Você está na página 1de 15

A INFLUÊNCIA DO DESIGN DE INTERIORES NA MELHORIA DA

QUALIDADE DE VIDA DE IDOSOS PORTADORES DA DOENÇA DE


ALZHEIMER

RESUMO

Sabe-se que a população mundial de idosos vem crescendo em grande escala, segundo dados da
ONU, no ano de 2050, o número de pessoas com idade superior a 80 anos irá triplicar em
relação a 2007, passando de 137 milhões para 452 milhões. A previsão é que em 2100, pode
alcançar um número de 909 milhões de idosos. (ONU, 2019).Não obstante, a demência é uma
das doenças crônicas mais recorrentes, reconhecida por causar diminuição da eficiência
cognitiva, comprometendo as atividades físicas, funcionais e sociais dos indivíduos portadores.
Dentre as doenças mentais mais comuns no Brasil, está a Doença de Alzheimer (DA).
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALZHEIMER, s.d.)Diante disso, este estudo tem como
objetivo, identificar as possibilidades do Design de Interiores influenciar na melhoria da
qualidade de vida de idosos portadores da Doença de Alzheimer.O presente estudo será
realizado através de pesquisa bibliográfica e abordagem qualitativa. A análise de todo conteúdo
estudado permite concluir que, os autores são uníssonos em afirmar que o design de interiores
pode interferir de maneira significativa, na melhoria da qualidade de vida dos portadores da
doença de Alzheimer. 
Palavras-chave: Design de Interiores, Alzheimer, Idosos, Qualidade de vida.

INTRODUÇÃO
Sabe-se que a população mundial de idosos vem crescendo em grande escala,
segundo dados da ONU, no ano de 2050, o número de pessoas com idade superior a 80
anos irá triplicar em relação a 2007, passando de 137 milhões para 452 milhões. A
previsão é que em 2100, pode alcançar um número de 909 milhões de idosos. (ONU,
2019).

Segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,


2017), entre o ano de 2012 e 2016 o número de habitantes com idade igual ou superior a
60 anos, cresceu de 12,8% para 14,4%. Foi constatado um aumento de 16% na
população de idosos, modificando de 25,5 para 29,6 milhões. Já os dados divulgados
pela mesma organização em 2018, mostram que no ano de 2043, o Brasil terá em seu
percentual, um quarto de habitantes com mais de 60 anos. (IBGE, 2018)

Com o passar do tempo, o avanço tecnológico trouxe inúmeras mudanças em


diversas áreas, logo, houve uma facilitação do acesso à informação, o que gerou
progressos na prevenção de doenças, no uso de anticoncepcionais, e assim evitaram-se
muitas gestações indesejadas. Nesse aspecto, essas condutas, podem ter relação com a
diminuição de natalidade e o aumento da longevidade. (COLLE, 2017).

Colle (2017) acrescenta ainda que, tal progresso e a consequente longevidade


nem sempre é sinônimo de qualidade de vida, pois a senioridade traz consigo, na
maioria das vezes, alterações corporais, mentais e sensoriais, decorrente de doenças e
outras variações morfofuncionais.

Não obstante, a demência é uma das doenças crônicas mais recorrentes,


reconhecida por causar diminuição da eficiência cognitiva, comprometendo as
atividades físicas, funcionais e sociais dos indivíduos portadores. Dentre as doenças
mentais mais comuns no Brasil, está a Doença de Alzheimer (DA). (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE ALZHEIMER, s.d.)

Conforme a Associação Brasileira de Alzheimer (2019), ainda não existe cura


para a Doença de Alzheimer (DA), que se trata de uma doença degenerativa, que atinge
a região do cérebro, provocando demência, ou perda de funções como, memória,
atenção, orientação e linguagem. Além disso, é uma enfermidade que se agrava com o
passar do tempo. Quase todas as vitimas de DA são idosos. No mundo, cerca de 35,6
milhões de pessoas são portadoras de DA, e no Brasil, em torno de 1,2 milhão de casos.

Diversas áreas cientificas preocupam-se em desenvolver métodos que propiciem


melhor qualidade de vida aos idosos portadores de D.A., dentre as quais o Design de
Interiores. Para Pinheiro e Schwengber (2019) o Design de Interiores refere-se à
organização e ambientação de espaços, sejam eles residenciais ou comerciais.

