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Na Encruzilhada:
i
PREFACIO
A alteração do Ensino Secundário e Profissional está a atrair mais atenção África, pois aumentam
as matrículas no ensino primário e a procura por parte de pais e alunos. As empresas privadas e as
Economias de Conhecimento emergentes, nas quais muitos países africanos se empenham em
participar, também deixaram claro que a simples conclusão do ensino primário já não chega para se
conseguir uma força de trabalho qualificada e competitiva. Como os governos de muitos países
africanos continuam a fazer investimentos consideráveis no ensino primário, também são forçados
a considerar reformas no ensino preparatório e secundário e na formação profissional. A procura
crescente pelos pais e pelos alunos de mais e melhor ensino pós primário para além do ensino
básico está a mobilizar a atenção dos políticos.
Com vista a aumentar a competitividade económica e a promover a justiça social, os países
africanos vão precisar de adaptar rapidamente os seus sistemas de ensino ao desenvolvimento de
qualificações e talentos da sua juventude na gama completa de aptidões. Os jovens africanos, como
os seus congéneres em todo o mundo, têm o direito de serem desafiados para poderem alcançar o
seu pleno potencial. Isto é verdade tanto para os que se deparam com barreiras significativas à
aprendizagem como para os naturalmente bem sucedidos. São frequentemente necessárias
alterações rápidas no conhecimento e nas qualificações para determinados empregos ou para
carreiras de sucesso. A força de trabalho africana precisa de ser motivada com vista a empenhar-se
na aprendizagem continuada ao longo da vida destinada a produzir o número suficiente de pessoas
com um nível médio e superior de qualificações. O potencial desperdiçado acarreta custos pessoais,
sociais e económicos elevados. Para os jovens de África, o preço de se afastarem do ensino cria
repetidamente graves problemas e implica insucesso para o resto das suas vidas.
No entanto, a melhoria e a expansão do ensino secundários e dos sistemas de formação em África
levantam problemas complexos. A maior parte dos governos africanos estão constrangidos pelos
limitados recursos públicos e pelas muitas outras prioridades de governação que exigem
financiamento. Os constrangimentos no domínio da qualidade agravam ainda mais a situação, uma
vez que a expansão para além do ensino primário devia ser simultaneamente acompanhada de uma
melhoria dramática na qualidade da produção. As forças de trabalho competitivas na Ásia e na
América Latina também alteraram a procura de qualificações em África e o sistema do ensino
secundário e profissional está a lutar para responder adequadamente. As questões em torno da
expansão de acesso ao ensino além primário, qualidade da produção e financiamento da
sustentabilidade são discutidas no relatório de Síntese SEIA. Este relatório é um documento de
trabalho que pode ajudar a promover um melhor entendimento entre os principais intervenientes e
dadores.
As escolhas são difíceis e as questões complexas. Como é que os governos africanos podem
responder a aumentos extraordinários da procura e, ao mesmo tempo, melhorar consideravelmente
a qualidade dos seus formandos? Como é que se pode dar mais apoio e reciclagem aos professores
do ensino secundário e aos reitores dos estabelecimentos de ensino e atrair-se mais gente para a
profissão? De que forma se pode aumentar a equidade, integrar matérias novas e modernas no
programa do ensino secundário, reformar os métodos de avaliação e adaptar materiais e
equipamento aos requisitos de um ensino secundário competitivo do século XXI?
O relatório de síntese SEIA contempla estas questões no contexto das economias africanas e das
condições para crescimento económico e desenvolvimento social. A concorrência da Ásia e da
América Latina está a aumentar a pressão sobre África. As antigas potências coloniais
transformaram completamente os seus sistemas de ensino secundário e terciário e de formação
profissional. Estaremos perante um clima de contínua e rápida mudança no qual questões globais
de comércio, saúde e sociais irão determinar os padrões de vida da população africana. Este estudo
SEIA pretende fornecer “alimento para reflexão”.
Jacob Bregman
Março de 2007
ii
ABREVIATURAS E ACRÓNIMOS
iv
PGM Física, Geografia, Matemática avançada
PIB Produto Interno Bruto
PIRLS Estudo sobre o Progresso da Leitura e Literacia Internacional
PISA Programa para Avaliação Internacional dos Estudantes
PNB Produto Nacional Bruto
PPEPT Plano de Ensino Pós-primário e Formação
PPPs Parcerias Público Privado
PROGRESA Programa de Educación, Salud y Alimentación
PRSC Crédito de Apoio à Redução da Pobreza
PRSP Artigo sobre a Estratégia de Redução da Pobreza
PTR Rácio Aluno Professor
RESAFAD Rede Africana para o Ensino à Distância
RNB Rendimento Nacional Bruto
SACMEQ Consórcio do Sul da África para a Monitorização da Qualidade da Educação
SAEB Sistema de Avaliação do Ensino Básico Nacional
SAGA Estratégias e Análise para o Crescimento e Acesso
SEDP Programa de Desenvolvimento do Ensino Secundário
SEIA Ensino Secundário em África
SEO Técnicos Superiores de Educação
SIL Empréstimo de Investimento Específico
SJ Secundário Primeiro Nível (júnior)
SMC Comité de Gestão Escolar
SMICT Ciências, Matemática e TIC
SPRED Reforçar o Ensino Primário
STAN Associação dos Professores de Ciências da Nigéria
SWAP Abordagem Sectorial Ampla
TF Fundo de Investimento
TIC Tecnologia de Informação e Comunicação
TIE Instituto Tanzaniano de Educação
TIMSS Estudo das Tendências em Matemática e Ciência Internacionais
TRANSE Universidade of Western Cape, Cidade do Cabo e NIFU, Oslo
UACE Certificado Avançado de Educação do Uganda
UCE Certificado de Educação do Uganda
UDCM Universidade de Dar-Es-Salaam
UIS Instituto da UNESCO para as Estatísticas
UK Reino Unido
UN Nações Unidas
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, Cultural e Ciência
US Estados Unidos
USAID Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional
VIH/AIDS Vírus da Imunodeficiência Humana/Sindroma Imunodeficiência Adquirda
VSO Serviço Voluntário Ultramarina
WAEC Conselho de Exame Oeste Africano
WEI Indicadores Mundiais de Educação
v
Agradecimentos................................................................................................................... i
Prefacio ................................................................................................................................ ii
Capítulo 1 .............................................................................................................................1
Rationale e objectivos do SEIA.........................................................................................1
Capítulo 2 ...........................................................................................................................15
Levantamento do Desafio ................................................................................................15
Capítulo 3 ...........................................................................................................................36
Lições da Experiência Internacional...............................................................................36
Capítulo 4 ...........................................................................................................................51
Ensino Secundário e Desenvolvimento na ASS ..........................................................51
Capítulo 5 ...........................................................................................................................76
Financiamento do Ensino Secundário ...........................................................................76
Capítulo 6 .........................................................................................................................108
Qualidade e Pertinência nos Currículos, Avaliações e Exames .............................108
Capítulo 7 .........................................................................................................................142
Proporcionar Oportunidades Eficazes e Equitativas de Aprender ..........................142
Capítulo 8 .........................................................................................................................175
Reforçar a Governança e a Gestão .............................................................................175
Capítulo 9 .........................................................................................................................200
O Caminho para o Futuro ..............................................................................................200
Capítulo 10 .......................................................................................................................225
Apoiar o Ensino Secundário na África Subsaariana:.................................................225
A Estratégia do Banco Mundial.....................................................................................225
References .......................................................................................................................238
vi
O amanhã pertence ao povo que se prepara para ele hoje
- Provérbio Africano
Capítulo 1
Adicionalmente, 78 79 88
60 78 69
os imperativos 64
sociais – 40
51 52
51
40 36
consciencialização 20
23
crescente para o
0
VIH/SIDA e
Cenral &
Latina &
Pacífico
Caraíbas
América
Ásia Central
Leste &
Norte &
Subsaariana
Ásia do Sul
Mundo
Estados
Ásia de
Améica
Europa
Europa
Árabes
outros riscos de
Leste
e Oeste
África
saúde, promoção
dos valores
democráticos, e Fonte: UIS Global Education Digest, 2006
participação no
desenvolvimento económico e social, combinados com o crescimento dos quantitativos
da juventude urbana – pedem políticas específicas para promover um estilo de vida
melhor e aumentar o potencial produtivo dos jovens. Muitos líderes políticos reconhecem
a importância de usar melhor o capital humano incorporado na sua juventude. Há poucas
dúvidas de que os países já não se podem permitir o que Hernes caracterizou como a
“silenciosa negligência” do ensino secundário (Caillods e Lewin, 2001; p. v).
1
UNESCO, 2000a; NEPAD, 2005) e ofereçam oportunidades para posterior educação e
formação para além disso para os estudantes que estejam dispostos e sejam capazes de o
fazer. Mas os obstáculos a um progresso significativo em direcção a essas metas são
inúmeros e podem produzir inércia política.
Desafios assustadores
4. A pressão da procura social de acesso ao ensino secundário está a intensificar-se
rapidamente por toda a ASS e não pode ser ignorada. Além disso, embora, na maior parte
do mundo desenvolvido, o ensino secundário se tenha expandido para níveis mais altos
de desenvolvimento económico e educacional do que os prevalecentes na ASS, não há
muitas dúvidas de que os países de hoje precisam de um alicerce mais avançado para os
recursos humanos, para que possam participar numa economia mundial com padrões de
produção e comércio mais complexos do que em qualquer altura do passado. As
economias de nível médio empreenderam uma transição do ensino primário para o
secundário enquanto nível mais alto de aquisições do ensino para a maioria da população.
As economias africanas precisam de caminhar na mesma direcção. É um desafio capital e
urgente, o de responder eficazmente a essas pressões sociais e económicas, face aos
vastos constrangimentos que pesam sobre os recursos públicos em economias com
grandes sectores de subsistência e muitas prioridades em competição que limitam a
capacidade do governo para mobilizar recursos para o ensino secundário. Um
desempenho económico em melhoria aumenta a urgência do desafio mas, ao mesmo
tempo, dá uma oportunidade para o atacar com eficácia.
Procura crescente
5. A seguir ao Fórum Mundial
Figura 1.2: Jovens dos 12 aos 18 como percentagem
da população total, por região do mundo, de 1999 a
de Educação (Dakar 2000) e à
2020 adopção da Educação para Todos
(EFA) e das Metas de
18%
Desenvolvimento do Milénio
16% (MDGs), as inscrições no primário
14% estão a aumentar rapidamente em
12% muitos países africanos, crescendo
10% 27% entre 1999 e 2004 (UNESCO,
8% 2006 e 2005; UNESCO BREDA,
6% 2005). Um alto crescimento
1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020 continuado da população vem
SSA LAC Asia EU acrescer ao desafio. A proporção de
Fonte: Dados população ONU pessoas em idade de frequentar a
2
escola secundária (12-18 anos) na população é mais alta na África do que em outras
regiões (Figura 1.2). O grande crescimento continuado da população resultará,
inevitavelmente, em números cada vez maiores de estudantes a concluir a escola primária
e procurar admissão no ensino secundário do primeiro nível. As inscrições no ensino
secundário duplicarão até 2015 para chegar a mais de 60 milhões em 2015, se for mantida
a taxa de crescimento das inscrições no secundário de 2000-2004; se as taxas de transição
entre o ensino primário e o secundário permanecerem inalteradas e todos os que entram
para a escola primária chegarem ao fim, as inscrições mais do que triplicarão até 2015
(Lewin 2006). Poucos países têm políticas em curso que lhes permitam absorver tão
grande quantidade de novos estudantes.
Figura 1.3: Número médio anos de escolaridade da população com
Resultados 5 ou mais anos, por região
demorados
6. Os
resultados 12,0
educacionais na 10,0
ASS são mais
8,0
baixos do que em 1960
Pacífico
Ásia do Sul
avançados
Norte África
Caraíbas
Ásia de
subsaariana
Latina e
transicionais
América
Leste e
Economias
Oriente &
Países
1960, quando eram
Médio
Africa
Entrada
Entrada
completa
completa
completo
SSE
JSE
SSE
PE
JSE
desenvolvimento
Fonte: Polo de Dakar económico e social
3
sustentado, exacerbado por oportunidades limitadas de participação no ensino secundário
para os pobres e para as raparigas.
2000
2000
1980
1980
1960
1960
9. Na Coreia, essa transição ocorreu entre 1960, altura em que 80% da população
com mais de 15 anos tinha a instrução primária ou menos como nível mais alto de ensino,
1
Ao longo deste relatório, ensino secundário refere-se à escolaridade do grupo etário de 12-18 anos, grosso
modo. O termo “ensino básico” é usado para indicar uma escolaridade de 9 ou 10 anos, incluindo
habitualmente o primário e alguns ou todos os anos do ciclo de primeiro nível do secundário. Em geral, são
usadas as definições do ISCED para os ciclos de escolaridade.
4
e 2000, altura em que 81% tinha completado o ensino secundário ou o ensino superior.
No Quénia – tal como em grande parte da África subsaariana – ainda tem que começar
(Figura 1.5). Acelerar o progresso em direcção a essa transição e geri-lo bem,
determinará a capacidade dos países africanos para participarem efectivamente na
economia global do século XXI, impulsionada pela tecnologia.
2.4%
representando um período 2
sustentado durante o qual o
PNB per capita tem estado a 1 1.2%
crescer a uma média de 1,8 0
por cento (Figura 1.6). Desde 1985-1990 1990-1995 1995-2000 2000-2004
os meados dos anos 1990, Fonte: Estimativas SEIA; Indicadores Desenvolvimento Banco Mundial
dezasseis países africanos
tiveram consistentemente um crescimento médio de mais de 4,5 ao ano. Muitos
aumentaram as exportações em mais de 8 por cento. Está projectado que o crescimento se
acelere ainda mais, à medida que os benefícios de reformas passadas e um ambiente mais
pacífico influem na actividade económica expandida. O Banco de Desenvolvimento
Africano e a OCDE (2005) prevêem um aumento de 5,8% e 5,5% da actividade
económica da África para 2006 e 2007, respectivamente (African Economic Outlook,
2006). Esperam que as possibilidades de grande parte da África continuem a ser mais
favoráveis do que foram ao longo de muitos anos.
5
Diversidade e Ligações
12. Três pontos têm que ser sublinhados. Primeiro, apesar do facto de os países da
ASS enfrentarem muitos desafios comuns, é criticamente importante reconhecer a
diversidade das situações dos vários países. Diferenças de história, geografia, cultura e
escolhas políticas deram como resultado uma grande divergência nas trajectórias de
desenvolvimento educacional e económico. Segundo, o ensino secundário – incluindo o
ensino técnico e profissional de nível secundário – está intimamente ligado com outras
partes do sistema educativo, com o ensino primário, para baixo, e com o ensino superior,
para cima. E, terceiro, o ensino secundário tem uma relação de reforço mútuo com a
economia, visto que depende do crescimento e do desenvolvimento e proporciona
oportunidades para que eles ocorram.
Diversidade
13. A maneira como o ensino secundário é organizado varia consideravelmente de
um país para outro. A duração do ensino secundário varia de 8 anos na Etiópia a quatro
anos no Quénia. Muitos países – mas não todos – distinguem claramente entre ensino
secundário do primeiro e do segundo níveis, variando cada um de 2 a 4 anos (Tabela 1.1).
Qualquer discussão das políticas de ensino secundário precisará de distinguir claramente
o ensino secundário do primeiro e do segundo nível. O ensino secundário do primeiro
Tabela: 1.1 nível está cada vez mais a ser considerado como a segunda fase do
Estrutura do ensino ensino básico que, em última análise, deveria estar disponível para
secundário na ASS todos. Em alguns países é disponibilizado nas mesmas instituições
Duração Número e, frequentemente, ministrado pelos mesmos professores que o
ESJ de países
ensino primário. Noutros, a disponibilização é claramente distinta
(anos) do ensino primário, havendo, em alguns países, alunos a
4 anos 22 partilharem as mesmas escolas com estudantes do segundo nível do
3 anos 18
ensino secundário, que frequentam turmas especializadas, sob a
2 anos 8
docência de professores com qualificações mais altas. O ensino
Duração Número
de países secundário do segundo nível tem habitualmente objectivos
ESS
(anos)
diferentes dos do ensino secundário do primeiro nível. Os
4 anos 7 estudantes estão nesse nível, em geral, para se prepararem para
3 anos 31 prosseguir os seus estudos em instituições do nível terciário ou para
2 anos 10 entrar no mercado de trabalho em posições de nível médio,
Fonte: UIS, 2006 combinadas com oportunidades de se inscreverem em programas
de desenvolvimento de competências e aprendizagem para a vida.
2
A taxa de conclusão é calculada dividindo o número total de não repetentes no último ano do JSE ou SSE
pelo número total de crianças em idade oficial de conclusão.
6
como parte do orçamento da educação variam de 11% na Serra Leoa a 50% na Eritreia3;
o custo unitário, expresso como percentagem do PIB per capita, de 6% no Botswana a
73,5% no Burundi; e os rácios aluno/professor, de 14 nas Comores, 16 no Botswana e
Suazilândia, a 46 no Malawi e 54 na Etiópia (UNESCO BREDA 2005).
16. Ao mesmo tempo, como apontaram várias análises (Lewin, 2006; UIS, 2005b), a
procura de ensino primário parece ser significativamente afectada pela possibilidade de
entrar para a escola secundária. Clemens (2004) chama a atenção para o facto de que, até
ao momento, nenhum país alcançou mais de 90% de inscrições líquidas no primário sem
ter, pelo menos, cerca de 35% de inscrições líquidas no secundário, e conjectura que os
pais esperam até que as escolas secundárias estejam suficientemente disponíveis para que
haja uma probabilidade razoável de que os seus filhos prossigam os estudos para lá da
escola primária, antes de inscrevê-los no primário. Similarmente, as desigualdades de
género no ensino primário são intensificadas no nível secundário4. Portanto, os
desenvolvimentos do ensino primário e do ensino secundário estão ligados um ao outro
numa relação de reforço mútuo. Um desenvolvimento equilibrado do sector (Banco
Mundial, 2005b; UNESCO BREDA, 2005) reconhece este facto como uma realidade
estratégica central do desenvolvimento do ensino.
17. Existe uma relação semelhante entre o ensino secundário e o ensino terciário. O
ensino secundário do segundo nível é a fonte de estudantes que entram para as
universidades e instituições especializadas de ensino superior e formação, incluindo
escolas superiores de educação. Em vários países, o progresso em direcção à EFA e às
metas do MD é entravado por carências de professores (Lewin e Stuart, 2003). As
instituições terciárias de qualidade precisam de diplomados do secundário bem
preparados. Ao mesmo tempo, as instituições terciárias são, em muitos casos, o lugar
onde são formados os professores do secundário. Claramente, as estratégias de
3
Valores ajustados para 7 anos de ensino.
4
Só em seis países – Suazilândia, Cabo Verde, África do Sul, Botswana, Namíbia e Lesoto – é que o Índice
de Paridade de Género (GPI) para o ensino secundário é maior do que o GPI para o primário.
7
desenvolvimento do ensino precisam de providenciar um quadro coerente para o
desenvolvimento de todas as partes do sistema educativo.
19. Para países com um RNB per capita de menos de 1200 dólares, a relação entre a
riqueza e as inscrições no secundário não é tão clara, em especial no primeiro nível do
secundário (Figura 1.7). A Eritreia, a Gâmbia, o Gana, São Tomé e Príncipe, Togo e
Zimbabwe, todos inscrevem 50% ou mais do grupo etário do primeiro nível do
secundário. Os rácios variam entre 14% na República Centro-Africana e 60% no Gana e,
para o segundo nível do secundário, entre 2% na Tanzânia e 32% na Nigéria.
Figura 1.7: RNB per capita e taxas de inscrição no secundário em países da ASS com RNB per capita
de menos de 1200 dólares
90 50
80 45
70 40
60 35
GER (%)
30
GER (%)
50 25
40 20
30 15
20 10
10 5
0 0
0 200 400 600 800 1000 0 200 400 600 800 1000
RNB p.c. (dólare s US ) RNB p.c. (dólare s EUA)
20. Para os países mais pobres, com um RNB per capita de cerca de 400 dólares, o
rácio de inscrição no secundário varia entre 14% na República Centro-Africana e 60% no
Gana e, no segundo nível secundário, entre 2% na Tanzânia e 32% na Nigéria. Isto sugere
que o ensino secundário não é um simples correlato do rendimento nacional crescente,
mas as políticas têm importância. As decisões do governo sobre a afectação de recursos
públicos, estratégias de disponibilização do serviço educativo e conteúdo dos programas
podem ter, e têm, um profundo impacto no acesso ao ensino secundário e na qualidade
deste último.
5
Cabo Verde, Seychelles e África do Sul têm um rácio de inscrições no primeiro nível do secundário de
100% ou mais; Botswana, Maurícias e Namíbia têm um rácio entre 80% e 100%. No segundo nível do
secundário os rácios mais altos são os das Seychelles (103%) e África do Sul (78%).
8
21. De facto, o ensino secundário e o desenvolvimento económico podem reforçar-se
um ao outro, positiva ou negativamente. Nos países do Leste da Ásia, industrializados e
com elevado crescimento económico, o desenvolvimento do ensino secundário acelerou-
se em paralelo com o desenvolvimento económico. O crescimento económico aumentou
as receitas do governo, melhorou a capacidade dos pais para suportarem os custos
directos e absorverem o custo de oportunidade do ensino e expandiu a procura de uma
força laboral instruída. Em grande parte da África Subsaariana, os rendimentos per capita
estagnaram ou declinaram em muitos países durante os anos 1980 e 1990. Os governos
não foram capazes de mobilizar os recursos necessários para alcançar as suas metas de
desenvolvimento do ensino, muitos pais não podiam suportar os custos directos e de
oportunidade e os mercados de trabalho não podiam absorver os diplomados. A
experiência do Leste da Ásia sublinha a relação de reforço mútuo entre o ensino
secundário e o crescimento económico. O crescimento económico possibilitou a expansão
do ensino secundário e este, por seu turno, contribuiu para a capacidade para crescer. O
Leste da Ásia nos anos 1970 estava pronto para o investimento directo estrangeiro de
uma maneira que mesmo a ASS de hoje – com baixa proporção da força laboral com um
ensino secundário completado com sucesso – não está.
23. As estratégias de ajuda ao sector de 2001 do Banco Mundial para a região África
(Banco Mundial, 2001) reconhecem a importância do desenvolvimento do ensino para lá
do nível primário e visam cada vez mais “planear o apoio do Banco (…) para promover
o desenvolvimento equilibrado de todo o sector e considerar as ligações entre todas as
partes do sistema educativo” (p. 5). O Banco está a adoptar cada vez mais um enfoque
sectorial no seu trabalho para o ensino, enfoque em que a estratégia EFA que promove o
acesso a ensino de boa qualidade para todas as crianças em idade de frequentar a escola
6
Memorando do Presidente sobre “Políticas propostas do Banco/IDA no Campo da Educação”, Outubro de
1963, citado em Banco Mundial 1971, p. 13.
9
primária em 2015 é complementada por investimentos noutras partes do sistema
educativo. O ensino secundário do primeiro e segundo níveis é uma parte importante
dessa estratégia. Mais importante do que isso, o Plano de Acção do Banco Mundial para a
África (Banco Mundial, 2005b) identifica o ensino secundário e o desenvolvimento de
competências técnicas como uma das suas áreas prioritárias, como parte de uma
perspectiva mais vasta relativamente às necessidades do desenvolvimento económico e
social da África Subsaariana. Mas pôr isto em prática com sucesso exigirá que países e
parceiros para o desenvolvimento reflictam nos desafios e compromissos envolvidos e
entrem num diálogo de políticas baseado numa compreensão sólida dos constrangimentos
e oportunidades com que os países da região se defrontam, à medida que caminham para
expandir o acesso a um ensino secundário de qualidade aceitável.
7
A iniciativa do estudo SEIA é financiada pelo Banco Mundial (AFTHD) e Fundos de Investimento
bilaterais: FI da Educação da Noruega, FI da Educação da Irlanda, FI da Holanda, e Governos francês e
japonês.
8
Tony Read,Vincent Bontoux, Amanda Buchan, David Foster, Tania Bapuji (2006) Secondary Textbook
and School Library Provision in Sub-Saharan Africa. SEIA Background Paper; Mingat, Alain. (2004)
Questions de soutenabilité financière concernant le développement de l’enseignement secondaire dans les
pays d’Afrique subsaharienne. Banco Mundial, Washington D.C.
9
Os estudos temáticos estão disponíveis, bem como os relatórios e artigos SEIA resultantes dos workshops
e conferências regionais em: www.worldbank.org/afr/seia.
10
que foram exploradas questões chave e discutidas as conclusões preliminares dos estudos.
Em 2002, foi publicado o documento SEIA “Estratégias para a renovação”, incluindo
contribuições internacionais das Maurícias, da Holanda e da África do Sul. Foi
organizado um workshop em Amesterdão em 2004 para parceiros externos para o
desenvolvimento com o intuito de iniciar uma reflexão sobre o lugar do ensino
secundário nos programas de ajuda à educação
na região África. Caixa 1.1: Os Estudos Temáticos
1. Acesso, financiamento e equidade: quais
26. A principal mensagem dos estudos são as opções políticas para uma expansão
temáticos e outros trabalhos da SEIA é que o sustentável e equitativa do ensino secundário?
ensino secundário e a formação são um (Lewin, 2006).
elemento chave de estratégias de 2. Como podem os processos de transição do
desenvolvimento da educação equilibradas na primário para o secundário e deste para o
terciário ser mais equitativos e eficientes?
África Subsaariana. Os países não podem ter (Grupo TRANSE, 2004).
esperança de conseguir um crescimento 3. Governança, gestão e responsabilidade ao
económico e um progresso social sustentados nível secundário: como podem os países da
numa economia global fundada no África Subsaariana conectar-se às tendências
conhecimento sem fazerem investimentos no de reforma do ensino e formação secundários
correntes? (Glassman e Sullivan, 2006).
ensino secundário. Todavia, na maior parte da 4. Professores e Directores da Escola
ASS, o ensino secundário não contribui tão Secundária: recrutar, reter e formar de novo.
efectivamente como poderia para o (Leu, Mulkeen, Chapman e DeJaeghere, 2004).
desenvolvimento económico e social. Dados 5. Como pode ser melhorada a relevância e
sobre a educação, inquéritos ao mercado de qualidade dos currículos, do ensino, da
aprendizagem e da avaliação? (Van den Akker
trabalho e às empresas indicam que (a) os e Ottevanger, 2006).
diplomados do secundário estão fracamente 6. A ligação entre questões de saúde e sociais
preparados para a vida de trabalho e posterior e o ensino secundário: aptidões para a vida,
formação, (b) o acesso não é equitativo e (c) o educação cívica e sanitária; (Smith, Nesbakken
custo é elevado. São essenciais as reformas dos e Wirak, 2004).
7. Ciências, Matemática e TIC no secundário:
objectivos e conteúdo dos currículos, incluindo relevância e qualidade ao nível da escola
métodos de avaliação, e da estratégia de secundária? (Ottevanger, Lelieveld e Clegg,
disponibilização do serviço educativo, para 2004)
transformar o sistema actual “de elite” no 8. Questões de género no ensino e formação
ensino secundário de primeiro e segundo níveis secundários em África: quais são os problemas
que defrontam as estudantes africanas e o
e na formação num sistema que contribua mais pessoal feminino nas escolas secundárias?
eficazmente para o crescimento económico e o (Sutherland, 2006).
desenvolvimento social.
11
Caixa 1.2: Alimento para o pensamento na encruzilhada
Sumário das conclusões e escolhas de políticas
• Crescimento económico sustentado e participação numa economia global, impulsionada pela
tecnologia, são improváveis, a menos que se tenha atingido um certo limiar de capital humano. Muitos
países da ASS estão apanhados na ratoeira de um equilíbrio económico de baixo nível em que o
alicerce do capital humano é inadequado para suportar um crescimento maior. A competitividade no
ambiente económico de amanhã exigirá um ensino básico equitativamente acessível de 8 ou 9 anos e de
qualidade aceitável e um acesso expandido, mas selectivo e equitativo, a oportunidades de educação e
formação posteriores.
• O ensino secundário não contribui tão efectivamente para o desenvolvimento do capital humano como
poderia e deveria contribuir: os conhecimentos alcançados pelos estudantes são baixos, em economias
que crescem rapidamente o número de diplomados é insuficiente para responder à procura do mercado
de trabalho e o custo por estudante é alto. O sistema, tal como é correntemente financiado e gerido, será
incapaz de responder à procura social de lugares no secundário ou à procura do mercado de trabalho de
pessoas competentes das economias em crescimento.
• Pedidos de verbas, competindo uns com os outros, aos orçamentos nacionais e ajuda internacional
tornam improvável que a parte que cabe ao ensino secundário no orçamento nacional da educação
possa ser aumentada significativamente; os recursos adicionais só ficarão disponíveis nos casos em que
o crescimento económico acelerado aumenta os recursos públicos e privados. Mas mesmo quando isso
acontece, a expansão do acesso não será possível, em muitos casos, a menos que os recursos sejam
utilizados mais eficientemente e o custo por estudante baixe.
• Será imperativo que os países da ASS desenvolvam um modelo africano para o ensino secundário —
um modelo que responda efectivamente às necessidades nacionais de desenvolvimento, seja sustentável
no ambiente de constrangimentos dos recursos da maior parte dos países, mas assegure também um
acesso equitativo e ponha à disposição um serviço de qualidade aceitável. Os elementos principais
seriam:
° Requisitos de recursos consistentes com os meios nacionais disponíveis;
° Conteúdo relevante para, e evoluindo com, as oportunidade de desenvolvimento nacionais;
° Ênfase na aprendizagem: não trocar qualidade por quantidade;
° Acesso equitativo para os desfavorecidos, em especial as raparigas;
° Múltiplos mecanismos de disponibilização;
° Aumento da responsabilidade de gestão com base na escola;
° Parcerias público/privado amplamente concebidas.
• Os governos precisarão de criar um ambiente em que os recursos públicos e privados se combinem
efectivamente para suportar o desenvolvimento do ensino secundário.
• A reforma dos currículos é um elemento essencial para a transformação do ensino secundário de um
sistema de elite para um sistema de massas.
• Flexibilidade e descentralização são os elementos principais das reformas da gestão.
• A expansão significativa do ensino secundário deve ser baseada na implementação efectiva de
melhorias de qualidade no nível primário.
• As agências de desenvolvimento multilateral e bilateral devem incluir um apoio alargado ao
desenvolvimento do ensino secundário e da formação nas suas prioridades para o sector da educação,
de preferência no contexto de amplas abordagens sectoriais e baseado em planos de desenvolvimento
sectorial abrangentes.
27. Este relatório complementará o estudo do Banco Mundial recentemente
publicado “Expanding Opportunities and Building Competencies for Young People: A
New Agenda for Secondary Education” [“Expandir as oportunidades e Criar
competências para os Jovens: uma Nova Agenda para o Ensino Secundário”] (Banco
Mundial, 2005b), que explora questões chave enfrentadas pelo ensino secundário e
apresenta um enquadramento de políticas para o desenvolvimento do ensino secundário
baseado em dados colhidos por todo o mundo. A perspectiva global deste estudo
significava que só poderia ser dada uma atenção limitada aos desafios específicos
12
enfrentados pela África Subsaariana. Este relatório de síntese SEIA é concebido para
colmatar a lacuna. As principais conclusões e opções políticas recomendadas para
consideração pelos planeadores e decisores políticos estão resumidas na Caixa 1.2. O
relatório tem a intenção de ajudar os decisores políticos africanos e os seus parceiros
externos para o desenvolvimento – incluindo o Banco Mundial – no desenvolvimento das
suas estratégias para o ensino secundário por meio da documentação da experiência
africana e da experiência internacional mais vasta relevante e resumir os dados recolhidos
sobre as direcções estratégicas e opções políticas que os decisores podem considerar
quando desenvolverem a sua estratégia nacional para o ensino secundário.
Especificamente, o objectivo é, portanto, (i) identificar opções políticas para o
desenvolvimento sustentável do ensino secundário, (ii) proporcionar um fundamento
baseado nos dados recolhidos para a discussão e as parcerias; e (iii) providenciar uma
razão de ser e um quadro de referência explícitos para um apoio acrescido ao ensino
secundário dado pelo Banco e outros parceiros externos para o desenvolvimento.
31. O relatório examina então as principais áreas em que será preciso considerar
reformas das políticas: financiamento (Capítulo 5); currículos e avaliação (Capítulo 6);
Instrução eficiente e oportunidades de aprendizagem para todos os estudantes (Capítulo
7); e governança e gestão (Capítulo 8).
13
32. O capítulo seguinte (Capítulo 9) fornece uma visão geral da agenda das reformas
apresentada no capítulo subsequente e das pré-condições e estratégias para elas que
precisam de estar instaladas para uma aplicação com sucesso. O relatório conclui no
Capítulo 10 com uma discussão das implicações da análise precedente para o apoio do
Banco Mundial ao desenvolvimento do ensino secundário na região África.
14
No meio de cada dificuldade está a
oportunidade.
- Albert Einstein
Capítulo 2
Levantamento do Desafio
1. A transição do ensino primário como nível terminal de ensino para a maior parte
dos estudantes para um completamento amplamente disseminado do ensino secundário
do primeiro nível e expansão gradual do ensino secundário do segundo nível está bem
encaminhada em grande parte do mundo em desenvolvimento (De Ferranti et al., 2003;
Banco Mundial 2005b), mas só recentemente começou na ASS. Este capítulo examina o
modo como este processo está a começar a tomar forma nessa região, sumariando os
resultados e os desafios com base em dados da UIS para 2003/2004, Relatórios do Estado
de Países (CSRs) do Banco Mundial e análises10 extraídas dessas e doutras fontes,
incluindo as levadas a cabo dentro do quadro do projecto SEIA. Os diferentes contextos e
disposições organizacionais para o ensino secundário implicam que poucas observações –
se é que alguma – se aplicam a todos os países. Por consequência, devem ser tratadas
com cautela na análise de situações específicas de um país. Todavia, os problemas de
participação baixa e não equitativa, qualidade inadequada, fraca relevância e baixos
resultados da aprendizagem são ubíquos na região, enquanto os altos custos e a deficiente
afectação de recursos, em conjunção com severos constrangimentos pesando sobre os
recursos públicos, impedem o desejado desenvolvimento do ensino secundário e estão a
despertar um novo interesse pelo potencial das parcerias público-privado.
Participação e Equidade
2. Os níveis de participação no ensino secundário na África Subsaariana são
inferiores aos de qualquer outra região (Capítulo 1, Figura 1.1), com um acesso que
evidencia uma grande tendência em desfavor dos pobres. Isto constrange a capacidade de
os governos seguirem estratégias de desenvolvimento que promovam a partilha equitativa
dos benefícios associados com o crescimento económico e a coesão social.
10
Análises de dados de trabalhos de Brossard e Amelewonou (2005), Lewin (2006), Mingat (2005), e
UNESCO BREDA (2005) Estão subjacentes a grande parte da discussão deste capítulo. O exame dos
problemas de ETV(T) é baseado em grande parte em Johanson e Adams, 2004.
15
cresceram mais rapidamente do que no ensino primário; e entre 1998 e 2003, mais
rapidamente do que em qualquer outra região do mundo (Tabela 2.1). Em 2004, o GER
para o ensino secundário tinha atingido 30%. Dado que a região partiu de uma base muito
baixa, ainda está muito atrás de outras regiões na participação no ensino secundário
(Figura 1.6). Dos respectivos grupos
Mapa 2.1: GERs para o Secundário Geral para os
etários, menos de um em cada dois
países africanos 2003/04 ou próximo
jovens estava inscrito em escolas
secundárias de primeiro nível e menos
de um em quatro em escolas
secundárias do segundo nível. Quase
metade destes não inscritos está na
Nigéria, Etiópia, República
Democrática do Congo e Tanzânia
(Lewin 2006). Além disso, as
GER General Secondary
diferenças entre os países permanecem
>75 significativas (Mapa 2.1). o Botswana,
50-75
35-50 Cabo Verde, as Maurícias, a Namíbia,
20-35
<20
as Seychelles e a África do Sul
Not available
inscrevem mais de 80% da população
da idade relevante em escolas
secundárias do primeiro nível,
enquanto o Burundi, o Burkina Faso, a
República Centro-Africana, o Níger e
o Ruanda inscrevem menos de 20%.
Fonte: UNESCO BREDA, baseado em UIS, 2006
16
4. Há também diferenças significativas no desenvolvimento do ensino secundário
do primeiro e do segundo níveis. Por exemplo, o rácio de inscrições brutas no secundário
do primeiro nível no Burkina Faso é semelhante ao do Ruanda, mas o rácio do secundário
do segundo nível do Burkina Faso é apenas 60% do rácio do Ruanda. Os rácios de
inscrições no secundário do segundo nível no Burundi são duas vezes mais altos do que
em Moçambique, apesar dos rácios semelhantes no secundário do primeiro nível.
Algumas das diferenças relativas maiores entre rácios de inscrições são encontradas no
Burkina Faso, na Guiné Equatorial, em Moçambique e no Níger, onde os rácios do
secundário de segundo nível são menos de 40% dos rácios do secundário do primeiro
nível. Os rácios de inscrições no secundário do segundo nível são mais de 60% dos rácios
do primeiro nível na Mauritânia, Nigéria e Ruanda – com níveis relativamente baixos de
inscrições no secundário – e na África do Sul e Seychelles – com alguns dos níveis de
inscrições mais elevados da região (UNESCO, 2006).
17
dos candidatos (Lewin, 2006). Problemas em torno da relevância, qualidade e alto custo
num período de finanças públicas apertadas, contribuíram todos para isto (Atchoanarena
e Delluc, 2001; Johanson e Adams, 2004).
Desigualdades na participação
7. As diferenças de género ao nível do secundário são significativas. A meta de
desenvolvimento do milénio, que é atingir a igualdade de género no ensino secundário
em 2005, não foi alcançada. O valor médio regional do índice de paridade de géneros
(GPI) no primeiro nível do secundário é 0,84; no segundo nível, 0,89. As disparidades de
género no primeiro nível do secundário são particularmente altas no Benim, na Costa do
Marfim, na Etiópia, na Guiné, no Mali e no Togo, onde menos de 40% por cento dos que
entram são raparigas (UIS, 2005). Mas as causas variam. No Benim e na Etiópia, os dois
países com maior disparidade, esta resulta inteiramente de disparidades no ensino
primário. Nos outros países (por exemplo, Gana e Congo) a desigualdade de género no
acesso ao ensino secundário reflecte, principalmente, disparidades na taxa de transição.
No Uganda e na Zâmbia, as raparigas têm mais possibilidade do que os rapazes de
passarem para o ensino secundário, mas a retenção de rapazes no nível primário é tão
grande que mais rapazes do que raparigas passam para o ensino secundário.
18
8. Todos estes exemplos ilustram as diferentes maneiras como as desvantagens de
género podem manifestar-se e sublinhar a necessidade de análises de diagnóstico
cuidadosas, específicas para cada país. As projecções da UIS sugerem que se pode
esperar que as melhorias na igualdade de género ao nível do primário dêem como
resultado melhorias na paridade de género ao nível do secundário e possam até, talvez,
inverter as disparidades existentes no Benim, no Burkina Faso, em Moçambique e no
Uganda, com mais raparigas do que rapazes em 2015. No entanto, noutros países (Congo,
Eritreia e Níger) as melhorias serão poucas a menos que uma acção política deliberada
inverta as tendências do passado. Em geral, o progresso em direcção à igualdade de
género no ensino secundário está intimamente associado com o progresso em direcção
aos objectivos EFA para o ensino primário e com a expansão do acesso ao ensino
secundário. Quase todos os países com paridade de género têm um GER para o
secundário de mais de 50% (Lewin, 2006).
10. A pobreza e a residência em zonas rurais estão ainda mais fortemente associadas
com as baixas inscrições no ensino secundário (figura 2.1). Tal como para o género, isto
enraíza-se habitualmente nas desvantagens educacionais dos estudantes rurais e pobres ao
nível
Rique za Localização
70% 70%
60% 60%
50% 50%
40% 40%
30% 30%
20% 20%
10% 10%
0% 0%
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Gr a u Gr a u
19
do primário. Relativamente poucas crianças pobres chegam ao último grau do primário e
poucas das que o fazem conseguem transitar com sucesso. No entanto, o processo pelo
qual os pobres são deixados sem acesso ao ensino secundário varia significativamente.
11. Em alguns países, as taxas de abandono são altas no último ano do ensino
primário e relativamente baixas durante a transição para o secundário; noutros, é o
inverso. Por exemplo, dados da DHS (figura 2.2) mostram que, na Tanzânia, dos 40% de
estudantes mais pobres no último grau do primário só cerca de 2% conseguem entrar para
a escola secundária depois de um exame altamente selectivo. Em Moçambique, por outro
lado, os pobres abandonam o sistema educativo de uma maneira muito mais gradual.
12. Seja qual for o padrão do abandono, o resultado, em muitos países, é que cerca de
10-30%, apenas, dos 40% de crianças mais pobres entram para o ensino secundário. As
raparigas rurais são particularmente desfavorecidas. No Benim, no Burkina Faso, na
Guiné, no Níger, em Moçambique e Madagáscar, por exemplo, menos de 15% delas
completa o ciclo primário (Bruns et al, 2003). Destas, só um pequeno número entra para
a escola secundária.
13. Para essas crianças pobres que conseguem completar o ensino primário e depois
são bem-sucedidas no processo de selecção da escola secundária, os obstáculos à
inscrição permanecem formidáveis. Propinas e outros custos formais e informais são,
com frequência, inexequíveis. Nos casos em que estão disponíveis bolsas de estudo, são
frequentemente mal direccionadas. Os internatos constituem a maioria das escolas
secundárias públicas em muitos países de baixas inscrições (e.g., Ruanda, Uganda e
Tanzânia) e uma minoria substancial de lugares em muitos outros (e.g., Gana e Quénia).
Mesmo quando localizadas em áreas rurais recolhem desproporcionadamente crianças
urbanas. Os custos de oportunidade para os estudantes da escola secundária são
frequentemente significativos. Além disso, as pressões societais e a tradição militam
frequentemente contra as crianças pobres que querem prosseguir os seus estudos ao nível
secundário (TRANSE, 2005). O acesso é frequentemente difícil, dado que a maior parte
das escolas está localizada em áreas urbanas.
% população 15-19
80 50
60 40
30
40
20
20
10
0 0
1 3 5 7 9 1 3 5 7 9
Grau Grau
Ricos 20% Masc Ricos 20% Fem Ricos 20% Masc Ricos 20% Fem
Pobres 20% Masc Pobres 20% Fem Pobres 20% Masc Pobres 20% Fem
Fonte: Edstats
20
14. A equidade também desempenha um papel no acesso aos programas de ensino
secundário técnico e vocacional. As raparigas estão seriamente sub-representadas,
totalizando menos de 15% em inscrições ETV no Níger, na Etiópia, no Uganda, na
Eritreia, no Malawi e na Namíbia. As mulheres jovens tendem a estar concentradas em
programas que preparam para empregos do sector de serviços tipicamente ocupados por
mulheres, tais como cabeleireiros, cuidados de saúde e trabalho hoteleiro. Os homens
jovens inscrevem-se principalmente em especialidades do sector industrial, tais como
mecânica, engenharia eléctrica e civil. A pobreza e a residência em áreas rurais também
criam desvantagem no acesso aos programas de ETV. A maior parte das instituições
concentra-se em torno da capital e das grandes cidades. Os desequilíbrios da oferta
favorecem os sectores industrial e de serviços modernos em detrimento das ocupações
rurais e do sector informal (Johanson e Adams, 2004).
18. Nos casos em que foram tentadas reformas do currículo, estas tiveram
frequentemente um sucesso limitado. As reformas foram concebidas, muitas vezes, sem
uma avaliação adequada das implicações na procura de professores competentes ou no
custo de pô-las em prática. A sobrecarga do currículo teve como resultado uma cobertura
superficial ou parcial. A falta de recursos frustrou as tentativas ambiciosas de reforma
21
curricular. As tentativas para introduzir matérias vocacionais (ou “práticas”) nas escolas
da África Subsaariana falharam grandemente (Lauglo and Maclean, 2005).
19. As questões de currículo são igualmente importantes para lá do primeiro nível do
secundário. Nesse ponto, é preciso um amplo espectro de opções – dentro dos programas
gerais do secundário e em todos os programas de formação especializados em tempo
integral ou tempo parcial – para preparar um bom número de estudantes para educação
posterior em instituições do nível terciário e muitos outros para uma entrada directa no
mundo do trabalho e aprendizagem contínua. A natureza especializada e avançada dos
programas a este nível e o alto custo associado, põem importantes desafios para o
recrutamento de pessoal e a mobilização de recursos.
22
Tendências no Estudo Internacional de Matemática e Ciências (TIMMS)13 é o único
estudo internacional com participação da ASS que fornece dados comparativos e
tendências para o desempenho dos estudantes, embora apenas três dos países da ASS
tenham participado nessas avaliações internacionais.
22. A tabela 2.3 fornece dados do inquérito de 2003 para os países africanos que
participaram, assim como para alguns comparadores. Os estudantes da África
Subsaariana tiveram fraco desempenho quando comparados com outros países
participantes. O resultado médio do país com melhor desempenho – o Botswana –
366/365 pontos de um máximo de 800 pontos, está bem abaixo da média internacional de
467/474 pontos. De facto, os resultados dos participantes subsaarianos não só estão
abaixo dos valores médios de países em desenvolvimento como a Malásia, as Filipinas, a
Indonésia e o Chile, mas estão também abaixo dos dos países do Norte de África
participantes – Marrocos e Tunísia. Não obstante a dispersão dos resultados no interior de
cada país, só os alunos mais bem preparados dos países da ASS se aproximaram do nível
de resultados dos estudantes de Singapura com preparação média. Estes resultados são
particularmente preocupantes, em especial dado que os sistemas de ensino secundário
desses três países subsaarianos estão entre os mais desenvolvidos da região e o
desempenho dos estudantes em muitos outros países pode ser ainda menor. Vale a pena
notar, todavia, que, em todos os três países da ASSEMBLEIA, as raparigas tiveram um
desempenho tão bom ou melhor do que os rapazes no teste de matemática; em ciências,
só no Gana é que os rapazes tiveram melhor desempenho do que as raparigas, por uma
margem substancial (15 por cento).
13
TIMSS, as Tendências no Estudo Internacional de Matemática e Ciências, foi concebido para ajudar os
países de todo o mundo a melhorar a aprendizagem dos estudantes em matemática e ciências. Recolhe
dados sobre os resultados educacionais no quarto e no oitavo grau para fornecer informação sobre as
tendências do desempenho ao longo do tempo, juntamente com extensa informação de fundo que visa
preocupações com a quantidade, qualidade e conteúdo da instrução. Cerca de 50 países de todo o mundo
participam no TIMMS. Um projecto da IEA com sede em Amesterdão, é dirigido pelo TIMMS
International Study Center na Universidade de Boston, em colaboração com uma rede mundial de
organizações e representantes dos países participantes. Conduzido num ciclo de quatro anos, a primeira
ronda do TIMMS foi em 1995 e a segunda em 1999. Estão em curso preparações para a próxima ronda do
TIMMS, que terá lugar em 2007.
23
Muitas universidades acham difícil recrutar estudantes que possam demonstrar que
adquiriram o conhecimento e a competência necessários para um ensino superior com
sucesso. Na Nigéria, as taxas efectivas de aprovação dos exames do secundário do
segundo nível entre 1998 e 2001 estiveram, em média, abaixo de 40% em todas as
matérias principais, excluindo as línguas nigerianas: em matemática passaram 37,3 dos
estudantes, em química 17 por cento e em ciência agrícola 21,1 por cento (Nigéria, CSR).
No Uganda a taxa de aprovação em matemática foi 47,5 por cento para os candidatos ao
UCE (Certificado de Educação do Uganda – nível O) e 66 por cento para os do UACE
(Certificado de Educação Avançada do Uganda – nível A). Ao nível UACE, em 2001, o
número de candidatos que se inscreveram em disciplinas de Matemática e Ciências é
menos de 20% dos candidatos que escolhem trabalhar humanidades e cursos de ciências
sociais, sendo as taxas de aprovação em Matemática (66%) as mais baixas de todas as
disciplinas (Liang, 2002). No Benim, no segundo nível do secundário, só 9% dos
estudantes escolhem a fieira de matemática e física, 15% escolhem literatura e 74% dos
estudantes escolhem biologia e ciências da vida (Ottevanger et al., 2004). Em
Madagáscar, os resultados e o interesse pelas ciências são baixos. Entre 1975 e 2004, a
percentagem de estudantes inscritos em disciplinas científicas no segundo nível do
secundário decresceu de 61 por cento para 30 por cento. Os que seguiram a fieira das
ciências, tiveram fraco desempenho no baccalauréat de ciências (41 por cento de
aprovações em 2005). Um inquérito recente aos alunos do oitavo grau mostrou fraco
desempenho em Matemática, Física, Química e Ciências Naturais. Mais de metade dos
estudantes teve menos de 38% em Matemática, 54 por cento em Ciências da Vida e 46
por cento em Física e Química (Ramanantoanina, 2006).
24. Exames com alto nível de exigência regulam, com poucas excepções, a entrada e
o progresso no ensino secundário. Alguns exames de selecção incluem mais de doze
áreas disciplinares e outros apenas quatro ou cinco disciplinas nucleares. Embora existam
excepções, a maior parte dos exames de saída da escola primária continuam a ser
grandemente fundados no conteúdo, em lugar da competência, e recompensam a
memorização mais do que melhores capacidades cognitivas (Lewin, 2006).
Burundi
Mozambique
Swaziland
Uganda
Guinea
Cape Verde
Senegal
Madagascar
Gabon
Mauritius
Ghana
Zambia
Namibia
Niger
Chad
Congo
Burkina Faso
Comoros
Mali
Botswana
Mauritania
Côte d'Ivoire
Cameroon
Togo
Benin
Tanzania
Ethiopia
Eritrea
Lesotho
South Africa
Sao Tome
24
repetição no Botswana, no Uganda, na Tanzânia e na Nigéria são menos de 5%, ao passo
que excedem 25% no Burkina Faso, Congo e Burundi. Isto vem em apoio do argumento
de Eisemon (1997) que afirma que a repetição pode reflectir “culturas de repetição”
sistémicas e subregionais distintas – com altas taxas nos países francófonos e lusófonos e
taxas baixas nos países anglófonos – e não significa necessariamente fracasso académico.
