característica que possibilita que um profissional apresente
comportamentos éticos na sociedade se apresenta como solução democrática. Essa
característica apresenta que somente será possível ao indivíduo ter uma postura
ética em suas atividades profissionais, caso ele zele e lute pelos direitos humanos e
pela participação de todos nas decisões da sociedade de uma maneira geral.
Agregar uma postura democrática é, ao menos teoricamente, uma forma de garantir
que o profissional seja visto como ético pela sociedade de uma forma geral.
A definição de um padrão ético para ser aplicado no dia a dia de profissionais
é algo que ocorre a todo instante na sociedade, isso não se trata apenas de listar
diversas regras e regulamentos, mas apresenta-se como algo mais amplo e dotado
de grande responsabilidade. Toda a sociedade deve considerar que a ética no
ambiente empresarial dependerá, sobretudo, do “projeto e do desejo da organização
[...] o executivo precisa desejá-la, precisa acreditar na possibilidade de que dela
14
derivam princípios e valores que contribuam para a saúde inclusive financeira da
empresa e da comunidade” (GONÇALVES, 2007, p. 68).
Segundo Souza (2019, p. 6) o comportamento ético na sociedade é um objeto
material formal e também:

(...) é o ato humano, e seu objeto formal é a moralidade desse ato. Portanto,
a Ética lida com questões do bem, do direito, da justiça, da honestidade, da
transparência, da sinceridade e do bem comum. Segundo o dicionário
Aurélio, Ética é “o estudo dos juízos de apreciação que se referem à
conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do
mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto”.
Aristóteles afirmou que a finalidade da ética é promover o bem-estar. Disse
ainda que o estudo do bem tem natureza política e que mais importante que
o bem-estar do indivíduo é o bem-estar da coletividade. Ética diz respeito ao
comportamento humano voluntário livre. O comportamento ético não se
impõe: é uma adesão livre ao que se apresenta como bom, e não uma
submissão exterior a um conjunto de regras e proibições. Obviamente, na
maior parte dos casos, essa submissão é necessária, já que o
comportamento ético é também um comportamento legal, mas não se reduz
a ele. Em determinados casos, tratando-se de leis injustas, o
comportamento ético exige o descumprimento dessas leis.

Quando há a necessidade de se escolher entre dois profissionais, com


conhecimentos parecidos, com formações idênticas e que possuem as mesmas
condições de oferta dos serviços, a sociedade, de uma forma geral, tende a escolher
os indivíduos que apresentam uma postura ética clara e transparente, por isso, aos
profissionais se apresenta como condição necessária para o seu sucesso em sua
profissão que eles exponham, sempre que possível, que a ética faz parte do seu dia
a dia. A sociedade espera e cobra de todos os profissionais postura ética e que
estejam de acordo com os padrões esperados por todos, sendo assim, cabe aos
profissionais deixarem claro, sempre que possível, sua postura ética de forma
visível.
A compreensão da relação da ética e da profissão deve ser feita considerando a
época histórica, a visão de mundo que impera entre os sujeitos e também a relação
estabelecida entre política, economia, cultura na sociedade. Em relação aos
comportamentos éticos que se espera de em uma sociedade, temos que a solução
democrática (GONÇALVES, 2007).
Algumas profissões, por ínfimos motivos, possuem uma relação com a ética
mais estreita que outras. Por meio dos conselhos de classe, são estabelecidos
código de ética e de conduta que devem ser rigorosamente seguidos por todos os
profissionais que atuam nela. A existência de tais conselhos é uma forma
encontrada pela sociedade para que os profissionais possam ser punidos e, muitas
vezes, multados caso infrinjam alguma norma do código de ética da profissão
escolhida. Geralmente, para que ocorra um julgamento justo e transparente,
eventuais penalidades aos profissionais que optam por infringir normativas do código
de ética, ocorrem por meio de comissões formadas por outros profissionais da
mesma área. Sendo assim, os profissionais acabam sendo julgados através de seus
pares e de pessoas que conhecem a realidade de suas profissões.
Dentre esses profissionais, três chamam a atenção dada à grande quantidade
de profissionais que nelas atuam, bem como, graças a ênfase dos códigos de ética
dada a todos esses profissionais, a primeira é a profissão de advogado que tem o
código de ética elaborado pela Ordem do Advogados do Brasil e que possui grande

15
importância na definição do que se pode e não se pode quando na prestação de
serviço ligados a esta profissional.
O código de ética do advogado é um dos instrumentos profissionais mais
completos em relação aos preceitos éticos, segundo este código:

O advogado, no exercício de sua profissão, está diante de deveres


relacionados à sua conduta pessoal. Quando o advogado se forma é um
Bacharel em Direito e, sendo assim, assume compromissos indeléveis que
perduram por toda sua vida profissional. A priori, compromete-se em
obedecer e defender a ordem jurídica, cumprir integralmente a Constituição
e as Leis do País. Além disso, deve, obrigatoriamente, observar as regras
instituídas pelo Estatuto e pelo Código de Ética da Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB), onde estão estabelecidas as normas de conduta do
advogado e de seu relacionamento profissional, não somente com os
colegas de profissão, mas primordialmente com os clientes, com todas
autoridades constituídas e também com a comunidade em geral. (GAMA;
MENDONÇA; ALMEIDA, 2020, p. 51)

A segunda profissão se trata dos profissionais ligados à área da medicina.


Estes profissionais devem seguir rigorosamente o seu código de ética, bem como,
devem seguir o exposto pelo Conselho Federal de Medicina. A terceira profissão que
possui um apego ético muito grande, bem como possui também um código de ética
robusto e dotado de muitos preceitos e conceitos, trata-se da profissão de contador,
através do Conselho Federal de Contabilidade, esta profissão possui um robusto
código de ético que estabelece punições e multas a todos os profissionais que
optarem por infringir tais dispositivos.

2.2 Ética Empresarial na Sociedade

Os profissionais precisam apresentar uma postura ética que seja aceita e


referendada por toda a sociedade, sendo assim, torna-se natural também que as
organizações também sejam cobradas a apresentar uma postura que esteja dentro
das expectativas da sociedade de forma geral. Ultimamente, as organizações têm
sido responsabilizadas pelos impactos das suas ações perante a sociedade. Desse
modo esse tem sido um novo desafio aos gestores, de equilibrar as pressões por
lucro por parte dos acionistas e, também, das expectativas que são impostas pela
sociedade.
O avanço atual da sociedade impõe que as organizações ofereçam um
ambiente adequado aos seus colaboradores, pede, também, que elas apresentem
respeito ao aspecto legal que a sociedade impõe para suas atividades e que elas
respeitem o meio ambiente (SOUZA, 2019). O desenvolvimento de atividades
empresariais não pode, em hipótese alguma, entrar em choque com as expectativas
que a sociedade tem da organização. Portanto, ao buscar compreender as
organizações, devemos partir do pressuposto de que elas devem apresentar uma
postura adequada e de acordo com o que acionistas, colaboradores, clientes,
governo e sociedade espera delas. Segundo Souza (2019, p. 10), “a sociedade
consumidora tem consciência de seu papel, percebe e valoriza as ações adotadas
pela empresa e passará a consumir produtos feitos por quem atua com
responsabilidade”, sendo assim, é importante respeitar os desejos da sociedade
para que a organização possa aumentar suas receitas e obter lucros em suas
operações.

