Sobre a obra:
A presente obra é disponibilizada pela equipe eLivros e seus diversos parceiros,
com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos
acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim
exclusivo de compra futura.
Sobre nós:
O eLivros e seus parceiros disponibilizam conteúdo de dominio publico e
propriedade intelectual de forma totalmente gratuita, por acreditar que o
conhecimento e a educação devem ser acessíveis e livres a toda e qualquer
pessoa. Você pode encontrar mais obras em nosso site: eLivros.
eLivros .love
Converted by ePubtoPDF
WOLFGANG SMITH
TRADUÇÃO DE PERCIVAL DE CARVALHO
Cosmos e transcendência: rompendo a barreira da crença cientificista
Wolfgang Smith
1ª edição — maio de 2019 — CEDET
Título original: Cosmos and Transcendence: Breaking Through the Barrier of
Scientistic Belief,
1ª edição, Sherwood Sudgen & Co., 1984 (2nd revised edition, Sophia Perennis,
2008). Copyright © by Wolfgang Smith
Os direitos desta edição pertencem ao
CEDET — Centro de Desenvolvimento Profissional e Tecnológico
Rua Armando Strazzacappa, 490
CEP: 13087-605 — Campinas, SP
Telefone: (19) 3249-0580
e-mail: livros@cedet.com.br
Editor:
Thomaz Perroni
Tradução:
Percival de Carvalho
Preparação do texto:
Francisco do Nascimento
Revisão ortográfica:
Carlos Cardoso Martins Moreira
Capa:
Otávio Augusto Zanella
Diagramação:
Virgínia Morais
Conselho editorial:
Adelice Godoy
César Kyn d’Ávila
Silvio Grimaldo de Camargo
FICHA CATALOGRÁFICA
Smith, Wolfgang.
Cosmos e transcendência: rompendo a barreira da crença cientificista /
Wolfgang Smith; tradução de Percival de Carvalho — Campinas, SP: VIDE
Editorial, 2019.
ISBN: 978-85-9507-059-2
1. Cosmologia. 2. Física
I. Autor II. Título
CDD —
113 / 530
ÍNDICES PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO
Cosmologia — 113
Física — 530
VIDE Editorial — www.videeditorial.com.br
Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução
desta edição por qualquer meio ou forma, seja ela eletrônica, mecânica,
fotocópia, gravação ou qualquer outro meio de reprodução, sem permissão
expressa do editor.
Contracapa
Wolfgang Smith, físico conceituado e filósofo da ciência,
demonstra neste livro que a concepção especificamente
moderna do mundo está baseada não em fatos científicos,
mas, em última instância, em nada mais substancial do que
uma coleção de mitos prometeicos. De modo muito
esclarecedor e através de uma escrita elegante, o Dr. Smith
conduz o leitor a uma abertura de perspectivas que lhe
permite recobrar, com renovada convicção, os
conhecimentos metafísicos de profundo alcance que nos
foram legados pelo cristianismo. Uma vez rompida a
barreira das crenças cientificistas modernas, torna-se
possível contemplar novamente as verdades universais que
há muito vinham sendo obscurecidas.
Orelhas
WOLFGANG SMITH nasceu em 1930 e se formou aos 18
anos em Física e Matemática na Cornell University. Suas
pesquisas e artigos em aerodinâmica e campos de difusão
forneceram a chave teórica para a solução de problemas de
reentrada na atmosfera em viagens espaciais. Depois de
receber o Ph.D. em Matemática pela Columbia University,
foi professor no M1T e na University of Califórnia. Além de
inúmeras publicações técnicas relacionadas à topologia
diferencial, Dr. Smith é autor de três livros e muitos artigos
sobre questões interdisciplinares e epistemológicas, nos
quais se preocupa em desmascarar algumas concepções
cosmológicas equivocadas porém amplamente admitidas
como verdades científicas. Desde que se aposentou da
carreira acadêmica, tem publicado muitos livros dedicados à
crítica e à interpretação da ciência desde um ponto de vista
metafísico. Este é o quarto livro de sua autoria publicado
pela VIDE Editorial — os outros são O enigma quântico,
Ciência e mito c A sabedoria da antiga cosmologia.
“Minha preocupação em Cosmos e transcendência foi
demonstrar, por um lado, que a subjetivação das qualidades
não é, como hoje se costuma acreditar, uma descoberta
científica, mas um infundado pressuposto filosófico
estipulado por René Descartes; e, por outro lado, que esta
premissa cartesiana contradiz a sabedoria perene da
humanidade”.