27. Muitas escolas técnicas secundárias são de facto “parentes pobres” das escolas
secundárias académicas, que os estudantes usam – muitas vezes com pouco sucesso –
para entrar nas instituições terciárias. Grande parte do ETV público continua a ser
orientado para o certificado, em vez de orientado para o emprego. Vários estudos que
buscam a origem desse facto apresentam problemas da maior importância na taxa de
absorção de diplomados. Em 1996, na Tanzânia, só 14% dos que frequentaram centros de
formação vocacional encontraram trabalho após completarem a formação. No mesmo
ano, no Mali, 44% dos diplomados pelas escolas técnicas secundárias estavam
empregados três anos mais tarde e, em 1997, em Madagáscar, 45% tinham encontrado
um emprego estável um ano mais tarde (Johanson e Adams, 2004).
14
A tendência do desemprego reflecte as diferenças na ocupação e natureza da economia dos Camarões. O
grosso dos trabalhadores com níveis mais baixos de educação trabalha na agricultura ou no grande sector
informal do país. Em 2004, a taxa de desemprego nacional fixou-se em 8%, mas excedeu 30% nas cidades
mais importantes.
25
Alto custo, recursos limitados
28. O ensino secundário, tal como é actualmente disponibilizado, é dispendioso. O
Tabela 2.4: Despesa Pública no Ensino Secundário como % custo por estudante excedeu em
do PNB p.c. 2001 ou perto (Países seleccionados) quase todos os países o custo por
País Ano % País Ano % estudante nos países da WEI e
Benim1* 1998 0,98 Níger 2001 0,59
OCDE como percentagem do
Chade 2003 0,5 Níger 2002 0,58
PNB (tabela 2.4). Também é,
Camarões 2001 0,91 Ruanda* 2001 0,59 proporcionalmente, muito mais
Costa Marfim 1999 0,98 Senegal 2001 0,63 dispendioso do que o ensino
Quénia* 2003 1,61 Tanzânia 2002 0,23 primário que, nos países da
Etiópia* 2001 0,35 Zâmbia* 2000 0,51 OCDE, tem um custo por
Mali 2004 1,05 média WEI 1999 0,21 estudante de cerca de 1,35 vezes
Moçambique 1999 0,2 média OCDE 1999 0,25 o custo do ensino primário; na
Fontes: CSR, Região África, Banco Mundial, 2001-2006; ASS é tipicamente 3 vezes ou
Quénia, Banco Mundial, 2004; Tanzânia, Banco Mundial, mais. As despesas públicas para o
2003; UIS 2002; WB Indicadores de Desenvolvimento ensino secundário como parte das
Mundial (PNB p.c.)
despesas com a educação variam
consideravelmente entre países
Figura 2.4: Quota-parte da Despesa Corrente por Nível de Ensino na África
Subsaariana (%), cerca de 2003 (Figura 2.4), mas, tipicamente,
são afectadas quantias modestas
Primário Secundário Terciário
das despesas públicas ao nível
Burkina Faso 62 19 19 secundário. Em muitos países da
ASS com compromissos
Níger 60 27 13
56 19 25
Repùblica Centro-Africana
Madagáscar
54
54 19
29
28
17
substanciais com a
Senegal
Serra Leoa
51 27 22 universalização do ensino
Benim
Moçambique
51
48
27
30
22
22
primário, 50% ou mais da
Costa do Marfim
47 37 16 despesa recorrente é afectada à
primária.15
46 31 23
Chade
Zâmbia 46
primá
35 19 escolaridade Na
Togo 45
44
36
39
19
17
Tanzânia, o secundário absorve
Mauritânia
Burundi 44 29 27 menos de 10%, enquanto o
Guiné
Lesoto
44
44
31
37
25
19
primário é responsável por 65%
Ruanda 43 20 37 ou mais. No Malawi, no Burkina
42 31 27
Congo
Camarões 40 46 14 Faso e na República Centro-
Mali 37 46 17
Africana o secundário absorve
0% 20% 40% 60% 80% 100%
menos de 20%, ao passo que o
percentagem (%)
primário é responsável por 55%
Fonte: World Bank AFTHD Working Papers, 2006 ou mais. O Benim afecta 27% ao
ensino secundário e 51% ao
primário. O Burundi, o Mali, os Camarões e a Suazilândia, por outro lado, afectam mais
de 40% do seu orçamento da educação ao ensino secundário. As despesas com o ensino
superior excedem as despesas com todo ensino secundário público em vários países da
ASS. No Ruanda, em 2004, 34% dos recursos públicos para a educação foram afectados a
instituições terciárias e cerca de 20% a todo o ensino secundário. Ao longo dos anos
1990, o Malawi afectou ao ensino superior quase o dobro do que afectou a todas as
15
Os perfis de dados nacionais sobre padrões de despesa são muito incompletos e são degradados por
diferentes sistemas de classificação de uns países para outros.
26
escolas secundárias (Lewin, 2005). O ETV não absorve uma parte importante da despesa
com a educação – de 0,5 por cento na Etiópia a 12,7 % no Gabão (Johanson and Adams,
2004).
22 governamental estagna, as
20 20
20
18
contribuições dos pais são
15
15
18 17
complementos cada vez mais
12
10
12
importantes do financiamento
10
público.
5
1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004
30. O efeito dos
constrangimentos que pesam sobre o financiamento público no pessoal das escolas é
também apresentado na Figura 2.5, que mostra o rácio médio aluno/professor (PTR) e a
sua evolução desde 1990 para diferentes regiões do mundo. A média regional da ASS é
mais alta do que em qualquer outra região16 e tem continuado a aumentar durante o
período. Em média, entre 1990 e 2003, o rácio aumentou de 22 para 26 alunos por
professor (que significa, muitas vezes, um tamanho médio de turma, em 2003, de 40 ou
mais alunos, dado que o número de horas lectivas dos alunos é mais baixo do que o
número de horas de trabalho dos professores, com rácios turma:professor que estão
frequentemente entre 1,5 e 2,0) comparado com apenas 20 alunos por professor na
Ásia/Oceânia, 17 na América/Caraíbas e 12 na Europa. Essas médias escondem, todavia,
consideráveis variações: em grande parte da Ásia do Leste, por exemplo, os tamanhos das
turmas são grandes, seja qual for o termo de comparação (ver também capítulo 4).
16
A proporção muito maior de estudantes no primeiro nível do secundário na ASS onde os PTRs são
tipicamente mais altos do que no segundo nível do secundário – explica em parte o PTR mais alto na ASS.
32. A qualidade e efectividade do ensino estão ainda em risco por causa de graves
faltas de manuais (Caixa 2.1). Um recente estudo cobrindo 19 países da ASS (Read et al.,
2006) concluiu que, nas áreas urbanas, 20-40% dos estudantes tinham acesso a manuais
das disciplinas nucleares. Estimativas da disponibilidade de manuais não nucleares iam
de 1:8 (Uganda e Quénia) a 1:40 (Zâmbia) e até 1:100 (Moçambique). Em áreas rurais,
poucos estudantes (menos de 5% foi uma estimativa típica) de qualquer país teve acesso a
Muita escolas têm três turnos, oferecendo aulas de manhã, à tarde e à noite. Cada escola tem um professor
principal, assistido por um ou dois ajudantes para cada um dos turnos. Alguns professores são admitidos a
contrato para as aulas nocturnas, mas, na maior parte dos casos, são os mesmos das aulas diurnas. Os
professores que não têm uma carga lectiva completa nas aulas diurnas têm que completá-la nos cursos
nocturnos, trabalhando até metade da carga horária normal como horas extraordinárias. Pelas horas
nocturnas, são pagos 1,5 vezes o salário horário normal. Os estudantes nocturnos têm 5 aulas de 45
minutos 5 dias por semana, comparativamente a 6 aulas para os estudantes diurnos. A falta de supervisão e
os baixos níveis de disciplina entre o pessoal criam problemas adicionais. A qualidade é baixa: quase 30%
por ano dos estudantes de cada grau repetem ou abandonam e as taxas de conclusão são muito baixas.
As propinas para as aulas nocturnas são mais elevadas do que para os cursos diurnos, que podem ir de
30 000 a 320 000 meticais por ano em EJS e de 40 000 a 457 000 meticais no ESS (26000 meticais = 1
dólar US). As importâncias cobradas pelas escolas públicas são negociadas com as comunidades e as
autoridades provinciais de educação.
Fonte: Lobo, 2006
28
manuais, mesmo nas disciplinas nucleares. Para a maioria das escolas, em particular para
escolas privadas de baixo custo e baixa qualidade, o melhor que se podia esperar era um
manual nas mãos do professor que podia copiar o texto para o quadro. As mais
significativas fontes de informação para os estudantes, além daquela, eram os ditados e
panfletos baratos. Poucas escolas secundárias, com excepção de uma pequena elite de
prestigiosas escolas secundárias, tanto com ajuda do estado como do sector privado,
tinham bibliotecas escolares efectivas. Só o Botswana (de entre os 18 países estudados)
conseguiu alcançar um nível básico de abastecimento das bibliotecas para todas as
escolas secundárias.
instituições privadas
(UNESCO, 2006). Na realidade, é provável que esta proporção seja significativamente
maior, dado que muitas escolas privadas não estão registadas e os registos oficiais são
quase inevitavelmente incompletos. A Figura 2.6 mostra os valores das inscrições em
escolas privadas oficialmente registadas em vários países seleccionados.
29
35. A alternativa da escola privada está a ficar mais atraente para os pais dado que o
custo privado da escolaridade pública – incluindo as propinas do ensino oficial
governamental e as mensalidades do alojamento, as contribuições para comités de gestão
ou Conselhos Directivos das escolas, bem como custos tais como manuais, materiais
didácticos, artigos escolares, aulas particulares (Caixa 2.2), transporte e vestuário. Nas
escolas secundárias públicas do Quénia, do Uganda, da Tanzânia e da Zâmbia, mais de
metade dos custos totais por estudante são financiados através de propinas e outras
contribuições (Lewin, 2006). Por exemplo, em 2001, no Gana, as propinas do ensino
secundário do segundo nível a pagar pelos pais no primeiro ano de internato totalizaram
1 469 000 cedis (162 dólares) e 284 000 cedis (31 dólares) para o primeiro ano da escola
diurna. No Quénia, as propinas nas escolas governamentais vão de KSH 26 000 (356
dólares) por ano para as escolas nacionais a KSH 10 000 (137 dólares) para as distritais.
No Benim, as propinas de inscrição nas escolas secundárias do primeiro nível variam
entre 5 000 francos CFA (9 dólares) nas áreas rurais a 20 000 francos CFA (37 dólares)
nas grandes cidades. Em vários países, por exemplo o Quénia e o Chade, muitos
professores são pagos directamente por contribuições parentais. Noutros países, por
exemplo, as Unidades de Produção Académica na Zâmbia (Caixa 2.3) e os cursos
nocturnos em Moçambique (Caixa 2.1), os pais dos estudantes que não foram admitidos
na “escola secundária oficial” pagam propinas extra por aulas que operam em edifícios
escolares do governo, tendo por docentes professores do governo que almejam
suplementar o seu salário17.
37. Por conseguinte, as famílias estão a arcar com uma grande parte do custo de
funcionamento das instituições secundárias. Na Zâmbia, as fontes privadas de rendimento
responsabilizaram-se por 48 por cento da despesa total do governo nas escolas
secundárias urbanas, 33 por cento da despesa total do governo nas escolas secundárias
rurais e 52 e 57 por cento em escolas secundárias subvencionadas urbanas e rurais,
respectivamente. Latham (2005) estima que, no Quénia, as famílias contribuem
presentemente com mais de 65 por cento dos custos do ensino secundário. Numa região
17
Os estudos de caso do Benim, Zâmbia e Gana em Lewin (2006) fornecem informação mais detalhada.
30
em que o RNB per capita da maioria de países é menos de 500 dólares, a participação no
ensino secundário com um custo, muitas vezes, equivalente a 200-300 dólares EUA,
representa uma pesada sobrecarga financeira, mesmo para as famílias de rendimentos
médios. Com frequência, em muitos países, propinas e custo privado tornam impossível
que as poucas crianças pobres que completam o ensino primário se inscrevam no ensino
secundário (Lewin, 2006) distorcendo ainda mais a participação a favor das famílias
ricas.
31
Uma troca de Qualidade por Quantidade?
41. O custo por estudante no ensino secundário é muito mais alto do que no ensino
primário embora existam variações significativas entre os países no que respeita a isto,
como se mostra na Figura 2.7 e na Tabela
2.6 para uma amostra de 17 países. Em Tabelacom 2.6: Custo unitário e composição da despesa
educação em países seleccionados
média, o custo unitário no primeiro nível % Outras
do secundário é cerca de três vezes, e no Despesas Custos
segundo nível seis vezes, o custo do nível Salários dos
Recorren- unitários
professores
primário. As razões disto residem numa (per capita
tes sem (% per
combinação de baixos rácios contar capita
PIB)
professore PIB)
aluno/professor com grande quantidade de s
pessoal de apoio não docente. Os custos
Média 4,6 27,4 11,4
não-docentes no nível secundário são Primário
Variação [2,4 – 6,8] [15-43] [4-20]
responsáveis por mais de 40% do custo
total por aluno. A EFTV é ainda mais 1º nível Média 6,6 37,4 31,2
dispendiosa, numa base por estudante, do secundário Variação [3,6 – 13,1] [24-56] [13-64]
que o ensino secundário geral. O rácio por 2º nível Média 9,3 39,5 63,4
estudante da despesa em ETV e da secundário
Variação [3,8 – 19,8] [18-53] [22-157]
despesa no ensino geral vai de 0,8 no
Togo a 13,8 em Moçambique. Em Fonte: Mingat, 2004
Madagáscar, os centros de formação
vocacional custam 60% mais por estudante do que as escolas técnicas secundárias, 4
vezes mais do que as escolas secundárias gerais e 18 vezes mais do que as escolas
primarias. As disciplinas vocacionais ensinadas em escolas secundárias gerais custam,
tipicamente, o dobro, e muitas vezes mais ainda, do que custam as disciplinas académicas
(Lauglo e MacLean, 2005).
Figura 2.7: Rácio do custo por estudante entre o ensino secundário e o primário
100%
80%
Ratio of Primary to Secondary Costs
S e c o n d a ry
60%
P rim a ry
40%
20%
0%
lic
us
di
a
nd
ia
i
in
ia
a
i
al
so
o
ia
go
r
a
s
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cc
ha
bi
bi
an
n
n
op
ub
g
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as
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ba
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G
N
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in
Sw
M
C
u
ad
M
Zi
rk
n
So
ca
Bu
M
fri
lA
tra
en
C
32
Figura 2.8 Custo por estudante e resultados em escolas 42. Embora os
oficiais do 1º nível do Secundário no Chade (2003) constrangimentos financeiros
Escolas estatais 1º nível Secundário sejam reais e o ensino secundário
e formação custem mais caro do
que o primário, não se segue,
100%
Taxa Sucesso BEPC
90%
40%
Custo unitário (despesa corrente estimada por aluno) o nível de recursos disponíveis.
A Figura 2.8 ilustra a fraca
Fonte: Brossard e Amelewonou, 2005 relação entre o custo por
estudante e os resultados dos exames do primeiro nível do secundário (BEPC) no Chade.
Estão disponíveis conclusões semelhantes para quase todos os países para que existem
dados. A implicação é que, por quase toda a parte, existe um escopo considerável para
financiar inscrições acrescidas no ensino secundário através de ganhos de eficiência. Isso
será discutido mais em detalhe no Capítulo 5.
43. Seja como for, a relação matemática base é clara: para um orçamento dado,
quanto mais alunos se inscreverem, menos dinheiro se pode gastar com cada aluno; e,
reciprocamente, quanto maior a despesa por estudante, menor é o número de alunos que
podem ser inscritos. A Figura 2.9 mostra a relação entre o rácio bruto de inscrições no
Países que gastam menos de 0,8% do PIB Países que gastam mais de 1.6% do PIB
com o ensino secundário com o ensino secundário
80
80 120
120 Seychelles
Bot
Botswana
swana
Seychelles
100
60 100
60
Namibia
80
%)
Namibia
(in %)
80
Cape verde
Sout h Af rica
GER(in
40 Cape verde
40 60 Sout h Af rica
GER
60 Zimbabwe
Madagascar Kenya
Guinea Madagascar Zimbabwe
Guinea Zambia Kenya
Zambia 40
Mali Lesot ho
20 Mali 40
20 Comoros Swaziland Maurit ania Lesot ho
Senegal Rwanda
Senegal Rwanda Comoros Swaziland Maurit ania
20
Chad
Chad Niger 20
Burkina Faso Niger
Burkina Faso
0 0
0
0 20 40 60 10 0 30 50
0 20 (as % of GDP
Unit cost
Source:Brossard
40 per capita)60 Unit cost (as %
30 of GDP per capita)
Unit cost and
(as Amelewonou 2005
% of GDP per capita) 10 50
Unit cost (as % of GDP per capita)
33
Claramente, um rácio alto torna mais difícil expandir o acesso ao ensino secundário sem
pôr ainda mais em risco o ambiente de ensino.
Conclusão
44. Os dados apresentados neste capítulo sugerem que em grande parte da ASS o
ensino secundário enfrenta severos constrangimentos, de tal modo que progredir em
direcção aos objectivos que os países fixaram para si representa um desafio intimidante
para a maior parte dos países da região. O contexto económico, social e cultural para o
desenvolvimento do ensino secundário varia enormemente de país para país. Isso,
juntamente com as diferenças das prioridades políticas e o legado colonial, impeliu os
países para escolhas políticas distintas que afectam profundamente a situação actual do
ensino secundário e os desafios que se perfilam para o futuro. Como resultado, embora a
maior parte dos países da África Subsaariana partilhe metas comuns, os pontos de partida
e o contexto estratégico são muito diferentes. No entanto, há um certo número de desafios
que são comuns em toda a região e que podem ser identificados. Esses desafios estão
sumariados adiante:
34
• O financiamento público é incapaz de satisfazer a procura de lugares
adicionais: dadas as numerosas procuras em competição que pesam sobre os
constrangidos recursos públicos, muitos governos acham impossível mobilizar
fundos suficientes para acelerar o desenvolvimento do ensino secundário,
enquanto propinas e outros custos privados impedem a inscrição de estudantes
financeiramente desfavorecidos.
• Os prestadores privados são responsáveis, em grande parte dos países, por
mais de 10% das inscrições; oferecem programas que variam grandemente em
qualidade. As escolas privadas não subsidiadas só podem ser pagas pelos ricos.
As escolas privadas de baixo custo têm frequentemente fraca qualidade.
• Muitas formas de parcerias público-privado estão a desenvolver-se: foram
estabelecidos vários esquemas para ajudar os estudantes a superar os obstáculos
financeiros à inscrição no ensino secundário e proporcionar apoio financeiro a
prestadores privados. Estes últimos são especialmente comuns para o suprimento
da EFTV.
35
Aprender com a experiência é uma faculdade quase nunca
praticada.
Barbara Tuchman
Capítulo 3
36
aplicação reformas curriculares simultaneamente com as reformas financeiras e de gestão.
Depois de examinar a experiência internacional com o desenvolvimento do
ensino secundário, este capítulo extrairá algumas lições que os decisores de políticas da
ASS poderão querer considerar.
Estados Unidos
6. Por volta de 1900, os EUA tinham alcançado a inscrição universal no primário
para o grupo etário 7-13. Mas as inscrições no secundário – liceu – continuavam, em
grande parte, reservadas à elite. Cerca de 1900, só 6% da população adulta tinha
concluído o liceu; os liceus (graus 9-12) inscreviam 650 000 estudantes, representando
37
cerca de 10% dos 14-17 anos, com cerca de 10% dos 17 anos a obterem um diploma
liceal. Em 1940 esta situação tinha mudado dramaticamente (Figura 4.1). As inscrições
tinham aumentado mais de dez vezes para 7 milhões dos 14-17 anos, 50% dos 17 anos
obtinham um diploma liceal e 25% da população tinha concluído 12 anos de
escolaridade. (Snyder, 1993; US Census Bureau, 1993). Claudia Goldin (2003) defende
que a nova economia industrial que se consolidou no princípio do século XX aumentou a
procura de trabalhadores competentes e instruídos:
“Uma noção notável tinha emergido nos Estados Unidos por volta de 1900;
que a escola podia tornar mais produtivos o funcionário administrativo, o
trabalhador fabril e até o lavrador” (p. 75).
8. Goldin observa que a expansão do que foi conhecido como “movimento liceal”
se seguiu à expansão do desenvolvimento económico em todos os EUA desde as cidades
da Nova Inglaterra às ricas áreas agrícolas dos estados do Midwest e ocidentais, mas
muito mais lentamente no sul onde o desenvolvimento económico ficava para trás. Uma
chave deste processo foi a tomada de decisões descentralizada em cerca 130 000 distritos
escolares separados que existiam nos EUA perto de 1920, e que incluíam dezenas de
milhares de comunidades fiscalmente independentes, suficientemente grandes para terem
o seu próprio liceu. Mesmo em estados em que não havia uma maioria global de votantes
que apoiassem o financiamento público de novos liceus, a existência de pequenos
distritos escolares independentes permitia que os liceus se espalhassem pelos distritos em
que maioria de residentes os apoiava e estava pronta a pagá-los. Esses distritos
competiam implicitamente uns com os outros para atrair residentes por meio da oferta de
oportunidades de escolaridade secundária.
38
10. Hoje, muitos dos elementos que permitiram o sucesso da estratégia dos EUA têm
sido criticados. O financiamento e a disponibilização públicos são considerados como
uma fonte de problemas de baixo desempenho inaceitáveis, de modo que os cheques-
educação e o financiamento público de escolas privadas estão a ser introduzidos. O
sistema igualitário não elitista é visto como tendo falta de padrões e responsabilidade; por
consequência, muitos estados estão a impor padrões rigorosos para passagem de ano e
concessão de diploma, financiamento das escolas e formação dos professores. O sistema
descentralizado de distritos financeiramente independentes produziu graves
desigualdades de financiamento e a maior parte dos estados tem agora planos de
igualização. Ao mesmo tempo, pensa-se que grandes escolas e distritos consolidados
causam ineficiência burocrática e falta de empenhamento dos estudantes, pais e
comunidades, no processo educativo. Escolas charter, escolas dentro de uma escola e
metas específicas para “progresso anual adequado” em direcção a padrões de
desempenho definidos pelo estado são respostas a estas preocupações.
Europa
11. Embora a maior parte dos países da Europa tenha alcançado a inscrição universal
no ensino primário para alunos até aos 13 anos, um pouco mais tarde do que os EUA, o
crescimento das inscrições no secundário ocorreu numa fase muito posterior. Em 1995 a
taxa de inscrição no secundário nos EUA tinha aumentado para 80%, enquanto em
grande parte da Europa ainda estava abaixo de 20% (Figura 3.2). Mesmo que incluamos o
ensino técnico a tempo inteiro ou parcial só a Alemanha e o Reino Unido tinham taxas de
inscrição acima de 60%.
39
necessidades da pequena elite que continuaria para o ensino superior (Briseid e Caillods,
2004). Os sistemas académicos
Caixa 3.1: Ensino Secundário em França na primeira europeus eram altamente selectivos e
metade do século XX pequenos (Caixa 3.1), com
Antes da Segunda Guerra Mundial, os lycées em França
não estavam apinhados, e as turmas eram pequenas, dado professores altamente treinados e
que ensinavam apenas uma minúscula minoria das padrões rigorosos postos em prática
crianças da nação. A maioria dos professores secundários através de exames e apertado
possuía a agrégation (um concurso controlado pelo estado seguimento desde muito cedo. A
para entrada para docente do secundário e da maior parte tinha burocracias e
universidade). Eram apoiados por professeurs certifiés,
professores diplomados que não tinham obtido ou não financiamento centralizados. Foi só
tinham tentado a agrégation. Os agrégés recebiam salários nos anos 1960, quando a Europa já
suficientemente altos para lhes conferir prestígio junto da tinha recuperado da Segunda Grande
comunidade e eram respeitados pela sua erudição e cultura Guerra e o crescimento económico
– e ensinavam não mais de 16 horas por semana). Os começou a acelerar-se, que os
professeurs certifiés ensinavam mais horas (18 por
semana), e recebiam um salário mais baixo. O ensino sistemas secundários foram
primário e o secundário eram considerados como sendo redesenhados para responder a
diferentes, não apenas no nível, mas na essência. O preocupações de igualdade e novas
professor primário ensinava, formava, informava e era exigências do mercado de trabalho.
treinado em técnicas e metodologia. O professor
secundário era especialista de uma matéria, que ensinava e
13.
formava o juízo crítico dos seus alunos mergulhando-os Foram introduzidos modelos
em culture générale. de escolaridade abrangentes e as
Fonte: Wykes, 1968. inscrições expandiram-se
rapidamente. O ensino secundário de
primeiro nível tornou-se parte obrigatória do ensino básico e foram abandonados os
exames de selecção no fim do primário. A vaga de expansão seguinte ocorreu nos anos
1980 e 1990 no segundo nível do secundário. As políticas de acesso, retenção e transição
centraram-se cada vez mais em manter os estudantes dentro do sistema, de preferência a
seleccioná-los. Hoje, a maior parte dos países oferece um currículo nuclear comum ao
longo do ensino secundário do primeiro nível e adia orientar os estudantes para cursos
vocacionais até à conclusão do ensino básico (Caixa 3.2). No segundo nível do
secundário, os estudantes podem escolher de entre um grande número de opções
curriculares. A capacidade de pensar e agir reflexivamente é central para o
enquadramento de competências chave da OCDE, recentemente desenvolvido (Caixa
3.2). As fieiras, o acompanhamento e a diversificação escolar são comuns, com
consideráveis diferenças entre os países em termos de organização e estrutura. Em muitos
países18, metade ou mais dos estudantes estão inscritos em cursos técnicos/vocacionais.
Isto reflecte em parte um legado histórico mas é também consequência do compromisso
de fornecer oportunidades educativas a todos os jovens até aos 18 anos, muitos dos quais
não estão preparados para aulas académicas avançadas e preferem matérias práticas.
Exposição à experiência com base no trabalho ou prática é frequentemente uma parte
desses programas.
18
Finlândia, França, Alemanha, Holanda, Noruega e Reino Unido.
40
parte das escolas privadas é religiosa ou então são escolas com uma filosofia pedagógica
alternativa. A maior parte das escolas privadas recebe subsídios públicos ou contribuições
das empresas, em especial para programas técnicos vocacionais. Alguns países (Reino
Unido) têm uma tradição de dispendiosas escolas de elite independentes.
Caixa 3.2 Tendências das Reformas do Ensino Secundário em Países da OCDE
Os países da OCDE reconhecem que a economia do conhecimento global transformou a procura do
mercado de trabalho e alterou o ensino e as competências de que os indivíduos precisam. O ensino
secundário é visto, cada vez mais, como preparação da entrada para uma força laboral mais flexível e móvel
com uma perspectiva de aprendizagem por toda a vida. O ESJ é desenhado para proporcionar aos jovens as
competências e capacidades fundamentais sobre as quais assentarão a aprendizagem posterior. O ESS
sublinha cada vez mais as competências específicas e vocacionais, preparando alguns estudantes para
estudos académicos posteriores e outros para a transição para a formação para o trabalho e o emprego.
Durante o princípio dos anos 1990, a maior parte dos países da OCDE teve como objectivo melhorar a
qualidade e relevância do ensino. Começaram por melhorar o ensino primário e depois, em meados dos
anos 1990, prosseguiram para a aplicação de reformas estruturais importantes no primeiro e segundo níveis
do secundário para se ajustarem às necessidades socioeconómicas e procuras do mercado de emprego em
mudança, elevando os níveis de resultados e reduzindo a distância entre diferentes grupos. Actualmente, as
reformas do nível secundário continuam a centrar-se na renovação dos currículos juntamente com várias
reformas estruturais e de gestão.
Currículos: a ênfase é posta na aplicação do conhecimento e na aprendizagem de competências
intercurriculares, mais do que na reprodução de conhecimentos; isto exige a promoção das competências
chave – conhecimentos, capacidades, atitudes e valores – em particular:
• Uso da língua, símbolos e texto interactivamente com conhecimentos, informação e tecnologia;
• Trabalhar em grupo, trabalhar em equipa e gerir e resolver conflitos
• Agir autonomamente, com consciência do quadro geral, prosseguindo planos de vida e projectos
pessoais e consciencialização para os direitos, interesses, limites e necessidades.
As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) são hoje um centro de atenção muito importante como
disciplina e como instrumento de aprendizagem no nível secundário.
Reformas Estruturais/Organizacionais As práticas de repetição foram restringidas e os países estão a
oferecer agora acesso directo e automático ao ensino secundário do primeiro e segundo níveis a toda a
coorte etária, sem requisitos de admissão – facilitando o acesso e a transição para o ensino secundário.
Embora, nos países da OCDE, a educação não seja obrigatória depois dos 16 anos, mais de 80% dos jovens
continuam a estudar, quer em escolas formais do ESS quer em instituições de formação vocacional que,
muito frequentemente, combinam ensino com aprendizado.
Custo-eficiência: A gestão e governança dos sistemas educativos foi descentralizada, permitindo que as
escolas secundárias se tornem autónomas e tomem decisões específicas do contexto relativamente aos
programas, currículos, e mesmo financiamento. Foram desenvolvidos padrões de desempenho e aplicados
mecanismos de financiamento fundados em fórmulas, permitindo a inclusão e o financiamento público de
prestadores de serviços privados. O papel do sector privado como prestador de serviços, gestor e
financiador tem sido aumentado e pró-activamente encorajado pelos governos. Isto também inclui o uso do
ensino à distância, TIC e cursos adaptados para uma segunda oportunidade para estudantes e adultos.
Source: OECD, (2005); Bregman e Simonnet, 2004; Briseid e Caillods, 2004.
15. As diferenças em relação à abordagem dos EUA são notáveis. Não existia escola
comum, mas um sistema separado para as classes trabalhadoras e para a burguesia. A
ideia de escola “comum” só foi adoptada por volta de 1960 na maioria dos países
europeus. O sistema de elite e as inscrições limitadas tornaram possível pagar salários
mais altos aos professores e oferecer-lhes emprego como funcionários públicos19. Por
19
Na Europa, no começo do século XX, os professores primários e secundários eram relativamente mais
bem pagos do que nos Estados Unidos, em parte porque muitos professores da escola primária eram
41
outro lado, a disponibilização é mais aberta. Os pais podem habitualmente escolher entre
escolas. Em muitos países, as escolas privadas recebem uma quota maior da população
estudantil – em geral com financiamento público. No ensino secundário de segundo nível
são muito mais comuns os programas técnicos/vocacionais.
Ásia
16. Nas economias asiáticas de alto desempenho (HPAEs)20, o crescimento e a
transformação do sistema de ensino e formação durante os anos 1960 e 1970 foram
dramáticos. A quantidade de educação que as crianças receberam aumentou ao mesmo
tempo que a qualidade da escolha melhorou nitidamente. Hoje, o nível de capacidades
cognitivas dos diplomados do ensino secundário em muitos países do Leste da Ásia é
comparável aos dos diplomados em economias de altos rendimentos, ou é ainda mais
elevado. Grandes aumentos dos gastos com o ensino (355% em gastos reais entre 1970 e
1989 na Coreia, por exemplo) financiaram níveis de inscrições mais altos do que os de
outros países com níveis semelhantes de PIB per capita (Banco Mundial, 1993). Em
1965, Hong-Kong, Coreia e Singapura alcançaram o ensino primário universal e até a
Indonésia teve uma taxa de inscrições no primário de 70%. Depois de terem alcançado a
escolaridade primária universal e, por consequência, eliminado a distância entre rapazes e
raparigas, os países movimentaram-se rapidamente para expandir o acesso para ambos os
sexos ao nível do secundário. Para o fim dos anos 1980, era evidente um progresso
significativo ao nível do secundário em vários países. A Coreia, por exemplo, aumentou a
sua taxa de inscrições no secundário de 35% em 1970 para 90% em 1990. Os rápidos
Figura 3.3: GER secundário (%) em Países Leste Ásia, 1970-2004 aumentos das inscrições
no secundário podiam
120 ser observados em
100 grande parte da região
80 leste-asiática durante as
GER (%
homens, com famílias a seu cargo (Encyclopaedia Britannica Online 2006). Em 1910, em Paris, por
exemplo, os salários dos professores do secundário iam de 4 500 a 9 000 francos e, em áreas rurais, de
3 200 a 3 700 francos; um trabalhador metalúrgico ganhava 2 400 francos e um tecelão 990 francos.
(Desbrousses e Peloille, 1980). Em 1939 o salário base era de 16 000 a 40 000 francos e os professores
(agrégé) recebiam 26 000 a 50 000 francos.
20
Esta discussão é grandemente baseada na análise, nos capítulos 1 e 5, de uma publicação do Banco
Mundial “O Milagre da Ásia de Leste” que analisa o desempenho económico de sete economias de alto
desempenho do Leste da Ásia: os quatro tigres – Hong-Kong, Coreia do Sul, Singapura e Taiwan – que
tinham estado a crescer rapidamente durante décadas; e as três novas economias em industrialização,
Indonésia, Malásia e Tailândia. Mais recentemente a China passou pelo mesmo, com rápido crescimento
económico e investimentos massivos no ensino.
42
bruta de inscrições no secundário (46% em 1970). A Tailândia tinha uma taxa de
inscrições no primário de 83% em 1971, e uma taxa de inscrição no secundário de apenas
14% - tendo apenas 2 000 escolas secundárias que estavam limitadas a seleccionar uns
poucos na população. Em 2005, porém, o rácio de inscrição no secundário de primeiro
nível era de 86% e de 60% no secundário do segundo nível.
43
18. Um crescimento de 7-10% do PIB aumentou os recursos disponíveis para o
ensino, bem como os salários reais e o regresso à escola. O crescimento populacional
declinou proporcionando recursos para mais e melhor escolaridade e permitindo
aumentos substanciais nos gastos por estudante. A ênfase num ensino primário universal
de alta qualidade teve importantes compensações para a eficiência económica e para a
equidade. A maior igualdade de rendimentos deu como resultado menos pessoas pobres e
sem capacidade de satisfazer as despesas de ensino, mesmo quando os pagamentos são
altos21. A afectação de recursos aproveitou todas as vantagens dessas condições
favoráveis. A quota-parte do ensino como percentagem do PIB aumentou nos HPAEs
entre 1960 e 1989 de 2.5 para 3.7%,22 mas, mais importante de tudo, os investimentos
públicos no ensino foram distribuídos com considerável atenção ao seu custo-eficiência e
levaram em conta o potencial e os constrangimentos do financiamento privado. Os
tamanhos das turmas eram grandes. Singapura só em 2003 acabou com o uso das
instalações em dois turnos. No Vietname, os pais pagam 50% dos custos do ensino
secundário do segundo nível, o que permitiu que o governo pudesse afectar uma grande
proporção dos seus recursos disponíveis para o ensino secundário à expansão do primeiro
nível deste ensino. A Coreia providencia subsídios às escolas privadas para garantir que
elas são amplamente acessíveis. A estratégia coreana é instrutiva em termos de
sequenciação, financiamento e atenção à equidade.
21
Há uma forte e estatisticamente significante correlação negativa entre as inscrições no ensino básico e o
nível de desigualdades no rendimento (Clark, 1992). Schultz (1988) encontrou nos níveis primário e
secundário elasticidade de rendimentos das inscrições de 0,31 e 0,43. Isto implica que o efeito positivo nas
inscrições nas escolas da desigualdade de baixos rendimentos pode ser muito grande (Banco Mundial,
1993).
22
Embora menos do que na ASS, onde aumentou de 2,4 para 4,1% no mesmo período.
44
Tabela 3.1 Ligando educação e desenvolvimento económico
21. A visão aplica-se à
na Coreia interacção entre ensino e a
• Ensino Elementar e → Manufactura ligeira economia, com uma
Secundário (1960s) mão-de-obra intensivacompreensão clara de que essas
• Escolas Vocacionais-Técnicas → Industria pesada e duas prioridades de
(1970s a 1980s) química capital desenvolvimento nacionais são
intensiva
mutuamente dependentes e se
• Expansão Ensino Superior → Electrónica, Indústria de
alta tecnologia e
reforçam uma à outra. Mas a
(1980s até ao Presente )
conhecimento ênfase no papel do
Fonte: Lee, 2006 desenvolvimento do ensino vai
muito para lá das questões
económicas, dado que foi atribuído à educação um papel chave na construção da nação,
incluindo a criação dos valores morais e coesão nacional que são precisos para fazer
funcionar uma sociedade multi-étnica. Por exemplo, enquanto muitos países africanos
consideram hoje – 40-50 anos depois da independência – que o conteúdo dos seus
currículos ainda reflecte em demasia o seu legado colonial e não está adaptado às suas
realidades nacionais, Singapura, a Coreia e, mais recentemente, o Vietname, “renovaram”
os seus currículos quase imediatamente a seguir à independência para ajudar a escola a
servir as metas económicas e de construção nacional dominantes.
América Latina
22. Até bem tarde no século XX, o ensino na América Latina só estava disponível
para as classes privilegiadas, reflectindo uma história colonial com uma parcialidade
intelectual negativa e concentração do poder e controlo políticos nas mãos de uma
minoria. Até bem tarde na segunda parte do século passado, grande número de estudantes
oriundos de meios pobres não completava a sua educação básica, enquanto outros – na
sua maioria das classes médias e altas – podiam frequentar universidades de alta
qualidade subsidiadas pelos dinheiros públicos.
45
conhecimentos, ocorreu tanta actualização ao nível terciário e tão pouca ao nível
secundário que, em 2000, havia menos adultos tendo apenas o ensino secundário do que
Caixa 3.4: Reformas do Ensino Secundário no Brasil
O Brasil tem uma estrutura com dois ciclos de ensino básico – elementar, incluindo os graus 1 a 4, e secundário
primeiro nível incluindo os graus 5 a 8 – e ensino secundário de segundo nível (graus 9 a 11). As desigualdades sempre
foram grandes. Os sectores da alta tecnologia, industrial e dos serviços produziram padrões de vida no Sul que estão
próximos dos níveis europeus. Contrastando com isso, os estados do Nordeste, em particular, estão entre as regiões
mais pobres do mundo. As disparidades económicas são reflectidas nos indicadores para a educação. Em 1971, o ensino
básico obrigatório foi aumentado de quatro para oito anos. Mas em 1982 só 8,9% das crianças dessa idade no Nordeste
rural estavam inscritas no primeiro nível secundário (graus 5 a 9) em comparação com 33,5% em todo o Brasil. Durante
os anos 1980 e 1990, o governo central e os estados puseram em prática uma série de reformas no quadro de um plano
para a educação de 10 anos, centrado no acesso e na qualidade e usando uma combinação de políticas do lado da oferta.
Isto levou a melhorias significativas no acesso: o rácio de inscrições brutas no ensino básico (incluindo o primeiro nível
secundário) aumentou de cerca de 97% para mais de 112%, e no segundo nível secundário, as inscrições brutas
atingiram 60 por cento, partindo de um valor de 34 por cento. Apesar disso, persistiram sérios problemas de equidade,
eficiência e qualidade: em 1996, para cada cem jovens de 18 anos, apenas 66 completaram o quarto grau, 43
completaram o oitavo grau, e uns meros 25 concluíram o ensino secundário. Altas taxas de repetição implicaram que os
estudantes completaram o ciclo básico de 8 anos em mais de 10 anos, e precisaram de mais 4 anos para completar os 3
anos do segundo nível secundário. Consequentemente, embora as taxas de inscrições brutas fossem altas, as taxas de
inscrições líquidas foram muito baixas, em especial no segundo nível secundário (30 por cento). A baixa qualidade da
escola deu como resultado alto abandono e repetição dos mais pobres de entre os estudantes.
Desde 1996, o Brasil melhorou visivelmente o seu sistema de ensino secundário, em especial o primeiro nível. Em
1998, o Fundo para a Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Básico e Avaliação de Professores (FUNDEF)
vinculou a atribuição de fundos municipais e estatais para o ensino às inscrições. Consequentemente, os governos
municipais pobres ganharam acesso a maiores recursos e as inscrições cresceram 6 por cento no primeiro nível
secundário. Está a ser considerado um programa similar para o segundo nível secundário. Bolsa Escola, um programa
de transferência de dinheiro com prévia avaliação da situação de cada escola, foi posto em prática em 2001, fornecendo
pagamentos em dinheiro a famílias pobres cujas crianças se inscrevam e permaneçam na escola. Um estudo conclui que
a Bolsa Escola pode ter encorajado a subida da frequência entre as crianças com idades de 10 a 15 anos, até um terço.
Desde 1996, o governo central também tomou medidas para lidar com outros constrangimentos da expansão do ensino
secundário
• Disponibilidade de professores qualificados. Espera-se dos professores que tenham completado pelo menos o
ensino secundário. Um programa de formação à distância de professores com fundos públicos,
PROFORMAÇÃO, proporciona formação aos professores dos estados pobres do norte e nordeste.
• A repetição excessiva é visada através de escolas de verão, incentivos monetários à obtenção do diploma,
programas de instrução acelerados, abordagens do ciclo lectivo, e promoção flexível baseada em mecanismos de
créditos académicos. Outros programas são desenhados para melhorar a eficiência.
• Falta de dados de avaliação: o governo reabriu o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP),
que agora implementa as avaliações educacionais nacionais do desempenho dos estudantes através do Sistema de
Avaliação da Educação Básica (SAEB) e de um exame de saída (ENEM) que testa os diplomados em termos do
currículo secundário do segundo nível.
As desigualdades continuam a ser um dos maiores males do sistema de ensino secundário brasileiro. As transferências
condicionais como a Bolsa Escola e PERI têm por alvo específico a desigualdade no acesso, e o FUNDEF as
desigualdades no acesso, qualidade e resultados por meio da redução das discrepâncias nos gastos por aluno. Além
disso, programas auxiliares que financiam a saúde, nutrição e transporte dos estudantes ajudaram as crianças pobres e
rurais a permanecer na escola. Apesar disso, o Brasil tem muito espaço para melhorar os alvos de despesa com o ensino
secundário em relação aos grupos de fracos rendimentos: apenas 5 por cento das despesas beneficiam o primeiro quintil
do rendimento.
Fonte: di Gropella, 2006
adultos com educação terciária, resultando numa pirâmide educacional estreita na zona
média. À parte as lacunas nos níveis de participação no ensino secundário, há também
uma grave lacuna no que os estudantes aprendem, enquanto medido por testes
internacionais como o TIMSS e PISA. O subinvestimento no ensino secundário provocou
constrangimentos nos resultados educacionais na região e limitou os aumentos da
46
produtividade do trabalho e actualização tecnológica. Isto despertou esforços em vários
países – por exemplo, no Brasil (Caixa 3.4) – para melhorar a qualidade do ensino
secundário e alargar o acesso a ele.
47
• O desenvolvimento equilibrado de diferentes sectores do sistema educativo é
um processo de baixo para cima; tem de existir um acesso amplo ao ensino
primário de qualidade aceitável para o desenvolvimento bem-sucedido do ensino
secundário. Isto não implica um processo inteiramente sequencial, mas implica
uma ênfase gradualmente deslocada para cima das políticas e afectações de
recursos públicos.
Caixa 3.5 Aumentado o Acesso e Melhorando a Qualidade no Zimbabwe
Na altura da independência em 1980, só 80 000 dos 7,5 milhões de habitantes negros do Zimbabwe tinha
conseguido três anos de ensino secundário. Menos de 4% do grupo etário podia aceder ao ensino
secundário. Passados três anos, as inscrições ao nível do secundário atingiram mais de 65%. Uma forte
parceria entre o governo e as comunidades tornou isto possível:
• Pais e comunidade construíram as infra-estruturas escolares, o governo providenciou ajuda para
garantir padrões de segurança e materiais, incluindo pilares e telhado pré-fabricados.
• Os pais pagaram e controlaram as verbas para construção, mobiliário, materiais didácticos e
pagamento de professores adicionais; também geriram as escolas e garantiam a frequência.
• O governo providenciou e pagou professores a um rácio fixo professor/alunos de 1:30.
• O governo deu um subsídio per capita à escola para materiais de ensino e aprendizagem.
• O governo providenciou materiais grátis e cursos de formação em serviço para os professores.
Num curtíssimo espaço de tempo, o número de escolas secundárias expandiu-se de menos de 200 para mais
de 1 600, a maioria delas construídas pelos próprios pais. As inscrições aumentaram de menos de 200 000
para mais de 800 000.
Uma escola primária em cada cinco foi seleccionada como um local potencial para uma escola secundária.
Estas escolas estabeleceram imediatamente um “topo superior”, isto é, uma ou duas turmas secundárias na
escola primária existente, principalmente através de dois turnos. Os “topos superiores” eram para cobrir os
primeiros quatro anos do ensino secundário. Ao mesmo tempo, a comunidade encarregou-se de estabelecer
uma nova escola secundária num local próximo, com planeamento, supervisão e subsídios do estado. As
escolas deveriam ter um mínimo de quatro salas de aula, três casas para os professores, e casas de banho. A
electricidade e instalações dispendiosas, como laboratórios, oficinas técnicas, salas de convívio e
bibliotecas, não estavam incluídas nas fases iniciais.
Este programa capacitou as crianças para frequentar escolas secundárias diurnas próximas das suas casas
que custam uma média de 50 dólares EUA por estudante, em vez das escolas internas tradicionais que
custam uma média de 250 dólares EUA por estudante. Só 4% das comunidades foram capazes de responder
a este sistema de parceria e tiveram que ser subvencionadas, em geral encarregando uma ONG ou igreja de
ajudá-las.
Para garantir que o ensino era relevante, de qualidade aceitável e, apesar disso, exequível, o ME:
• Desenvolveu um kit de ciência – o Zim-Sci kit – e forneceu-o a todas as escolas secundárias. Custava
cerca de 1 000 dólares e continha materiais para experiências durante quatro anos com manuais de
instruções para professores e alunos. Trabalhando aos pares, os alunos podiam fazer uma experiência
por semana. Os professores receberam formação por meio do rádio e de cassetes áudio.
• Forneceu um mínimo de 20 manuais grátis para cada disciplina, além de subvenções per capita às
escolas. Esses manuais foram impressos a um custo de cerca de 20 cêntimos de dólar EUA por
exemplar, usando ilustrações de jornais e livros em quadradinhos. Dado que existiam muitos
professores subqualificados os manuais foram escritos usando metodologias de ensino à distância.
• Estabeleceu um currículo nuclear obrigatório composto por Inglês, Língua Africana, Ciências e
Matemática, disciplinas práticas e uma disciplina opcional de estudos sociais.
Além destas escolas secundárias de primeiro nível, foram criadas escolas secundárias de segundo nível,
mas o seu estabelecimento esteve também dependente, ao mesmo tempo, dos esforços da comunidade e das
subvenções do estado.
Fonte: Comunicação pessoal de Fayking Chung.
48
• O modo como os recursos são gastos é tão importante como a quantidade de
recursos disponíveis; isto significa uma clara definição do papel do governo,
escolha de políticas baseadas em evidências pragmáticas, eficiência no uso dos
recursos públicos e sua afectação a novos alunos que têm, em termos de custo-
eficiência, um maior impacto na aprendizagem.
• A direcção e liderança do governo é importante para acelerar e sustentar o
progresso e garantir a igualdade; todavia, a descentralização e a autonomia local
são consideravelmente prometedoras, especialmente nas fases iniciais.
• As parcerias público-privado são essenciais para mobilizar os recursos
necessários para o ensino secundário, estimular o apoio das comunidades e
garantir que o ensino secundário responde efectivamente às expectativas das
comunidades locais e dos líderes nacionais.
• Uma visão coerente do papel e da contribuição do ensino secundário para o
desenvolvimento económico, progresso social e construção de uma sociedade
democrática deve escorar as estratégias e as políticas; responder simplesmente à
pressão da procura social não é suficiente.
27. Mas, no seu conjunto, as lições das estratégias africanas são consistentes com os
padrões encontrados noutras regiões. O Quénia foi capaz de aumentar rapidamente as
inscrições no ensino secundário por meio das suas escolas Harambee, uma iniciativa
espontânea de base das comunidades para desenvolver maior acesso ao ensino secundário
do que aquele que poderia ser fornecido pelo governo nessa altura. A rápida expansão das
inscrições no primário criou muita pressão para desenvolver o sistema de escolas
secundárias. De 1963 a 1973, as inscrições no primário subiram de cerca de 900 000
alunos para quase 2 milhões, e o número de estudantes do secundário subiu de 25 000
para quase 200 000. A experiência também ilustra as ineficiências, os problemas de
qualidade e as desigualdades (Rugh e Bossert, 1998) que podem resultar deste tipo de
estratégia. Um processo similar com resultados semelhantes ocorreu nos anos 1990 no
Burundi (ADEA, 2001). As políticas adoptadas pelo Zimbabwe depois da independência
demonstram o que pode ser alcançado em pouco tempo com liderança do governo, apoio
popular e uso eficiente e efectivo dos recursos públicos (Caixa 3.5). O Togo é o país
49
francófono da África com o GER secundário mais alto e constitui um exemplo da
maneira como as comunidades podem complementar os constrangidos recursos do
governo. As despesas públicas com a educação e o custo por estudante do secundário são
aproximadamente semelhantes aos de outros países da subregião. Mas o envolvimento da
comunidade no ensino primário permitiu que o governo afectasse uma quota-parte maior
do orçamento da educação ao ensino secundário.
50
…aqui … é preciso correr tanto quanto se possa para
permanecer no mesmo lugar. Se quiser ir para outro
sítio qualquer, tem que correr pelo menos duas vezes
mais depressa!”
- Lewis Caroll
Capítulo 4
51
políticas do ensino secundário na África Subsaariana e resumirá as conclusões numa
secção final.
23
Uma fraqueza de muitos desses estudos é que grande parte dos dados se baseia apenas em pessoas que
ganham um salário. Na ASS, estes raramente representam mais de 20% da força laboral. Isto exclui da
análise um grande grupo dos auto-empregados na agricultura e no sector não formal. Além disso, os dados
dos salários são muitas vezes pesadamente influenciados pelas escalas de salários do governo e podem ter
pouco a ver com anos de educação.
24
Estes medem o aumento de percentagem dos salários associados com um ano de escolaridade adicional e
assume-se que são independentes do nível de escolaridade. Mincer mostra que, em certas condições, que
incluem que não haja custos directos da educação, isso pode ser interpretado como o retorno correcto da
52
Retornos crescentes por nível de educação
5. Appleton (2000), numa revisão de 28 estudos da África Subsaariana de 1980 em
diante encontra um retorno da educação minceriano de 5% para o ensino primário, 14%
para o secundário e 37% para o ensino terciário. Keswell, Malcolm e Poswell, Laura
(2002) encontram retornos baixos (< 10%) do ensino primário e retornos crescentes da
educação numa recolha de dados empíricos de vários países da ASS, incluindo a África
Figura 4.1: Ganhos das famílias e escolaridade do Sul. Documentos de Avaliação do
no Burkina Faso Banco Mundial recentes e CSRs também
encontram retornos que crescem com o
nível de educação e a aceleração do
crescimento económico, com os retornos
privados do ensino secundário a exceder
os do ensino primário, muitas vezes por
uma margem substancial (Caixa 4.1).
educação. As taxas sociais de retorno incorporam o custo da educação e, por vezes, externalidades que não
podem ser estimadas por meio de equações de salário individual.
25
A análise econométrica do retorno da escolaridade no Burkina Faso centra-se no rendimento médio das
famílias e nos níveis de escolaridade, agregando os dados ao nível das famílias e procurando a relação entre
o rendimento per capita da família e a média dos resultados educacionais alcançados pela família.
Enquanto a maior parte das análises dos retornos da educação na literatura usam salários/remunerações
individuais e nível de educação, o foco, em vez disso, no rendimento da família é devido a que
relativamente poucos burkineses reportam remunerações de empregos formalmente pagos.
53
7. Mas também existem estudos que mostram baixos retornos da educação em
África. Por exemplo, na Nigéria o retorno de um ano adicional de educação é estimado
num valor muito de 5 por cento (Uwaifo 2005). Retornos similarmente baixos foram
encontrados no Gana por Glewwe (1991). A estagnação económica da Nigéria durante as
últimas duas décadas, e do Gana durante os anos 1970 e 1980, podem explicar esses
retornos muito baixos. Similarmente, Appleton (2000) explica as altas taxas de retorno do
ensino secundário no Quénia, em comparação com a Tanzânia nos anos 1980, pelo facto
de que o mercado de trabalho formal queniano dessa época estar muito mais
desenvolvido do que o da Tanzânia. Uma explicação adicional para estas conclusões
muito diferentes é que as análises de Psacharapolous incluem muitos estudos baseados
em dados recolhidos antes de 1980 e – talvez mais importante – que os retornos da
educação em África baixaram desde os anos 1960 e 1970, quando a educação era mais
escassa na África e as condições económicas mais flutuantes.
8. Os dados relativos aos retornos da formação são ambíguos. Análises feitas para
Moçambique (Banco Mundial 2006c) encontram remunerações de diplomados de EFTV
cerca de 40% mais altas do que as dos diplomados do ensino secundário geral do mesmo
nível. No Senegal, é referido um retorno da educação técnica de 20% (UNESCO
BREDA, 2005). Na Etiópia, a formação técnica aumenta, de facto, a probabilidade de
emprego em 20% nas áreas rurais e 25% nas áreas urbanas (Banco Mundial 2006a). No
entanto, os números envolvidos são pequenos e os estudos não controlam, tipicamente, o
processo de selecção para a formação e, por consequência, as estimativas devem ser
interpretadas como um efeito de tratamento médio nos que passaram pela formação.
Estudos mais amplos concluem que, no sector formal da ASS, os esquemas de
desenvolvimento de capacidades continuam a ser impulsionados pela oferta e desligados
das procuras do mercado de trabalho (Adams, 2006). No sector informal, a aprendizagem
tradicional é ainda o mecanismo mais usado para o desenvolvimento das capacidades dos
que entram de novo. A força da aprendizagem tradicional é a sua orientação prática, a sua
auto-regulação e o seu auto-financiamento. Chega àqueles que não têm os requisitos
necessários para a formação formal e é geralmente rentável (Johanson e Adams, 2004).
Figura 4.2 Retornos do investimento no ensino secundário são altos e crescem mais depressa do que
os conhecimentos adquiridos no Uganda
54
Primary Secondary Nocompletedprimary Completedprimary Somesecondary
Educational attainment
160%
Relative Returns
140% 80%
120%
100% 60%
80%
60%
40% 40%
20%
0% 20%
0%
92
99
92
99
19
19
19
19
1992 1999 2002
le,
le,
le,
le,
Ma
Ma
ma
ma
Year
Fe
Fe
Desemprego26
10. Apesar do alto potencial dos retornos privados da educação, muitos jovens da
Africa Subsaariana não são capazes de capturá-los porque as oportunidades de emprego
permanecem limitadas em muitos países. A OIT (2004) estima que, entre 1993 e 2003, o
desemprego da juventude (15-24 anos) aumentou 32,5 por cento. Em 2003, mais de 18
milhões de jovens da ASS estavam desempregados, representando uma taxa de
26
Esta secção do capítulo baseia-se grandemente nos dados e discussão em Banco Mundial 2006a.
55
desemprego de 21 por cento. A média regional esconde, é claro, importantes variações da
taxa de desemprego dos jovens nos diferentes países. Em países como Moçambique e
Quénia, com uma alta taxa de desemprego urbano, a taxa de desemprego pode exceder 30
por cento. Ao mesmo tempo, países como o Burkina Faso e o Uganda, com grandes
sectores rurais, têm uma taxa de desemprego dos jovens relativamente baixa27.
11. Embora, em geral, níveis mais altos de instrução estejam associados com uma
transição mais fácil para o trabalho, isto não é sempre assim para os jovens de África. Em
alguns países, a taxa de desemprego para os jovens instruídos é muito alta. Jovens com
instrução secundária e terciária no Burundi, Camarões, Costa do Marfim, Quénia,
Madagáscar e Nigéria, por exemplo, têm taxas de desemprego mais altas do que os
jovens com resultados educacionais mais baixos. Em 8 dos 14 países da Figura 4.3, a taxa
de desemprego foi mais alta entre os jovens que possuíam pelo menos alguma
escolaridade do que entre os que não tinham nenhuma. Isto pode ser exacerbado pelo
facto de que – como é sugerido na investigação sobre a Etiópia (Banco Mundial 2006b) –
quanto mais instruídos são os jovens, mais alto o seu salário de reserva e os retornos
esperados da busca de emprego.
Figura 4.3 Desemprego dos jovens por adquiridos educacionais em países seleccionados da África
Subsaariana
A maior parte dos jovens tem falta das capacidades e da experiência relevantes quando
começa a trabalhar. Como resultado, empenham-se frequentemente em trabalhos de baixa
produtividade enquanto desenvolvem as capacidades necessárias para passar para
empregos melhores. A investigação no Burkina Faso (Banco Mundial 2006b) sugere que
a maior parte das mulheres trabalhadoras, tal como os homens, fazem a sua entrada no
mercado de trabalho em ocupações semelhantes, independentemente dos seus resultados
educacionais, excepto para a pequena minoria que completou, pelo menos, o ensino
secundário. Todavia, ter mais instrução, relativamente a não ter nenhuma, torna mais
rápidas as transições para ocupações mais bem pagas. Controlando quanto à experiência,
27
Conceitos do mercado de trabalho tradicional, como postos de trabalho, emprego, desemprego,
participação, salários e remunerações são difíceis de aplicar à África. Estes conceitos precisam de ser
adaptados às realidades de uma força de trabalho empregue principalmente em negócios familiares (quer
como proprietários quer como trabalhadores familiares não pagos), 50 por cento a trabalhar na agricultura,
na maior parte dos casos a níveis de subsistência, e dois terços vivendo em áreas rurais.
56
as estimativas do impacto do nível de instrução na empregabilidade mostram que, na
Tanzânia, os homens urbanos com o mais alto nível de instrução têm 26 pontos
percentuais mais probabilidade de estar empregados, quando comparados com os homens
sem instrução. Claramente, a instrução tem um efeito positivo nas carreiras, mesmo que a
porta de entrada seja semelhante para a vasta maioria dos trabalhadores.
14. Tudo isto sugere que os jovens – incluindo os jovens que prosseguiram a sua
educação para lá do nível primário – são altamente vulneráveis aos efeitos da estagnação
económica. Para muitos jovens, a transição da escola para o trabalho é difícil. Ao mesmo
tempo, há também dados que mostram que, quando o crescimento económico e a criação
de postos de trabalho são sustentados, os jovens com instrução secundária serão capazes
de entrar com sucesso no mercado de trabalho. Em países em rápido crescimento com
inscrições no secundário historicamente baixas, como a Tanzânia e o Uganda, Bennell et
al. (2004) verificaram que os diplomados do secundário eram efectivamente absorvidos
pela economia, embora, por vezes, após uma longa busca. Os que não tinham completado
o ensino secundário não se comportavam tão bem: só perto de metade estavam no sector
do trabalho assalariado dez anos depois do diploma. A falta de postos de trabalho no
sector formal significa que a incidência do auto-emprego entre os que saem da escola
secundária é grande e está a crescer. A grande disparidade de salário entre o emprego
assalariado e o auto-emprego significa que este último é visto como “emprego de último
recurso”.
57
Educação e Crescimento
15. Pritchett (2001) chama a atenção para que “a crença de que expandir o ensino
promove o crescimento económico tem sido um dogma fundamental da estratégia de
desenvolvimento durante, pelo menos, 40 anos” (p. 383) mesmo se recuarmos até ao
Asian Drama [O Drama Asiático] de Gunnar Myrdal (1968). A busca de dados empíricos
que apoiem esta crença foi desencadeada há mais de 15 anos por Barro (1991) num artigo
de investigação que apresentava regressões do crescimento usando taxas de inscrição no
primário e no secundário nos anos 1960 como variáveis explicativas do subsequente
desempenho no crescimento de um perfil transversal de nações que confirmava o impacto
positivo do capital humano sobre o crescimento. Este artigo foi seguido de um grande
número de estudos que investigaram a ligação entre educação e crescimento económico.
Muitos desses estudos encontraram um impacto significativo do ensino secundário,
incluindo um efeito de limiar sugerindo que o ensino secundário estava associado com
uma aceleração do crescimento económico. As conclusões chave estão sumariadas
abaixo:
58
• UIS (2002) encontra, nas suas análises de países WEI28, um padrão que sugere
que o capital humano desempenha um papel mais forte no processo de
crescimento uma vez que o nível de capital humano alcance um limiar crítico: a
forte correlação entre escolaridade e desempenho do crescimento na Argentina,
Chile, Malásia e Uruguai sugere que níveis altos de resultados do secundário e
terciário são importantes para que o capital humano se traduza em crescimento
firme.
• Loayza, Fajnzylber, e Calderón (2002) estimam para a região da América Latina e
Caraíbas que, se as tendências de aumento das inscrições no secundário se
mantiver ao longo da década, pode esperar-se que isso contribua com cerca de 0,4
pontos percentuais para a taxa de crescimento do PIB per capita. Isto compara-se
com 0,25 pontos percentuais como resultado de uma tendência de aumento
continuada de abertura ao comércio, e cerca de metade desse valor devido a uma
intensificação financeira continuada (citado em Banco Mundial, 2005).
• Uma análise em profundidade no memorando Económico do País (2005) para a
Guatemala realça o ensino secundário como contribuidor chave para o
crescimento económico (Caixa 4.2).
Caixa 4.2: Educação e Crescimento Económico na Guatemala
A Guatemala tem alguns dos mais baixos indicadores de educação dos países da América Latina. A taxa líquida de
inscrições no ensino primário está abaixo de 90% e na escola secundária de primeiro nível abaixo de 30%. As taxas de
conclusão são extremamente baixas, menos de 40 por cento na escola primária, e as taxas de repetição são altas. O
número médio de anos de escolaridade – 3,5 anos – é o mais baixo da América Central.
Um recente Memorando Económico de País (CEM) usa as conclusões de um grande modelo de crescimento
transversal aos países – que relaciona o crescimento económico com doze variáveis explicativas chave para 78 países
– para analisar os determinantes das tendências de crescimento passadas na Guatemala e definir prioridades para as
áreas de atenção futura. O modelo mostra que os aumentos de instrução foram a principal força impulsionadora por
detrás do crescimento total da produtividade dos factores durante os últimos trinta anos. Uma força laboral ajustada
explica 78 por cento do crescimento do PIB no período. O impacto da educação na produtividade vem por vários
caminhos: (a) através de melhorias directas da produtividade dos trabalhadores; (b) através de capacidade acrescida
dos trabalhadores e gerentes de empresas para tomar as decisões apropriadas acerca da mistura mais eficiente de
entradas e tecnologias na produção; (c) através de uma capacidade acrescida para a adaptação a tecnologias, políticas
e ambiente económico externo em mudança; e (d) a níveis suficientemente altos de instrução, através da capacidade
de gerar inovações que melhoram a produtividade. Diferenciar as fontes de análise do crescimento por nível de
instrução sugere que o ensino secundário deu a maior contribuição (21%) ao crescimento durante o período (1950-
2002), seguido de perto pela instrução primária. Projectando um cenário de intervenções políticas activas, o CEM
conclui que a maior parte dos aumentos de crescimento emergirá de expansões da educação e da infra-estrutura
pública. A melhoria das políticas de educação explica um salto no crescimento anual per capita de 1,67 por cento ao
ano, enquanto as políticas de infra-estrutura pública produziram uma melhoria de 1,09 por cento (para uma taxa de
crescimento de 5,05 por cento).
Fonte: Banco Mundial, 2005.
16. No entanto, estes tipos de resultados estão longe de serem universais. Pritchett
(1991), por exemplo, encontrou, na sua análise de um perfil de dados nacionais,
resultados que variam amplamente mas, em média, ficam muito aquém dos resultados
previstos pelos modelos económicos padrão – resultados replicados em muitas outras
análises desta natureza. Similarmente em O’Connell e Ndulu (2001), as medições dos
resultados educacionais e das inscrições comportaram-se muito fracamente em regressões
28
O programa de Indicadores Mundiais (WEI) é apoiado pela OCDE, UNESCO e pelo Banco Mundial,
para reforçar a recolha e comunicação de estatísticas comparativas e indicadores no campo da educação.
Países participantes no programa de Indicadores Mundiais de Educação: Argentina, Brasil, China, Chile,
Egipto, Índia, Indonésia, Jamaica, Jordânia, Malásia, Paraguai, Peru, Filipinas, Rússia, Tailândia, Tunísia,
Uruguai e Zimbabwe.
59
OLS condicionais incorporando medições demográficas e taxas de esperança de vida, e a
sua disponibilidade limitada reduziu dramaticamente o tamanho da sub-amostra africana.
Vários outros artigos recentes levantam questões acerca dos métodos de estimação e
interpretação das conclusões relativas à significância da variável capital humano29.
19. Apesar disso, os dados apresentados nesta secção sugerem claramente, num
balanço, que o ensino secundário pode dar um contributo significativo para o crescimento
económico. Fê-lo na Ásia de Leste e na América Latina. Deveria ser capaz de fazê-lo
também na África Subsaariana, mas é frequente que isso não aconteça. Baseado em dados
de Mankiw et al. (1992), Glewwe et al. (2006) analisam o contributo da educação para o
crescimento económico na África Subsaariana (Tabela 4.1), sugerindo que as
competências aprendidas por ano de escolaridade são mais baixas na África Subsaariana
do que noutras partes do mundo. Os problemas parecem ser particularmente agudos nos
29
Ver, para mais discussão Glewwe et al. (2006).
30
Num país em que 10% da população masculina em idade activa completou parte da escola secundária e
deste grupo apenas 30% completaram 6 anos de escola secundária, com os restantes a passarem apenas pelo
primeiro ciclo de três anos, os resultados alcançados na escola secundária é (0,1*[3*0,7+ 3*0,3] +9*0= 0,3
60
países de língua inglesa. É importante notar que estes dados sugerem que a qualidade do
ensino secundário, especialmente em matemática e ciências, tem um impacto no
crescimento económico mais forte do que o número de anos de escolaridade. Isto é
discutido com maior detalhe numa secção posterior deste capítulo.
% que
toma % Exames
vitamina % Vacinas do médicos Índice [0-12] de
A durante tétano antes do durante a % Nascimentos assistidos conhecimento
a gravidez parto gravidez por pessoal médico sobre a SIDA
Anos de Costa
Escolaridade Chade Marfim Guiné Guiné Chade Guiné Níger Chade Níger Chade
0 10,6 83 69,7 77,1 35,6 34,9 11,5 10,5 3,1 5,1
2 16,1 88 77,1 86,9 55,2 45,9 13,2 17,5 3,6 6,6
4 20,9 91 82,9 92,7 69,5 56,9 17,8 25,3 4 7,8
6 23,7 93 87,2 96,9 77,6 66,9 27,3 32,2 4,4 8,6
8 23,9 18,9 90,5 97,7 81,4 75,2 44,2 36,8 4,8 9
10 21,3 95 92,9 98,7 82 81,7 55,4 38,7 5,3 9,1
12 16,6 - 94,6 99,2 79,6 85,6 86,4 37,4 5,7 8,8
Fonte: UNESCO BREDA 2005
31
Esta secção baseia-se muito nos dados apresentados no capítulo 1.2 do UNESCO BREDA 2005.
61
Tabela 4.3: Nível de instrução das mães e saúde infantil
% das que
% plano tomam
completo vitamina % morte de
de A durante crianças nado-
vacinação a gravidez Estado antropométrico das crianças de menos de 5 anos vivas
22. A educação das mulheres encoraja mudanças comportamentais que são benéficas
para a sua saúde. Por exemplo, estudos efectuados na Costa do Marfim, Guiné, Chade e
Níger mostram uma correlação positiva entre o número de anos de escolaridade e (i)
tomar vitamina A durante a gravidez, (ii) frequentar aulas pré-natais e adoptar cuidados
preventivos de saúde pré-natal (iii) escolher um parto assistido com pessoal qualificado,
um médico, uma parteira ou uma enfermeira e (iv) o grau de conhecimento das mulheres
a respeito do VIH/SIDA e de como se protegerem dele (Tabela 4.1). Além disso, as
mulheres instruídas estão mais preocupadas com a saúde e dieta dos seus filhos. No
Chade, a percentagem de crianças que seguem o plano completo de vacinação aumenta
de 12,6% no caso de uma mãe não instruída para 31% no caso de uma mãe que
completou o ensino primário e mais de 50% se a mãe prosseguiu a sua escolaridade até
ao segundo nível secundário.
23. O nível de instrução da mãe influencia o tamanho e peso dos filhos, bem como a
sua sobrevivência durante os primeiros cinco anos de vida. Na Guiné, 50% dos filhos de
mães sem instrução sofrem de atrasos do crescimento; este valor baixa para 36% se a mãe
tiver completado a instrução primária e 25% se completou a secundária; comprova-se
uma relação semelhante entre o nível de instrução da mãe o risco de peso inadequado dos
seus filhos (Tabela 4.3). A instrução das raparigas e das mulheres traduz-se em taxas de
mortalidade infantil mais baixas e melhor saúde familiar, porque as práticas de boa saúde,
como as campanhas de vacinação, são mais fáceis de publicitar e implementar numa
população instruída (OCDE, 2002).
Fertilidade
24. A educação, em especial a educação das raparigas e das mulheres, tem um forte
impacto na baixa das taxas de fertilidade, ajudando a aliviar as pressões demográficas. Na
verdade, em países de rendimento médio, o progresso da acumulação de capital humano
nas últimas quatro décadas tem sido acompanhado por uma correspondente mutação dos
padrões demográficos. Comparadas com 1990, as populações com idades de 5-14 anos
começaram a declinar, por exemplo, em vários países como o Brasil, Jamaica, Tailândia e
62
Tunísia e estabilizaram-se na Argentina, Indonésia e Uruguai (UIS, 2002). Há dados
robustos que mostram que este efeito é particularmente pronunciado para as raparigas que
completaram vários anos de ensino secundário (ver, por exemplo, UNESCO, 2003a).
26. Dados dos Camarões, Guiné, Níger e Chade (Tabela 4.4) mostram que as
raparigas com instrução (i) casam-se e têm filhos mais tarde do que as outras raparigas, se
levaram a sua instrução até à escola secundária – há pequena diferença entre as mulheres
sem instrução e as que completaram a instrução primária; (ii) tendem a ter filhos mais
espaçadamente; (iii) usam mais comummente a contracepção. O resultado disto é que o
número de nascimentos tende a declinar com o nível de instrução da mãe: no Chade,
enquanto uma mulher de 29 anos que nunca foi à escola teve, em média, 4,8 filhos, este
número decresce para 4 filhos quando prosseguiu o ensino secundário até ao nono grau e
para 3,5 filhos quando foi alcançado o último ano de escolaridade secundária (grau 12).
Os benefícios sociais e económicos da fertilidade são consideráveis. Baixam o ónus da
dependência, aumentam a força laboral e, através dos seus efeitos no emprego desta,
ajudam a fazer subir os rendimentos. O efeito no crescimento económico pode ser
bastante grande – algumas estimativas sugerem que até 2 pontos percentuais do
crescimento per capita anual foram devidos à fertilidade em declínio (Bloom e
Williamson, 1998 citado em UNESCO, 2003a). Altos níveis de educação feminina
podem, portanto, ter contribuído para o rápido crescimento económico.
VIH/SIDA
27. Por todo o mundo, os jovens estão especialmente em risco de doenças
sexualmente transmitidas. As pessoas entre os 15 e os 34 anos têm as mais altas taxas
32
A taxa de dependência demográfica é o rácio entre a população não activa (menos de 15 e mais de 65
anos) e a população activa.
63
reportadas de infecções pelo VIH e doenças sexualmente transmitidas. Segundo a
UNICEF (2005), os indivíduos de 15-24 anos perfazem agora quase um terço dos 38
milhões de pessoas que vivem com VIH/SIDA. Pior ainda, globalmente, mais de metade
dos 5 milhões de pessoas infectadas com o VIH em 2003 tinham 15-24 anos; na África,
estima-se que 1,7 milhões de pessoas de 10-24 anos são infectadas com VIH em cada ano
(Banco Mundial, 2006a). A África Subsaariana é a região mais duramente atingida. Entre
os jovens de 15-24 anos de idade, 6,9% das mulheres (intervalo: 6,3-8,3%) e 2.1% dos
homens (intervalo: 1,9-2,5%) viviam com VIH no fim de 2003. Dos jovens infectados,
75% são mulheres e raparigas. Existe uma diferença pronunciada dos níveis de infecção
entre mulheres e homens para os jovens com 15-24 anos de idade. Um estudo dos níveis
de infecção pelo VIH entre os indivíduos com 15-24 anos comparou o rácio de mulheres
jovens vivendo com VIH com homens jovens vivendo com VIH e observou que ia de 20
mulheres para cada 10 homens na África do Sul, até 45 mulheres para cada 10 homens no
Quénia e no Mali (UNAIDS 2004).
28. Vários factos são particularmente relevantes para o ensino secundário. As taxas
de infecção apresentam em geral um pico do meio até ao fim da casa dos vinte (mais cedo
para mulheres jovens do que para homens), as taxas para as crianças em idade de
frequentar a escola secundária tendem a ser muito mais baixas do que as observadas nos
primeiros anos da casa dos vinte; os que têm mais instrução tendem a ter taxas mais
baixas do que as dos que têm menos33; e os professores (que têm níveis mais altos de
instrução do que a generalidade da população) estão em muitos casos em menor risco do
que outros das mesmas idades (Lewin, 2006). Os que estão na escola estão menos em
risco do que os que estão fora da escola, em especial as raparigas (Gregson et al., 2001).
As taxas de prevalência do VIH são mais baixas entre os adolescentes que estão na escola
no Burundi, na Eritreia, em Moçambique, na Tanzânia e no Zimbabwe. Vários
mecanismos podem gerar estes resultados, tais como oportunidades reduzidas de sexo
fortuito, maior compreensão das causas e efeitos, reconhecimento das mensagens sobre
sexo seguro, mais motivação para permanecer saudável e investir no futuro. Embora
exista violência contra as raparigas nas escolas, o ambiente escolar é mais seguro do que
o ambiente com que são confrontadas as raparigas fora da escola.
33
Assim, no Uganda parece que as taxas para os que possuem a instrução primária foram quase o dobro em
relação aos que possuem instrução secundária (Centro de Informação da SIDA, Kampala, 2000) e que os
dados das séries temporais mostram que as taxas de infecção caíram rapidamente para os que têm
escolaridade secundária, e absolutamente nada para os que não têm instrução primária (UNESCO 2004).
64
fazem uma enorme diferença (UNICEF, 2004). Por exemplo, as mulheres jovens do
Ruanda com instrução secundária ou superior tinham cinco vezes mais probabilidade do
que as mulheres jovens sem instrução formal de conhecer as vias principais de
transmissão do VIH (UNAIDS, 2005).
Capital Social
32. O capital social refere-se às instituições, relações e normas que modelam a
qualidade e quantidade das interacções sociais da sociedade. Os dados recolhidos
mostram cada vez mais que a coesão social é crítica para que as sociedades prosperem
65
economicamente e para que o desenvolvimento seja sustentável. O capital social não é
apenas a soma das instituições que o sustentam – é a cola que as mantém juntas34.
Historicamente, o investimento público em sociedades instruídas tem as suas origens no
desejo de estabelecer uma identidade nacional comum e uma cooperação pacífica entre
diferentes grupos religiosos e étnicos (Heyneman, 1998). Espera-se da educação que
promova a coesão social e reforce a cidadania quando crianças de todos os meios sociais
são inscritas no sistema de ensino público. Este objectivo é altamente relevante para os
muitos países africanos que estão dilacerados pela guerra civil e pelos conflitos étnicos.
33. Heyneman (1998) chamou a atenção para o facto de o capital social ser
produzido através da educação de três maneiras fundamentais:
• Os estudantes praticam capacidades de capital social, tais como participação e
reciprocidade;
• As escolas proporcionam fóruns para a actividade da comunidade;
• Através da educação cívica, os estudantes aprendem como participar
responsavelmente na sua sociedade.
35. Uma ilustração da importância da coesão social é dada por Easterly e Levine
(1997). Os autores investigam as razões por que o crescimento económico na África
Subsaariana tem sido o mais baixo entre todas as regiões do mundo em desenvolvimento.
Começam por taxas de regressão do crescimento económico (PIB per capita) em relação
ao PIB per capita inicial, logaritmo de anos de escolaridade (usando dados de Barro e
Lee, 1993), e diversas variáveis que descrevem políticas ou condições económicas.
Encontram um poder explicativo suficiente para a maior parte dessas variáveis, incluindo
um impacto positivamente significante para os anos de escolaridade. O centro de
interesse principal do seu artigo é a “fragmentação étnica”, ou seja, a diversidade de
grupos étnicos na maior parte dos países africanos. O argumento é que as tensões entre
grupos étnicos levam a más políticas, corrupção e agitação social, tudo coisas que podem
reduzir o crescimento económico. Quando acrescentam uma variável para a fragmentação
étnica, ela é, estatisticamente, altamente significante. Também apresentam provas de que
34
Ver
http://web.worldbank.org/WBSITE/EXTERNAL/TOPICS/EXTSOCIALDEVELOPMENT/EXTTSOCIAL
CAPITAL/0,,contentMDK:20185164~menuPK:418217~pagePK:148956~piPK:216618~theSitePK:401015
,00.html
66
a fragmentação étnica leva a menos anos de escolaridade e afecta igualmente algumas
variáveis económicas.
Pobreza
36. A educação – incluindo o ensino secundário – diminui a probabilidade de que as
pessoas sejam pobres. Esses efeitos continuam para lá do ensino primário (Figura 4.4).
No Níger, por exemplo, completar nove anos de instrução reduz a probabilidade de ser
pobre, de
Figura 4.4: Probabilidade do Chefe de Família pertencer aos 40%
mais pobres segundo o nível de instrução
20%, para os que têm
80 apenas a instrução
Guiné
primária, para menos de
Probabilidade de pertencer
70
Costa Marfim
aos 40% mais pobres
60 Níger
Chade
10%. No Senegal, reduz a
50 Senegal probabilidade a cerca de
Camarões
40 metade. Nos outros países
30 mostrados na figura 4.4, o
20 efeito do ensino secundário
10 sobre a probabilidade de
0 ser pobre é um pouco
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
menor, mas ainda
Número de anos de escolaridade do chefe de família importante. No entanto,
análises baseadas em
Fonte: Pólo de Dakar, 2005
dados da América Latina e do Leste da Ásia sugerem que os pobres acham que é muito
mais difícil capturar os retornos privados do ensino secundário do que os não pobres (di
Gropello, 2006). É provável que seja também o caso na ASS. A causa é, provavelmente,
que os pobres têm menor probabilidade de frequentar escolas de alta qualidade; as suas
redes sociais do sector moderno estão menos desenvolvidas; e as suas atitudes e
comportamentos menos sintonizados com as exigências do emprego assalariado. Um
segundo efeito importante da educação é o impacto do nível de instrução dos pais na
probabilidade de que as crianças sejam inscritas na escola, quebrando assim o círculo
vicioso da transmissão da pobreza entre gerações. Este efeito é particularmente forte para
o ensino primário e para a inscrição das raparigas. O facto de os pais possuírem instrução
secundária tem pouco impacto adicional.
67
Qualidade
38. A quantidade de aprendizagem que ocorre num ano escolar varia
consideravelmente entre países e dentro dos países (ver, por exemplo, a discussão no
capítulo 2 acerca do nível de instrução alcançado). Um ano escolar num país com ensino
de baixa qualidade sobrestima o valor de capital humano produzido, quando comparado
com um ano escolar num país com escolaridade de alta qualidade. Pritchett (2001) sugere
que a sua incapacidade para encontrar uma correlação positiva entre o crescimento do
capital humano (medido em anos de escolaridade) e o crescimento do PIB podia ser
explicada pelas diferenças da qualidade da educação.
Igualdade
41. As desigualdades nas oportunidades educativas são profundas na África
Subsaariana (Tabela 4.5). Muitas crianças pobres ficam fora da escola; das crianças
pobres que conseguem chegar à escola primária, poucas conseguem transitar para o
ensino secundário ou mais além. As desigualdades são maiores quanto mais alto é o nível
de instrução. Nos Camarões, Quénia e Níger, nenhuma criança do quintil de rendimento
mais pobre está inscrita numa instituição terciária. A raiz do problema é, sem dúvida, a
desigual distribuição das oportunidades de aprender ao nível primário. Mesmo quando o
acesso ao primeiro grau do primário é quase universal, as desigualdades na
disponibilização de materiais didácticos, tempo de ensino, qualidade da instrução e meio
35
Chamam a atenção, todavia, para que este impacto é improvavelmente grande (maior do que seria obtido
em nove anos de escolaridade média), e que a magnitude e as razões para esta sobre-estimação permanecem
pouco claras, depois de terem sido rejeitadas certas explicações óbvias.
68
social de origem dão como resultado grandes disparidades nos resultados alcançados na
aprendizagem e no acesso ao ensino secundário. O alto nível de financiamento público
para o ensino secundário e terciário, onde os pobres estão grandemente ausentes, tem
como resultado uma distribuição altamente não igualitária das despesas públicas com a
educação. Essas desigualdades na distribuição do capital humano afectam adversamente
não só a coesão social mas também o desempenho do crescimento económico. A
experiência da Ásia de Leste (capítulo 3) que deu ênfase, desde o começo, a um padrão
igualitário de desenvolvimento da educação é altamente esclarecedora quanto a isto e é
confirmada por um robusto corpo de dados de investigação. Thomas et al. (2001)
verificaram que os aumentos do PIB per capita (ajustados para a paridade do poder de
compra) estavam negativamente associados com desigualdade na educação e
positivamente relacionados com o número médio de anos de escolaridade da força
laboral, depois de descontar os níveis de rendimentos iniciais. Similarmente, Birdsall
(2006) sumaria dados que mostram que o nível inicial de capital humano e as
distribuições desses fundos têm um impacto significante no PIB per capita. E, mais
importante ainda, para os pobres, as desigualdades iniciais na distribuição de terras e de
capital humano têm um claro efeito negativo que, para este grupo, é quase o dobro do que
têm para a população como um todo.
69
Tabela 4.5: Desigualdades na duração da instrução segundo o quintil de rendimentos (população 5-24 anos)
Q1
Resultados educacionais Q5 (20%
(20% mais Q2 Q3 Q4 Total Q1-Q5
alcançados mais ricos)
pobres)
42. Dollar e Gatti (1999) verificam, num estudo de país do Banco Mundial, que as
desigualdades de género têm um impacto significante no desempenho do crescimento
económico. Para economias menos desenvolvidas – as com menos de 10,35% das
mulheres com ensino secundário – os coeficientes de resultados alcançados no
secundário, tanto para homens como para mulheres, são insignificantes. Para as
economias mais desenvolvidas da amostra há um coeficiente positivo significante para os
resultados alcançados no secundário pelas mulheres: um aumento de 1 ponto percentual
na quota de mulheres adultas com instrução ao nível secundário implica um aumento no
crescimento do rendimento per capita de 0.3 pontos percentuais. Concluem que do ponto
de vista do crescimento, pode ser que a desigualdade de género no ensino seja uma
distorção pouco importante dos baixos níveis de desenvolvimento (sociedades largamente
agrícolas) e uma distorção mais significante a níveis mais altos (à medida que as
sociedades se tornam mais industriais). Aumentar a instrução das raparigas – controlando
outras influências – cria um ambiente melhor para o crescimento económico, em
70
particular à medida que os países em desenvolvimento almejam passar para níveis médios
de rendimentos.
Implicações para as Políticas
43. Os dados resumidos acima sugerem que o ensino secundário produzirá
frequentemente
Figura 4.5: Relação ilustrativa entre capital humano e crescimento retornos privados
económico consideráveis e
contribuirá para o
crescimento
Contribuição do capital humano para o
44. Berthélemy (2006, 2004) defendeu que a relação entre o capital humano de uma
economia e a sua taxa de crescimento é fortemente não-linear e é caracterizada por
limiares e “clubes de convergência”36. Similarmente, Ndulu e O’Connell (2006) citam
diversos artigos de investigação que encontram efeitos de limiar económico significantes
no processo de crescimento. As conclusões de Barro (1999), Borensztein et al. (1998),
OCDE (2002) e Lumbila (2005) sobre os limiares de capital humano para o IDE já foram
mencionadas acima. A não-linearidade da relação entre capital humano e crescimento
económico pode ser uma explicação adicional para a dificuldade de encontrar dados
empíricos robustos.
36
Grupos de países em que o desempenho económico tende a convergir.
71
permitirá subir para um nível em que o seu capital humano se torna mais produtivo e a
contribuição para o crescimento aumenta (Figura 4.5). Isto pode envolver um processo
que é repetido diversas vezes à medida que os países avançam na via do
desenvolvimento. Uma disponibilização igualitária de ensino básico de boa qualidade é
um primeiro passo óbvio neste processo – um passo que muitos países da ASS ainda não
contemplaram adequadamente e que pode estar a mantê-los prisioneiros de baixos níveis
de equilíbrio. Outros países – na ASS e noutras regiões – podem enfrentar limiares a
diferentes níveis de educação. Birdsall (1997) e DeFerranti et al. (2003), por exemplo,
defendem que, na região da América Latina, há uma necessidade premente de
providenciar uma cobertura integral do ensino secundário para incluir os pobres – o que,
por seu turno, exige melhorar a qualidade do ensino primário para aumentar as taxas de
conclusão do primário. Similarmente, a OCDE (2002) defende que a forte correlação
entre escolaridade e desempenho do crescimento na Argentina, Chile, Malásia e Uruguai
sugere que ultrapassar os limiares a altos níveis do ensino secundário do segundo nível e
do ensino terciário é importante para que o capital humano se traduza em crescimento
firme.
46. Um desafio adicional é que os limiares de capital humano não são estáveis,
movem-se ao longo do tempo, à medida que a economia se torna mais complexa e exige
mais capacidades avançadas enquanto outros países os alcançam. A vantagem
competitiva dos EUA em meados do século XX foi baseada numa rápida expansão do
número de diplomados do ensino secundário (Goldin, 2001); no mundo de hoje, isto já
não é uma fonte de vantagem competitiva, em especial à luz do crescimento do stock de
capital humano da Europa e do Leste da Ásia (ver capítulo 3).
37
Economias que derivam a sua vantagem competitiva do trabalho barato e do acesso a recursos nacionais.
38
Economias em que a eficiência na produção de produtos e serviços normalizados é a fonte da vantagem
competitiva.
72
Conclusão
48. O ensino secundário pode dar contributos significativos para o crescimento
económico. O seu impacto nas consequências sociais pode reforçar ainda mais o capital
humano de um país e melhorar o desempenho económico. Em contrapartida, o
crescimento económico sustentado é essencial se se quiserem mobilizar os recursos
necessários para um desenvolvimento acelerado do ensino secundário. Em países com
crescimento económico podem existir retornos crescentes da educação e as taxas do
secundário são frequentemente mais altas do que as do primário. Quando as taxas de
crescimento económico – em especial no sector moderno – são baixas e o crescimento do
número dos que saem da escola com instrução pós-primaria as excedem, não é
surpreendente que muitos enfrentem grandes dificuldades para encontrar um emprego.
49. Criar uma forte base de capital humano para que os países comecem a singrar na
via do crescimento económico sustentado exigirá:
50. A competição pelo crescimento impulsionada pelo IDE é renhida. É global, mas
também pan-africana. Os países com mais alta participação no secundário atrairão –
ceteris paribus – mais IDE. Os países de baixas inscrições arriscam-se a serem deixados
para trás na ASS, e também globalmente. As implicações para a estratégia de
desenvolvimento da educação são triplas:
73
ensino de qualidade aceitável é uma prioridade para estabelecer uma vantagem
competitiva nacional.
• O acesso selectivo a um amplo leque de oportunidades de instrução e formação
para os diplomados do ciclo de ensino básico é necessário para complementar os
investimentos no ensino básico.
52. Passar os limiares do capital humano e caminhar para um nível mais elevado de
desempenho económico exigirá quase sempre “investimentos ambiciosos na educação”
(Bethélemy, 2006), em conjunção com melhorias na eficiência de afectação desses
investimentos, garantindo assim a qualidade e a distribuição igualitária do ensino. Em
alguns países pode ser possível reordenar as prioridades das despesas públicas e das
afectações acrescidas à educação para garantir um amplo acesso a ensino básico de
qualidade e um desenvolvimento de oportunidades de ensino e formação posteriores,
consistentes com as exigências em crescimento dos modernos sectores industriais e de
serviços da economia. Mas em muitos países os recursos adicionais só estarão disponíveis
à medida que o crescimento económico se acelerar e os recursos públicos e privados para
o desenvolvimento da educação se tornarem mais abundantes. Nesse ambientes, as
melhorias de eficiência da utilização dos recursos disponíveis terá de ser um factor chave
impulsionando o desenvolvimento do ensino secundário.
74
macroeconómicas e políticas criam um ambiente favorável, os investimentos no ensino
secundário podem ajudar a acelerar o crescimento económico.
75
Será que alguém se lembra de quando os
tempos não eram difíceis e o dinheiro não
escasseava?
- Ralph Waldo Emerson
Capítulo 5
76
desafios em termos de inscrições e exigem diferentes respostas políticas. A seguir,
discute a magnitude do desafio financeiro sob várias perspectivas e analisa o modo como
os mais importantes elementos relacionados com os custos – salários dos professores,
colocação dos professores, despesas não relacionadas com salários, políticas de
alojamento, fornecimento de infra-estruturas e estrutura dos fornecimentos – podem
afectar as necessidades totais em matéria de recursos. Finalmente, o capítulo examina o
modo como o ensino secundário, em grande parte da ASS, está a ser financiado através
de uma rede entrelaçada de recursos públicos e privados, e conclui com um resumo dos
desafios e das opções de financiamento que os países podem pretender ter em
consideração. Fica entendido, evidentemente, que, embora essenciais, as reformas
financeiras não são suficientes, devendo ser acompanhadas por mudanças nos conteúdos
que são ensinados e no modo como o sistema é gerido, como irá ser discutido nos três
próximos capítulos.
Explosão na Procura
4. O aumento das inscrições no ensino secundário é função do aumento do número
de crianças em cada coorte etária, da proporção das que terminam o ensino primário, da
percentagem que é admitida no ensino secundário e do seu progresso nesse nível de
ensino. A pressão da procura está a intensificar-se nos sistemas secundários em quase
toda a parte à medida que o número de crianças que terminam a escola primária aumenta
rapidamente e que uma maior proporção pretende inscrever-se em escolas secundárias.
39
A proporção de crianças que completam o ensino primário na idade oficial; na prática, este número é
calculado dividindo o número total de não-repetentes no último grau do ensino primário pelo número total
de crianças na idade oficial de o completarem.
40
Nos 33 países da ASS com rendimento baixo (RNB inferior a 885 dólares).
41
A proporção das crianças de 0-14 anos em comparação com a população de 15-64 anos.
77
Figura 5.1 Rácio de dependência dos jovens* em Países e Regiões populosos (%), 2005
120
104 97
Rácio dependência d 100
81 80 80
jovens (%) 73
80
60 48 50 46 44
40 32 31
24
20
s
ad ngo
r
D. da
sia
do
a
UE
C
do ina
l
Àf nia
a
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Su
di
ri
AL
AS
R. an
ni
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ás
Ín
Co
gé
Ch
ué
sU
Ug
ag
dó
ric
Ni
In
M
ta
Es
Fontes: Estimativas SEIA *O rácio de dependência dos jovens (%) é o quociente de jovens dependentes
(Dados População do Banco Mundial) (0-14 anos) pela população activa (15-64 anos) (expresso aqui como %).
42
Benim, Camarões, Madagáscar, Mali, Mauritânia, Moçambique, Níger, Ruanda, Senegal, Togo.
78
Os Cenários B2 e B3 mantêm as actuais taxas de transição e de conclusão no secundário
de segundo nível para diferentes níveis de conclusão do secundário de primeiro nível. O
Cenário C reflecte uma decisão política de restringir o acesso ao ensino secundário de
segundo nível. Nesta base, Mingat (2004) calcula os níveis de inscrições resultantes de
uma taxa de acesso ao ensino primário de 100% para diferentes níveis de inscrição no
secundário. Constata que, às actuais taxas de transição entre o primário e o secundário
(63%) e de inscrição no primário (100%), o número de alunos das escolas secundárias de
primeiro nível seria 3,7 vezes superior ao do ano base. A universalização do acesso
implicaria a multiplicação das inscrições no ensino secundário de primeiro nível por 6 –
variando entre 2,4 no Togo e 18,1 no Níger – e no ensino secundário de segundo nível
por 12 – variando entre 5 e 41 nos mesmos países.
8. Lewin (2006) também calcula diferentes cenários para estimar a magnitude dos
aumentos de inscrição em 38 países da ASS para os quais existem dados disponíveis,
chegando a números igualmente assustadores. Eis as suas conclusões:
• Para universalizar o ensino secundário de primeiro nível, será necessário aumentar
o número total de vagas no ensino primário em mais de 30% até 2015, em cerca
de 70% dos países do grupo estudado. Na maior parte dos países com baixas
inscrições, o número de lugares terá, no mínimo, de duplicar.
• Só onze países têm probabilidade de universalizar o ensino secundário de
primeiro nível se a taxa máxima sustentável de aumento nas inscrições nesse nível
for de 10% ao ano (Seychelles, África do Sul, Cabo Verde, Botswana, São Tomé
e Príncipe, Namíbia, Maurícias, Togo, Gana, Zimbabwe, Suazilândia e Lesoto); se
a taxa máxima estabelecida for de 5%, só cinco atingirão essa meta (Seychelles,
África do Sul, Cabo Verde, Botswana, Maurícias).
• As exequibilidades dependerão da prioridade nacional atribuída ao aumento no
acesso aos níveis primário e secundário, dos recursos disponíveis e dos custos de
expansão; mas as metas para o ensino secundário de primeiro nível atingíveis e
equilibradas com outras prioridades sectoriais poderão ter de ser estabelecidas em
menos de 100% do GER.
• A maior parte dos países terá dificuldade em manter as taxas de transição do
primário para o secundário se todos os estudantes do primário completarem o
último ano desse nível de ensino. Metade dos países do grupo estudado só será
capaz de atingir essa meta se as inscrições no ensino secundário de primeiro nível
crescerem a uma média de 10% ao ano até 2015. Ora, pode esperar-se um
aumento das inscrições mesmo que as taxas de transição do primário para o
secundário diminuam durante algum tempo.
• No que toca ao aumento das inscrições, taxas constantes superiores a 10% serão
difíceis de sustentar. Com um aumento de 15% ao ano, seria necessário criar
todos os anos mais uma sala de aula em cada escola com seis salas de aula. As
despesas recorrentes também aumentariam a esse ritmo a menos que se
registassem alguns ganhos de eficiência em custos unitários mais baixos, tendo de
ser financiadas por taxas semelhantes de crescimento nas despesas com o ensino
secundário.
79
Desafios políticos: cinco cenários diferentes
9. O resumo das conclusões destas análises esconde até que ponto as diferentes
condições iniciais têm como resultado os desafios muito diferentes que os sistemas
enfrentam no que toca às inscrições. A estimativa de Mingat (2004), segundo a qual o
número de crianças que completaria o primeiro ciclo em 2015 seria 2,7 vezes superior em
média ao de 2001, mascara a variação considerável entre países, sobretudo em função das
actuais taxas de inscrição e de conclusão do ensino primário. Em alguns países, o número
de crianças que completará a escola primária em 2015 – partindo do princípio de que se
atinge a meta da EFA de 100% de conclusão – não chegará ao dobro do nível actual:
Uganda (1,7), Gana ou Togo (1,8), Quénia ou Malawi (1,9). Noutros países, espera-se
que o número quadruplique: Etiópia (4,1), Sudão ou Guiné-Bissau (4,2), Chade ou
República Centro-Africana (4,4), Burundi (4,6), Mali (4,9), Angola (5,0), Burkina Faso
(5,6), ou Níger (7,9). As inscrições no ensino secundário de primeiro e segundo níveis
variam ainda mais consoante as condições iniciais e as hipóteses em matéria de transição.
Dada esta grande variação nas taxas de inscrição no ensino primário, os aumentos no
número de diplomados desse nível de ensino que se pode esperar e a actual capacidade de
inscrição no ensino secundário, as prioridades políticas para o desenvolvimento do ensino
e o lugar que o ensino secundário ocupa variarão imenso consoante os países.
80
Figura 5.3: Padrões de Inscrições na África Subsaariana
300
3
3. GER1 Alto
150
GER2 Médio
1
50
5 5. GER1 Baixo
GER2 Mt.Baixo
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Grau
11. O terceiro grupo também possui GER primários de mais de 100% e retém a
maioria dos estudantes até ao fim do ensino primário, mas possui níveis médios ou baixos
de ensino secundário de primeiro nível (30%-40%). O grupo inclui a Nigéria, o Benim e
os Camarões. Estes países possuem taxas em rápido crescimento de diplomados da escola
primária. O grupo é ilustrativo dos países que ultrapassaram as elevadas taxas de
abandono do ensino primário que caracterizam o segundo grupo. Em geral, será
necessária uma expansão significativa da admissão no ensino secundário para inscrever
mais de 50% das crianças em idade escolar no secundário de primeiro nível.
12. O quarto grupo possui GER primários baixos (entre 80 e 90%) e todos os países
possuem baixas taxas de inscrição no secundário de primeiro nível. O grupo inclui o
Gana, a Gâmbia, a Zâmbia, as Comores, a Costa do Marfim e o Congo. Inscrevem cerca
de 90% das crianças elegíveis, mas todos possuem taxas substanciais de abandono. A
conclusão universal do ensino primário resultaria num aumento de 60% ou mais no
número de crianças que saem da escola primária.
13. O quinto grupo possui o GER primário mais baixo (inferior a 85% em todos os
países) e todos têm GER secundários do primeiro nível muito baixos (inferiores a 30%).
O grupo inclui a Guiné, a Tanzânia, a Guiné-Bissau, o Mali, a Etiópia, o Níger, o Burkina
Faso, o Senegal, o Burundi e o Chade. Possuem valores muito baixos de inscrição no
grau 1 do ensino primário e no GER primário, sugerindo que muitas crianças não
conseguem entrar. Se as taxas de admissão se mantiverem baixas, o número de crianças
que completam a escola primária aumentará para menos do dobro do actual nos próximos
6 anos. Para que se atinja 50% do GER no secundário de primeiro nível, será necessária
uma expansão em massa.
81
14. Serão necessárias diferentes estratégias em diferentes países, que reflictam as
diferenças nas condições iniciais. É importante referir que os países dos Grupos 4 e 5
poderão vir a assemelhar-se aos do Grupo 2 se os esforços no sentido de um rápido
aumento das taxas de inscrição e de conclusão do ensino primário forem bem sucedidos.
Os países do Grupo 3 estão mais perto da universalização do ensino primário e o desafio
que terão de enfrentar na expansão das inscrições no ensino secundário de modo a estar à
altura do aumento das saídas do primário poderá ser menor.
Necessidades financeiras
16. Em última análise, o factor mais determinante do crescimento das inscrições no
ensino secundário talvez seja a capacidade de os governos e pais o pagarem. Projecções
de Lewin (2006), de Mingat (2004) e de Lewin e Caillods (2001) concluem que, na maior
parte dos países da ASS, o actual nível de despesas públicas por estudante impede
aumentos significativos das taxas de participação no secundário, sobretudo porque os
custos directos e indirectos do ensino secundário não podem ser suportados pelos pais
que se encontram nos escalões mais baixos de rendimento. A aritmética básica é fácil e
está resumida a seguir.
O custo da expansão
17. Em países onde o GER secundário é inferior a 15% (ou seja o Burkina Faso, o
Burundi, a Tanzânia), aumentos de 60%, por exemplo, na participação no nível
secundário, sem a realização de reformas, exigiriam uma quadruplicação das verbas
afectadas ao secundário, susceptíveis de absorver recursos próximos de metade do
orçamento para o ensino público. Uma situação destas afigura-se impossível, sobretudo
onde existem compromissos com os programas EFA e Fast Track Initiative (FTI)
destinados a proteger as despesas com o ensino primário e a assegurar a preparação para
um ensino posterior com uma qualidade aceitável.
82
Tabela 5.1 Cenário de expansão do ensino secundário
GER primário 110%; GER do secundário de 1º nível 60%; GER do secundário de 2º nível 30%
Sec. 1º Sec. 2º
Primário nível nível Outros Total
Rácio Aluno/professor 44 30 20
Salários dos professores /PNB/capita 4,6 6,6 9,3
Salários de não-docentes /PNB/capita 0,4 1,5 2,7
Despesas excluindo salários /PNB/capita 0,4 1,5 2,7
Salários dos professores como % do total
recorrente 85% 69% 63%
Custo unitário total % PNB /capita 12% 32% 74%
% no orçamento do ensino superior + outro
ensino 20%
% PNB necessária 2,43% 1,73% 1,54% 1,14% 6,84%
Fonte: Lewin 2006
18. Lewin (2006) ilustra a magnitude das necessidades financeiras para a expansão
do ensino secundário, estimando os fundos necessários à concretização de diferentes
metas de inscrições com base no custo por aluno enquanto % do PNB per capita, o
número de alunos no grupo etário enquanto proporção da população total, e as taxas de
inscrição desejadas, utilizando valores característicos da ASS para os rácios
aluno/professor, salários do corpo docente e do pessoal não-docente e outros gastos não
salariais como percentagem do PIB, para grupos etários escolares enquanto percentagem
da população total. Nesta base, os recursos necessários para aumentar o GER primário até
110% (um nível necessário para assegurar a inscrição universal e conclusão com 10% de
repetência), o GER secundário do primeiro nível até 60% e o GER secundário de segundo
nível até 30% são calculados como se mostra na tabela 5.1. Na ausência de reformas
políticas e partindo-se do princípio de que 20%43 do orçamento para a educação é
afectado ao ensino superior e a outros subsectores mais pequenos, isto exigiria mais de
6,8% do PIB ou cerca de mais 3 pontos percentuais do que a média da ASS, de cerca de
3,90%, em 2001 (Lewin 2006)44. É mais do que a média dos países desenvolvidos (5,1%)
e afigura-se irrealista para os países da ASS, para os quais os valores pontos de referência
da FTI para as receitas públicas totais (excluindo subsídios) se situam entre 14-18% do
PIB (Bruns et al., 2003).
19. Este tipo de análise proporciona-nos uma noção da magnitude do desafio, mas
não ilustra a variação considerável entre países que já foi referida anteriormente e que se
aplica quer às questões financeiras quer a muitos outros indicadores.
43
O trabalho sectorial indica realmente variações muito amplas nas afectações ao ensino superior, desde
mais de 40% a menos de 10%. Segundo Brossard e Foko (2006), a afectação mediana situa-se em torno dos
20%. É frequente os gastos com os serviços centrais e descentralizados não serem atribuídos por nível. As
afectações a subsectores além do ensino primário, secundário e superior variam amplamente consoante os
países, absorvendo, geralmente, pequenas proporções do orçamento total para a educação.
44
O GMR da UNESCO (2005) fornece uma mediana de 3,4% do PNB para as despesas com a educação
num conjunto incompleto de dados. Para países com um PNB per capita inferior a 1500 dólares, a média é
de 3,9%. O GMR da UNESCO (2006) fala de um nível mediano de despesas de 4,6%.
83
Projecções específicas por país
20. Mingat (2004) aborda este assunto fazendo uma projecção das necessidades em
recursos, por país, para 2015, para uma amostra de 10 países45 (Tabela 5.2). A sua análise
baseia-se em duas hipóteses para o aumento das inscrições: (i) manutenção aos níveis
actuais da taxa de transição entre o ensino primário e o ensino secundário de primeiro
nível, e entre este e o ensino secundário de segundo nível; e (ii) aumento gradual da taxa
de transição do ensino primário para o secundário até 100% em 2015, mantendo-se aos
níveis actuais a taxa de transição entre o ensino secundário de primeiro nível e o de
segundo. Junta a estes cenários de inscrição hipóteses acerca do custo por estudante,
expresso em unidades de PIB per capita: (i) manutenção aos níveis de 2001 do custo
unitário para o ensino secundário de ambos os níveis em cada país; (ii) fixação do custo
unitário para o ensino secundário de primeiro nível em 20% do PIB per capita (um valor
situado no terço inferior da distribuição) num dos cenários, e em 40% noutro; (iii) fixação
do custo por estudante no ensino secundário de primeiro nível em 40% do PIB per capita
num primeiro caso e em 80% (um valor situado aproximadamente no terço superior da
distribuição, na amostra) num segundo.
Total 1,7 1,17 2,35 2,79 1,87 3,74 1,1 0,69 1,38 1,91 1,19 2,38
Fonte: Mingat 2005
21. Como mostra a Tabela 5.2, a manutenção aos níveis de 2001 das taxas de
transição e dos custos unitários (UC) implicaria, em 2015, uma afectação de 1,7% do PIB
ao ensino secundário de primeiro nível e de 1,1% ao ensino secundário de segundo nível,
totalizando 2,8% do PIB, por comparação com uma média, em 2001, de 0,75%, 0,67% e
1,42%46, respectivamente.47 Por outras palavras, partindo-se do princípio de que se
alcança em 2015 a meta do EFA de conclusão universal do ensino primário, o impacto de
45
Benim, Camarões, Madagáscar, Mali, Mauritânia, Moçambique, Níger, Ruanda, Senegal, Togo.
46
Trata-se de médias características da ASS calculadas por Lewin (2006).
47
Mas, mais uma vez, são significativas as variações entre os países. Em 2001, a despesa pública com o
ensino secundário enquanto % do PIB era de 0,59% no Ruanda, mas atingia 0,91% e 0,99% nos Camarões
e Mali, respectivamente (tabela 5.3).
84
“nenhuma mudança” nas taxas de transição traduz-se, no mínimo, por uma duplicação da
parte que as despesas públicas com o ensino secundário representam no PIB. Como é
óbvio, eventuais aumentos das taxas de transição e do custo por estudante acentuarão o
desafio, ao passo que as reduções do custo por estudante poderão mitigá-lo. Uma
combinação do cenário de elevado custo por estudante, acesso universal ao ensino
secundário de primeiro nível e taxas de transição inalteradas requereria 6,12% do PIB,
mais de quatro vezes superior à actual proporção e 50% superior à parte que todo o sector
do ensino representa actualmente nas despesas públicas.
23. Como é evidente, é possível construir um número quase infinito de cenários com
base em diferentes hipóteses quanto às taxas de transição e custos unitários. Porém,
destacam-se dois aspectos:
48
Em 2002, no Níger, o custo por estudante era no ESJ, de 66 344 Francos CFA (49% PIB p.c.) e, no ESS,
de 213 969 Francos CFA (157% PIB p.c.), CSR, Região África, Banco Mundial, 2004.
85
Encargos Salariais com os Professores
24. Os encargos salariais com os professores são a principal determinante do custo
do ensino secundário (Tabela
5.3). O peso dos encargos Tabela 5.3 Determinantes do custo dos
salariais é determinado pelo professores
nível do salário do professor em (dados típicos de 2001) PE ESJ ESS
relação ao PIB per capita, pela Rácio Aluno/professor 44 30 20
capacidade de o governo gerar Salários dos professores /PNB/capita 4,6 6,6 9,3
receitas e pela parte que a Salários de não-docentes /PNB/capita 0,4 1,5 2,7
educação representa no Despesas excluindo salários /PNB/capita 0,4 1,5 2,7
orçamento, bem como pela Salários dos professores como % do
total recorrente 85 69 63
eficiência na utilização dos
professores, indicada pelo rácio Fonte: Lewin 2006
aluno/professor e classe-professor. Em alguns países, os salários dos professores são
demasiado altos para permitir o desenvolvimento do ensino secundário sem comprometer
a qualidade da instrução; noutros, os níveis salariais dos professores são tão baixos que
afectam a sua motivação, forçando-os a terem segundos empregos e causando graves
problemas de absentismo. Contudo, na maior parte dos países, o desafio mais importante
é a eficiência na utilização dos professores.
20
15
UIS, os rácios médios
aluno/professor na região
10
rondam os 30:1 no ensino
5 secundário de primeiro nível
0 e os 22:1 no secundário de
0 100 200 300 400 500 600 700 800 segundo nível. Mas estas
Nº Alunos médias escondem amplas
86
26. As diferenças também podem ser muito grandes no interior dos países. Na
Zâmbia, por exemplo, 22% das escolas possuem rácios aluno/professor inferiores a 15:1 e
60% das escolas possui rácios inferiores a 20:1. No Gana, 42% das escolas secundárias
de segundo nível possui rácios inferiores a 15:1 e 21% inferiores a 10:1 (Lewin, 2005). A
Figura 5.4 indica a dispersão da colocação de professores nas escolas no Malawi. Como é
óbvio, uma redução da variação – frequentemente aleatória – dos rácios aluno/professor
entre escolas é importante para reduzir o impacto educacionalmente indesejável de rácios
aluno/professor muito elevados.
Tabela 5.4: Cargas Lectivas em países seleccionados da OCDE e nos países WEI (2003)
Ensino Ensino Ensino Ensino
País secundário de secundário de País secundário de secundário de
1º nível 2º nível 1º nível 2º nível
Nova
Zelândia 24,8 25,0 Jordânia 22,5 22,5
Escócia 23,5 23,5 Malásia 19,5 19,5
Irlanda 22,3 22,3 Paraguai 21,4 24,1
Estados
Unidos 31,3 31,1 Peru 32,5 32,5
Média da
OCDE 18,9 18,8 Filipinas 29,4 29,4
Argentina 23,7 23,7 Rússia 27,0 27,0
Brasil 23,6 23,6 Tailândia 16,3 16,3
Chile 20,0 20,0 Tunísia 18,3 18,3
Egipto 21,6 21,6 Uruguai 11,9 11,9
Índia 20,8 20,8 Zimbabwe 25,8 25,8
Indonésia 16,8 16,8 Média dos
Jamaica 25,0 25,0 WEI 21,8 21,55
Fonte: UIS-OCDE, 2005
28. Mulkeen et al. (2004) mostram a que ponto a colocação de professores no nível
secundário se complica devido à especialização dos professores. Os professores
costumam ser especialistas numa ou duas disciplinas, e é frequente haver escassez em
49
Gana, Etiópia, Tanzânia, Guiné, Madagáscar e Uganda
50
Ver nota de rodapé 6, capítulo 4, para uma descrição sucinta do projecto WEI
87
domínios específicos, como ciências e matemática. Os investigadores descobriram que,
no Gana, 40% dos professores ensinam menos de 18 períodos (quase metade ensinam
menos de 11), ao passo que 20% parecem ter alargado os seus períodos lectivos para 25-
35. Do mesmo modo, no Quénia, Rajkumar e Onsomu (2004) descobrem
simultaneamente excedentes de professores em algumas escolas e disciplinas e escassez
noutras. A subutilização pode ter várias razões: (a) as escolas têm poucos alunos inscritos
e não dispõem de períodos lectivos suficientes para uma carga lectiva completa; (b) os
professores só estão a ensinar uma disciplina, em vez de duas ou três; ou (c) oferecem-se
poucas aulas na(s) disciplina(s) que os professores estão qualificados para ensinar.
29. Os problemas são mais evidentes em escolas pequenas que, muitas vezes, são
lançadas sem orientações políticas claras para um funcionamento eficiente. No Quénia,
por exemplo, existem 650 escolas num total de 3800, com um número de estudantes
inscritos no 1º ano do secundário de segundo nível inferior a 25 (Rajkumar e Onsomu,
2004); no Gana, 16% das escolas secundárias de segundo nível não chegam a ter 100
alunos inscritos (Akyeampong, 2005); o Senegal e a Guiné estão a abrir pequenas escolas
secundárias de primeiro nível nos bairros (collèges de proximité) sem uma estratégia
clara para o seu funcionamento eficiente. Os currículos que oferecem um grande número
de disciplinas opcionais para as quais, muitas Caixa 5.1 Aumentando a eficiência na
vezes, há poucos estudantes não podem ser utilização de professores no Quénia
implementados eficientemente em escolas Um estudo de 2004 do Banco Mundial previu que
seria possível um aumento de 50% nas inscrições
pequenas, sobretudo quando os professores no secundário (graus 9-12) sem aumentar o
não estão preparados para leccionar diversas número de professores por meio de:
disciplinas. A rigidez administrativa • Aumento da carga lectiva oficial de 18 para
exacerba amiúde esses problemas ao não 25 horas semanais;
encorajar ou até mesmo ao impedir a • Utilização de professores a tempo parcial
para disciplinas que só são ensinadas alguns
contratação de professores em tempo parcial períodos por semana;
(remunerados com base no número de horas • Aumento das dimensões das turmas de uma
leccionadas) para as disciplinas que só são média de 36 para cerca de 45;
ensinadas umas horas por semana ou a • Expansão das escolas existentes para três
partilha de professores entre escolas fieiras paralelas no mínimo;
• Partilha de professores pelas escolas;
próximas ou o estabelecimento de uma • Estabelecimento da dimensão mínima das
exigência de um número mínimo de turmas para disciplinas opcionais;
inscrições antes de se poder oferecer uma • Estabelecimento de um nível mínimo para a
determinada disciplina. Em consequência carga lectiva de cada professor;
destas ineficiências na colocação de • Limitação do tempo atribuído a tarefas
administrativas.
professores, é frequente os baixos rácios Fonte: Rajkumar, 2004
professor-aluno não se traduzirem em turmas
pequenas. Na Zâmbia, por exemplo, o rácio médio é de 1:22, mas a dimensão média das
aulas é de 1:39 (CIDT, 2005). Além disso, as implicações financeiras podem ser
substanciais. No Quénia, por exemplo, uma reforma abrangente de vários aspectos da
política de colocação de professores poderia permitir um aumento das inscrições no
secundário de cerca de 50% sem aumentar o número de docentes (Caixa 5.1).
88
Nível salarial e PIB per capita
30. Os níveis salariais médios calculados para uma amostra de 17 países (Mingat
2004) aumentam à medida que se eleva o nível do ensino: desde 4,6 vezes o PIB per
capita no primário, passando por 6,6 vezes o PIB per capita no secundário de primeiro
nível até 9,3 vezes o PIB per capita no secundário de segundo nível. É considerável a
variação em torno da média. Em Moçambique, o salário de um professor qualificado do
secundário de primeiro nível é de 13,1 vezes o PIB per capita e o de um professor do
secundário do segundo nível com mestrado atinge 27,2 vezes o PIB per capita51. Na
República Democrática do Congo, por outro lado, esses múltiplos são 3,6 e 3,8
respectivamente. A Figura 5.5 fornece dados referentes ao ensino secundário de primeiro
e segundo níveis para um número escolhido de países da ASS.
31. Nos países onde são um múltiplo muito elevado do PNB per capita, os níveis
salariais impedem efectivamente a expansão do sistema a um nível razoável de qualidade.
Nesses países, talvez seja inevitável limitar os aumentos salariais dos professores ou
recrutar docentes com qualificações formais inferiores. Lewin (2006) estima que uma
redução salarial da actual média da ASS para 3,5, 4,5 e 6 vezes o PNB per capita, poderia
traduzir-se numa diminuição de 25% no orçamento total para a educação. É óbvio que a
redução dos salários para esses níveis geraria poupanças ainda maiores nos países onde,
presentemente, se praticam níveis salariais superiores à média.
Figura 5.5: Salários professores ESJ e ESS como Múltiplos do PIB p.c., últimas datas
disponíveis (1998-2004)
14
12,1 ESJ ESS
12
10,2 9,8
10
sal. prof./PIB p.c.
0
Togo
Moçambique
Mada
Chad
Níger
Ruanda
Zâmbia
Mali
Fonte: Estimativas SEIA; Estudos Sector Educação (CSRs); Indicadores Desenvolv. Mundial BM
51
Na verdade, existe uma mistura de professores com diferentes qualificações nas instituições do
secundário de segundo nível. A Figura 5.5 reflecte o salário médio para esta mistura.
89
revisão desta matéria)52. Também vale a pena ter presente que, na maior parte dos países
(o Senegal é um exemplo), estas funções atraem muitos candidatos com boas
qualificações gerais. Com efeito, perante as fracas perspectivas de emprego em sectores
modernos, muitos diplomados do ensino secundário estão dispostos a ensinar a troco de
salários relativamente baixos. No Senegal, candidatam-se cerca de 30 pessoas a cada
vaga disponível, a que corresponde um terço do salário do professor da função pública.
No Mali e no Chade, os professores do ensino primário contratados pelas comunidades
estão dispostos a trabalhar por metade do salário oficial. No Chade, 44% dos professores
primários são pagos por associações de pais e professores (APP) e trabalham por um
salário equivalente a um terço do RNB per capita ou menos (por vezes 9%).
52
Estes dados referem-se sobretudo aos países francófonos de custo elevado; com efeito, os salários dos
professores contratados são equivalentes ou melhores que em muitos países anglófonos.
53
As “escolas secundárias abertas” dão aulas de Grau 8 e 9 numa base não-oficial – não estão registadas
oficialmente nem são financiadas pelo governo. Essas aulas costumam ser dadas de manhã, juntamente com
os Graus 1-7, e os professores que participam recebem um suplemento salarial. (Bennell et al., 2005)
54
Em 2005, o dólar americano equivalia a 4 464 kwachas zambianos (Fonte: WB World Development
Indicators and Global Development Finance).
55
As Unidades de Produção Académica (APU ) existem num terço das escolas secundárias públicas e são
oficialmente sancionadas e reguladas pelo ministro da Educação da Zâmbia. Oferecem sessões à tarde e
aceitam alunos que não encontram lugar nas escolas do governo. As propinas das APU pagas pelos
estudantes complementam os salários dos professores das APU, que participam voluntariamente. Ver caixa
2.2.
56
São os países que participam no programa Indicadores Mundiais de Educação (WEI) da UIS/OCDE
90
primário. A Suíça é o único país da OCDE com um múltiplo igual ou superior a 1,4
vezes.
35. O enquadramento indicativo proposto por Bruns et al. (2003) para o ensino
Tabela 5.5 : Salários iniciais dos professores como múltiplo primário sugere um salário de
dos salários dos professores primários professor de 3,5 vezes o PNB
País ESJ ESS País ESJ ESS per capita – reflectindo a
realidade de que, nos países
Argentina 1,37 1,37 Malásia 1,46 1,46
com rendimentos baixos, os
Brasil 1,21 1,74 Paraguai 1,56 1,56 salários dos professores
Chile 1,00 1,00 Peru 0,99 0,99 representarão múltiplos do PIB
Egipto 1,00 Filipinas 1,00 1,00 mais elevados do que nos
países de rendimentos médios e
Índia 1,22 1,48 Sri Lanca 1,00 1,27
elevados. Se os múltiplos do
Indonésia 1,00 1,04 Tailândia 1,00 1,00 ensino primário/secundário dos
Jamaica 1,00 1,00 Tunísia 1,27 1,55 países de rendimento médio se
Jordânia 1,00 1,00 Uruguai 1,00 1,09
aplicassem aos valores de
referência da FTI, haveria
Fonte: UIS-OCDE, 2005; 2002. salários equivalentes a 4 vezes
o PNB per capita no secundário de primeiro nível e a 5 vezes o PNB per capita no
secundário de segundo nível.
• Contratar professores fora da função pública. Esta estratégia está a ser posta em
prática de diversas maneiras. Em muitos países (por exemplo, Quénia, Chade e
Mali), é frequente as comissões de gestão das escolas ou as APP contratarem
directamente professores com remunerações consideravelmente inferiores aos
salários oficiais. Noutros países, os governos recrutam professores como
trabalhadores contratados em vez de funcionários públicos, amiúde com salários
significativamente muito inferiores aos das tabelas salariais formais. No Mali, os
professores contratados e temporários representam 11% do pessoal nas escolas
secundárias de primeiro nível e 28% nas escolas secundárias de segundo nível. No
Benim, 72% dos professores das escolas secundárias públicas são professores
contratados ou temporários. O Senegal e o Burkina Faso estão a implementar
políticas semelhantes. Mesmo sem políticas formais, muitos países estão a
contratar professores sem formação; no Uganda, estes professores representam
15% do corpo docente do ensino secundário.
91
• Reduzir a duração da formação pré-serviço. Esta estratégia costuma permitir o
recrutamento de professores num ponto de partida inferior na tabela salarial da
função pública. Moçambique, por exemplo, planeia formar professores para o
ensino secundário de primeiro nível num programa de um ano a seguir ao ensino
secundário, em vez de num programa de três ou cinco anos na “Universidade
Pedagógica”.
• Colocar professores primários qualificados a ensinar os graus iniciais dos
programas do secundário de primeiro nível. Esta estratégia é característica dos
países com um ciclo de ensino básico longo (8 anos ou mais) em que os
professores das escolas primárias costumam ensinar nos primeiros anos do
secundário. São exemplos o Quénia, com um ciclo de 8 anos, e a Zâmbia, com um
ciclo de 9. No entanto, esta situação também pode ser imposta por um aumento
das inscrições no ensino secundário, que exceda a capacidade nacional de formar
e empregar professores; por exemplo, a escassez de professores do ensino
secundário forçou Moçambique a uma situação em que 80% dos professores do
secundário de primeiro nível receberam formação como professores primários. Do
mesmo modo, no Uganda, só 28% dos professores do ensino secundário possuem
qualificações formais para ensinar esse nível (Mulkeen et al., 2004).
• Conceder aumentos salariais inferiores ao crescimento do PIB nominal. É
provável que esta estratégia tenha sido a maneira mais comum de reduzir o peso
dos encargos salariais. Segundo Mulkeen et al. (2004), entre 1980 e 1990, os
salários dos professores em países como o Botswana, o Burkina Faso, o Burundi,
a Gâmbia, a Guiné, o Malawi e as Seychelles diminuíram 45% ou mais como
múltiplo do PIB per capita. Em países onde o PIB está a aumentar, talvez seja
possível conceder aos professores aumentos salariais que compensem a inflação
mas que não reflictam (plenamente) o crescimento real do PIB e das receitas
públicas.
“As turmas mais pequenas têm um efeito observável apenas nos casos em que o
pessoal docente parece ter uma fraca capacidade média. No Japão e em Singapura,
não se evidenciaram quaisquer efeitos da dimensão das turmas mas antes um
desempenho global elevado, porque ambos os países possuem um corpo docente
57
Ver capítulo 2, nota de rodapé 4.
58
Os estudantes de Ciência do 8º grau de Hong Kong ficaram em 17º lugar entre os 40 países participantes.
92
capaz. Na Grécia e na Islândia, evidenciaram-se efeitos da dimensão das turmas e
baixo desempenho pois o corpo docente é relativamente menos competente. Por
conseguinte, talvez seja melhor política dedicar recursos à contratação de professores
mais competentes do que à redução das dimensões das turmas” (p. 29)
38. Trata-se de uma sugestão que muitos países africanos podem querer analisar
enquanto reflectem nas formas de expandir o acesso a um ensino secundário de qualidade
aceitável. Uma política de professores que resulte num corpo docente competente, com
um nível de remuneração sustentável a partir dos recursos nacionais (possivelmente 4,75
a 6,25 vezes o PNB per capita59), cuja colocação seja eficiente e que leccione uma carga
completa de cerca de 30 horas a turmas com cerca de 40 alunos será, provavelmente, um
elemento crucial no pacote de reformas para o ensino secundário na maior parte dos
países da África Subsaariana.
39. Em países em que os salários dos professores são múltiplos elevados do PIB per
capita, o impacto da mitigação dos aumentos salariais pode ser substancial. Lewin (2006)
concebe um cenário para o aumento do rácio bruto de inscrições no ensino secundário de
primeiro nível para 60% (a partir dos actuais 26%). Na ausência de reformas, este cenário
resultaria num aumento nas despesas com o ensino secundário de primeiro nível de
0,75% do PIB para 1,75%; com reformas que fixassem os salários dos professores em 4,5
vezes o PNB per capita (em vez de 6,6) e um aumento no rácio aluno/professor para 35
(em vez de 30), a parte do PIB destinada a financiar o aumento das inscrições no
secundário de primeiro nível diminuiria para 1,19%. Por outras palavras, a taxa bruta de
inscrições poderia duplicar com um aumento de pouco mais de 11% nas despesas totais
com o ensino; na ausência de reformas, os gastos com o ensino teriam de aumentar 25%
para se atingir a mesma meta. Um aumento das inscrições no secundário de segundo nível
de 13% para 30% resultaria num aumento das despesas com este nível de ensino de
0,67% para 1,57% do PIB; com reformas (que se traduzissem num aumento do rácio
aluno/professor de 20 para 25 e que fixassem os salários dos professores em 6 vezes o
PIB per capita em vez de 9,3), só seriam necessários 0,96% do PIB.
40. Porém, na prática, as substanciais alterações a curto prazo dos salários dos
professores não costumam processar-se sem problemas laborais. Reflectem condições do
mercado, negociações e compromissos públicos, e práticas históricas. Uma expansão
significativa do ensino secundário exigirá geralmente uma combinação de duas coisas. A
produtividade dos professores tem de aumentar mais depressa do que os salários, e onde
quer que eles, como proporção do PIB, sejam muito superiores aos níveis praticados nos
países da ASS com uma elevada taxa de inscrição no secundário, terá de haver
provavelmente um ajuste num espaço de tempo aceitável. Se nenhuma destas condições
for possível, a inscrição em massa no ensino secundário permanecerá insustentável do
ponto de vista financeiro.
59
Ver capítulo 9 para uma análise mais aprofundada.
93
um ensino de qualidade aceitável. Em muitos casos, isto implicará políticas que incluem
diferenciação salarial entre diferentes tipos de professores, incentivos e oportunidades
para o desenvolvimento profissional e um recrutamento descentralizado que responda às
necessidades locais e a prioridades, num envelope orçamental claramente definido. As
reformas são muitas vezes difíceis, mas uma estratégia de inacção perante inscrições
crescentes resulta quase inevitavelmente no recrutamento de um grande número de
professores sem formação ou subqualificados.
44. No ensino secundário, os manuais, sobretudo no segundo nível, são muitas vezes
importados e produzidos a um custo elevado e com especificações de apresentação que
60
Com base num RNB per capita de 745 dólares (actualmente de 2 005 dólares, Banco Mundial) para a
África Subsaariana e um custo unitário de 0,3 vezes o RNB per capita para o ESJ e de 0,7 para o ESS. Se
os custos unitários descessem para 0,2 e 0,4 vezes o RNB per capita, os montantes disponíveis para as
despesas recorrentes não relacionadas com salários desceriam para 20 e 55 dólares respectivamente. No
entanto, para países com um RNB de 400 dólares, os montantes seriam de apenas de 15 a 30 dólares
94
não estão ao alcance de muitos pais e governos da ASS. Em todos os países mais pobres,
os manuais e outros materiais curriculares ou não estão disponíveis ou são escassos, e
grande parte da aprendizagem faz-se na ausência de qualquer material impresso (Read et
al., 2006; Buchan, Foster e Read, 2002). Muitos alunos não dispõem de manuais e tentam
pedi-los emprestados aos amigos, substitui-los por notas tomadas nas aulas ou utilizar
uma cópia da biblioteca da escola, muitas vezes mal abastecida. As Ciências e a
Tecnologia são muitas vezes ensinadas em condições que dificultam um ensino eficaz
(Ottevanger et al., 2004).
45. Em África, muitos currículos do ensino secundário são concebidos com pouca ou
nenhuma atenção às implicações em termos de custos, tanto para os governos como para
os pais. Os requisitos dos manuais resultantes das especificações curriculares para o
ensino secundário variam consideravelmente. Read et al. (2006) descobriram um leque de
6 a 14 títulos para o ensino secundário de primeiro nível. Quando não existem listas de
manuais aprovados a nível nacional, pode haver variações significativas nos requisitos
básicos consoante as diversas escolas do país. Nos casos em que se espera que os pais
comprem manuais, os requisitos especificados pelas escolas são muitas vezes irrealistas
devido aos preços elevados e à pouca disponibilidade. Consequentemente, são poucos os
alunos que chegam a tentar cumprir os requisitos.
47. Os dados da Tanzânia, do Quénia e do Gana sugerem que, com uma gestão
cuidadosa, é possível estabelecer um custo de 4-8 dólares por manual, o que, para um
total de 6-7 livros, implicaria um custo total de cerca de 40 dólares para um conjunto
completo de livros ou de 10 dólares por ano, partindo-se do princípio de que durariam
quatro anos. Mesmo que o custo por aluno, no ensino secundário, descesse para 0,2 vezes
o RNB per capita no ESJ e 0,4 vezes no ESS (ver nota de rodapé 21), a afectação de 15-
20% do orçamento recorrente a manuais e materiais pedagógicos ainda permitiria
melhorias significativas na disponibilidade dos livros. Mas, sobretudo nos países com
rendimentos mais baixos (RNB inferior a 400 dólares), estas melhorias teriam de se
concretizar em conjunto com reformas políticas na edição, aquisição, distribuição e
utilização nas escolas – discutidas mais pormenorizadamente no capítulo 7 – bem como
com uma maior disponibilidade dos fundos que permitissem às escolas facultar o acesso
aos manuais e materiais de referência.
95
Caixa 5.2: Esquemas de aluguer no Lesoto e no Malawi
Desde princípios da década de 1980 até 2005, funcionou no Lesoto um esquema bem-sucedido de aluguer
de livros e de fundos renováveis para manuais da escola primária, quando o governo decidiu fornecer
manuais gratuitos desse nível de ensino. Em 2004, foi concebido e aprovado pelo ME um novo sistema
para manuais do ensino secundário de primeiro nível. Os manuais para esse nível de ensino eram alugados
aos estudantes mediante o pagamento de um montante equivalente a 20% do preço de custo, com base
numa vida previsível do livro de 5 anos.
Em 2000, o Malawi introduziu nas escolas secundárias o aluguer de livros e os fundos renováveis à
disposição da escola com o apoio do Projecto de Ensino da Danida. O esquema baseava-se no
fornecimento às escolas de um financiamento paritário (matching funds) igual à cobrança de taxas de
aluguer aos pais/estudantes. As taxas de aluguer foram estabelecidas a nível nacional, mas cada escola
secundária era responsável pela cobrança e depósito na sua conta bancária e pela segurança dos montantes
acumulados. O sistema foi concebido em estreita ligação com as associações locais de editores e livreiros e
teve repercussões estimulantes em ambas as partes no comércio local de livros. Esperava-se que, ao cabo
de cinco anos deste tipo de apoio (matching funds), as escolas acumulassem um financiamento suficiente
para fazer face às substituições necessárias. O apoio financeiro terminou em princípios de 2002, mas o
sistema de aluguer continuou a funcionar com uma razoável eficácia, pois faculta livros mais baratos e um
melhor acesso dos estudantes aos manuais. Em 2006, 85% dos estudantes do ensino secundário pagaram
as suas taxas de aluguer de livros como parte integrante das propinas totais. Os 15% que não pagam são os
que não podem pagar quaisquer propinas. O sistema de aluguer de manuais está a funcionar razoavelmente
bem, mas muitas escolas canalizam as taxas de aluguer de livros para outros fins e não é possível prestar
contas de cerca de 50% do montante cobrado.
Fonte: Read et al., 2006
50. Para assegurar que todos os alunos têm acesso a materiais impressos, será
necessário limitar os requisitos dos livros, reduzir o custo dos mesmos e conceber
iniciativas baseadas nas escolas, incluindo a reabilitação das bibliotecas escolares,
esquemas de empréstimo/aluguer e de criação de um mercado de livros usados. Estes
assuntos serão discutidos mais aprofundadamente no capítulo 7.
96
Caixa 5.3: Combinar o financiamento governamental e privado para os manuais
• Financiamento governamental para manuais nas zonas rurais; contributos dos pais nas zonas urbanas
(por exemplo, Senegal)
• Financiamento governamental para manuais “fundamentais”; financiamento dos pais para manuais
“não-fundamentais”
• Financiamento governamental para redes de suprimentos subsidiados (safety net supplies);
financiamento dos pais para o resto (por exemplo, Uganda, Gana)
• Financiamento governamental/Doações destinado ao abastecimento inicial de livros; o governo e os
pais substituem-nos e mantêm-nos (por exemplo, sistemas de aluguer no Malawi e Lesoto)
• Concessão de subsídios governamentais para reduzir os custos para os pais (por exemplo, Malawi de
1999 a 2002).
• Membros do movimento Harambee da comunidade para adquirir livros para as bibliotecas, a fim de
ajudar os pais mais pobres (por exemplo, Quénia)
Alojamento
51. Os colégios internos constituem a maioria das escolas secundárias públicas em
diversos países com baixas taxas de inscrição (por exemplo, o Ruanda, o Uganda e a
Tanzânia) e disponibilizam uma minoria de lugares em muitos outros (por exemplo, o
Gana). O alojamento facultativo é comum, sobretudo na ASS anglófona; como pode
duplicar ou triplicar o custo por aluno, resulta em taxas de inscrição muito mais baixas do
que noutras circunstâncias. No Gana, o preço do alojamento cobrado pelas escolas
secundárias em 2002 (135 dólares) representa 60% do total dos custos por aluno no
ensino secundário de segundo nível (Akyeampong, 2005). Na Zâmbia, o custo dos
colégios internos secundários governamentais era quatro vezes superior ao das escolas
diurnas (Bennell et al., 2005). Esta situação contrasta flagrantemente com a África
francófona onde os colégios internos são praticamente desconhecidos. No entanto, são
frequentes as combinações informais com familiares, que permitem aos alunos de zonas
afastadas frequentarem a escola secundária. Os custos decorrentes destas combinações
são suportados pelas famílias, mas são decerto muito inferiores aos custos formais.
52. Em geral, as tradições dos colégios internos são culturais, remontando à época
colonial. Nos países onde persistem, estes estabelecimentos têm sido tipicamente
encarados como capazes de fornecer um ensino de qualidade superior destinado à elite,
mas o seu custo torna-os bastante inadequados como modelo para um ensino de massas.
Se os custos são suportados publicamente, pesam de forma insustentável sobre os
recursos públicos; se são suportados privadamente, criam um obstáculo insuperável à
entrada dos pobres (e mesmo dos que o não são assim tanto). A transição dos colégios
internos para as escolas diurnas pode constituir uma importante fonte de poupança em
termos de custos (Lewin, 2006) e uma condição prévia para a criação de um acesso de
massas ao ensino secundário. Para ser equitativa e bem-sucedida, a estratégia das escolas
diurnas terá de incluir disposições no sentido de um funcionamento rentável das escolas,
mesmo das que possuem um número relativamente pequeno de alunos: um currículo com
escolhas limitadas, flexibilidade no estabelecimento de horários, professores capazes de
leccionar várias disciplinas e orçamentos que possibilitem a contratação a tempo parcial
de professores locais (o Capítulo 7 discute mais pormenorizadamente este aspecto).
97
Desenvolvimento da infra-estrutura
53. A expansão do ensino secundário exige despesas públicas com o
desenvolvimento, destinadas à construção de mais salas de aula, de laboratórios e
oficinas, e de novas escolas, à aquisição de mobiliário, equipamento e materiais
pedagógicos, e à manutenção de uma infra-estrutura de apoio. Os custos estão associados
aos critérios e especificações de concepção e podem variar imenso, sendo geralmente
elevados. Ao mesmo tempo, o rápido aumento no número de alunos está a forçar os
países a adoptarem soluções de emergência. Em Moçambique, por exemplo, as escolas
secundárias estão a apoderar-se das instalações das escolas primárias, que são forçadas a
funcionar ao ar livre ou em diversos turnos. Os turnos duplos ou triplos estão a tornar-se
cada vez mais comuns em muitos países, incluindo, por exemplo, o Senegal, a Guiné e
Moçambique (Capítulo 2, Caixa 2.1)
98
Estrutura dos serviços
56. As alterações no modo como o ensino secundário está organizado e é
disponibilizado podem ter importantes implicações nos custos. Um ciclo primário longo é
amiúde altamente eficaz em termos de acesso e de custos. Equivale a organizar o ensino
secundário de primeiro nível como parte integrante da educação básica e separado do
ensino secundário de segundo nível. O Quénia possui um ciclo de ensino básico de 8
anos. A Zâmbia decidiu transferir os graus 8 e 9 para as escolas primárias. Madagáscar
está a aumentar a duração do ensino primário de 5 para 7 anos. Como o custo por aluno
no ensino secundário de primeiro nível é, em média, três vezes superior ao do ensino
primário, é financeiramente atraente ministrar parte do programa do secundário de
primeiro nível em escolas primárias com parâmetros de custo comparáveis (ou até
ligeiramente superiores) aos das escolas primárias. Uma estratégia deste tipo pode libertar
lugares no secundário, reduzir o custo da infra-estrutura e restringir os encargos salariais.
No entanto, as reformas deste tipo devem ser planeadas com imenso cuidado – incluindo
as reformas curriculares e a actualização dos professores – a fim de evitar um possível
impacto negativo na qualidade. Na Zâmbia (Caixa 5.4), a implementação da actual
reforma tem sido lenta e muitas escolas continuam a oferecer os graus 8-12 não obstante
a política governamental que visa um
Caixa 5.4 Zâmbia: Incorporação do ensino
secundário de primeiro nível no ensino básico
sistema de oito anos de ensino primário
A Política Nacional de Educação de 1996 (NPE) seguido de 3 anos de secundário. Por outro
estipulou que as escolas secundárias deveriam lado, no Quénia, a reforma de 1985 no
adoptar um modelo do tipo Grau 10–12 e que os sentido de um ensino primário de 8 anos
graus 8 e 9 deveriam ser ministrados nas escolas seguido de 4 anos de ensino secundário está
básicas, como “básico superior”. A adopção deste
modelo tem sido lenta pois a percentagem de
neste momento bem estabelecida, embora o
escolas secundárias que o pratica não chega aos saudosismo dos “velhos tempos” e as críticas
16%. Muitas escolas subvencionadas pretendem a um currículo secundário fragmentado e
manter os seus alunos dos graus 8 a 12, pois vocacionalmente orientado apelem de vez
acreditam fervorosamente que as crianças devem em quando a um regresso ao antigo sistema
frequentar a mesma escola secundária durante
cinco anos, pelo menos. Muitas escolas básicas
“7-4-2-3” (Kivuva, 2002).
não possuem professores qualificados e
instalações adequadas para os graus 8 e 9.57. O Gana lançou-se naquilo que talvez
seja a reestruturação mais radical do ensino
Desde a abolição das propinas para o ensino
secundário na região quando, em 1986,
básico médio (graus 5-7) em 2002, as propinas
cobradas aos alunos do básico superior (graus 8 e
substituiu um sistema que fornecia 17 anos
9) tornaram-se significativamente importantes
de ensino pré-universitário à maioria dos
para o financiamento global das escolas básicas.
Fonte: CIDT, (2004); Bennell et al., 2005 alunos (excepto aos que provinham de
famílias relativamente abastadas61) por um
que fornecia a todos 12 anos, aumentou as entradas essenciais e reduziu ou eliminou os
subsídios públicos ao nível secundário e terciário. Um estudo de 2004 das alterações
ocorridas no sistema (Banco Mundial, 2004) revelou melhorias significativas no acesso e
na qualidade. Em 2000, mais de 90% dos ganeses com 15 anos e mais tinham
frequentado a escola, em comparação com 75%, vinte anos antes. Além disso, como as
taxas de abandono diminuíram, aumentaram as taxas de conclusão: em 2003, 92% dos
61
Os filhos dessas famílias frequentavam escolas primárias privadas e não tinham de passar pelo ensino
médio: em 1985, 30% dos alunos que ingressavam no ensino secundário provinham de escolas primárias
privadas, e a maior parte dos restantes do 4º ano da escola média.
99
alunos que se inscreviam no grau 1 completavam o ensino secundário de primeiro nível
(grau 9). Os diplomados do ensino secundário de primeiro nível tinham melhor
aproveitamento do que tinham tido os do ensino médio 15 anos antes, apesar de estes
últimos terem frequentado a escola durante 10 anos e não 962.
Caixa 5.5 Televisão educativa para o ensino 58. Os programas de ensino aberto e à
secundário distância constituem um sistema paralelo que
A Telesecundaria é um programa de televisão por
satélite, no México, que ministra ensino
proporciona oportunidades atraentes de
secundário como parte integrante do sistema expandir o acesso ao ensino secundário a um
nacional. Faculta um pacote completo de apoio a custo razoável. Os materiais impressos de
professores e alunos de zonas rurais remotas. A auto-aprendizagem substituem grande parte
instrução processa-se através de emissões da instrução ministrada em sala de aula,
televisivas, professores e textos. Presentemente,
estão inscritos no programa quase 800 000
reduzindo consideravelmente os custos
estudantes. Os custos equivalem aos das escolas relacionados com professores e infra-
convencionais nas zonas urbanas mais populosas. estruturas. No Malawi, por exemplo, a
Para se candidatarem, as comunidades têm de utilização do ensino por correspondência
dispor de 15 alunos com o ensino primário com apoio de explicadores, através de
completo e instalações adequadas. O governo centros de estudo, funcionou por um quinto
fornece um professor, uma antena parabólica, a do custo por estudante de uma escola normal
instalação eléctrica, o programa e os manuais.
e metade do custo por diplomado63. O
Outros países da região adaptaram os programas, National Correspondence College, na
recorrendo ao vídeo em lugar das emissões por
satélite. Zâmbia, funcionou com custos ainda mais
baixos (Murphy et al., 2002). Os sistemas de
Fonte: Murphy et al., 2002
ensino à distância que são concebidos para
melhorar a qualidade dos programas convencionais de ensino resultam, regra geral, num
aumento do custo por aluno, porque costumam constituir um suplemento. Os custos
dependem da tecnologia utilizada, que pode variar desde o ensino pela rádio, a televisão
educativa (Caixa 5.5) e o ensino com base em computadores e na Internet. O ensino pela
rádio pode ser ministrado por um custo relativamente baixo (3-8 dólares por aluno
consoante as dimensões da audiência), a televisão educativa pode ser eficaz embora, para
ser custo-eficiente, exija uma grande audiência, ao passo que o ensino com base em
computadores e na Internet pode custar 80-100 dólares (estimativas de 1998). Embora as
tecnologias mais recentes baseadas em computadores sejam consideravelmente
prometedoras, é frequente que as potencialidades não sejam fáceis de concretizar,
podendo as tecnologias mais antigas ser mais custo-eficientes, sobretudo em ambientes
cujos recursos são restritos (Castro, 2004). O recurso a este potencial poderá, no entanto,
exigir colaborações regionais para realizar as economias de escala que são essenciais a
um funcionamento eficiente. Com efeito, o ensino à distância pode ser mais eficaz em
programas de equivalência ao ensino secundário de segundo nível e no apoio, em termos
pedagógicos e de matérias, a professores subqualificados.
62
Por outro lado, o aproveitamento dos diplomados do ensino secundário não atinge os níveis do grupo
muito mais reduzido de estudantes que terminaram o ensino secundário até 1987.
63
O subfinanciamento crónico do programa em finais dos anos 80 levou a uma qualidade deficiente,
acabando por provocar o colapso deste ensino e a integração no sistema regular dos centros de estudo, com
um nível de qualidade muito baixo.
100
59. Em muitos países, um ciclo mais longo de ensino básico proporciona uma
oportunidade de reforçar os níveis de aquisição de competências básicas dos alunos e adia
a introdução de temas vocacionais dispendiosos. Um recente Livro Branco do governo do
Gana conclui:
101
concluíram o ensino primário, constituindo o exemplo mais recente de uma série de
fracassos a este nível. Dadas estas experiências e em conjunto com os programas mais
longos de ensino básico acima discutidos, a formação técnica e vocacional específica está
Tabela 5.6 Custo unitário como % do PIB em países a ser cada vez mais adiada para o
seleccionados ensino secundário de segundo
Ensino Ensino
secundário secundário Ensino
nível, em ambientes de ensino
geral de 1º geral de 2º Técnico e formais e não-formais. Esta
nível nível Vocacional situação é compatível com as
Benim 15,8 56,2 78
Burkina Faso 39 84
recomendações de um estudo
Burundi 64 64 recente de Johanson e Adams
Camarões 31,6 37,1 61 (2004), que sublinha a importância,
Congo 12,7 36,8
Costa do
para um EFTV de grande
Marfim 35 72 111 qualidade, da aquisição de
Etiópia 28,2 46,8 284 competências básicas sólidas bem
Gâmbia 25,8 166,4
Guiné 13,4 17,6 140
como da diversidade das
Madagáscar 26,7 64,4 83 disposições financeiras e dos
Mali 26,5 117,1 203 modos de ministrar o ensino.
Mauritânia 39,6 33,8 188
Moçambique 22,6 45,5 55.6
Níger 49 157
Ruanda 47,4 64,3 Fontes de Financiamento
Senegal 14,7 70,3 95
Chade 26,6 35,8 205
63. Os pais são uma fonte de
Togo 22 34,1 104 financiamento cada vez mais
Zâmbia 25,3 21,7 importante para o ensino
Média 30 64 134
Intervalo [13 – 64] [18 – 156][56 – 284]
secundário (Figura 5.8). Pagam
Fonte: Brossard, 2005 propinas e outras contribuições
para escolas privadas e públicas,
contratam explicadores, compram livros, materiais e uniformes e asseguram alojamento,
formal ou informal. A educação é, muitas vezes, a maior despesa das famílias, a seguir à
alimentação. O fardo resultante é frequentemente significativo para as famílias. Na
Zâmbia, por exemplo, representa cerca de 16% das outras despesas, com excepção da
alimentação, e tem valores semelhantes no Gana e no Uganda. Quanto mais pobre a
família, maior o peso dos gastos com a educação (Bentouaet-Kattan e Burnett, 2004).
102
Figura 5.8: Países da ASS: Despesa Privada/Familiar como % da
despesa total no ES, últimos dados disponíveis (1998-2004) 64. Em muitos
países, as despesas
Mali* 10 públicas e privadas
T anzania 15 confundem-se
Mauritania 20 inextricavelmente pois
Niger* 23 os pais compram livros
Ethiopia 30 escolares, pagam
Benin 30 propinas e constroem
T ogo 30
salas de aula enquanto
Senegal 31
o governo paga (na
Cameroon 43
maior parte, mas não
na totalidade) os
Kenya* 57
salários dos
Rwanda* 59
professores e
Lesotho 60
fornecece alguns
Malawi 68
materiais às escolas
Congo, Dem. Rep.* 84
governamentais. Nas
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 escolas públicas do
% private expenditure Uganda, Tanzânia e
Source: SEIA estimates; Educ. Sector Reviews
* excludes public capital expenditure
Zâmbia, mais de
(CSRs), 2001-2006; Lewin 2005; T anzania PER,
metade dos custos
totais por aluno são financiados por propinas e outras contribuições parentais (Lewin,
2005, estudos de caso). Noutros países, o governo apoia escolas privadas através de
subsídios, de crédito ou de concessão de terrenos. No Burkina Faso, o governo concordou
em financiar a construção de salas de aulas em escolas privadas desde que o proprietário
construa, no espaço de um ano no máximo, uma sala de aula por cada sala construída
com fundos governamentais (Banco Mundial, 2001b). A Zâmbia criou, em 1996,
Unidades de Produção de Ensino que aceitam alunos que não conseguiram arranjar lugar
nos estabelecimentos de ensino, sendo-lhes ministradas aulas à tarde, contra o pagamento
de propinas, por professores que participam voluntariamente, para aumentar o seu
rendimento, em instalações escolares. Na Costa do Marfim, grande parte da expansão das
inscrições no ensino secundário processou-se através do sector privado, que aceitou
alunos que beneficiam de bolsas de estudo públicas (Bih, 2003). No Quénia, quase todas
as instalações das escolas secundárias governamentais foram financiadas pelos pais. No
Chade, metade do corpo docente das escolas secundárias de primeiro nível é composto
por professores da comunidade, geralmente pagos pelos pais (CSR). No Benim, os
professores das escolas secundárias de primeiro nível são, na sua maioria, professores
contratados locais, pagos pelas famílias. No Zimbabwe, muitas escolas consideradas
privadas recebem apoio governamental sob a forma de pagamento dos salários dos
professores e de um subsídio per capita para despesas não-recorrentes, bem como
subsídios destinados à construção (Lewin e Caillods, 2001). No Ruanda, mais de 15% das
despesas totais do ensino secundário (1999) foram afectadas ao apoio alimentar e
financeiro dos alunos. Na República Democrática do Congo, os pais pagam mais de 80%
das despesas com a escola secundária, tanto privada como pública (CSR).
103
65. As propinas e outras contribuições
parentais e comunitárias reduzem os encargos Tabela 5.7: Propinas Anuais do ensino
secundário em alguns países seleccionados
financeiros públicos com a expansão do
(dólares americanos)
acesso às escolas públicas. A Tabela 5.7
país público privado
mostra as propinas cobradas por escolas
Gana (2005)
públicas e privadas em países seleccionados
ESJ urbano 2 45
da África Subsaariana. O rendimento ESJ rural 3
decorrente das propinas, sobretudo quando é ESS urbano s/pensão 13 69
retido na escola, pode ajudar a financiar ESS rural c/pensão 18
níveis mais elevados de inscrições e a apoiar Quénia (2005)
uma maior disponibilidade de materiais Nacional 344
pedagógicos. A diversificação das fontes de Provincial 291 66 - 6 618
financiamento através da criação de parcerias Distrital 132
com prestadores privados (sem e com fins Camarões (2001)
lucrativas) tem permitido em muitos países secundário geral 7 183
uma expansão do acesso, mesmo quando os urbano 115
recursos são limitados (Vawda e Patrinos, rural 66
1999). secundário técnico 127 273
urbano 179
66. Contudo, o nível elevado de custos rural 100
suportados por privados constitui claramente Fontes: CSRs, AFTHD, Banco Mundial, 2003;
Akyeampong, 2005; Latham, 2005; Banco Mundial
uma barreira à inscrição de alunos oriundos WDI & GDF (taxas de câmbio)
de famílias pobres. A questão central reside
em saber se as famílias pobres podem ou não arcar com as propinas e outros pagamentos
e que efeitos isso terá na participação. Num estudo de escolas secundárias não-
governamentais no Malawi e África do Sul, Lewin e Sayed (2005) relacionam os níveis
das propinas com os rendimentos familiares e concluem que poucos pais no quarto
inferior da distribuição de rendimentos serão capazes de arcar com os custos totais da
participação nessas escolas. Por outro lado, não é provável que as organizações sem fins
lucrativos consigam proporcionar oportunidades de ensino a nível nacional a um grande
número de alunos. Pode verificar-se o mesmo em países cujas escolas públicas esperam
que os pais paguem propinas substanciais. No Malawi e na África do Sul, o efeito é tão
forte que poucas famílias que não pertencem ao grupo das 20% mais abastadas
conseguem participar. No Gana, o ensino secundário de segundo nível está fora do
alcance das 60% mais pobres (Akyeampong, 2003). No Uganda, o “custo elevado” foi a
razão mais importante (70%) para o abandono da escola secundária (Liang, 2002). Tanto
no Uganda como na Tanzânia, as famílias que não pertençam ao grupo das 25% com
rendimentos superiores não poderão arcar com as despesas de um ensino secundário não
subsidiado (Lewin, 2006).
