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NAILA VAZ VIEIRA MOTA - 100194

II AVALIAÇÃO DE HIS431 - HISTÓRIA DO BRASIL IV

1. Com base na leitura e discussões em aula dos textos de Marcos


Napolitano e Heloísa Starling, discuta como à diferença da Bossa Nova dos
anos JK, a MPB dos “Festivais da Canção” e, mais tarde, o Clube da Esquina,
enfrentaram diferentemente, cada um dos dois, os desafios relativos a: (1) a
revolução estética, (2) a relação com a arte popular; (3) a militância política e
(4) a questão comercial.

Podemos afirmar, no que tange à cultura musical do Brasil no século XX, a entrada
desse novo gênero musical que emergia em meados dos anos 1960, a MPB
(Música Popular Brasileira), foi responsável por marcar os movimentos culturais e
atuar como uma cultura engajada, isto é, em protesto aos acontecimentos da época.
Quando pensamos, por exemplo, no que se refere à Bossa Nova, ela vai aparecer
sobre um contexto diferente, nos anos 1950, durante o governo JK, e portanto, faz
parte de uma expressão que ressalta a euforia nacional daquele momento, marcada
por uma política desenvolvimentista econômica e industrial. Logo, no cenário em
que surgia a MPB, podemos perceber uma preocupação dessa arte no que
concerne à “curiosa situação histórica da MPB nascente dos anos 60, na qual
idolatria pop e engajamento político pareciam se combinar” 1. Além disso, por
nascer em contextos ditatoriais, como dito anteriormente, a Música Popular
Brasileira vai ter o papel de resgate de uma consciência nacional naquele momento,
no que se refere à militância política, os desafios que esse grupo de artistas
musicais vão passar se concentram muito numa questão de censura, repressão,
violência e militarização do cotidiano, ou seja, as terríveis mudanças que ocorreram
na sociedade durante o período de Ditadura Militar no Brasil. Ao mesmo tempo,
vamos perceber uma maior popularização da MPB nesse momento, uma vez que ao
denunciar sobre o social daquele momento, a imprensa e mídia liberal acabou
dando maior visibilidade e voz à esses protestos musicais, em um contexto no qual
as medidas repressoras como o AI-2 e AI-3 já desagradavam grande parte da
população que ainda acreditava naquele governo militar; é nesse sentido que “o
‘povo’, simbolicamente, voltava a manifestar num contexto de repolitização geral da
sociedade, triunfando nas canções de MPB que eram vistas como expressão de sua
própria voz” 2.

Portanto, quando destaco o papel da imprensa quero destacar também a


importância da mercantilização dessa indústria musical, uma vez que por meio dos
Festivais de Canção em horário de televisão aberta alcançavam um público enorme,
e assim trazia cada vez mais uma popularização desta Música Popular Brasileira
como instrumento de resistência ao regime ditatorial daquele momento. Essa
comercialização da cultura como algo popular acabou por trazer uma fórmula para
os musicais de festival, de modo a acelerar, como percebemos no capitalismo atual,
as formas de consumo, nesse sentido pretendo destacar que “o triunfalismo em
torno dos festivais e a nova revolução na estrutura do mercado musical, cujo
exemplo mais dramático era o surgimento do superastro Chico Buarque de
Hollanda, acabaram incentivando ainda mais a pesquisa musical que levaria ao
rompimento do paradigma estético e ideológico delimitado pelo nacional-popular da
“frente única” musical contra o regime, galvanizada pela MPB” 3.

No que se refere ao grupo musical Clube da Esquina, posso destacar um caráter


revolucionário, o que não podia ser muito diferente, uma vez que também emergia
em contextos ditatoriais brasileiro (entre 1963-1979), de forma concisa, posso dizer
que o Clube da Esquina trazia angústias, desejo de mudar a realidade do país, uma
relevância sobre o ato de ser humano nas questões sociais, uma coisa que se
tocava muito no espírito de “ser” naquele momento. Nesse sentido, esse tipo de
canção vai trazer consigo os desafios estéticos e de difusão popular na maneira
como produziam a música, ou seja, vão trazer a melancolia e as trevas daquele
momento como uma busca da verdade e das respostas que anseiam, em outras
palavras: “essa canção-faca vai exercer sua função de radicalidade crítica: a
esperança tem a ver com o futuro e com o desejo; o futuro é hoje; hoje é noite” 4. O
ambiente geográfico/físico, ou melhor as ações concretas que se testemunhava,
serão importantes e enunciados nessas questões, porque, na visão desses cantores
a “noite” seria um espaço de protesto, e carregaria consigo uma ambiguidade vivida
em um momento de intensa repressão, portanto destaco: “a noite também salva nas
esquinas noturnas, os juízes estão adormecidos, as lembrança podem retornar
livremente, os homens se reúnem, a narração da história torna possível o ato de
ouvir. Numa noite qualquer do país, numa época de morte e destruição de sua vida
pública, um punhado de canções fez do luto o momento de passagem do mutismo à
palavra” 5.

NOTAS:

1- NAPOLITANO, Marcos. Os festivais da canção como eventos de oposição ao


regime militar. IN: REIS, Daniel Aarão; RIDENTI, Marcelo; MOTTA, Rodrigo Patto
Sá. O golpe e a ditadura militar 40 anos depois. Rio de Janeiro: FAPERJ/7 Letras,
2004, p. 206.

2- Ibidem, p. 211.