***
“Ao que tudo indica, deu-se mesmo uma ‘queda’ de
enormes proporções entre os séculos XIV e XV. Até a leitura
mais casual da história europeia revela os contornos de uma
transformação descomunal: ruía a velha ordem e nascia um
novo mundo. Por certo, essa é metamorfose cultural que
normalmente contemplamos sob as cores da evolução e do
progresso; apenas, passou-nos despercebido que na
barganha perdemos o nosso senso de transcendência. Ou
seja, tornamo-nos sofisticados, céticos e profanos. Por mais
iluminados que possamos almejar ser, a sabedoria das eras
ficou sendo para nós uma superstição, um mísero vestígio
dum passado supostamente primitivo; ou, na melhor das
hipóteses, é vista por nós como literatura ou poesia no
sentido exclusivamente horizontal que hoje ligamos a esses
termos. Goste-se ou não, achamo-nos num cosmos
dessacralizado e aplanado, um universo sem sentido que
atende sobretudo às nossas necessidades animais e à nossa
curiosidade científica”.
A Thea, cujo bom juízo
tantas vezes salvou o dia.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
PREFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO
CAPÍTULO I
A ideia do universo físico
CAPÍTULO II
O dilema cartesiano
CAPÍTULO III
Horizontes perdidos
CAPÍTULO IV
Evolução: fato e fantasia
CAPÍTULOV
O ego e a besta
CAPÍTULOVI
A deificação do inconsciente
CAPÍTULO VII
O “progresso” em retrospecto
APRESENTAÇÃO
COMO ESTE LIVRO não poderia deixar mais claro, a
Revolução Científica do século XVII proclamou o triunfo de
uma determinada cosmovisão científica (racionalista,
materialista), com sua epistemologia (o empirismo) e seus
procedimentos (o “método científico”). Ao contrário do que
supõe o vulgo, a ciência moderna não é tão-somente um
modo desinteressado, desapegado e não-valorativo de
investigar o mundo material: é um complexo de disciplinas
e técnicas que se ancora todo ele em pressupostos e
atitudes de base cultural, relativos à natureza da realidade e
às maneiras mais apropriadas de explorar os fenômenos
materiais, explicá-los e, talvez mais significativamente,
controlá-los. Com efeito, seria impossível separar dos
métodos da ciência moderna as suas teorias e as ideologias
que fornecem a sua força motriz — e é a esse novelo
emaranhado, ou, no dizer de Wolfgang Smith, aos
pressupostos inverificáveis assumidos pelas proposições
“verificáveis” da ciência, que o autor aplica o termo
cientificismo.
Como o livro deixa igualmente claro, a moderna
cosmovisão cientificista é incapaz de admitir Deus (seja lá
qual nome se Lhe dê): Deus é ora rechaçado como
“hipótese” obsoleta, ora solenemente ignorado — o que
afinal dá no mesmo. Outrossim inaceitável para o
cientificismo é todo senso do sagrado, cuja ausência
consiste em uma das características definidoras da
modernidade como um todo. Escusado dizer que são da
maior grandeza as questões debatidas, e tão mal
compreendidas, na querela entre “ciência” e “religião”, ou
“modernidade” e “tradição”: para mencionar só algumas
das mais salientes, a nossa concepção do que constitui
“realidade”, “natureza humana”, “vida” e “morte”,
transcendência e imanência, a relação entre o mundo
material e as realidades espirituais mais elevadas. Cosmos
e transcendência nos convoca para uma perquirição sobre
essas questões — uma indagação das ortodoxias da ciência
moderna à luz da sabedoria tradicional, norteada por
princípios e verdades imutáveis, nem novas nem velhas
mas atemporais.
Valendo-se de uma raríssima combinação de qualidades
e experiências, Wolfgang Smith transita com desenvoltura
entre os mundos um tanto arcanos da ciência
contemporânea e da metafísica tradicional. Às suas
imponentes qualificações em matemática, física e filosofia
se somou, durante décadas de estudo infatigável, um vasto
cabedal de platonismo, teologia cristã, cosmologias
tradicionais e metafísicas orientais. Os horizontes foram-lhe
ampliados tanto por diversas experiências profissionais na
academia e no mundo higb-tech da indústria aeroespacial,
como por pesquisas próprias empreendidas no curso da sua
desbravadora jornada intelectual e espiritual. Aí temos o
raro homem que se põe à vontade, por igual, com Eckhart e
com Einstein, com Heráclito e com Heisenberg! O dr. Smith
não é nenhum obscurantista a rejeitar fatos científicos
comprovados; não é nenhum reacionário a revocar os bons
velhos tempos. E um cientista de mente sóbria e um filósofo
que tem enfrentado alguns dos problemas mais
intimidadores da nossa era, recusando render-se aos
lugares-comuns e chavões da modernidade.
