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SEQUÊNCIA ANALÍTICA

Definição de uma sequência analítica

 É o conjunto de etapas inerentes à análise química,


compreendendo desde a definição do problema
analítico até a tomada de uma decisão com base nos
dados obtidos.

 Todas as etapas devem ser rigorosamente


consideradas, pois, caso contrário, os resultados
podem ser totalmente invalidados.
Definição do problema Amostragem

Análise Preparo

Interpretação Tomada de decisão


Seleção do método analítico
 Uma verdade que pode parecer inconsistente: nem
sempre o método mais sofisticado e caro é aquele que
fornecerá os melhores resultados.

 Critérios fundamentais para a seleção do método


analítico: propriedades físico-químicas e concentração
do(s) analito(s), composição e quantidade disponível
de amostra e tempo para a divulgação dos resultados.
Seleção do método analítico
 Por exemplo, na determinação de ferro em minério de ferro,
torna-se desnecessário o emprego de um método analítico
com alta sensibilidade. Pode-se utilizar, por exemplo,
titulação redox.

 Por outro lado, se as concentrações dos analitos estiverem em


g L-1 ou g kg-1, métodos volumétricos ou gravimétricos
devem ser descartados.

 Para análises de traços e ultra-traços, deve-se escolher os


métodos fundamentados em espectrofotometria (molecular
ou atômica), voltametria, cromatografia, entre outros.
Seleção do método analítico

 Se os analitos apresentarem volatilidade apreciável, a


preocupação não deve estar somente na técnica de
detecção.

 Nesse caso, as etapas de decomposição das amostras devem


ser realizadas em sistemas fechados (pressurizados).

 Composição da matriz da amostra: define se o tratamento


será por via úmida ou por via seca, bem como quais serão os
reagentes empregados e a forma de aquecimento
(convectivo ou induzido por micro-ondas).
Seleção do método analítico
 Se a quantidade de amostra (massa ou volume) for escassa, torna-se
necessário escolher métodos que utilizam g ou L da amostra.

 Como exemplo, temos os métodos baseados na espectrofotometria


de absorção atômica com forno de grafite (GF AAS).

 No caso da GF AAS, o tempo de análise de uma única amostra pode


durar até 5 minutos, o que acarreta baixa frequência analítica do
método.

 Então, o analista deve ponderar entre frequência analítica,


sensibilidade, quantidade disponível de amostra e custos de análise.
Seleção do método analítico
 Devemos ser especialmente cautelosos em relação às
concentrações dos analitos.

 Quanto menores forem as concentrações que desejamos dosar,


maiores serão nossas possibilidades de errar.

 Portanto, avalie se realmente existem condições analíticas


para uma análise de traços e ultra-traços no laboratório em
que você trabalha.

 Essas análises requerem o uso de reagentes e água com


pureza muito elevada (o grau PA já não serve!).
Seleção do método analítico

 Se a seleção de um método analítico é uma tarefa árdua,


como podemos minimizar os esforços?

 Uma consulta cuidadosa na literatura analítica pode


economizar um tempo precioso e evitar desperdícios de
recursos.

 Entretanto, seu desafio analítico pode ser de tal magnitude


que seja necessário o desenvolvimento de um método
inteiramente novo.
Seleção do método analítico

 Sempre que possível, evite métodos com


procedimentos muito longos (várias etapas), pois isso
aumenta consideravelmente as chances de perder o(s)
analito(s), ou de contaminar as amostras com ele(s).

 A tendência da Química Analítica moderna é


desenvolver métodos cada vez mais simples, rápidos,
econômicos e ambientalmente seguros.
AMOSTRAGEM
Obtenção da amostra: amostragem

“Os resultados de uma análise quantitativa


somente poderão ter o valor que dela se espera na
medida em que a porção do material submetida
ao processo analítico representar, com suficiente
exatidão, a composição média do material em
estudo.” (Ohlweiler, 1982)
Obtenção da amostra
 Quanto mais heterogêneo for o material a ser analisado,
mais complexa será a etapa de amostragem. Exemplos:
solos de uma área urbana ou rural, carregamentos de
minério de um navio, mistura de sais, etc.

 Se a amostragem for conduzida de forma inadequada, erros


exorbitantes podem acontecer com a total invalidação dos
resultados. Não adianta possuir um laboratório topo de
linha se o trabalho de amostragem (fora do
laboratório) for insatisfatório.
A amostragem e os diferentes tipos de
amostras

 Amostra bruta: é formada pela reunião dos diferentes


incrementos da amostragem.

 Amostra de laboratório: amostra obtida por procedimentos


adequados de redução do tamanho da amostra bruta.

 Amostra para análise: porção reduzida da amostra de


laboratório suficientemente homogeneizada para poder
ser medida e submetida à análise.
Seja em relação à amostra bruta, à
amostra de laboratório ou à amostra para
análise, sempre existirão etapas de
preparo de amostra.
Obtenção da amostra bruta
Caso 1: monitoramento da qualidade ambiental
de água de rio entre dois municípios
 Pontos são definidos, em ambas as margens, de acordo
com critérios específicos.

 Quais são esses critérios?

 Presença de indústrias, estações de tratamento de


água, aglomeração elevada de pessoas (condomínios,
shoppings), presença de fazendas, etc.
Definição dos pontos de coleta
Como coletar as amostras de água?

www.vetorial.net
Caso 2: sedimentos de rio
 A profundidade da camada coletada dependerá do
objetivo da análise.

 Se a informação desejada estiver relacionada a


depósitos de partículas mais recentes, a coleta será
efetuada nos primeiros 10 cm.

 Se houver um interesse de se fazer um histórico de


deposição de poluentes, coleta-se o que se chama de
testemunho (coluna de sedimentos com mais de 1 m).
Caso 3: solos para análise de fertilidade

www.sigacana.com.br
Caso 4: solos urbanos

www.ppegeo.igc.usp.br
Caso 5: carregamento de minério de ferro

www.dtidigital.com.br
Caso 6: carregamento de uma mistura de KCl e KNO3

www.levelofhealth.com
Caso 7: Finalmente, um caso muito simples...

 Um indivíduo morre envenenado com uma determinada


substância. Os investigadores suspeitam que o veneno foi
ingerido em alta dose, de uma só vez, e que o veneno estava
dissolvido na água de uma única garrafa.

Amostra única, homogênea. Uma


pequena fração representa o todo.

www.pizza.segger.com.br
Processando (preparando) a amostra
bruta para transformá-la em amostra de
laboratório
Processando uma amostra bruta sólida

 Processar a amostra bruta significa diminuir o


tamanho de suas partículas, homogeneizá-las e
obter massas consideravelmente menores para
compor as amostras de laboratório.

 Comumente, essas etapas são feitas em locais de


apoio, que não são os laboratórios de análise
química.
Níveis de dificuldade no processamento da
amostra bruta sólida

 Às vezes, a amostra bruta tem um tamanho


apropriado para se tornar imediatamente
uma amostra de laboratório.

 Em outros casos, porém, as amostras brutas devem


ser processadas laboriosamente para obter a
amostra de laboratório.
Níveis de dificuldade no processamento da
amostra bruta sólida
 1) Diminuição do tamanho dos fragmentos mediante
processos de trituração e moagem.

 2) Mistura do material após diminuição do tamanho


das partículas.

 3) Divisão da amostra com aproveitamento de uma


parte e rejeição da outra (quarteamento).
Níveis de dificuldade no processamento da
amostra bruta sólida

 Uso de equipamentos específicos, a exemplo da britadeira


de mandíbulas e do pulverizador de discos.

 São equipamentos capazes de triturar fragmentos muito


grandes de rochas, minérios e solos.

 Só para se ter uma ideia da capacidade de trituração desses


equipamentos, eles são empregados na reciclagem de
resíduos da construção civil.
Redução do tamanho de partículas da amostra
bruta sólida – britadeira de mandíbulas

www.pt.aliexpress.com
Quarteamento da amostra bruta sólida

www.docplayer.com.br
www.clubedoconcreto.com.br
E a amostragem de líquidos?
Amostragem de sólidos X líquidos
Materiais sólidos sempre serão mais problemáticos para
serem amostrados, visto que o nível de homogeneidade
encontra-se na escala de partículas, muitas vezes, visíveis
a olho nu.

Por sua vez líquidos costumam apresentar


homogeneidade ao nível molecular/iônico. Em
consequência, pequenos volumes de líquidos
conseguem, em um número razoável de vezes,
representar o todo.
Amostragem de líquidos

Amostra simples: feita em um único ponto e em uma


única profundidade do reservatório. Deve-se conhecer
muito bem as condições no momento da coleta
(descrição do ponto, hora e profundidade).