Britto (2018) acrescenta que, o Design através do sua essência é capaz de atuar
na promoção de saúde através da criação de ambientes e produtos que proporcionem
bem estar e qualidade de vida aos usuários.
Diversos estudos demonstram a capacidade do Design de Interiores em
proporcionar mudanças significativas de vida em indivíduos portadores de D.A. Neste
sentido, Colle (2017), aduz que os portadores de doenças crônicas, sejam elas
Alzheimer ou similares, necessitam de maior atenção e cuidados, especialmente quanto
ao ambiente que eles habitam, pois, um ambiente projetado adequadamente, pode afetar
positivamente, propiciando ao sujeito desenvolvimento cognitivo, segurança, ergonomia
e potencialização da independência.

O envelhecimento populacional é um processo cada vez mais notado nos mais


diversos países. Nos últimos 100 anos fatores como avanços tecnológicos e medicinais
interferiram significativamente nesse processo (SOUSA; MAIA, 2014).

Conforme, Britto (2018, p.36), “As taxas de fecundidade, elevadas até os anos
40, declinaram progressivamente, como um reflexo das transformações apresentadas
pela sociedade brasileira”. O processo de mudança demográfico experimentado pelo
Brasil não se difere do ocorrido na Europa, apesar de cronologicamente diferentes.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (2019):

Um país é envelhecido quando 14% da sua população possui mais de 65


anos. Na França, por exemplo, este processo levou 115 anos. Na Suécia, 85.
No Brasil, levará pouco mais de duas décadas, sendo considerado um país
velho em 2032, quando 32,5 milhões dos mais de 226 milhões de brasileiros
terão 65 anos ou mais.

Não obstante, a lei n° 10.741/2003 que dispõe sobre o Estatuto do Idoso,


assegura que:

Art. 3o É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder


Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao
trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência
familiar e comunitária.

Neste sentido, dados da OMS (2005) revelam que as politicas públicas voltadas
para a saúde do idoso ainda são pouco efetivas, principalmente, em países em
desenvolvimento. A falta de ações abrangentes advindas do poder público faz com que
direitos da população idosa fiquem em segundo plano.

Neste contexto, o Ministério da Saúde (2019), estabelece que o perfil


epidemiológico é caracterizado por tripla carga de doenças, quais sejam: condições
crônicas predominantes, mortalidade elevada e morbidade.
Leão e Eulalio (2011), completam que o envelhecimento em uma sociedade em
que os avanços tecnológicos são tão velozes não é tarefa fácil. Pois, ao passo que as
novidades surguem tarefas anteriormente aprendidas tornam-se obsoletas. Em
consonância, Colle (2017) acrescenta que nem sempre o envelhecimento ocorre ladeado
por uma vida melhor. Pois, além das dificuldades já citadas, o número de idosos
atingidos por demências tem crescido substancialmente.

Adicionalmente, a Organização Pan-Americana da Saúde (2017) prevê que nos


proximos trinta anos a população mundial atingida por demencias ira triplicar. Segundo
a mesma instituição, além dos efeitos obvios que atingem a população afetada, há
também uma preocupação com aspecto financeiro, pois a previsão é que em 2030 os
gastos com o tratamento desse tipo de doença, chegue a US$ 2 trilhões.

As diversas mudanças ocasionadas pelo envelhecimento, trazem muitas


dificuldades ao idoso, o qual muitas vezes não está preparado para este novo cenário.
Colle (2017) afirma que, este quadro é agravado quando o estado e os familiares não
oferecem suporte ao idoso, este auxilio refere-se a aspectos psicológicos e adaptações
necessárias no meio físico em que o senil vive.

Tais mudanças são extremamente potencializadas quando o idoso apresenta


algum quadro de doença, dentre as enfermidades mais comuns, estão aquelas ligadas a
algum tipo de demência, neste sentido Sousa e Maia (2014, p. 194) afirmam que
“Segundo o relatório, em 2010, havia 35,6 milhões de pessoas com demência no mundo
e o Brasil ocupava a nona posição entre os países com o maior número de habitantes
vivendo com demência, com 1 milhão de portadores”.

