Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
EPISTEMOLOGIA
E CIENCIA
DA INFORMAÇÃO
Rafael
Capurro
V
Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da
Informação,
Belo Horizonte (Brasil) 10 de Novembro de
2003.
Tradução de Ana Maria Rezende Cabral, Eduardo Wense Dias,
Isis Paim, Ligia Maria Moreira
Dumont, Marta Pinheiro Aun e
Mônica Erichsen Nassif Borges. Versión
original en
castellano aquí.
Presentación: PowerPoint
Sobre
este tema ver:
- Renato Fabiano Matheus:
Rafael Capurro e
a
filosofia da informação: abordagens, conceitos e
metodologias de pesquisa para a Ciência da
Informação.
En PERSPECTIVAS
EM CIÊNCIA
DA INFORMAÇÃO (2005)
Vol. 10, No. 2
- Rosa Lidia
Vega-Almeida, J. Carlos Fernández-Molina,
Radamés Linares: Coordenadas paradigmáticas,
históricas y epistemológicas de la Ciencia de la
Información: una sistematización. En:
IRinformationresearch,
vol. 14, No. 2, June, 2009.
Ver
también los siguientes
trabajos del autor:
- Epistemology
and
Information Science (1985)
- Information
(Munich 1978)
- Hermeneutik
der Fachinformation
(1986).
- Hermeneutics
and the Phenomenon of Information.
-
Rafael Capurro, Birger Hjørland: The
Concept of Information (2003)
www.capurro.de/enancib_p.htm 1/26
11/04/2022 01:01 Epistemologia e Ciencia da Informacao
Indice
Introdução
I.
Correntes
epistemológicas do Século 20
II. Paradigmas
epistemológicos da ciência da informação
Conclusão:
Conseqüências práticas dos paradigmas
epistemológicas
Bibliografía
´
Resumo
Analisa-se na
introdução o conceito de paradigma e identifica-se o
escopo da investigação epistemológica
no campo da
ciência da informação. A primeira parte menciona
alguns paradigmas epistemológicos que
influenciaram a
ciência da informação, a saber: hermenêutica,
racionalismo crítico, semiótica,
construtivismo,
cibernética de segunda ordem e teoria de sistemas. Na segunda
parte são aprofundados
três paradigmas
epistemológicos. Em primeiro lugar expõe-se o paradigma
físico. Tomando como ponto
de partida a teoria de Shannon e
Weaver, mencionam-se os experimentos de Cranfield e a teoria
„informação-como-coisa“ de Michael Buckland. Em segundo
lugar analisa-se o paradigma cognitivo,
representado dentre outros por
B.C. Brookes, Nicholas Belkin, Pertti Vakkari e Peter Ingwersen. Por
fim,
expõe-se o paradigma social que tem suas origens na obra de
Jesse Shera, atualmente representado pelas
teorias de Bernd Frohmann,
Birger Hjørland, Rafael Capurro e Søren Brier.
Finalmente, indicam-se as
conseqüências práticas dos
paradigmas epistemológicos para a concepção e
avaliação de sistemas de
informação bem
como para a investigação em ciência da
informação.
www.capurro.de/enancib_p.htm 2/26
11/04/2022 01:01 Epistemologia e Ciencia da Informacao
Palavras-chave
Epistemologia –
Ciência da informação – Recuperação
da informação – Tecnologia da informação –
Paradigmas – Cognitivismo – Sociedade
Abstract
In
the
introduction the concept
of paradigm as well as the scope of epistemological research in
information
science are analized. The first part mentions some epistemological
paradigms
that have influenced
information science so far such hermeneutics,
critical
rationalism, critical theory, semiotics, constructivism,
second-order
cybernetics,
and system theory. The second part is dedicates to a detailed analysis
of three
epistemological paradigms in information science. The first
one
is the physical paradigm that goes back to
Shannon's theory of
communication.
The Cranfield tests and Michael Buckland's conception of
"information-as-thing"
are mentioned. The second one is the cognitive paradigm represented by
B.C.
Brookes, Nicholas Belkin, Pertti Vakkari and Peter Ingwersen.
Finally
the social paradigm, going back to
Jesse Shera's "social epistemology",
is explained with regard to criticisms and theories by Bernd Frohmann,
Birger Hjørland, Rafael Capurro, and Søren Brier.
Practical
consequences of epistemological research
concerning the
design
and
evaluation
of information systems as well as research in information science are
considered.
Introdução
Há aproximadamente
vinte anos, a biblioteca do Royal
Institute of Technology
de Estocolmo
convidou-me para proferir uma série de
conferências sobre a ciência da informação,
uma delas intitulada
„Epistemology and information science“ (Capurro
1985). Foi a primeira vez que falei sobre a relação
entre
hermenêutica e tecnologia da informação, fazendo
uma exposição da tese que um ano mais tarde
seria aceita
pela Universidade de Stuttgart como tese de pós-doutorado
(‘habilitação’) em filosofia,
intitulada
„Hermenêutica da informação científica“
(Capurro 1986). Nessa tese indicava que desde o
www.capurro.de/enancib_p.htm 3/26
11/04/2022 01:01 Epistemologia e Ciencia da Informacao
ponto de vista
hermenêutico o conhecimento está ligado à
ação, mostrando os pressupostos e as
conseqüências a respeito dos processos cognitivos e
práticos relacionados com a busca de informação
científica armazenada em computadores, assim como com a
concepção de tais sistemas e seu papel na
sociedade.
I.
Correntes epistemológicas do Século
20
www.capurro.de/enancib_p.htm 5/26
11/04/2022 01:01 Epistemologia e Ciencia da Informacao
Comecemos esta breve
passagem pelas teorias epistemológicas do século passado,
com a que foi, por
assim dizer, a herdeira das correntes
transcendentais, idealistas e vitalistas dos séculos XVIII
e XIX.
Refiro-me a hermenêutica. A hermenêutica como teoria
filosófica foi desenvolvida por Hans-Georg
Gadamer (1900-2002)
(Gadamer 1975), seguindo os caminhos abertos no século XIX por
Friedrich
Schleiermacher (1768-1834) e Wilhelm Dilthey (1833-1911), e
no século XX por Edmund Husserl (1859-
1938) e Martin Heidegger
(1889-1976), para lembrar somente alguns dos seus representantes mais
notáveis. Algumas escolas filosóficas muito
influentes como o racionalismo crítico de Karl Popper
(1902-
1994), a filosofia analítica e a teoria da
ação comunicativa de Jürgen Habermas (1981) e
Karl-Otto Apel
(1976) criticaram a hermenêutica. Um ponto
crucial da citada crítica está relacionado com o problema
da
separação entre a metodologia das ciências
humanas, ou ciências do espírito ("Geisteswissenschaften")
e a
das ciências naturais, ("Naturwissenschaften"). Enquanto as
últimas teriam como finalidade a explicação
causal
("erklären") dos fenômenos naturais, as primeiras aspirariam
a compreender ("verstehen") ou
interpretar ("auslegen") os
fenômenos especificamente humanos como a historia, a
política, a economia, a
técnica, a moral, a arte e a
religião. O termo grego hermeneuein
significa „interpretar“, mas também
„anunciar“, sendo Hermes o
mensageiro dos deuses e o intérprete de suas mensagens. De seu
pendant
egípcio, o deus Theut, inventor da escritura, fala
Platão em uma famosa passagem do "Fedro" (Phaidr.
174c-275b).
A
hermenêutica seria, assim, o título do método das
ciências do espírito que permitiria manter aberto o
sentido da verdade histórica própria da
ação e pensamento humanos, enquanto que o método
das
explicações causais somente poderia aplicar-se a
fenômenos naturais submetidos exclusivamente a leis
universais e
invariáveis. O título da obra de Gadamer „Verdade e
método“ (Gadamer 1975), indica por sua
vez uma
distinção e uma conexão entre a "verdade“
das ciências do espírito e o "método" das
ciências
naturais. Sem entrar agora em uma
exposição detalhada desse debate, pode-se constatar que
ambas as
correntes, a hermenêutica e o racionalismo
crítico, aparentemente inimigos irreconciliáveis,
afirmam,
acima de suas diferenças, o caráter
fundamentalmente interpretativo do conhecimento, sendo a
hermenêutica a que atribui maior ênfase à
relação entre conhecimento e ação, ou entre
epistemologia e
ética.
A tese de Karl Popper de que todo
conhecimento científico tem um caráter conjectural
(Popper 1973)
não está muito distante da
afirmação de Gadamer de que toda a compreensão se
baseia em uma pré-
compreensão ("Vorverständnis") ou
em um "pré-julgamento" ("Vorurteil"). Dessa maneira o
falsificacionismo e o monismo metodológico-popperiano,
questionado, dentre outros, por Thomas Kuhn
www.capurro.de/enancib_p.htm 6/26
11/04/2022 01:01 Epistemologia e Ciencia da Informacao
II.
Paradigmas
epistemológicos da ciência da
informação
www.capurro.de/enancib_p.htm 8/26
11/04/2022 01:01 Epistemologia e Ciencia da Informacao
A ciência da
informação tem, por assim dizer, duas raízes: uma
é a biblioteconomia clássica ou, em
termos mais gerais, o
estudo dos problemas relacionados com a transmissão de
mensagens, sendo a outra
a computação digital. A primeira
raiz nos leva às próprias origens, certamente obscuras,
da sociedade
humana entendida como um entrelaçamento ou uma rede
de relações, — Hannah
Arendt fala da „‘web’ of
human relationships“ (Arendt 1958, p.
