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Resumo
As micotoxinas são metabólitos tóxicos secundários produzidos por fungos filamentosos. Os
fungos crescem e proliferam-se bem em grãos quando em condições ideais de temperatura, umidade e
presença de oxigênio. Há inúmeros fatores que favorecem o crescimento fúngico e produção de
micotoxinas. A evidência da ocorrência das micotoxinas estão relatadas no Antigo Testamento, porém
receberam atenção especial na década de 1960 quando houve um surto de aflatoxicose na Europa. As
principais micotoxinas de ocorrência em grãos e subprodutos utilizados na nutrição animal no Brasil,
são as aflatoxinas, fumonisinas, zearalenona e deoxinivalenol. Outras micotoxinas, mesmo que
ocorram com menor frequência, quando contaminam os alimentos provocam importantes perdas
econômicas. Com a necessidade do aprimoramento constante da área de nutrição animal o controle e
gerenciamento das micotoxinas tem sido um desafio importante, pois por razões econômicas e de
saúde pública, as micotoxinas merecem cada vez mais atenção.
Tabela 1 - Principais micotoxinas, espécies mais afetadas e principais sinais clínicos e lesões.
Espécies mais
Micotoxina Principais sinais clínicos e lesões
afetadas
Diminuição da imunidade, ganho de peso, desordens digestivas,
Aflatoxinas Todas
hepatopatias, anorexia, ataxia, tremores e morte.
Síndrome de hiperestrogenismo (vulvovaginite), splayleg em leitões
Zearalenona Suínos
recém nascidos.
Fumonisinas Equinos e suínos Leucoencefalomalácia equina. Edema pulmonar suíno.
Redução da ingestão de alimentos, desordens digestivas, ulcerações de
Tricotecenos Monogástricos
mucosas, vômitos e hemorragias viscerais.
Ocratoxina A Suínos e homem Nefropatias.
VI Congresso Latino-Americano de Nutrição Animal - SALA QUALIDADE DE ALIMENTO
23 a 26 de Setembro de 2014 – Estância de São Pedro, SP - Brasil
Realização: Colégio Brasileiro de Nutrição Animal – CBNA
Apesar de uma série de variações, pode-se fazer uma estimativa da susceptibilidade às
micotoxicoses. Para tanto é necessário que seja quantificado o nível de contaminação do alimento,
associado ao tipo e à gravidade de doenças relacionadas ao consumo do mesmo. Desta forma, pode-se
dividir as micotoxicoses em agudas e crônicas. As manifestações agudas ocorrem quando os
indivíduos consomem doses moderadas a altas de micotoxinas. Podem aparecer sinais clínicos e um
quadro patológico específico, dependendo da micotoxina ingerida, da susceptibilidade da espécie, das
condições individuais do organismo e interação ou não com outros fatores. As lesões são dependentes
de cada micotoxina, porém as mais encontradas dizem respeito à hepatopatias, hemorragias, nefrites,
necrose das mucosas digestivas, alterações morfológicas em órgãos e morte. A micotoxicose crônica
ocorre quando existe um consumo de doses moderadas a baixas. Nestes casos, geralmente não
ocorrem as manifestações agudas de intoxicação, porém, é apresentado um quadro caracterizado pela
redução da eficiência reprodutiva, da conversão alimentar, da taxa de crescimento e do ganho de peso.
Este quadro somente é detectado com cuidados especiais ou através de um programa de
monitoramento de micotoxinas contidas na alimentação. Os sinais clínicos ainda podem ser
confundidos com outras doenças decorrentes da micotoxicose ou com deficiências nutricionais.
Existem ainda os efeitos causados principalmente pelas micotoxicoses crônicas, capazes de levar à
imunossupressão, deixando o indivíduo predisposto a outras doenças cujos patógenos facilmente se
estabelecem com a queda da resistência orgânica. Por outro lado, a inadequada resposta imunológica
às vacinações muitas vezes é decorrente da ingestão de micotoxinas.