“As amostras compostas são imprescindíveis quando se


deseja avaliar um material cujos parâmetros de interesse
sofrem variações de concentração em pequenos de
intervalos de tempo e espaço.”
Amostragem de líquidos
Líquidos com suspensões estáveis durante o tempo
requerido para a amostragem: agitação vigorosa da
massa líquida com coleta imediata.

Líquidos com suspensões instáveis durante o tempo


requerido para a amostragem: agitação vigorosa da
massa líquida com coleta imediata de toda a coluna de
líquido.
Como conservar a amostra durante o transporte
para o laboratório de análise?

Em muitas situações, essa amostra que está sendo


transportada já é a amostra de laboratório.
Entre a obtenção/processamento da amostra
bruta e a chegada ao laboratório
A depender do tipo de amostra, procedimentos de
conservação devem ser adotados.

Solos e sedimentos: refrigeração em caixas de isopor


com gelo.

Solos e sedimentos: já no laboratório, se as análises não


forem imediatas, deve-se estocar em freezer a – 20ºC.
Entre a obtenção/processamento da amostra
bruta e a chegada ao laboratório
Águas naturais: refrigeração em caixas de isopor com
gelo.

Águas naturais: a depender do objetivo da análise,


pode-se, ou não, acidificar a amostra com HNO3 até pH
< 2.

Tecidos animais: devem ser refrigerados em caixas de


isopor com gelo, ou congelados se o transporte até o
laboratório for muito demorado.
Entre a obtenção/processamento da amostra
bruta e a chegada ao laboratório
Tecidos vegetais: mesmos procedimentos descritos para os
tecidos animais.

Amostra de alimentos: refrigeração/congelamento (para


matrizes perecíveis) caso o transporte até o laboratório seja
longo, ou simplesmente a preservação da embalagem
original.

Outros casos: avaliar individualmente, sempre


considerando a tendência da matriz em sofrer deterioração
microbiológica e tempo de chegada ao laboratório.
A amostra já está no laboratório de análise
química. O que se deve fazer a partir desse
ponto?
Obtendo as amostras para a análise química
 Lembrem-se: amostra de laboratório ainda não é a
amostra para análise.

 No laboratório, as etapas seguintes compreendem


o congelamento de amostras sólidas (- 20ºC) caso
não haja análise imediata. O intuito é o de evitar a
degradação microbiológica.

 Antes da análise química, as amostras sólidas


devem ser submetidas à secagem em estufa (100°C
a 110°C) para a retirada da umidade.
Obtendo as amostras para a análise química

 Depois da secagem, as amostras sólidas ainda


devem ser trituradas (moídas) e submetidas a um
controle do tamanho de partículas.

 Tal controle é feito mediante o uso de peneiras de


diferentes malhas.

 No geral, as peneiras possuem sua estrutura em


aço inoxidável ou em teflon.
Trituração – Por que fazer isso?
A trituração pode diminuir consideravelmente o
tamanho das partículas.

Essa diminuição é essencial para: 1) garantir reduções


nos erros da amostragem de sólidos (lembre-se do
exemplo da mistura KCl/KNO3) e 2) aumentar a área de
contato entre as amostras e ácidos (e outros agentes
oxidantes) e solventes orgânicos.
Trituração – Por que a área superficial
aumenta?

Wicander & Monroe, 2009.


Trituração
É a etapa de redução do tamanho das partículas e,
geralmente, antecede a etapa de peneiramento.

A trituração pode ser feita em grais constituídos por uma


ampla variedade de materiais: aço, ágata, mulite,
porcelana, cerâmica, entre outros.

Em grais constituídos por materiais menos duros, existe


a possibilidade de contaminar a amostra com elementos
da constituição do gral. Elementos voláteis podem ser
perdidos devido ao aquecimento gerado pelo atrito.
Trituração

A trituração também pode ser realizada utilizando


moinhos com diversas formas de funcionamento, a
exemplo do moinho de bolas ou de lâminas.

Nos moinhos de bolas, a amostra sólida é pulverizada


mediante movimentos de bolas de aço, WC ou de
cerâmica no interior de recipientes que se movem de um
lado para o outro.
Trituração

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www.casaamericana.com.br
Composição dos principais grais

Ágata: SiO2

Mulite: 3(Al2O3).2(SiO2)

Porcelana: composição variável, contendo Al, Si, K, entre


outros.

Carbeto de tungstênio: WC.


