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RESUMO
Este trabalho é parte de uma pesquisa que resultou na dissertação de mestrado intitulada
“Avaliação da aprendizagem no ensino superior e suas implicações éticas”, que procura
demonstrar pontos de convergência entre Avaliação e Ética, tendo como foco de análise
as posturas do professor como avaliador, a partir de representações colhidas junto a
alunos de licenciatura da UEL. Para a análise dos aspectos éticos presentes na avaliação
da aprendizagem, além de outros aspectos, uma reflexão sobre a ética profissional
constituiu-se num subsídio importante. O comportamento ético do professor raramente é
objeto de discussão e, além disso, os professores não possuem, como muitos outros
profissionais, um código de ética que regulamente suas atividades. A ausência de um
parâmetro ético que regulamente a ação docente demonstra a necessidade de discutir
essa questão e, nesse sentido, o estudo de outros códigos profissionais podem servir de
modelo e inspiração para uma reflexão a respeito. Primeiramente, o presente texto
apresenta algumas considerações sobre a caracterização do professor como um
profissional, que alicerça seus procedimentos não somente na técnica, mas que pela
natureza de sua atividade, tem de tomar atitudes que sempre implicam conseqüências
éticas, tais como: decisões, escolhas, influências, controles de comportamento etc.. Em
seguida, alguns aspectos da ética profissional geral, tais como: valores e qualidades que
enriquecem a atuação profissional, são apresentados e discutidos de forma relacionada
com a especificidade do trabalho do professor. Os direitos e deveres profissionais
também são abordados em relação específica com a ação docente. O estudo sugere que
é necessário ampliar o debate em torno das questões levantadas e que a discussão sobre
a inclusão de uma disciplina de ética profissional nos cursos de formação de professores
deve ser desencadeada. O Professor, mesmo não tendo um código de ética específico,
pode se valer de princípios universais da Ética, adaptando-os à especificidade de sua
profissão, pois buscar uma atuação ética, tanto no plano pessoal como no profissional, é
caminhar rumo a uma realidade melhor do que a atual, numa busca contínua de
melhoria da condição humana.
1
Texto integrante da pesquisa intitulada “Avaliação da aprendizagem no ensino superior e suas
implicações éticas”, adaptada para apresentação no III Seminário de Pesquisa em Educação da Região
Sul, 2000.
2
Profª de Didática Geral do Depto. de Educação da Universidade Estadual de Londrina.
3
Profª de Didática e Fundamentos do Ensino Superior do Mestrado em Educação da Universidade
Estadual de Londrina.
2
profissionais, um código de ética que regulamente suas atividades. Talvez isso ocorra, a
nosso ver, pela expectativa de que o mestre, pela própria natureza de sua profissão, seja
não somente consciente do aspecto moral de sua atuação como ainda seja o transmissor
dessa própria moralidade na educação de seus alunos (Vasconcellos, 2000).
A ausência de um código de ética que regulamente a ação docente
demonstra a necessidade de discutir essa questão. Mesmo na ausência desse código
específico, o estudo de outros códigos profissionais podem servir de modelo e
inspiração para uma reflexão a respeito.
O presente texto é parte de uma pesquisa que resultou na dissertação
de mestrado intitulada “Avaliação da aprendizagem no ensino superior e suas
implicações éticas”, que procura demonstrar pontos de convergência entre Avaliação e
Ética, tendo como foco de análise as posturas do professor como avaliador, a partir de
representações colhidas junto a alunos de licenciatura da UEL. Para a análise dos
aspectos éticos presentes na avaliação da aprendizagem, além de outros aspectos, esta
reflexão sobre a ética profissional constituiu-se num subsídio importante.
Nos limites estabelecidos para esta comunicação, apresentaremos
primeiramente algumas considerações sobre a caracterização do professor como um
profissional. Em seguida, faremos algumas relações de aspectos da ética profissional
geral, tais como: valores, qualidades, direitos e deveres profissionais, com a
especificidade do trabalho do professor.
cota de responsabilidade é grande, uma vez que seus critérios e decisões podem pesar na
determinação do rumo seguido pelos acontecimentos.
- É o depositário, o guardião, o intérprete do corpo de saber que
constitui sua profissão, visto que administram o maior poder que a humanidade possui:
o poder do conhecimento.
A Ética nas profissões, segundo Mota (1984), pode ser enfocada
levando-se em conta dois planos de atuação: A e B.
O plano A refere-se à competência e habilidade profissional. O
profissional competente possui o conjunto de conhecimentos teórico-práticos
indispensáveis para o exercício de determinada profissão. A habilidade profissional é a
arte de aplicar bem e com facilidade esses conhecimentos.
O plano B refere-se ao conjunto de valores que devem embasar o
exercício de toda a atividade profissional, levando o profissional a um posicionamento
ético: responsabilidade, justiça, verdade, solidariedade etc..
O plano A (conhecimentos técnico-científicos) está associado ao plano
B (valores éticos), pois a formação técnico-científica, sem a formação ética, pode levar
o profissional ao tecnicismo (Mota, 1984).
Algumas profissões alicerçam seus procedimentos na técnica e na
ciência, com pouca interferência valorativa no processo de trabalho. Outras profissões,
como é o caso da dos professores, possuem um saber que só pode ser compreendido
relacionado às condições de seu trabalho, além de dependerem de condições valorativas
e históricas. Seus resultados são sempre produtos de interações sociais, não havendo
nunca segurança absoluta quanto a estes (Cunha, 1999).