16
As organizações devem se preocupar em construir uma identidade própria e,
a esta identidade, elas devem buscar alinhar suas expectativas de negócios e os
anseios de todos seus stakeholders. A identidade da organização é composta pela
forma como ela atua na sociedade de forma geral, mas também de sua missão,
visão e valores internos que acabam por considerar todas as especificidades que
envolvem o se negócio.
A cultura organizacional faz parte da construção da identidade da organização
que, por sua vez, acaba por influenciar muito o desenvolvimento da ética na
sociedade, sendo assim, o estudo da ética passa pela compreensão de todo o
aspecto cultural que cerca o indivíduo. A alta competitividade, que começa desde
quando criança e avança com o passar do tempo, acaba impregnando a cultura
escolar, social e também a cultura empresarial.
As organizações têm enfrentado um ambiente de grande competitividade,
sendo assim, há a necessidade de se estabelecer vencedores e perdedores no
campo da concorrência empresarial, portanto, isso acaba influenciando que algumas
organizações acabem tomando decisões ou adotando padrões de comportamento
longe da ética que lhes é esperada. Um ambiente de grande competitividade é
aquele em que, segundo La Taille (2009, p. 172), “o ‘vencedor’ não é apenas quem
se dá bem na vida, mas quem se dá melhor que os outros. E quem são os
‘perdedores’? Ora, são justamente esses outros e, evidentemente, aqueles que
estão excluídos do mundo do trabalho”. Está realizada, por sua vez, acaba por
hierarquizar as pessoas dando maior ou menor importância as suas conquistas,
causando assim, um aumento da competitividade entre as organizações.
Em ambientes onde a figura dos “vencedores” e “perdedores” são frequentes,
temos que a individualidade impera sobre a coletividade, portanto, as decisões
acabam sendo tomadas de forma a garantir que “vencedores” continuem
prevalecendo, o que pode provocar injustiças e conflitos. Esse ambiente de grande
competitividade possibilita uma intersecção entre o que é ética individual e o que é
ética empresarial. Segundo Souza (2019, p. 12):

Não podemos esquecer que o ser humano é o principal agente das


empresas e que os princípios e valores de seus proprietários e dirigentes é
que criam a cultura da empresa. As empresas que desejam atuar de forma
ética terão de projetar essa atitude junto a seus stakeholders. As pessoas é
que atuam de forma ética. As empresas apenas espelham o caráter das
pessoas que desempenham suas atividades em nome dela. Decisões e
condutas inadequadas podem comprometer a própria empresa, gerando
prejuízos irrecuperáveis e desgastes de imagem. A constatação de que
ética assimilada e praticada pelos funcionários da empresa é o caminho
para se buscar a correção nas decisões é ainda muito recente.
Considerando que as empresas, na qualidade de pessoa jurídica, são
apenas figura do direito, reafirmamos que a ética está nas pessoas que
compõem a empresa. São elas que efetivamente agem e interagem, que
inferem e diferenciam o que é certo do que é errado sob a influência de
suas reais intenções ou escolhas. O discernimento do que é ético para com
a própria empresa é que determina se uma decisão está optando pelo que é
melhor para a empresa e não para quem está decidindo.

Santos (2019) aponta que, para compreender a ética empresarial, é


necessário criar compreender as suas duas dimensões. Estas, por sua vez, são o
resultado do conjunto de experiências corporativas, das vivências dos indivíduos e
das pesquisas realizadas pela academia.

17
As dimensões da ética empresarial se apresentam por meio de diferentes
aspectos do dia a dia das organizações, sendo assim, ela pode ser observada
também no processo de desenvolvimento, implantação e validação das políticas
institucionais. Considerar que a ética perpassa a forma como as organizações agem
e atuam é uma das formas que a sociedade encontra para cobrar das empresas e
de seus gestores a adoção de princípios éticos (SANTOS, 2019).
A ética corporativa pode ser observada por meio de duas dimensões distintas.
A primeira dimensão é a referente à abordagem, que se apresenta por meio da
sustentabilidade e do respeito à multicultura. Respeitar o meio ambiente é algo
esperado de todas as organizações, principalmente das que atuam explorando a
fauna e a flora nacional, portanto é esperado que as organizações desenvolvam
programas que visem repor tudo que elas extraem da natureza.
O comportamento ético da organização ganha cada vez mais importância na
análise das organizações, principalmente quando se trata de organizações que por
suas particularidades estão mais expostas na mídia. Brandão et al. (2017, p. 21)
afirma que “não há dúvidas quanto à importância de um comportamento empresarial
ético, alinhado aos imperativos legais e regulatórios, ao respeito às boas práticas da
concorrência, à atenção com o respeito ao meio ambiente e aos costumes da
sociedade em que a empresa atua”.
O respeito à multicultura também é muito forte. Dada a miscigenação
presente na constituição do Brasil, é natural que as organizações tenham em seus
quadros de colaboradores pessoas de raças, religião e culturas diferentes, portanto,
elas devem respeitar e proporcionar o respeito cultural de todas as culturas em sua
estrutura, bem como, devem também se adaptar para atender clientes de culturas
diferentes. O respeito, segundo Brandão et al. (2017, p. 60), “é a conduta de
acolhida e consideração favorável à presença e à existência do outro; sua prática
inclui o cuidado para que nossas escolhas, decisões ou atos não o prejudiquem”.
A segunda dimensão é a dimensão operacional e do desenvolvimento da
organização. Ela está relacionada a três itens específicos: aprendizado contínuo,
inovação e governança corporativa (SANTOS, 2019). A sociedade muda, as
tecnologias evoluem e as pessoas alteram seus gostos e costumes, portanto as
organizações devem acompanhar esse ambiente em constante mudança para que
possam se adaptar as necessidades de colaboradores e clientes. Sendo assim, as
organizações precisam estar em constante desenvolvimento para que possam
atender as mudanças impostas pelo seu ambiente.
A inovação possui intrínseca relação com a qualidade8 ofertada, fazendo
parte, também, da dimensão operacional e do desenvolvimento da organização. Ela
é importante para que as empresas que desejam melhorar seu desempenho possam
se adequar aos anseios de seus clientes e do mercado (SANTOS, 2019). A inovação
ganha grande importância no desenvolvimento organizacional, pois a partir dela é
que se torna possível à empresa oferecer novos produtos e serviços. Segundo
Kanaane (2017, p. 110):

Essa afirmação está estreitamente relacionada com os objetivos da


empresa que são: buscar constantemente informações junto ao mercado e
desenvolver inovações e tecnologias com o intuito de oferecer alternativas
que atendam cada vez mais às necessidades e expectativas dos viajantes.