183) — baseadas na linguagem, isto
é, em âmbito hermenêutico
aberto, onde os
entrecruzamentos metafóricos e metonímicos permitem
não apenas manter fluido o mundo
das convenções e
fixações que tornam possível uma sociedade humana
relativamente estável, como
também nos permitem gerar a
capacidade de perguntar pelo que não sabemos a partir do que
cremos que
sabemos.
É claro que essa raiz da ciência da
informação ou, como também poderíamos
chamá-la, da ciência
das
mensagens (Capurro, 2003b), está ligada a todos os
aspectos sociais e culturais próprios do mundo
humano. A outra
raiz é de caráter tecnológico recente e se refere
ao impacto da computação nos processos
de
produção, coleta, organização,
interpretação, armazenagem, recuperação,
disseminação, transformação
e uso da
informação, e em especial da informação
científica registrada em documentos impressos. Este
último impacto permite explicar porque o paradigma físico
torna-se predominante entre 1945 e 1960,
seguindo a
periodização proposta por Julian Warner (2001). O
problema dessa periodização consiste não
apenas no
fato de que antes de 1945 existisse já, no campo da
biblioteconomia, o que hoje chamamos de
paradigma social, mas
também, como veremos a seguir, nas transformações
posteriores desse paradigma
que chegam até os dias de hoje.
1) O paradigma fisico
A
ciência da
informação inicia-se como teoria da information retrieval
baseada numa epistemologia
fisicista. A esse paradigma, intimamente
relacionado com a assim chamada information
theory de Claude
Shannon e Warren Weaver (1949-1972), que
já mencionei, e também com a cibernética de
Norbert Wiener
(1961), denominou-se o „paradigma físico“ (Elis
1992, Øron 2000). Em essência esse paradigma postula
que
há algo, um objeto físico, que um emissor transmite a um
receptor. Curiosamente a teoria de Shannon
não denomina esse
objeto como informação ("information"),
mas como mensagem ("message"),
ou, mais
precisamente, como signos ("signals") que deveriam ser em
princípio reconhecidos univocamente pelo
receptor sob certas
condições ideais como são a
utilização dos mesmos signos por parte do emissor e do
receptor, e a ausência de fontes que perturbem a
transmissão ("noise source"
– fonte de ruído)
www.capurro.de/enancib_p.htm 9/26
11/04/2022 01:01 Epistemologia e Ciencia da Informacao
www.capurro.de/enancib_p.htm 10/26
11/04/2022 01:01 Epistemologia e Ciencia da Informacao
2) O paradigma cognitivo
Comecemos
por lembrar
que, na idéia de uma bibliografia universal de Paul Otlet y
Henri Lafontaine, que
levaria à fundação do Institut Internacional de Bibliographie
de Bruxelas em 1895, denominado
posteriormente Institut International de Documentation
(1931) e finalmente Fedération
Internationale de
Documentation (FID) em 1937, está
explícita a intenção de distinguir entre o
conhecimento e seu registro
em documentos. A documentação
e, em seguida, a ciência da informação têm a
ver, aparentemente, em
primeiro lugar com os suportes físicos do
conhecimento, mas na realidade sua finalidade é a
recuperação
da própria informação,
ou seja, o conteúdo de tais suportes. Isso nos leva à
ontologia e à epistemologia de
Karl Popper que influenciaram
diretamente o paradigma cognitivo proposto por B. C. Brookes (1977,
1980), entre outros. A ontologia popperiana distingue três
„mundos“, a saber: o físico, o da consciência ou
dos
estados psíquicos, e o do conteúdo intelectual de livros
e documentos, em particular o das teorias
científicas. Popper
fala do „terceiro mundo“ como um mundo de „objetos inteligíveis“
ou também de
„conhecimento sem sujeito cognoscente“
(Popper 1973). Essa é a razão pela qual se costuma
designá-lo
como modelo
platônico (Capurro 1985, 1986, 1992), se bem que o mundo
popperiano dos „problemas em
si próprios“ não tenha
caráter divino como é o caso do „lugar celestial“ (topos ouranós) das
idéias de
Platão. Brookes subjetiva, por assim dizer,
esse modelo no qual os conteúdos intelectuais formam uma
espécie de rede que existe somente em espaços cognitivos
ou mentais, e chama tais conteúdos de
„informação
objetiva“. Dado o seu caráter cognitivo potencial para um
sujeito cognoscente, não é de se
www.capurro.de/enancib_p.htm 11/26
11/04/2022 01:01 Epistemologia e Ciencia da Informacao
3) O paradigma social
Os limites do paradigma
cognitivo se apóiam precisamente na metáfora, ou pars pro toto, de considerar
a
informação, ou como algo separado do usuário
localizado em um mundo numênico, ou de ver o usuário,
se
não exclusivamente como sujeito cognoscente, em primeiro lugar
como tal, deixando de lado os
condicionamentos sociais e materiais do
existir humano. É essa visão reducionista que é
criticada por
Bernd Frohmann, que considera o paradigma cognitivo
não só como idealista mas também como associal.
