Podemos afirmar, no que tange à cultura musical do Brasil no século XX, a entrada
desse novo gênero musical que emergia em meados dos anos 1960, a MPB
(Música Popular Brasileira), foi responsável por marcar os movimentos culturais e
atuar como uma cultura engajada, isto é, em protesto aos acontecimentos da época.
Quando pensamos, por exemplo, no que se refere à Bossa Nova, ela vai aparecer
sobre um contexto diferente, nos anos 1950, durante o governo JK, e portanto, faz
parte de uma expressão que ressalta a euforia nacional daquele momento, marcada
por uma política desenvolvimentista econômica e industrial. Logo, no cenário em
que surgia a MPB, podemos perceber uma preocupação dessa arte no que
concerne à “curiosa situação histórica da MPB nascente dos anos 60, na qual
idolatria pop e engajamento político pareciam se combinar” 1. Além disso, por
nascer em contextos ditatoriais, como dito anteriormente, a Música Popular
Brasileira vai ter o papel de resgate de uma consciência nacional naquele momento,
no que se refere à militância política, os desafios que esse grupo de artistas
musicais vão passar se concentram muito numa questão de censura, repressão,
violência e militarização do cotidiano, ou seja, as terríveis mudanças que ocorreram
na sociedade durante o período de Ditadura Militar no Brasil. Ao mesmo tempo,
vamos perceber uma maior popularização da MPB nesse momento, uma vez que ao
denunciar sobre o social daquele momento, a imprensa e mídia liberal acabou
dando maior visibilidade e voz à esses protestos musicais, em um contexto no qual
as medidas repressoras como o AI-2 e AI-3 já desagradavam grande parte da
população que ainda acreditava naquele governo militar; é nesse sentido que “o
‘povo’, simbolicamente, voltava a manifestar num contexto de repolitização geral da
sociedade, triunfando nas canções de MPB que eram vistas como expressão de sua
própria voz” 2.
NOTAS:
2- Ibidem, p. 211.
3- Ibidem, p. 213.
5- Ibidem, p. 227.
É nesse contexto que vão emergir, por exemplo, o movimento LGBT, o feminista e a
luta também pelo feminismo negro. Muito mais do que lutar por um aspecto
específico, esses movimentos vão ser essenciais no que tange ao combate das
“questões de um cotidiano marcado pelo machismo, pelo patriarcado, pela violência
às mulheres e opressão das sexualidades dissidentes” 6, e além disso, são lutas que
vão marcar todo o espaço social, com o intuito de se alterar de fato as estruturas
autoritárias que prevalecem no sistema do Estado. O Movimento LGBT encontrou (e
pode-se dizer que ainda encontra) entraves no que se refere ao Estado, ou seja, é
uma cultura heteronormativa que já se encontra consolidada por toda a humanidade
que se pretendia quebrar, e portanto, foi um longo caminho desde forte repressões
durante a época de Ditadura Militar, o surgimento da AIDS em 1980, o preconceito
junto com a desinformação cada vez mais crescente, um relativo ganho de espaço a
partir de 1988 com a nova Constituinte e redemocratização do país, além das lutas
e esforços para a conquista da Lei que criminaliza a Homofobia somente em 2016, e
a realização de Conferências Nacionais que pela primeira vez na história
conseguiam dar voz à essa população 7.
NOTAS: