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ENSINAR, APRENDER,

APREENDER E PROCESSOS
DE ENSINAGEM
Grupo:
Léa das Graças Camargos Anastasiou Daniel Lyra
Maíra Menezes
Nathalia Andrade

Seminário apresentado na disciplina ‘Formação para Docência’ 2022.1


Léa das Graças Camargos Anastasiou

Graduada em Pedagogia pela Universidade de São Paulo


(1975).

Mestrado em Educação pela Universidade Federal do Paraná


(1990).

Doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo


(1997) e pós-doutorado em Educação pela Universidade de
São Paulo (2002).

Professora aposentada pela Universidade Federal do Paraná.


“eu ensinei, o aluno é que não aprendeu”.
Como foi para você na faculdade?

Apresentar ou fazer exposição é ensinar?


Ratio Studiorum (1599): “Método de Estudo”

Manual de ensino dos Jesuítas (Brasil Colônia)

Passos de ensino:

1 - preleção (aula) do conteúdo pelo professor;

2 - dúvidas x exercícios (fixação);

3 - memorização prova.
Johann Friedrich Herbart (1820): passos didáticos

Pai da disciplina “Pedagogia”.

Passos: preparação, aplicação, generalização,


simbolização, abstração.

Objetivo: abstrair e memorizar um símbolo.

Prova como verificação.

Símbolo: “[...] fundamentado em


convenção social, por oposição ao ícone”
(GREIMAS e COURTÉS, 2013, p.464)
Copiar e memorizar, eis a questão…

Professor: o portador da verdade

O aluno (estudante) registra sem compreender

“Nesse processo, ficam excluídas as historicidades, os determinantes, os nexos


internos, a rede teórica, enfim, os elementos que possibilitaram aquela síntese
obtida; a ausência desses aspectos científicos, sociais e históricos deixa os
conteúdos soltos, fragmentados, com fim em si mesmo.”
(ANASTASIOU, 2003, p. 2)
A etimologia e as dimensões do ensinar
“Insignare”: marcar com um sinal (de vida); busca e despertar para o
conhecimento.

Utilização intencional: Utilização de resultado:

intenção de ensinar efetivação da meta

Se o aluno não se apropria, houve ensino?


Deve-se apreender ou aprender?
Etimologia: lat apprehendĕre

Apreender Aprender
Verbo que exige ação Verbo derivado
Segurar, prender, tomar conhecimento,
entender, compreender, reter mediante estudo,
agarrar… receber...

Fazer ou assistir aula?


Processo de ensinagem:
uma prática social
Parceria
“Na ensinagem, o processo de ensinar e

nte

Con
apreender exige um clima de trabalho tal que se

scie

trat
possa saborear o conhecimento em questão.”

Con

o
“Além do o quê e o do como pela ensinagem Aç ção
ões tru
deve-se possibilitar o pensar, situação onde ns
Co
cada aluno possa re-elaborar as relações dos
conteúdos [...]”
(ANASTASIOU, 2003, p. 4)
Processo de ensinagem: aluno e objeto de estudo
Dialética processual: contraponto e outras ideias

Ensino (professor condutor) em mão dupla que provoque a aprendizagem:

Provocar aprendizagem Tarefas contínuas Interligar aluno e objeto

Frente a frente
Processo de ensinagem: o papel do professor

Planeja.

Prepara e dirige as ações.

Define as estratégias: ferramentas de trabalho.

Conduz o aluno: mobilização, construção e


elaboração da síntese do conhecimento.

Propiciar compreensão e apreensão fundamental


para construir um conjunto relacional.

Enredar, tecer vencer a memorização.


Apreender x conteúdo (Zabala, 1998)
Aprendizagens não são iguais: diferentes conteúdos e diferentes formas de apreender

Conteúdos factuais: conhecimentos de fatos, fenômenos concretos. Aprendizagem: reprodução


literal.
Conteúdos procedimentais: regras, técnicas, métodos. Aprendizagem: a exercitação múltipla e
consciente pela reflexão sobre a atividade.
Conteúdos atitudinais: podem ser agrupados em valores, atitudes e normas. Aprendizagem:
interiorização o que implica conhecimento, avaliação, análise e elaboração.
Aprendizagem de conceitos: conjunto de fatos, princípios, leis e regras. Possibilita: elaboração e
construção pessoal.
A ensinagem e o atual

“Pela proposta atual, no processo de ensinagem, a ação de ensinar está diretamente


relacionada à ação de apreender, tendo como meta a apropriação tanto do
conteúdo quanto do processo. As orientações pedagógicas não se referem mais a
passos a serem seguidos, mas a momentos a serem construídos pelos sujeitos em
ação, respeitando sempre o movimento do pensamento. Diferentemente dos
passos, que devem acontecer um após o outro, os momentos não ocorrem de forma
estanque, fazendo parte do processo de pensamento.”