104
capacidade de as famílias suportarem propinas e contribuições. Como referimos atrás,
onde os custos privados são elevados – usualmente devido às propinas e despesas de
alojamento –, a expansão será limitada pela incapacidade de os pais arcarem com os
custos do ensino secundário.
Conclusão
69. O desafio que o desenvolvimento do ensino secundário coloca à África
Subsaariana é intimidante. A análise que acabámos de fazer demonstra que, na ausência
de reformas do modo como o sistema é financiado e organizado que resultem em
reduções significativas do custo unitário64, é impossível acelerar o acesso ao ensino
64
Em países do tipo dos da OCDE, o rácio entre os custos unitários recorrentes do ensino primário e do
ensino secundário é sempre menor que 2:1 e muitas vezes inferior a 1,5:1. Nos países onde esse rácio é
superior a 3:1, torna-se difícil, se não impossível, universalizar o ensino secundário com os recursos
internos. As médias na ASS rondam os 3:1 para o secundário de primeiro nível e os 6:1 para o secundário
de 2º nível (tabela 5.1).
105
secundário mantendo, ao mesmo tempo, um nível de qualidade aceitável. É importante
sublinhar vários aspectos importantes.
71. Segundo. Na maior parte dos países, a expansão do acesso só será possível se o
custo por estudante diminuir. Isto significará uma colocação eficaz dos professores
através de:
106
72. Estas medidas de redução de custos necessitarão muitas vezes de ser combinadas
com políticas concebidas para assegurar um fornecimento adequado de materiais – em
particular de manuais – essenciais a um ambiente escolar que proporcione oportunidades
significativas de aprendizagem.
73. Terceiro. Os países terão de olhar com atenção para a estrutura e organização do
sistema que herdaram e cuja mudança têm, muitas vezes, encarado com relutância. A
duração do ciclo de ensino básico e os seus parâmetros de custo, o ponto de partida e as
modalidades do ensino vocacional e técnico bem como os assuntos relacionados com o
conteúdo curricular, sobretudo no ensino secundário de primeiro nível, constituem
elementos fundamentais das transformações que serão impossíveis de evitar.
75. Quinto. A diversidade das condições nacionais torna imperativo que cada país
conceba a sua própria estratégia nacional para o desenvolvimento do ensino secundário; a
análise atenta das opções políticas e da experiência de outros países em África é um passo
importante deste processo, mas não pode substituir-se ao diagnóstico dos desafios
específicos e da identificação das opções políticas, politicamente exequíveis e
financeiramente sustentáveis, características de cada país.
76. Sexto. As reformas financeiras são essenciais mas não serão suficientes. Terão de
ser acompanhadas de alterações dos currículos e da sua adaptação às exigências da
sociedade moderna, bem como da gestão e governança do sistema. As alterações
curriculares constituem uma parte essencial da estratégia, incluindo (i) diferentes
objectivos para o ensino secundário de primeiro e segundo níveis; (ii) extensão do curso
geral e adiamento da formação vocacional para o secundário de segundo nível (Lewin
2006); (iii) modernização, simplificação e aumento da pertinência dos currículos (iv)
estratégias eficazes de baixo custo para o ensino da Matemática, das Ciências e das TIC
(Van den Akker, a aguardar publicação; Ottevanger, 2005). Estes assuntos serão
discutidos nos próximos capítulos.
77. Sétimo. Muitas das opções de reforma serão controversas e suscitarão uma
oposição considerável da parte de quem está directamente interessado na actual situação.
O desenvolvimento de um consenso nacional através de um diálogo franco com todos os
participantes, de modo a sensibilizá-los para as opções e suas implicações, é uma
prioridade urgente em quase toda a parte.
107
Os analfabetos do século XXI não serão as pessoas
incapazes de ler e escrever, mas as que não
conseguem aprender, desaprender e reaprender.
- Alvin Toffler
Capítulo 6
65
Qualidade e Pertinência nos Currículos, Avaliações e Exames
65
A primeira versão deste capítulo foi preparada por Jacob Bregman, sobretudo com base no SEIA Thematic study #5
“Curriculum, Assessment and Examination in Sub-Saharan Africa (SSA), de Jan van den Akker e Wout Ottevanger
(University Twente e Vrije University, Amesterdão, Países Baixos), e no Thematic study # 7 (2004) Science,
mathematics and ICT in Secondary Education in Sub Saharan Africa (SMICT), de Wout Ottevanger, Mariska
Lelieveld e Andrew Clegg.
108
que os alunos possam terminar os estudos com conhecimentos, competências e atitudes
que lhes permitam funcionar eficazmente num ambiente económico e social em rápida
mudança. Mais importante ainda: a evolução acelerada da ciência e da tecnologia e as
novas aplicações das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) precisam de
reflectir-se nos currículos. Serão necessárias outras alterações no conteúdo curricular e
nas estratégias pedagógicas a fim de proporcionar oportunidades reais de aprender a uma
proporção muito maior do grupo etário – na sua maioria composto por alunos com
diferentes antecedentes socioeconómicos e aspirações. É óbvio que um currículo
pertinente e bem concebido constitui um primeiro passo essencial, embora o impacto seja
determinado, em última análise, pelo que acontece nas escolas e nas salas de aula.
Professores competentes, apoiados por directores e administradores eficazes, e alunos que
tenham acesso a um suprimento básico de manuais e de outros materiais pedagógicos são
aspectos essenciais para garantir que os alunos adquirem os conhecimentos e
competências especificados no currículo. Estes aspectos serão discutidos no Capítulo 7.
Este capítulo passará em revista as tendências globais das reformas curriculares e as
consequentes alterações das tendências e práticas em matéria de exames e de avaliação na
ASS, bem como as prioridades para reformas do conteúdo curricular, exames e processos
de avaliação. Como os assuntos ligados aos currículos são, por natureza, muito locais, a
análise levada a cabo neste capítulo centra-se nas tendências na África Subsaariana que,
em muitos casos, não se aplicam a situações de países específicos.
109
Caixa 6.1: Tendências nas reformas do ensino secundário na última década
nos países da OCDE
• Satisfazer as necessidades e aspirações de todos os indivíduos em idade de frequentar o ensino
secundário, incluindo dos que necessitam de apoio adicional na aprendizagem, com uma forte ênfase
na igualdade de acesso, no aumento dos resultados da aprendizagem e na melhoria das competências
pessoais e profissionais para o emprego.
• Aumentar a participação no ensino e na formação para lá do ensino obrigatório (dos 16 anos em
diante), incluindo o ensino superior e a formação profissional (no trabalho), em combinação com
programas mistos escola-trabalho, e a disponibilidade para participar em programas de aprendizagem
ao longo da vida.
• Utilizar e integrar as TIC como instrumentos de aprendizagem e de ensino. Isto inclui a formação
específica de professores na utilização das TIC como instrumento pedagógico e (separadamente) o
desenvolvimento das TIC como disciplina autónoma destinada a proporcionar competências básicas
em TIC a todos os diplomados do ensino secundário.
• Desenvolver competências gerais para a continuação dos estudos e para uma integração mais rápida
no “mundo do trabalho”: (i) utilizar e aplicar a comunicação e a informação; (ii) aplicar princípios
básicos de matemática e de ciência; (iii) conhecimentos funcionais de um língua estrangeira
internacional, no mínimo; (iv) atitude e capacidade de resolver problemas; (v) capacidade de
trabalhar em grupo; e (vi) competências gerais para a continuação dos estudos e da formação
profissional.
• Modernizar os currículos com padrões específicos para o ESJ e o ESS, fortemente centrados nas
competências gerais. O ESJ é encarado como uma extensão natural do ensino primário e como parte
integrante do ciclo do ensino básico. A maior parte do ESS é uma mistura de ensino vocacional e
académico, cuja ênfase varia consideravelmente consoante os países.
• Promover redes flexíveis, integradas e inovadoras de prestadores empenhados na concretização de
objectivos novos e ambiciosos, muitas vezes com mecanismos e percursos novos, mais curtos e
inovadores, para a obtenção de qualificações a nível do secundário, como o ensino à distância, a
utilização das TIC, e cursos mais curtos adaptados a estudantes e adultos a quem é dada uma
segunda oportunidade; o papel do sector privado como prestador de serviços, gestor e financiador é
activamente encorajado pelos governos da OCDE.
• Encorajar a autonomia das escolas secundárias, muitas das quais desenvolveram laços institucionais
elaborados com instituições do nível secundário e terciário.
Fonte: síntese de vários websites de ensino e formação de países da OCDE efectuada pelo autor do
capítulo
110
trabalho com o estudo. A Caixa 6.1 resume as principais tendências das reformas na
OCDE.
111
conseguinte, a nível do ESS, o conteúdo curricular das TIC continua a ser geral, embora,
em muitos casos, se dê uma ênfase específica a certos grupos profissionais.
9. Finalmente, as escolas secundárias são cada vez mais encaradas como mais do
que meras instituições académicas preparatórias; espera-se que estimulem atitudes e
competências que permitam aos alunos viverem uma vida mais saudável, serem mais
produtivos, transitarem com facilidade da escola para o trabalho e tomarem acções
preventivas contra problemas sociais. As apostas da reforma do ensino secundário de
segundo nível são elevadas em termos dos resultados possíveis, tanto económicos como
sociais, para os indivíduos e o crescimento económico. É este motivo que leva os países
da OCDE a reformas quase constantes e a uma renovação permanente do seu ensino
secundário de segundo nível e dos seus sistemas de formação.
10. A maioria dos países está a afastar-se das formações profissionais especializadas,
dispendiosas e muitas vezes desactualizadas, a nível do secundário. A nível do terciário,
as universidades e instituições especializadas de formação começaram a oferecer uma
maior diversidade de formação vocacional, em muitos casos com o apoio e a colaboração
do sector privado. A maioria dos países da OCDE está a testar sistemas inovadores. Na
Escócia, por exemplo, estão a ser oferecidos cursos de formação vocacional como
módulos opcionais no nível do secundário superior a somar a matérias mais académicas.
Isto processa-se através da cooperação institucional entre “colégios vocacionais”
(vocational colleges) e escolas secundárias mais tradicionais. Nos Estados Unidos, os
colégios comunitários (Community Colleges) são importantes fornecedores de formação
técnica e vocacional; uma estrutura organizacional flexível permite-lhes uma adaptação
rápida às necessidades em mudança do mercado de trabalho. O Chile implementou uma
importante reforma do ensino secundário, com redefinição da sua estrutura e conteúdo,
incluindo uma reorganização drástica dos programas tradicionais de formação
vocacional, para preparar melhor os estudantes para a continuação dos estudos e para o
trabalho numa sociedade em rápida mudança (Caixa 6.3).
112
Caixa 6.3: Reforma do ensino secundário no Chile (1998-2002)
A reforma do ensino secundário no Chile foi impulsionada pela necessidade de estabelecer um quadro
curricular nacional e de responder às necessidades de uma população estudantil mais diferenciada,
resultante da rápida expansão da cobertura, e pelo desejo de estabelecer padrões diferentes e mais elevados.
Para os graus 9 e 10, desenvolveu-se um currículo comum que todas as escolas – tanto gerais como
vocacionais – tinham de seguir. Nos últimos dois anos (graus 11 e 12), tanto as escolas vocacionais como
as escolas secundárias gerais combinam o ensino geral e o ensino especializado. As mais de 400
especialidades existentes nas escolas vocacionais e profissionais foram reorganizadas em 14 sectores
económicos com 46 especialidades. Presentemente, estas novas especialidades são oferecidas aos
estudantes que completaram um ensino geral com bases mais sólidas do que as existentes antes da reforma.
As especializações do novo currículo são concebidas para preparar os estudantes para uma vida de trabalho
num determinado sector profissional mais do que numa determinada profissão. Espera-se que isso ajude os
estudantes a adaptarem as suas competências, reagindo a tecnologias e profissões em rápida mudança. O
conteúdo das disciplinas mudou de modo a pôr a tónica em capacidades e competências em vez de
conhecimentos, a estabelecer padrões mais elevados de resultados e a assegurar a pertinência, procurando
ligações com a vida dos estudantes. Os exames de acesso à universidade foram adaptados a um modelo que
tem como referência o currículo.
Fonte: Cox, 2004
Exames e avaliação
11. A qualidade e pertinência da aprendizagem e do ensino no ensino secundário
estão ligadas de uma forma complexa ao currículo e às políticas e práticas de exames e de
avaliação. Os países da OCDE e também asiáticos (Coreia, Singapura, Tailândia e
Vietname) esforçam-se constantemente por melhorar a qualidade do seu ensino
secundário e dos seus sistemas de formação, através não apenas da reorganização dos
seus currículos mas também da reestruturação do seu sistema nacional de exames, da
introdução de avaliações nacionais e da participação em avaliações internacionais. A
Caixa 6.4 resume a natureza dos exames e diferentes tipos de avaliação. Trata-se muitas
vezes de um processo complexo e politizado que influi nos interesses dos principais
participantes (pais, professores e outro pessoal das escolas, sindicatos de professores,
organizações de empregadores, autoridades religiosas e outros grupos de interesse da
sociedade civil). O êxito das reformas do ensino secundário na maior parte dos países da
OCDE tem dependido em larga medida do estabelecimento de consensos aquando de um
debate nacional, pois é muito o que está em jogo, tanto para as famílias como para os
estudantes.
113
Caixa 6.4 Exames e Avaliações
Os exames cumprem uma série de funções importantes. Em primeiro lugar, estabelecem metas e padrões
para o ensino. Em segundo lugar, são utilizados para seleccionar estudantes em sistemas de ensino em
pirâmide, em que o número de lugares diminui sempre que se avança um nível. Em terceiro lugar, os
exames cumprem uma função de certificação e de diagnóstico, orientando as opções dos estudantes para a
continuação dos estudos e a formação. Em quarto lugar, os exames podem chamar à responsabilidade os
professores e as escolas. Finalmente, facilitam a mobilidade internacional dos estudantes, sobretudo no fim
do ensino secundário.
As avaliações nacionais são concebidas para fornecer informações, não sobre os estudantes individuais,
mas sobre todo o sistema de ensino ou uma parte, claramente definida, desse sistema (por exemplo, os
alunos do 4º grau ou com 11 anos de idade). O ponto fulcral da avaliação é a recolha de dados nas escolas,
em que os estudantes realizam testes e questionários em grupo.
As avaliações internacionais partilham muitos procedimentos com as avaliações nacionais, embora
difiram obviamente no facto de terem de ser concebidas para permitir a sua realização em mais que um
país. Fornecem algumas indicações sobre a posição de um determinado país em relação aos outros no que
toca aos resultados dos estudantes.
As avaliações em sala de aula da aprendizagem dos alunos são uma componente do processo de ensino-
aprendizagem. Grande parte destas avaliações é subjectiva, informal, imediata, contínua e intuitiva, pois
interage com a aprendizagem à medida que se processa, acompanhando o comportamento dos estudantes, o
desempenho escolar e a reacção à instrução. Além da observação permanente dos professores, envolve as
perguntas e o diálogo na sala de aula, a correcção dos trabalhos de casa e a utilização de portefólios.
Cumpre uma função principalmente formativa e destina-se a apoiar ou melhorar a aquisição de
conhecimentos e competências por parte dos estudantes.
Fonte: Kellaghan e Greaney, 2004.
66
Na Alemanha, os resultados do programa PISA 2006 chocaram o governo e os políticos porque o país
teve uma classificação pior do que se esperava e inferior à do PISA 2003. Decorre uma reflexão nacional e,
de repente, o governo começou a rever o seu financiamento do ensino secundário e da formação. Em
Inglaterra e nos países asiáticos, também se presta atenção aos resultados do PISA e do TIMMS nos outros
países. Estes dois instrumentos são mais poderosos se os países participam “a longo prazo”. O programa
PISA, por exemplo, iniciou-se em 2000, tendo anunciado que realizaria três rondas de avaliação a
intervalos de três anos. Para mais informações, ver
(http://www.oecd.org/pages/0,2966,en_32252351_32235731_1_1_1_1_1,00.html e http://timss.bc.edu/)
114
sistemas da aprendizagem e permitir a identificação e análise das causas de sucesso e
insucesso. Os resultados destas avaliações estimulam debates sobre a qualidade da
educação em todos os países participantes.
16. Na maior parte dos países, os exames destinam-se a seleccionar os alunos mais
merecedores do ponto de vista académico para ocuparem um número limitado de lugares
disponíveis no nível seguinte do sistema público de ensino. Na prática, são poucos os que
o fazem de forma fiável; e mesmo quando isso acontece, os alunos pobres ou de meios
rurais são muitas vezes prejudicados pela sua preparação académica inadequada, falta de
familiaridade com os procedimentos de exame e incapacidade de influenciar o processo
através de meios ilícitos. A reforma tem sido difícil pois a necessidade de regular os
fluxos de alunos com base no número de lugares disponíveis no nível seguinte sobrepõe-
se a todos os outros aspectos (Caixa 6.4). Contudo, o mecanismo passou a estar sob
pressão devido ao crescente número de alunos que terminam o ensino primário e
secundário, sobretudo quando o exame final do secundário é usado para determinar o
acesso a instituições terciárias. Em resposta à parcialidade inerente à selecção baseada
exclusivamente no mérito, muitos países estabeleceram quotas ou níveis diferenciais de
aprovação a fim de limitar as desigualdades regionais e de género nas admissões ao
ensino secundário e terciário.
115
17. O custo do acesso restrito é considerável. Engrossa o número de alunos nos anos
finais do ensino primário e secundário de primeiro e segundo níveis pois os que não
conseguem ser admitidos no nível seguinte repetem para voltar a tentar no ano seguinte.
Representa um desperdício de capital humano, pois são excluídos alunos com potencial
para atingir níveis mais elevados de ensino e formação. Também é socialmente disruptivo
quando se nega desproporcionadamente o acesso de certos grupos da população,
excluindo-os de posições de liderança. Em toda a parte, é cada vez maior o número de
alunos que se sujeitam a exames de ingresso em escolas secundárias e universidades.
Mas, sem aumentos concomitantes no número de vagas no nível seguinte, desta situação
resultará inevitavelmente uma elevação das notas exigidas para a selecção e uma
diminuição das taxas de admissão. Por conseguinte, não espanta que os resultados dos
exames sejam muitas vezes anunciados no meio de consideráveis críticas do público e
que a expansão do acesso ao ensino secundário se tenha tornado um “assunto político
quente” em quase toda a parte.
O legado
18. Os sistemas do ensino secundário em África ainda exibem vincadas
características de um passado colonial. Nas duas últimas décadas, foram
surpreendentemente poucas as alterações nos currículos, avaliações e exames nos níveis
secundários nos países da África Subsaariana (Lewin, 2006; Kellaghan e Greaney, 2004).
A maior parte dos países ainda possui estruturas curriculares e sistemas de exame que
reflectem o modo como o ensino secundário estava organizado em França e Inglaterra na
década de 70 e 80. Embora muitos países da ASS tenham tentado lançar reformas do
ensino secundário desde os anos 80, os sistemas resistiram amiúde à reforma e muitos
educadores africanos consideram que o impacto tem sido marginal a nível das escolas e
das salas de aula67. Em África, muitos sistemas de ensino secundário anglófonos
continuam a utilizar o GCSE (certificado geral do ensino secundário) e o seu antecessor
(O-levels), de Cambridge e de outras instituições inglesas, como acontece, por exemplo,
no Botswana, na Nigéria, na Maurícias, na Tanzânia e no Uganda. No ensino secundário
de segundo nível (ESS), também se usam amplamente os níveis ingleses (AS e A-levels).
19. A maior parte dos países da ASS possui currículos e exames locais ou está
prestes a tê-los. Mas muitos mantiveram ligações a organismos externos. A Namíbia e o
Botswana conservam uma ligação à comissão de exames da Universidade de Cambridge
de modo a assegurar o estabelecimento de padrões adequados nos seus exames de ESJ e
ESS. O Gana e a Nigéria realizam os seus exames sob os auspícios do WAEC (Conselho
de Exames Oeste Africano). A África do Sul restabeleceu uma comissão de garantia de
qualidade para o ensino secundário e, em 2005, comparou as perguntas dos seus exames
com os padrões escoceses quando um aumento nas taxas de aprovação que se reflectiu
parcialmente em 2000 e 2003 suscitou preocupações acerca de uma possível diminuição
nos padrões.
116
conduz ao Diplome National du Brevet baseado num exame em 6-7 disciplinas elaborado
pelas autoridades nacionais de educação. O ensino secundário de segundo nível – o Lycée
– conduz ao Baccalauréat, diversificado em fieiras. A maior parte dos países francófonos
da ASS segue este modelo e esforça-se por manter padrões semelhantes aos de França,
através da coordenação e de intercâmbios formais e informais de práticas entre os
académicos dos países africanos e os seus colegas e universidades de França.
21. A selecção dos alunos para o ingresso no ciclo secundário de segundo nível é
regulada com base nos resultados do Brevet. Na maior parte dos países francófonos de
África, todos os estudantes que obtêm o Baccalauréat têm direito de ingressar em
instituições de ensino terciário como acontece em França. Como o número de lugares
neste nível de ensino é limitado, a selecção para admissão ao exame de Baccalauréat e a
taxa de êxito são estritamente reguladas. Um problema importante é o desequilíbrio entre
o número de alunos que optam por uma fieira particular do ESS e o número de lugares
nas opções correspondentes nas instituições terciárias. Na maior parte dos países, são
poucos os alunos que escolhem o Baccalauréat Scientifique. Na ASS, as taxas de
inscrição e de sucesso nos exames são muito inferiores às de França, onde a taxa de
sucesso do Baccalauréat ronda os 90% e onde, em média, 80% do grupo etário transita
para o ensino superior.
Transformar a estrutura
23. Embora a evolução para um ensino secundário com uma maior cobertura e um
currículo adaptado às exigências do desenvolvimento do século XXI tenha sido lenta, há
excepções. Sobretudo nos últimos anos, começaram a emergir novas estruturas
organizacionais e novos currículos. Num número cada vez maior de países, o ESJ é
considerado parte integrante de um ciclo de “ensino básico” de cerca de 9-10 anos,
idealmente – mas, na prática, raramente – com um currículo unificado e um ambiente
escolar que toma em consideração que, nas escolas do ensino secundário de primeiro
nível, as competências e os conhecimentos básicos desenvolvidos durante o ensino
primário são aperfeiçoados e alargados. Em consonância com esta perspectiva, vários
países aumentaram a duração do seu ciclo primário. O Mali, por exemplo, criou em 1962
um curso de ensino básico com duas partes (enseignement fondamental), com um
primeiro ciclo de 6 anos e um segundo ciclo de 3 anos; mas a taxa de inscrição no
segundo ciclo sempre foi baixa (2004 GER 30%). O Quénia possui um ciclo primário de
8 anos, seguido de um ciclo secundário de 4 anos. Recentemente, Madagáscar decidiu
alargar o seu ciclo primário de 5 para 7 anos a partir de 2006-07, estando,
consequentemente, a reestruturar os dois níveis do ensino secundário (Ramanantoanina,
2006). A Zâmbia está a integrar os graus 7 e 8 num ciclo de ensino básico de 9 anos.
Contudo, a maior parte dos países africanos ainda possui um secundário de primeiro nível
com 3 ou 4 anos, seguido de um secundário de segundo nível com cerca de 3 anos. Ao
117
nível do ESS há muitas vezes mais escolhas para seguir a “formação profissional”
específica, se o percurso académico estiver fechado por causa da reprovação nos exames.
Na maior parte dos países africanos, o ciclo secundário tem uma duração total de 6-7
anos, assemelhando-se à prática geral dos países da OCDE.
26. Não obstante estas reformas que estão a surgir, a maior parte dos países da ASS
ainda está à procura do seu próprio modelo de ensino secundário e formação que reflicta
as realidades africanas e as prioridades de desenvolvimento. As questões que carecem de
reflexão relacionam-se com as expectativas que os governos e a sociedade acalentam
relativamente aos resultados do seu ensino secundário e sistemas de formação. É possível
extrair lições das economias emergentes nos países asiáticos (Coreia, Malásia, Singapura
e Vietname), onde a reforma curricular esteve intimamente ligada aos objectivos de
construção nacional e a prioridades de desenvolvimento económico em rápida mudança.
Renovar os currículos
27. Os currículos são concebidos para proporcionar um enquadramento ao ensino e à
aprendizagem. Especificam as competências, os desempenhos, atitudes e valores que se
espera que os alunos aprendam na escola e podem incluir o enunciado dos resultados
desejados, descrições de materiais e a sequência planificada que será utilizada para ajudar
os alunos a atingir esses resultados. Na realidade, existe frequentemente uma variação
considerável entre o que os alunos devem aprender segundo as especificações do
currículo, o que os professores ensinam e o que os alunos aprendem realmente (Caixa
6.5).
118
28. Aquilo que os alunos aprendem é influenciado não apenas pelo conteúdo
especificado nos currículos mas também pelo tempo disponível para ensiná-lo. Na ASS, o
tempo lectivo anual no ensino secundário de primeiro nível é comparativamente elevado:
965 horas (Benavot, 2004). No entanto, afirma-se que o “tempo na tarefa” é muito
inferior por várias razões: atrasos e absentismo dos alunos e professores, problemas de
disciplina e de atenção por parte dos alunos, existência de um grande número de
actividades extracurriculares e falta de salas de aula. Em muitos países, a realização de
exames leva à suspensão das aulas e a reduções do tempo lectivo. Além disso, o tempo
lectivo disponível é muitas vezes utilizado de forma ineficiente por falta de materiais e de
estratégias pedagógicas eficazes. Por conseguinte, muitos professores não conseguem
cobrir o currículo, mas apenas as partes que esperam sejam sujeitas a exame.
29. Um relatório de Chisholm et al. (2005) sobre a África do Sul ilustra estes
aspectos. Na África do Sul, os professores passam menos tempo em actividades
relacionadas com o ensino do que o estipulado pelas políticas (1 599 horas por ano em
média em comparação com as 1 720 estipuladas). Além disso, em todo o tempo
despendido, gastam menos com a leccionação (apenas 46% das 35 horas semanais, em
vez da percentagem esperada de 64-79%). A leccionação e o tempo de trabalho
diminuem à medida que a semana de trabalho avança. Em muitas escolas secundárias da
ASS, sobretudo no secundário de primeiro nível, as turmas sobrelotadas são uma
realidade, por vezes com muito mais de 100 alunos.
119
31. Além da melhoria do desempenho académico dos alunos, os países da ASS (por
exemplo, o Botswana e o Senegal) reconhecem igualmente a necessidade de introduzir
mais orientação, aconselhamento e educação para a cidadania como parte integrante de
um currículo secundário, de modo a influenciar positivamente os progressos societais ou
a contrabalançar o vácuo criado pela desintegração das estruturas tradicionais. Cada vez
mais se espera que as escolas forneçam serviços e actividades centrados nos interesses
educativos, sociais, pessoais e de carreira – neste último caso em particular, apoiando os
alunos na orientação profissional, na escolha de disciplinas e de exames e na gestão de
grupos de capacidades mais amplas.
32. Por conseguinte, não restam muitas dúvidas de que o ensino secundário na ASS
enfrenta a necessidade de importantes mudanças, não só no financiamento e na gestão,
Tabela 6.1 Competências à saída tal como são comummente especificadas nos currículos na ASS
Quando? Continuação para Competências à saída
Ponto de Depois do Mundo do trabalho (não- Ler e escrever
saída 1 ensino primário qualificado) e sociedade Numeracia básica
Ensino secundário de primeiro Competência linguística na língua de
nível ensino (para transitar para o ESJ)
Resolução de problemas (competências
básicas)
Ponto de Depois do Ensino secundário, fieiras Responsabilidade individual e social
saída 2 ensino gerais Aprender a aprender (competências
secundário de Ensino secundário, fieiras básicas)
primeiro nível técnicas Resolução de problemas
(em países com Ensino vocacional Inglês (Francês / Português)
9 ou 10 anos de Mundo do trabalho (pouco Matemática (incluindo Geometria)
ensino básico, é qualificado) e sociedade Conhecimentos académicos para transitar
o primeiro para o ESS geral
ponto de saída)
Ponto de Depois do Ensino terciário geral Aprender a aprender (competências
saída 3 ensino Ensino terciário técnico avançadas)
secundário de (politécnico) Resolução de problemas
2º nível Mundo do trabalho e sociedade Competências e conhecimentos em TIC
Conhecimentos de matérias e disciplinas
específicas
Fonte: Van den Akker e Ottevanger, 2006
mas também no que diz respeito aos conhecimentos, atitudes e competências cujas
prioridades são estabelecidas pelos currículos, exames e avaliações. Quatro questões
assumem uma importância particular:
120
Integrar o ensino secundário de primeiro nível num ciclo de ensino básico contínuo
33. No Capítulo 4, argumentou-se que uma aceleração sustentada do
desenvolvimento económico e social na ASS exigirá um esforço ambicioso de aumento
dos níveis de ensino, se os países da região não quiserem deixar-se apanhar numa
“armadilha da pobreza”. Um esforço deste tipo terá de incluir não apenas um aumento da
conclusão do ensino primário, mas também um acesso mais amplo ao ensino secundário
de primeiro nível. O ensino primário já não é suficiente para assegurar a competitividade
na economia global dos nossos dias; o aumento da produtividade e a capacidade de atrair
o investimento directo estrangeiro requerem trabalhadores que tenham completado, pelo
menos, o ensino secundário de primeiro nível. Essa exigência torna o perfil de saída do
nível 2 particularmente importante para os países da ASS. O desafio é duplo: aumentar o
número de alunos que ingressam no ensino secundário de primeiro nível e assegurar que
adquirem os conhecimentos, atitudes e competências especificados. Para enfrentar este
desafio com êxito, será necessário, no mínimo, ter criadas três condições:
34. Não é o que se passa em muitos países. É frequente que os alunos completem o
ensino primário sem um domínio adequado dos conhecimentos, competências e atitudes
especificados no respectivo currículo. As bases para um ensino secundário bem-sucedido
residem nos níveis primários. As oportunidades de ensino e o potencial da aprendizagem
no secundário de primeiro nível dependem em larga medida das competências de saída
do nível primário, particularmente no que diz respeito a competências elementares, como
leitura, escrita e conhecimentos básicos de matemática. Um relatório sobre o
acompanhamento dos resultados da aprendizagem no Botswana confirma algumas
observações comuns: os resultados dos alunos do ensino primário em numeracia e numa
segunda língua (Inglês) são particularmente fracos (Van Den Akker e Ottevanger, 2005).
Os currículos do ensino secundário de primeiro nível são tipicamente concebidos como
uma preparação para o ESS e não como uma extensão do ensino primário. Estão muitas
vezes sobrecarregados com matérias opcionais extensas que só são exploradas
superficialmente. O tempo atribuído à matemática, às ciências e às línguas é muitas vezes
inadequado. Predomina a aprendizagem maquinal, concedendo-se pouca atenção ao
desenvolvimento das capacidades de análise, de resolução de problemas ou de
comunicação e de trabalho em equipa.
121
Tabela 6.2 Estruturas curriculares do ensino secundário de primeiro nível em cinco países da ASS
Tanzânia Gana Botswana África do Sul Senegal (currículo
disciplinas Currículo do JS Currículo do JS áreas do currículo de 1980, último ano
nucleares Disciplinas revisto C2005 do ESJ, com base
do JS nucleares para o ESJ em 28 períodos
currículo semanais)
do SEDP
Kiswahili Língua e cultura Setswana (10%) Línguas (25%) Francês 21%
ganesas (10%)
Inglês Língua inglesa Inglês (12,5%) Língua Viva 1: Inglês
(15%) ou Alemão (14%)
Matemática Matemática (15%) Matemática Matemática (18%) Matemática (18%)
(12,5%)
Biologia Ciências Ciências Ciências Naturais Ciências da Terra e
Integradas (10%) Integradas 12,5%) (13%) da Vida (7%)
Física e Física ou Tecnologia
Química (7%)
Estudos Estudos Sociais Estudos Sociais Ciências Sociais Educação Cívica
Cívicos (7,5%) (10%) (12%); agora duas (3,5%)
disciplinas de História e Geografia
História e (7%)
Geografia
Competências Pré- Design e Tecnologia (8%)
Técnicas (7,5%) Tecnologia (10%)
Ciência Agrícola Agricultura (10%)
(7,5%)
Economia e Gestão
(8%)
Educação Educação Moral Orientação para a
Religiosa e Moral (5%) Vida (8%)
(7,5%)
Artes e Cultura Música ou Artes
(8%) (3,5%)
Competências Pré-
Vocacionais
(7,5%)
Competências para
a Vida (5%)
Educação Física
(7%)
Mais: Mais: Francês Mais: opções de Mais: opções se
opções se (7,5%), se houver estudos práticos, houver professores
oferecidas professores mais opções de disponíveis: Língua
disponíveis; estudos gerais Viva 2 (por exemplo,
Música e Dança; Árabe, Alemão,
Educação Física Espanhol); Economia
para escolas com doméstica
turnos de manhã
Fonte: Van den Akker e Ottevanger, 2005
35. Reduzir a carga das disciplinas permite uma pedagogia mais interactiva e prática,
uma estrutura curricular mais centrada, custo-eficiente e passível de ser gerida e
actividades extracurriculares com grandes potencialidades em termos de desenvolvimento
122
pessoal e manutenção da coesão cultural e social (Anamuah-Mensah et al., 2002; Osaki,
2001). Em África, o tempo concedido aos valores morais tem aumentado nas últimas
duas décadas (Benavot, 2004).
36. A Tabela 6.2 fornece uma panorâmica das estruturas curriculares do ESJ em
cinco países da ASS. Para efeitos de comparação, as disciplinas e áreas de aprendizagem
estão agrupadas em categorias aparentadas. O tempo concedido figura entre parênteses. A
África do Sul organizou o seu “Currículo 2005 (C2005, graus 7 a 9)” em oito áreas de
aprendizagem em vez de disciplinas (Howie, 2002). Muitos outros países também estão a
optar por integrar o ensino de disciplinas científicas por razões de qualidade e eficiência.
123
39. É possível utilizar argumentos semelhantes contra a criação de escolas
vocacionais independentes a nível do ESJ. As que existem são subfinanciadas, com
programas de baixa qualidade ministrados a um pequeno número de estudantes, quase
sempre pobres. Não são uma solução nem para o desafio da expansão do acesso ao ensino
secundário nem para os problemas do desemprego juvenil.
42. Uma opção fundamental para o currículo do ESS consiste em decidir se deve ser
a mesma instituição a preparar estudantes tanto para o ensino terciário como para o
trabalho, ou se o ensino técnico e vocacional deve ser ministrado em instituições
autónomas, funcionando em paralelo com o ESS geral.
124
43. Na ASS, predominam duas estruturas curriculares para o ESS geral, cada uma
com o seu entendimento próprio acerca das competências de saída no fim do nível
secundário. A primeira estrutura, mais difundida, preconiza a Língua (tanto a local como
a língua de ensino, ou só a de ensino, como no Gana e Senegal) e a Matemática como
disciplinas nucleares obrigatórias, ou partes de um leque mais vasto de disciplinas
nucleares obrigatórias, a que se somam disciplinas opcionais que os alunos podem
escolher. A segunda estrutura, por exemplo na Tanzânia, oferece combinações
especializadas e altamente selectivas de cursos fundamentais, normalmente com três
disciplinas, que as escolas do ESS podem definir e que, por seu lado, definem a escola
secundária. No Senegal, o currículo do ESS fica entre estas duas estruturas. Oferece
várias fieiras na área das línguas, ciências, ensino técnico ou comércio, que consistem em
disciplinas nucleares, mas com ênfases e tempos diferentes, e disciplinas adicionais
obrigatórias para cada fieira, como por exemplo Filosofia para as línguas.
125
Tabela 6:3 Estrutura curricular do Ensino Secundário de Segundo Nível em cinco países da ASS
País Disciplinas nucleares obrigatórias Opções / fileiras / Escolha
tendências / programas
Botswana Inglês; Setswana; Matemática Humanidades e Ciências Mínimo de 8 disciplinas:
Sociais, pelo menos uma
Ciências (Simples (Single), disciplina de
Duplas (Double), Puras) humanidades, ciências e
Criativas, técnicas e ciências sociais. Mais
vocacionais duas disciplinas criativas,
Enriquecimento técnicas e vocacionais.
Uma disciplina de
Enriquecimento
Gana Inglês, Matemática, Ciências Agricultura, Comércio 3 ou 4 disciplinas
Integradas, Ciências Sociais, (Contabilidade e opcionais à escolha, uma
Educação Religiosa e Moral, Secretariado), variedade de diferentes
Educação Física Gerais (Ciência), Gerais escolhas para cada
(Artes), Vocacionais programa escolhido.
(Economia Doméstica e Matemática à escolha no
Artes Visuais), Técnicas nível superior de
dificuldade, mais matérias
obrigatórias para Ciências
Gerais
África do Afrikaans e Inglês obrigatórios; Educação Geral Mínimo de 6 disciplinas
Sul mais 4 disciplinas nucleares dos Orientação Científica obrigatórias, mais 4
grupos: Económicas disciplinas de fieiras.
A: grupo de línguas obrigatórias;
B: Matemática;
C: Língua adicional;
D: Estudos bíblicos, Economia,
Geografia, História;
E: disciplinas de EFTV
Tanzânia Exemplos de escolhas de disciplinas, consoante os resultados do Algumas das
ESJ: combinações de
HGL (História, Geografia, Inglês); disciplinas têm muito
ECA (Economia, Comércio, Contabilidade, mais Matemática poucos estudantes
básica aplicada); inscritos.
PGM (Física, Geografia, Matemática avançada);
PCM (Física, Química, Matemática);
CBN (Química, Biologia, Nutrição);
EGM (Economia, Geografia, M avançada);
CBG (Química, Biologia, Geografia);
HKL (História, Kiswahili, Língua)
Existem mais disciplinas opcionais.
Senegal Disciplinas nucleares, excepto na fieira 2 fieiras de línguas (~67% dos estudantes);
técnica, com tempos diferentes: Francês; 2 fieiras de ciências e 1 fieira técnica (~28%);
Matemática; Ciência Física; Ciências da 1 fieira de economia (~5%)
Vida e da Terra; Inglês, História e
Geografia.
Fonte: Van den Akker e Ottevanger, 2005
44. No Gana, a maior parte das escolas modifica a escolha das disciplinas devido à
falta de professores ou para satisfazer as exigências da entrada na universidade (Ampiah,
Akyeampong e Lelived, 2004). Nas escolas privadas, a capacidade financeira dos pais
126
pode ser vantajosa para as possibilidades de selecção dos estudantes com piores
resultados nos exames. A Tabela 6.3 fornece uma panorâmica da variedade de estruturas
curriculares do ESS em cinco países da ASS.
46. Muitos países, como por exemplo o Senegal, pretendem aumentar o número de
alunos nos estabelecimentos técnicos e vocacionais do ESS e limitam activamente a
percentagem do ESS geral. Contudo, o custo por aluno dos programas de EFTV é
elevado – três a quatro vezes superior ao do ESS (Capítulo 5). Para serem bem-sucedidas,
estas estratégias carecem de uma estratégia de financiamento bem definida e exequível,
de parcerias público-privado bem estruturadas e de currículos intimamente ligados às
preferências dos empregadores e às necessidades do mercado de trabalho.
47. Em suma: o ESS terá de evoluir para um sistema que faculte diversas
oportunidades aos estudantes provenientes das escolas secundárias de primeiro nível. O
acesso aos programas do ensino secundário geral continuará a ser selectivo num futuro
próximo. A manutenção da qualidade dos programas é crucial para assegurar um
contingente de candidatos bem qualificados às universidades e outras instituições
terciárias, o que significará, muitas vezes, uma concentração num conjunto de disciplinas
nucleares e uma limitação das disciplinas opcionais. Para muitos diplomados do ESJ, as
oportunidades de continuação dos estudos e de formação deverão ser oferecidas em
instituições de EFTV, algumas vezes como estudantes a tempo inteiro e outras vezes a
tempo parcial, em combinação com a actividade profissional. Os currículos terão de ser
flexíveis, de responder às necessidades do mercado de trabalho e de ser concebidos tendo
em conta as opiniões dos empregadores. Um importante papel do governo é estabelecer
parcerias público-privado que apoiem essas oportunidades de formação, assegurar a sua
qualidade e providenciar ajuda financeira, sobretudo a estudantes pobres que talvez
fossem excluídos por não as poderem pagar.
127
Melhorar a aprendizagem da Matemática e das Ciências
48. Os progressos económicos e tecnológicos a nível internacional reforçaram a
importância da Matemática e das Ciências exactas a nível do secundário. O desempenho
nestas disciplinas em testes internacionais tem sido relacionado, em diversos estudos
(Capítulo 4), com um melhor desempenho em termos de crescimento económico. Espera-
se das escolas secundárias que proporcionem aos estudantes os conhecimentos e
competências gerais em ciências necessários ao seu funcionamento na sociedade local; ao
mesmo tempo, o desejo de competitividade num mercado global faz do aumento do
número de alunos em áreas de estudo relacionadas com a matemática e as ciências
avançadas uma prioridade nacional de desenvolvimento. A modernização dos currículos
de Matemática e Ciências tanto no ESJ como no ESS e a descoberta de um equilíbrio
entre as expectativas de pertinência local e as exigências de formação de uma força de
trabalho competitiva figuram na agenda da reforma educativa em quase toda a parte.
68
Em geral, é verdade que são os melhores estudantes que tendem a escolher esses cursos opcionais.
69
Convém referir que a sobrecarga curricular não é característica dos países da ASS. Em todo o mundo,
parece mais fácil pôr coisas no currículo do que tirar.
128
51. Por conseguinte, os países da ASS deverão prestar especial atenção à qualidade,
pertinência, enfoque e tempo disponível para o ensino e aprendizagem da Matemática e
das Ciências nas escolas secundárias. Isto é especialmente importante porque o número
crescente de estudantes no ensino secundário de segundo nível se traduziu numa
população estudantil heterogénea tanto em termos de níveis de capacidade como de
aspirações futuras nos domínios da matemática e das ciências. Isto suscita novas questões
acerca de qual o conteúdo mais pertinente para os currículos de Matemática e Ciências
em África e de como equilibrar o aprofundamento das matérias e a extensão da cobertura.
A abordagem destas questões implicará uma perspectiva clara por parte dos países acerca
das prioridades relacionadas com a sociedade, que poderão, então, reflectir-se num
currículo que alcance um equilíbrio entre os dois aspectos, com uma maior ênfase nas
competências para resolver problemas da vida real e mais exemplos e aplicações
relacionados com a vida nos manuais. Os programas do ESJ no Botswana e na Namíbia
(Ciências da Vida) e o programa de Matemática na África do Sul são exemplos
prometedores neste aspecto.
52. Muitos países da ASS estão a encaminhar-se para abordagens mais integradas em
matéria de ciências, sobretudo nos níveis inferiores do ensino secundário. Esta via segue
as tendências internacionais e pode sublinhar a pertinência dos currículos de Ciências e
resolver a sobrecarga curricular. Os benefícios da integração de disciplinas científicas
autónomas em áreas mais vastas de aprendizagem são significativos: apresentação de
uma visão mais holística da ciência, um enfoque nos problemas do mundo real que
atravessam vários domínios e a promoção do raciocínio científico num leque de contextos
de aprendizagem. Estes aspectos são vitais, especialmente no ensino secundário de
primeiro nível onde é muito importante fornecer bases amplas para a vida em sociedades
complexas e em rápida mudança que exigem cada vez mais julgamentos e decisões
baseados em conhecimentos científicos. Os cursos científicos integrados contêm, pelo
menos, uma combinação de Biologia, Química e Física. Têm sido acrescentados ao
currículo novos tópicos: VIH/sida (em todos os países anglófonos, à excepção do
Botswana), educação ambiental, matérias relacionadas com as ciências e a tecnologia e,
por vezes também, relacionadas com a agricultura e o ambiente (Gana e Namíbia).
129
• Os professores já se debatem com as novas abordagens ao ensino comummente
ligadas a novas combinações de disciplinas, esperando-se deles que “estejam à
altura” de novos avanços.
• Os professores não possuem o conhecimento combinado dos conteúdos
disciplinares relacionados que lhes permita ensinar os domínios integrados de
aprendizagem de maneira eficaz pois não receberam formação para o fazer
(embora o Gana assegure aos professores formação em Ciências Integradas);
• Escasseiam (pelo menos de momento) os materiais pedagógicos (por exemplo,
manuais) tanto para os domínios de aprendizagem como para as novas abordagens
pedagógicas.
70
Groupe pour l'étude et l'enseignement de la population (www.geep.org)
130
cientistas. A revisão dos currículos de Matemática e Ciências está muito atrasada na
maior parte dos países da ASS. A adopção de uma definição clara da “literacia” científica
e matemática pode facilitar esse processo. Por conseguinte, será necessário distinguir
cursos de Matemática e de Ciências destinados a todos os estudantes (sobretudo a nível
do ESJ e como cursos “nucleares”) e os que são seleccionados por estudantes que
pretendem continuar com essas disciplinas a nível do ESS e do ensino superior. Nos
currículos de Matemática e de Ciências, tal como em muitas outras disciplinas, existe a
tentação de acrescentar conteúdo e não de retirar, o que provoca uma sobrecarga e
dificulta o esforço dos professores no sentido de encontrarem um equilíbrio entre metas e
objectivos divergentes, desembocando, muitas vezes, numa cobertura incompleta do
currículo. A revisão dos currículos de SMICT em África está muito atrasada.
57. Na maior parte dos países, a Informática71 é ensinada a nível do ESS. Alguns
países introduziram-na como disciplina autónoma, com uma avaliação própria (em
muitos casos). A maior parte dos cursos centra-se no computador como instrumento para
funções de escritório, apresentações, obtenção de informações na Internet e comunicação
por correio electrónico. No entanto, não é claro que o conteúdo da Informática nos
currículos da ASS esteja actualizado nem tão-pouco se sabe o que cobre ao certo. O
ensino da programação informática com linguagens de nível mais elevado não compete,
provavelmente, às escolas secundárias. Tal como nos países industrializados, os
mercados de trabalho exigem aos diplomados do ensino secundário competências gerais
em TIC. Contudo, o que é usual pedir-se-lhes é muito mais que meras “competências
informáticas”; pede-se-lhes bons conhecimentos acerca do modo como as informações e
os dados são recolhidos, organizados, armazenados e analisados, o que sugere um
número muito maior de “competências tecnológicas” do que as actualmente fornecidas
pelos currículos do ensino secundário e da formação em África.
71
Na verdade, há bons motivos para lhe alterar a designação para “Ciências da Informação”. Para uma
análise das tendências na Europa, consultar o website Eurydice
http://www.eurydice.org/portal/page/portal/Eurydice/ByTopicsResults?topicCode=aacp&subTopicCode=*
***
131
58. As TIC também podem contribuir para melhorar o ensino e a aprendizagem no
nível secundário. Não substituirão os professores, mas podem ser usadas pelos estudantes
numa variedade de importantes aplicações, desde aperfeiçoar uma língua estrangeira,
estudar História e Geografia e praticar as capacidades de pesquisa e análise. Também
podem ajudar os professores a rever as matérias das disciplinas e ajudá-los a identificar
estratégias pedagógicas adequadas e a preparar as aulas. Mas as TIC só podem melhorar
o ensino quando os professores sabem como as usar enquanto instrumento pedagógico.
60. Estes aspectos são exacerbados por problemas de hardware. Em muitos países
africanos, a aquisição e instalação de computadores em escolas primárias e secundárias
são suportadas por dadores. A subsequente manutenção dos computadores e da sua infra-
estrutura – que cabe às escolas – tem representado um desafio substancial para as escolas
e sistemas de ensino na ASS. São vulgares os laboratórios de TIC onde o número de
computadores avariados excede o dos que se encontram em funcionamento. Os recursos
consumidos pela manutenção constituem um encargo significativo para o orçamento das
escolas. Na ASS, os programas educacionais que, de uma maneira ou de outra, dependem
das TIC (por exemplo, apoio aos docentes, apoio às estruturas ou disseminação de
conhecimentos) têm-se deparado amiúde com dificuldades, devido a problemas de
manutenção e avarias frequentes ou à falta de infra-estruturas (por exemplo, linhas
telefónicas ou outras formas de acesso rápido à Internet).72 Em geral, é possível admitir
que o nível de competências e conhecimentos em TIC dos diplomados do ESJ e do ESS
em África é baixo, embora não estejam amplamente disponíveis dados pormenorizados.
As excepções verificam-se sobretudo em centros de recursos, escolas-piloto e institutos
de formação de professores. Os mais bem-sucedidos na utilização prática das TIC são um
pequeno número de projectos, muitas vezes financiados por dadores, como o SchoolNet
Africa e o WorldLinks. Noutros países, algumas escolas encontram maneiras de resolver
este tipo de problemas estabelecendo parcerias com prestadores privados locais de
serviços e formação no domínio da informática.
61. Em suma: Não restam muitas dúvidas de que as TIC terão de ser incorporadas
nos currículos do ensino secundário na ASS como disciplina e instrumento de apoio à
aprendizagem transversal aos currículos. Porém, os custos não serão insignificantes,
72
Ver SchoolNet Africa (http://www.schoolnetafrica.net/) e, em particular SchoolNet Namibia
(http://www.schoolnet.na/), que estão a abordar estes problemas equipando as escolas com computadores
em rede e com servidores que funcionam com o sistema operativo Linux e fornecem manutenção online,
realizada por ex-alunos com formação, energia solar e acesso sem fios à Internet. A utilização do Linux
evita os pesados custos das licenças de software.
132
constituindo muitas vezes um obstáculo. Os problemas práticos decorrentes de encontrar
instrutores competentes, de apoiar o software e de manter em funcionamento o hardware
prejudicam amiúde a eficácia do ensino. Talvez as soluções não-tradicionais em
colaboração com prestadores privados de apoio técnico e de formação em informática
permitam enfrentar com êxito esses desafios.
63. A actividade de avaliação nacional disseminou-se por África nos anos 90. Os
projectos PASEC – do Southern Africa Consortium for Monitoring Educational Quality
(SACMEQ) – e MLA (Monitoring Learning Achievement) contribuíram para o
desenvolvimento da capacidade de avaliação nacional em mais de 20 países. As
informações obtidas numa avaliação nacional acerca das forças e fraquezas nos
133
conhecimentos e capacidades adquiridos pelos alunos e acerca do modo como os
resultados se distribuem por género e localização podem desempenhar um importante
papel na definição de políticas e no processo de decisão. As avaliações internacionais
fornecem dados comparativos sobre os resultados obtidos em vários países. Até agora,
têm participado poucos países africanos. Contudo, as avaliações nacionais realizadas no
âmbito dos programas PASEC e SACMEQ permitem comparações entre os países
africanos participantes. Essas informações facultam importantes oportunidades de
aprender com os países que enfrentam condicionalismos e desafios idênticos. Embora a
avaliação na sala de aula tenha sido a que menos atraiu a atenção em propostas de
utilização da avaliação como forma de melhorar a qualidade do ensino, afigura-se a mais
prometedora no que toca ao reforço dos resultados dos estudantes. Na ASS, é frequente
as avaliações dos professores serem de má qualidade e pouco fazerem para estimular nos
alunos o desenvolvimento de competências mais elevadas e de resolução de problemas.
Infelizmente, melhorar as práticas de avaliação dos professores é mais difícil do que
melhorar ou desenvolver outras formas de avaliação.
134
66. Osaki e Ndjabili (2004) comentam o factor motivacional da classificação
nacional de exames, que faz com que os professores se centrem sobretudo no sucesso nos
exames em detrimento dos conhecimentos gerais e de compreensão. “Os professores
ensinam para os exames” é uma frase comummente repetida em toda a ASS. Muitas
vezes, a matéria que não é alvo de avaliação não é incluída no ensino e aprendizagem na
sala de aula, em parte devido à “elevada exigência” que caracteriza os exames. Os
exames e a avaliação na sala de aula que apenas exigem que os estudantes reproduzam
afirmações, factos e definições habituam estes últimos, inevitavelmente, a uma
aprendizagem e memorização maquinais, independentemente dos objectivos do currículo
do ensino secundário. Este é e tem sido um grave problema em todos os países africanos.
Tabela 6.5 Resultados dos exames no ensino secundário de segundo nível em cinco países da ASS
País Botswana (2004): Gana Senegal (2005): África do Sul Tanzânia
resultados do (2001): (2003): (2004):
BGCSE numa Taxas de resultados de
escala de 8 pontos passagem 2000 entre
Disciplina desde A a G, parênteses
abaixo de G não
são classificados
(U). Percentagens
aproximadas
Primeira Setswana: 76% 4 fieiras principais: 2 de Candidatos com Não
língua língua e humanidades, 1 seis ou mais existem
Segunda Inglês: 77% Inglês: de ciência e 1 de disciplinas. dados
língua 61,3 % comércio. Notas ABCD, Taxa total de pormenoriz
Matemática 53,1% 48,8 % E (reprovação). Taxa aprovação: ados por
Ciência Ciência Simples, 50,7 % total de aprovação: 73,3% (58%) disciplina
Ciência Dupla 45,5% (2002: 39,7%). Aprovados com
Física, Química, Aprovação com notas distinção: Taxa geral
Biologia: B,C e D ABC: 6%D: 94% 18,6 %, (14%) de
80% ou mais, Raparigas. Resultados Aprovados sem aprovação:
excepto Ciência nas 2 fieiras principais distinção: 93 %.
Simples 63% “Língua e 54,6%, (44%)
Ciências 90% Humanidades” Candidatos
Sociais ligeiramente superiores reprovados:
às fieiras de Ciências 26,7%, (42,1%)
Fonte: van den Akker e Ottevanger, (2006)
135
Porém, é mais fácil dizê-lo do que fazê-lo, pois isso exige a resolução simultânea de
várias questões: a escassez de materiais de ensino e de aprendizagem, o conhecimento
deficiente das disciplinas por parte dos professores, a definição do currículo e o
estabelecimento de padrões específicos para as disciplinas, a adaptação dos exames e
uma melhor formação e apoio aos professores. Contudo, a implementação de novos
currículos exige novas formas de exame e de avaliação. Sem elas, as alterações
curriculares têm poucas ou nenhumas hipóteses de chegar às salas de aula. A falta de
alinhamento entre as intenções curriculares e a avaliação bem como a qualidade das
avaliações e exames continuam a constituir um importante obstáculo à implementação
eficaz do currículo.
70. A participação dos países africanos nas avaliações internacionais ainda é muito
pouco significativa a nível do ensino secundário. Existem fortes razões para que o
PASEC e o SAQMEC venham a incluir este nível de ensino (ver capítulo 8 para uma
discussão mais aprofundada). Os instrumentos técnicos terão de cumprir os padrões
internacionais, e os resultados de testes tais que permitam comparações internacionais
constituirão muitas vezes um incentivo para a revisão das políticas e práticas existentes e
para a reflexão sobre estratégias de melhoria.
136
• Definição dos padrões apropriados do desempenho da aprendizagem enquanto
parte integrante de novos currículos do ESJ e ESS73 e atribuição de
responsabilidades claras pela garantia de qualidade, estabelecimento de padrões e
monitorização do desempenho.
• Distinção entre os padrões mínimos e aceitáveis e a necessidade de responder às
exigências de ingresso no ensino superior.
• Inclusão de novas formas de avaliação de competências que não são medidas nas
actuais práticas de avaliação e nos exames comuns.
• Melhoria da qualidade técnica dos itens constantes dos enunciados dos exames:
precisão da resposta correcta, clareza de linguagem e de expressão, níveis
adequados de exigências cognitivas74; é importante seleccionar itens que meçam o
desempenho da aprendizagem e não a competência linguística.
• Reforço e acompanhamento do processo de preparação dos enunciados,
concretamente a selecção, formação e acompanhamento dos examinadores e
moderadores.
• Recolha de dados estatísticos sobre tendências do desempenho na aprendizagem ao
longo do tempo, bem como níveis de implementação curricular e de aprendizagem
como base para intervenções correctivas.
• Aplicação de tecnologias modernas, incluindo TIC, nas avaliações e exames.
• Distinção de níveis de competências cognitivas para todas as disciplinas, com base
num banco de itens de testes.
• Utilização de avaliações de trabalho durante as aulas não apenas para fornecer
feedback sobre o ensino e a aprendizagem mas também para as notas de fim do ano
e de exames.
• Inclusão, tanto quanto possível, de avaliações baseadas em práticas laboratoriais
para as disciplinas de Ciências.
73
Os padrões para os currículos das disciplinas de ESJ devem ser alinhados dentro do currículo do “ensino
básico”. Os padrões para os currículos das disciplinas do ESS devem ser alinhados pelos objectivos de um
“perfil desejado do diplomado” do ESS, que tenha em consideração que, para algumas disciplinas desse
nível de ensino, o conteúdo muda frequentemente (por exemplo, TIC).
74
O que é problemático, muitas vezes. No Botswana, a qualidade da avaliação foi descrita como
“caracterizada por itens de baixa qualidade nos testes e inadequação, ou seja, itens mal construídos e um
número insuficiente de testes” (Departamento do Ensino Secundário do Botswana, 2003).
137
Conclusão
73. A reforma curricular do ensino secundário na ASS deve constituir uma parte
importante da transição de um ensino de elite para um sistema de massas. Em muitos
países, os currículos e os sistemas de exame mudaram notoriamente pouco ao longo de
décadas; a herança colonial é muitas vezes claramente visível na estrutura e conteúdo do
que é ensinado. A argumentação a favor da reforma decorre de preocupações com a
pertinência local em sociedades em rápida mudança, das diferentes prioridades e
aspirações de uma população estudantil muito maior com uma composição social em
mudança e da necessidade que têm as economias em crescimento de formar o pessoal
indispensável para uma participação eficaz numa economia global impulsionada pela
tecnologia. Estas preocupações levam os países a pensar em:
74. Trata-se de uma agenda ambiciosa, cuja implementação exigirá uma articulação
sistémica e selectividade. Este processo de alteração curricular só será bem-sucedido se
for explicitamente concebido para garantir as ligações entre as diferentes partes do
sistema. O ESJ deverá assentar nos currículos do ensino primário e ser concebido como
parte integrante de um programa de ensino básico contínuo. O ESS deverá assentar nos
currículos do ESJ e possuir ligações explícitas aos requisitos de entrada nas instituições
terciárias. Tanto os currículos do ESJ como os do ESS terão de enfatizar as capacidades
de continuar a aprender e a adquirir competências. A melhoria do ensino da matemática,
das ciências e da tecnologia não pode ser implementada como um programa de nível
nacional. No início, os esforços terão de se centrar inevitavelmente em escolas
seleccionadas. Neste aspecto, o apoio público deverá ser concedido prioritariamente às
escolas que servem populações desfavorecidas e que propõem acordos de colaboração
com organismos não-governamentais e com operadores privados.
138
75. Os currículos devem estar intimamente ligados aos perfis de saída desejados para
os diplomados tanto do ESJ como do ESS. Os currículos do ESJ terão de reconhecer que
já não podem ser concebidos para responder às necessidades de um pequeno grupo de
estudantes que deseja continuar a estudar no ensino formal, mas que terão de preparar um
grupo muito maior, tanto para o trabalho como para o ensino e a formação ao longo da
vida. Deverão pôr a tónica no ensino de disciplinas cruciais para o perfil de saída
desejado para os diplomados, incluindo a Matemática, as Ciências e uma língua
internacional. Devem garantir igualmente que os estudantes adquirem capacidades de
análise e de resolução de problemas e, mais importante ainda, que possuem motivação e
aptidão para continuar a aprender e a adquirir mais competências. Além dos aspectos
académicos, os currículos terão de reconhecer a importância da preparação dos alunos
para uma vida saudável e uma participação activa em sociedades cada vez mais
democráticas e em rápida mudança. É melhor adiar a formação vocacional orientada para
o trabalho para o ensino secundário de segundo nível e ministrá-la em instituições
especializadas e não em escolas secundárias gerais.
76. O ESS terá de evoluir para um sistema que ofereça uma vasta gama de
oportunidades de ensino e formação aos estudantes diplomados pelas escolas secundárias
de primeiro nível. O acesso terá de manter-se selectivo num futuro previsível,
especialmente nas escolas secundárias gerais e nas instituições formais de formação. Para
proporcionar oportunidades de continuação dos estudos aos que não foram admitidos
nesses estabelecimentos, será importante apoiar o desenvolvimento de outras
oportunidades de formação em instituições não-formais, por intermédio de estágios, ou
em centros de formação mantidos por prestadores privados e empresas. Algumas destas
oportunidades serão em programas a tempo inteiro e muitas outras a tempo parcial,
possivelmente em combinação com a actividade profissional. Os currículos terão de ser
flexíveis, de responder às necessidades do mercado de trabalho e de ser concebidos tendo
em conta as opiniões dos empregadores.
139
nível do secundário, a tónica costuma ser posta na literacia informática, incluindo a
utilização de software comum. O segundo nível do secundário centra-se nos princípios da
informática e na utilização de aplicações mais avançadas para a investigação e a
resolução de problemas. Os currículos relacionados com as TIC terão de adaptar-se a
tecnologias e necessidades do mercado de trabalho em rápida mudança. Na maior parte
dos casos, isto requer uma revisão regular (a espaços de 3-4 anos) do conteúdo (e das
consequentes necessidades de formação dos professores) realizada por especialistas
locais e internacionais.
80. A elevada exigência nos exames ensombra os sistemas de ensino na ASS. O seu
principal objectivo é seleccionar estudantes para o nível seguinte. Muitos ainda recorrem
a padrões prevalecentes nos países industrializados – geralmente a antiga potência
colonial. Muitos apelam a factos memorizados em vez de apelar à compreensão e
demonstração de competências. As relações com os objectivos curriculares cruciais são
muitas vezes débeis. Raras vezes se tem recorrido ao potencial que os exames têm para
melhorar a instrução através da análise sistemática dos itens e do fornecimento às escolas
de feedback sobre os resultados. Poucos países da ASS participaram em avaliações
internacionais ou realizaram com regularidade avaliações nacionais sobre aprendizagem.
A avaliação na sala de aula, enquanto meio de identificar os resultados de aprendizagem
dos estudantes e de direccionar a instrução de recuperação, ou não se realiza ou é
deficiente.
140
Tabela 6.5: Opções para a reforma do ensino secundário de primeiro e segundo níveis
Problema Resposta possível a nível do ESJ Resposta possível a nível do ESS
A elevada exigência • Garantir que os exames tomam • Garantir que os exames finais e os
nos exames não apoia como referência os currículos exames de acesso à universidade
as alterações • Fornecer às escolas feedback acerca tomam como referência os
curriculares e a dos resultados em itens específicos currículos
aprendizagem dos exames • Fornecer às escolas feedback
acerca dos resultados em itens
específicos dos exames
Poucos conhecimentos • Desenvolver avaliações nacionais • Desenvolver avaliações nacionais
sobre o nível e • Participar em avaliações • Participar em avaliações
progresso da internacionais internacionais
aprendizagem
Deficientes ligações • Integrar os currículos do ESJ e do • Tomar como base os currículos do
entre sistemas ensino primário ESJ e estabelecer ligações com
instituições terciárias
Deficientes ligações • Relacionar intimamente os • Relacionar intimamente os
com o mundo do conteúdos curriculares e os “perfis conteúdos curriculares e os “perfis
trabalho e o mercado de diplomados” formais de diplomados” formais
de trabalho • Pôr a tónica nas competências • Desenvolver uma vasta gama de
genéricas oportunidades de formação de
• Adiar a formação pré-vocacional e modo a responder às necessidades
profissional para o ensino do mercado de trabalho e às
secundário de 2º nível aspirações dos estudantes
Baixos níveis de • Aumentar o tempo de ensino • Fornecer instalações e
aprendizagem • Reforçar a formação e o apoio aos equipamento adequados, incluindo
sobretudo em professores centros de recursos
matemática e ciências • Progredir gradualmente rumo às • Pôr a tónica na profundidade do
ciências integradas currículo e não na cobertura
• Estimular a avaliação na escola e na • Estimular a avaliação na escola e
sala de aula na sala de aula
Preparação inadequada • Facultar introdução às TIC • Facultar TIC como disciplina e
para a utilização das como instrumento de apoio ao
TIC no trabalho e na ensino noutras disciplinas
aprendizagem
posterior
141
Haverá maior dádiva que possamos oferecer à
república do que ensinar e instruir a nossa
juventude?
- Cícero
Capítulo 7
75
As secções deste capítulo que se relacionam com professores, directores e supervisão foram inicialmente
esboçadas por Aidan Mulkeen. A secção sobre manuais baseia-se num artigo de fundo de Tony Read e
Amanda Buchan (2006).
142
3. No entanto, este desafio não é apenas quantitativo. Espera-se igualmente que os
professores se empenhem num leque de novos desafios. Os níveis actuais dos resultados
de aprendizagem são baixos (Capítulo 1) e a sua melhoria exigirá estratégias pedagógicas
mais eficazes. O aumento no número de inscrições e os recursos públicos limitados
traduzir-se-ão em turmas maiores para muitos professores, com estudantes com diferentes
características, possivelmente com um domínio mais limitado da língua de ensino e
menores níveis de literacia, de numeracia e de capacidades de análise (Lewin, 2002). A
gestão de turmas mais diversas exigirá melhores técnicas de gestão de sala de aula e
métodos de ensino diversificados (Condy, 1998). Além disso, é possível que se espere
dos professores que evitem castigos físicos, que criem um clima de colaboração na sala
de aula, que promovam o pensamento analítico, que estimulem a cidadania e atitudes
equitativas em matéria de género e que incorporem as TIC no seu trabalho (Capítulo 6).
Cada vez mais se lhes pede que contactem com os pais e com a comunidade local, e que
estabeleçam relações de colaboração com eles. Somando tudo, os países enfrentam um
desafio intimidante: necessitam de aumentar o número de professores, de melhorar a
qualidade do ensino e de formar professores que lidem com tarefas mais complexas, ao
mesmo tempo que têm de reduzir o custo por aluno.
Caixa 7.1: Um ensino de qualidade é vital para a melhoria da aprendizagem dos alunos
A aprendizagem dos alunos é influenciada por muitos factores, incluindo: competências, expectativas,
motivação e comportamento dos alunos; recursos, atitudes e apoio da família; competências, atitudes e
comportamento do grupo de pares; organização, recursos e clima da escola; estrutura e conteúdo do
currículo; e competências, conhecimentos, atitudes e práticas dos professores. As escolas e as salas de aula
são ambientes complexos e dinâmicos, e a identificação dos efeitos desses diversos factores e do modo
como se influenciam e se relacionam uns com os outros – para diferentes tipos de alunos e diferentes tipos
de aprendizagem – tem sido, e continua a ser, um foco fundamental da investigação educacional.
Três conclusões gerais emergem de pesquisas sobre a aprendizagem, que desembocaram em várias
descobertas. Em primeiro lugar, a maior fonte de variação na aprendizagem deve-se a diferenças que os
alunos levam para a escola – as suas capacidades e atitudes e o ambiente da família e da comunidade.
Em segundo lugar, os factores relacionados com os professores e o ensino constituem as influências mais
importantes a nível da escola no que toca à aprendizagem. Em particular, um amplo consenso identifica a
“qualidade do professor” como a variável isolada mais importante, a nível da escola, que influencia os
resultados do aluno.
A terceira conclusão retirada das investigações diz respeito aos correlatos da qualidade do professor. A
maior parte das investigações examinou a relação entre o desempenho do estudante e características do
professor tais como qualificações, experiência pedagógica e indicadores de competência académica ou de
conhecimentos da disciplina. Essas investigações costumam descobrir uma relação positiva entre essas
características dos professores e o desempenho dos alunos, mas talvez menos acentuadas do que se
esperaria. Um dos pontos de acordo é que existem muitos aspectos importantes da qualidade do professor
que não são captados pelos indicadores comummente utilizados. As características dos professores que são
mais difíceis de medir, mas que podem ser vitais para a aprendizagem dos alunos, incluem a capacidade de
143
transmitir ideias de uma maneira clara e convincente, de criar ambientes eficazes de ensino para diferentes
tipos de alunos, de estimular relações professor-aluno produtivas, de ser entusiasta e criativo e de trabalhar
eficazmente com colegas e pais.
Fonte: OCDE, 2004.
Ensino geral
5. A eficácia dos professores do ensino secundário relaciona-se fortemente com o
seu nível de domínio da disciplina que ensinam. Não devem conhecer apenas o conteúdo
que ensinam, mas possuir uma compreensão profunda do mesmo. Estudos realizados nos
EUA mostram que uma preparação avançada em conteúdo para os professores é
especialmente importante no ensino secundário de segundo nível (Rice, 2003). Talvez se
trate do princípio dos “rendimentos decrescentes”: é importante que os professores
possuam um nível de ensino superior àquele que ensinam, sendo que cada nível adicional
a partir daí também melhora a qualidade, mas em menor grau.
144
7. Em resumo, os dados recolhidos sugerem que os professores mais instruídos
alcançam melhores resultados. Idealmente, seria desejável dispor, no ensino secundário,
de uma população docente totalmente composta por licenciados, mas, a médio prazo, a
maior parte dos países africanos não será capaz de encontrar e financiar um número
suficiente de professores licenciados, sobretudo num contexto de aumento das inscrições.
Os sistemas em rápido crescimento poderão acabar por ter um pequeno número de
professores altamente qualificados e dispendiosos, muitos professores sem preparação e
turmas cada vez maiores. A alternativa de restringir as inscrições raramente é exequível.
Por conseguinte, os países poderão ter de recorrer a professores com qualificações
formais mais baixas, sobretudo no ensino secundário de primeiro nível. Quaisquer que
sejam as qualificações exigidas, o que é importante é que sejam realistas e comportáveis.
Não se ter em consideração a qualidade dos professores no activo pode conduzir a
expectativas irrealistas em matéria de currículo e tender a reduzir a necessidade
reconhecida de apoio aos docentes em serviço.
Formação profissional
8. Os programas de ensino de professores variam na sua organização, duração e
âmbito, mas o seu conteúdo possui aspectos comuns (Coolahan, 2002; Nwaboku, 1996)
que incluem habitualmente:
a) estudos académicos, normalmente nas matérias a leccionar;
b) preparação pedagógica, composta por
(i) estudos em ciências da educação, como psicologia e sociologia da educação;
(ii) estudo de metodologias e de métodos de ensino;
(iii) prática docente.
10. Usam-se diversos sistemas em África (Tabela 7.2), havendo muitos países que
proporcionam os dois modelos como percursos paralelos alternativos para o ensino. Cada
modelo possui importantes implicações financeiras. O modelo consecutivo pode
transferir a maior parte dos custos de formação para o estudante, consoante o modo como
o ensino superior é financiado. É mais habitual o modelo concorrente ser fornecido sem
custos para os estudantes, facultando o acesso ao ensino a indivíduos que, de outra
maneira, não o poderiam suportar.
145
Tabela 7.2 : Professores do ensino secundário: níveis de recrutamento e duração da formação
País nível de recrutamento Duração
Guiné Equatorial Professor diplomado ou ano pré-académico 3 anos
Camarões Diploma do secundário ou CGE 3 anos
Mali Bacharelato 2 anos
Camarões ENSY Bacharelato BA 2 anos
Botswana (universidade) Bed, BSc, BA 1 ano
Angola Diploma do secundário (11º ano) 4 anos
11. Além dos projectos em pequena escala, os estudos fornecem poucos dados acerca
do papel da formação de professores como factor efectivo de mudanças no ensino na
África Subsaariana. Ware (1992), por exemplo, cita investigadores na África do Sul,
Nigéria e Quénia que descrevem as dificuldades para alterar práticas de sala de aula dos
professores do ensino secundário. Foram relatadas algumas dificuldades estruturais
relacionadas com o ensino de professores:
• Uma ênfase excessiva nos estudos sobre educação. Lewin (2000) argumentou que
o ensino de professores centra-se muitas vezes na história, psicologia e sociologia
da educação em detrimento da pedagogia, o que deixa os estudantes mal
preparados para o ensino na sala de aula. É muito frequente os alunos que
estudam para professores terem dificuldade em captar as implicações práticas das
ciências da educação.
• Metodologia distante das realidades da sala de aula. A própria componente
metodológica não é, muitas vezes, devidamente valorizada. Os professores
“queixam-se amiúde das discrepâncias entre o que o ensino superior lhes oferece
nos cursos de formação de professores e as exigências de leccionar em sala de
aula” (Sun e de Jong, 2001).
• Prática de ensino deficiente. Ensinar é uma competência prática. A prática de
ensino devia figurar no centro da tentativa de desenvolver boas competências
pedagógicas. Contudo, o valor da prática docente depende em larga medida da
qualidade da supervisão e orientação fornecidas durante o período de prática. É
muito frequente as visitas de supervisão serem inadequadas, tanto em número
como em qualidade, não possuindo, por isso, grande valor acrescentado.
• Tendência para ensinar como foram ensinados. O período em serviço mais longo
e mais intenso por que todos os professores passam é a sua própria experiência de
ensino enquanto estudantes, muitas vezes amplamente assente em tomar notas e
decorar factos para os exames (Ampiah et al., 2000).
12. Para ser eficaz, o ensino de professores deverá equipar os professores acabados
de formar com competências práticas de sala de aula cuja utilização seja evidente ao
ponto de os levar a dispensar a imitação instintiva dos métodos que experimentaram
pessoalmente. Infelizmente, é vulgar as instituições de formação de professores
possuírem capacidades limitadas para fornecer tais competências. Na sua maioria, os
146
alunos que estudam para professores já não praticam em sala de aula. Podem ter poucas
experiências recentes nesse domínio, correndo o risco, portanto, de transmitir teorias que
não validaram pessoalmente na prática (Paniagua, 2002). Mesmo quando estavam a
ensinar, é possível que não tenham sido os melhores professores, pois a promoção faz-se
muitas vezes com base nas credenciais académicas ou na antiguidade. A nomeação de
pessoal docente adequado pode ser ainda mais difícil nas universidades, onde as
exigências de distinção académica talvez superem o valor da excelência na sala de aula
(Coolahan, 2002). O ensino de professores em universidades pode não ter nada a ver com
o sistema de ensino secundário, respondendo até perante outro ministério, como acontece
na Namíbia, na Tanzânia e no Zimbabwe (Gaynor, 1998). No Lesoto, a faculdade de
educação emite diplomas em ciências da educação, em ensino agrícola e em economia
doméstica, e um B-Ed. para ensinar nos níveis secundário e primário, mas os programas
de formação não prestam grande atenção às disciplinas ensinadas nas escolas secundárias
(UNESCO, 2003).
15. O ensino à distância constitui uma opção que tem atraído muito interesse devido
à poupança nos custos (ver capítulo 5) e à possibilidade de atingir beneficiários
geograficamente afastados. Dar formação a professores que continuam a estar presentes
nas escolas é mais atractivo do que os sistemas em que os professores têm de se ausentar
e de frequentar estabelecimentos de ensino em tempo inteiro, tanto devido à
disponibilidade dos professores como aos custos (Yates, 2000). No modelo do ensino à
distância, os professores que estudam passam mais tempo a leccionar e menos a estudar.
Como seria de esperar, trata-se de um modelo eficaz para a transmissão de experiências
de ensino, mas menos eficaz para a formação académica em conhecimentos ligados aos
conteúdos. No Malawi, onde este modelo tem sido utilizado com professores primários,
as avaliações identificaram como dificuldade um desempenho deficiente no que toca aos
conhecimentos ligados aos conteúdos.
147
16. Tem-se vindo a desenhar cada vez mais a tendência para a promoção de redes ou
grupos inter-escolas, em que o pessoal de un certo número de escolas trabalha em
conjunto na elaboração de novos currículos ou metodologias (Coolahan, 2002). Apesar
de poder ser mais lenta, é provável que esta abordagem venha a ter um impacto a longo
prazo na metodologia e práticas, tanto para veteranos como para novatos. O Quénia está a
testá-la (Caixa 7.2)
148
professores, muitos países africanos deram mais ênfase à fase inicial, deixando por
desenvolver as outras duas. Ao mesmo tempo, a fase inicial é muitas vezes demasiado
teórica e afastada da realidade das escolas. Se essas três fases forem vistas como fazendo
parte de um processo contínuo de desenvolvimento profissional, há possibilidade de
transferir uma parte do conteúdo para as fases mais avançadas em que poderá revelar-se
mais pertinente para os professores e ter maior impacto na prática. Então, a formação
inicial dos professores poderia tornar-se mais curta e centrar-se mais nas competências
práticas necessárias à realidade da sala de aula. Processos de selecção aperfeiçoados
poderiam reforçar a eficácia destas políticas.
149
Caixa 7.4 Tendência internacional: mais é compatível com a tendência internacional
formação de professores nas escolas para uma maior formação de professores nas
No Reino Unido, a escola é encarada como uma
parceira na formação de professores, sendo-lhe
escolas, motivada pelo desejo de melhorar as
atribuídos financiamentos e responsabilidades relações entre a formação e a prática na sala de
(Coolahan, 2002). Na Suíça, uma das aula (Caixa 7.4).
características fundamentais dos novos
estabelecimentos de formação de professores é 20. Seja como for, será muitas vezes
o aumento do tempo e da importância
concedidos à experiência prática em salas de desejável ajustar o currículo de formação dos
aula verdadeiras. Isto surgiu como resposta a professores, dando mais ênfase ao
uma das maiores exigências formuladas pelas desenvolvimento de competências práticas que
associações profissionais de docentes, para os professores podem utilizar na sala de aula, e
todas as funções da profissão – incluindo menos às disciplinas nucleares teóricas. Uma
relações com os pais, projectos e trabalho de
equipa, e colaboração com as autoridades estrutura em que as aulas são dadas em tempo
(Kucera e Stauffer, 2003). Na Noruega, os parcial fora do horário lectivo poderá facilitar
alunos que estudam para professores costumam o recurso a professores do ensino secundário
trabalhar como professores assalariados, não- para proporcionarem formação a professores.
certificados, antes e durante a sua formação
(Kyriacou et al., 1999).
21. A eficácia do apoio dado pela indução
é crucial para o êxito deste tipo de modelo. A
experiência do professor durante os primeiros anos de ensino é crucial para o
desenvolvimento e aplicação dos conhecimentos e competências adquiridos durante a
formação inicial e para a formação de atitudes positivas em relação ao ensino como
profissão. Contudo, o professor principiante é amiúde “lançado às feras”, com uma carga
lectiva completa e responsabilidades associadas. Em geral, aceita-se o valor, para o
professor principiante, de bons processos de indução, mas escasseiam políticas coerentes
sobre a sua implementação, não obstante
150
vezes, a escassez é particularmente grave e o Caixa 7.5: Reforçar a Matemática e as
domínio das disciplinas por parte dos Ciências no Ensino Secundário
No Quénia, desenvolveu-se um sistema de
professores insuficiente. formação em serviço dos professores destinado a
melhorar a qualidade do ensino da Matemática e
24. A estruturação da selecção e das das Ciências nas escolas secundárias. Professores
condições a fim de atrair os que pretendem seleccionados em nove distritos-piloto receberam
ensinar, em vez daqueles que querem usar a uma formação intensiva, após o que foram
sua formação de professores como uma responsabilizados pela formação de outros
professores, sobretudo na utilização de
etapa para outras oportunidades, também actividades com estudantes, improvisação e
poderia ajudar a reforçar a qualidade e a experiências. A avaliação comprovou efeitos
reduzir as perdas. Uma selecção para o positivos nos distritos-piloto, mas referiu a
ensino de professores inteiramente baseada dificuldade do modelo de cascata, cuja qualidade
nos resultados académicos não permite a e eficácia variaram consoante os distritos.
Fonte:
selecção preferencial de indivíduos http://www.jica.go.jp/english/evaluation/project/t
específicos, incluindo (i) os que são dotados erm/af/archives/14-1-22.html
de características pessoais particularmente
adequadas ao ensino, (ii) os que estão fortemente interessados em ensinar, e (iii) os que
são oriundos de zonas ou comunidades para onde é difícil atrair professores. Em
consequência, o ensino de professores aceita frequentemente um número significativo de
pessoas que não estão interessadas no ensino como profissão e que usam a sua formação
de professores como forma de frequentar um ensino superior subsidiado, ou que não
estão dispostos a ensinar nas zonas em que são necessários. Mecanismos de selecção
mais flexíveis que permitissem a avaliação das características da pessoa poderiam reduzir
as perdas e aumentar a qualidade e disponibilidade dos professores.
• Recorrer a pessoas de fora com qualificações suficientes. Pode ser que haja um
grupo de pessoas com habilitações gerais adequadas, mas sem formação como
professores. A única solução possível é fornecer-lhes uma formação acelerada
nesse domínio. Um ponto de partida para o recrutamento poderá ser “um nível de
ensino superior àquele que será ensinado”, como mínimo.
• Ministrar cursos acelerados de pedagogia. Se existe um número suficiente de
candidatos a professores com o domínio exigido do conteúdo da disciplina, é
possível facultar-lhes uma formação rápida, eliminando o ensino do conteúdo da
disciplina, centrando a formação nas competências práticas de sala de aula e
adiando os estudos educacionais e outras matérias teóricas para a formação em
151
serviço. Deve ser possível equipar esses professores com um curso de emergência
que lhes forneça as competências essenciais no espaço de um mês de formação
pré-serviço.
• Ministrar cursos acelerados de conteúdos. Em muitos casos, escasseiam
professores com formação académica suficiente para leccionar no ensino
secundário. A escassez de professores com conhecimentos adequados em matéria
de conteúdos constitui uma dificuldade grave, porque o conteúdo da formação não
pode, muitas vezes, ser comprimido de modo a encaixar num período de tempo
curto, sobretudo em disciplinas cruciais como a Matemática, as Ciências e as
Línguas internacionais. Os melhores candidatos para programas deste tipo podem
ser os professores que leccionam o nível imediatamente inferior e que desejam
uma certificação adicional, possivelmente através de uma combinação de ensino à
distância e de aulas adicionais durante as férias. A formação centrar-se-á
fortemente no domínio dos conteúdos.
• Reestruturar a carreira docente. À semelhança de outros profissionais, os
professores são motivados pela progressão na carreira, o que significa muitas
vezes sair da sala de aula ou leccionar no nível seguinte do sistema. Os
professores mais antigos podem ser motivados por estruturas de carreira que lhes
atribuam responsabilidades adicionais. As oportunidades ideais para isso
acontecem quando se proporciona a novos professores formação em escolas. Os
professores experientes podem ser contactados para dar apoio e formação aos
novos colegas, constituindo assim uma fonte de apoio local para os mais novos e
de rejuvenescimento e aumento de estatuto para os mais experientes.
• Tomar medidas para recrutamento de emergência. Para aumentar o número de
professores, pode ser necessário, a curto prazo, tomar medidas de emergência para
aumentar a oferta de professores, incluindo encorajar os professores que passaram
a idade de reforma a permanecerem em funções, permitir que funcionários
públicos com habilitações suficientes trabalhem como professores por um período
limitado (um ou dois anos) e depois regressem ao seu trabalho, e pedir aos
professores que ensinem em turmas de maiores dimensões ou mais horas.
152
Tabela 7.3: Resumo das opções para o desenvolvimento de professores
Acção possível Potencial Limitações
Reestruturar o ensino de professores Tornar o ensino de professores mais eficaz Depende do apoio a nível
pondo a tónica em competências práticas. Tanto da escola, sobretudo se os
quanto possível transferir o ensino para o nível transportes constituem um
da escola. Facultar apoio à indução e ao CPD problema
Reestruturar a selecção para o Pode ajudar a atrair para o ensino as pessoas Solução a médio prazo
ensino de professores de modo a interessadas em ensinar e reduzir as perdas que leva alguns anos a dar
aceitar estudantes com o perfil resultados
exigido (direccionar para grupos e
disciplinas específicos).
Aumentar o número de lugares no Aumenta a oferta de professores. Adequa a Solução a médio prazo
ensino de professores de modo a oferta às necessidades previsíveis em domínios que leva alguns anos a dar
satisfazer as necessidades disciplinares específicos resultados
Atrair para o ensino pessoas Se o número for suficiente, essas pessoas Limitada pela
instruídas através de cursos de depressa produzem uma oferta de novos disponibilidade. Podem
formação pré-serviço de curta professores não estar interessados em
duração trabalhar em todas as
zonas
Fornecer cursos acelerados de Pode aumentar rapidamente o número de Os candidatos adequados
pedagogia a candidatos com professores disponíveis podem não estar
conhecimentos suficientes dos disponíveis; precisa de ser
conteúdos disciplinares acompanhada de um CPD
direccionado
Fornecer cursos acelerados em Pode fornecer um aumento relativamente rápido. Leva muito tempo a
conteúdos disciplinares Por exemplo, um curso concentrado de produzir resultados. Pode
Matemática com a duração de um ano pode envolver algumas
permitir a um recém-diplomado ensinar a cedências em matéria de
disciplina no ensino secundário. Os programas qualidade
de ensino à distância e durante as férias podem
ajudar professores do ensino primário e
secundário de 1º nível a obter qualificações para
leccionar num nível mais elevado de ensino
Reestruturar a carreira docente Criar posições de responsabilidade para Tem de ser negociada com
professores competentes, que podem incluir os sindicatos de
acompanhar professores jovens ou dar formação professores
em centros locais. Facultar oportunidades de
progredir para o próximo nível
Medidas de emergência; permitir Pode fornecer uma solução imediata Solução exclusivamente a
que professores reformados e outros curto prazo
funcionários públicos ensinem
Incentivar um ensino de qualidade Pode melhorar a motivação e responsabilização É improvável que as
através do reforço da autonomia dos professores e a aprendizagem por parte dos recompensas financeiras
local e de recompensas para alunos, ao proporcionar mais tempo na tarefa e relacionadas com o
medidas controladas por professores uma instrução mais bem organizada desempenho dos
estudantes sejam eficazes
Ajudar os professores a serem bem- Políticas que desembocam em currículos
sucedidos apropriados, bons manuais, etc., que permitem
que os professores sejam bem-sucedidos
153
• Incentivos aos professores como medida de qualidade. Tem-se discutido muito a
possibilidade de utilizar sistemas de incentivos que melhorem o desempenho dos
professores. É provável que os sistemas que recompensam professores que são
assíduos e ensinam eficazmente tenham repercussões no desempenho dos
estudantes, pois aumentam o tempo concedido às tarefas. Os sistemas
relacionados com a avaliação administrativa do desempenho dos alunos em
exames e testes têm-se revelado mais problemáticos. As reformas na gestão que
aumentam a autonomia local constituem muitas vezes incentivos para um melhor
desempenho dos professores (Capítulo 8).
• Ajudar os professores a serem bem-sucedidos. Uma estrutura curricular que
ajude os professores a organizarem a sua actividade de uma maneira
sistemática e progressiva, que apresente o conteúdo e a terminologia de uma
maneira simples e directa e que seja acompanhada por materiais pedagógicos
de boa qualidade que ajudem a explicar a matéria e estruturem as
actividades de aprendizagem apropriadas pode aumentar a motivação e as
oportunidades de êxito.
Directores de escolas
29. Os directores de escolas ocupam um papel central na qualidade do ensino.
Infelizmente, muitos encaram o seu papel sobretudo como administradores. Podem
trabalhar relativamente isolados, evitando o papel talvez mais importante de líder
educacional do estabelecimento. A necessidade de melhorar a liderança nas escolas tem
sido amplamente reconhecida. Contudo, poucos são os directores com preparação
adequada para o cargo. Um estudo de 31 países africanos, realizado em 1990, concluiu
que só três possuíam programas de formação abrangentes em planeamento, administração
e gestão educacional. Além disso, a utilização frequente da antiguidade e da ideologia
como critérios de promoção faz com que os directores sejam, muitas vezes, um grupo
154
bastante conservador com pouca motivação para inovar ou apoiar novas práticas, tanto na
escola como na sala de aula (Carron e de Grauwe, 1997).
31. Os directores das escolas secundárias que estão sempre a enfrentar problemas
financeiros e de gestão centram-se habitualmente em questões relacionadas com a gestão
de recursos. Num estudo efectuado no Quénia, os directores das escolas identificaram
como principais preocupações as propinas e problemas de dinheiro (Kitavi e Westhuizen,
1997). O estabelecimento de boas relações com a comunidade é outro encargo dos
responsáveis das escolas, para o qual a formação não os preparou. Segundo investigações
no Uganda, Malawi, Botswana e África do Sul, os directores das escolas tendem a não
possuir a formação em liderança necessária a uma gestão eficiente (Gottelmann-Duret et
al., 1998). A maioria dos directores das escolas tende a encarar o seu papel como um
papel de gestores, subvalorizando o papel de líderes educacionais. Esta tendência para se
centrarem nas questões de gestão tem sido reforçada pela descentralização, que alargou
as responsabilidades dos directores das escolas (Riley, 1999). Segundo um inquérito feito
a 200 directores no Togo, a maioria preferia ver-se como meros administradores, ao
passo que os professores das mesmas escolas os procuravam como orientadores em
matéria educacional (Kogoé, 1986).
32. Os problemas de liderança das escolas têm sido agravados por práticas
deficientes de selecção e pela falta de formação e apoio específicos. Não é evidente que
estejam a ser seleccionados os melhores indivíduos para directores, pois os critérios de
promoção nem sempre são claros e a antiguidade desempenha muitas vezes um
importante papel na selecção. Os novos directores raramente possuem formação
155
específica para as novas responsabilidades que enfrentam, sobretudo antes de assumirem
o cargo (Gottelmann-Duret et al., 1998). Uma vez nomeados, recebem pouca supervisão
ou apoio de autoridades ministeriais (inspectores e supervisores) e as visitas dos
representantes do ministério são pouco frequentes (Carron e de Grauwe, 1997). Entre as
consequências desta situação, figuram padrões incertos de desempenho e uma deficiente
responsabilização.
156
incluindo oportunidades de contacto com outros directores. Na África do Sul, a
transparência do sistema de promoções foi reforçada por intermédio da participação no
processo do conselho da escola e dos sindicatos representativos dos professores
(Gottelmann-Duret et al., 1998).
Apoio e inspecção
37. Nenhuma profissão consegue manter padrões elevados sem alguns mecanismos
de garantia de qualidade. Na profissão de professor, a necessidade de estruturas de
supervisão e de apoio é reforçada pela relação de poder desigual, em que os alunos – e até
muitos pais – estão em má posição para questionar a prática profissional. Como resposta,
a maior parte dos países possui serviços de inspecção destinados a desempenhar esse
papel. A supervisão pode ter um impacto positivo na aprendizagem dos alunos: redução
do absentismo dos professores, aumento da assiduidade dos alunos, melhoramentos no
modo de ensinar e um melhor fluxo de informação para as autoridades centrais (Warwick
et al., 1992; Verspoor, 1989). Mas, em geral, são decepcionantes as provas do seu
contributo para um aumento da aprendizagem.
157
“Em vários países, não se espera que um candidato ao cargo de inspector possua
experiência como director … Consequentemente, como os inspectores SEO são
recrutados entre os professores mais antigos, são muitas vezes desrespeitados pelos
directores, que os consideram mais novos. O facto de alguns supervisores ocuparem um
cargo inferior aos dos directores das escolas secundárias agrava a questão.” (De Grauwe,
2001, p. 70).
41. Estes problemas são ainda mais agravados pelo facto de, em muitos países, a
inspecção constituir um serviço separado do ministério da Educação; esta situação
provoca muitas vezes problemas de coordenação com outros serviços do ministério,
como as unidades das escolas secundárias, da formação de professores e do
desenvolvimento curricular. Habitualmente, os inspectores carecem de autoridade para
tomar medidas acerca das recomendações que incluem nos seus próprios relatórios. Os
relatórios de inspecção são elaborados e enviados para a hierarquia, mas é raro as
autoridades de supervisão tomarem medidas.
158
Caixa 7.6: O Programa de Apoio ao Desenvolvimento Distrital (DDSP) na África do Sul 1998-2003
O DDSP foi concebido para melhorar a qualidade da educação ministrada em distritos escolares alvo em quatro
províncias com o objectivo de: (1) melhorar a qualidade das práticas curriculares; (2) melhor qualidade da
gestão distrital e escolar; (3) aperfeiçoar a governança escolar; e (4) desenvolver teorias e melhores práticas
para o desenvolvimento de “toda a escola” e de “todo o distrito”.
Ao descobrir que algumas escolas tinham um desempenho melhor que outras, o DDSP procurou e ampliou as
práticas que conseguiam bons resultados, para além de criar novas. O trabalho de campo foi levado a cabo por
organizações sul-africanas através de subsídios e subcontratos, reforçando assim a “propriedade” local dos
resultados – um ingrediente crucial para uma reforma educativa genuína. Um factor comum em escolas com
alto desempenho era o forte apoio na sala de aula e na escola que elas recebiam dos gabinetes distritais locais.
Para reproduzir isto nos distritos alvo, o DDSP nomeou Funcionários de Apoio às Escolas para ajudar os
funcionários distritais a aumentar o nível de apoio que estavam a fornecer às suas escolas, incluindo o
acompanhamento de professores e gestores escolares para melhorar as suas aptidões e o seu desempenho.
Usaram-se uma série de técnicas nos projectos provinciais para melhorar a qualidade da aprendizagem, do
ensino, e da gestão. Por exemplo, em Limpopo, foram usados e treinados Funcionários de Desenvolvimento
Distritais para co-ministrar cursos de formação, apoiar os educadores nas salas de aula e ajudar as Equipas de
Gestão Escolar (compostas por directores, directores executivos, e chefes de departamento) para implementar o
que o projecto lhes tinha ensinado.
Um forte indicador do sucesso do DDSP é os resultados de uma série de testes de literacia e numeracia
aplicados a alunos do 3º ano em 449 escolas DDSP entre 2000 e 2002. Os resultados destes testes anuais
mostram que, em 2002, a pontuação de numeracia aumentou 12% e a de literacia 5%, indicando um nível
melhorado de entendimento matemático e linguístico. Adicionalmente, 90% das escolas DDSP têm um registo
sistemático a funcionar como resultado do desenvolvimento de um Sistema de Gestão de Informação da
Educação (EMIS) ligado ao EMIS nacional.
Fonte: Website do RTI (não datado):
http://www.rti.org/page.cfm?objectid=5DC160AD-F5BE-44DD-A98F0EFF2BAB6361
159
Manuais Escolares: Recursos Essenciais para a Aprendizagem
45. Os estudos internacionais demonstraram com consistência o impacto positivo dos
manuais escolares na aprendizagem dos estudantes (ver Verspoor, 2006, para um resumo
das conclusões da ASS). Embora uma grande parte destas investigações se tenha focado
na educação primária, é provável que as conclusões também se apliquem e talvez ainda
com mais força ao ensino secundário. Sem uma oferta adequada de manuais escolares é
improvável que os estudantes alcancem os níveis esperados de sucesso escolar. Da
mesma maneira existe um corpo de investigação – sobretudo de países desenvolvidos –
que destaca a importância das bibliotecas escolares para um maior sucesso escolar no
nível primário mas também no secundário76. As bibliotecas escolares são particularmente
importantes no contexto da ASS em que não só têm o papel tradicional de fornecer
acesso a material de leitura suplementar como também podem organizar recolhas de
múltiplas cópias de manuais escolares para empréstimo, quando a aquisição não é
possível.
46. A importância dos manuais e das bibliotecas escolares para um ensino secundário
eficaz é amplamente reconhecida, mas os requisitos irrealistas e o alto custo unitário
resultam frequentemente numa disponibilidade extremamente baixa na sala de aula.
Algumas escolas encontraram soluções criativas; muitas outras não (Caixa 7.7). Há
grandes variações entre países, e mesmo entre escolas dentro de cada país, quanto ao
número de manuais escolares reconhecidos oficialmente e ao custo por livro. Houve um
progresso considerável nos últimos anos na melhoria da disponibilidade dos manuais
escolares em escolas primárias através de acordos de edição, aprovisionamento e
distribuição mais eficientes. No nível secundário é urgentemente necessário um esforço
semelhante de análise, experimentação e reforma.
47. Mais importante ainda, existe uma forte justificação para repensar a adequação
da estratégia tradicional de fornecimento de manuais escolares de alto custo que segue o
modelo das práticas dos países industrializados. Os países da ASS podem querer
considerar a transformação dos manuais escolares em livros com conteúdos nucleares
passando materais para os guias dos professores (dos quais é fornecido um por turma em
vez de 1 livro por 1/2/3 estudantes) ou para livros de biblioteca (fornecidos em pequenas
quantidades às bibliotecas das escolas em vez de conjuntos para as turmas). A eficácia
desta estratégia dependerá de um financiamento consistente das bibliotecas mas é nítido
que boas bibliotecas de pequena dimensão e manuais escolares com conteúdos nucleares
são potencialmente mais baratos e mais eficazes em termos de rendimento escolar do que
a inexistência de bibliotecas e manuais escolares longos que fornecem pormenores
desnecessários. Conjuntamente com as políticas de redução de custos e de reformas
76
Os resultados chave que se pode esperar de bibliotecas escolares eficientes são (a) o desenvolvimento de
capacidades de leitura e compreensão melhoradas, que também afectam o desempenho em todas as outras
disciplinas curriculares; e (b) a capacidade de aceder a informação necessária e de investigar e ler acerca
das disciplinas curriculares. O website da International Association of School Librarians http://www.iasl-
slo.org/make-a-difference.html fornece muitas referências. Ver também Dorothy Williams, Caroline
Wavell e Louisa Coles “Impact of School Library services on achievement and learning” (2001)
disponível em http://www.rgu.ac.uk/files/Impact%20of%20School%20Library%20Services1.pdf
160
institucionais que abordamos mais à frente isto proporcionará um ambiente em que todos
os estudantes têm acesso a manuais e outros materiais impressos.
Uma pequena escola secundária privada (empresarial) em regime de externato no Distrito de Masindi com 200 alunos.
Preços anuais de Ush150 000 (85 dólares EUA). Não existe biblioteca nem conjuntos de manuais escolares. A escola
comprou um exemplar de cada manual escolar básico para utilização dos professores. Não há mais nenhum livro na
escola. A escola publica uma lista de manuais mas os estudantes nunca os compram. Muitos estudantes nem
conseguem pagar as propinas e uma série de estudantes pagam-nas com trabalho. Não existe uma livraria local, com
stocks dos manuais da lista e não há nenhum sítio onde os pais possam ir, excepto Kampala, se os quiserem comprar.
Os livros na lista da escola são em grande medida os que eram usados pelos professores quando frequentaram a escola.
Uma escola rural, subsidiada pelo governo (fundação religiosa), interna, de raparigas, que opera até ao S4 com 200
alunos. As propinas são de USh90 000 (50 dólares EUA) por período. A escola tem conjuntos de manuais de
Matemática para S1 ao S4 num rácio de 1:2. Para Língua Inglesa existe um exemplar do professor por turma. Existem
1 ou 2 manuais de ciências por turma. Não há manuais, nem para os professores, sobre qualquer outra disciplina e os
professores têm que se basear nos seus próprios apontamentos da escola.
161
ensino devem reconhecer que poucos alunos – ou orçamentos governamentais – poderão
permitir-se a compra individual dos materiais de referência e leitura. Em lugar disso
deverão ser criados mecanismos para assegurar que estes estão disponíveis para consulta
nas bibliotecas das escolas.
51. A experiência no Quénia, com listas de manuais aprovados, sugere que os baixos
preços dos manuais escolares estão ligados ao facto de o preço ter sido considerado um
77
A Nigéria tem um sistema misto com alguns estados a ter uma lista de manuais escolares aprovada ao
nível estatal. Não existe uma lista federal aprovada.
162
facto chave na avaliação competitiva. Onde não existe factor preço não existe qualquer
incentivo para os editores considerarem a oferta dos seus melhores preços. Onde existe
uma lista aberta sem qualquer limite ao número de títulos aprovados não existe qualquer
competição para atingir o estatuto de aprovado. Adicionalmente, as listas limitadas de
títulos aprovados levam a mais vendas para os títulos aprovados e portanto a maiores
tiragens e preços mais baixos. As listas de manuais aprovados que são sensíveis ao preço
e limitadas podem ser usadas para encorajar a qualidade dos manuais e preços mais
baixos se os critérios de avaliação forem cuidadosamente desenvolvidos e se for dado aos
editores tempo suficiente para apresentar as suas candidaturas.
Parcerias Público-Privado
52. A edição e distribuição estatais não têm sido capazes de assegurar um
fornecimento fiável de manuais escolares ao nível da escola na maioria das vezes devido
a uma combinação de sub-financiamento de orçamentos para compra e distribuição,
dados pouco precisos sobre as necessidades ao nível das escolas, má gestão dos recursos,
pessoal e inventários e fornecimento de serviço desigual (Read et al., 2001). Não
surpreendendo, diminui rapidamente na última década. Em 2006, em 18 dos 19 países
estudados por Read et al. (2006), os manuais escolares do ensino secundário eram
publicados por editores do sector privado e os manuais escolares do ensino secundário de
primeiro nível são cada vez mais publicados para mercados específicos. Apenas em
quatro países os governos negoceiam com editoras um único título a fornecer às escolas.
Em 13 dos 19 países o fornecimento de manuais escolares do ensino secundário é
totalmente dominado pelo mercado livreiro privado e em 14 foram adoptadas políticas
que permitem às escolas tomar decisões de selecção sobre os manuais que desejam usar,
muitas vezes a partir de uma lista pré-aprovada ou recomendada.
53. Uma indústria de publicações e uma rede local de livreiros vibrantes são
elementos chave de estratégias eficazes de fornecimento de manuais escolares. Em geral,
os países anglófonos têm indústrias de edição locais mais fortes do que os países
francófonos: os seus mercados são maiores, os governos forneceram algum apoio para a
aquisição de manuais, as subsidiárias das editoras britânicas forneceram oportunidades de
formação aos funcionários locais até ao final dos anos 1960 e a liberalização do mercado
teve lugar há mais de uma década. Por outro lado a cooperação regional tem sido muito
mais forte nos países francófonos em que mercados mais pequenos, sistemas e currículos
organizados mais uniformemente fornecem incentivos e oportunidades para concretizar
economias de escala em associações com editores franceses e belgas. A edição regional
de manuais escolares têm benefícios significativos em termos de custos devido a tiragens
maiores e custo unitário inferior. A edição nacional específica aplica-se largamente às
disciplinas de ciências sociais; as adaptações locais de textos regionais por autores locais
podem ajudar a superar os problemas de relevância local.
54. A evolução para uma edição local mais forte vai requerer um financiamento
estável e previsível, concorrência aberta entre países e cooperação regional na concepção
curricular e de manuais escolares e cobertura de conteúdos. Isto pode ser suportado pela
isenção de pagamento de impostos e direitos alfandegários da importação de papel e
outros consumíveis de impressão. Aproveitar a experiência e as listas de livros mais
163
antigos de editoras internacionais através de associações e edições “tropicais” de manuais
escolares pode ser consideravelmente promissor, especialmente para o ensino secundário
de segundo nível. Onde exista um mercado que se considere suficientemente grande e
fiável para justificar o investimento inicial, pode-se usar listas de manuais aprovados para
estimular a publicação local de manuais escolares para o ensino secundário.
Distribuição eficaz
55. Uma vez que grande parte da aquisição de manuais escolares do ensino
secundário é feita por pais, é essencial uma rede de distribuição local eficaz. Houve um
significativo regresso ao fornecimento de manuais escolares por livreiros do sector
privado nos últimos dez anos. Desenvolveu-se uma série de esforços determinados no
Uganda, Quénia, Malawi, Zâmbia e Tanzânia para reformular estratégias de distribuição
de manuais escolares para o ensino primário e secundário que procuram conscientemente
apoiar o sector privado de livros educacionais numa base nacional. Na maioria dos países
este processo é ainda apenas parcial e a maioria dos países sofre de lacunas geográficas
na distribuição de manuais escolares pelo sector privado. Apenas a África do Sul, o
Botswana, Lesoto, Quénia, Costa do Marfim e talvez a Nigéria, dos países estudados por
Read et al. (2006), têm uma capacidade de venda de livros que é capaz de providenciar
uma cobertura verdadeiramente nacional. A reformulação de redes livreiras nacionais é
entravada pela constante intervenção do Estado em alguns países e por financiamento
insuficiente com problemas de crédito e manutenção de stocks associados noutros.
164
Caixa 7.8 Apoio às bibliotecas escolares no Malawi
No Malawi, a maioria das escolas secundárias são consideradas como estando em mau estado, apesar do
trabalho do projecto de manuais apoiados Danida, que incluiu o rápido desenvolvimento das bibliotecas
das escolas secundárias. Antes do projecto fornecer às escolas fundos para aquisição de manuais e de
material para as bibliotecas escolares, as escolas tinham que ser capazes de demonstrar que tinham uma
biblioteca escolar operacional com prateleiras suficientes, espaços de estudo básicos para alunos e
segurança adequada para manter os livros seguros, acessíveis e bem utilizados. As escolas recebiam
especificações e padrões básicos para bibliotecas escolares e recebiam subsídios para construir ou
melhorar uma sala transformando-a numa biblioteca escolar básica. Um professor tinha que funcionar
como bibliotecário e era-lhe fornecida formação básica e um manual de gestão de biblioteca escolar, que
providenciava orientação na operação de sistemas simples de gestão de bibliotecas. Infelizmente, com a
retirada do apoio financeiro dos dadores e do Governo do Mali em 2002 agora existe um financiamento
insuficiente até para os manuais escolares e os livros de leitura e os materiais de apoio curricular já não são
encomendados, os stocks existentes não estão a ser substituídos e as salas das bibliotecas não estão a ser
mantidas.
Fonte: Read et al. 2006
59. Ao contrário da maioria dos outros países da ASS o Botswana tem um sistema de
bibliotecas de escolas secundárias eficaz. Todas as escolas secundárias governamentais
do Botswana têm bibliotecas como parte da infra-estrutura escolar. Cada escola
secundária tem um bibliotecário nomeado que é ou um professor formado para o cargo ou
um bibliotecário formado a tempo inteiro. O Botswana também fornece um orçamento
dedicado para biblioteca escolar de cerca de 5 dólares por aluno por ano. O stock da
biblioteca na maioria das escolas é primariamente constituído por ficção (cerca de 70%);
o resto são livros de referência e complementares para apoiar o currículo. Poucos países
terão possibilidades de atribuir este nível de recursos às bibliotecas escolares. Mas quase
todas as escolas secundárias da ASS conseguirão estabelecer bibliotecas funcionais com
quantias mais pequenas mas bem direccionadas e uma gestão cuidada dos stocks. Uma
análise cuidadosa das diferenças entre políticas que se baseiam em compras de livros
individuais e sistemas que atribuem parte dos recursos para reforçar as bibliotecas
escolares pode ajudar a construir apoio para um financiamento sustentável das
bibliotecas. A Caixa 7.9 resume as diferentes opções de políticas que os governos podem
querer considerar no seu esforço de assegurar que todos os estudantes têm acesso a
manuais escolares.
165
Caixa 7.9: Reduzir o custo do fornecimento de manuais escolares
• Currículos com menos disciplinas, logo menos manuais escolares.
• Manuais escolares que se foquem em conteúdos nucleares e reduzam a cobertura de pormenores de
enriquecimento não essenciais.
• Mudar material para os guias do professor (fornecimento de 1 livro por turma em vez de 1 livro por
1/2/3 alunos) ou para livros de biblioteca (fornecidos em pequenos múltiplos às bibliotecas escolares).
• Partilha de livros, logo menor rácio livros:alunos, usando horários cuidadosamente elaborados.
• Bibliotecas escolares eficazes em que os estudantes podem consultar materiais de referência e pedir
livros emprestados.
• Mercados de livros usados geridos pelas escolas e possibilidade de esquemas de empréstimo/aluguer.
• Empréstimos de livros aos estudantes a curto prazo (em vês de longo) para reduzir perdas e danos.
• Lista de títulos aprovados limitada com base em avaliações que incluam o preço como factor de
avaliação.
• Especificações de produção e apresentação físicas concebidas para aumentar a durabilidade do livro
mas evitar custos desnecessários como a utilização de impressão a 4 cores.
• Reduzir os desperdícios no fabrico, armazenamento, distribuição, arrumação e utilização na escola.
• Reduzir os formatos de página que usam mais papel e são frequentemente menos duráveis.
• Maior controlo sobre os custos das entradas dos editores e das gráficas através de uma análise
avaliadora e de mecanismos de aprovação e condições para certificar que o preço é um factor na
avaliação e aprovação e que os preços são monitorizados em situações de compra pelos pais.
• Isenções de impostos para matérias-primas para fabrico de livros.
Qualidade e Equidade
60. Expandir as oportunidades de ingressar e completar o ensino secundário
equitativamente tem que ser uma prioridade para as políticas de ensino secundário por
razões económicas e sociais (capítulo 4). Isto implica que estejam estabelecidas políticas
para assegurar que nenhum aluno qualificado será impedido de frequentar o ensino
secundário devido à incapacidade de pagar e que são empreendidos passos para assegurar
que os obstáculos socioculturais são adequadamente removidos. As limitações de oferta e
procura enfrentadas pelas raparigas quando aspiram a ingressar no ensino secundário
foram discutidas no capítulo 2 (caixa 5). A importante contribuição de apoio financeiro
direccionado a estudantes pobres foi discutida no capítulo 5. A forma de acção mais
directa e rápida para os governos aumentarem as inscrições nas escolas para os pobres é
reduzir os custos directos, indirectos e pontuais que os pais têm com a educação (Herz e
Sperling, 2005), diminuindo as propinas escolares, providenciando incentivos e bolsas ou
apoios para ajudar a cobrir os custos directos, indirectos e pontuais. O capítulo 9 (caixa
9.2) fornece um exemplo da forma como as transferências de dinheiro condicionais foram
usadas para encorajar os estudantes pobres e especialmente as raparigas a continuar a sua
educação no ensino secundário.
61. Mas para ter êxito o apoio financeiro tem que ser complementado com políticas
que tratem das dificuldades associadas à pobreza; as raparigas, em especial, são muitas
vezes desfavorecidas por políticas que por vezes discriminam – como no caso da
expulsão e proibição de reingresso de raparigas grávidas – ou de alguma maneira não
reconhecem a importância das estratégias e materiais educativos que não evitam a
estereotipagem de género mas que também reconhecem as necessidades de aprendizagem
das raparigas e encorajam positivamente a participação das raparigas nas actividades da
sala de aula e da escola.
166
62. Um enquadramento político deste tipo é de particular importância para assegurar
que as raparigas pobres têm oportunidades iguais de aprender; terá que assegurar a
criação de um ambiente institucional e pedagógico de apoio; também terá que assegurar
que as escolas são acessíveis e seguras – em muitos locais isto representa a criação de
pequenas escolas geridas localmente.
167
Tabela 7.4 Ajudar as raparigas a ter sucesso no ensino secundário
Problemas Objectivo da Intervenção Acção
Diferença entre os géneros Assegurar a equidade no acesso e Trabalhar com as comunidades
na entrada oportunidade de aprender no para lidar com restrições de
ensino primário exigências sociais
Reduzir a distância das escolas
criando escolas diurnas
Direccionar recursos para as Bolsas e apoio financeiro para
raparigas mais pobres raparigas pobres
Atribuição igualitária de recursos
de ensino e aprendizagem
Desistência Eliminar obstáculos financeiros Apoio financeiro aos pobres
desproporcionadamente alta para raparigas pobres Apoio académico e de pares
no ensino secundário Manuais escolares não sexistas
Assegurar um ambiente escolar Formar professores na reactividade
amigável para as raparigas nas ao género
escolas secundárias Políticas de reingresso para
raparigas grávidas
Instalações sanitárias adequadas
Participação e desempenho Aumentar o número de raparigas Fornecer modelos
fraco das raparigas em que têm sucesso em campos não Melhorar as estratégias de ensino
matemática, ciências e ETV tradicionais, em particular sensíveis ao género
matemática e ciência Fornecer apoio extracurricular
Fonte: retirado de Sutherland-Addy (2006)
Escolas pequenas
65. Expandir o acesso ao ensino secundário a estudantes em áreas rurais é um desafio
especial. As populações estão normalmente dispersas, o número de diplomados do ensino
primário é na maioria das vezes baixo e a sua preparação para o prosseguimento dos
estudos é deficiente. Não surpreende que as escolas secundárias rurais sejam
frequentemente pequenas. Na Zâmbia, nas escolas básicas superiores (8º e 9º graus) em
áreas rurais, inscreviam-se uns 100 alunos em áreas rurais e 200 em áreas urbanas. Nos
liceus diurnos (10º-12º graus) em áreas rurais inscreviam-se em média 371 alunos
comparativamente a 617 nas zonas urbanas (Benell et al., 2006). No Gana 16% das
escolas secundárias de segundo nível (10º-12º graus) inscrevem menos de 100 alunos
(Akyeampong, 2006). No Mali cerca de 20% das escolas secundárias de primeiro nível
(7º-9º graus), representando nesse nível 5.5% do total de inscrições, inscreve menos de
150 alunos. Em Madagáscar um terço das escolas secundárias de primeiro nível tem
menos de 100 alunos, embora apenas metade delas ofereçam os quatro anos. Na
Mauritânia dois terços das escolas secundárias de primeiro nível (7º-10º graus) têm
menos de 250 estudantes (CSR, 2006). Dados de Madagáscar sugerem um tamanho
mínimo semelhante (225 alunos) para o ensino secundário de segundo nível.
66. As escolas grandes são muitas vezes consideradas mais eficientes (Caixa 7.10).
Isto levou, nos EUA, ao que ficou conhecido como movimento de consolidação da escola
secundária que levou a um aumento do tamanho médio dessas escolas. Contudo as
promessas de eficácia e eficiência dos reformadores do ensino estão agora a ser
questionadas e um movimento de apoio às escolas pequenas tornou-se uma característica
proeminente da paisagem do ensino.
168
Caixa 7.10: O regresso do Pequeno Liceu nos EUA
Na segunda metade do século XX muitas escolas pequenas foram fechadas e novas e amplas escolas
secundárias “globais” foram construídas no seu lugar. Em 1920, existiam 271 000 escolas públicas nos
Estados Unidos; em finais dos anos 1980, existiam apenas 83 000. No seu livro de 1959 “The American
High School Today”, James Conant, assinalou “a eliminação do pequeno liceu” como uma “prioridade de
topo”. Hoje cerca de 60% dos alunos do secundário americanos frequentam escolas com mais de 1000
alunos.
Mas a justificação para escolas grandes é questionada. Um robusto corpo de investigação estabeleceu os
efeitos positivos de pequenas escolas na aprendizagem dos alunos. Os alunos em escolas pequenas têm
melhor desempenho académico, formam-se em níveis mais altos, e têm mais probabilidade de frequentar a
faculdade, e ganhar salários mais altos mais tarde. Participam mais em actividades extracurriculares, têm
melhores taxas de comparência, demonstram uma atitude mais positiva para com a aprendizagem, e têm
menos probabilidade de enfrentar crime e violência relacionados com a escola. Os professores demonstram
mais satisfação no emprego, e têm mais probabilidades de sentir que estão a ter sucesso profissional. Os
administradores e professores são frequentemente mais capazes de identificar problemas, reagir inovadora
e eficazmente, e adaptar-se à mudança. Os pais e parentes mais facilmente se envolvem na escola. As
escolas pequenas são muitas vezes caracterizadas por atendimento personalizado, integração e
especialização curricular, confiança e respeito nas relações, o sentimento de pertença do aluno, um etos
forte e positivo, mais responsabilidade, e um sentimento de missão comunitária. As cidades e bairros em
que se encontram escolas pequenas também beneficiam, fornecendo um ponto de encontro e fonte de
actividade central, construindo os laços e relações comunitários, melhorando o processo democrático
através de estabelecimento de objectivos e tomada de decisões mútuos, fornecendo mais actividade
económica, e actuando como um motivo de orgulho e identidade comunitários. Estas descobertas
chamaram a atenção e o apoio de educadores e fundações influentes, das quais se destaca a Bill and
Melinda Gates Foundation, que em 2000 atribuiu 350 milhões de dólares para a transformação das escolas
secundárias grandes e globais em comunidades de aprendizagem mais pequenas e eficazes.
O tamanho pequeno, naturalmente, não é uma panaceia para melhorar a qualidade do ensino. Mas fornece
um ambiente óptimo para ensino de alta qualidade facilitando racionalizações organizacionais e métodos
de ensino que levam a um clima escolar mais positivos e a uma aprendizagem superior da parte dos
alunos.
67. Dados da economia de escala relacionada com o tamanho das escolas na ASS
sugerem que acima de 150 alunos para um curso de três anos ou de 200 alunos para um
Figura 7.11: Custo Salarial por Aluno e inscrição curso de quatro anos, as
economias de escala são
90,000 limitadas e seriam quase de
80,000 certeza superadas pelos
70,000 benefícios de escolas mais
60,000
pequenas que foram
50,000
encontrados nos EUA. Em
40,000
30,000
muitos países, mesmo
20,000 tamanhos mais pequenos
10,000 podem ser económicos se
0 forem postas em prática
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550
medidas para eliminar a
Number of pupils
ineficaz utilização de recursos.
Em Madagáscar, por exemplo,
Fonte: CSR Mali cerca de metade das escolas
ESJ têm pequenas turmas
169
(menos de 30 alunos). 20% das turmas ESJ e 15% das turmas ESS têm menos de 20
alunos por turma, enquanto 50% das escolas ESJ e 70% das escolas ESS tem menos de
20 alunos por professor. Além disso, o número de professores e pessoal administrativo é
quase igual em muitas escolas secundárias com pouca relação com o número de alunos,
levando a custos unitários muito altos (quase o triplo do custo unitário no ensino primário
do ESJ e seis vezes do ESS).
68. O ensino multigrau – em que um professor ensina alunos de dois ou mais graus
numa só sala de aula – demonstrou-se uma solução de baixo custo para fornecer ensino
primário em áreas de povoamento disperso. Fornece acesso, a um custo razoável, a
crianças que de outra maneira não poderiam inscrever-se; os estudantes desenvolvem
capacidades de estudo não acompanhado e aprendem a cooperar uns com os outros;
encontraram-se efeitos positivos no sucesso da aprendizagem, auto-estima e
comportamento cívico dos alunos, na maioria dos estudos de ensino multigrau. Grande
parte do ensino multigrau tem lugar nas escolas primárias. Existem contudo exemplos de
ensino multigrau no ensino secundário na Colômbia, Sri Lanka (Little, 2004) e Finlândia
(Caixa 7.11). Com alunos mais maduros que deverão cada vez mais ser capazes de
aprendizagem e análise auto-orientadas, não há razões para que o multigrau não seja
aplicado mais amplamente.
Fonte: Laukkanen, Reijo & Selventoinen, Pekka (1978) Small Schools and Combined Grades in Finland,
Paris, OECD, Centre for Educational Research and Innovation como resumido em Little (1995)
78
A configuração do leque de graus refere-se ao número de graus diferentes leccionados numa escola
(ERIC Thesaurus).
170
efeitos positivos das escolas mais pequenas (Howley, n.d.). Na ASS, o Quénia e a
Zâmbia estão a ir nesta direcção.
Opções de políticas
70. Vários países na África Subsaariana reconheceram a importância de fornecer
oportunidades locais de ensino secundário a estudantes fora das zonas urbanas. Reduzir a
distância à escola é particularmente importante; encorajar a frequência das raparigas
resolvendo as preocupações dos pais com a segurança das raparigas que podem ter que
viajar distâncias longas ou frequentar escolas internas longe de casa. O Senegal e a Guiné
estão a implementar um modelo de “écoles de proximité” para o ensino secundário de
primeiro nível (Caixa 7.12). Um relatório recente (CIDT, 2005) na Zâmbia recomenda o
estabelecimento de pequenas escolas secundárias para evitar o custo e problemas sociais
das grandes escolas internas. Um desafio chave é que estas escolas – maioritariamente
localizadas em áreas rurais e frequentadas por grupos desfavorecidos – tenham no
mínimo acesso a recursos financeiros e humanos que sejam equivalentes aos da escola
maior em áreas urbanas. De facto, há normalmente fortes argumentos, em termos de
igualdade, a favor de direccionar desproporcionadamente as despesas públicas para estas
escolas (ver capítulos 5 e 9). Os dados disponíveis sugerem que não existem razões para
que as escolas rurais pequenas não forneçam um ensino de boa qualidade desde que
sejam adequadamente providas de recursos e que estes recursos sejam utilizados eficiente
e criativamente (Caixa 7.13).
171
ensinavam todas as disciplinas. Na Alemanha o “Staatsexamen” para
professores de Gymnasium é equivalente a dois MAs.
• Empregar professores em tempo parcial: as escolas não devem ser obrigadas a
empregar professores a tempo inteiro se só existe um número limitado de
turmas para ensinar; devem poder recrutar pessoas locais com antecedentes
adequados, ainda que não o façam.
• Adaptar o currículo para se adequar às condições e recursos locais; isto poderá
obrigar a reordenar sequências, limitar a escolha e as opções e não oferecer
turmas com muito poucos estudantes.
Caixa 7.13: Ganhar a aposta
Um projecto de investigação do Research School and Community Trust nos EUA estudou cinco pequenas
escolas secundárias em áreas rurais e pequenas cidades. Eram menores do que o tamanho médio; tinham
pobreza acima da média e obtinham valores superiores à média do estado em todos os testes obrigatórios
estatais. Os investigadores descobriram que essas escolas:
• Se centravam numa missão e objectivos que tinham sido explicitamente identificados num plano
coeso produzido em colaboração por dirigentes, professores e pais ou membros da comunidade.
• Adoptavam diversas práticas amplamente reconhecidas como pedagogia eficaz, misturadas umas
com as outras para se adequarem às necessidades locais; o ensino em equipa de professores é
comum, os cursos interdisciplinares não são excepcionais, e é adoptado o uso da tecnologia; o
pequeno tamanho dessas escolas torna isto mais fácil – são capazes de ser flexíveis nos horários e
partilha de recursos.
• Demonstraram liderança de uma forma positiva, flexível, criativa e colegial; o sentido de
responsabilidade partilhada pelo sucesso ou insucesso da escola é muito manifesto; os professores
têm poderes para tomar decisões importantes e trabalhar em conjunto; é-lhes dado tempo para
planeamento que reflecte estes valores.
• Ligaram-se intimamente com as comunidades que servem.
• Esperaram que o pessoal desempenhasse múltiplos papéis; os professores também servem de
conselheiros de professores menos experientes, bem como explicadores e conselheiros dos
estudantes.
O relatório conclui que as escolas são “estruturalmente simples, mas organicamente complexas”. Em todas
as escolas, existe um sentimento de respeito mútuo e de expectativas partilhadas. Ser bom é menos uma
questão de pedagogia, programas e profissionalismo e mais uma questão da maneira como as pessoas
tratam umas com as outras – as relações humanas são o que as torna bem-sucedidas.
Fonte: Rural School and Community Trust
Conclusão
72. Poucos países na ASS estabeleceram políticas que acompanhem a expansão do
acesso ao ensino secundário de uma maneira tal que sejam estabelecidas oportunidades
172
para uma aprendizagem eficaz e acessível a todos os alunos. Recrutar e manter um
número adequado de professores é uma prioridade de topo a este respeito. Mas fazer isto
num contexto de inscrições em rápido crescimento e num ambiente com recursos
limitados torna inevitável a consideração de um leque de opções de meio-termo para
expandir a oferta de professores formados e melhorar a eficácia do ensino, incluindo
73. Mas os professores não trabalham no vazio. Existem fortes indícios de que uma
liderança escolar forte é uma determinante chave do desempenho escolar. No entanto
muitos directores de escolas estão mal preparados para os seus cargos, que se tornaram
cada vez mais complexos e incluem responsabilidades de administração escolar
tradicional mas também de liderança pedagógica, gestão financeira e relação com a
comunidade. Os dados disponíveis sugerem acções que incluem:
74. As escolas fazem parte de um sistema maior de que se espera que apoie e
supervisione os esforços das escolas para melhorar a eficácia do ensino. Isto envolve:
173
75. O segundo elemento da estratégia deve ser assegurar que todos os alunos têm
acesso a um fornecimento adequado de materiais de ensino, especialmente manuais. Isto
exige:
174
Os sinais de liderança exemplar aparecem primariamente entre
os seguidores. Estarão os seguidores a alcançar o seu
potencial? Estão a aprender? A servir? Alcançam os resultados
desejados? Mudam com elegância?
- Max de Pree
Capítulo 8
79
Este capítulo baseia-se no estudo temático SEIA #3 (Glassman, 2006)
175
e a atribuição de recursos, processos de tomada de decisão mais transparentes, modelos
de gestão baseada na escola, e novas formas de parcerias público-privadas (PPPs)80 estão
a emergir em quase todos os países da África Subsaariana, e a contribuir para alterações
notáveis na governança e gestão do ensino secundário. A tendência para a
descentralização, contudo, não significa um papel diminuído para o governo central. Pelo
contrário, o seu papel torna-se mais crucial na medida em que envolve definir políticas,
estabelecer e monitorizar padrões de desempenho e apoiar a construção de capacidades e
implementação de políticas a todos os níveis do sistema. Mais importante neste ambiente
de gestão emergente é que uma tradição de responsabilidade quase exclusiva das
autoridades centrais está a dar lugar a processos de responsabilidade recíproca (Elmore,
2004) entre todos os interessados.
80
PPPs refere-se a modos de prestação de serviço em que os recursos públicos e privados – fornecidos por
operadores de escolas privadas, pais, comunidades ou indivíduos – trabalham de forma complementar para
objectivos educativos partilhados. Os parceiros podem partilhar a responsabilidade de um amplo leque de
tarefas incluindo o aprovisionamento financeiro, desenvolvimento pedagógico, desenvolvimento dos
recursos humanos, prestação de serviço, infra-estrutura, gestão de instalações, entre outras. Tipicamente, o
desenvolvimento do ensino é suportado por múltiplas parcerias que trabalham em locais específicos e/ou
visando a grupos específicos de alunos.
81
Baseado nas definições que se encontram em http://www.worldbank.org/wbi/governance/.html) e
http://en.wikipedia.org/wiki/Governance
82
Ver http://en.wikipedia.org/wiki/Management
83
Ligeiramente adaptado de uma definição fornecida por Ahmed, 2000, p. 225. Encontra-se uma definição
semelhante em Banco Mundial, 1994.
176
5. Este capítulo começa por discutir como a descentralização, a governança e a
gestão do sector da educação se organiza na África Subsaariana e como o ensino
secundário é afectado por estas alterações na gestão global do sector. Em seguida debate
quatro prioridades políticas principais para o fortalecimento da gestão do ensino
secundário: (i) desenvolver escolas eficientes; (ii) evoluir para uma autonomia local
aumentada e orientação central à distância; (iii) fortalecer os sistemas de gestão da
informação: e (iv) expandir as parcerias público-privado. O capítulo termina com
algumas ideias de conclusão sobre a governança e gestão do ensino secundário.
84
A conceptualização de Rondinelli de descentralização distingue a desconcentração, delegação e
transferência. A desconcentração refere-se à transferência da autoridade de planeamento, de tomada de
decisões ou administrativa de um governo central para as suas organizações no terreno e unidades locais,
organizações de governo local ou não governamentais; a delegação refere-se à transferência de alguns
poderes de tomada de decisões e autoridade de gestão para funções específicas para unidades ou
organizações que não estão sob controlo directo dos ministérios do governo central; e a transferência
refere-se à transferência de autoridade para tomada de decisões, financiamento, e gestão para unidades
quase autónomas de governo local como as autarquias que elegem os seus próprios presidentes da câmara e
assembleias, cobram os seus próprios impostos, e têm autoridade independente para tomar decisões de
investimento (Cheema e Rondinelli, 1983; Rondinelli, 1981).
177
Experiência de descentralização do ensino
8. Winkler e Gershberg (2003) avaliam a experiência de descentralização em
África; as suas conclusões estão resumidas na tabela 8.1. Concluíram que:
178
Governança
10. A experiência em muitos países sugere que a governança fraca e o
desenvolvimento económico lento vão lado a lado, enquanto uma governança melhorada
promove o sucesso do desenvolvimento (Kaufman, et al. 2000). Estas conclusões
aplicam-se a um grande número de países; e aplicam-se seguramente a países que
enfrentam o desafio do desenvolvimento do ensino secundário. Uma publicação do
Banco Mundial resume as principais características da maneira seguinte:
179
14. Adicionalmente, o desenvolvimento de sociedades mais democráticas na ASS, o
papel cada vez mais importante das ONGs no aconselhamento e implementações de
políticas e o rápido fluxo de informação entre partes interessadas estimulados pela
penetração crescente das TICs na ASS estão a mudar ainda mais a dinâmica da
governança da educação especialmente no nível pós-primário. Em cada vez mais países,
os eleitores estão a responsabilizar os oficiais e governos eleitos pelo desempenho dos
serviços públicos. Uma imprensa cada vez mais livre chama frequentemente a atenção
para problemas do ensino. As consultas junto de um amplo leque de partes interessadas
são uma característica comum do planeamento do sector e de implementação de
programas. Os movimentos e protestos estudantis espalham-se rapidamente com as
notícias a serem difundidas por telemóvel e relatadas nos meios de comunicação social.
15. Em parte como resposta a estes movimentos sociais, a governança do ensino está
em muitos países a ser desconcentrada, distribuindo responsabilidades de forma diferente
pelos vários níveis. Muitos países estão a fortalecer a capacidade de planeamento e
formulação de políticas ao nível central e a passar as funções de gestão para níveis
regionais (e.g., Botswana e Senegal). Contudo, as decisões quanto ao pessoal raramente
são descentralizadas e os níveis locais têm muitas vezes autonomia limitada e
permanecem amplamente dependentes de departamentos de ensino provinciais ou
distritais.
180
certificarem de que o sistema de ensino tem como disponibilizar o serviço que se espera
dele.
Gestão
18. Estruturas organizacionais e instituições ineficientes, capacidades de gestão
subdesenvolvidas e sistemas de informação inadequados limitam todos a capacidade de
muitos sistemas de ensino na ASS de gerir a disponibilização de ensino secundário. Os
esquemas de gestão são afectados pela organização da instrução nas escolas secundárias
(Caixa 8.2) e pelo sistema de governança. Enquanto os objectivos de acesso, qualidade e
eficiência são perenes, as estratégias para os alcançar mudaram dramaticamente. Primeiro
houve a mudança de uma ênfase posta na distribuição eficiente de entradas para
conseguir resultados em termos da aprendizagem dos estudantes. O antigo pressuposto de
que um fornecimento adequado de entradas produz automaticamente os resultados de
aprendizagem desejados já não é aceite. Em segundo lugar, a escola é agora quase
universalmente reconhecida como o lugar onde os resultados de aprendizagem desejados
são produzidos e está a tornar-se o foco dos esforços de mudança e melhoria. Em terceiro
lugar, o modelo de produção industrial – conhecido como gestão científica ou Taylorismo
– foi amplamente desacreditado como abordagem eficaz para gerir o sector do ensino. A
standardização e uniformidade do ensino estão a ceder o lugar à diversidade, flexibilidade
e resposta às necessidades de alunos e a contextos diferentes. Em quarto lugar os modelos
de comando e controlo estão a ser substituídos por modelos de gestão que enfatizam os
incentivos, autonomia local e a responsabilidade pelos resultados. Em quinto lugar uma
181
Caixa 8.3: Quénia: Board of Governors (BOGs)
Os BOGs foram criados pelo Kenyan Education vincada melhoria na disponibilidade atempada
Act (KEA) em 1966 para criar uma ligação mais
directa entre o ministério central e as escolas
de estatísticas do ensino possibilitam a passagem
secundárias. São a principal autoridade de gestão para estratégias de gestão baseadas na
administrativa e financeira para a escola. Definem informação.
as propinas escolares, usando directivas
governamentais, asseguram uma gestão financeira
sã, mobilizam recursos, definem prioridades de 19. Neste contexto as estruturas de gestão
despesa e asseguram que todas as despesas são locais são cada vez mais importantes. Em
autorizadas. Adicionalmente, supervisionam as
instalações escolares e monitorizam o desempenho
particular nos países anglófonos, as escolas
da escola. Os BOGs reportam aos Escritórios secundárias operam frequentemente com
Distritais de Educação (District Education autonomia considerável dirigidas por Conselhos
Offices). Os membros do BOG são nomeados pelo
ministério central. Nem sempre possuem as
Consultivos (BOGs) ou conselhos nomeados do
capacidades de gestão requeridas ou são mesmo tipo. Adicionalmente as associações de
especializados em ensino. pais e professores (APPs) contribuem com
Cada escola secundária tem também uma APP, recursos e estão envolvidas na sua atribuição
que monitoriza o desempenho da escola, colecta
fundos para complementar os orçamentos da
(Caixa 8.3). Muitas escolas secundárias têm
escola e participa nas decisões sobre a utilização afiliações religiosas, e o papel das autoridades
destes fundos. Um comité executivo eleito da APP religiosas nas estruturas locais de gestão
coordena com o BOG. Na prática, contudo, os dois
corpos estão frequentemente em conflito.
continua a ser importante. Cada um destes
corpos pode ter um impacto significativo na
O director da escola é directamente responsável
perante o DEO e o BOG reporta à APP, qualidade da escolaridade oferecida se os seus
especialmente acerca da utilização dos seus papéis respectivos forem eficazmente alinhados
recursos. A falta de documentação limita a com os dos administradores de nível superior e
capacidade das APPs de monitorizar as finanças,
compreender como é gasto o dinheiro e abordar as profissionais como inspectores e consultores,
autoridades do ensino. bem definidos e compreendidos por todas as
partes interessadas. A maioria dos membros dos
Fonte: Glassman, 2006 BOGs é nomeada, mas não necessariamente
seleccionados com base em credenciais no
ensino. Muitas APPs são reconhecidas como
entidades que podem fornecer fundos a escolas
mas não lhes é dada a voz de que precisam para
provocar alterações reais nos problemas
educativos. Os países francófonos têm um legado de sistemas de gestão centralizados que
estão a mudar, mas na maioria dos casos apenas lentamente. As decisões de afectação de
recursos permanecem tipicamente centralizadas, embora as contribuições parentais e
comunitárias se estejam a tornar cada vez mais significativas. Um desenvolvimento
interessante é a criação de fundos que apoiam a preparação e implementação de planos de
desenvolvimento da escola (projets d’établissement).
182
estão a resultar em (i) reconhecimento da escola como ponto focal para melhoria da
qualidade e unidade da mudança rumo ao desenvolvimento de mais “escolas eficientes”;
(ii) autonomia e poder de tomada de decisões acrescidas ao nível da escola; (iii) um novo
contexto para a direcção e apoio centrais.
183
Reino Unido. A investigação documentou a considerável dificuldade de implementar o
que se sabe ser uma boa prática de ensino numa escala suficientemente grande para
afectar o desempenho do sistema. Em especial, as reformas que afectam a forma como se
pratica o ensino e a aprendizagem, raramente são adoptadas em mais do que uma pequena
fracção das escolas (Elmore, 2004). A conclusão consistente desta investigação é que a
política não pode delegar o que lhe interessa e que a implementação local determina os
resultados (McLaughlin, 1990). Esta investigação teve um impacto considerável nas
políticas de melhoramento das escolas em particular na sua ênfase em (Murphy, 1992):
184
• Expectativas claras e foco em padrões de aprendizagem que se apliquem a todos;
e
• Tratamento diferenciado de escolas com bom e fraco desempenho, em que o
discernimento na tomada de decisões seja uma função da capacidade demonstrada
de ministrar um ensino eficaz.
26. Vários países estão explicitamente a direccionar o apoio central para escolas com
fraco desempenho. A África do Sul, por exemplo, direccionou intervenções para escolas
“disfuncionais” – as que têm taxas de aprovação no exame final de menos de 20% - para
estudantes e funcionários escolares lidarem com o legado da era do apartheid (Rault-
Smith, 2006). Essas estratégias têm mais probabilidade de ser eficazes em escolas com
um alto nível de concordância entre os membros da organização sobre as normas, valores
e expectativas que moldam o seu trabalho. Elmore (2004) chama a isto responsabilização
interna e argumenta que existem fortes indícios de que essas escolas funcionam mais
eficazmente sob a pressão da responsabilização perante o exterior. Construir um ambiente
assim pode ser o primeiro passo no caminho para os melhoramentos na eficácia das
escolas que são necessários em muitos países da África Subsaariana. Quando combinado
com o fornecimento de recursos essenciais do ensino e apoio profissional externo, é
provável que haja melhoramentos significativos e sustentáveis na aprendizagem dos
alunos.
27. Há um conjunto de provas cada vez mais robusto que sugere que as reformas de
gestão baseadas na escola fortalecem a relação de responsabilização entre professores (e
escolas) e comunidades. Muito particularmente, experiências na América Central (Vegas
e Umansky, 2005) e África do Sul (Rault-Smith, 2006) mostram que essas reformas
podem ter como resultado, entre outras coisas, menor absentismo dos professores, mais
horas de trabalho dos professores, mais trabalhos de casa pedidos aos alunos e relações
mais próximas entre pais e professores. Estas são mudanças promissoras, especialmente
em contextos de baixa qualidade de ensino em que o absentismo dos professores é alto e
as escolas muitas vezes não funcionam de todo.
185
capazes de responder ao contexto local e às exigências das comunidades que servem. Ao
mesmo tempo espera-se delas que contribuam para objectivos nacionais de desempenho
de qualidade, relevância dos resultados da aprendizagem e eficiência na utilização de
recursos.
29. Umansky (2005) conclui numa análise de literatura sobre qualidade dos
professores e incentivos que os promotores mais poderosos do sucesso dos estudantes são
as características de gestão escolar, mais do que as características observáveis nos
professores. A experiência da América Latina sugere que as reformas da gestão, que
reforçam a autoridade local para a gestão das escolas, têm o potencial de criar incentivos
significativos que afectam a qualidade dos professores. A gestão comunitária das escolas
pode melhorar o esforço dos professores e o sucesso dos alunos presumivelmente porque
o controlo local sobre o orçamento da escola permite que os membros da comunidade
exerçam uma pressão significativa sobre os professores e concebam sistemas de
compensação que sirvam como incentivo para um maior esforço por parte dos
professores. Esta responsabilização local, por sua vez, é a base para resultados
académicos superiores dos alunos em escolas geridas pela comunidade,
comparativamente a escolas tradicionais (Umansky, 2005). Woessmann (2000) chega a
conclusões semelhantes para uma grande amostra de países com rendimento médio
(Caixa 8.1). A experiência na África Subsaariana confirma estas conclusões. Glassman e
Millogo (2003) reportam melhorias significativas na aprendizagem dos estudantes em
escolas de aldeia geridas pelas comunidades no Mali. Niane (2003) reporta conclusões
comparáveis para o Senegal e Madagáscar, onde as comunidades concebem programas de
melhoramento das escolas e os põem em prática com apoio financeiro e técnico do
governo central.
30. Não obstante, outros estudos sobre sistemas escolares descentralizados não
demonstram associações positivas tão lineares com a qualidade de ensino. Umansky
(2005) também reporta um estudo que incidiu sobre a gestão baseada na escola em 12
países da América Latina, e que encontrou uma associação positiva e significativa entre
gestão baseada na escola e notas das avaliações mas onde uma análise mais detalhada
sugere que em particular as escolas em que os directores, membros do pessoal, ou as
comunidades têm a capacidade e vontade de gerir as suas escolas vão, de facto, beneficiar
com a descentralização. Contudo, onde esta condição não é satisfeita os estudantes têm
realmente pior desempenho em sistemas descentralizados. Os autores concluem que a
descentralização não parece funcionar bem quando vem de um mandato central mas antes
quando surge da capacidade e interesse locais. Os estudos na África Subsaariana
concluem que as limitações das capacidades dos actores locais, as instituições fracas e os
procedimentos complexos constituíram frequentemente obstáculos à implementação
eficaz de inovações concebidas centralmente (Solaux e Suchaut, 2006; Niane, 2006).
Embora praticamente todos estes estudos se foquem nas escolas primárias, é provável que
as conclusões também se apliquem a instituições secundárias – como se passa nos estudos
sobre países industrializados.
186
31. Aumentar a autonomia de acção das escolas e dos actores locais é portanto um
elemento importante das reformas do ensino secundário, mas que tem que ser
implementado cuidadosamente. Isto implicaria especificamente:
85
Em vários países francófonos os regulamentos não permitem que os directores entrem nas salas de aula
para supervisão pedagógica dos professores.
86
A África do Sul, por exemplo, tem um objectivo das políticas oficiais de que 60% da despesa com a
educação beneficie os pobres.
187
34. Embora os padrões de atribuição para a autoridade de tomada de decisões variem
consideravelmente consoante os países (McGinn e Welsh, 1999), neste ambiente de
gestão emergente o governo deve empenhar-se em assegurar que as escolas tenham
recursos adequados à disposição, enquanto as escolas são responsáveis por usar os seus
recursos de tal forma que os resultados esperados da aprendizagem sejam alcançados.
Estas alterações de papéis são exigentes para as administrações que têm estado
preocupadas com a disponibilização de
entradas, a organização de exames e a
Caixa 8.5: Desafios para as políticas do administração de colocações de professores
ensino secundário sem muita visão estratégica. Mais do mesmo
não chega, são obrigatórias políticas claras
• Especificar objectivos para o ensino secundário:
estrutura, conteúdos e duração dos programas. para as reformas. Enfrentar os desafios do
• Esquemas de transição do ensino primário para o desenvolvimento do ensino secundário exige
secundário, entre o primeiro e segundo nível do decisões de política complexas e politicamente
secundário, e entre o ensino geral e técnico bem
como para movimentos entre os percursos. controversas (Caixa 8.5).
• Clarificar a relação do ensino secundário com o
mercado de trabalho: até que ponto e como devem 35. Mas decidir as reformas das políticas
as escolas preparar os alunos para o mundo
laboral?
não chega. Implementá-las será
• Fornecer acesso e selecção igualitários frequentemente ainda mais exigente,
direccionando recursos públicos para alunos especialmente quando se procuram mudanças
desfavorecidos.
de natureza e resultados dos processos de
• Definir papéis e responsabilidades dos funcionários
e partes envolvidas em todos os níveis e corpos de ensino e aprendizagem. Isto envolverá mudar o
gestão. foco da acção das entradas para as saídas,
• Criar padrões para a aprendizagem dos estudantes permitir flexibilidade na disponibilização do
e um mecanismo de avaliação que a meça.
• Estabelecer um enquadramento para parcerias programa, insistir na responsabilização pelos
público-privadas. resultados, gerir através de incentivos em vez
• de directivas, reforçar a capacidade local para
Fonte: adaptado de Glassman, 2006
assumir responsabilidades centrais e criar um
ambiente que promova a participação de
diferentes financiadores e prestadores de
serviços de educação.
36. A gestão com base na escola e a descentralização estão a criar oportunidades para
a implementação local da gestão. Mas o sucesso só acontecerá com liderança e apoio dos
serviços distritais e centrais. O que isto envolve para os funcionários de muitos
Ministérios da Educação é uma mudança cultural – adoptar um conjunto diferente de
valores e crenças sobre o que é importante e como as coisas se fazem – que terá que ser
conduzida a partir do topo e acompanhada pela formação de todos os funcionários e
partes interessadas envolvidos e com alterações nos sistemas de incentivo e processos de
trabalho.
188
Caixa 8.6: Especificações de tarefas no Senegal
Em 1997 foram estabelecidas especificações de tarefas para administradores e professores no sistema de
ensino senegalês em que se definia com precisão o que cada um dos participantes – inspectores, directores
de escolas e professores – tinha que fazer para assegurar um nível aceitável de eficácia escolar e de
aprendizagem. Estas especificações foram desenvolvidas num processo participativo e mantidas em
seminários anuais com directores de escolas, revisões da matéria no início de cada ano lectivo, e
integração em manuais oficiais. A implementação teve um efeito positivo na gestão escolar no Senegal.
Criou um ambiente de gestão mais participativo, em que cada pessoa tem uma compreensão clara de como
pode ajudar a melhorar o desempenho da escola e a aprendizagem dos estudantes. Fornece uma base para
uma abordagem mais profissional e mais bem estruturada à gestão e ensino no sistema de ensino
senegalês. Ao contrário de práticas passadas, em que era frequente que ninguém se sentisse responsável
por nada, a utilização das descrições de tarefas possibilitou a atribuição de responsabilidades aos
indivíduos e, ao mesmo tempo, enfatizou a responsabilidade colectiva pelos desempenhos da escola e do
sistema.
Fonte: Gueye et al., 2003
37. Sejam quais forem as especificidades do programa de reforma têm que existir
várias condições possibilitadoras:
189
39. Vários países tentaram resolver estes problemas introduzindo um Sistema de
Informação de Educação e Gestão (EMIS): um sistema exaustivo que reúne pessoas,
processos, e tecnologia
Tabela 8.3: Indicadores Seleccionados do Desenvolvimento do Ensino para fornecer informação
Secundário adequada, eficiente em
Progresso da Inscrições:
Participação Homens/Mulheres (número, % do grupo etário) termos de custos, e
Público/privado adequada ao utilizador
Escolas rurais/urbanas em internato/externato
Opções e disciplinas chave
para apoiar a gestão
Rácios de transição: educativa em qualquer
Primário/secundário de primeiro nível nível necessário (Moses,
Secundário de primeiro nível/secundário de segundo nível
Diplomados em proporção com o grupo etário 2001). Embora tenha
Rural/urbano por género havido progressos em
Resultados da Desempenho em avaliações internacionais
aprendizagem Resultados de exames (por disciplinas chave)
vários países – muitas
Repetição e abandono vezes com significativo
Entradas Rácio estudantes/professores apoio internacional87 –
Professores por turma
Rácio de pessoal não docente por turma poucos EMIS operam de
Tamanho das turmas facto nos múltiplos níveis
Horas de instrução por estudante (planeadas e fornecidas)
Proporção de professores qualificados
necessários para a gestão
Dias de formação em serviço/professor eficiente do ensino na
Rácio de manuais escolares por aluno maioria dos países.
Rácio de salas de aula por aluno
Rácio de salas especializadas por aluno Embora os dados sobre
Financiamento Despesa pública total no ensino secundário: inscrições e admissões
Recorrente
Capital
sejam regularmente
Bolsas de estudo recolhidos, os dados sobre
Despesa privada total com o ensino secundário resultados e finanças são
Custo recorrente por aluno (externato/internato):
Professores muitas vezes incompletos
Pessoal não docente e pouco fiáveis. Um
Manuais escolares
Consumíveis conjunto de indicadores
Custo operacional da escola que deveria estar
Custo do alojamento disponível para planear e
Custos de operação do sistema
Propinas por aluno na escola governamental monitorizar o progresso é
Propinas por aluno em escolas públicas sugerido na tabela 8.3. Os
Alunos com bolsas de estudo
Custo por sala de aula indicadores e testes de
Custo de instalações especializadas desempenho devem ser
Equidade Todos os indicadores chave devem ser separados por género, determinados
localização geográfica e riqueza
separadamente para o ESJ
e o ESS. Adicionalmente
à informação sobre as medições tradicionais de admissões e processos como os das
inscrições, instalações, equipamento, abandono, desempenho e repetição os sistemas de
ensino devem recolher dados sobre os resultados sobretudo a partir dos dados sobre o
desempenho dos alunos nos exames.
87
O Instituto de Estatística da UNESCO, o Grupo de trabalho de Estatísticas da Educação da Associação
para o Desenvolvimento do Ensino em África, o Banco Mundial e o USAID têm apoiado activamente os
esforços para introduzir EMIS.
190
40. A maioria dos países aplica um exame de admissão ao ensino secundário, outro
no fim do ensino secundário e outro ainda no fim do ensino secundário de segundo nível.
Embora exames bem concebidos possam fornecer informação útil sobre o desempenho do
sistema e das escolas, em especial quando os resultados são transmitidos às escolas
(Caixa 8.7), não são instrumentos eficazes para monitorizar o desempenho do sistema.
São tipicamente concebidos para seleccionar os alunos para prosseguirem os estudos,
mais do que para certificação de que dominam o currículo, é frequente que não sejam
standardizados e não permitam uma comparação fiável do desempenho ao longo do
tempo; e não fornecem informação sobre a situação familiar dos alunos ou as
características das escolas necessárias para interpretar os resultados de uma forma que
tenha significado (Kellaghan, 2004).
88
Este debate baseia-se muito na análise da experiência com fichas de avaliação das escolas feita por
Laurie Cameron et al. (2006.
191
43. Os perfis escolares do Uganda focam-se principalmente nas entradas usando
estatísticas nacionais desagregadas; os Relatórios Fundamentais de Qualidade no Estado
de Kano, na Nigéria (caixa 8.8) fornecem informação sobre entradas e processos e
comparações com outras escolas; o sistema de auto-avaliação das escolas na Namíbia
foca-se nas entradas, processos e resultados e inclui comparadores com outras escolas; no
Gana as reuniões de Avaliação de Desempenho das Escolas usam dados de avaliação
nacionais em matemática e inglês para identificar estratégias e definir alvos para
melhorar o desempenho da escola; na Guiné as folhas de avaliação escolar fornecem uma
base para reuniões de avaliação do desempenho da escola por professores, directores e
pais. No estado do Paraná no Brasil as fichas de avaliação até incluem um resumo dos
inquéritos à satisfação dos pais.
