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Considerações sobre as Constituições

Maçônicas
A Constituição Francesa, de 1523;
       A Constituição Inglesa, de Anderson, de 1723 e
          A Constituição Prússiana, de Frederico II, de 1786. 

          É muito interessante o confronto entre as duas constituições Maçônicas, a Francesa de


1523 e a Inglesa, de Anderson, de dois séculos mais tarde. Na primeira, é o espírito latino,
menos místico e mais rebelde, a mostrar-se inquieto pelos destinos da pessoa humana, lutando
pela liberdade do pensamento e rebelando-se contra os privilégios das castas religiosas e da
nobreza.Na Segunda, é o misticismo religioso, o "mosaismo" na sua mais alta expressão, a
obediência cega aos reis, a confusão, enfim, entre a teologia e as coisas temporais.

           Na Francesa, a Maçonaria é um movimento filosófico ativo, universalista e humanitário,


no qual cabem todas as orientações e critérios que tenham por objetivo o aperfeiçoamento
moral e intelectual da humanidade, sobre a base do respeito à personalidade humana. 

           Na Inglesa, a instituição é apenas um sistema de ordem moral, um culto para conservar
e difundir a crença na existência de Deus; e é dentro desse princípio que se deve compreender
a ajuda aos seus membros para regularem suas vidas e condutas, de acordo com os princípios
da sua própria religião, seja ela qual for, desde que seja monoteísta.

          A primeira, tornando livre a investigação da verdade, defende ipso facto a liberdade do
pensamento e opta pela aplicação do método cientifico experimental na filosofia. A segunda,
afirma que a Maçonaria é um culto fundado sobre bases religiosas, não admitindo livres
pensadores nem ateus, por melhores que sejam as suas virtudes morais. 

           A Constituição Francesa é pela proibição absoluta dos clérigos das várias religiões se
imiscuírem em assuntos políticos dos povos. Advoga a abolição das castas e dos privilégios da
nobreza e do clero, e reconhece a livre determinação dos povos com o direito de se
governarem livremente segundo suas leis e costumes.Propõe a supressão dos tribunais
especiais da justiça e do Santo Ofício, os quais devem ser substituídos pelos tribunais comuns,
de acordo com as leis e costumes. 

           A Inglesa é omissa nesses pontos. A Francesa não proíbe que os seus membros
adorem os deuses sem combate as religiões. Omite-as, deixando as concepções metafísicas
ao domínio individual dos seus membros. A Inglesa toma obrigatória a crença em Deus, e
obriga ao juramento sobre a Bíblia. 

           "É costume antigo - diz a Constituição Francesa - não admitir como Franc-maçons os
inimigos naturais da instituição, como sejam os clérigos das várias religiões, os portadores de
títulos e privilégios da nobreza e do clero, e os que possuem convicções contrárias aos
princípios básicos da Franc-Maçonaria, salvo quando se rebelarem clara e francamente contra
essas ideologias antagônicas dos princípios da igualdade humana". 

           A Inglesa, pelo contrário, confere a nobreza os títulos mais altos da hierarquia
Maçônica. Aplacadas as lutas religiosas na França e ressuscitado movimento filosófico
interrompido pelos desatinos da contra reforma, a Maçonaria retorna ao continente e retoma a
sua antiga forma expressa na Constituição de 1523. 

            Era a época da Enciclopédia e da propaganda do que devia ser mais tarde a
grande Revolução Francesa. Os emblemas da realeza são banidos dos rituais, e as formas
religiosas introduzidas pelos Ingleses cedem lugar a concepções racionalistas onde o caráter
cívico da instituição se manifesta em toda a sua pujança e magnitude. 
            Não há dúvida, a Maçonaria Francesa assume o seu lugar na vanguarda, penetrando
profundamente na burguesia, sem descurar, contudo o proselitismo entre a própria nobreza
que sentia desabar o seu mundo de ilusões. 

            A reforma ritualística não agradou aos ingleses. Não agradou também aos alemães a
quem não convinha uma França subversiva pelo receio do contágio de idéias tão perigosas. 

            A instituição, porém, progride e ultrapassa as fronteiras nacionais. Ao grito da França


responde o eco em outros latinos. 

            Na Rússia, a grande Catarina constitui-se em animadora do movimento filosófico e com


o auxílio da princesa Dachkov funda uma academia de literatura Russa, convidando para
inaugurá-la Grimm, Voltaire e Diderot. 

            O espectro da República torna-se então o pesadelo de Frederico da Prússia . Não


seria de boa tática combater idéias novas com princípios rançosos... Catarina era perigosa e o
brio dos Franceses indomável. E Frederico pensou: "se os ingleses mantiveram a casca e
apenas fizeram restrições à polpa, por que não hei de eu aproveitar o arcabouço e torná-
lo elegante aos olhos da própria França?".

             E foi assim que a 1° de Maio de 1786 o Grande Frederico operava a sua reforma
escocista: "Nós Frederico por graça de Deus, Rei da Prússia, Margrave de Brandeboure, etc.
Soberano Grande Protetor, Grande Comendador, Grão Mestre Universal, e Conservador da
muito antiga e Veneravel Sociedade dos Antigos Maçons Livres e Associados, ou Ordem Real
e Militar da Franc-Maçonaria, etc. etc. a todos os nossos ilustres e muito amados Irmãos
espalhados pelo mundo: Tolerância, União e Prosperidade". 

             Foi essa a primeira vez que alguém chamou de "ordem militar" a uma instituição que
no pórtico das suas Constituições inscrevia a Paz como princípio da fraternidade entre todos os
povos da terra! Em todo o caso, Frederico mostrava-se muito mais hábil que os ditadores do
século XX. Não destruía a Maçonaria: mobilizava-a, amenizando a sua intervenção com uma
linguagem doce, e até certo ponto compreensiva. "A nossa intenção tutelar era mediar os
meios e combinar com os Irmãos mais influentes e chefes da Fraternidade em todos os países,
aquelas medidas que fossem mais próprias das verdadeiras liberdades Maçônicas, e
particularmente a de opinião, que é a primeira, a mais suscetível, e de todas a mais sagrada". 

              Essa reforma não encontrou eco entre os Maçons Ingleses. Eles tinham a sua; era tão
boa ou tão má, que ainda hoje perdura. 

Bibliografia:"Nos Bastidores do Mistério", de A. de Figueiredo Lima. 1958 

Trabalho realizado pelo Ir.’. José C. Cruz, 33° Membro Efetivo Supremo Conselho do REAA,
nos foi enviado pelo Ir.’. Joelson Castro Barbosa

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