8Pode ser que você acredite firmemente em oferecer a maior qualidade possível para seus produtos
com uma boa dose de inovação, mas em virtude de crises econômicas e diminuição nas receitas,
você se veja obrigado a trabalhar com preços mais baixos – mesmo sabendo que se cobrasse mais,
poderia oferecer produtos melhores (BRANDÃO et al., 2017, p.81).

18
Desse modo, percebe-se que, apesar de os colaboradores não saberem de
forma clara a missão da organização, conhecem os objetivos da
organização e entendem que esta deseja ser uma empresa inovadora no
seu segmento, ganhando destaque dentre as concorrentes. Por ser uma
empresa consolidada e com grande número de franquias, vários negócios
são realizados, o que gera uma movimentação no mercado de viagens e
afeta inúmeros stakeholders da empresa. Partindo para uma compreensão
da dinâmica interna da organização, buscando compreender a
produtividade da equipe, os colaboradores afirmam trabalhar com alta
produtividade, pois respondem a uma grande quantidade de solicitações por
dia, e, portanto, precisam ser ágeis nas respostas. Contudo, quando
dependem de respostas de terceiros (fornecedores) para executar suas
tarefas, a produtividade diminui, visto que os fornecedores também estão
com excesso de trabalho, gerando um círculo vicioso.

Para que as organizações possam atender a esta dimensão, elas deverão


repensar constantemente programas e processos sempre que possível,
reinventados para que possam atender as necessidades de todos os stakeholders
que possuam algum tipo de relação com a organização.
Dentre os processos de inovação que a organização pode implementar, o
desenvolvimento de novos de produtos e serviços é uma das mais utilizadas, outra
questão que pode ser promovida pelas organizações é a implantação de estratégias
de inovação que devem se espalhar por todos os departamentos, bem como deve
integrar o esforço que lida com a cultura organizacional. Brandão et al. (2017, p. 19)
apresenta que “todo esse esforço exige reflexão para alcançar avanços profundos
de atitude, conduta e cultura organizacional, pois será inútil se nada mais
representar que outro estágio da governança meramente formal”.
A inovação acabou se tornando algo capaz de nortear as ações de pessoas e
organizações na sociedade atual. O aumento da competitividade somado ao avanço
tecnológico tem provocado uma série de mudanças nos paradigmas organizacionais
nos últimos anos. A liderança possui grande importância em relação à criação de
organizações inovadoras, pois “constatou-se que os colaboradores consideram que
seus gestores são democráticos, flexíveis, atenciosos e estão sempre abertos a
diálogos, e esses colaboradores sentem-se sempre convidados a participar com
suas ideias sobre a empresa” (KANNANE, 2017, p. 111).
A busca por criar o novo e recriar o velho tem sido frequente em todas as
organizações, portanto cabe aos gestores buscarem formas de buscar um ambiente
de inovação constante, atendendo os anseios da economia e também os preceitos
da boa gestão (BRILLO; BOONSTRA, 2019).
O terceiro item que faz parte da dimensão operacional e de desenvolvimento
trata da governança corporativa, esse item auxilia os gestores a tornar claros e
transparentes a forma como a organização realiza seus processos internos e
externos, como ela estabelece suas políticas comerciais, como ela organiza os seus
regulamentos e como tratam a ética dentro de suas operações, sendo que algumas,
chegam até a possuir códigos de ética interno9.

9A cada dia novas empresas lançam seus respectivos Códigos de Ética e criam comitês ou conselhos
responsáveis por salvaguardar a adoção e a prática de atitudes éticas. Não existe receita para
elaborar um código de ética, visto que cada empresa tem sua maneira de atuar no mercado, o que
abrange os próprios valores, sua cultura e seus conceitos. Por isso, não se pode simplesmente copiar
o código de ética de outra organização. Também “é recomendável que o código seja revisto e
atualizado periodicamente, com base no histórico de ocorrências verificadas na própria empresa, de
modo a torná-lo cada vez mais abrangente e condizente com a própria cultura organizacional. Não se

19
Para Brandão et al. (2017, p. 20):

A governança corporativa vem sendo, e deverá continuar a ser, um assunto


bastante discutido e, entre os temas de que trata, os dilemas e desafios da
integridade empresarial devem receber atenção especial neste momento em
que o assunto compliance (conformidade) ocupa crescente espaço no
noticiário e nas agendas das empresas brasileiras. Entretanto, há o risco de
se concentrar o foco sobre as ferramentas, processos de “blindagem”,
mecanismos de segurança e esquecer o que foi, e continua sendo, o
fundamental: a falta de uma verdadeira cultura ética em muitas
organizações, tanto empresariais quanto nas instituições do poder público,
inclusive na relação entre elas.

Segundo Souza (2019, p. 11), “o conceito de Governança Corporativa


incorpora a questão da sustentabilidade e implica a relação com todos os públicos:
internos e externos”. Sendo assim, as organizações que possuem governança
corporativa, são dirigidas, administradas e controladas considerando boas práticas
de gestão, bem como, considerando preceitos éticos estipulados pela sociedade
(SANTOS, 2019). Atualmente é necessário “compreender todo esse panorama e
implementar as boas práticas de gestão por meio de um modelo sustentável
baseado em diretrizes estratégicas e atreladas ao plano de negócios, com o objetivo
de potencializar o valor da empresa” (BRANDÃO et al., 2017, p. 130).
A necessidade de as empresas acompanharem as tendências sociais, faz
com que elas estejam sempre atentas aos questionamentos éticos que surgem por
meio da sua atividade. Dentre as principais mudanças na forma como a sociedade
tem atuado Barbosa (2011, p. 42) apresenta os seguintes:

[...] as novas necessidades e possibilidades que foram incorporadas ao


nosso cotidiano, como acesso à escolaridade, à informação, ao emprego,
aos progressos da medicina e aos meios de locomoção mais rápidos; a
ampliação de nossa visão de mundo, decorrente do maior acesso à
informação, por meio de diferentes mídias, e da possibilidade de viajar a
lugares mais distantes e em menor tempo (ainda que virtualmente); a
progressiva transformação da natureza pelo ser humano, devido a
descobertas científicas, à exploração de novas matérias-primas, às obras de
engenharia, ao desenvolvimento do turismo até lugares antes preservados e
até há pouco intocáveis, entre outros motivos; a luta, por meio dos diversos
movimentos sociais, de pessoas que foram ou ainda são excluídas da
cidadania plena; a exposição maior do indivíduo, com relação à sua
identidade e privacidade, devido aos meios de comunicação e técnicas de
informação que podem construir e destruir sua imagem pessoal.