Trituração – moinho de bolas

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Trituração – moinho de bolas

www.portuguese.alibaba.com
Trituração – moinho de lâminas e moinho
criogênico
No moinho de lâminas, as quais são confeccionadas por
aço inoxidável, amostras sólidas são trituradas como se
estivessem em um liquidificador.

Quando temos que triturar materiais não quebradiços, a


exemplo de alimentos gordurosos (chocolates) ou
plásticos, usamos o moinho criogênico no qual as
amostras são congeladas com nitrogênio líquido (cerca
de - 196ºC).
Trituração – moinho criogênico

www.ctbe.cnpem.br
Trituração – moinho criogênico

www.phdequipamentos.com.br
Trituração – moinho criogênico

www.allchemy.iq.usp.br
Variedade de peneiras

www.engetotus.com.br
Heterogeneidade das partículas de sedimentos fluviais
Heterogeneidade das partículas de sedimentos fluviais
Heterogeneidade das partículas de sedimentos fluviais
Já estamos com a amostra para análise
devidamente homogeneizada e com uma massa
adequada. Devemos continuar nas etapas de
preparo para dissolver/decompor as amostras.
QUAL O OBJETIVO?

http://br.depositphotos.com/stock-photos/bal%C3%A3o-volumetrico.html
Dissolução/Decomposição da amostra para a análise

A grande maioria das técnicas instrumentais de análise


requerem que as amostras estejam na forma de soluções
aquosas.

Algumas poucas técnicas, como a difratometria de Raios-


X, podem analisar amostras sólidas diretamente.

Ah se todas as técnicas fossem assim...


Dissolução/Decomposição da amostra para a análise
O procedimento de dissolução/decomposição ideal é aquele
que cumpre os seguintes requisitos:

Completa dissolução/decomposição sem deixar


resíduos.

Uso de reagentes que não causem interferências.

Ausência de perdas do analito e de ataque dos


recipientes.

Segurança operacional.
Dissolução/Decomposição da amostra para a análise

No caso da mistura de KCl e KNO3 que tanto discutimos,


temos uma situação muito próxima da ideal, pois a
dissolução pode ser feita mediante o acréscimo de
quantidades suficientes de água ultrapura.

Porém, na maioria das vezes, torna-se necessário o uso


de agentes oxidantes em meio líquido, ou a utilização de
aquecimento em atmosfera oxidante.
Dissolução/Decomposição da amostra para a análise

Os procedimentos de dissolução/decomposição da
amostra valem tanto para matrizes sólidas quanto
líquidas.

Decompor materiais líquidos? Por quê?

Porque líquidos podem ser viscosos e totalmente


inadequados para uma introdução direta na maioria dos
equipamentos.
Dissolução/Decomposição da amostra para a análise

A escolha entre as diferentes opções é ditada pela


natureza dos analitos (voláteis ou não?).

Composição da matriz (predominantemente inorgânica


ou orgânica?).

Características das técnicas de detecção (quais


substâncias podem ser introduzidas em um determinado
equipamento?).
Dissolução/Decomposição da amostra para a análise

Todos os procedimentos que iremos discutir a partir de


agora referem-se a condições muito oxidantes.

Portanto, se o interesse é determinar analitos orgânicos


(moléculas), esqueça qualquer um dos procedimentos de
dissolução/decomposição de amostra que iremos
abordar nos próximos slides...

Os procedimentos descritos a seguir servem para


analitos inorgânicos.
Decomposição por via úmida: uso de reagentes
oxidantes líquidos em sistemas abertos ou
fechados
Decomposição de amostras por via úmida

Nessa modalidade de procedimentos, a decomposição


das matrizes das amostras é feita pelo uso de reagentes
líquidos.

Tais reagentes podem ter elevado caráter oxidante


(HNO3, H2O2, água régia, etc.), não tão oxidante (HCl),
ou complexante (HF).

Mas, além dos ácidos e peróxidos, a decomposição por


via úmida necessita de uma fonte de aquecimento.
Decomposição de amostras por via úmida: cuidado na
escolha dos reagentes
Zn(s) + 2 HCl(aq) → ZnCl2(aq) + H2(g)

MgO(s) + 2 HCl(aq) → MgCl2(aq) + H2O(l)

CaCO3(s) + 2 HCl(aq) → CaCl2(aq) + H2O(l) + CO2(g)

FeS(s) + 2 HCl(aq) → FeCl2(aq) + H2S(g)

Ag(s) + HCl(aq) → AgCl(s) + ½ H2(g)

BaCO3(s) + H2SO4 → BaSO4(s) + H2O(l) + CO2(g)


Decomposição de amostras por via úmida: cuidado na
escolha dos reagentes

COBRE + HCl → NADA OCORRE

Cu(s) + 4 HNO3(aq) → Cu(NO3)2(aq) + 2 NO2(g) + 2 H2O(l)


(ÁCIDO CONCENTRADO)

Qual o motivo do HNO3 conseguir atacar quimicamente o


cobre metálico?
Por que o HCl não dissolve o cobre metálico e o HNO3
dissolve?