Neste sentido dados da OMS (2017) revelam que “Na medida em que a
população mundial envelhece, a expectativa é de que o número de pessoas que vivem
com demência triplique até 2050, passando de 50 milhões para 152 milhões”. A própria
entidade revela que os efeitos deste tipo de doença são bastante nocivos aos idosos e
requer das autoridades competentes bastante atenção.

Não obstante, Rupp (2014) salienta que com o avançar da idade há uma maior
dependência do sistema público de saúde dos idosos, fato que é potencializado por
demências e doenças degenerativas. Isso requer um maior investimento governamental
e instituição de programas específicos de cuidados com o idoso.
Segundo a Associação Brasileira de Alzheimer (2019) a demência caracteriza-se
por diversas alterações relativas a memória, percepção espaço temporal, cognição,
habilidades ligadas a linguagem, dentre outras alterações.

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (2017):

Demência é uma síndrome caracterizada por diminuição progressiva da


capacidade cognitiva do indivíduo (que inclui memória, linguagem e
abstração, entre outros domínios), o que prejudica seu desempenho na
realização de atividades diárias. O indivíduo com demência torna-se, cada
vez mais, dependente de terceiros para a vida em sociedade e para seus
cuidados.

Corroborando com o exposto acima, dados da Associação Brasileira de


Alzheimer (2019), apontam que:

Os prejuízos, necessariamente, interferem com a habilidade no trabalho ou


nas atividades usuais, representam declínio em relação a níveis prévios de
funcionamento e desempenho e não são explicáveis por outras doenças
físicas ou psiquiátricas. Muitas doenças podem causar um quadro de
demência. Entre as várias causas conhecidas, a Doença de Alzheimer é a
mais frequente.

Conforme D’Alencar, Santos e Pinto (2010) o Alzheimer está entre as


demências cerebrais degenerativas mais identificadas, os próprios autores relacionam a
doença a perda de memória, isto porque, apesar de afetar outros aspectos, o não
funcionamento da memória impactará, por exemplo, na capacidade de aprender novas
situações e de estabelecer novas situações.

Para melhor compreensão o Ministério da Saúde (2019) define o Alzheimer


como a progressiva deterioração cognitiva e da memória causada por um transtorno
neurodegenerativo com manifestações neuropsiquiatrias e comportamentais.

Em consonância, a Associação Brasileira de Alzheimer (2019) define a doença


da seguinte maneira:

A Doença de Alzheimer é uma enfermidade incurável que se agrava ao longo


do tempo, mas pode e deve ser tratada. Quase todas as suas vítimas são
pessoas idosas. Talvez, por isso, a doença tenha ficado erroneamente
conhecida como “esclerose” ou “caduquice”. A doença se apresenta como
demência, ou perda de funções cognitivas (memória, orientação, atenção e
linguagem), causada pela morte de células cerebrais. Quando diagnosticada
no início, é possível retardar o seu avanço e ter mais controle sobre os
sintomas, garantindo melhor qualidade de vida ao paciente e à família.

Sousa e Maia (2014) concordam com o trecho supracitado ao afirmar que o


Alzheimer é uma doença que atinge a população idosa, na maioria dos casos. Os
afetados por esse distúrbio apresentam diversas dificuldades relacionadas a visão,
percepção e outros problemas com influências diretas no espaço em que vivem.

Apesar da grande prevalência da doença no mundo, os estudos sobre o assunto


ainda são escassos principalmente relacionados a sua causa e, consequentemente, a cura.
Sabe-se que a doença foi descoberta por Alois Alzheimer, médico alemão. O
diagnóstico da doença é realizado através de exames que descartem outras demências.
(DUARTE, 2018).

Nesse sentido, Colle (2017), acrescentam que atualmente a doença não possui
cura e que seu controle depende de medicação que tem a função de frear o avanço dos
sintomas, fazendo com que a progressão da doença seja mais lenta, a pesquisadora
destaca dois tipos de tratamento, o farmacológico e não farmacológico.