Frohmann escreve:
„o
ponto de vista cognitivo relega os processos sociais de
produção, distribuição, intercâmbio e
consumo de informação a um nível numênico,
indicado somente por seus efeitos nas representações
de
geradores de imagens atomizadas. A construção social dos
processos informativos, ou seja, a
constituição social
das „necessidades dos usuários“, dos „arquivos de conhecimentos“
e dos
www.capurro.de/enancib_p.htm 12/26
11/04/2022 01:01 Epistemologia e Ciencia da Informacao
www.capurro.de/enancib_p.htm 14/26
11/04/2022 01:01 Epistemologia e Ciencia da Informacao
a
formula assim: „Informação é conhecimento em
ação“ (1996, 34). Em outras palavras, o trabalho
informativo é um trabalho de contextualizar ou
recontextualizar praticamente o conhecimento. O valor da
informação, sua mais-valia com respeito ao mero
conhecimento, consiste precisamente da possibilidade
prática de
aplicar um conhecimento a uma demanda concreta. Assim considerado, o
conhecimento é
informação potencial. Não
é difícil ver aqui a relação entre nossa
disciplina e o trabalho sempre difícil e
arriscado de
interpretar, sobretudo se esse trabalho não se reduz a decifrar
um texto obscuro, mas, sim,
abrange todos os problemas reais e
não menos obscuros e „anômalos“ do existir humano.
Conclusão:
Conseqüências
práticas
dos paradigmas epistemológicas
www.capurro.de/enancib_p.htm 16/26
11/04/2022 01:01 Epistemologia e Ciencia da Informacao
Diz-se, com
freqüência, que as discussões
filosóficas têm pouca, ou nenhuma, conseqüência
prática.
Embora certo que as teorias filosóficas
não aspirem a resolver imediatamente nem problemas
práticos nem
problemas científicos, ambos repousam nolens volens sobre uma
pré-compreensão de seus objetos. O
dualismo mesmo entre teoria e praxis é produto de um
argumento implícito que o impede de ver sua
própria
falha. Essa é uma das grandes lições da
discussão epistemológica do século XX. A
análise aqui
apresentada deixa ver, para além de seus
limites e simplificações, que os pressupostos
epistemológicos
implícitos ou explícitos da nossa
disciplina apresentam conseqüências relevantes para a
concepção de
sistemas de informação, para o
uso de tais sistemas e para a própria pesquisa
científica. Como se sabe, o
conceito de relevância
desempenha um papel preponderante na ciência e na prática
dos processos
informativos. Os critérios clássicos de recall e precision surgem, como vimos,
dentro do marco do
paradigma físico, revelando ao mesmo tempo,
ex negativo, a importância do usuário, considerado
individual ou coletivamente como elemento chave no que diz respeito ao
julgamento sobre a qualidade de
tais sistemas. Mas é claro
também que tanto o usuário como o sistema se relacionam a
uma coleção
determinada, como o destaca o paradigma da
"domain analysis". Em outras palavras, o conceito de
relevância
tem que ser considerado, como o sugere Thomas Froehlich (1994), em
relação a três processos
hermenêuticos que
condicionam a concepção e uso de qualquer sistema
informacional, a saber:
1)
uma
hermenêutica dos usuários, capazes de interpretar suas
necessidades em relação a si próprios,
a
intermediários e ao sistema,
2)
uma
hermenêutica da coleção que seja capaz de
fundamentar os processos de seleção de
documentos ou
textos e a forma como esses são indexados e catalogados, e
3)
uma
hermenêutica do sistema intermediário, na qual tem lugar o
clássico matching a
que se refere
o paradigma físico.
