a) O papel que vai sendo progressivamente atribuído à mulher na
passagem do sistema feudal para o modo capitalista de produção; Regine Pernoud (1978) em seu livro O Mito da Idade Média desfaz uma ideia equivocada que a partir de determinações político-religiosas da Idade Média por ter sido uma sociedade orientada pela religião cristã católica, a figura da mulher estaria diretamente associada ao pecado, devido a narrativa do Livro de Gênesis, em que Eva é acusada de seduzir Adão a pecar ou seja pelo corpo feminino, que poderia levar à concupiscência e à luxúria. Mas o fato é que as categorias de compressão da Igreja Católica, desde suas raízes no cristianismo primitivo, nunca atribuíram à mulher nenhuma condição de inferioridade ou de detenção do pecado em relação ao homem. O cristianismo compreende que o ser humano, tanto a mulher quanto o homem, estão expostos ao mal, porque é livre – tem liberdade para aceitar ou negar o bem, a graça. Desse modo, nas esferas social e eclesiástica da Idade Média, como os homens, as mulheres possuíam um grande trânsito. A sociedade não lhes negava espaço. A “caça às bruxas” só se inicia como estandarte religioso na Idade Moderna, quando o Estado, a autoridade civil, já havia se superposto à autoridade da Igreja e aos seus critérios. Heleieth Saffioti em sua obra A mulher na sociedade de classes: mito e realidade, (2013) aborda que o capitalismo não criou a inferiorização social das mulheres, mas se aproveitou do mesmo contingente feminino, acirrando a disputa e portanto, aprofundando a desigualdade entre os sexos. Nesse sentido, que o movimento feminista classista, assume uma perspectiva revolucionária, materialista e dialética em que defende a libertação das mulheres alinhada à mudança de toda a sociedade.
b) Como essas transformações sociais articulam-se com a empresa
colonial; No Brasil colônia encontramos o reflexo do que acontecia na Europa, mesmo porque fomos colonizados por portugueses, que tinham suas seu embasamento social as doutrinas da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana, prova disso que o Filme Desmundo (2003) - baseado no livro homônimo de Ana Miranda (1996) se inicia com um fragmento da carta do padre Manoel da Nóbrega ao rei D. João, em 1552: Já que escrevi a Vossa Alteza a falta que nesta terra há de mulheres, com quem os homens se casem e vivam em serviço de Nosso Senhor, apartados dos pecados, em que agora vivem, mande Vossa Alteza muitas órfãs. E se não houver muitas, venham de mistura delas e quaisquer, porque são desejadas as mulheres brancas cá, que quaisquer farão cá muito bem à terra, e elas se ganharão, e os homens de cá apartar-se-ão do pecado. (NÓBREGA, 1988, p. 133)
Portugal exportava para o Brasil meninas órfãs para aqui se casarem
com os colonos e assim manterem uma raça pura, caucasiana, ariana, pois para os dogmas da época somente assim seria possível ter desenvolvimento e engrandecimento da colônia, já que negros e os povos originários (indígenas) não possuíam qualificação e muito menos ‘alma’ para proporcionarem uma colônia forte e produtiva... Os casamentos eram arranjados com a ajuda da Igreja meninas de doze anos eram oferecidas a homens de 35, 60 e até setenta anos e essas meninas serviriam apenas para a procriação de serem brancos, e as relações sexuais estavam mais próximas a estupros do que uma relação de boa convivência.
c) As repercussões desta organização social para os lugares
estruturalmente assumidos por mulheres brancas, negras e indígenas no Brasil atual. Na atualidade no desgoverno que estamos vivendo, com relação as conquistas que o movimento feminista promoveu deste os anos setenta, no auge da Ditadura Militar estão para cair por terra. Devido as ideias esdrúxulas do atual ocupante do Palácio do Planalto que diz a alto e bom tom que fraquejou ao conceber uma filha... E o pior que seu discurso encontra uma quantidade de apoiadores! As repercussões desse discurso se materializam através da baixa participação feminina na política, no mundo do trabalho, com salários desiguais mesmo que para cargos semelhantes ocupados por homens, influências na indústria cultural, que hiper sexualizam a mulher (especialmente de mulheres negras e indígenas). REFERÊNCIAS
DESMUNDO. Direção de Alain Fresnot. Brasil, 2003, Drama, 101 min.
NÓBREGA, Manoel da. (1517-1570). Cartas do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia,
São Paulo: Edusp, 1988.
“DESMUNDO”, de Alain Fresnot, Entrevista com a prof.ª Drª. Márcia Eckert
Miranda. Revista do Instituto Humanitas Unisino, edição 216, 23 abr., 2007.
FONTES, Mariana Cunha; FEITOZA, Tatiana Aparecida. “Desmundo” uma
análise da América por trás do filme. Revista IHGP, v. 7, n.2, 2020.
SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovan. A mulher na sociedade de classes: mito
e realidade. São Paulo: Expressão Popular, 2013.
GREGIO, Gustavo Batista. Igreja e família: a submissão da mulher no filme
“Desmundo”. (Universidade Estadual de Maringá). VI SIES, Simpósio Internacional em Educação Sexual. Disponivel em: http://seer.upf.br/index.php/rhdt/article/view/12299 Acesso em: 8 de maio de 2022.
GREGIO, Gustavo Batista; PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo. A
construção histórica do gênero feminino na narrativa fílmica de ‘Desmundo”. História Debates e Tendências. Passo Fundo, v. 21, n.2, mai./jun. 2021, p. 67-86. Disponivel em: http://seer.upf.br/index.php/rhdt/article/view/12299#:~:text=O%20objetivo%20do %20artigo%20%C3%A9,Ana%20Miranda%2C%20publicado%20em%201996. Acesso em: 8de maio de 2022.
MIRANDA, Ana. Desmundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
NEVES, Fátima Maria. O filme “Desmundo”, a História e a Educação.
ANPUH, XXIV Simpósio Nacional de História, 2007. Disponível em: https://anpuh.org.br/uploads/anais-simposios/pdf/2019- 01/1548210413_107224dbbc5fba9df3662f155b9b4b7a.pdf Acesso em: 8de maio de 2022.
PERNOUD, Régine. O Mito da Idade Média. Lisboa: Europa América, 1978.
ZORZO, Solange Salete Toccolini. A voz excêntrica da personagem Oribela
em “Desmundo”. Revista Policromias, dez 2017, p. 111-122. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/download/118810 Acesso em 8 de maio de 2022.
ZORZO, Solange Salete Toccolini. “Desmundo”: as relações dialógicas
entre o romance de Ana Miranda e o filme de Alain Fresnot. Disponivel em: https://abralic.org.br/anais/arquivos/2015_1456108262.pdf Acesso em 8 de maio de 2022.