Para avaliar-se o real risco que as micotoxinas trazem para saúde humana e animal é
necessário que se observe duas características importantes: a positividade ou prevalência e a média de
contaminação das micotoxinas nos alimentos. A partir dessas duas variáveis, pode-se calcular o Risco
Micotoxinas (RM), índex utilizado no sistema de gerenciamento de micotoxinas que será apresentado
no próximo tópico.
Os resultados das avaliações laboratoriais realizadas nos últimos 10 anos pelo Laboratório de
Análises Micotoxicológicas (LAMIC) e Instituto de Soluções Analíticas, Microbiológicas e
Tecnológicas (SAMITEC), para as quatro principais micotoxinas de ocorrência no Brasil (aflatoxinas,
fumonisinas, zearalenona e deoxinivalenol), em amostras dos principais cereais e seus subprodutos
utilizados na nutrição animal (milho, trigo, arroz, sorgo, farelo de soja, farelo de trigo, farelo de arroz,
silagem e ração), disponíveis na Tabela 2, demonstram que:
As Aflatoxinas:
- Estiveram presentes em 41% das amostras, em especial de milho (47%) e ração (42%) com
alto RM;
- Amostras de farelo de soja, mesmo tendo uma positividade de 20%, tiveram um baixo RM,
pois sua contaminação média foi baixa;
- Amostras de silagem e sorgo, com positividade de 16 e 15% respectivamente, apresentaram
um moderado RM, e
- Demais amostras apresentaram baixo RM.
As Fumonisinas:
- Estiveram presentes em 73% das amostras, em especial de milho (81%) e ração (83%) com
alto Risco Micotoxinas.
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- Amostras de silagem, com positividade de 57%, apresentaram um moderado Risco
Micotoxinas.
- Demais amostras apresentaram baixo Risco Micotoxinas.
A Zearalenona:
- Estive presentes em 51% das amostras, em especial de farelo de arroz (71%), farelo de trigo
(63%) e silagem (59%), com alto RM;
- Amostras de ração, milho e trigo tiveram 57, 50 e 43% de positividade, respectivamente,
com moderado RM;
- Amostras de sorgo, com positividade de 34%, apresentaram um alto RM, e
- Demais amostras apresentaram baixo RM.
O Deoxinivalenol:
- Estive presentes em 39% das amostras, em especial de farelo de trigo (82%) e trigo (66%),
com alto RM;
- Amostras de ração e silagem tiveram 32 e 29% de positividade, respectivamente, com
moderado RM, e
- Demais amostras apresentaram baixo Risco Micotoxinas.
Figura 1 - Dados médios do Risco Micotoxinas (RM) para aflatoxinas totais (B1+B2+G1+G2),
fumonisinas (B1+B2), zearalenona e deoxinivalenol de amostras de milho, trigo, arroz,
sorgo, farelo de soja, farelo de trigo, farelo de arroz, silagem e ração analisadas pelo
LAMIC e Instituto SAMITEC nos últimos 16 anos. Linhas contínuas representam a
média e linhas pontilhadas representam a linha de tendência (potência).
Risco Micotoxinas médio (RM = média de contaminação em ppb * positividade em % * fator de amostragem).
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Tabela 2 - Contaminação média, contaminação média das amostras positivas, positividade e Risco Micotoxinas médio de amostras de cereais e seus
subprodutos, silagem e ração utilizados na nutrição animal, analisadas no LAMIC e Instituto SAMITEC nos últimos 10 anos.