(ANASTASIOU, 2003, p. 7)
Ensinagem e o método dialético

O conhecimento é resultado da lógica que o fundamentou, seja ela formal ou dialética.

E isso também acaba gerando o posicionamento do professor.

Tem-se como lógica:

“A lógica tem por objeto o estudo dos princípios e regras que o pensamento deve seguir na
pesquisa da verdade. Esses princípios e regras não derivam da fantasia. Originam-se do
contrato permanente do homem “lógico”, que lhe ensinou que não pode fazer o que bem
entenda. (POLITZER, G., 1970, p. 35).”
Lógica formal

A lógica tradicional é composta por três regras: o princípio de identidade, o de


não-contradição e o do terceiro excluído.
Ao excluir as contradições considerando-as como um equívoco do pensamento que deve
ser repelido, se condena a ser uma lógica baseada na superfície da realidade. Sendo assim
ela torna-se um modelo restritivo e unilateral, usando uma falsa ideia de objetividade.
A lógica formal não pode romper o círculo por ela mesmo criado porque não tem poder
para explicar a totalidade do conhecimento.
A crise da lógica formal

Os modelos formais se revelaram insuficientes, não só apenas pelo avanço da filosofia mas
também pelo próprio desenvolvimento da ciência que, incluindo conceitos de transformação, de
organização crescente e a ideia de tempo, exigiu a construção de novos conceitos que
extrapolaram a área da lógica tradicional.

Com isso surge a lógica dialética: indispensável, para a compreensão dos acontecimentos em que
o homem é simultaneamente investigador e um dos elementos do problema investigado.

Mas a lógica formal não tem só pontos negativos…


A importância da lógica formal

A lógica formal representa uma síntese importante, que possibilita a organização e


explicitação do conhecimento obtido em cada momento histórico, oferecendo ferramentas
importantes para o trabalho docente.

Com isso, para organizar e registrar a síntese para fins de explicitação, utilizam-se as regras
da lógica formal.

Isso porque: o que tem que ser dialeticamente percebido deve ser formalmente explicitado.
O que fundamenta a lógica formal

O ensino a partir da lógica formal é baseado nos princípios de: identidade e negação.

Os conceitos ensinados são conteúdos mentais que devem ser assimilados pelos alunos.

Como conseguir um conceito? A pessoa deve ser capaz de atribuir-lhe um signo e de dar-lhe um sentido.

Introdução Generalização Abstração Simbolização dos conceitos


O que fundamenta a lógica formal

● Quando o professor se baseia apenas nessa lógica a apresentação do conteúdo se dará


basicamente através de aulas expositivas. Porém, quando ele tem a visão da necessidade
das outras etapas, organiza atividades com as quais o aluno possa generalizar, diferenciar,
abstrair e simbolizar os conceitos trabalhados.
● Quando em uma prova o aluno demonstra que aprendeu o conceito enunciado, o professor
considera que já fez o seu papel de ensinar. Nesse tipo de relação de ensino, o que se
requer do aluno é o aprendizado do conceito enunciado, geralmente, através de
memorização. Porém isso não garante que o aluno se apropriou do conteúdo.
A proposta da lógica dialética
Onde a lógica formal propõe a verificação do Pensamento

domínio do conteúdo, qual seja, no símbolo, se


continue a caminhada em direção à construção
daquilo que chama de “o concreto pensado”. Apreendida no Reflexão
pensamento
Esse modelo possibilita que o aluno possa
refletir sobre os conteúdos trabalhados.O
fundamento da lógica dialética, considera que a
realidade não pode ser diretamente apreendida
pelo sujeito.
Princípios da lógica dialética

Para além da identidade e da negação estão os


princípios de movimento, contradição, existência
de uma visão inicial e sincrética trazida pelo aluno,
o que gera uma possibilidade de análise visando a
construção de sínteses, sempre provisórias, a
serem efetivadas no processo do pensar humano,
em ação conjunta de alunos e professores.
Consequências da lógica formal
Uma visão estritamente formal do conhecimento pode levar a algumas consequências,
como:

● Pretensão de atingir verdades absolutas e perfeitas


● Oscilação entre dogmatismo e negação absoluta de uma verdade

Por isso os elementos da lógica formal devem ser superados pelas contribuições da lógica
dialética, por incorporação e não por rejeição.
Como implementar a lógica dialética

A ação docente deve ser o ponto de partida para a construção dessa didática. Tanto as ações
docentes quanto as dos alunos deverão ser planejadas e propostas pelos professores.

Conforme Chauí:

“A dialética é a única maneira pela qual podemos alcançar a realidade e a verdade como movimento
interno da contradição (...) A contradição dialética nos revela um sujeito que surge, se manifesta e se
transforma graças à contradição de seus predicados, tornando-se outro do que ele era, pela negação
interna de seus predicados. Em lugar de a contradição ser o que destrói o sujeito (como julgavam todos os
filósofos), ela é o que movimenta e transforma o sujeito, fazendo síntese ativa de todos os predicados
postos e negados por ele.”
Desenvolvimento do método dialético

Nessa lógica o pensamento passa por algumas etapas: uma afirmação ou tese inicial, a construção
de sua contradição, ou antítese da mesma, para se chegar a uma síntese.

Assim que o conteúdo é apresentado o que se espera do aluno é uma visão inicial.

A partir da análise do objeto de estudo a visão inicial é superada por uma nova visão, a síntese. A
síntese, embora seja superior à visão sincrética inicial, é sempre provisória, pois o pensamento
está em constante movimento e alteração.

Enquanto na lógica formal o objetivo era chegar no símbolo através da memorização, através de
aulas expositivas e exercícios de repetição. No método dialético o objetivo não é chegar no
símbolo, mas ir além dele.
Operações de pensamento
O trabalho dialético com o conhecimento coloca em ação operações de pensamento
encadeadas em complexidade crescente.

● Comparação ● Obtenção e organização de dados


● Resumo ● Levantamento de hipóteses
● Observação ● Aplicação de fatos e princípios a
● Classificação novas situações
● Interpretação ● Decisão
● Crítica
● Planejamento de projetos de
● Busca de suposições
pesquisa
● Imaginação
Clareza e intencionalidade

As estratégias contidas no programa de aprendizagem propõem ao aluno o exercício


desses processos mentais.

O professor deve ter clareza da complexidade crescente das operações de


pensamento e intencionalidade de mobilizá-las para desafiar os alunos na direção de
um pensamento cada vez mais complexo, integrativo e flexibilizado.

Considerar os momentos da metodologia dialética e as operações de pensamento na


construção do programa de aprendizagem ajuda a buscar estratégias facilitadoras e
desafiadoras do pensar, que promovam o apreender.
Resistências

As resistências não estão presentes apenas nas instituições, na organização curricular e nos
docentes. Os alunos também podem ter resistência à mudança no modelo de aprendizagem.

A escolha de diferentes estratégias pode e deve ser objeto de reflexão com os alunos na
discussão do contrato de trabalho no começo do semestre ou ano letivo.

Comportamentos que dificultam o pensar: impulsividade, excessiva dependência em relação


ao professor, incapacidade para concentrar-se, incapacidade para ver o significado,
processos de rigidez e inflexibilidade de comportamento e falta de disposição para pensar.
(RATHS et all, 1977, apud ANASTASIOU, 2003)
Apontamentos para o professor

“Em que medida a complexidade própria do saber proposto no currículo está


intencionalmente incluída nos objetivos e efetivada nas estratégias vividas com os
alunos?” (ANASTASIOU, 2003, p.14)

“Ao apreender-se um conteúdo, apreende-se também determinada forma de pensar


e de elaborar esse conteúdo, motivo pelo qual cada área exige formas de ensinar e de
apreender específicas, que explicitem e sistematizem as respectivas lógicas.”
(ANASTASIOU, 2003, p. 18)
Apontamentos para o professor

O docente precisa captar as disposições, experiências e identidades dos estudantes


para escolher estratégias que despertem sensações ou estados de espírito
carregados de vivência pessoal.

Através dos Programas de Aprendizagem se efetiva uma relação contratual na qual


professor e aluno têm responsabilidades na conquista do conhecimento, adotando
processos de parceria e colaboração.

“Os sujeitos, em parceria, saboreiam um fazer: essa é a essência de um processo de


ensinagem.” (ANASTASIOU, 2003, p. 18)
Dos passos aos momentos
Saviani (1982): prática social do aluno, problematização, instrumentalização, catarse, prática
social reelaborada.