Caso progrida, retirar-se os sintomas se agravam e em conjunto com outras


manifestações da doença, como: alteração de humor, desalinho, apatia, embaraços nas
tarefas diárias, distúrbios da linguagem, agressividade e perambulação, levam o
paciente a um aumento do grau de dependência de terceiros, chegando à dependência
total em seu ultimo estágio. (SOUSA; MAIA, 2014)

Sobre tal dependência, percebe-se que:

Infelizmente na atualidade, a sociedade e o Estado não estão preparados para


tal realidade. Nem sempre há instituições suficientes e adequadas para
receber o idoso e portador do mal de Alzheimer, e quando estas se
encarregam disso, os preços nem sempre são acessíveis à família. Quando a
família assume a responsabilidade, existe a dificuldade de se adaptar com as
consequências que a doença traz, além de todas as mudanças necessárias –
tanto em relação a rotina, quanto ao ambiente físico para manter o cuidado e
atenção que o idoso exige. (COLLE, 2017, p. 24)

As famílias que possuem idosos portadores de DA preferem, muitas vezes,


envia-los para casas de repouso, asilos ou similares, alegam na maioria dos casos
incapacidade de cuidar dessas pessoas com necessidades especificas. Isto vai na
contramão do que demonstram na maioria dos estudos, pois idosos que não são privados
da convivência em seu lar apresentam, em grande parte das situações menor progresso
da doença. (DINIZ; MCAULIFFE, 2018)

É importante ressaltar que não se trata apenas da manutenção do idoso em seu


lar. Sobre o assunto, Colle (2017) discorre que o idoso portador de DA (Doença de
Alzheimer) necessita de cuidados adicionais quando comparados com outros idosos,
isto porque, devido os sintomas e manifestações da doença é necessário que aspectos
ligados a segurança e ergonomia sejam avaliados e se necessário adaptados. Não
obstante a própria autora afirma que o ambiente deve, além de propiciar conforto,
segurança e ergonomia, proporcionar ao idoso, possibilidades de interação com o
espaço.

Sobre o tema, Pascale (2002, p.45) analisa que:

A integração ao ambiente é importante na medida em que o indivíduo analisa


o mesmo, tendo como base o sentimento. Deve ser realizada com base em
valores como crenças e associações com experiências anteriores. Os
indivíduos acometidos de DA fazem parte de um grupo que necessita de um
ambiente organizado de forma diferente, para compensar seus déficits
cognitivos e para reforçar as suas capacidades e habilidades remanescentes.

Percebe-se, portanto, que idosos portadores de DA necessitam tanto quanto ou


até em maior escala de cuidados relativos ao ambiente em que vivem. Apesar disso, a
maioria dos estudos focam nos idosos portadores de necessidades especiais relacionadas
ao aspecto físico, sendo que portadores de DA precisam de ambientes especificamente
pensados e projetados em relação a suas necessidades (SOUSA;MAIA, 2014).

Pascale (2002, p. 24) completa que “Um ambiente adequado e seguro poderá
evitar acidentes que comprometam a condição física de indivíduo acometido de DA,
como também conflitos de ordem psíquica que podem advir de ambientes agitados e
confusos”.

Diversas áreas de estudo tem se ocupado em buscar alternativas que contribuam


para a melhoria da qualidade de vida de portadores de DA. Sabendo que os espaços de
convivência desta população tem fundamental importância no desenvolvimento ou não
da doença e ainda que um design adequado pode contribuir para melhoria de aspectos
como, conforto, ergonomia, dentre outros; surge uma importante relação entre o
designer de interiores e a criação de estratégias inovadoras para construção de um local
adequado para estes idosos (COLLE, 2017).

A pesquisa cientifica vem se fortalecendo para criação e desenvolvimento de


alternativas e soluções para os mais diversos problemas sociais seja qual for a área, é
fundamental que o profissional se preocupe em fornecer bem-estar e inclusão aos mais
diversos grupos. Estas alternativas devem atender não só a destruição de barreiras
impostas pelas condições decorrentes de doenças ou necessidades especiais, mas
também oferecer qualidade de vida a estas populações. Isto é, sem dúvida papel e perfil
de um profissional da área de design de interiores (DUARTE, 2018).

Dentre as diversas possibilidades de intervenção, sem dúvida, merece destaque a


questão da organização espacial, sobre o tema Sousa e Maia (2014, p. 201), esclarece
que:

Para um portador de DA um bom planeamento espacial é aquele que permite


que o usuário retenha suas habilidades e maximize sua capacidade de
orientação e locomoção. É importante manter o ambiente familiar e alterar
somente o que for necessário, focando em reduzir a confusão e incrementar a
memória.

