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A EDUCAÇÃO DO CAMPO COMO DIREITO HUMANO

RESUMO: Este trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica acerca da educação do campo
como um direito humano. As populações do campo, assim como outras minorias historicamente
discriminadas e excluídas, têm enfrentado, em seu processo histórico, violações de direitos
humanos, especialmente no que se refere ao direito à educação, uma vez que a garantia desse
direito possibilita consequentemente o acesso aos demais direitos humanos. Partindo-se do
princípio de que a educação constitui-se como um direito humano, buscamos identificar de que
forma esse direito é assegurado as populações do campo. Assim, este trabalho tem como
objetivo abordar como é constituída a população do campo, o conceito de educação do campo e
refletir acerca das políticas públicas voltadas para garantir o direito à educação dessa população
especificamente.

PALAVRAS-CHAVE: população rural, políticas públicas, direitos sociais, cidadania.

ABSTRACT: This work is a bibliographical research about the education of the field as a
human right. The rural populations, as well as other historically discriminated and excluded
minorities, have faced, in their historical process, violations of human rights, especially with
regard to the right to education, since the guarantee of this right allows consequently the access
to the other human rights. Based on the principle that education constitutes a human right, we
seek to identify how this right is guaranteed to the rural population. Thus, this work aims to
address how the rural population is constituted, the concept of rural education and reflect on the
public policies aimed at guaranteeing the right to education of this population specifically.

KEY WORDS: rural population, public policies, social rights, citizenship.

INTRODUÇÃO
Pode-se dizer que a humanidade, na forma de seus representantes, tem avançado
na tentativa de assegurar à pessoa humana a garantia de seus direitos fundamentais
enquanto seres humanos que são. Pelo menos no plano normativo isso é perceptível. É
possível elencar documentos importantes, no plano jurídico-normativo, instituídos no
sentido de estabelecer direitos aos seres humanos, outrora subtraídos por outrem através
de meios diversos em momentos de grande tensão vividos na história da humanidade.

Os direitos humanos como principal objetivo garantir a dignidade humana, que


está inscrita na Constituição Federal, logo no seu artigo 1º, como um dos fundamentos
que integram o Estado Democrático de Direito no Brasil. O Poder Público, a quem
compete à obrigação jurídica de viabilizar direito à educação, deve garantir a oferta
deste direito a todos, considerando o conjunto dos princípios estatuídos na Constituição.

As populações do campo, assim como outras minorias historicamente


discriminadas e excluídas, têm enfrentado, em seu processo histórico, violações de
direitos humanos, especialmente no que se refere ao direito à educação, uma vez que a
garantia desse direito possibilita consequentemente o acesso aos demais direitos
humanos.

Neste sentido, esta pesquisa bibliográfica dissertará acerca da educação escolar


no meio rural brasileiro estabelecendo interface com os direitos humanos, descrevendo
como é constituída a atual população do campo, o conceito de educação do campo e
refletindo acerca das políticas públicas voltadas para garantir o direito à educação dessa
população especificamente.

1. POPULAÇÃO RURAL

A questão agrária brasileira em sua estrutura produtiva teve como base o


latifúndio monocultor e a grande propriedade exportadora de produtos primários,
combinada com a mão-de-obra escrava. Isto se tornou um obstáculo estrutural, inclusive
influenciando a formação social e o acesso à educação, pois quando esta chegou ao
meio rural, foi primeiramente para os proprietários e filhos de proprietários de grandes
fazendas, herdeiros das terras concedidas pela Coroa. Seguramente, esses abonados,
quando não contavam com a presença do professor na fazenda, deslocavam-se para os
grandes centros urbanos, estudando em colégios particulares. Mas a população
trabalhadora constituída por não proprietários (peões, arrendeiros, capatazes, agregados,
agricultores familiares, escravos, mulheres) ficou marginalizada do ensino formal,
quando muito restou a escola multisseriada, também conhecida por escolas isoladas,
destinada aos mais pobres, atravessando todo o período do império, a Primeira
República, até o início do século XX.

A realidade brasileira vem apresentando, historicamente, fortes desigualdades


econômicas e sociais, principalmente nas áreas rurais. A situação do campo e as lutas
que ali vêm acontecendo têm sido objeto de estudos que dão destaque à enorme
violência de que são vítimas os trabalhadores rurais e demais povos do campo.
Trabalhadores assassinados, famílias expulsas violentamente, casas e roças incendiadas
acompanham denúncias das igrejas e sindicatos (MARTINS, 1989, p.12). Essas
desigualdades, inclusive as educativas e escolares, demonstram que há uma dívida
histórica, e também uma dívida de conhecimento dessa dívida histórica.

Disto podemos inferir que, quando a educação brasileira foi sendo tardiamente
estendida às populações do meio rural, foi traduzida de cima para baixo, de modo
homogêneo, padronizado em seus métodos e conteúdos, em que predominaram
princípios e valores burgueses e urbanos, caracterizando a “Educação Rural”. Não se
considerou a identidade, a cultura, os diferentes gêneros de vida que constituem a
diversidade e especificidade existentes no meio rural brasileiro. Também as populações
do campo, por meio da educação, são “desenraizadas” (RIBEIRO, 2012) de seu meio e
de sua identidade cultural. O que predominou na política da Educação Rural nacional
foi um ideário de uma educação “para” a vida na cidade. Aonde ficou o direito do
sujeito de fazer a escolha de viver no meio rural ou ir para cidade? A educação, quando
ofertada, empurrou a população do campo para o meio urbano.

Atualmente, no campo estão os sujeitos sociais cujo vínculo maior se faz com a
terra. São povos indígenas, extrativistas, agricultores, pecuaristas, artesãos, pequenos
comerciantes, sem-terra, ribeirinhos, pescadores, caiçaras, quilombolas, trabalhadores
assalariados e, também, desempregados. Mais do que uma realidade diferente do modo
de vida urbano, o campo é um espaço de existência social, de vida, que expressa todas
as realizações materiais e não-materiais da totalidade social.

O Brasil possui 76,2 mil escolas rurais, de acordo com dados do censo escolar
2011, a mesma pesquisa mostra que, desse total 42 mil são multisseriadas, quase 15%
não possuem energia elétrica, 89% não tem biblioteca e 81% não contam com
laboratório de informática. Além da infraestrutura precária, um levantamento do Fundo
das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) feito com base na pesquisa nacional por
amostra de domicílios (Pnad) de 2009 indica de 2,5% das crianças e adolescentes com
idade entre 7 e 14 anos que vivem no campo estão fora da escola. Isso revela que ainda
estamos longe de universalizar o acesso à educação básica na zona rural e de garantir a
qualidade dele. Outro desafio é a formação de professores que atuam nas escolas do
campo. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
(INEP), aproximadamente 160 mil (44%) não possuem sequer ensino superior.
Mediante esses números significativos, a diversidade, a peculiaridade dos povos
residentes no campo e a necessidade de garantir o direito à educação, ao longo dos anos
foi necessário construir políticas públicas voltadas para as especificidades dessas
populações, com o objetivo de efetivar as determinações constitucionais.

O acesso de grande parte da população do campo à educação é inviabilizado por


questões diversas, como por exemplo: falta de mobilidade casa-escola e escola-casa,
inexistência de escolas no campo, ou, quando há, as mesmas estão em condições
precárias de funcionamento. Além disso, faz se necessário o cumprimento das políticas
públicas voltadas à proibição e erradicação do trabalho infantil, visto que essa prática é
comum em meio às populações que vivem no campo.

Visto que há uma tendência de evasão dos jovens do campo, a escola é


fundamental para a sua permanência, já que pode ser o ponto de encontro entre o aluno
e a sua identidade camponesa, auxiliando no processo de reprodução social e fazendo
valer os seus direitos. Para evitar um possível desaparecimento dessa classe, a educação
surge com um papel primordial: passa a ser elemento indispensável na difusão dos
princípios camponeses e na perpetuação da cultura camponesa. Por esse motivo, a
educação do campo deve ser produto da aliança entre teoria e prática.

2. EDUCAÇÃO NO CAMPO

A educação básica, como direito para a diversidade dos povos do campo foi
mantida por décadas no esquecimento. E, esse descaso, segundo pesquisa realizada por
Caldart (2004, p.149) está atrelado ao encurtamento dos horizontes políticos e
educacionais para os povos do campo, o qual reflete a visão pessimista do campo e da
educação do campo. A educação do campo é uma realidade recente no país.

Nas primeiras décadas do século XX, a “Educação Rural” foi inserida no


ordenamento jurídico brasileiro educacional. A Educação Rural é uma proposta
pedagógica que visa a formação do indivíduo unicamente para o trabalho, atendendo
aos interesses do agronegócio, e consequentemente do sistema capitalista. A educação
rural desse modo, parte da ideia do campo como lugar arcaico e atrasado, e que por isso
merece ser abandonado. Nesse caso, homens e mulheres do campo vistos como seres
rústicos sem educação e sem inteligência e a escola nesse sentido, serviria para
“domesticá-lo”.

Advinda da organização dos movimentos sociais, a educação do campo nasce


em contraposição à educação rural. A educação do campo é uma forma de
reconhecimento dos direitos das pessoas que vivem no campo, no sentido de terem uma
educação diferenciada dessa perspectiva, como também daquela que é oferecida aos
habitantes das áreas urbanas. A educação do campo, conforme Bernardo Fernandes é
uma educação voltada para o desenvolvimento do território rural, “que atenda a sua
diversidade e amplitude e entenda a população camponesa como protagonista
propositiva de políticas e não como beneficiários e ou usuários” (FERNANDES, 2005,
p.3). Desse modo, a educação do campo deve ser diferente da educação urbana, pois
nessa os camponeses não se encontram como sujeitos, uma vez que sua realidade é
diversa da exposta. Os conteúdos devem ser próximos da realidade do aluno,
aproximando-os da técnica. Ou seja, é necessária uma aproximação do empírico com o
teórico.

De conta disso, surge a necessidade de uma educação no campo de forma


“repensada e desafiante” (ARROYO, 2006, p. 9), buscando a construção de uma nova
base conceitual sobre o campo, e sobre educação do campo, como norteadora de
políticas públicas que contemplem a diversidade cultural.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi idealizada a partir dos


debates acerca da própria Constituição Federal de 1988, fruto da pressão popular através
das manifestações populares, que eclodiram por volta dos anos de 1970. “As
mobilizações populares e participativas ocorriam em torno do processo Constituinte de
1988, sendo este um marco significativo para a educação e sua respectiva pluralidade”
(LEMES, 2014, p.84).

A constituição de 1988 consolidou compromisso do Estado e da sociedade


brasileira em promover a educação para todos, garantindo o direito ao respeito e à
adequação da educação às singularidades culturais e regionais.

No sentido de criar um espaço de discussão sobre a educação do campo, no final


dos anos 1990, os movimentos sociais ligados às causas dos camponeses e pela reforma
agrária criaram uma “Articulação Nacional Por uma Educação do Campo” (XAVIER,
1994, p.2), composta por movimentos sociais, organizações não governamentais,
representantes das universidades e de órgãos públicos. Esse movimento destaca a
importância da educação como parte de um projeto de emancipação social e política que
fortaleça a cultura e os valores das comunidades campesinas, vinculada ao seu projeto
de desenvolvimento auto-sustentável. Neste sentido, preconiza que essa educação seja
fundamentada em princípios que valorizem os povos que vivem no campo, respeitando
sua diversidade.

Para Paulo Freire (2001), o papel da educação implica no auxílio ao educando


para que esse possa entender-se e perceber-se como cidadão que cria e transforma a
realidade que o rodeia, compreendendo sua posição social, política e econômica na
sociedade. A educação deve ser libertária, emancipatória.

A educação do campo sempre foi tratada com descaso pelo poder público.
“Muito material escolar que não servia mais para as escolas urbanas, ou porque estava
defasado ou então em péssimas condições, era distribuído para as escolas rurais”
(KUDLAVICZ; ALMEIDA, 2008, p. 11). Os professores, sem incentivo, se
deslocavam das cidades ao campo para lecionar sem ter um mínimo de conhecimento
sobre o cotidiano camponês, colocando em risco a práxis camponesa.

Ao surgir, a partir das lutas dos trabalhadores, a educação do campo nasce de


outro olhar sobre o campo, sobretudo de um olhar sobre o papel do campo em um
projeto de desenvolvimento e sobre os diferentes sujeitos do campo. Uma visão que
considera “o campo como espaço de democratização da sociedade brasileira e de
inclusão social” (FERNANDES, 2006, p.16), que defende o direito que os povos do
campo têm de pensar o mundo a partir do lugar onde vivem, ou seja, da terra em que
pisam, e que os projetem como “sujeitos de história e de direitos; como sujeitos
coletivos de sua formação enquanto sujeitos sociais, culturais, éticos e políticos”
(ARROYO; CALDART & MOLINA, 2004, p.11-12).

Como analisado, as bases legais ditam o direito à educação como um direito


social de todos os indivíduos brasileiros em condição de igualdade, pautado no respeito
ao princípio da dignidade humana. Portanto, há a necessidade de se fortalecer e
evidenciar a educação do campo como um direito fundamental social do camponês
brasileiro, já que também é um direito dele permanecer no campo. Para que esse
objetivo seja alcançado, a presença do Estado é indispensável na criação e aplicação de
políticas públicas que privilegiem a agricultura familiar e a prática camponesa.
Especificadamente na área educacional, a grade curricular das escolas do campo deve
ser diferenciada, voltada exclusivamente à realidade da população a que está sendo
direcionada.

3. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA EDUCAÇÃO DO CAMPO


A preocupação com a educação do campo se deu devido ao intenso êxodo rural
que estava influenciando também no processo de urbanização das cidades, pois
apresentavam um crescimento desorganizado e acelerado nas cidades.

Diante dessa realidade, e compreendendo a importância deste fenômeno do


êxodo rural dentro de um contexto social e legislativo, o governo brasileiro vem
desenvolvendo diversos programas na área da educação com o argumento da elaboração
de propostas de educação voltada para a população camponesa, salientando uma
educação formadora e preparadora, para que o sujeito residente nas localidades rurais
exerça sua cidadania.

Dentro da esfera governamental, visando garantir que se façam valer as políticas


públicas voltadas para garantir o direito à educação dessas comunidades, foi instituída a
Comissão Nacional de Educação do Campo, que é um órgão colegiado de caráter
consultivo que reúne dez representantes dos ministérios da Educação e do
Desenvolvimento Agrário, União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação,
Conselho Nacional de Secretários de Educação; e por oito integrantes de movimentos
sociais de abrangência nacional: centros familiares de formação por alternância,
Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura, Comissão Pastoral da Terra,
Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar, Movimento dos Atingidos por
Barragens, Movimento das Mulheres Campesinas, Movimento dos Trabalhadores sem
Terra e Rede Educacional do Semiárido Brasileiro.

A formação dessa Comissão Nacional de Educação do Campo é importante, pois


a Educação Básica do Campo não pode ser vista sem a participação dos movimentos
sociais existente no campo, já que é a partir das pedagogias construídas pelos
movimentos que se compreenderá o fenômeno educativo camponês.

Um dos programas instituídos pelo governo federal neste sentido é O Programa


Nacional de Educação do Campo – PRONACAMPO que tem como objetivo, apoio
técnico e financeiro aos Estados, Distrito Federal e Municípios para a implementação da
política de educação do campo, visando à ampliação do acesso e a qualificação da oferta
da educação básica e superior, por meio de ações para a melhoria da infraestrutura das
redes públicas de ensino, a formação inicial e continuada de professores, a produção e a
disponibilização de material específico aos estudantes do campo e quilombola, em todas
as etapas e modalidades de ensino. Suas ações são voltadas, ao acesso e a permanência
na escola, à aprendizagem e à valorização do universo cultural das populações do
campo, sendo estruturado em quatro eixos: Gestão e Práticas Pedagógicas – Formação
Inicial e Continuada de Professores - Educação de Jovens e Adultos e Educação
Profissional - Infraestrutura Física e Tecnológica.

Entre as contribuições do PROCAMPO estão o próprio programa que visa um


suporte técnico e financeiro às instituições mantenedoras das escolas do/no campo; a
educação rural como um direito, tendo a sua organização didático-pedagógica voltada
para os costumes desta população; a conquista do espaço dentro de um Estado
capitalista pelos movimentos populares. Já entre os dilemas, podemos mencionar os
desafios da materialização dos conteúdos didáticos voltados para estes sujeitos e a
formação dos professores atuam nesta área. Sob esta ótica, o PRONACAMPO não é
visto como uma política de Estado, fazendo com que a educação em mente, não seja
uma educação emancipatória e formadora de cidadãos, mas sim uma educação que
atenda as artimanhas que defendam a produtividade como política de inserção,
formadora de mão-de-obra, preparando o sujeito para o mercado de trabalho e não para
o mundo do trabalho.

Outro programa governamental que ganha destaque no propósito de garantir o


direito a educação no campo à população rural é o Programa Nacional de Educação da
Reforma Agrária – PRONERA que é uma política pública de educação do campo
desenvolvida em áreas de Reforma Agrária, executada pelo governo brasileiro. Seu
objetivo é fortalecer o mundo rural como território de vida em todas as suas dimensões:
econômicas, sociais, ambientais, políticas culturais e éticas. Busca atender os seguintes
projetos: - alfabetização e escolarização de jovens e adultos no ensino fundamental e
capacitação e escolaridade de educadores (as) para o ensino fundamental em áreas da
Reforma Agrária; - formação continuada e escolaridade de professores (as) de áreas da
Reforma Agrária (nível médio na modalidade normal ou em nível superior por meio das
licenciaturas); - formação profissional conjugada com a escolaridade em nível médio
por meio de cursos de educação profissional de nível técnico ou superior (de âmbito
estadual, regional ou nacional) em diferentes áreas do conhecimento, voltados para a
promoção do desenvolvimento sustentável no campo. O governo viu a necessidade de
se implantar apoio também para os profissionais que trabalham no campo, mas não tem
formação específica.

Pensando em melhorar a qualidade dos professores que atuam nas escolas do


campo, o governo federal lançou O Programa de Apoio à Formação Superior em
Licenciatura em Educação do Campo, o qual incentiva a implementação de cursos
regulares de licenciatura em educação do campo nas instituições públicas de ensino
superior de todo o país, voltados especificamente para a formação de educadores para a
docência nos anos finais do ensino fundamental e ensino médio nas escolas rurais. Em
nosso município, Santana do Livramento, no ano de 2018, abriu uma nova turma, em
parceria com a Universidade Federal de Santa Maria, para disponibilizar essa
oportunidade de formação a quem quisesse seguir a carreira de docente.

Ainda, durante a revisão bibliográfica acerca das políticas públicas de educação


no campo vimos sobre a criação do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD
Campo), que tem como objetivo considerar as especificidades do contexto social,
econômico, cultural, político, ambiental, de gênero, geracional, de raça e etnia dos
Povos do Campo, como referência para a elaboração de livros didáticos para os anos
iniciais do Ensino Fundamental (seriado e não seriado), de Escolas do Campo, das redes
públicas de ensino.

Frente a essas iniciativas é perceptível que há um esforço do Estado brasileiro


em parceria com segmentos do próprio governo e dos movimentos, no sentido de
cumprir a Lei por meio da instauração e efetivação de políticas públicas na perspectiva
de valorização e fortalecimento da educação do e no campo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Revisadas todas essas evidências sobre a educação no campo este trabalho
defende o direito à educação no/do campo como um direito humano, fundamental do
camponês, uma vez que fica evidente o seu direito à terra, à permanência nesta, ao
trabalho, e à reprodução social do modo de vida camponês. Somente com a efetivação
destes, é que uma educação libertadora e significativa no campo será alcançada, fazendo
valer os direitos constitucionais já garantidos.

A Educação do Campo como fruto das lutas dos movimentos sociais vem se
afirmando ao longo dos anos e conquistando valor dentro da esfera social brasileira. A
Educação do Campo, com todas as suas implicações ético-políticas e práticas
pedagógicas, avançou do ponto de vista de sua regulação, mas tem dificuldades de
chegar no chão da escola.

Analisando as políticas voltadas para a educação do Campo percebe-se uma


forte presença dos movimentos sociais na luta por uma educação do povo rural como
direito e não como uma gentileza do Estado à esta população. Ressalta-se ai que as
escolas do campo devem cumprir sua função social de integrar o povo no campo para
que sejam um sujeito pensante e para que isso ocorra é necessário que seja pensada a
partir da realidade dos moradores da zona rural.

A educação no campo como direito humano é importante por contribuir para um


campo menos injusto e com possibilidades de desenvolvimento diferenciado com
inclusão e oportunidades de trabalho e renda para as áreas de Reforma Agrária e todos
os moradores do campo. Nesse sentido é preciso pensar a educação como um direito
universal, que forme cidadãos como sujeitos de direitos. A perspectiva de educação do
campo emerge a partir de lutas promovidas pelos movimentos sociais, que muito tem
contribuído para a conquista de políticas públicas direcionadas a essa população
valorizando e resgatando a educação do e no campo.

Desse modo, os camponeses devem assumir suas condições dos próprios


projetos educativos de aprender a pensar o seu trabalho, o seu país e a sua educação. A
educação do campo somente se tornará uma realidade efetiva como ideário e como
projeto educativo se permanecer vinculado aos movimentos sociais.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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do campo. Petrópolis, RJ:Vozes, 2004.

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ARROYO,Miguel G.,CALDART, Rosely Salete 7 MOLINA, Mônica C.(orgs).Por uma
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FERNANDES, Bernardo Mançano. Os campos da pesquisa em educação do campo:


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Acesso em: 6 de novembro de 2018.

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KUDLAVICZ, Mieceslau; ALMEIDA, Rosemeire Aparecida de. Abrindo caminhos


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LEMES, Mariana Santos. Territorialização do capital e as contradições da educação do


campo na microrregião de Três Lagoas (MS). Dissertação de Mestrado. Universidade
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XAVIER, M. E.; RIBEIRO, M. L.; NORONHA, O. M. História da Educação: a escola


no Brasil. São Paulo: FTD, 1994.

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