2 H+(aq) + 2 e- H2(g) ( o = 0,00 V)

Cu2+(aq) + 2e- Cu(s) ( o = + 0,34 V)

2 NO3-(aq) + 4 H+(aq) + 2 e- NO2(g) + 2 H2O(l) ( o = + 0,81 V)

Zn2+(aq) + 2e- Zn(s) ( o = - 0,76 V)


Decomposição de amostras por via úmida –
aquecimento induzido por micro-ondas

Neas & Collins, 1988


Decomposição de amostras por via úmida –
aquecimento induzido por micro-ondas

Neas & Collins, 1988


Aquecimento induzido por micro-ondas – efeito da
rotação de dipolo

Neas & Collins, 1988


Decomposição de amostras por via úmida –
aquecimento induzido por micro-ondas
As micro-ondas promovem o aquecimento de um meio
contendo compostos polares e/ou eletricamente
carregados.

Ao interagir com moléculas de água, a radiação micro-


ondas faz com que as mesmas girem ao redor de seu
centro de massa.

O movimento rápido de orientação oscilante com o


campo elétrico causa a dissipação de energia na forma de
calor.
Aquecimento induzido por micro-ondas – efeito da
rotação de dipolo

Na frequência de 2450 MHz, o alinhamento das


moléculas seguido pelo retorno à desordem
acontece 4,9 x 109 vezes por segundo!

Isso gera um aquecimento muito rápido do meio


irradiado com as micro-ondas.
Aquecimento induzido por micro-ondas – efeito da migração
iônica

O campo eletromagnético aplicado à amostra (na qual a radiação


micro-ondas está incidindo) promove a migração de íons em
direções opostas.

Essa migração gera calor devido à resistência oferecida ao fluxo


iônico.

A contribuição de cada íon dependerá de sua concentração,


tamanho, carga e interação com o solvente.

A viscosidade do meio irradiado é um fator importante no


aquecimento por migração iônica.
Decomposição de amostras por via úmida –
aquecimento induzido por micro-ondas

www.repositorio.unesp.br
Decomposição de amostras por via úmida –
aquecimento induzido por micro-ondas
O aquecimento é muito mais rápido, pois a energia calorífica
não vem de fora do sistema, mas, sim, de dentro dele. O que
vem de fora do sistema é a radiação eletromagnética.

Um procedimento de decomposição que pode durar 4 h


numa chapa aquecedora pode ser realizado em 15 minutos em
um forno de micro-ondas.

Quando o forno de micro-ondas de alta pressão é usado, além


da velocidade e da eficiência de decomposição, as perdas de
analitos voláteis são evitadas.
Decomposição de amostras por via úmida –
aquecimento induzido por micro-ondas
A eficiência da conversão da energia eletromagnética das micro-
ondas em energia calorífica, em um meio, é ditada pelo fator de
dissipação.

Fator de dissipação = ”/’, onde ’ mede a capacidade de


alinhamento das partículas constituintes da amostra em relação
a um campo elétrico. Por sua vez, ’’ mede a habilidade da
amostra de dissipar essa energia na forma de calor.

Ou seja, o quociente ”/’ fornece uma ideia da transformação


da energia das micro-ondas em calor em cada material.
Decomposição de amostras por via úmida – aquecimento induzido por
micro-ondas
Material ’ ” Fator de
dissipação x 104
Gelo 3,2 0,00288 9
Água (25°C) 76,7 12,0419 1570
NaCl(aq) 0,1 mol L-1 75,0 18,12 2400

NaCl(aq) 0,5 mol L-1 67,0 41,875 6250

1-propanol 3,7 2,479 6700

Etilenoglicol 12,0 12 10000


Heptano 1,9 0,00019 1
CCl4 2,2 0,00088 4
Sanseverino, 2002.
Decomposição de amostras por via úmida –
aquecimento induzido por micro-ondas

Mais cuidado! O aquecimento pelas micro-ondas


não é sempre ditado pelos valores de ’, pois o 1-
propanol possui ’ bem menor que o da água, mas
esse álcool é muito mais aquecido do que a água na
presença das micro-ondas. O motivo é a menor
capacidade calorífica do referido álcool em relação
à água.
Decomposição de amostras por via úmida –
aquecimento induzido por micro-ondas

www.slideplayer.com.br
Estrutura de um forno de micro-ondas caseiro

http://www.fotolibra.com/gallery/49562/microwave-oven-how-it-works-illustration/
Forno de micro-ondas de laboratório

http://www.speciation.net/Database/Instruments/Milestone-Srl/START-D--Microwave-Digestion-System-;i2571
Aquecimento dos frascos de amostras em forno de
micro-ondas de laboratório

Neas & Collins, 1988


Composição dos frascos que recebem as amostras
em um forno de micro-ondas

www.ufjf.br
Composição dos frascos que recebem as amostras
em um forno de micro-ondas

www.substech.com
Composição dos frascos que recebem as amostras
em um forno de micro-ondas

www.ikvlubricants.com
Decomposição de amostras por via úmida –
aquecimento convectivo

Neas & Collins, 1988


Decomposição de amostras por via úmida –
aquecimento convectivo

Chapa aquecedora Bloco digestor

www.solabcientifica.com.br
Decomposição de amostras por via úmida –
aquecimento convectivo
Na chapa aquecedora, o aquecimento pode ser
demorado e a superfície da chapa não é aquecida de
forma homogênea.

O sistema é aberto (em contato com a atmosfera) e isso


pode ocasionar a perda de analitos voláteis (mas, esse
efeito não tende a ser tão severo como na via seca).

Em contato com uma pressão atmosférica de 1 atm, a


temperatura de aquecimento fica limitada.
Decomposição de amostras por via úmida –
aquecimento convectivo
Os blocos digestores oferecem uma maior
homogeneidade de aquecimento, mas as limitações da
perda de analitos voláteis e das temperaturas
relativamente baixas ainda continuam.

A evaporação constante dos reagentes (ácidos, entre


outros) requer reposições e isso acarreta consumo
elevado de ácidos e peróxidos, além de aumentar os
riscos de contaminação das amostras.
Decomposição de amostras por via úmida –
aquecimento convectivo
O uso de quantidades elevadas de reagentes (como os ácidos)
pode ocasionar a contaminação das amostras com o analito.

Portanto, os brancos podem ficar com concentrações


relativamente elevadas do analito e isso, como veremos
adiante, diminui a sensibilidade do método analítico.

Para minimizar esse problema, devem ser empregados


reagentes com alto grau de pureza.
Decomposição de amostras por via úmida –
aquecimento convectivo
A decomposição de amostras por aquecimento convectivo
também pode ser feito em sistema fechado, nos chamados
frascos de decomposição.

Nesses frascos, os quais são fechados e, portanto,


pressurizados, são colocadas massas controladas de amostra e
volumes de reagentes (ácidos, por exemplo).

O sistema fechado é colocado no interior de estufas para o


aquecimento.
Decomposição de amostras por via úmida –
aquecimento convectivo em sistema fechado

www.ufjf.br
Decomposição de amostras por via úmida –
aquecimento convectivo em sistema fechado

Cuidado com os acidentes!!!

http://slideplayer.com.br/slide/49447/
Decomposição de amostras por via úmida –
aquecimento convectivo

A principal vantagem dos frascos pressurizados consiste em


evitar que analitos voláteis sejam perdidos.

Entretanto, sempre há o risco de um aquecimento inesperado


e um aumento brusco de pressão no interior dos frascos, o
que pode ocasionar acidentes sérios.

Materiais com muita matéria orgânica devem ser


decompostos com muita cautela em relação à massa de
amostra que é colocada no interior dos frascos.
Propriedades dos ácidos mais comumente
empregados na decomposição por via úmida
Propriedades dos ácidos

HNO3 → 65 a 69% (m/m) (PE = 121°C), oxida todos os metais


(exceto os metais nobres).

H2SO4 → 98% (m/m) (PE = 330°C), proporciona temperaturas


elevadas, possui alto poder oxidante e desidratante.

HClO4 → 72% (m/m) (PE = 203°C), possui poder oxidante


elevadíssimo e apresenta riscos de explosão quando em contato
com teores elevados de carbono orgânico sob aquecimento. Pode
formar o KClO4 que possui baixa solubilidade em meio aquoso.
Propriedades dos ácidos

HF → 36% (m/m) (PE = 111°C), não possui capacidade de


oxidação, embora seja um agente complexante poderoso
(o que garante a dissolução da sílica).

H3PO4 → 85% (m/m) (PE = 158°C), não é um agente


oxidante e a presença do fosfato pode ocasionar
precipitações, além de causar interferências analíticas.
HF e a sílica

O HF reage com a sílica de forma muito eficiente, o que


o torna indispensável na decomposição total de
materiais como solos e sedimentos.

SiO2(s) + 6 HF(aq) → H2SiF6(aq) + 2 H2O(l)

H2SiF6(aq) → SiF4(g) + 2 HF(aq)


O excesso de HF deve ser eliminado

O excesso de HF deve ser eliminado, porque esse ácido


pode atacar (corroer) partes de equipamentos.

H3BO3(aq) + 3 HF(aq)  HBF3(OH)(aq) + 2 H2O(l)

HBF3(OH)(aq) + HF(aq)  HBF4(aq) + H2O(l)


Decomposição por via seca: combustão da
amostra
Via seca: combustão da amostra

Utiliza-se um equipamento chamado mufla, no qual o


aquecimento resistivo aliado à presença de materiais
refratários, asseguram temperaturas de 1.000 ou 1.200ºC
em seu interior.

Muitas muflas possuem programação digital de


temperatura. Elas são equipamentos de fácil operação e
não demandam a presença constante do operador.

A decomposição por via seca é predominantemente


empregada para decompor matrizes orgânicas.
Via seca: combustão da amostra – cadinhos de
porcelana

www.produto.mercadolivre.com.br
Via seca: combustão da amostra

https://www.tplaboratorioquimico.com/laboratorio-quimico/materiales-e-instrumentos-de-un-laboratorio-quimico/horno-mufla.html
Via seca: combustão da amostra

www.ufjf.br

MO + O2 → CO2 + H2O + NO2 + outros óxidos


Via seca: combustão da amostra

https://www.youtube.com/watch?v=JA-NwpX4qC0
Via seca: combustão da amostra

As amostras são colocadas no interior de cadinhos


(confeccionados com platina, níquel, porcelana, entre
outros) e esses cadinhos são colocados no interior da
mufla.

Deve-se tomar cuidado com a composição dos cadinhos,


pois pode ocorre contaminação das amostras. Por
exemplo, cadinhos de porcelana podem introduzir
contaminações importantes em relação ao Al e ao Si.
Via seca: combustão da amostra

Em cadinhos de porcelana ou de sílica, alguns analitos


podem (a depender da temperatura da calcinação) reagir
e aderir à parede dos cadinhos.

Silicatos, fosfatos e óxidos reagem facilmente com o


esmalte dos cadinhos de porcelana. A alternativa é usar
cadinhos de quartzo ou de platina.
Via seca: combustão da amostra

Alguns cadinhos possuem


tampas para evitar a contaminação.

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Via seca: combustão da amostra com cadinho de Pt

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Via seca: quando usar um cadinho de Pt?

Esses cadinhos são utilizados para evitar interações com


a amostra (A platina é muito inerte).

Devido à inércia química, os cadinhos de Pt resistem a


processos corrosivos diversos.

Ponto de fusão alto, permitindo o uso desses cadinhos


em temperaturas de até 1.773°C.
Via seca: combustão da amostra

As limitações são as possibilidades de perdas de elementos


voláteis (F, Cl, Br, I, S, Se, P, As, Sb, Ge, Tl e Hg) e a demora
no procedimento (geralmente entre 4 e 8 h).

Além disso, correntes de convecção de ar no interior da mufla


podem trazer partículas contaminantes para o interior dos
cadinhos.

As principais vantagens residem na simplicidade, relativa


independência do operador e possibilidade de decomposição
de massas elevadas de amostra.
Via seca: combustão da amostra

As perdas dos analitos por volatilização dependem,


consideravelmente, da composição da matriz da
amostra.

Por exemplo, os cloretos são mais voláteis que os


nitratos. Assim, se amostra for rica em cloretos
(alimentos temperados, sedimentos marinhos, etc.),
elementos como cádmio e chumbo podem ser perdidos
como CdCl2 e PbCl2.
Via seca: combustão da amostra

As perdas por volatilização/reação podem ser reduzidas


mediante o uso de aditivos que apresentam as seguintes
funções:

Acelerar a oxidação

Diminuir a volatilização dos analitos

Prevenir reações entre os analitos e os cadinhos


Via seca: combustão da amostra

Aditivos para aumentar a oxidação: sais de nitrato e


HNO3 que promovem uma oxidação prévia (antes do
aquecimento na mufla) da fração orgânica.

Aditivos para diminuir a volatilidade: H2SO4 que


converte cloretos voláteis (PbCl2 e CdCl2, por exemplo)
em sulfatos de baixa volatilidade.

Em muitos casos, os aditivos considerados acima


também atuam para diminuir a reatividade dos analitos
com os cadinhos.
Via seca: combustão da amostra

Se a calcinação for bem sucedida, o material que sobra


nos cadinhos é constituído por cinzas bem claras
constituídas por óxidos como CaO, MgO, Na2O, K2O,
fosfatos e sulfatos não voláteis, entre outros.

As cinzas podem ser facilmente solubilizadas em


pequenos volumes de soluções ácidas diluídas (HCl ou
HNO3) → possibilidade de pré-concentração.
Decomposição de alimentos por via seca:
porcentagem de cinzas (m/m).

Cereais: 0,3%-3,3%;

Produtos lácteos: 0,7%-6,0%;

Peixes e produtos marinhos: 1,2%-3,9%;

Frutas frescas: 0,3%-2,1%;

Vegetais frescos: 0,4%-2,1%;

Carnes bovinas e derivados: 0,5%-6,7%;


Decomposição de alimentos por via seca:
porcentagem de cinzas.

Aves: 1,0%-1,2%;

Nozes: 1,7%-3,6%;

Manteiga e margarina: 2,5%;

Leguminosas: 2,2%-4,0%;

Açúcares e xaropes: 0,0-1,2%.


Abertura de amostras
Abertura de amostras

Mesmo utilizando diferentes agentes oxidantes e variadas


formas de aquecimento, alguns materiais não podem ser
convenientemente decompostos pelas vias anteriormente
discutidas (nem mesmo em um forno de micro-ondas de alta
pressão).

Alguns exemplos desses materiais são cimentos e óxidos de


alta estabilidade química, incluindo óxidos de cromo, silício e
ferro; minérios de Ti e Zr, óxidos mistos de W, Si e Al.
Abertura de amostras

A abertura das amostras é feita mediante o processo de


fusão, no qual a amostra sólida e um fundente sólido são
misturados (mistura heterogênea) e aquecidos em
temperaturas bastante elevadas.

O aquecimento, geralmente realizado em forno mufla,


promove a fusão dos sólidos misturados, resultando em
um sólido (após o resfriamento) que apresenta fácil
solubilização em soluções diluídas de ácidos ou bases.
Abertura de amostras

Para amostras constituídas de carbonatos e óxidos


alcalinos, escolhe-se um fundente ácido. Para amostras
ácidas, o fundente deve ser alcalino.

A proporção entre as massas da amostra (a ser fundida) e


o fundente pode variar de 1:2 a 1:50.

Eis o surgimento de um problema: pode ocorrer


contaminações muito sérias da amostra, caso o fundente
não tenha grau de pureza elevadíssimo.
Abertura de amostras: de onde vem o sucesso
dos fundentes?

Sob temperaturas elevadas, que podem chegar a


1.200°C, os fundentes (geralmente sais) geram
espécies muito reativas (ácidos ou bases de Lewis)
capazes de criar compostos solúveis em água, ou
soluções diluídas de ácidos e bases.
Abertura de amostras

Fundente Na2CO3:

CO32- → CO2 + O2-


SiO2 + O2- → SiO32-

A base de Lewis (O2-) reage com SiO2 (ácido de Lewis).

Após o resfriamento, o sal Na2SiO3 pode ser facilmente


solubilizado em água.
Abertura de amostras

Fundente K2S2O7:

K2S2O7 → K2SO4 + SO3

O SO3 age como um ácido de Lewis e, assim, o


K2S2O7 é um fundente ácido e é usado para a
abertura de Al2O3, BeO, Fe2O3, Cr2O3, entre outros.
Nesses casos, são formados sulfatos solúveis.
Se os analitos forem compostos orgânicos, os
procedimentos de preparo da amostra devem ter
outra lógica.

A matriz não deve ser decomposta. São os


analitos que devem ser removidos da matriz.
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