Sousa e Maia (2014) complementam ainda que o planejamento deve envolver


aspectos ligados a escolha da composição do espaço interno e mobiliários, os quais
devem ter características que facilitem a locomoção do idoso, promovendo segurança e
consequentemente diminuir os riscos de acidentes. Além disso, outra importante
característica citada pela autora é que os ambientes devam ser intuitos.

Outro aspecto importante a ser considerado pelo profissional da área de design


de interiores é a iluminação. Para Pascale (2002), necessidades relativas ao tema para
idosos, são substancialmente diferentes de indivíduos jovens. Este aspecto é
potencializado quando se trata de portadores de DA, por isso é fundamental que o
profissional incorpore a maior quantidade possível de luz com contrabalanceamento de
luz natural.

Igualmente, Sousa e Maia (2014, p. 197) aduzem que “[...] A iluminação


também desempenha um papel essencial na gestão de vários processos biológicos e
psicológicos no corpo humano, principalmente do ciclo circadiano [...]”.

A temperatura do ambiente é um aspecto não menos importante que deve ser


levado em consideração pelo designer de interiores. Tão logo na concepção do projeto
deve-se proceder uma análise criteriosa do terreno em que se fará a construção,
posicionando a residência da melhor forma em relação ao terreno, para que haja uma
melhor localização das aberturas (SOUSA E MAIA, 2014).

Neste sentido, Pascale (2002, p. 88) diz que:

[...] A temperatura e a ventilação em ambientes para cuidados de indivíduos


com DA, é importante acima de tudo, a manutenção de uma temperatura
confortável, o que nem sempre pode ser percebido por indivíduos com
limitações cognitivas [...].

Reis (2014), destaca as cores como mais um importante elemento constitutivo de


ambientes sob a interferência do profissional que lida com interiores, segundo a autora o
uso das cores devem diferenciar equipamentos e suas funções, além de alertar para
possíveis riscos na interação do idoso-ambiente.

No caso de portadores de Alzheimer, Diniz e Mcauliffe (2018), ensinam que tais


indivíduos podem experimentar, com muita frequência, a perda da memória e dos
sentidos, tais quadros podem ser minimizados pelo uso eficiente das cores no ambiente.

Por último, pode-se citar a acústica como outra possibilidade interventiva da


área em estudo. Para Pascale (2002, p.75):

Indivíduos com perdas auditivas ficam confusos e assustados quando ouvem


um barulho, porém ao identificá-lo e analisá-lo podem reagir de forma
apropriada. Os indivíduos acometidos de DA, entretanto, são incapazes de
fazer a identificação do barulho e de reagir de forma adequada.

O mesmo autor acrescenta que, de maneira geral, o som do ambiente incomoda


bastante os idosos e, de maneira especial, aos portadores de DA. Assim, é fundamental
que o ambiente de maior convívio do idoso ou portador de DA seja planejado para a
absorção da maior quantidade possível de som (PASCALE, 2002).

Diante disso, este estudo tem como objetivo, identificar as possibilidades do Design de
Interiores influenciar na melhoria da qualidade de vida de idosos portadores da Doença
de Alzheimer.

METODOLOGIA
O presente estudo será realizado através de pesquisa bibliográfica e abordagem
qualitativa. Conforme Marconi e ‘Lakatos (2003, p. 183) a pesquisa bibliográfica é
definida como:

A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia


já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas,
boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material
cartográfico etc., até meios de comunicação orais: rádio, gravações em fita
magnética e audiovisuais: filmes e televisão. Sua finalidade é colocar o
pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado
sobre determinado assunto, inclusive conferências seguidas de debates que
tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicadas, quer gravadas.
O tipo de pesquisa utilizado será o método descritivo. Isto porque, de acordo
com Silva e Menezes (2005) é o método mais adequado para pesquisas qualitativas, a
qual considera a subjetividade do sujeito em sua relação com o mundo exterior, não
podendo traduzir-se em números o que se deseja expressar.

DISCUSSÕES
Em detida análise dos resultados bibliográficos apurados é possível constatar
que uma intervenção qualificada do designer de interiores poderá ser decisiva na
melhoria da saúde e qualidade de vida de idosos portadores de DA.

