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A recuperação da informação e o
conceito de informação: o que é
relevante em mediação cultural?
Giulia Crippa
1 Introdução
No decorrer de sua história, a Ciência da Informação (CI) tem se
deparado com problemas de difícil tratamento, sendo alguns deles: O que
é informação? O que é relevante para o usuário? Quem é o usuário final?
A mesma tem se empenhado na busca de soluções para tais problemas,
configurando-se, para tanto, como um campo multi, inter e mesmo
transdisciplinar (SARACEVIC, 1992; 1995; PINHEIRO, 2006). Dessa
forma, utiliza-se dos conhecimentos desenvolvidos em outras ciências
para realização de suas atividades. Algumas das áreas que se relacionam
com a CI são: ciência da computação, ciência cognitiva, biblioteconomia,
comunicação, entre outras (SARACEVIC, 1992; 1995).
Um dos objetivos da CI é facilitar o acesso rápido e eficaz, para os
usuários de Sistemas de Recuperação da Informação (SRI), às
informações que tais sujeitos julguem ser relevantes. No entanto, as
subjetividades que envolvem a definição de informação e o conceito de
relevância dificultam a realização plena desse objetivo. Outro aspecto que
prejudica a solução do problema observado por Mooers (1951 apud
SARACEVIC, 1992), a Recuperação da Informação (RI), é a dificuldade em
definir quem é o usuário do SRI.
Sabe-se que cada indivíduo é constituído por características sociais,
históricas, políticas e ideológicas distintas. Dessa forma, e em uma
sociedade na qual este mesmo indivíduo possui formações diferenciadas
de seus iguais, como definir o que é informação relevante para o mesmo?
Como tratar estas diferenças em um sistema, comumente, rígido,
fechado? Há, atualmente, o conceito de indexação livre, folksonomia, que
dá mais liberdade para que o usuário determine o que lhe é importante
em termos de informação. No entanto, há críticas que apontam falhas
nesse sistema de classificação, referentes a um "caos" informativo
(CATARINO; BAPTISTA, 2007).
Quanto às subjetividades que envolvem a definição do termo
informação, tem-se observado diversas abordagens que buscam
estabelecer um conceito do mesmo, e o termo conhecimento é
comumente utilizado como sinônimo daquele. Nesse ínterim, informação
tem sido considerada como tangível e conhecimento como intangível.
Todavia, ao ser determinado como informação aquilo que é informativo e
relevante para o usuário de um SRI, torna-se difícil estabelecer um ponto
fixo que determine se informação é tangível ou intangível, pois, para o
usuário, isso pode ser distinto.
Sendo a CI um campo multi, inter e mesmo transdisciplinar, é
possível observá-la, através dos mais variados contextos profissionais.
Assim sendo, busca-se analisá-la, a partir dos museus de arte. Ou seja,
relaciona-se o conceito de informação com o processo de mediação em
tais museus e, dessa forma, percebe-se um aumento das dificuldades
enfrentadas pelo profissional da informação no que tange à definição do
5 Considerações
Com o exposto, percebeu-se que, em muitos casos, a CI trabalha
com conceitos subjetivos e, por isso, tem dificuldades em estabelecer
rumos diretos e necessários para a solução de problemas, objetivando os
interesses do usuário. Tais problemas são perceptíveis nos mais variados
âmbitos os quais a CI pode vir a atuar – biblioteca, arquivo, centro de
documentação, museu, etc.
Na busca por amenizar tais problemas que, no caso abordado neste
trabalho, vem a se relacionar à RI, a CI tenta definir parâmetros para
identificar o que é informação para, a partir daí, realizar o processo de
tratamento e disponibilização da mesma para posterior recuperação. No
entanto, depara-se com diferentes perspectivas, as quais têm seu ponto
de referência ora no objeto, ora no indivíduo, ora na coletividade a qual
este indivíduo se insere.
Acredita-se que, quando observada a partir das atividades em um
museu de arte, a CI, ou melhor, o profissional da informação inserido
neste museu, passa a ter um elemento complicador a mais: o que se
define por arte? Quanto à mediação, pode-se classificá-la como o processo
de transmissão das informações culturais e artísticas contidas no museu,
ao usuário do mesmo e, assim como discutido no conceito de informação,
enfrenta a instabilidade do ponto de referência ao qual dar foco.
A definição de Arte, apesar de subjetiva, pode tornar-se um
problema menor se o profissional da informação partir da ideia de
institucionalização do objeto artístico: foi aceito no museu, é arte. Assim,
o profissional não precisaria preocupar-se em compreender os processos
de compreensão e determinação de tais objetos como arte, embora fosse,
de fato, útil compreendê-los. Mas, o problema maior a ser enfrentado por
tal profissional seria a determinação das informações a partir de uma obra
de arte. As Artes datadas anteriores ao século XIX, possuem, em geral,
um quadro de referência de representações já estabelecido. Dessa forma,
identificar as alegorias e seus significados seria, até certo ponto, mais
fácil. Acredita-se que o problema maior, talvez, viria com as artes
conceituais contemporâneas, cujas significações, exigiriam muito mais
daqueles que pretenderiam tratar suas possíveis informações. No entanto,
isso ocorreria a partir do momento em que se considerassem as ideias de
Eco (1981), de que apenas apresentar informações técnicas de uma obra
de arte não seja suficiente.
Ao buscar constituir um SRI para um museu de arte, o profissional
da informação daria entrada nos dados relacionados às características
técnicas da obra (ECO, 1981) e àquelas provenientes de interpretações
das obras. Para conseguir captar as ideias dos usuários do museu e tentar
tornar mais eficaz o processo de mediação das informações artístico-
cultural do museu de arte, acredita-se que poderia haver uma hibridização
entre os SRIs tradicionais, mais rígidos, e as novas formas de indexação
livre. Com a união de ambas, acredita-se ser possível dar importância ao
rigor técnico das atividades realizadas, bem como considerar os pontos de
entrada apontados pelo usuário. Esta ideia, de certo modo, pode ser
implantada tanto no ambiente virtual/digital quanto no físico.
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