Essa análise
coincide exatamente com minha tese sobre uma hermenêutica da
informação científica de
que falei no
começo (Capurro 1986, 2000). Todo processo hermenêutico
leva a uma explicitação e com
ele também a uma
seleção. Como dizíamos anteriormente, a
diferença em que se baseia a ciência da
informação consiste em poder distinguir entre uma oferta
de sentido e um processo de seleção cujo
resultado
implica na integração do sentido selecionado dentro da
pré-compreensão do sistema,
produzindo-se assim uma nova
pré-compreensão. É claro também que toda
explicitação é de certa maneira
uma
tipificação, já que, como sugere Wittgenstein,
não existe uma "linguagem privada". Esse é o
www.capurro.de/enancib_p.htm 17/26
11/04/2022 01:01 Epistemologia e Ciencia da Informacao
fundamento
epistemológico para a criação de estruturas de
(pre-)seleção ou de pré-compreensão
objetivada, chamadas em suas origens "disseminação
seletiva da informação" ("selective dissemination of
information" SDI) ou também perfis informacionais individuais ou
de grupo que permitem ao usuário
reconhecer sua
pré-compreensão na redundância e ver também
o novo e potencialmente relevante, ou seja,
a informação.
A comunicação e a informação são,
vistas assim, noções antinômicas (Bougnoux 1995,
1993). Pura comunicação significa pura redundância
e pura informação é incompreensível. A
ciência da
informação se situa entre a utopia de
uma linguagem universal e a loucura de uma linguagem privada. Sua
pergunta chave é: informação - para quem? Numa
sociedade globalizada em que aparentemente todos
comunicamos tudo com
todos, essa pergunta torna-se crucial. À
globalização segue-se necessariamente a
localização (ICIE 2004).
Vê-se aqui
também claramente, como as proposições
epistemológicas não podem ser desligadas das
perguntas
éticas, e como ambas as perspectivas se entrelaçam em
nós ontológicos que giram hoje em dia
em torno da
pergunta: quem somos como sociedade(s) no horizonte da rede digital?
É evidente também
que tal pergunta surge não
apenas como conseqüência de um mero estado anômalo de
conhecimento, mas
de um estado anômalo existencial que nos
acostumamos a chamar de exclusão digital. Em outras palavras,
toda epistemología está baseada numa epistemopraxis. No centro dessa se
encontra a sociedade humana
entendida como sociedade de mensagens com suas
estruturas e centros de poder (Capurro 2003).
É claro que a rede
digital provocou uma revolução não apenas
mediática mas também epistêmica com
relação à sociedade dos meios de
comunicação de massa do século XX. Mas é
claro também que essa
estrutura, que permite não
só a distribução hierárquica, ou one-to-many, das mensagens, mas
também um
modelo interativo que vai além das tecnologias
de intercâmbio de mensagens meramente individual, como
o
telefone, cria novos problemas sociais, econômicos,
técnicos, culturais e políticos, os quais mal
começamos a enfrentar teórica e práticamente. Esse
é, ao meu ver, o grande desafio epistemológico e
epistemoprático que a tecnologia moderna apresenta a uma
ciência da informação que aspira a tomar
consciência, sempre parcial, de seus pressupostos. Aldo Barreto
sinaliza a direção em que teremos que
avançar com
estas palavras:
"Assim
é
nossa crença que o destino final, o objetivo do travalho com a
informação
é promover o
desenvolvimento do indivíduo de seu grupo e
da sociedade. Entendemos por desenvolvimento de
uma forma ampla, como
un
acréscimo de bem estar, un novo estágio de qualidade de
convivência,
www.capurro.de/enancib_p.htm 18/26
11/04/2022 01:01 Epistemologia e Ciencia da Informacao
Bibliografía
Apel,
Karl-Otto
(1976): Transformation
der Philosophie. Frankfurt am Main: Suhrkamp.
Arendt,
Hannah
(1958): The
Human Condition. The University of Chicago Press.
Austin,
John
L. (1962):
How to do things with words. Oxford, UK: Oxford University Press.
Bar-Hillel,
Y.
(1973): Language
and Information. London: Addison-Wesley.
Barreto,
Aldo
(2002): Entrevista
de Leonardo Melo al Professor Aldo Barreto: "Leia e Pense!"
Online: http://www.alternex.com.br/~aldoibct/novidade.htm
Barwise,
Jon;
Perry, John
(1983): Situations and Attitudes. MIT Press.
Barwise,
Jon;
Seligman,Jerry
(1997): Information Flow. The Logic of Distributed Systems. Cambridge
University
Press.
Belkin,
Nicholas J. (1980):
Anomalous States of Knowledge as Basis for Information Retrieval. In:
The
Canadian Journal of Information Science, vol. 5, 133-143.
Belkin,
Nicholas J.; Oddy,
R.N.; Brooks, H.M. (1982): ASK for Information Retrieval: Part I.
Background
and Theory. En: Journal of Documentation, Vol. 38, No. 2, 61-71.
Benoît,
Gerald (2002):
Toward a Critical Theoretic Perspective in Information Systems. En.
Library
Quarterly, vol. 72, no. 4, 441-471.
www.capurro.de/enancib_p.htm 19/26
11/04/2022 01:01 Epistemologia e Ciencia da Informacao
Blair,
David C.