É o que se apresenta nos estudo de Sousa e Maia (2014) em que as autoras


concluem que a adaptação das residências com a adequada organização espacial, em
conjunto com intervenções farmacológicas, podem interferir decisivamente na
necessidade de internação dos idosos em casas de acolhimento.

Neste sentido, as conclusões mostram ser fundamentais as medidas que visem a


manutenção do idoso em seu lar, evitando-se ao máximo as internações em casas de
acolhimento. É o que se percebe nos estudos de Reis (2014), em que a autora afirma que
a mudança de lar pode promover a perda das referências espaciais construídas ao longo
do tempo, que naturalmente já são prejudicadas pela idade.

Pascale (2002,p.54), ao concordar com os autores acima, no que se refere a


capacidade de intervenção na melhoria dos ambientes através do design de interiores,
estabelece objetivos a serem alcançados:

Primeiro Objetivo: Maximizar o Senso de Direção e Percepção [...] Segundo


Objetivo: Oportunizar a Sociabilidade [...] Terceiro Objetivo: Manter a
Privacidade [...] Quarto Objetivo: Estimular a Personalização do Espaço [...]
Quinto Objetivo: Assegurar Segurança e Proteção [...] Sexto Objetivo:
Reforçar a Execução das Atividades da Vida Diária [...].

Ao tratarem sobre a intervenção profissional em um espaço para portadores de


DA, Silva e Barros (2016), sugerem algumas adaptações:

 As maçanetas instaladas devem ser, preferencialmente, do tipo alavanca, sem


arestas e cantos vivos.
 Os puxadores de gavetas e similares devem ser simples, neutros, porém
contrastantes em relação ao restante do material.
 Os assentos devem possuir altura maior que o tradicional, cerca de 5 a 15cm a
mais, com finalidade de se facilitar sua ascensão dos referidos móveis.
 Os móveis em que for constante o acesso do idoso portador de DA, devem ter os
objetos dispostos a altura dos olhos.

Os mesmos autores, referem-se a outro tema importante, a iluminação, neste sentido


afirmam que:
A iluminação interfere diretamente na percepção de espaço, lugar e produtos
que estão sendo manuseados naquele momento, além da baixa acuidade
visual em grande parte dos idosos, a incapacidade em distinguir algumas
cores e produtos por pessoas com Alzheimer torna-se ainda mais fragilizada
com uma luz ambiente inadequada [...] (SILVA E BARROS, 2016, p. 07).

Tregenza e Loe (2015) sugerem como pontos-chave para uma adequada intervenção
através de um projeto luminotécnico, os seguintes itens:
 Visibilidade e destaque para elementos perigosos;
 Indicadores sensoriais do mundo externo;
 Compensação luminosa para as deficiências sensoriais e motoras.
Sendo assim, os projetos para uma boa visibilidade não podem estar dissociados de
outros fatores sensoriais. Os usuários com visão limitada, por exemplo, precisam de
compensações em outros itens para melhorar a percepção. O planejamento da
luminosidade deve levar em conta ainda as compensações necessárias para que não
prejudique o ciclo circadiano dos moradores do local (TREGENZA e LOE, 2015).
Conforme Torrington (2007 apud Sousa e Maia, 2014):
A iluminação geral para portadores de demência deve oferecer claridade
entre 300 e 700 lux e todas as superfícies do ambiente devem estar bem
iluminadas; pois a iluminação desigual dificulta a orientação do indivíduo no
ambiente e pode produzir sombras, criando falsas ilusões de profundidade.
Outras medidas a serem tomadas são: utilizar cortinas nas janelas para filtrar
a luz quando necessário; dar preferência a lâmpadas foscas; posicionar os
pontos de iluminação fora da linha de visão dos usuários e evitar superfícies
brilhosas, como pisos polidos, pois a redução do reflexo minimiza as
possibilidades de quedas e maximiza a atenção no foco.

Pascale (2002) considera a redução de ruídos nos ambientes uma das melhores
formas de intervenção para auxiliar no tratamento de portadores de DA. Em seus
trabalhos sugere as seguinte medidas:

 Paredes: confeccionadas em tijolo maciço com 10cm de espessura, variando


para 20cm em ambientes com um nível de ruído maior;
 Portas: possibilidade preenchimento com materiais abafadores de som;
 Janelas: insuladas ou laminadas por películas retardantes de som e vidros
duplos ou triplos para minimizar os ruídos.
 Pisos: forração adequada com a utilização, por exemplo, de carpetes.