A necessidade de atender as necessidades da sociedade é constante,


considerando que as mudanças são muitas, e isso impõem um grande desafio aos
gestores e as organizações. Segundo Santos (2019, p. 89), “a sociedade está em
constante evolução e a ética é resultante dessa sociedade, portanto é comum
surgirem novas demandas e devemos nos adaptar a elas. Uma falta de postura ou
de ação da empresa pode levar até a uma crise ou desgaste na imagem do produto
ou da instituição”.
As mudanças necessitam de um ambiente específico para que possam
ocorrer, sendo assim, é importante considerar que:

trata de um manual de procedimentos operacionais, nem deve estar voltado apenas para compliance,
ou seja, procedimentos de controle top-down na estrutura hierárquica” (SOUZA, 2019, p. 15).

20
[...] a sociedade civil, no âmbito da cidadania, deverá ter uma atitude de
engajamento na busca da solução dos problemas nacionais, organizando-
se de forma a efetuar o controle social sobre as atividades exercidas pela
administração pública. Essa nova atitude de comprometimento e ação por
parte da sociedade civil, demandando produtividade e economicidade do
serviço público, pressupõe a existência de transparência e prestação de
contas por parte dos agentes públicos (BRANDÃO et al., 2017, p. 153).

A velocidade das mudanças também impacta e traz complexidade à gestão


das organizações. Para Souza (2019, p. 10), “a velocidade da informação existente
no mundo atual vem tornando a sociedade cada vez mais consciente e participativa.
O senso crítico mais apurado, a noção dos direitos individuais, a constatação de que
pessoas satisfeitas e valorizadas produzem mais e melhor”.
Esse ambiente de grandes desafios faz das organizações interessante campo
de estudos para a ética empresarial. Sendo assim, estudos acadêmicos devem se
debruçar diante do ambiente empresarial para buscar compreender como a ética
organizacional é influenciada pela sociedade e, principalmente, como as
organizações acabam ajudando a mudar o ambiente ético da sociedade.

3. RELAÇÕES INTERPESSOAIS: INDIVUALISMO E COLETIVIDADE

O ser humano é um ser sociável e que encontra na coletividade a melhor


forma de apresentar suas necessidades, anseios e talentos. A interação humana
vem sendo estudada por diversas ciências, desde as biológicas até as sociais
aplicadas, portanto, existe uma enorme quantidade de materiais produzidos a
respeito deste tema e que permite a todos os interessados alguns interessantes
insights sobre as relações interpessoais. Os indivíduos nas “organizações participam
de uma grande variedade de inter-relações. Seu trabalho pode exigir que se
associem entre si como parte regular do desempenho do trabalho” (WAGNER,
HOLLENBECK, 2020, p. 199).
A sociedade é um ambiente de grandes desafios, por isso pessoas e
organizações precisam aprender a lidar com esses desafios em seu dia a dia. Aos
estudiosos sobre a ética empresarial, resta a tarefa de se debruçar diante do
ambiente empresarial para buscar compreender como a ética organizacional é
influenciada pela sociedade e, principalmente, como as organizações acabam
ajudando a mudar o ambiente ético da sociedade (TIMOTHY, 2015). Estudar a ética
e as relações interpessoais é se torna importante, pois permite a todos os
interessados alguns interessantes insights sobre como a sociedade tem evoluído
com o passar dos anos.
A característica de sociabilidade que é inerente do ser humano faz com que
ele constantemente esteja interagindo com outros, participando de grupos e
necessite sempre buscar formas de interagir e copiar comportamentos de outros
indivíduos. No ambiente de trabalho, vários são os fatores que influenciam as
relações humanas dentro das organizações, dentre esses fatores, o cargo 10 que
cada um ocupa é um agente influenciador das relações e, também, das interações
que são desenvolvidas pelos indivíduos no ambiente organizacional.

10“Em relação aos cargos a maioria não leva em conta as características pessoais de seus ocupantes
ou os ambientes complexos e dinâmicos nos quais os trabalhos devem ser executados. Assim,
quando uma pessoa começa a fazer um trabalho, geralmente se evidencia que tarefas omitidas da
descrição do cargo precisam ser executadas para que o papel seja desempenhado com sucesso”
(WAGNER; HOLLENBECK, 2020, p. 199).

21
Segundo Wagner e Hollenbeck (2020, p. 199):

O cargo é uma posição formal e, geralmente, vem acompanhado de uma


declaração escrita das tarefas que devem ser executadas. Essas
declarações por escrito são chamadas descrições de cargos e em geral são
preparadas por gestores ou especialistas em análise e descrição de cargos.
Quando essas descrições são utilizadas, normalmente há uma dose
razoável de consenso inicial quanto ao que constitui os elementos fixos das
tarefas de um papel. Considerando que as descrições de cargos são
preparadas de antemão por pessoas que de fato não executam o trabalho,
muitas vezes elas são incompletas.

Em se tratando do comportamento ligado às relações interpessoais, uma das


principais formas de sociabilidade que o indivíduo faz uso para se tornar parte de um
grupo é buscar grupos de interesse e que ele se sinta parte, interagindo e
encontrando assuntos em comum.
O poder que os grupos de referência exercem sobre os indivíduos é chamado
de poder social, este, por sua vez, possui algumas características especiais:
referência, informação, legitimidade, expertise, recompensa e coercitivo. Os grupos
são importantes, pois “cada membro do grupo aprende observando os outros
membros ensaiar as habilidades e receber feedback sobre seu desempenho”
(RAYMOND, 2018, p. 198).
Estas características do poder social acabam influenciando muito a forma
como os indivíduos agem na coletividade, mas também influenciam a forma quando
eles estão sozinhos e agindo sem serem observados, portanto, o poder social
necessita ser estudado e compreendido, tanto no campo das relações pessoais
quanto no campo do comportamento macro-organizacional.

O comportamento macro-organizacional coloca foco no entendimento dos


“comportamentos” de organizações inteiras. As origens do comportamento
macro-organizacional podem ser atribuídas a quatro disciplinas. A sociologia
forneceu teorias de estrutura, status social e relações institucionais. A
ciência política ofereceu teorias de poder, conflito, barganha e controle. A
antropologia contribuiu com teorias de simbolismo, influência cultural e
análise comparativa. A economia forneceu teorias de competição e
eficiência. (WAGNER; HOLLENBECK, 2020, p. 7)

A participação em grupos sociais possui uma enorme importância na


formação do indivíduo, pois é natural observar que os indivíduos acabem replicando
comportamentos aprendidos nos grupos do qual fazem parte em situações do seu
dia a dia. O estudo de grupos sociais é importante, pois esse tipo de estudo ajuda a
compreender a sociedade de uma maneira geral, sendo assim, cabe a todos os
profissionais buscarem esse conhecimento (TIMOTHY, 2015).
Compreender como os grupos influenciam as relações e como tirar o melhor
desse conhecimento é uma tarefa de profissionais de áreas distintas, destacam-se,
aqui, os profissionais do campo das ciências sociais que objetivam compreender
como a sociedade evolui e para onde caminham. Destacam-se, também, os
profissionais ligados à área da psicologia que buscam conhecimentos através da
compreensão da mente humana, temos ainda, pedagogos e demais profissionais da
área da educação.
As ciências sociais é a ciência utilizada para compreender como este poder
social está constituído e como ele vem sendo utilizado na sociedade para direcionar
a forma como as pessoas agem e atuam em diferentes aspectos (TIMOTHY, 2015).