(2003): Information
Retrieval and the Philosophy of Language. En: Blaise Cronin (Ed.):
Annual
Review of Information Science and Technology, Vol. 37, Medford: NJ:
Information
Today Inc., 3-
50.
Bogliolo
Sirihal, Adriana;
de Azevedo Lourenço, Cíntia (2003):
Informação
e conhecimento: aspectos
filosóficos e informacionais.
Online: http://www.informacaoesociedade.ufpb.br/1210203.pdf
Bougnoux,
Daniel (1995):
La communication contre l'information. Paris: Hachette.
Bougnoux,
Daniel (1993):
Sciences de l'information et de la communication. Paris: Larousse.
Brier,
Søren (1992):
A philosophy of science perspective - on the idea of a unifying
information
science, En:
Pertti Vakkari, Blaise Cronin (Eds.): Conceptions of
Library
and Information Science. Historical, empirical
and theoretical
perspectives.
London: Taylor Graham, 97-108.
Brier,
Søren (1996):
Cybersemiotics: A New Interdisciplinary Development Applied to the
Problems
of
Knowledge Organisation and Document Retrieval in Information
Science.
En: Journal of Documentation,
vol. 52, no. 3, 296-344.
Brier,
Søren (1999):
What is a Possible Ontological and Epistemological Framework for a True
Universal
'Information Science'? The Suggestion of a Cybersemiotics.
En:
W. Hofkirchner (Ed.): The Quest for a
Unified Theory of Information.
Proceedings
of the Second International Conference on the Fundations of
Information
Science. Amsterdam: Gordon and Breach, 79-99.
Brookes,
B.C.
(1977): The
developing cognitive view in information science. En: International
Workshop
on
the Cognitive Viewpoint, CC-77, 195-203.
Brookes,
B.C.
(1980): The
foundations of information science: Part I: Philosophical Aspects. En:
Journal of
Information Science, 2, 125-133.
Buckland,
Michael K. (1991):
Information and Information Systems. New York.
www.capurro.de/enancib_p.htm 20/26
11/04/2022 01:01 Epistemologia e Ciencia da Informacao
Capurro,
Rafael
(1985): Epistemology
and Information Science. Royal Institute of Technology Library,
Stockholm,
August 1985, Report TRITA-LIB-6023.
Capurro,
Rafael
(1986): Hermeneutik
der Fachinformation. Freiburg/München: Alber.
Capurro,
Rafael
(1992): What
is information science for? A philosophical reflection. En:
Pertti
Vakkari,
Blaise Cronin (Eds.): Conceptions of Library and Information
Science.
Historical, empirical and theoretical
perspectives. London: Taylor
Graham,
82-96.
Capurro,
Rafael
(2000): Hermeneutics
and the Phenomenon of Information. En: Carl Mitcham (Ed.):
Metaphysics,
Epistemology and Technology. Research in Philosophy and Technology,
Vol.
19. New York:
Elsevier, 79-85.
Capurro,
Rafael
(2001): Beiträge
zu einer digitalen Ontologie.
Capurro,
Rafael
(2001a): Informationsbegriffe
und ihre Bedeutungsnetze. En: Ethik und
Sozialwissenschaften
1, (12),14-17.
Capurro,
Rafael
(2003): Ethik
im Netz. Stuttgart: Franz Steiner Verlag.
Capurro,
Rafael
(2003a): Operari sequitur esse. Zur
existenzial-ontologischen Begründung
der
Netzethik.
En: Thomas Hausmanninger, Rafael Capurro (Eds.):
Netzethik.
Grundlegungsfragen der Internetethik.
Schriftenreihe des ICIE,
Bd.1, Munich: Fink, 61-77.
Capurro,
Rafael
(2003b): Angeletics
- A Message Theory. En: Hans H. Diebner, Lehan Ramsay
(Eds.):
Hierarchies of Communication. Karlsruhe: ZKM - Center for Art and
Media,
58-71.
Capurro,
Rafael; Højrland,
Birger (2003): The
Concept of Information. En: Blaise Cronin (Ed.):
Annual
Review of Information Science and Technology, Vol. 37, Medford, NJ:
Information
Today Inc., 343-411.
Cornelius,
Ian
(2002): Theorizing
Information for Information Science. En: Blaise Cronin (Ed.): Annual
Review
of Information Science and Technology, Vol. 36, Medford, NJ:
Information
Today Inc., 393-425.
www.capurro.de/enancib_p.htm 21/26
11/04/2022 01:01 Epistemologia e Ciencia da Informacao
Cornelius,
I.
(1996): Information
and Interpretation. En: Peter Ingwersen, Niels O. Pors (Eds.)