Farelo de Farelo de Farelo de
Micotoxina Milho Trigo Arroz Sorgo Silagem Ração Média
soja trigo arroz
Média (ppb) 9,0 0,1 0,4 1,5 0,3 0,3 0,5 1,6 8,6 7,7
Média positivas (ppb) 19,0 3,1 3,5 10,2 1,4 4,1 4,3 10,3 20,5 18,9
AFLA1
Positividade (%) 47 3 11 15 20 8 11 16 42 41
RM4 425 0 4 22 6 3 5 25 361 312
Média (ppb) 1.990 69 127 183 144 207 76 753 1.466 1.590
Média positivas (ppb) 2.454 1.068 722 667 1.223 1.152 569 1.334 1.765 2.173
FUMO2
Positividade (%) 81 6 18 27 12 18 13 57 83 73
RM5 161 0 2 5 2 4 1 43 122 116
Média (ppb) 91 128 43 289 9 146 187 127 77 93
Média positivas (ppb) 180 453 100 858 50 230 265 215 133 182
ZEA3
Positividade (%) 50 28 43 34 19 63 71 59 57 51
RM6 46 36 19 97 2 92 132 75 44 48
Média (ppb) 78 577 17 80 30 736 68 127 114 250
Média positivas (ppb) 367 872 393 508 436 896 560 446 356 647
DON4
Positividade (%) 21 66 4 16 7 82 12 29 32 39
RM6 17 382 1 13 2 605 8 36 37 97
1
AFLA: Aflatoxinas totais (B1+B2+G1+G2). 2FUMO: Fumonisinas (B1+B2). 3ZEA: Zearalenona. 4DON: Deoxinivalenol (vomitoxina). 4RM: Risco Micotoxinas médio (RM = média de contaminação em ppb *
positividade em % * fator de amostragem). 5RM/1000. 6RM/100.
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3. CONTROLE E GERENCIAMENTO DAS MICOTOXINAS
A nutrição, para a maioria das espécies, atingiu, nos últimos anos, níveis de cuidados que são
traduzidos nos excelentes resultados produtivos apresentados principalmente na avicultura e
suinocultura. Nutrição adequada, manejo apropriado, sanidade controlada e genética apurada fizeram
com que surgissem outros fatores com impacto na atividade outrora não observados. As micotoxinas
fazem parte destes novos desafios, sendo, portanto, fatores que recebem cada vez mais atenção, por
razões econômicas e de saúde pública.
A presença de micotoxinas em matérias-primas não é homogênea, estando na maioria das
vezes em menos de 0,001% dos grãos. Concentração de partes por bilhão (ppb) em uma matriz como o
milho representam o equivalente ao peso de 1 grão em uma massa total de aproximadamente 350
toneladas. Essas constatações, por si só, caracterizam um problema praticamente insolúvel no
diagnóstico preciso de micotoxinas. Portanto, os procedimentos usuais empregados no recebimento de
cereais e na indústria de processamento de rações levam uma determinação de micotoxinas com um
grau de incerteza significativo.
Como as decisões sobre o destino e medidas de controle das micotoxinas basear-se-ão em
resultados de análises, a amostragem representa o passo mais crítico do processo e deve ser tratada
com um grau de cuidado maior do que utilizado para, por exemplo, amostras destinadas a avaliações
de umidade. A seguir são descritos alguns pontos da colheita e recebimento dos grãos até o processo
de produção de alimentos em que a amostragem poderá ser efetuada.
Figura 2 - Risco Micotoxinas semanal de uma empresa, nos anos 2013 e 2014, para aflatoxinas
(B1+B2+G1+G2), fumonisinas (B1+B2) e zearalenona em amostras de milho. Dados
fornecidos pelo Instituto SAMITEC.
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4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
A presença de micotoxinas nas dietas fornecidas aos animais pode determinar perdas
consideráveis no sistema de produção. O controle depende da implantação de políticas adequadas no
âmbito do manejo agrícola, dos sistemas de produção e armazenagem, raízes do problema. Pesquisas
nessas áreas estão em curso e resultarão em melhores resultados produtivos e econômicos na produção
animal, bem como, para a melhoria da sanidade dos alimentos destinados à alimentação humana.
A considerável presença das micotoxinas nos principais componentes da dieta, como as
aflatoxinas, fumonisinas, zearalenona e deoxinivalenol, que em média cada uma contamina
aproximadamente 50% dos grãos e subprodutos utilizados na nutrição animal, determina que se adote
um programa contínuo de monitoramentos das matérias-primas e rações destinadas ao consumo
animal. O monitoramento possibilita o gerenciamento do Risco Micotoxinas, que estabelece os
critérios técnicos para a tomada de decisões. A utilização de Aditivos Antimicotoxinas, em dietas
contaminadas é de importância estratégica, pois uma vez formada a toxina, processos de
descontaminação se tornam onerosos e inviáveis.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS