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OLIVINA – (Fe,Mg)SiO4

A olivina é um nesosilicato muito comum, ocorrendo principalmente em rochas ígneas básicas. É um


importante mineral industrial com uma série de usos.
“Olivina” na realidade não é um mineral, mas apenas um termo genérico usado para nesosilicatos da
série isomórfica entre forsterita (Mg2SiO4) e fayalita (Fe2SiO4), uma solução sólida completa. Uma
terminologia antiga, hoje obsoleta, dividia a série em seis membros: forsterita (Fo100-90), crisolita (Fo90-70),
hialosiderita (Fo70-50), hortonolita (Fo50-30), ferrohortonolita (Fo30-10) e fayalita (Fo10-0). Não é possível
diferenciar os membros entre si através de suas propriedades ópticas. Entretanto, várias propriedades físicas
e químicas variam sistematicamente com a composição e uma análise detalhada das mesmas pode permitir
uma estimativa de composição. A maioria das olivinas, entretanto, tende a ser rica em forsterita. Zonação
composicional pode ocorrer, com o núcleo mais rico em Mg.
Além da série forsterita-fayalita há a série forsterita-tefroita (Mn2SiO4) e a série fayalita-tefroita. Olivina
pode conter Fe, Ni e PO4. Maclas são muito raras, podem ocorrer segundo {100}, {011} e {012}.

1. Características:
Os dados abaixo referem-se a forsterita; fayalita é muito similar.
Sistema Cristalino Cor Hábitos Clivagem
Ortorrômbico, Verde, amarelo pálido, Geralmente cristais {010} imperfeita,
bipiramidal. marrom ou branco. arredondados, pode ser {100} imperfeita.
Tenacidade Mais escura com teor prismático biterminado.
mais alto de Fe. Maciço, granular. Estrias // ao alongamento
Quebradiça.
Maclas Fratura Dureza Mohs Partição
ver acima Conchoidal. 7 não
Traço Brilho Diafaneidade Densidade (g/cm3)
Branco. Vítreo. Transparente. 3,275

2. Geologia e depósitos:
A olivina é típica de rochas ígneas intrusivas e extrusivas, máficas a ultramáficas, bem como de seus
equivalentes metamórficos. Assim, ocorre em gabros, em sienitos com feldspatóides (shonquinitos), em
gabros com feldspatóides (theralitos) e em peridotitos e piroxenitos (sagvanditos e websteritos). Dunito é uma
rocha formada predominantemente por olivina.
Olivina também ocorre em traquitóides (shoshonitos), basaltos alcalinos e subalcalinos (tholeiíticos)
e foiditos (e.g., sodalititos). Pode ser encontrada em rochas com melilita, como turjaitos e melilititos. Também
em lamproitos, kimberlitos e em alguns minérios de platina. Fayalita pode ocorrer em pegmatitos graníticos,
em rochas plutônicas félsicas e em sedimentos ricos em Fe metamorfisados.
Ocorre em rochas calcosilicatadas formadas por metamorfismo de contato (escarnitos) sobre
calcários dolomíticos. Alguns tipos de meteoritos apresentam olivinas. Acumula-se em areias de praias em
ilhas oceânicas.
3. Associações Minerais:
Em gabros, basaltos, picritos e basanitos associa-se a plagioclásios, clinopiroxênios, magnetita,
ilmenita e analcima. Também ocorre com feldspatóides (leucita, noseana, sodalita, nefelina, etc.). Outros
minerais que podem ocorrer associados são cromita, espinélio, ortopiroxênios (enstatita-ferrosilita),
clinopiroxênios (augita, pigeonita, diopsídio), dolomita, calcita e flogopita (em mármores), ludwigita, kamacita,
quartzo, taenita, antigorita (serpentina), brucita, coríndon, anfibólios (arfvedsonita, hedenbergita) e outros.
4. MICROSCOPIA DE LUZ TRANSMITIDA:
Índices de refração: nα: 1.636 – 1.730 nβ: 1.650 – 1.739 nγ: 1.669 – 1.772

ND Cor / pleocroísmo: incolor. Raramente é amarelo-esverdeado pálido com pleocroísmo amarelo


pálido muito diagnóstico, devido a teores maiores de Fe.

Relevo: médio a extremamente alto.

Clivagem: clivagens {010} e {001} más, que normalmente não são visíveis ao microscópio.
Membros ricos em Fe (tendendo a fayalita) podem mostrar clivagem moderada
{010}.

Hábitos: Cristais anédricos, mais raramente subédricos, sempre tendendo a


arredondados. Em rochas vulcânicas pode formar fenocristais prismáticos
euédricos, com seções hexagonais ou octogonais. Em rochas vulcânicas vítreas
pode ser esqueletal. Em komatiitos pode ser acicular, formando a textura
“spinifex”. Fraturas normalmente são abundantes, muito irregulares, contendo
materiais de alteração (“iddingsita” e/ou vários outros).