Nesta obra o dr. Smith escava os próprios fundamentos
do pensamento moderno a fim de explicar as rachaduras e
fissuras que vêm aparecendo por toda parte disto que se
pensava ser o sólido edifício da “ciência”. O autor rastreia a
linhagem de alguns dos preconceitos modernos mais
hipnotizadores (a crença no progresso, por exemplo) e
analisa o legado intelectual de figuras como Descartes,
Newton, Darwin, Freud e Jung, apresentando as ideias e
princípios mais cerebrinos em prosa lúcida e elegante,
inteligível a qualquer leitor receptivo. Cosmos e
transcendência, saído há um quarto de século, é fruto de
longos anos de exploração intelectual destemida, ruminação
profunda e discernimento maturado. A nossa era necessita,
com urgência, dos lumes lançados pela abrangente
investigação de Wolfgang Smith — e a editora Sophia
Perennis merece todo o louvor por trazer uma reedição
desta obra percuciente e estimulante a novas gerações de
leitores.
Harry Oldmeadow
Universidade La Trobe
Bendigo, Austrália
PREFÁCIO - À SEGUNDA EDIÇÃO
ESTE LIVRO tem propósito duplo. Primeiro, apresentar uma
crítica do mundo moderno e, com base nisso, expor uma
sabedoria metafísica atemporal. A segunda finalidade
pressupõe a primeira: mostrar que enquanto não chegarmos
a “romper a barreira da crença cientificista”, nas palavras
do subtítulo, essa sabedoria perene continuará inacessível a
nós.
Minha fundamental objeção à mundivisão cientificista é
que ela concebe o universo exterior como impercebido e
impercebível. O mundo concreto, composto de elementos
sensórios, tais como cor e som, e deveras de inúmeras
qualidades, é assim subjetivizado — quer dizer, relegado à
esfera da mente ou, se se preferir, da função cerebral.
Afinando-me com tendências filosóficas de vulto (a começar
por Husserl e Whitehead), eu julgo essa subjetivação
ilegítima e tremendamente falaz. Minha preocupação em
Cosmos e transcendência foi demonstrar, por um lado, que
a subjetivação das qualidades não é, como hoje se costuma
acreditar, uma descoberta científica, mas um infundado
pressuposto filosófico estipulado por René Descartes; e, por
outro lado, que esta premissa cartesiana contradiz a
sabedoria perene da humanidade.
Nessas duas bases eu pude proceder à realização do
intento duplo da obra, conforme definido acima.
O livro saiu e as coisas ficaram nesse pé, até que, alguns
anos depois, eu tomei interesse pelo chamado debate da
“realidade quântica”, que se vem travando desde 1927. O
que tem inquietado físicos e filósofos esses anos todos é o
profundo desencontro entre as descobertas da física
quântica e as nossas ideias costumeiras sobre a realidade
física, ao ponto de esses achados nos parecerem
paradoxais. Meu maior interesse era verificar se a filosofia
tradicional — eu tinha em mente sobretudo as escolas
platônicas — poderia dar alguma contribuição de valor para
o debate; e o que eu descobri, após um período de
considerável confusão, me apanhou de surpresa: a chave
para a compreensão da teoria quântica, eu agora percebia,
jaz precisamente no reconhecimento de que as qualidades
não são, afinal de contas, subjetivas, como todos tinham
presumido desde o início do debate. Eis que, uma vez
alijada a premissa cartesiana, tudo se encaixa no seu
devido lugar, e eu então pude escrever, n’0 enigma
quântico, que “o paradoxo quântico é o jeito da natureza de
refutar uma filosofia espúria”.
Deu-se, assim, que aquilo que em Cosmos e
transcendência havia servido de meio para desqualificar a
cosmovisão científica se tornou crucial para um
entendimento filosófico da física contemporânea. A física
pode, sim, ser interpretada em bases não-cartesianas, e
essa reinterpretação constitui a retificação necessária para
que possamos integrar as descobertas físicas comprovadas
em esferas mais altas do saber. A mesma ciência, portanto,
que desde os seus primórdios no século XVII se apresentava
como hostil à sabedoria tradicional agora vem de certo
modo apoiá-la.