22
O poder social é dotado de uma série de características que o tornam complexo de
ser entendido.
A característica denominada de referência do poder social está associada
diretamente ao fato das pessoas seguirem e copiarem outras que elas admiram,
sendo assim é natural que pessoas que exercem grande admiração acabem por
influenciar as outras em vários aspectos da sua vida. No ambiente das
organizações, a referência também pode ser percebida, o denominado colaborador
padrão, que é tido pela estrutura organizacional, como o profissional modelo para os
demais. Esses trabalhadores, “que, aos olhos de seus colegas, desempenham muito
bem em sistemas de remuneração por produção, muitas vezes ganham títulos
pejorativos, como funcionário padrão” (WAGNER; HOLLENBECK, 2020, p. 227).
A imitação, a partir da referência, poderá ocorrer por meio da imitação de
gestos, estilos de vida e do consumo. Desse modo, os profissionais de marketing
exploram muito a característica da referência no poder social, ao se utilizarem de
artistas e esportistas para anunciar produtos e buscar aumento do consumo de
produtos específicos.
O poder de referência cria uma sensação, mesmo que fantasiosa, de que, ao
se assemelhar a um grupo, o indivíduo estará automaticamente possuindo as
características daquele grupo, o que tornaria possível estabelecer um marcador de
classe em relação a aquele grupo. Essa lógica do poder de referência pode ser
compreendida pela psicologia através da contribuição de Mancebo et al. (2002, p.
329):

A produção do capital simbólico serve, assim, como um marcador de classe,


contribui para a reprodução da ordem estabelecida e para a sua
perpetuação; produz formas materiais e concretas de poder; mecanismos
nem sempre perceptíveis e não raramente naturalizados. Em decorrência,
nas sociedades contemporâneas, boa parte da racionalidade das relações
sociais se constrói na disputa pela apropriação dos meios de distinção
simbólica, processo imerso nas práticas de consumo. Como os fluxos de
mercadorias são intensos, torna-se difícil uma avaliação do status ou da
posição na hierarquia conforme o uso ou porte de determinada mercadoria.
É neste contexto que o gosto, o julgamento e o conhecimento das
mercadorias assumem importância, auxiliando classes e frações de classe
na escolha dos bens, mecanismo que, por seu turno, tem parte ativa na
recomposição das hierarquias e diferenciações sociais.

O poder da informação11 também possui grande influência na constituição do


poder social nas relações interpessoais. Geralmente as pessoas buscam se
informar, seja por meio de estudos ou acesso às informações em locais específicos,
para que possam encontrar grupos em comum. Dentre os exemplos que temos mais
comuns, podemos citar o caso do público que possui interesse em conhecer
assuntos relacionados ao setor de moda. É natural que esse grupo vá buscar se
relacionar com grupos que possuam o mesmo interesse que eles, e para se informar
sobre o que está acontecendo neste setor, ele deverá buscar informações em
revistas, sites, participará de eventos sendo todos relacionados ao setor de seu
interesse.

11“Na Era da Informação, o emprego está se tornando cada vez mais flexível, mutável, parcial e
virtual. Daí a necessidade de ocupabilidade, ou seja, a capacidade de manter uma atualização
profissional intensiva e constante que assegure flexibilidade, oportunidades de carreira, projetos e
tarefas dentro ou fora da organização” (CHIAVENATO, 2014, p. 22).

23
Os indivíduos têm acesso à informação a todo o momento, com o atual
avanço da tecnologia é possível receber informações sobre diferentes assuntos de
diferentes formas. Segundo Lisboa (2000, p. 7), “assistir à televisão, falar ao
telefone, movimentar a conta no terminal bancário e pela internet, verificar multas de
trânsito, comprar discos, trocar mensagens com o outro lado do planeta, pesquisar e
estudar são hoje atividades cotidianas, no mundo inteiro e no Brasil”.
A sociedade da informação está à disposição de todos, alguns com maior
acesso e outros com menor acesso devido às condições financeiras, entretanto, há
informações disponíveis a todos e que cada vez mais tem sido utilizada por pessoas
e organizações para encontrar grupos de interesse e aumentar o seu poder social. A
sociedade da informação cria ambientes em que os indivíduos se informem e
conheçam um pouco de tudo, sendo assim, a informação passa a transitar com
maior velocidade. Na Era da Informação, “estão predominando ativos intangíveis e
bens intelectuais. A era do tijolo e do concreto está cedendo lugar para uma nova
era de ideias e concepções. O capital intelectual está em alta" (CHIAVENATO, 2014,
p. 15).
A terceira característica do poder social está relacionada ao poder legítimo,
pois, nas relações sociais, diversos tipos de profissionais dispõem desse tipo de
poder por possuírem conhecimento específico em sua área de atuação. As
organizações por sua vez reconhecem esse poder e fazem uso dele em suas
campanhas de marketing, dentre os mais utilizados, destacam-se as campanhas de
creme dental que invariavelmente trazem um dentista referendando determinados
benefícios que uma marca afirma trazer aos seus consumidores.
O indivíduo tornado referência na sociedade deve considerar que todo seu
conhecimento “técnico e profissional é balizado e direcionado sob uma égide de
responsabilidade humana e social, onde cada decisão, conselho ou consideração
leva em conta a condição da humanidade dentro do contexto social” (KANAANE,
2017, p. 8). Sendo assim, ele possui uma responsabilidade em relação a esta
confiança que a sociedade deposita em sua pessoa e, principalmente, em seus
conhecimentos. O poder exercido pela referência, conforme Chiavenato (2014, p.
231), apresenta:

[[...] é o poder baseado na atuação e no apelo. O líder que é


admirado por certos traços de personalidade desejáveis possui poder
referencial. É um poder popularmente conhecido como carisma. O
poder de referência emana da admiração e do desejo de se parecer
com o líder. Assim, o poder de coerção, de recompensa e o
legitimado decorrem da posição ocupada na organização, enquanto o
poder de competência e o de referência decorrem da própria pessoa,
independentemente de sua posição na organização.

Em uma sociedade as pessoas que tendem a ser referência em um


determinado setor são aquelas que mais estudaram sobre ele, sendo assim, a
sociedade de uma forma geral acaba garantindo a estas pessoas uma importância
maior em relação às outras, o que desperta uma instantânea admiração por parte
dos demais indivíduos. Importante ressaltar ainda que, ao tornar ou buscar
referência em alguém sobre determinado assunto, o indivíduo deverá garantir que os
conhecidos apresentados são válidos e dotados de cientificidade, de modo a evitar
tornar referência pessoas que não dispõem de conhecimento verdadeiro.
O poder de referência é definido como um dos únicos capazes de tornar um
indivíduo líder em qualquer tipo de ambiente. De acordo com Chiavenato (2014, p.
231), “a verdadeira liderança decorre do poder de competência ou do poder de

24
referência do líder, ou seja, ela se baseia na pessoa do líder. O que caracteriza a
verdadeira liderança é a capacidade efetiva de gerar resultados por meio das
pessoas”.
A quarta característica do poder social é o poder de expertise12. Esse tipo de
poder funciona de forma muito aproximada com o poder legítimo, porém, aqui o
poder é derivado de um conhecimento específico que uma pessoa tenha e que seja
útil em uma determinada, sendo assim, um sujeito é elevado a condição de detentor
de um conhecimento muito específico e que é demandado. Um exemplo muito
comum da expertise é o uso por uma montadora de automóveis que contrata um
piloto profissional para que lhe ajude a projetar algum de seus veículos.
A recompensa é a quinta característica do poder social. Ela ocorre quando
uma pessoa ou um grupo social possui meio de recompensar alguém por seu ato.
Em geral, essa característica garante que determinados comportamentos do
indivíduo sejam recompensados, permitindo, assim, que ele condicione suas
relações interpessoais de forma a garantir essas recompensar. Diversas pesquisas
já foram realizadas com o interesse de demonstrar a importância das recompensas e
também das punições, na forma de condicionar os comportamentos humanos e as
relações interpessoais. Segundo Skinner (1983, p. 50):

A punição pode eliminar comportamentos inadequados, ameaçadores ou,


por outro lado, indesejáveis de um dado repertório, com base no princípio
de que quem é punido apresenta menor possibilidade de repetir seu
comportamento. Infelizmente, o problema não é tão simples como parece. A
recompensa (reforço) e a punição não diferem unicamente com relação aos
efeitos que produzem. Uma criança castigada de modo severo por
brincadeiras sexuais não ficará necessariamente desestimulada a continuar,
da mesma forma que um homem preso por assalto violento não terá
necessariamente diminuída sua tendência à violência. Comportamentos
sujeitos a punições tendem a se repetir assim que as contingências
punitivas forem removidas.

O estudo das recompensas e das punições é importante para a compreensão


de como é possível condicionar o comportamento humano em diferentes situações.
Sendo assim, “treinar, ensinar, ’facilitar a aprendizagem’, desenvolver competências,
usando conhecimentos parciais sobre aplicações de incentivos, sistemas de
recompensa e até mesmo controle aversivo” (MOREIRA, 2019, p. 10) é comum para
todos que pretendem compreender como o comportamento humano pode ser
condicionado e como os reflexos podem surgir. Em relação ao sistema de
recompensas, Chiavenato (2014, p. 132) afirma que:

O termo satisfação é usado para analisar os resultados já experimentados


pela pessoa. Assim, a satisfação é uma consequência das recompensas e
punições ligadas ao desempenho passado. A pessoa pode ficar satisfeita ou
insatisfeita com o comportamento, com o desempenho e com as relações
de recompensa normalmente existentes. Contudo, motivação e satisfação,
embora sejam conceitos relacionados entre si, não são sinônimos. A
motivação relaciona-se com o comportamento voltado para o alcance de
metas ou de incentivos. A satisfação é uma decorrência do êxito alcançado
nesse processo motivacional.

12 “Quando a organização decide construir competências pelo treinamento e desenvolvimento, a


chave do sucesso está́ em proporcionar experiência e expertise que focalizem diretamente o
diferencial (gap) de competências” (CHIAVENATO, 2014, p. 93).

25
A sexta característica ligada ao poder social é o poder coercitivo, que é o
responsável por envolver aspectos como intimidação, ou ainda, haver pressões
sociais para que o indivíduo adote comportamentos agressivos13 esperados em suas
relações interpessoais.
No marketing, por exemplo, o comportamento agressivo por parte de alguns
vendedores, ou ainda, a estratégia de insistentes ligações de telemarketing é
considerada como uma forma de poder coercitivo, porém, cada caso deve ser
analisado separadamente.
Toda e qualquer organização que pretende se comunicar com determinado
perfil de público, deve primeiramente saber qual a identidade social que parte
daquele público comunga, quais suas principais referências, bem como, quais as
influências que eles utilizam para decidir quais produtos consumir. Ao buscar
compreender como os indivíduos estabelecem suas relações interpessoais, os
estudiosos do comportamento humano almejam encontrar padrões que tornem
possível as complexas tarefas de prever como indivíduos se comportarão em
diferentes situações (MOREIRA, 2019).
A modelagem de comportamento é uma técnica que vem sendo amplamente
utilizada para direcionar os indivíduos a comportamentos esperados. Sendo assim, é
necessário conhecer como um comportamento se modela e como influenciar o
mesmo, para que assim seja possível condicionar as relações humanas. Segundo
Martin e Pear (2018, p. 69), a modelagem de comportamento pode ser definida:

[...] como o desenvolvimento de um novo comportamento operante pelo


reforço de sucessivas aproximações deste comportamento e pela extinção
das aproximações anteriores, até que o novo comportamento ocorra. A
modelagem é referida às vezes como método de aproximações sucessivas.
Os comportamentos que um indivíduo adquire ao longo da vida se
desenvolvem a partir de diversas fontes e influências. Às vezes, um
comportamento novo se desenvolve quando um indivíduo manifesta algum
comportamento inicial e o ambiente, então, reforça discretas variações
nesse comportamento. Depois de um longo período, esse comportamento
inicial pode ser modelado, para que a forma final seja diferente.

A classe social é outro fator externo que ajuda a agrupar as pessoas em


grupos, permitindo que as organizações direcionem seus esforços de marketing para
eles, sabe-se que a disposição para compras das pessoas está associada
intrinsecamente à sua disponibilidade financeira.
As organizações sabem que, muitas vezes, o consumo de um determinado
produto ou marca auxilia a reforçar o status social daquele indivíduo perante a sua
classe social, ou ainda, a classe social que ele pretende integrar. O estilo de vida
também é algo influenciado pela classe social do consumidor, pois vai impactar
diretamente nos padrões de consumo dele, além da forma como gasta seu tempo.

3.1 Fatores que influenciam as relações interpessoais

A contribuição que os estudos sobre as relações interpessoais apresentam


sobre toda a sociedade tem garantido diversas possibilidades de conhecimentos

13Há também sinais de comportamento agressivo entre os funcionários, os quais muitas vezes se
veem sem uma diretividade (definição de objetivos), deixando-os vinculados a padrões
comportamentais aleatórios, na medida em que a opção pela realização das tarefas (KANAANE,
2017, p. 46).

26
oriundos das ciências sociais. A psicologia social tem contribuído nesses estudos
com uma abordagem abrangente das relações interdependentes entre homens e o
trabalho que eles excutam, entretanto, outras ciências também têm contribuído, tais
como, “Sociologia, Antropologia, Ciência Política têm contribuído de forma
acentuada para a compreensão do fenômeno qualidade de vida. Essas ciências
trazem como proposta a compreensão do homem e dos grupos sociais” (KANAANE,
2017, p. 51).
A identificação dos mecanismos presentes nos diferentes campos de estudos
permite compreender as relações interpessoais com um complexo campo ainda a
ser descoberto por todos. Dentre os estudos disponíveis que ainda precisam ser
mais bem elaborados, existem os rótulos sociais e a forma como eles influenciam
nas relações humanas. Segundo Martin e Pear (2018, p. 5):

[...] termos como honesto, despreocupado, aplicado, não


confiável, independente, egoísta, incompetente, gentil, gracioso, insociável
e nervoso são rótulos para ações humanas; contudo, não se referem a
comportamentos específicos. Por exemplo, se você descrever um homem
como nervoso, poderiam entender, de modo geral, o que você quer dizer.
Entretanto, não se sabe se você se refere à tendência daquele homem de
roer as unhas com frequência, ao fato de ele ficar se mexendo
constantemente enquanto permanece sentado em uma cadeira, à tendência
dele de exibir tique nervoso no olho esquerdo quando fala com alguém do
sexo oposto, ou algum outro comportamento.

Compreender como os rótulos influenciam nas relações interpessoais


contribui para que indivíduos possam melhorar o seu comportamento, propiciando,
assim, melhores condições nas relações humanas. Esses termos psicológicos são
“categorias descritivas de comportamentos em diferentes níveis de análise, de modo
que os comportamentos sob os rótulos de personalidade, emoções, vontade, desejo
e impulso precisam ser analisados funcionalmente, como qualquer outro”
(MOREIRA, 2019, p. 195). Por isso, auxiliam na compreensão sobre as relações
humanas nos diferentes ambientes.
Os rótulos possuem grande influência na forma como as relações
interpessoais ocorrem, entretanto, outros fatores também influenciam a forma como
os indivíduos agem na sociedade. Existem quatro fatores que influenciam o
comportamento humano: demográfico, psicológico, social e cultural. Estes fatores
ajudam a condicionar o comportamento humano sob diversos aspectos, entretanto,
dada a complexidade que envolve o assunto, não podem ser apontados como os
únicos fatores capazes de influenciar o comportamento dos indivíduos.
O estudo da demografia faz parte das atividades do profissional de marketing
para identificar a dinâmica social de alguma população. Os aspectos demográficos
acabam por identificar características como: tamanho, estrutura, como ela está
distribuída, natalidade, gênero, ciclo de vida, fecundidade, distribuição etária,
distribuição étnica, migração, produção econômica, produção econômica, além de
possibilitar também a identificação de tendências de consumo a partir dos dados
levantados (BANOV, 2017). O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é
um dos órgãos que mais fornecem informações quantitativas e qualitativas a respeito
da população brasileira, portanto, esses dados devem ser utilizados na elaboração
da estratégia de marketing das organizações.
O fator psicológico também é conhecido como segmentação psicográfica, que
é o “estudo de vida de uma pessoa envolvendo o trabalho, o lazer, o que a pessoa
gosta de fazer, a classe social, a personalidade, suas crenças e atitudes que vão

27
formar um padrão de ações e interesses” (BANOV, 2017, p. 43). Dentre as
informações que fazem diferença, estão, por exemplo, se o consumidor prefere
morar no campo ou na cidade, qual o tipo de trabalho que ele possui, quais seus
tipos de lazer preferido e quais crenças e valores ele comunga. Banov (2017, p. 43)
afirma ainda que “do ponto de vista econômico, o estilo de vida de uma pessoa está
asso- ciado à maneira como ela usa o seu dinheiro e, mais ainda, à quantia que ela
direciona para as diferentes categorias de produtos”.
Os fatores sociais são primeiramente divididos em grupos primários e
secundários. Enquanto os primários são compostos por aqueles relacionamentos
que o indivíduo possui com família e amigos, sendo mais próximos e duradouros, em
que o poder da propaganda “boca a boca” acaba sendo muito importante
(MOREIRA, 2019). Os grupos sociais secundários são aqueles um pouco mais
distantes em se comparando com o outro, e que estão ligados à autoestima do
indivíduo, esses grupos podem ser ligados ao trabalho, clubes, igreja, escola,
universidade, entre outros.
Os fatores culturais são também influenciadores do comportamento do
consumidor, eles podem ser: valores, crenças, mitos, hábitos, rituais, normas e leis e
a linguagem (MOREIRA, 2019). Em relação aos valores, os profissionais de
marketing devem se preocupar em identificá-los para não ferir eles em suas
campanhas. Além disso, o marketing pode com suas campanhas reforçar os valores
e se aproximar ainda mais dos consumidores. Os fatores externos influenciam os
fatores culturais, pois, segundo Kanaane (2017, p. 42):

Devido à maior dependência de fatores externos, as organizações não


podem mais desprezar sua interdependência com os valores e processos
culturais inerentes aos indivíduos que as compõem, assim como sua própria
formação cultural. Há, contudo, algumas precauções que devem ser
adotadas pelas organizações, bem como pela sociedade brasileira, no
sentido de estabelecer mecanismos próprios para que consigam inserir-se
no mercado global sem, contudo, perder a especificidade que caracteriza o
Brasil e suas empresas.

As crenças são aquilo que o consumidor acredita mesmo não sendo real,
esse tipo de informação auxilia a compreender como o consumidor se comporta e
age. Os mitos são quando pessoas possuem grande credibilidade perante o público,
esse tipo pode ser interessante quando se anuncia um produto que precisa
representar segurança e confiabilidade, por exemplo, uma pessoa
reconhecidamente bem-sucedida anunciando um produto financeiro. Os hábitos são
aqueles comportamentos que já estão arraigados na rotina dos consumidores, um
exemplo é a necessidade de se tomar café da manhã todos os dias, empresas que
comercializam produtos que são utilizados nessa refeição, acabam se aproveitando
desse hábito para formular suas campanhas.
Os rituais possuem certa semelhança com os hábitos, eles, porém,
acontecem em grupo, um exemplo de ritual é reunir a família aos domingos, assistir
jogos de futebol com amigos, ou realizar confraternização com colegas do trabalho.
A linguagem14 é o último componente da cultura, ela pode ser compreendida
como os significados compartilhados pelos membros de uma cultura, essa

14 Na linguagem cotidiana, o indivíduo é desencorajado e desiste de tentar desenvolver um


comportamento adequado. Além disso, como a pessoa pode tentar fugir ou evitar aquele que
administrou a crítica e o ridículo essa pessoa perderá significativamente a potencial efetividade do
reforço (MARTIN; PEAR, 2018, p. 136).

28
linguagem deve ser a mesma utilizada nas campanhas que a organização promover,
pois, caso haja divergência entre o tipo de linguagem do grupo social e a utilizada
pela organização, a mensagem pode não ficar clara o suficiente gerando ruídos na
comunicação. Um fator importante a ser considerado sobre os fatores culturais15 é
que eles são transmitidos de geração em geração, portanto, eles possuem grande
influência da família, dos amigos e dos demais grupos sociais no quais os indivíduos
faz parte. A cultura ainda pode ser influenciada pelos meios de comunicação de
massa, governos, tecnologia e incorporação de novos hábitos (MOREIRA, 2019).
Um grupo social específico pode lançar comportamentos que têm o potencial
de se alastrar e contaminar toda a sociedade, sendo assim, o grupo do qual o
indivíduo faz parte tem o poder de influenciar o seu comportamento, assim como,
pode influenciar o comportamento de vários outros indivíduos. O relacionamento
interpessoal também é muito influenciado pela forma como os indivíduos atuam no
ambiente externo da organização. Segundo Kanaane (2017, p. 69):

O relacionamento interpessoal no ambiente de trabalho reflete o grau de


participação e colaboração dos envolvidos. As diversas interações:
indivíduo-indivíduo, indivíduo-grupo, grupo-organização, entre outras,
assinalam o estágio no qual a organização se situa. A valorização do
potencial humano é um processo contemporâneo, cujos resultados são
imprescindíveis para o efetivo desenvolvimento organizacional. Entretanto,
as relações que o homem estabelece no ambiente de trabalho, na maioria
das vezes, processam-se de maneira conflitiva e desestabilizadora. Há
fortes indícios de que o relacionamento chefe/subordinado se dê de maneira
contraditória e tensa.

O relacionamento interpessoal nas relações de trabalho impacta diretamente


os resultados das organizações. Desse modo, as mesmas devem elaborar
programas e projetos que contemplem esta temática entre seus colaboradores, para
que assim, seja possível tirar o máximo de vantagens e diminuir eventuais perdas
que possam surgir a partir do relacionamento interpessoal entre os colaboradores.
O relacionamento interpessoal também é muito influenciado pela forma como
os indivíduos atuam no ambiente externo da organização, esta é uma realidade
presente e evidente nos estudos científicos realizados sobre o tema. Os indivíduos
não conseguem isolar o seu comportamento ou apenas assumir um modelo mental
em um local, e logo depois se despir desse modelo mental e assumir outro em uma
situação diversa. Os diferentes ambientes em que as pessoas passam suas vidas
acabam acarretando um conjunto de experiências, sentimentos e formas de agir que
acaba por influenciar demais a sua atuação social (KANAANE, 2017).
Quando um indivíduo entra em uma organização para prestar serviços, ele
acaba carregando uma série de conceitos de outros ambientes. A partir disso, ele
assumirá também conceitos aprendidos na organização. Ele, portanto, influencia a
organização e por ela é influenciado (MOREIRA, 2019).
As equipes ou grupos de trabalho colaboram muito para que as pessoas
melhorem as suas interações no ambiente de trabalho. A elaboração de programas
e projetos que contemplem a melhoria do relacionamento interpessoal entre os

15 Hão de se considerar as influências da cultura, tanto em seu aspecto social quanto nas condições
estabelecidas pela própria organização, como fator fundamental na determinação das concepções
sobre o trabalho e na caracterização deste em respectivos momentos históricos da sociedade
industrial e pós-industrial. E é aí que fica ressaltada a importância da Antropologia nas organizações,
que propicia a compreensão do que conhecemos por cultura organizacional (KANAANE, 2017, p. 6).

29
colaboradores é constantemente apontada pelo setor de recursos humanos das
organizações como uma oportunidade para a melhoria do clima organizacional.
O relacionamento interpessoal é uma temática de grande importância entre os
colaboradores, para que assim seja possível tirar o máximo de vantagens e diminuir
eventuais perdas que possam surgir a partir do relacionamento interpessoal ruim
todos na organização (KANAANE, 2017).
Oferecer um bom clima de trabalho é uma ótima forma na qual as
organizações têm de buscar melhores resultados nas suas ações. Existem diversas
interações disponíveis entre as pessoas dentro de uma organização, dentre as
principais temos: indivíduo-indivíduo, indivíduo-grupo, grupo-organização, entre
outras, cada uma demonstra o estágio no qual a organização se situa.
Quanto maior a interação entre os indivíduos dentro de uma organização,
melhores serão os resultados que estes indivíduos proporcionarão a esta
organização. Sendo assim, os gestores precisam encontrar formas de integrar seus
colabores cada vez mais. A valorização dos indivíduos é uma das formas que as
organizações possuem de melhorarem as relações interpessoais no ambiente de
trabalho (MOREIRA, 2019). Os seres humanos possuem necessidades, segundo
teorias de motivação, como a teoria das necessidades de Maslow. Estas
necessidades se estendem desde as necessidades básicas como alimentação e
moradia, até as necessidades mais sofisticadas como a aceitação por grupos
sociais, sendo assim, as organizações têm um importante papel ao proporcionarem
a valorização dos indivíduos em seu ambiente de trabalho.
A valorização dos indivíduos pode ser considerada como um processo
contemporâneo, cujos resultados são imprescindíveis para o efetivo
desenvolvimento organizacional. Pessoas valorizadas e satisfeitas em seu ambiente
de trabalho tendem a oferecerem melhores resultados. Outra característica é que
pessoas valorizadas tendem a desenvolver melhores relações com seus colegas de
trabalho (CHIAVENATO, 2014). O departamento de recursos humanos das
organizações deve sempre que possível buscar a valorização dos trabalhadores,
nem sempre com aumentos de salários, mas em muitos casos atitudes simples já
apresentam bons resultados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As contribuições do estudo da ética e das relações interpessoais são


inegáveis a todos. Seja por meio da aplicabilidade destes estudos nas relações
individuais, ou ainda, por meio das contribuições nos ambientes organizacionais,
este tipo de estudo possui enorme potencial de contribuir para o desenvolvimento de
toda a sociedade.
Os valores que influenciam na postura ética dos indivíduos devem ser
considerados sob todos os aspectos possíveis, pois através é por meio deles que a
tomada de decisões e os comportamentos podem ser influenciados, impactando
diretamente se as pessoas desenvolverão os comportamentos éticos que são
esperados e almejados pela sociedade. As organizações possuem papel
fundamental na definição de suas políticas de gestão, por isso, ao elaborar tais
políticas, as organizações devem sempre buscar compreender o que a sociedade
espera dela, de seus produtos e quais impactos são aceitos ou não devido a sua
atividade.
Por fim, diante do propósito do presente artigo, visou apresentar uma ampla e
irrestrita abordagem das posturas éticas que são desenvolvidas na sociedade atual,

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bem como, elas influenciam a forma como os indivíduos atuam. Conclui-se, portanto,
que indivíduos e organizações possuem enorme responsabilidade na forma como
atuam na sociedade. Desse modo, os mesmos precisam mensurar as forças de suas
ações e buscar a minimizar sempre que possíveis eventuais impactos negativos.

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