Por tudo que já foi exposto, sabe-se que o conforto térmico também é essencial
em um ambiente para portadores de DA. Dentre as medidas a serem adotadas, pode-se
citar a predileção pelo uso de pisos aquecidos em detrimento de aquecedores. Em
épocas mais quentes os sistemas de ar condicionados são fundamentais, desde que, o
profissional se atente para o posicionamento desses equipamentos (SOUSA E MAIA,
2014).

Com relação à cromoterapia aplicada aos portadores de DA, a intervenção deve


ser baseada no equilíbrio. Pois, de acordo com Costa (2011) muitas cores em conjunto
provocam desconcentração, enquanto poucas cores trazem a sensação de monotonia e
ausência de contraste visual. O profissional precisa conhecer os efeitos das cores dos
ambientes, bem como, a adequação dos mais variados ambientes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise de todo conteúdo estudado permite concluir que, os autores são
uníssonos em afirmar que o design de interiores pode interferir de maneira significativa,
na melhoria da qualidade de vida dos portadores da doença de Alzheimer. Resta claro,
porém, que a literatura especializada no tema ainda é escassa, pois apesar da vasta
literatura relacionada ao Alzheimer e uma quantidade razoável de publicações sobre o
design de interiores, os estudos que se dedicam a entender a interferência deste sobre
aquele carece de aprofundamento. Sendo assim, o estudo mostrou-se extremamente
relevante, pois servirá de base para novas buscas acadêmicas relacionadas ao tema.

REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALZHEIMER. Regional São Paulo. Demência.
Disponível em: <http://abraz.org.br/web/sobre-alzheimer/demencia/> Acesso em:
20/10/2019.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALZHEIMER. Regional São Paulo. O que é
Alzheimer. Disponível em <http://abraz.org.br/web/sobre-alzheimer/o-que-e-
alzheimer/> Acesso em: 21/08/2019.
BRASIL, Lei nº 10.741/2003. Estatuto do Idoso. Brasília: DF, Outubro de 2003.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm> Acesso
em: 08/09/2019.
BRITTO, T. M. Design e Saúde: contribuições para o cuidado na doença de
Alzheimer e outras demências. 2018. 115 f., il. Dissertação (Mestrado em Design) –
Instituto de Artes, Universidade de Brasília, Brasília, 2018. Disponível em:
<http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/33924/1/2018_TalitaMachadoBritto.pdf>
Acesso em: 25/08/2019.
COLLE, Juliana Joenck. Diretrizes para Design de Interiores voltado a idosos com
doença de Alzheimer: projeto de banheiro residencial. 2017. 151 f. Projeto de
Conclusão de Curso (Bacharel) Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
2017. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/177146>
Acesso em: 21/08/2019.
Costa, L. (2011). Memórias enclausuráveis: A Institucionalização de Doentes de
Alzheimer em Respostas Sociais não específicas. Tese de Mestrado. Universidade
Católica Portuguesa: Braga. Disponível em:
<https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/8833/1/Mem%c3%b3rias
%20Enclausuradas.pdf> Acesso em: 24/05/2020.

D’ALENCAR R. S., SANTOS E. M. P., PINTO, J. B. T. Conhecendo a doença de


Alzheimer: uma contribuição para familiares e cuidadores. Ilhéus: Editus; 2010.
Disponível em:
<http://www.uesc.br/editora/livrosdigitais2015/conhecendo_alzheimer.pdf> Acesso em:
20/10/2019.