Proceedings
CoLIS2. Second International Conference on Conceptions of Library and
Information
Science: Integration in
Perspective. October 13-16, 1996. The Royal
School
of Librarianship, Copenhagen, 11-21.
Dretske,
F. I.
(1981): Knowledge
and the flow of information. Cambridge, MA: MIT Press.
Ellis,
D.
(1992): Paradigms
and proto-paradigms in information retrieval research. En: Pertti,
Vakkari,
Blaise
Cronin (Eds.): Conceptions of Library and Information Science.
Historical,
empirical and theoretical
perspectives. London, 165-186.
Feyerabend,
Paul (1986):
Wider den Methodenzwang. Frankfurt am Main: Suhrkamp.
Fleissner,
Peter; Hofkirchner,
Wolfgang (1995): Informatio revisited. Wider den dinglichen
Informationsbegriff.
En: Informatik-Forum, 8, 126-131.
Foerster,
Heinz
von (Ed.)
(1974): Cybernetics of Cybernetics. Urbana: Biological Computer
Laboratory,
University of Illinois.
Foerster,
Heinz
von; Poerksen,
Bernhard (2001): Understanding Systems. Conversations on Epistemology
and
Ethics. New York: Kluwer.
Froehlich,
Thomas J. (1994):
Relevance Reconsidered - Towards an Agenda for the 21st Century:
Introduction
to a Special Topic Issue on Relevance Research. En: Journal of the
American
Society for
Information Science Vol. 45, No. 3, 124-134.
Frohmann,
Bernd
(1995): Knowledge
and power in information science: toward a discourse analysis of the
cognitive
viewpoint. En: R. Capurro, K. Wiegerling, A. Brellochs (Eds.):
Informationsethik.
Konstanz: UVK
273-286. Publicado originariamente bajo el título
"The power of imges: a discourse analysis of the cognitive
viewpoint"
en:
Journal of Documentation, Vol. 48, No. 4, 1992, 365-386.
Foucault,
Michel (1994):
Dits et écrits 1954-1988. Paris: Gallimard.
www.capurro.de/enancib_p.htm 22/26
11/04/2022 01:01 Epistemologia e Ciencia da Informacao
Gadamer,
Hans-Georg (1975):
Wahrheit und Methode. Grundzüge einer philosophischen Hermeneutik.
Tübingen: Mohr.
Goldman,
Alvin
(2001) Social
Epistemology. En: Stanford Encyclopedia of Philosophy. Online:
http://plato.stanford.edu/entries/epistemology-social/
Griffith,
B. C.
Ed. (1980):
Key papers in information science. New York: Knowledge Industry Publ.
Habermas,
Jürgen (1981):
Theorie des kommunikativen Handelns. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2 vol.
Heidegger,
Martin (1973):
Sein und Zeit. Tübingen: Niemeyer.
Hjørland,
Birger (2003):
Principia Informatica: Foundational Theory of Information and
Principles
of
Information Services. En: Harry Bruce, Raya Fidel, Peter Ingwersen,
Pertti Vakkari (Eds.): Emeerging
Frameworks and Methods. Proceedings of
the Fourth Conference on Conceptions of Library and Information
Science
(CoLIS4), Greenwood Village, Colorado: Libraries Unlimited, 109-121.
Hjørland,
Birger (2003a):
Epistemology and the Socio-Cognitive Perspective in Information
Science.
En:
Journal of the American Society for Information Science and
Technology,
53 (4), 257-270.
Hjørland,
Birger (2000):
Library and information science: practice, theory, and philosophical
basis.
En:
Information Processing and Mangement, 36, 501-531.
Hjørland,
Birger (2000a):
Documents, Memory Institutions and Information Science. En: Journal of
Documentation, Vol. 56, No. 1, 27-41.
Hjørland,
Birger (1998):
Theory and Metatheory of Information Science: A New Interpretation. En:
Journal
of Documentation, Vol. 45, No. 5, 606-621.
Hjørland,
Birger;
Albrechtsen, Hanne (1995): Toward a New Horizon in Information Science:
Domain-
Analysis. En: Journal of the American Society for Information
Science
and Technology, 46 (6), 400-425.
www.capurro.de/enancib_p.htm 23/26
11/04/2022 01:01 Epistemologia e Ciencia da Informacao
Hofkirchner,
Wolfgang (Ed.)
(1999): The Quest for a Unified Theory of Information. World Futures
General
Evolution Studies, Vol. 13. Amsterdam: Gordon and Breach Publishers.
ICIE
(International Center
for Information Ethics): "Localizing the Internet. Ethical Issues in
Intercultural
Perspective" ICIE Congress 2004.