Vasconcelos (1994):

● mobilização para o conhecimento: cabe ao professor compartilhar o sabor do saber;


considerar a relação entre a realidade concreta e os alunos; ter clareza. socializar e vincular
os objetivos e estabelecer o clima do compartilhar.
● construção do conhecimento: etapa operacional da atividade do aluno. Por exemplo: :
estudo de textos, vídeos, pesquisa, debates, grupos de trabalhos, seminários, exercícios etc.
● elaboração da síntese do conhecimento: etapa de sistematização, feita pelo aluno, sobre o
objeto apreendido e consolidação de conceitos.
Processo de ensinagem

A relação pedagógica é configurada pela interação intencional, planejada e responsável,


entre aluno, professor e objeto de conhecimento.

Busca o alcance da lógica própria da área, mobilizando o envolvimento e o


comprometimento de alunos e professores no processo de compreensão da realidade e do
seu campo profissional.

“Para isso, o desenvolvimento do raciocínio, a precisão de conceitos básicos, o crescimento


em atitudes de participação, respeito e crítica em relação aos conhecimentos constituem
objetivos essenciais do processo de ensinagem.” (ANASTASIOU, 2003, p. 21)
Síntese possível

● Visão do conhecimento; “Essa é uma possibilidade de superação da


● Sujeitos do processo; fragmentação curricular: pensar coletivamente o
● Parceria deliberada, consciente curso, seus fins e valores, as séries iniciais,
e contratual; intermediárias e finais do processo de formação do
● Metodologia dialética; profissional, os processos mentais necessários ao
● Percursos curriculares; futuro profissional, a lógica das disciplinas, como
● Formação contínua; uma forma necessária de se trabalhar os conteúdos
● Processos colegiados. com vistas aos objetivos, aos alunos reais e às
condições institucionais existentes e a serem
criadas.” (ANASTASIOU, 2003, p. 23)
Texto complementar: O QUE É
AFINAL APRENDIZAGEM
SIGNIFICATIVA
Marco Antonio Moreira
Marco Antonio Moreira

Licenciado em Física (1965) e Mestre em


Física (1972) pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS)/Brasil.

Doutor em Ensino de Ciências (1977) pela


Cornell University/USA.

Foi professor do Instituto de Física da


UFRGS de 1967 a 2012, quando
aposentou-se como Professor Titular.
David Ausubel (1918-2008)

Autor principal citado.

Graduado em psicologia e medicina.

Doutor em psicologia do desenvolvimento pela


Universidade de Columbia, nos Estados Unidos,
onde foi professor do Teacher’s College.

Teoria da Aprendizagem que culmina na


“Aprendizagem Significativa”.
Principais conceitos abordados

Aprendizagem significativa: ideias expressas simbolicamente interagem de maneira


substantiva e não-arbitrária com aquilo que o aprendiz já sabe.
“Quando o sujeito atribui significados a um dado conhecimento, ancorando-o
interativamente em conhecimentos prévios, a aprendizagem é significativa, independente
de se estes são os aceitos no contexto de alguma matéria de ensino.”
Existe a interação entre conhecimentos prévios e novos.
Subsunçores: conhecimentos prévios especificamente relevantes para a aprendizagem de
outros conhecimentos.
Principais conceitos abordados
Condições para aprendizagem significativa: 1 - o material só pode ser potencialmente
significativo; 2 - o aprendiz deve querer relacionar novos conhecimentos.
Principais conceitos abordados

Aprendizagem receptiva: o aprendiz


“recebe” a informação, o conhecimento, a
ser aprendido em sua forma final.

Aprendizagem por descoberta: o aprendiz


primeiramente descubra o que vai aprender.
Referências

Anastasiou, L. G. (2003). Ensinar, Aprender, Apreender e Processo de Ensinagem.


In: Anastasiou, L. G. e Alves, L.P. (orgs.). Processos de Ensinagem na Universidade:
Pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. Joinville: Editora Univille,
pp. 11-36.
Moreira, M.A. (2010). O que é aprendizagem significativa afinal? Aula inaugural do
programa de pós-graduação em ensino de ciências naturais. Instituto de física,
Universidade Federal do Mato Grosso- Cuiabá-MT.
QUESTIONAMENTOS FINAIS

Considerando os pontos abordados por Anastasiou (2003), como você vê o


seu processo de formação na graduação? Você acha que seria possível
formar um profissional na sua área em um modelo de ensinagem, ou seja,
sem aquele esquema tradicional, de aula expositiva, memorização e provas?

O ensino torna o aluno consciente de que ele é um sujeito, ou seja, também


é parte desse processo de ensinagem? As universidades formam sujeitos ou
pessoas que reproduzem conteúdos?
Obrigado!

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