DINIZ, D. M. de O., MCAULIFFE, M. Diretrizes para o uso de cores em um


projeto residencial dedicado a pacientes com doença de alzheimer.
ENEAC VII Encontro Nacional de Ergonomia do Ambiente Construído / VIII
Seminá rio Brasileiro de Acessibilidade Integral. Vol. 4, num. 2, p.945-955.
2018. Disponível em:
<http://pdf.blucher.com.br.s3saeast1.amazonaws.com/designproceedings/
eneac2018/071.pdf> Acesso em: 20/10/2019.
DUARTE, C. M. Design e Alzheimer: Desenvolvimento de produtos para idosos.
2018. 66 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Design) –Universidade
Federal de Uberlândia, Uberlândia. 2018. Disponível em:
<https://repositorio.ufu.br/handle/123456789/23821 > Acesso em: 20/10/2019.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTÍCA. PNAD 2016:
população idosa cresce 16,0% frente a 2012 e chega a 29,6 milhões. Disponível em:
<https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-
noticias/releases/18263-pnad-2016-populacao-idosa-cresce-16-0-frente-a-2012-e-chega-
a-29-6-milhoes> Acesso em: 21/08/2019
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de
metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. Disponível em:
<docente.ifrn.edu.br/olivianeta/disciplinas/copy_of_historia-i/historia-ii/china-e-india/
at_download/file> Acesso em:30/11/2019.
LEÃO, I. S.; EULÁLIO, M. C. Velhice e atividade profissional: um estudo sobre
qualidade de vida. In ALVES, RF., org. Psicologia da saúde: teoria, intervenção e
pesquisa [online]. Campina Grande: EDUEPB, 2011. pp. 199-216. ISBN 978-85-7879-
192-6. Available from SciELO Books. Disponível em: <http://books.scielo.org> Acesso
em: 08/09/2019.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Alzheimer: o que é, causas, sintomas, tratamento,
diagnóstico e prevenção. 2019. Disponível em: <
http://saude.gov.br/saude-de-a-z/alzheimer> Acesso em: 20/10/2019.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Saúde da pessoa idosa: prevenção e promoção à saúde
integral. Disponível em: <http://portalms.saude.gov.br/saude-de-a-z/saude-da-pessoa-
idosa> Acesso em: 08/09/2019.
ONU-Organização das Nações Unidas. Pessoas Idosas. Disponível em:
<https://nacoesunidas.org/acao/pessoas-idosas/>. Acesso em: 18/08/2019.
OPAS BRASIL. Demência: número de pessoas afetadas triplicará nos próximos 30
anos. 2017. Disponível em: <https://www.paho.org/bra/index.php?
option=com_content&view=article&id=5560:demencia-numero-de-pessoas-afetadas-
triplicara-nos-proximos-30-anos&Itemid=839> Acesso em: 08/09/2019.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE – OMS. OMS divulga metas para 2019;
desafios impactam a vida de idosos. 2019. Disponível em: <https://sbgg.org.br/oms-
divulga-metas-para-2019-desafios-impactam-a-vida-de-idosos/> Acesso em:
08/09/2019.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE – OMS. OMS: número de pessoas afetadas
por demência triplicará no mundo até 2050. 2017. Disponível em:
<https://nacoesunidas.org/oms-numero-de-pessoas-afetadas-por-demencia-triplicara-no-
mundo-ate-2050/> Acesso em: 20/10/2019.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Envelhecimento ativo: uma politica de
saúde. Tradução de Suzana Gontijo. 1 ed. Brasília: Organização Pan-Americana da
saúde, 2005. 60p. Título original: Active ageing: a policy framework. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/envelhecimento_ativo.pdf> Acesso em:
08/09/2019.

PASCALE, M. A. Ergonomia e Alzheimer: a contribuiçã o dos fatores


ambientais como recurso terapêutico nos cuidados de idosos portadores da
demência do tipo Alzheimer. 2002. 121 f. Dissertaçã o (Mestrado em
Engenharia de Produçã o) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro
Tecnoló gico. Programa de Pó s-Graduaçã o em Engenharia de Produçã o.
Santa Catarina. 2002. Disponível em:
<http://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/83716> Acesso em:
20/10/2019.
PINHEIRO, D.; SCHWENGBER, C. E. As cores em ambientes internos com foco em
suas influências sobre o comportamento dos estudantes. Artigo desenvolvido no
curso de pós graduação em design de interiores da universidade do Oeste de Santa
Catarina – Unoesc de São Miguel do Oeste –SC. Disponível em:
<http://www.uniedu.sed.sc.gov.br/wp-content/uploads/2016/03/Artigo-Daniel-
Pinheiro.pdf> Acesso em: 25/08/2019.

Você também pode gostar