Online: http://icie.zkm.de/congress2004
Ingwersen,
Peter (1992):
Information Retrieval Interaction. London: Taylor Graham.
Ingwersen,
Peter (1995):
Information and Information Science. En: Encyclopedia of Library and
Information
Science, Vol. 56, Suppl. 19, 137-174.
Ingwersen,
Peter (1999):
Cognitive Information Retrieval. En: Martha E. Williams (Ed.): Annual
Review
of
Information Science and Technology (ARIST), Medford, NJ: Information
Today Inc., Vol. 34.
Kuhlen,
Rainer
(1996): Informationsmarkt.
Konstanz: UVK.
Kuhn,
Thomas S.
(1962/1970):
The Structure of Scientific Revolutions. The University of Chicago
Press.
Luhmann,
Niklas
(1987): Soziale
Systeme. Frankfurt am Main: Suhrkamp.
MacKay,
Donald
M. (1969):
Information, mechanism and meaning. Cambridge, MA: MIT Press.
Mastermann,
Margaret (1970):
The nature of a paradigm. En: Lakatos, Imre, Musgrave, A. (Eds.):
Criticisms
and the growth of knowledge. Cambridge University Press, 59-91.
Maturana,
Humberto R.; Varela,
Francisco (1980): Autopoiesis and Cognition: The Realization of the
Living.
Dordrecht: Reidel.
Maturana,
Humberto R.; Varela,
Francisco (1984): El árbol del conocimiento. Editorial
Universitaria,
Chile.
www.capurro.de/enancib_p.htm 24/26
11/04/2022 01:01 Epistemologia e Ciencia da Informacao
Ørom,
Anders (2000):
Information Science, Historical Changes and Social Aspects: A Nordic
Outlook.
En:
Journal of Documentation, vol. 56, no. 1, 12-26.
Pérez
Gutiérrez,
Mario (2000): El fenómeno de la información. Una
aproximación
conceptual al flujo
informativo. Madrid: Trotta.
Popper,
Karl R.
(1973): Objective
Knowledge. An Evolutionary Approach. Oxford: Clarendon Press.
Shannon,
Claude; Weaver Warren
(1949/1972): The mathematical theory of communication. Urbana, IL.:
University
of Illinois Press.
Shera,
Jesse
(1970):
Library and Knowledge. En: Jesse Shera: Sociological Foundations
of Librarianship,
New York: Asia Publishing House, 82-110.
Shera,
Jesse
(1961): Social
Epistemology, General Semantics, and Librarianship. En: Wilson Library
Bulletin 35, 767-770.
Social
Epistemology (2002),
Vol. 16, No. 1: Social Epistemology and Information Science.
Vakkari,
Pertti
(2003): Task-Based
Information Seeking. En: B. Cronin (Ed.): Annual Review of Information
Science and Technology (ARIST), Medford, NJ: Information Today, Vol.
37,
413-464.
Vakkari,
Pertti
(1996): Library
and information science: content and scope. En: J. Olaisen, E.
Munch-
Petersen,
P. Wilson (Eds.): Information science: from the development of the
discipline
to social interaction.
Oslo, Copenhagen, Stockholm, Boston:
Scandinavian
University Press, 169-231.
Vattimo,
Gianni
(1989): La
società trasparente. Milan: Garzanti.
Warner,
Julian
(2001): W(h)ither
information science?/! En: Library Quarterly. Vol. 71, n. 2,
243-255.
Wersig,
Gernot
(1979): The
Problematic Situation as a Basic Concept of Information Science in the
Framework of Social Sciences: A Reply to N. Belkin. En: International
Federation
for Documentation (Ed.):
www.capurro.de/enancib_p.htm 25/26
11/04/2022 01:01 Epistemologia e Ciencia da Informacao
Wiener,
Norbert
(1961): Cybernetics
or the control and communication in the animal and the machine. M.I.T.
Press.
Winograd,
Terry; Flores,
Fernando (1986): Understanding Computers and Cognition. A New
Foundation
for
Design. Norwood, NJ: Ablex.
Wittgenstein,
Ludwig (1958):
Philosophical investigations. G.E.M. Anscombe (Transl.), Oxford, UK:
Blackwell.
Ultima modificación: 24
de agosto de 2017
Copyright
© 2003 by Rafael Capurro, all rights reserved. This text may be
used
and shared in accordance with the fair-use
provisions of U.S. and
international
copyright law, and it may be archived and redistributed in electronic
form,
provided that the
author is notified and no fee is charged for access.
Archiving, redistribution, or republication of this text on other
terms,
in any
medium, requires the consent of the author.
Regreso
a la ciberoteca
Página
en español Investigación Actividades
Publicaciones Enseñanza Interviews
www.capurro.de/enancib_p.htm 26/26