3- Ibidem, p. 213.

4- STARLING, Heloísa Maria Murgel. Coração americano. Panfletos e canções do


Clube da Esquina. IN: REIS, Daniel Aarão; RIDENTI, Marcelo; MOTTA, Rodrigo
Patto Sá. O golpe e a ditadura militar 40 anos depois. Rio de Janeiro: FAPERJ/7
Letras, 2004, p. 225.

5- Ibidem, p. 227.

4. Com base na leitura e discussões em aula dos textos de Flavia Rios,


Cristina Wolf, Ronaldo Trindade, Clayton Feitosa e o de Maio, Chor e Monteiro
mostre como neles é central o entendimento das relações entre esses
movimentos (feminista, negro e LGBT) e o Estado na explicação do avanço
das pautas relativas à raça, gênero e sexualidade, exemplificando,
evidentemente, cada um dos casos.

Primeiramente, quero destacar a importância da década de 1960 para história como


um todo, uma vez que é nesse período que se percebe a efervescência de
movimentos sociais, sexuais, de militância, negros, culturais e outros mais; com
destaque para o ano de 1968, que ficou marcado pela explosão desses
movimentos, principalmente, no cenário norte-americano, aonde grande parte da
juventude (nova geração do pós Segunda Guerra Mundial) se posicionava
totalmente contra os valores tradicionais, de certa forma os negando e trazendo
novas revoluções socio-culturais.

É nesse contexto que vão emergir, por exemplo, o movimento LGBT, o feminista e a
luta também pelo feminismo negro. Muito mais do que lutar por um aspecto
específico, esses movimentos vão ser essenciais no que tange ao combate das
“questões de um cotidiano marcado pelo machismo, pelo patriarcado, pela violência
às mulheres e opressão das sexualidades dissidentes” 6, e além disso, são lutas que
vão marcar todo o espaço social, com o intuito de se alterar de fato as estruturas
autoritárias que prevalecem no sistema do Estado. O Movimento LGBT encontrou (e
pode-se dizer que ainda encontra) entraves no que se refere ao Estado, ou seja, é
uma cultura heteronormativa que já se encontra consolidada por toda a humanidade
que se pretendia quebrar, e portanto, foi um longo caminho desde forte repressões
durante a época de Ditadura Militar, o surgimento da AIDS em 1980, o preconceito
junto com a desinformação cada vez mais crescente, um relativo ganho de espaço a
partir de 1988 com a nova Constituinte e redemocratização do país, além das lutas
e esforços para a conquista da Lei que criminaliza a Homofobia somente em 2016, e
a realização de Conferências Nacionais que pela primeira vez na história
conseguiam dar voz à essa população 7.

O movimento LGBT também está intimamente ligado com outros movimentos


sociais, como citei anteriormente, o feminismo negro, composto por jovens, “a voz
mais audível nas lutas pelo retorno da democracia, era quem integrava as
organizações revolucionárias. Muitos desses jovens também passaram a se
identificar com as demandas dos movimentos feminista, ecológicos, raciais e
sexuais, além de aderirem a movimentos culturais o desbunde ou a tropicália” 8. O
feminismo negro, que também ganha força nas décadas de 1980, como em sua
definição vai trazer pautas que se encaixam na questão de gênero e raça, isso nos
leva pensar sobre a exitência de um questionamento da ordem acerca dos
movimentos feministas anteriores, no que diz respeito “a ausência da temática racial
no movimento [...] as ativistas negras apresentaram suas demandas relativas à luta
contra a violência doméstica, ao combate a práticas racistas no mercado de trabalho
e, principalmente, a assuntos relativos à saúde, como mortalidade materna e saúde
reprodutiva e sexual das mulheres negras” 9. Em uma tentativa de ganhar esses
espaços no Estado e conseguir, de fato, mudanças efetivas na sociedade, essas
mulheres negras participavam de reuniões, eventos e congressos, além de criar e
organizar contatos com pessoas, instituições e outras agências, assim, por meio
desse ativismo militante, percebemos o Feminismo Negro como essencial para
cobrar do Estado a obrigação de se garantir esses direitos mínimos exigidos;
portanto, é nesse sentido que “as feministas negras, em função de sua trajetórias
políticas e acadêmica, tiveram papel de destaque na construção de uma política
voltada para a saúde da população negra no período de 1995-2004” 10.

NOTAS:

6- TRINDADE, Ronaldo. A invenção do ativismo LGBT no Brasil. IN: GREEN,


QUINALHA; CAETANO; FERNANDES. A História do movimento LGBT no Brasil.
São Paulo: Alameda, 2018 p.229.

7- FEITOSA, Cleyton. A participação social nos 40 anos do movimento LGBT


brasileiro. IN: GREEN, QUINALHA; CAETANO; FERNANDES. A História do
movimento LGBT no Brasil. São Paulo: Alameda, 2018.

8- TRINDADE, Ronaldo. A invenção do ativismo LGBT no Brasil. IN: GREEN,


QUINALHA; CAETANO; FERNANDES. A História do movimento LGBT no Brasil.
São Paulo: Alameda, 2018, p. 236.

9- DAMASCO, Mariana Santos; MAIO, Marcos Chor; MONTEIRO, Simone.


Feminismo negro: raça, identidade e saúde reprodutiva no Brasil (1975- 1993). In:
Rev. Estudo. Fem. 20 (1), Abr 2012, p. 135.

10- Ibidem, p. 148.

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