O professor possui um compromisso moral inerente a qualquer
profissão e também lida com questões que dizem respeito à especificidade de seu campo
de atuação. Pela natureza de sua atividade, tem de tomar atitudes durante as situações de
ensino e aprendizagem que sempre implicam conseqüências éticas, tais como: decisões,
escolhas, influências, controles de comportamento etc.. Essas atitudes poderão ter por
fundamento alguns valores éticos fundamentais e serem enriquecidas com algumas
qualidades pessoais do profissional.
Exige que o profissional se esforce para chegar onde o usuário o requer, criando um
clima de confiança para interpretar corretamente as necessidades particulares do
usuário. Sem essas condições, corre-se o risco de não alcançar a quem se tem que
satisfazer através do trabalho desenvolvido. O serviço é prestado, nesse caso, sem
ajustá-lo às condições próprias de seu destinatário preciso.
Para aplicar esse valor profissional a nosso caso particular de
professores, basta trocarmos a palavra usuário pela de aluno. Da mesma forma, o
professor deve procurar ajustar seu trabalho aos interesses e necessidades dos alunos
que possui, criando um clima de confiança que possibilite a maior individualização
possível de seu serviço. Sem ajustar seu trabalho às condições próprias de cada situação
de ensino, o professor corre o risco de não alcançar seus objetivos além de não atingir
todos os seus alunos.
A diligência refere-se ao esmero na realização das tarefas
profissionais, no sentido de realizá-las da melhor maneira possível, sem poupar
esforços. A ausência desse elemento se traduz num exercício omisso e escapista que
atenta contra os interesses do usuário.
A necessidade de que o trabalho profissional do professor seja
realizado com competência, seriedade e esmero, já foi apontada no decorrer desse
estudo e as considerações de Jimenez (1997) reforçam essa idéia. Ao agir em sentido
contrário, o professor, além de se degradar, prejudica diretamente o aluno, que possui a
expectativa de aprender e progredir através de um bom trabalho.
O respeito significa tratar o usuário como pessoa. O usuário tem seus
próprios fins em função dos quais vive e é merecedor, em princípio, de todos os
cuidados e considerações dos quais o profissional se julga também merecedor.
O professor deve tratar seus alunos como pessoas e respeitar a
autonomia destes, prestar-lhes ajuda sem pretender manipulá-los e oferecer-lhes toda
atenção que quereria para si mesmo. Isto significa renunciar aos jogos de poder, pelos
quais alguns professores se comprazem em sentir o aluno sob seu controle.
Além dos valores éticos básicos em todas as profissões, devem ser
levadas em conta as qualidades pessoais inatas ou adquiridas que concorrem para o
enriquecimento da atuação profissional, apresentadas por Mota (1984):
Prudência – a prudência faz com que o profissional analise situações
complexas e difíceis de forma profunda e minuciosa para tomar decisões com maior
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que os requeira. Deve contribuir, dentro de suas possibilidades para eliminar as travas e
obstáculos que limitam injustificadamente a cobertura de sua atividade laboral.
Essa afirmação implica para o professor procurar atingir, com sua
atuação, todos os alunos que estejam sob sua responsabilidade, sem distinção. Significa
também não se acomodar diante de todas as dificuldades e limitações que envolvem o
exercício da docência, mas sim assumir uma atitude de luta para superar esses
obstáculos. Mesmo com o número excessivo de alunos por turma, com a má
remuneração salarial, com as dificuldades para sua capacitação profissional, ainda assim
o professor deve esforçar-se para atingir os objetivos maiores de sua profissão.
c) Posse do nível de preparação adequado. Os que recorrem a um
profissional esperam que ele tenha a capacitação necessária para resolver com
responsabilidade os assuntos que lhe são confiados.
Essa afirmação implica que o professor, como todo profissional, deve
empreender um esforço permanente de atualização e capacitação, que lhe permita
manter-se em dia com as inovações em seu campo de trabalho.
d) Esmero na prestação de serviços profissionais. Ninguém colocaria
questões importantes nas mãos de outro, se soubesse que as tratará com negligência ou
descuido. Um grau razoável de esmero é uma pressuposição óbvia de todo aquele que
solicita seu trabalho.
Da mesma forma, do professor é esperado que exerça sua profissão
com o máximo de dedicação e esmero. Tanto as instituições que o empregam como os
alunos que se relacionam diretamente com ele possuem essa expectativa.
e) Responsabilidade. Todo trabalho profissional pressupõe confiança
no bom senso e na competência do profissional num determinado campo de atuação.
Todo profissional deve estar disposto a prestar contas de seu trabalho a todo momento,
bem como responder por qualquer caso de mau desempenho.
Isso significa, para o professor, assumir toda a responsabilidade
inerente a suas atividades profissionais, tanto nos aspectos positivos quanto nos
negativos. Assumir, então, tarefas para as quais não está preparado, indica falta de
responsabilidade que compromete todo o trabalho desenvolvido.
f) Tratamento humano. O profissional deve atender aos que recebem
seus serviços com respeito e amabilidade, da mesma forma como ele gostaria de ser
tratado se estivesse na mesma situação.
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em sua concretização. Apesar disso, é fundamental que esses deveres existam e sirvam
para orientar toda a prática profissional, levando o profissional daquilo que é para aquilo
que deve ser.
Conclusão
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MOTTA, Nair de Souza. Ética e vida profissional. Rio de Janeiro: Âmbito Cultural,
1984.