NC Birrefringência e cores birrefringências máximas de 0,035 (forsterita) e 0,052 (fayalita): cores fortes,
de interferência: intensas e variáveis de até 3ª ordem. Seções paralelas a (001) possuem
birrefringência 2x mais alta que seções paralelas a (100).

Extinção: paralela em relação à forma, o que raramente é possível constatar devido à


tendência de ocorrer anédrica.
Em rochas metamórficas a extinção pode ser ondulante.

Sinal de Elongação: SE (-) ou SE (+), dependendo da orientação.

Maclas: raras e simples, segundo vários planos. Não são diagnósticas.

Zonação: frequentemente zonada, com núcleos ricos em Mg e bordas ricas em Fe.

LC Caráter: B(+) ou B(-), dependendo da composição. Ângulo 2V: 46 – 98º. Rica em Mg: >72º
Alterações: a olivina pode sofrer seis processos de alteração.
1. Iddingsita: a olivina pode alterar a iddingsita, que não é um mineral, mas sim uma mistura de cor
amarelo-marrom a vermelho-marrom, composta por argilominerais do Grupo da Clorita e do Grupo da
Esmectita, também óxidos de ferro (goethita e hematita), ferrohíbridos e outros. Iddingsita é fracamente
pleocróica e pode formar pseudomorfos sobre olivina.
2. Bowlingita: alteração composta por minerais verdes como esmectita, clorita, serpentina, talco e mica.
3. Serpentina: a olivina é substituída progressivamente por antigorita (fácies xistos verdes), crisotilo e
lizardita a partir das fraturas e limites intergranulares, com as fibras orientadas perpendicularmente às
paredes das fraturas. Formam-se pseudomorfos de serpentina sobre olivina.
4. Bordas de reação ocorrem quando olivinas estão em contato com plagioclásios ricos em anortita em
rochas gabróicas. Estas bordas de reação (texturas quelifíticas) são compostas por hornblenda verde
fibrosa e radiada, também piroxênios, espinélios e granadas. Por outro lado, quando olivinas estão em
contato com fluídos ricos em sílica, geram-se bordas de reação compostas por ortopiroxênios.
5. Calcita: pode ocorrer substituição completa de olivina por calcita (pseudomorfoses).
6. Óxidos e hidróxidos de ferro podem desenvolver-se ao longo das fraturas e nos grãos.

Pode ser confundida com: Clinopiroxênios sempre mostram sua clivagem típica e tem extinção oblíqua.
Andalusita é semelhante, mas não ocorre nas mesmas rochas. Minerais do Grupo da Humita, como a
chondrodita, possuem relevo mais baixo e birrefringência mais baixa.
Olivina inalterada em mármore (calcita). À esquerda, a ND, percebe-se o relevo muito alto da olivina. Esse
relevo é mais alto que o relevo da calcita (à esquerda em baixo e à direita em cima). À direita, a NC, observa-
se as cores de interferência intensas dos vários grãos de olivina (azul, amarelo, vermelho, laranja, etc.). Em
cima há um grão idiomórfico na posição de extinção paralela (grão preto maior na horizontal).

Olivina em gabro, com um pouco de óxido de ferro (vermelho) nas fraturas a ND (esquerda) e a NC (direita).
A ND ficam nítidas os contrastes de relevo: plagioclásio (incolor + relevo baixo), clinopiroxênio (incolor +
relevo médio) e olivina (incolor + relevo alto).

A NC, olivinas idiomórficas em peridotito, A NC, olivina esqueletal em rocha


prismáticas curtas com terminações em vulcânica.
pontas (bipirâmides).
Olivinas alteradas:

Olivina parcialmente alterada a ND (esquerda) e a NC (direita). A maior parte do grão já está alterada para
serpentina, mas no centro sobraram algumas porções de relevo mais alto e cores de interferência intensas
que representam as características originais da olivina.

Cristal de olivina completamente alterado a serpentinas. À esquerda, a ND; à direita, a NC. É um padrão
de alteração muito típico que, aliado à forma e à paragênese, facilita a identificação da olivina.

Olivina integralmente alterada (pseudomorfose) a iddingsita


Olivina integralmente alterada a (laranja). A rocha é vulcânica, composta por opacos (pretos),
serpentina. A rocha é um mármore, plagioclásio (incolor + relevo baixo) e raros clinopiroxênios. ND.
composto basicamente por calcita. NC.
Imagem de uma
lâmina inteira de
komatiito a NC, com
olivinas aciculares
alteradas a serpentina
formando uma rede.
Os espaços entre as
olivinas estão
preenchidas por
serpentina.

Cristal euédrico de olivina em rocha vulcânica a NC, Olivinas de hábito acicular a NC, totalmente
integralmente substituído por calcita constituindo, alteradas a serpentina, formando a textura
assim, uma pseudomorfose. spinifex em um komatiito.