Há no entanto mais por dizer; pois acontece que a
referida reinterpretação da física tem implicações decisivas
em quase todos os domínios fundamentais da ciência
contemporânea. Sob o risco de falar em termos
hipercondensados, e portanto de modo incompreensível,
cito aqui alguns exemplos: (1) O novo entendimento da
teoria quântica revela um princípio de “causalidade vertical”
— isto é, de causalidade instantânea, não determinada por
eventos antecedentes — que se prova atuante não só no
que os físicos denominam colapso do vetor de estado, como
ainda em todos os âmbitos a que se aplique a noção de
“projeto inteligente” — por exemplo, a arte humana.1 (2) A
distinção ontológica entre ambiente físico e o perceptível
acarreta uma distinção entre o cosmos terrestre e o sideral,
o que fundamentalmente desqualifica as asserções
reducionistas da cosmologia astrofísica contemporânea.2 (3)
Num universo dotado de qualidades reais, o que se costuma
chamar princípio antrópico assume um novo e insuspeito
significado.3 (4) A derrubada da premissa cartesiana tem
enorme repercussão no problema da percepção e respalda
os achados empíricos de James Gibson, o cientista da
Universidade Cornell que assombrou as comunidades
eruditas com a sua teoria “ecológica” da percepção visual.4
(5) A derrubada afeta igualmente o problema mente-corpo
no contexto da neurofisiologia — o chamado “problema da
ligação” [binding problem] — e permite uma integração das
descobertas neurofisiológicas nas antropologias
tradicionais.5
Só que as leis da probabilidade não fazem nada disso. O
que se sabe é que dois organismos quaisquer do mesmo
grupo exibem toda uma série de homologias anatômicas,
fisiológicas e outras. O autor está dizendo, efetivamente,
que a probabilidade de encontrar similaridades tão
numerosas seria ínfima caso se tratasse de mero acaso. E
isso sem sombra de dúvida é verdade; aliás, é decorrência
lógica da própria definição de probabilidade. Mas concluir
que as referidas correlações não se devem ao acaso não é
de maneira alguma dizer que elas se devem a uma origem
comum. Obviamente há outras possibilidades concebíveis.
Por exemplo, é bastante concebível que todos os
organismos de determinado grupo por força exibam tantas
características em comum simplesmente porque não daria
certo nenhum outro esquema orgânico, ou não tão bem. Por
outras palavras, tudo considerado, talvez as homologias em
apreço se devam a exigências naturais. Agora, se tal é
mesmo o caso não é a questão aqui. Afirmamos apenas ser
essa uma explicação possível, e nem um pouco conflitante
com as chamadas leis da probabilidade, ou com quaisquer
outros princípios conhecidos. E nada mais precisamos dizer:
pois isso já prova conclusivamente que, em si mesma, a
verificação da forte correlação não acarreta a hipótese da
origem comum.
Os FATOS DA EMBRIOLOGIA, tão logo enunciados, vieram
fornecer um dos principais argumentos em defesa da
doutrina transformista. O próprio Darwin já aventara a
hipótese de que se poderia “olhar o embrião como um
retrato mais ou menos esmaecido do progenitor (seja em
estado adulto ou larval) de todos os membros da mesma
classe”.14 E alguns anos depois Haeckel formalizou essa
ideia na sua famosa lei biogenética, também conhecida
como lei da recapitulação. Afirma ela que o embrião, em
seus sucessivos estágios de desenvolvimento, recapitula a
filogenia da sua espécie; ou, em termos mais imagéticos, o
embrião percorre aquela hipotética árvore da vida a que já
fizemos referência. Mas, ainda que a teoria, ao menos por
algum tempo, tenha encontrado boa acolhida entre grande
parte das autoridades biológicas, desde o princípio se
erguem vozes discordantes — e até mesmo alguns notórios
propugnadores da evolução terminaram por rejeitar a lei
biogenética. Por exemplo, em 1909, Sedgwick15 lançou
contra a recapitulação argumentos que a seu ver
desqualificam a teoria. Alguns embriólogos, por sua vez
(inclusive De Beer, o proponente da “evolução
clandestina”), chegaram à conclusão de que a coisa se dá
no sentido inverso: a filogenia é baseada na ontogenia, e
não o contrário. Na verdade, De Beer e Swinton vão mesmo
ao ponto de dizer que, “não obstante já se haver refutado a
teoria da recapitulação, os seus efeitos perduram nos
cantos e recantos da zoologia”.16
Seja como for, terá interesse relembrar pelo menos
alguns dos argumentos já levantados contra a lei
biogenética. Aqui valemo-nos de um estudo de Dewar (ele
próprio aluno, quando jovem, de Sedgwick em
Cambridge). (1) É ponto pacífico que inexiste recapitulação
17