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A INTERPRETAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA NO CTN

1. Interpretação necessariamente literal de certos institutos

Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre:


I - suspensão ou exclusão do crédito tributário;
II - outorga de isenção;
III - dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias.

Situações que configuram exceções a importantes regras tributárias.


O legislador não quis impedir a utilização de outros critérios.
A intenção é que tais institutos sejam interpretados estritamente, sem ampliações ou restrições.

Precedente do STJ afirmando a possibilidade de interpretação extensiva, mas não analógica


 Lei trouxe isenção de IR para portadores de cegueira.
 STJ: Entendeu ser possível compreender tanto a bilateral como a monocular.
 STJ: Excluiu a possibilidade de enquadrar a surdez.
 Conclusão: É compatível com o CTN a interpretação mais ampla, mas dentro dos significados literalmente possíveis.

Esse foi o posicionamento da ESAF

(ESAF/2010) DO disposto no art. 111 do CTN, “resultada não somente uma proibição à analogia, como
também uma impossibilidade de interpretação mais ampla” (ERRADO)

2. Interpretação benigna em matéria de infrações

Art. 112. A lei tributária que define infrações, ou lhe comina penalidades, interpreta-se da maneira mais favorável ao acusado, em
caso de dúvida quanto:
I - à capitulação legal do fato;
II - à natureza ou às circunstâncias materiais do fato, ou à natureza ou extensão dos seus efeitos;
III - à autoria, imputabilidade, ou punibilidade;
IV - à natureza da penalidade aplicável, ou à sua graduação.

Não existe qualquer concepção interpretativa apriorística para dirimir dúvidas em direito tributário.
Todavia, em matéria de infrações, existe a concepção apriorística: interpretação em favor do acusado (in dúbio pro reo).

A interpretação benéfica só é aplicada em caso de dúvida.


STJ: Não havendo divergência acerca da interpretação da lei tributária, não é cabível.
3. Princípios de Direito Público e Princípios de Direito Privado

REGRA: O direito tributário está sujeito aos princípios de direito público.

Mas é comum as normas constitucionais utilizarem conceitos de direito privado para definir ou limitar competências tributárias.
Ao utilizá-los, imagina o instituto conforme definido pelos privatistas. Assim, nessas situações, é possível a utilização dos
princípios de direito privado no direito tributário.

EXCEÇÃO: Os princípios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa da definição, do conteúdo e do alcance de seus
institutos, conceitos e formas, mas não para definição dos respectivos efeitos tributários (art. 109, CTN)

REGRA: A lei tributária pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado.

EXCEÇÃO: A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito
privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis
Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias (art. 110, CTN)

Ex: O CTN disciplina de maneira diferenciada a transação e a compensação, por não serem matérias utilizadas na CF.

Ex: A CF previa, no texto originário, uma contribuição sobre o faturamento, entendida como receita operacional. Foi editada uma
lei que ampliava a bc da COFINS e do PIS, definindo faturamento como a receita bruta, entendida como a totalidade de receitas.
O STF declarou a inconstitucionalidade da norma. No entanto, com a EC nº 20/1998, a CF prevê uma contribuição sobre receita
ou faturamento.

4. Princípio do pecunia non olet

Art. 118. A definição legal do fato gerador é interpretada abstraindo-se:


I - da validade jurídica dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes, responsáveis, ou terceiros, bem como da natureza
do seu objeto ou dos seus efeitos;
II - dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos.

Consequência: Os requisitos para que se considere válido um negócio jurídico sob a ótica do direito civil (agente capaz; objeto
lícito, possível, determinado ou determinável; forma prescrita ou não defesa em lei) são irrelevantes para se interpretar a
definição legal de fato gerador.
A INTEGRAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRINUTÁRIA

Lacuna ≠ Situação em que o legislador quis abranger determinadas situações e não outras.

Art. 108. Na ausência de disposição expressa, a autoridade competente para aplicar a legislação tributária utilizará
sucessivamente, na ordem indicada:
I - a analogia;
II - os princípios gerais de direito tributário;
III - os princípios gerais de direito público;
IV - a eqüidade.

Sequência taxativa e hierarquizada.


A lógica é ampliar a discricionariedade a cada passo.

Em nenhum caso se abandona a legalidade por completo:

§ 1º O emprego da analogia não poderá resultar na exigência de tributo não previsto em lei.
§ 2º O emprego da eqüidade não poderá resultar na dispensa do pagamento de tributo devido.

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