Em escarnito, calcita e, no centro da imagem, grão de olivina alterado a serpentinas e bowlingita. À


esquerda, a ND, a bowlingita é amarelo-esverdeada e a serpentina é incolor. À direita, a serpentina é cinza
a branca e a bowlingita apresenta cores luminosas entre amarelo e verde. Calcita em marrom.
A NC, olivina alterada a
bowlingita, de estrutura
complexa. A ND a cor da
bowlingita é verde, podendo
tender a amarelado ou
avermelhado.

A ND (esquerda) e a NC (direita), cristal de olivina alterado a clorita (ND: verde claro), serpentina (ND:
incolor, difícil de ver), bowlingita (ND: amarelo-esverdeada, nas bordas) e óxidos e hidróxidos de ferro
(ND: vermelho, ao longo das fraturas).

No centro das imagens, cristal subédrico (hipidiomórfico) de olivina com óxidos e hidróxidos de ferro
(vermelhos) ao longo das bordas e fraturas. O grão em si está inalterado, a alteração se concentra ao longo
das bordas e das fraturas.
Grãos de olivina alterada (na horizontal, 3 grãos lado a lado) em rocha vulcânica, com plagioclásios,
a ND (esquerda) e a NC (direita). As olivinas desenvolvem bordas pretas (compostos com Fe) e seu
interior é alterado para carbonatos, serpentina, clorita e possivelmente outros produtos de alteração,
em um padrão que muda de grão para grão.

Em peridotito, olivinas como fenocristais e na matriz, completamente alteradas para serpentina. A ND


(esquerda), a forma dos grãos é características para olivina, bem como o padrão de alteração, com
algumas porções menos alteradas no interior dos grãos. Na rocha ocorrem alguns grãos de olivina com
porções ainda inalteradas, geralmente no centro dos cristais. A NC (direita), cores de interferência cinzas
caracterizam a serpentina, uma alteração comum da olivina.
5. MICROSCOPIA DE LUZ REFLETIDA:

A microscopia de Luz Refletida evidentemente não é o método analítico recomendado para a


identificação da olivina. Entretanto, é importante a confecção de uma lâmina ou seção polida para a
identificação dos vários minerais opacos que ocorrem associados à olivina, como magnetita, ilmenita,
calcopirita, pirita, cobre nativo e outros.

Preparação da amostra: a olivina adquire bom polimento com certa facilidade. Quando alterada, por outro
lado, o que é muito comum, o polimento fica de baixa qualidade e sulcos persistentes são difíceis de eliminar.

ND Cor de reflexão: Cinza escuro, sem nenhuma tonalidade colorida associada.

Pleocroísmo: Não

Refletividade: Muito baixa (~7%) Birreflectância: Não

NC Isotropia / Anisotropia: Não há anisotropia visível.

Reflexões internas: Generalizadas na cor macro do mineral, que pode ser em tons amarelos,
amarronzados ou esverdeados, sempre de baixa luminosidade.

Pode ser confundida com: granada pode ser semelhante, mas ocorre em outras paragêneses.
Considerando a paragênese, são relativamente diagnósticas para olivina a forma arredondada, as fraturas
com materiais de alteração e as cores das reflexões internas. Produtos de alteração diversos podem alterar
a cor das reflexões internas.

Forma dos grãos geralmente tende a arredondada ou elíptica, em rochas vulcânicas pode ser
retangular ou biterminada.

Fraturas são uma constante, preenchidas com materiais de alteração (iddingsita ou serpentinas) que
possuem cor de reflexão mais escura, muitos sulcos de polimento devido à baixa dureza e reflexões internas
mais claras e mais luminosas (amarelas a brancas).

Relevo alto pode ocorrer em função das diferenças de dureza entre olivina e materiais de alteração.

Magnetita e ilmenita podem ocorrer como inclusões na olivina.

Pirrotita pode ser concentrar, na forma de lamelas, ao longo das bordas dos grãos de olivina.

Olivinas a ND (esquerda) e a NC (direita). A cor de reflexão é semelhante a outros silicatos; as reflexões


internas sempre nessas cores claras, podem ser esverdeadas ou marrons.
Olivinas a NC com reflexões internas de cores diferentes das imagens anteriores. Materiais de
alteração podem modificar estas cores.

Em escarnito, olivina alterada a bowlingita, com calcita no topo da imagem e algumas lamelas de pirrotita
(bem claras, tom amarelado, alta refletividade, no topo e à esquerda).
À esquerda, a ND, percebe-se nitidamente a serpentina mais clara se desenvolvendo nas fraturas do grão
de olivina e a cor cinza esverdeada da bowlingita que ocupa a maior parte do grão.
À direita, a NC, calcita possui reflexões internas claras a brancas e anisotropia. Bowlingita e serpentina
mostram reflexões em vários tons de verde, pode ser muito escuro, quase preto.

Versão de setembro de 2021

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