44. Alguns países seguiram uma abordagem de baixo para cima em que os actores
locais colaboram para desenvolver uma ficha de avaliação, noutros o processo é de cima
para baixo e os sistemas estatísticos existentes e sistemas de avaliação standardizados
podem fornecer os dados necessários. Nos casos em que a ficha de avaliação emana de
Caixa 8.8 Nigéria: Ficha de Avaliação da Escola do
uma estratégia de baixo para cima, os
Estado de e Sistema de Gestão de Dados dados tendem a ser simplistas, com
No estado de Kano na Nigéria, as escolas recebem dados poucas oportunidades de comparação
dos distritos. Os relatórios multidimensionais visam com outras escolas, tanto em termos de
problemas e utilizadores diferentes, tal como são recursos como de desempenho. Em
concebidos pelos próprios utilizadores finais. Juntamente vários países dados agregados ao nível
com informações específicas das escolas estes relatórios
da escola estão a ser usados pelos
são usados para fortalecer a gestão local das escolas. As
fichas de avaliação apresentam informação básica sobre
administradores distritais para
a escola local num formato gráfico facilmente assimilado identificar escolas com mau
que mostra os indicadores da escola comparando-os com desempenho e direccionar para estas
as áreas dos governos locais e do estado. Os relatórios apoio e supervisão especiais e melhorar
são fornecidos não só em papel, como também a a equidade na distribuição de
informação acerca do ensino é fornecida ao público em professores e recursos discricionários
geral através de programas de rádio que não só debatem
pelas escolas. Nos EUA as fichas de
as medidas e implicações de vários indicadores como
também informam os interessados acerca da
avaliação estão a ser usados para
disponibilidade da informação a partir do EMIS. monitorizar a “evolução anual
Estas fichas de avaliação têm sido uma ferramenta eficaz
adequada” das escolas, reforçar os
para racionar recursos escassos, pois fornecem padrões de desempenho da
informação ao nível distrital e da escola sobre os aprendizagem e promover a
recursos em todas as escolas nas áreas do governo local responsabilização pública das escolas
e do estado. A informação está agora a ser usada pelos sob o “No Child Left Behind Act”.
interessados para assegurar a transparência na gestão do
sistema e criar responsabilização entre a escola e a O projecto AGEPA89 ajudou
45.
comunidade e entre os governos locais e central. A ficha
vários
de avaliação de escola fornece uma medida base para o
países francófonos a
desenvolver
desenvolvimento de objectivos e padrões do sistema. e implementar
Fonte: Cameron et al. 2006 instrumentos para este tipo de gestão
baseada nos resultados para o ensino
primário, usando os indicadores estatísticos de desempenho disponíveis. Talvez o mais
89
Ameliorer la Gestion de l’Education en Afrique apoiado pelo Banco Mundial, França e vários outros
dadores bilaterais.
192
importante seja a vontade política de sustentar o esforço, o que é especialmente
importante quando consequências de alto impacto estão associadas aos resultados do
relatório ou quando é necessária uma considerável criação de capacidades para assegurar
a sustentabilidade.
Parcerias Público-Privadas
48. Em muitos países o Ministério da Educação interpretou tradicionalmente a sua
tarefa de gerir o ensino secundário em grande parte como a tarefa de gerir as escolas
secundárias do governo. Isto é cada vez menos apropriado à medida que proliferam novas
maneiras de prestação de serviço – ensino à distância para equivalência ao ensino
secundário, cursos vocacionais de curta duração e programas informais de formação – e
prestadores alternativos – organizações privadas com e sem fins lucrativos, ONGs e
comunidades. Além disso, mesmo a disponibilização de escolaridade pública é cada vez
mais organizada através de parcerias público-privadas. O capítulo 5 descreveu como o
financiamento do ensino secundário se está a tornar cada vez mais um esforço conjunto
dos governos e dos pais, com os pais a pagar propinas nas escolas governamentais e o
governo a subsidiar os prestadores privados.
49. Existe uma tendência internacional para as parcerias público-privadas (ver por
exemplo a Caixa 3.2 para os países da OCDE), em particular no ensino pós-primário.
Embora as condições na África Subsaariana sejam diferentes das de noutras regiões – os
operadores do sector privado são muitas vezes frágeis, o enquadramento regulador é
ineficaz e a capacidade de supervisão inadequada – as PPPs estão, apesar disso, a tornar-
90
O Southern Africa Consortium for the Measurement of Education Quality está a ajudar os planeadores e
investigadores na área do ensino em 15 países a monitorizar e avaliar a qualidade do ensino apoiando
inquéritos sobre o sucesso escolar em países membros. Testar os alunos do 9º grau está a ser considerado
para a próxima ronda em 2007.
91
O Programme d‘analyse des systèmes éducatif du CONFEMEN realizou estudos e análises do sucesso
escolar em 11 países francófonos em África. Até agora o trabalho tem-se concentrado no ensino primário.
193
se cada vez mais comuns. Assumem várias formas diferentes: financiamento privado e de
ONGs e gestão de escolas públicas, patrocínio do governo aos estudantes em escolas
privadas e parcerias para serviços de infra-estrutura, administrativos ou curriculares. A
África Subsaariana não é excepção a esta tendência mundial para as parcerias público-
privadas, em particular no ensino pós-primário. As ONGs no Mali e Guiné, por exemplo,
ajudam as comunidades a operar escolas privadas (comunitárias) e escolas
governamentais em localizações desfavorecidas. Os fornecedores privados de formação
são ubíquos – alguns operam com apoio público de fundos de formação nacionais, muitos
outros não. A Costa do Marfim disponibiliza bolsas de estudo públicas a estudantes, para
frequentarem escolas privadas. O Burkina Faso apoiou a construção de salas de aula por
operadores privados. O governo do Chade subsidia os salários de professores em escolas
comunitárias. As comunidades constroem normalmente salas de aula para escolas
secundárias – por vezes com subsídios governamentais mas muitas vezes sem eles. Os
manuais escolares são tipicamente produzidos por editoras privadas. Os pais contribuem
com propinas formais e informais para a operação das escolas.
50. Quando são bem concebidas, as parcerias público-privado (PPPs) desse tipo têm
o potencial de combinar os benefícios da operação privada e do financiamento público.
Woessman (2005) resume os aspectos positivos do envolvimento dos sectores público e
privado como mostramos na tabela 8.4.
51. No mesmo artigo, este autor analisa o impacto da aprendizagem dos estudantes
em diferentes combinações de financiamento público e operação privada para 29 países
maioritariamente industrializados que participaram no estudo PISA. Conclui que:
“…em todos os países, a operação pública de escolas está negativamente associada com o
desempenho dos estudantes em matemática, leitura e ciência, enquanto o financiamento
público de escolas está positivamente associado com o desempenho dos alunos nas três
disciplinas. Isto sugere que os sistemas de ensino baseados em PPPs no sentido em que o
Estado financia as escolas mas deixa a sua operação ao sector privado são os sistemas
escolares mais eficientes. Em contraste, os sistemas escolares que se baseiam em PPPs,
no sentido em que requerem imenso financiamento privado mas mantêm a operação das
escolas no sector público comportam-se ainda pior do que os sistemas em que a operação
e financiamento são ou ambos públicos ou ambos privados. Assim, os resultados
favorecem a forma particular de PPPs educativos em que o estado financia e o sector
privado gere as escolas” (p. 20).
194
Caixa 8.9: Registar uma escola privada no Quénia
• A candidatura ao registo de uma escola é feita de uma forma prescrita e submetida ao Registo através
do Funcionário de Educação Distrital/Municipal/Local.
• O formulário de candidatura é acompanhado dos seguintes documentos:
o Relatório de inspecção do Serviço de Saúde Pública indicando se a instituição cumpre o
conjunto de padrões de saúde.
o Relatório de inspecção do inspector de escolas
o Minutas do Conselho de Educação do Distrito em que a candidatura foi discutida.
o Certificado de registo do nome da empresa do Registo Geral.
o Uma candidatura para aprovação do gestor distrital.
o Nomes dos gestores da escola e cópias dos seus certificados de habilitações.
o Tamanho da escola em termos de terreno (as regras diferem dependendo da localidade).
o Prova de propriedade do terreno em que a escola proposta está ou irá ser construída.
• Assim que o Registo receber a candidatura, esta é apresentada ao Comité Ministerial de Registo de
escolas para avaliação em concordância com as provisões relevantes.
• Se aprovada, a candidatura é reencaminhada para o Ministério da Educação para autorização.
• O Ministério emite duas cartas para o gestor da escola aprovando e autorizando a operação da escola.
• O Registo emite um certificado para a instituição após a inspecção final.
Fonte: Glassman, 2006
195
o assegurar que o ensino e outra legislação relevante não restringem
demasiadamente a capacidade da escola para operar eficaz e
eficientemente;
o assegurar que todas as escolas fornecem informação fiável aos pais sobre o
desempenho das escolas.
• As disposições para apoiar o acesso de alunos academicamente elegíveis de
ambientes pobres.
• Regras transparentes e eficientes para o aprovisionamento dos serviços e bens
educativos com medidas de desempenho adequadas e incentivos e sanções para o
incumprimento do contrato.
• Estabelecer contratos apenas com as entidades que têm a capacidade financeira e
técnica para gerir contratos incluindo a capacidade de monitorizar o desempenho.
• Uma clara divisão das responsabilidades entre os diferentes níveis de governo
para fornecer maior certeza a todas as partes envolvidas.
• Preparar mecanismos consultivos para debater problemas políticos e operacionais.
54. Na maioria dos países que adoptam os elementos essenciais, este tipo de
enquadramento regulador só é significativo quando a capacidade de implementação do
Caixa 8.10: África do Sul: Integrar um sistema fragmentado
O sistema de ensino que o governo eleito democraticamente herdou em 1994 era altamente fragmentado e desigual.
Existiam 17 sistemas públicos diferentes, e uma ampla gama de escolas privadas e semi-privadas. As desigualdades de
financiamento eram extremas, com um severo subfinanciamento de escolas nas terras e cidades que serviam
comunidades negras empobrecidas. Para resolver estas desigualdades e acomodar uma grande afluência de novos
alunos foi estabelecida uma política de ensino que capitalizou o potencial tanto de prestadores públicos como privados
enquanto direccionava a despesa pública com a educação para os alunos mais pobres. A lei escolar sul-africana (South
African Schools Act) de 1996 reconhece apenas as escolas públicas e independentes. A segunda categoria inclui
escolas comunitárias, escolas religiosas e não religiosas com ou sem fins lucrativos. Muitas destas disponibilizam
valiosos serviços educativos mas outras disponibilizam serviços de baixa qualidade. Quase 10% das escolas que
disponibilizam ensino secundário são independentes, mas inscrevem menos de 4% dos alunos.
As escolas independentes podem receber um subsídio com base nas National Norms and Standards for the Funding of
Public Schools. Cada escola que pede financiamento é sujeita a uma lista de verificação que inclui indicadores de boa
gestão, tais como se mantém ou não registos adequados de admissão e frequência, se mantém registos de pagamento
de propinas e outros registos financeiros, e tem que permitir inspecções surpresa feitas pelo departamento de ensino
provincial. A recusa resulta na recusa do subsídio.
Os subsídios reflectem as circunstâncias socioeconómicas da clientela da escola. O nível das propinas cobradas por
uma escola independente é considerado um indicador objectivo e publicamente disponível. As escolas que cobram
propinas mais baixas qualificam-se para o nível mais alto de subsídio. Os níveis de subsídio estão relacionados com os
níveis de propinas numa escala progressiva. As escolas que cobram as propinas mais altas, excedendo 2.5 vezes o
custo médio da província por aluno numa escola pública vulgar, são consideradas como servindo uma clientela
altamente rica e não lhes será pago qualquer subsídio. As escolas que cobram até 0.5 vezes o custo médio da província
por aluno têm direito a um subsídio igual a 60% do custo público médio por aluno.
196
pode ajudá-los a atrair mais alunos que pagam propinas e torná-los elegíveis para
subsídios públicos. As parcerias eficazes só acontecerão quando os financiamentos
públicos e privados se complementarem num enquadramento mutuamente benéfico.
55. Visar eficazmente os problemas de equidade é fulcral para o sucesso das PPPs.
As propinas nas instituições privadas e públicas tornam muitas vezes impossível que os
alunos pobres se inscrevam em escolas secundárias (Capítulo 5). As bolsas, isenções de
propinas e subsídios são as formas mais comuns de resolver isto. A África do Sul
estabeleceu PPPs que capturam a contribuição potencial das instituições privadas e ao
mesmo tempo incorporam as preocupações de equidade (Caixa 8.10)92.
Conclusão
57. À medida que o ensino secundário se desenvolve num ambiente em que partes
importantes da responsabilidade e autoridade estão descentralizadas para níveis de gestão
inferiores e em que a autonomia das escolas para gerir recursos e organizar o ensino está
92
É de salientar que no contexto da África do Sul os seus efeitos são marginais (as escolas independentes
são responsáveis por apenas 4% das inscrições e não estão em crescimento), sobretudo devido à ampla
disponibilidade de ensino público de baixo custo. No entanto a ideia básica da política de subsidiar escolas
com propinas baixas e encorajá-las a admitir alunos pobres é atraente e poderia ser considerada por outros
países.
197
a aumentar, as instituições tradicionais de governança e gestão terão que mudar de acordo
com isso.
198
tradicionais de responsabilização ascendente terão que ser complementados por
mecanismos de responsabilização externa em que as escolas e o sistema de ensino como
um todo partilham os resultados alcançados e os desafios que enfrentam com as
comunidades de pais e a sociedade em geral. À medida que as escolas têm mais liberdade
para afectar recursos e organizar o ensino e se tornam directamente responsáveis pelo
desempenho e resultados, precisam de bons dados como base para debates com as partes
interessadas sobre as prioridades do ensino e as estratégias para melhoramento. A
formulação de políticas com base em dados não se limita ao nível nacional; aplica-se a
gestores e a decisores em todo o sistema.
62. Gerir um sistema tão diverso não pode ser feito sem um sistema de gestão da
informação do ensino a funcionar bem. Os desafios educativos e financeiros do
desenvolvimento do ensino secundário só podem ser geridos eficientemente se a
formulação de políticas for orientada por dados e a responsabilização se baseia em
indicadores de desempenho fiáveis. Uma tarefa importante da gestão é a comunicação
eficaz das realizações e desafios com todas as partes interessadas, incluindo a imprensa.
O Departamento de Educação da África do Sul, por exemplo, prepara todos os anos um
relatório anual acerca do progresso conseguido no sentido da concretização dos
objectivos de desenvolvimento do ensino nacional. Está disponível gratuitamente no
website do departamento.
63. Em suma, o ensino secundário terá que se tornar menos uniforme quanto à
estrutura, mais diverso quanto ao financiamento e disponibilização e mais flexível na
forma como o ensino é ministrado. Isto, em conjunção com uma combinação judiciosa de
autonomia local e ao nível da escola e orientação e apoio central, pode fazer muito para
assegurar que estão disponíveis oportunidades de qualidade para todos os alunos num
sistema em expansão.
199
... não temos outra escola que não (…) um dever de equidade e
desenvolvimento que requer que forneçamos a todos os jovens africanos o
mínimo de ensino necessário para uma existência decente e útil no século
XXI, e (…) fazer muito mais com os mesmos recursos do que é feito
noutros locais…
- Mamadou Ndoye, Executive Secretary ADEA na abertura da primeira
conferência da SEIA
Capítulo 9
200
Figura 9.1: Percursos de decisão para o Ensino secundário
Obter mais financiamento para o ensino em geral
Obter mais
financiamento Os recursos públicos podem
Passar dinheiro de outras ser reduzidos noutros sub-
público
áreas do ensino como o sectores aumentando a
primário ou terciário contribuição dos utilizadores
no terciário, reduzindo a
atribuição per capita desses
Responsabilidade social e
Obter mais caridade, como o Adopt-a-
financiamento School
Usar parcerias público-
privado
Investimento privado, por
exemplo através de parcerias
público-privado
(maioritariamente defere os
custos, mas pode ser óptima
Basear-se mais e poupar dinheiro)
no financiamento
privado
Usar contribuições ou Desviar o financiamento
subsídios formais ou público para os pobres,
informais em dinheiro ou em permitir que quem tem mais
géneros para ajudar os pais condições pague as propinas
a suportar os custos da escola
201
3. Os dados apresentados neste relatório mostram claramente até que ponto as
situações nacionais na África Subsaariana variam dramaticamente. As diferenças
históricas, geográficas, demográficas e das políticas escolhidas resultaram em sistemas de
ensino secundário que divergem muito quanto à estrutura, cobertura, governança e
gestão, e objectivos educativos (ver capítulo 2). No entanto praticamente todos os países
enfrentam o triplo desafio de expandir o acesso, melhorar a qualidade e assegurar a
igualdade. As reformas do conteúdo dos programas e da forma como o ensino é
organizado, gerido e financiado são essenciais para superar este desafio. As árvores de
decisão (Figura 9.1) e as listas de opções políticas para enfrentar os desafios financeiros e
de gestão foram desenvolvidas por vários autores (Banco Mundial, 2005, Lewin e
Caillods, 2001). A maioria baseia-se em análises locais ou na experiência internacional –
sobretudo de países industrializados, economias tradicionais ou países em vias de
desenvolvimento na Ásia e América Latina. Relativamente poucas se baseiam em
análises da experiência africana.
4. Este capítulo reunirá as principais conclusões, até aqui, do debate deste relatório.
Vai defender que (i) as condições que acompanharam historicamente a expansão do
acesso ao ensino secundário de qualidade aceitável não existem hoje na maioria da África
Subsaariana e (ii) as estratégias nacionais têm que reconhecer a natureza exclusiva do
contexto africano para o desenvolvimento do ensino secundário. As opções mais
importantes para a reforma das políticas são bem conhecidas: foram discutidas nos
capítulos anteriores e ilustradas com a experiência de países africanos. Partindo destas
experiências regionais e internacionais os elementos comuns dos capítulos de um
enquadramento para o desenvolvimento do ensino secundário na ASS serão explorados,
incluindo alguns testes de desempenho indicativos para a mobilização e distribuição de
recursos. Os países podem querer considerá-los no planeamento da sua própria estratégia
nacional. Por fim este capítulo discute a natureza e o ritmo dos processos de mudança
bem-sucedidos.
Condições Iniciais
5. Comparado com a experiência de muitos países noutras regiões, o ritmo do
desenvolvimento do ensino secundário na ASS será fortemente afectado por três factores.
Primeiro, vai depender de progresso continuado em direcção ao objectivo de escolaridade
primária para todos e melhoria do êxito escolar. Em segundo lugar, o crescimento
económico sustentado será essencial se se quiserem mobilizar os recursos públicos e
privados necessários para um sistema de ensino secundário amplo. Por fim, os aumentos
dos rácios de inscrições no secundário podem ser comprometidos pela alta taxa de
fertilidade em muitos países da região o que resultará num rápido crescimento da
população em idade escolar e num alto rácio de dependência até pelo menos meados do
século (Nações Unidas, 2006).
202
educativos das MDGs de inscrição e completamento universais, e qualidade aceitável é
essencial para que o ensino secundário na região se desenvolva de uma maneira
significativa. Admitir cada vez mais alunos, que estão mal preparados academicamente,
irá quase inevitavelmente resultar num desperdício de recursos em grande escala. Os
estudantes que não dominam o currículo primário têm poucas probabilidades de ter êxito
nos seus estudos secundários especialmente quando o aumento do tamanho das turmas,
professores mal qualificados, disponibilidade limitada de materiais de ensino e tempo
insuficiente em cada tarefa tornam virtualmente impossível ir ao encontro das
necessidades dos alunos com diferentes requisitos de aprendizagem. A experiência
mundial demonstra que o desenvolvimento da educação é um processo sequencial em que
a expansão em grande escala de um nível particular de ensino se baseia nas realizações
qualitativas e quantitativas no nível precedente (ver capítulo 3). A expansão do acesso ao
ensino secundário na África Subsaariana é portanto um pressuposto do sucesso – em
termos de acesso e resultados da aprendizagem – da EFA.
7. Isto não sugere, contudo, uma estratégia “primeiro o primário e mais tarde o
secundário” rígida para o desenvolvimento do ensino. Mobilizar os recursos para o
ensino primário vai requerer recursos humanos e financeiros que dependem da
disponibilidade de pessoas com níveis mais altos de educação e formação. A política de
ensino em grande parte da ASS terá que encontrar um equilíbrio entre a expansão da
cobertura e o melhoramento da qualidade no ensino primário, secundário de primeiro
nível e secundário de segundo nível e novos níveis terciários (De Ferranti, 2003, Banco
Mundial, 2005). A experiência com estratégias “big bang” EFA em alguns países sugere
que os grandes aumentos não planeados do acesso têm um alto preço em termos de
qualidade, criando problemas de que é difícil recuperar.
203
conseguirá absorver os diplomados. Onde o crescimento económico tem estagnado, o
desemprego de diplomados do ensino secundário é frequentemente um grande problema
social e económico (capítulo 4). Isto é em parte um problema do ensino. Os países que
responderam à procura social e expandiram o ensino secundário sem implementarem
reformas para melhorar a relevância e eficiência estão – salvo raras excepções – a
enfrentar graves problemas no que toca à qualidade dos resultados da aprendizagem dos
estudantes, bem como de altas taxas de abandono e repetição. Além disso, com currículos
que estão frequentemente mal relacionados com as necessidades nacionais de
desenvolvimento social e económico, os estudantes ficam inadequadamente preparados
para entrar no mercado de trabalho.
Transição demográfica
11. Na Ásia de Leste, a rápida expansão das inscrições no ensino secundário foi
facilitado por taxas de fertilidade em declínio que resultam em menor quantidade de
crianças em idade de escolaridade primária. O mesmo é verdade hoje para países como,
por exemplo, o Vietname, onde se espera que o número de crianças em idade de
frequentar o ensino primário caia cerca de 20% na próxima década; isto libertará recursos
para a melhoria da qualidade e expansão do ensino secundário. A África Subsaariana
enfrenta uma situação muito diferente. Apesar de um aumento projectado da mortalidade
devida à SIDA, a sua população continua a aumentar, uma vez que a fertilidade ainda é
tão alta que ultrapassa o efeito da mortalidade crescente93. Com um aumento de 734
milhões nos próximos 30 anos, a população de África vai duplicar (Nações Unidas,
93
As excepções são o Botswana, Lesoto, África do Sul e Suazilândia.
204
2006). Isso limitará a oportunidade de desviar recursos do ensino primário e aumentar a
quota do ensino secundário no orçamento, como aconteceu em muitos países do Ásia de
Leste (capítulo 3).
O imperativo da reforma
12. Disponibilizar um lugar nas escolas com qualidade aceitável para grupos maiores
de crianças todos os anos, manter estas crianças na escola mais tempo, num ambiente em
que as perspectivas do crescimento económico permanecem incertas, enquanto a
assistência externa é confrontada com muitas prioridades concorrentes, é um desafio
assombroso para a maioria dos países da ASS. Aumentar o financiamento público do
ensino – com uma quota crescente para o ensino secundário – é quase sempre a solução
preferida dos planeadores e criadores de políticas para o ensino. Na prática isto será
muitas vezes difícil de concretizar tendo em conta as prioridades em competição dentro
do próprio sistema de ensino e noutros sectores da economia (capítulo 2). Na maioria dos
países, qualquer reordenamento das prioridades entre sectores terá apenas um efeito
marginal sobre a disponibilidade de recursos para o ensino secundário. Portanto, o
crescimento económico e o aumento na quota de PIB disponível para despesas públicas
terão que ser a principal fonte de recursos públicos adicionais para o ensino; mais
importante que isso, as políticas concebidas para usar recursos mais eficientemente
podem contribuir significativamente para a expansão do acesso e a melhoria da qualidade
do ensino secundário. Mas, mesmo grandes aumentos na despesa pública ou ganhos de
eficiência serão inadequados para gerar aumentos, mesmo moderados, na obtenção do
ensino e no sucesso escolar.
205
Tabela 9.1: Resumo de Opções de Políticas para o Desenvolvimento do Ensino Secundário
Problema Resposta Possível Opções para acções específicas
Custo mal alinhado com Reduzir o custo por • Aumentar a carga horária para 25 horas/semana
os recursos domésticos estudante • Ajustar os salários dos professores aos recursos nacionais
• Usar a infra-estrutura em turnos duplos
• Alojamento apenas para alunos de áreas remotas
• Melhorar a eficácia interna, reduzir a repetição
Integrar parte ou todo o • Aumentar a duração do ensino básico para 8 ou 9 anos
ensino secundário com o • Simplificar o currículo
ensino primário • Especializar os professores primários em matérias disciplinares para
anos superiores do ensino primário e secundário de primeiro nível
Curriculum irrelevante Fornecer um núcleo co- • Simplificar os currículos
para as exigências do mum de disciplinas gerais • Evitar formação vocacional específica
mercado laboral e da nas escolas secundárias de • Enfatizar a capacidade para mais aprendizagem e as aptidões de vida
sociedade em primeiro nível
modernização Fornecer um amplo leque • Manter o acesso selectivo ao ensino secundário de segundo nível
de oportunidades para • Fornecer oportunidades informais para educação e aprendizagem
prosseguir a educação e posteriores
formação além do • Estabelecer sistemas EFTV com um amplo leque de programas e
secundário de primeiro prestadores
nível
O sucesso escolar é Proteger as condições • Assegurar que os diplomados do ensino primário dominam os
inaceitavelmente baixo básicas para ensinar e conteúdos do currículo primário
aprender • Alinhar o crescimento das inscrições com reformas dos recursos e das
políticas
Assegurar a eficácia do • Assegurar um fornecimento adequado de manuais escolares e outros
ensino materiais de aprendizagem
• Fornecer oportunidades para apoio e desenvolvimento dos professores
em serviço
• Usar as TICs para dar aos professores conhecimentos adicionais sobre
as disciplinas e ajudá-los na preparação das lições
• Preparar directores de escola para responsabilidades de gestão e
liderança educativa
O acesso e as Remover obstáculos à • Fornecer um ambiente seguro e políticas escolares adequadas às
oportunidades de ensino frequência pelas raparigas raparigas
estão desigualmente • Disponibilizar modelos atraentes
distribuídos • Reduzir a distância das escolas
Fornecer oportunidades às • Assegurar a igualdade de acesso a escolas primárias de qualidade
crianças pobres aceitável
• Providenciar bolsas testadas quanto aos meios
• Reduzir/isentar de propinas as crianças pobres
• Aumentar a densidade da rede escolar diurna
Tomada de decisões cen- Aumentar a • Descentralizar a autoridade sobre os recursos e a tomada de decisões
tralizada afecta adversa- responsabilidade ao nível • Fortalecer as instituições locais
mente a utilização de da escola para • Aproveitar a disponibilidade dos pais e comunidades para apoiar as
recursos e os resultados fornecimento de serviço escolas secundárias locais
da aprendizagem
Redefinir o papel das • Fortalecer a capacidade ao nível central para definir padrões,
autoridades nacionais monitorizar a qualidade, providenciar financiamento nuclear, apoiar
escolas em dificuldades e garantir a igualdade
Encorajar múltiplos Variar a prestação de • Criar esquemas organizacionais diferentes
mecanismos de entrega serviço em resposta às • Permitir variações na escolha do currículo e métodos de
condições locais disponibilização
• Encorajar os prestadores privados da formação
Explorar o potencial das • Estabelecer apoio e sistemas de desenvolvimento em serviço para
TIC e do ensino à distância professores
• Fornecer oportunidades de equivalência ao ensino secundário
• Aprendizagem ao longo da vida
Promover Parcerias Estabelecer um • Assegurar a transparência na atribuição de recursos
Público-Privado enquadramento legal claro • Criar indicadores de responsabilização explícitos
• Encorajar esquemas do lado da procura
Criar processos • Procedimentos abertos e participativos para consultas sobre políticas e
participativos implementação
206
13. Ao mesmo tempo o desenvolvimento do ensino secundário é visto em grande
parte da ASS como um factor impulsionador do desenvolvimento económico e social
cujo desenvolvimento não pode ser adiado, enquanto na maioria das outras partes do
mundo acompanhou ou seguiu o crescimento económico. Tudo isto torna profusamente
claro que, em vez de adoptar modelos de ensino secundário de outros locais, será
imperativo que os países da ASS desenvolvam um modelo de disponibilização que
reconheça a especificidade do contexto da ASS – que seja sustentável no ambiente de
recursos limitados da maioria dos países, mas que seja também equitativo e forneça um
serviço de qualidade aceitável. Embora os recursos externos possam ajudar até certo
ponto, seria inusitado construir uma política nacional com base na expectativa de grandes
aumentos do financiamento externo para o ensino secundário. Mamadou Ndoye, o
secretário executivo da Associação para o Desenvolvimento do Ensino em África
(ADEA) enuncia o desafio da seguinte maneira:
14. Este relatório debateu um grande leque de opções políticas que os governos
podem desejar considerar quando definirem a sua estratégia para o desenvolvimento do
ensino secundário. Estas estão resumidas na Tabela 9.1. É muito claro que não existe uma
forma única que seja a melhor para o desenvolvimento do ensino e formação secundários;
as condições iniciais de cada país determinarão as prioridades e o que é exequível e em
que enquadramento temporal nos diferentes países. Fazer o levantamento do estado e dos
desafios do ensino secundário, identificar limitações e oportunidades financeiras e
políticas são pré-requisitos essenciais para uma acção eficaz. A tabela 9.1 deve, portanto,
ser considerada como uma lista de verificação de opções que produziram resultados
noutros contextos e que podem ou não ser replicáveis noutras situações. Mas o desafio
chave continuará a ser conceber uma estratégia coerente que responda às exigências de
desenvolvimento e às limitações nacionais dos países da ASS.
94
Comentários na cerimónia de abertura da segunda conferência da ADEA, Dakar 6-9 Junho 2004.
207
do ensino primário. As lições da experiência noutras regiões podem ajudar neste processo
e informar a formulação de políticas; mas, como referimos acima, as actuais condições
educativas, económicas e demográficas na África Subsaariana são tão diferentes que os
seus modelos não podem ser facilmente aplicados na ASS. Daí a necessidade de
estratégias africanas específicas para o desenvolvimento do ensino secundário, incluindo
a EFTV. Um tal modelo pode fornecer orientação e opções políticas que os países que os
países fariam bem em considerar quando formulam estratégias nacionais que iriam
permitir um progresso significativo no sentido dos seus objectivos de médio prazo.
Nitidamente, cada país terá que construir a sua própria estratégia tendo em conta as
especificidades nacionais, mas podemos identificar vários elementos comuns, sobretudo:
17. As variáveis de custo que terão que ser geridas com particular cuidado são a
colocação e o nível dos salários dos professores. Em vários países da ASS o custo dos
professores impede efectivamente uma expansão significativa das inscrições (capítulo 5),
quer devido a salários que são um alto múltiplo do PNB per capita. Noutros países os
salários são tão baixos que os professores só fazem o esforço mínimo, com consequências
adversas na qualidade. Mas o desafio mais crítico – em quase todo o lado – pode estar nas
muitas ineficiências na colocação de professores. Uma utilização eficiente da força
docente vai requerer a compreensão de que cada professor terá um horário completo –
mesmo que isto signifique ensinar em mais do que uma escola; que serão atribuídos
aumentos preferenciais a professores habilitados a ensinar várias disciplinas; e que o
professor que não cumpra um horário completo será pago proporcionalmente ao número
de horas que ensina. Também pode significar que nem todas as opções curriculares
podem ser oferecidas em todas as escolas; as escolas mais pequenas serão muitas vezes
obrigadas a oferecer menos opções. Os ganhos em eficiência associados a estas políticas
devem resultar em alterações na estrutura de custos do ensino secundário com um
208
aumento significativo na despesa em itens não salariais, especialmente manuais escolares
e outros materiais educativos.
209
grupo etário sem aumentar ou redistribuir o financiamento público. O valor de referência
para o rácio aluno/professor assume um rácio professor-classe próximo de 1,25 e
reconhece a inevitabilidade de classes grandes como em muitos países da Ásia do Leste –
45 no primeiro nível e 40 no segundo nível do ensino secundário. Com investimentos
adequados no desenvolvimento dos professores e materiais didácticos, isso não deveria
impossibilitar uma instrução de qualidade razoável e uma redução dos repetentes.
19. Estes valores de referência resultariam num custo de 25% do PIB per capita para
o ensino secundário de primeiro nível e 40% para o ensino secundário de segundo nível.
Presumindo um progresso sustentado em direcção aos objectivos EFA e um custo do
ensino primário de 12% do PIB os indicadores na Tabela 9.2 permitiriam que a taxa de
transição do ensino primário para o secundário de primeiro nível aumentasse 80%, as
inscrições no secundário poderiam ter como objectivo crescer a uma taxa de 5-10% (ou
como Lewin sugeriu o rácio de crescimento do PIB mais 5%), resultando num GER de
secundário de primeiro nível de 60% e de secundário de segundo nível de 30% em 2015.
Esforços especiais – incluindo políticas igualitárias de melhoria da qualidade no nível
primário – seriam necessários para garantir que 50% dos alunos admitidos fossem
raparigas e que os alunos que estão entre os 20% mais pobres em distribuição de
rendimentos não fossem excluídos devido à impossibilidade de pagar. Até que ponto os
países conseguirão alcançar estes objectivos e evoluir para estas condições de
disponibilização vai naturalmente variar consideravelmente dependendo das condições
nacionais.
95
Existe inclusivamente uma National Association for Year Round Learning (NAYRL) com um website
que fornece muitos exemplos passados e presentes: http://www.nayre.org/
210
22. A expansão do ensino secundário terá que acontecer em grande parte através de
escolas diurnas, em muitos casos expandindo a duração do ensino básico e adicionando
turmas às escolas primárias existentes. Isto resultará numa rede de pequenas escolas
(capítulo 7). As instalações de internato são dispendiosas de construir e de manter. O
acesso deve ser limitado, com firmeza, a alunos que não têm acesso a escolas diurnas a
uma distância razoável das suas casas. Devem estar disponíveis bolsas para estudantes
pobres e academicamente qualificados que vivem longe de uma escola.
23. Nenhuma das opções citadas é fácil de implementar. Elas diferem da forma como
as coisas sempre foram feitas e requerem novas formas de pensar sobre o modo como a
escola está organizada e como a infra-estrutura disponível é usada; também requerem
formas diferentes de empregar e colocar professores e estruturar os seus contratos. As
inovações na forma como a escolaridade é fornecida que direccionam os recursos para
aquelas entradas que produzem mais eficazmente sucesso escolar e as usam
intensivamente, podem resultar em reduções no custo por aluno ao mesmo tempo que
melhoram o sucesso escolar.
96
Economias que retiram a sua vantagem competitiva de mão-de-obra barata ou do acesso aos recursos
nacionais
97
Economias em que a eficiência na produção de produtos e serviços padrão é a fonte da vantagem
competitiva
211
26. A formação vocacional é muitas vezes vista como uma alavanca de crescimento
económico e uma forma de reduzir o desemprego entre os jovens. Na verdade existem
poucas provas de que assim seja. Mas em países com forte crescimento económico teve
um papel importante na preparação de uma força laboral que suportou um sector
industrial moderno em rápido crescimento. E onde o fez, os alunos tinham fortes aptidões
de ensino básico (pelo menos 9 anos). O desenvolvimento do ensino vocacional deve
portanto acompanhar, mais do que preceder, o desenvolvimento de um sector industrial
moderno e ter lugar através sobretudo de programas de formação flexíveis no seguimento
do ensino secundário de primeiro nível ou de escolaridade mais formal de nível terciário
para formações técnicas e de engenharia avançadas. Na maioria dos países africanos
neste momento a procura de pessoal com este tipo de formação é limitada; e fazer
previsões de necessidades específicas de aptidões a longo prazo é muito arriscado,
especialmente quando é feito por agências governamentais.
27. Por outro lado preparar alunos do ensino secundário de primeiro nível para
continuar a estudar ou frequentar formações técnicas é importante. Implica que a
alteração curricular seja um elemento essencial da transição de um sistema de elite para
um sistema que seja inclusivo e forneça acesso alargado. Envolverá a adaptação dos
conteúdos aos requisitos de educação e formação posteriores, do trabalho e da sociedade
no século XXI. As capacidades de comunicação em uma ou duas línguas internacionais,
as capacidades de resolução de problemas, experiência de trabalho em equipa e
competências básicas em matemática, ciências e TIC estão em primeiro lugar nos
mercados laborais das economias em desenvolvimento da ASS (Capítulo 4) como
acontece nas economias da OCDE (Capítulo 3, caixa 3.2).
29. Gerir esta sequência implica decisões de política sobre processos de transmissão
e a taxa de expansão do ensino primário e secundário que seja exequível de um ponto de
vista financeiro e educativo, que irão determinar criticamente a natureza do
desenvolvimento do ensino secundário e a sua contribuição para o progresso social e
desenvolvimento económico.
212
Ênfase na aprendizagem: Sem compromissos qualidade-quantidade
30. Sem assegurar a qualidade de oportunidades para aprender, a expansão do acesso
ao ensino secundário é um desperdício de recursos sem sentido. Isto torna imperativo
investir escassos recursos nos entrantes que mais afectam, em termos custo-eficientes, os
resultados conseguidos na aprendizagem pelos estudantes, especificamente
213
directo e indirecto do ensino secundário. Para além disso a distância e as tradições
socioculturais fazem com que os pais rurais tenham relutância em inscrever os filhos, e
em especial as filhas, em escolas secundárias localizadas tão longe que o regime de
internato é inevitável. Tornar o ensino secundário acessível a mais adolescentes africanos
significará inevitavelmente aumentar a densidade da rede de oportunidades de escolas
externas a começar pelo secundário de primeiro nível. Um sistema de escolas secundárias
de primeiro nível locais resolveria as necessidades das comunidades locais que muitas
vezes não podem pagar os custos do internato e expandiria a igualdade de acesso. Essas
escolas poderiam ser associadas a escolas básicas próximas, possivelmente sob a forma
de turmas primárias superiores e escolas secundárias rurais como foi feito por exemplo na
Tailândia (Caixa 9.1) e no Zimbabué (Caixa 4.4) imediatamente a seguir à
independência. Este foi, na verdade, o modelo adoptado também no início do século XX
nos países industrializados (Capítulo 3). Mas a igualdade não se pode limitar ao acesso.
Também tem que se aplicar à qualidade da oportunidade de aprender que é fornecida
nestas escolas mais pequenas. Um currículo reformado estaria ligado de perto ao
curriculum primário para encorajar a progressão para mais educação e formação e
minimizar o abandono escolar.
Caixa 9.1: Tailândia: Expandir o Ensino Secundário
Até 1970 as escolas secundárias preparavam principalmente para o emprego como funcionários civis,
profissionais e professores. As inscrições no ensino secundário eram apenas de 14% dos jovens entre os 13
e os 18, embora o ensino primário chegasse a 83% das crianças entre os 7 e os 12 anos. A contínua falta de
investimento no ensino secundário levou a uma força laboral subqualificada: em 1990 83% dos
trabalhadores tinham terminado apenas o ensino secundário. Com uma economia em rápido crescimento a
necessidade de modernizar a força laboral criou uma sensação de urgência para a rápida expansão do
ensino secundário.
Uma tal expansão aconteceu primeiro e acima de tudo através da conceitualização revista do ensino
secundário como ensino básico para o público em geral e a força laboral bem como a preparação para os
profissionais. A escolaridade obrigatória foi expandida de 6 para 9 anos. Uma estratégia multifacetada
para o desenvolvimento do ensino secundário incluiu:
• Expansão de mais de 4000 escolas primárias para ensinar secundário de primeiro nível, e conversão
de instalações primárias que estavam subutilizadas devido a uma taxa de natalidade em queda;
• Estabelecimento de mais de 500 novas escolas secundárias em áreas rurais em que não existiam
escolas secundárias ou escolas primárias expandidas;
• Revisão da política de admissão altamente competitiva das escolas secundárias exclusivas para
fornecer oportunidades de inscrição aos alunos de proveniências diferentes.
• Abolição gradual das propinas a começar pelas escolas primárias expandidas e pelas escolas
secundárias rurais.
• Reconhecimento de formas alternativas de ensino incluindo o reconhecimento de diplomados no
ensino não formal e o estabelecimento de escolas especiais para crianças incapacitadas e escolas
estatais para crianças marginalizadas, especialmente órfãos do VIH/SIDA e crianças de rua.
Em 2005, a taxa de inscrições no ensino secundário excedia 70% enquanto o ensino secundário de
primeiro nível se tinha tornado quase universal inscrevendo 90% do grupo etário.
Fonte: Apresentação de Kasama Varavarn à viagem East Asia Study; Banco Mundial, 1996
33. Talvez mais importante seja direccionar as despesas públicas para assegurar que
os estudantes pobres qualificados não sejam excluídos de prosseguir o ensino secundário
devido à incapacidade de pagar. Uma quota privada de 35% nas despesas do ensino
secundário e um aumento significativo das inscrições no secundário (Tabela 9.1) só serão
viáveis se a despesa pública for explicitamente afectada à promoção da igualdade no
214
acesso e das oportunidades de aprender. Bolsas e subsídios direccionados, incentivos para
as escolas privadas admitirem alunos pobres e financiamento do governo para estabelecer
oportunidades de ensino secundário em áreas desfavorecidas são instrumentos chave que
podem ser considerados para este fim.
34. É improvável que seja possível estabelecer uma rede densa de escolas
secundárias de segundo nível ou instituições de formação técnica/vocacional no futuro
imediato. Isto significa que muitos alunos que vêm de longe necessitarão de alojamento.
Bolsas direccionadas serão frequentemente um instrumento necessário para assegurar
igualdade de acesso aos alunos mais desfavorecidos.
35. Estas estratégias terão que dar particular atenção às necessidades específicas das
raparigas que frequentam a escola secundária na altura em que alcançaram a maturidade
sexual, quando as preocupações dos pais com a segurança são extremas quando os custos
de oportunidade são frequentemente altos. Vários países estão a implementar programas
que não só reduzem o custo directo da escolaridade como também ajudam a cobrir os
custos indirectos e de oportunidade existentes quando os pais deixam as crianças ir para
escola por meio de transferências condicionais de dinheiro. Estes programas mostraram-
Caixa 9.2: Transferências condicionais de dinheiro no Bangladesh e México
O programa nacional do Bangladesh de estipêndios para raparigas no ensino secundário em áreas rurais começou em
1982. os estipêndios cobrem totalmente as despesas com propinas, exames, manuais, consumíveis escolares,
uniformes, transporte, e querosene para candeeiros. Todas as raparigas do 6º ao 10º ano podem receber estipêndios nos
460 círculos rurais (thanas) do Bangladesh desde que cumpram três critérios básicos: (1) frequentem regularmente a
escola, (2) obtenham determinadas notas mínimas, e (3) não se casem enquanto frequenta a escola. Recebe o
estipêndio através de uma conta bancária em seu nome. Durante os primeiros cinco anos em que o programa decorreu
em áreas piloto, a inscrição de raparigas subiu de 27% para 44%, quase o dobro da média nacional. Sob pressão
popular, em 1992 o governo do Bangladesh eliminou as propinas para as raparigas e ampliou o programa a todas as
áreas rurais. A inscrição de raparigas e rapazes subiu para 55-60%, mas as inscrições de raparigas aumentaram mais
depressa do que o dos rapazes. O programa também encorajou mais raparigas a submeter-se a exames e ir para
faculdades intermédias. Os custos do programa são substanciais, mas o governo considerou que o impacto na inscrição
e sucesso escolar das raparigas (bem como o adiamento do casamento) são suficientemente impressionantes para
mantê-lo numa escala nacional.
O programa de bolsas mexicano PROGRESA aumentou uma grande quantidade de inscrições e tem sido ampliado e
replicado com êxito. As famílias recebem pagamentos mensais por cada criança na escola, que aumentam com a idade
da criança, desde cerca de 7 dólares ao longo do terceiro ano na escola primária até cerca de 25 dólares no terceiro ano
da escola secundária – dependente de as crianças manterem 85% de frequência. Os participantes também receberam
serviços de saúde grátis, desde que vão regularmente a clínicas e a sessões educativas. Uma avaliação aleatória
rigorosa concluiu que quase todas as famílias elegíveis aproveitaram o programa, aumentando as inscrições médias em
3.4% para todos os alunos entre o 1º e o 8º ano. As inscrições de raparigas melhoraram, especialmente para crianças
que terminam a escola primária e entram no ensino secundário. O aumento mais significativo (15%) foi o das
raparigas que terminam o 6º ano. Em parte porque a avaliação aleatória do programa PROGRESA permitiu
documentação tão clara dos impactos positivos do programa, este foi expandido dentro do México e em 2000 chegava
a 2,6 milhões de famílias, ou 10% das famílias do México. (O orçamento do programa também foi substancial: 800
milhões de dólares ou 0,2% do produto interno bruto). O programa expandiu-se agora para áreas urbanas e chama-se
Oportunidades.
Fonte: Herz e Sperling (2004)
se particularmente importantes para as raparigas em ambientes tão variados como o
Bangladesh e o México (caixa 9.2). Vários estudos rigorosos, incluindo uma grande
experiência controlada no México, confirmaram o forte impacto das bolsas sobre a
inscrição das raparigas. Os estudos também sugerem que os programas que reduzem o
custo da escolaridade fornecendo materiais como manuais escolares e uniformes ou
215
programas que oferecem refeições ou cuidados de saúde na escola podem ter impactos
significativos, especialmente para as raparigas.
37. Uma flexibilidade semelhante terá que ser aplicada ao currículo, especialmente
no segundo nível em que as opções e a escolha se tornam cada vez mais importantes.
216
Nem todas as escolas conseguirão oferecer todas as opções. Especialmente as escolas
mais pequenas apenas poderão oferecer um currículo nuclear com poucas opções. Mesmo
nas escolas maiores, que oferecem um grande número de opções escolhidas por apenas
alguns alunos, isso pode ser muito dispendioso e muitas vezes oferece pouco valor
acrescentado à experiência de ensino. O ensino multi-grau oferece oportunidades de
aprendizagem de qualidade em pequenas escolas, a um custo razoável. A formação
vocacional pode muitas vezes ser disponibilizada a tempo parcial. A duração da formação
técnica variará dependendo da especialização. Os prestadores privados que
disponibilizam formação são omnipresentes em muitas cidades africanas. O ensino à
distância e os programas de ensino abertos98 são mecanismos de disponibilização cada
vez mais importantes, providenciando caminhos alternativos para a aprendizagem e
certificação de alunos e professores. Quando combinados com as TIC fornecem
mecanismos cada vez mais eficientes para ultrapassar as limitações da escola tradicional
(Caixa 9.3).
98
O ensino à distância é o fornecimento de ensino ou formação a alunos que estão separados,
maioritariamente no tempo e no espaço, daqueles que estão a ensinar e a formar. Os programas de ensino
abertos baseiam-se normalmente no estudo independente ou em tempo parcial, que permite a inscrição sem
requisitos formais e com barreiras mínimas de idade ou tempo e reconhece a aprendizagem anterior. Os
dois juntam-se no conceito de Ensino Aberto e à Distância (Open and Distance Learning – ODL).
217
comunidades e pais apoiarem o desenvolvimento de oportunidades locais e acessíveis
para mais aprendizagem. Na verdade, as iniciativas locais tiveram um papel importante
no desenvolvimento do ensino secundário não só nos EUA no início do século XX
(Capítulo 3) como também no movimento Harambee do Quénia nos anos 1970 (Caixa
9.4). Canalizar a vontade das comunidades e dos pais de apoiar o desenvolvimento de
escolas secundárias nas suas comunidades, fornecendo recursos para complementar os
que podem ser geridos localmente e reforçar a capacidade dos actores locais –
funcionários da escola, líderes comunitários, membros dos SMC e BOG – pode ser uma
pedra angular do desenvolvimento do ensino secundário na ASS.
42. Num sistema deste tipo o principal papel das agências do governo central já não
será fornecer escolaridade secundária mas antes monitorizar a qualidade, disponibilizar
financiamento nuclear, fornecer apoio às escolas com dificuldades e assegurar a
igualdade do acesso e da oportunidade de aprender. Uma estratégia assim vai requerer a
intensificação e aceleração dos processos de descentralização em curso, repensar as
responsabilidades dos funcionários e administradores em diversos níveis do sistema e
reequilibrar as responsabilidades da gestão central e local. O resultado seria um sistema
que, no âmbito de um enquadramento definido centralmente, é gerido ao nível da
disponibilização pelos prestadores de serviço – administradores e funcionários das
escolas – com um envolvimento significativo dos beneficiários de primeira linha –
estudantes, pais e comunidades. Mas isto só pode acontecer num ambiente em que
existam administradores locais competentes. Estes existem em alguns países mas não
noutros. No último caso fortalecer a capacidade dos administradores locais é um pré-
requisito para uma descentralização eficaz.
218
Parcerias entre os sectores público e privado
43. As parecias com fornecedores não governamentais serão quase inevitavelmente
um elemento chave das estratégias de desenvolvimento do ensino secundário bem-
sucedidas. No Extremo Oriente essas parcerias tiveram um papel chave na criação de um
ambiente que permitiu uma rápida expansão do ensino secundário. Uma estratégia
semelhante pode ser atraente para vários países da ASS. As parcerias podem concretizar-
se de uma série de maneiras diferentes mas o mais frequente será incluírem apoio
financeiro do governo para a disponibilização privada do ensino, incluindo a da
comunidade; e muitas vezes o financiamento privado da escolaridade disponibilizada
pelo sector público. Em praticamente todos os países da ASS, os pais contribuem com
uma parte importante do custo do ensino secundário público e privado (Capítulo 5). O
desafio é estruturar estas parcerias de tal maneira que funcionem eficientemente em
conjunto e que os parceiros dos sectores público e privado possam contribuir nas áreas
em que estão em melhor posição para o fazer.
219
• Oferecer incentivos e parcerias a prestadores não governamentais que estejam
dispostos a providenciar oportunidades de ensino de qualidade aceitável também a
crianças desfavorecidas.
46. Países diferentes terão condições iniciais e objectivos a longo prazo muito
diferentes, irão enfatizar características diferentes e combiná-las de uma forma única.
Não obstante, ajudará praticamente a todos pensar nas opções de estratégia e prática que
evoluíram da experiência regional e internacional, à medida que expandirem as
oportunidades de ensino além da escola primária para reforçar a sua base de capital
humano, acelerar o crescimento económico e construir uma infra-estrutura social que leve
ao crescimento económico e ao desenvolvimento humano.
Implementar Reformas
47. Muito do debate sobre a reforma do ensino concentrou-se na substância de
reformas que os países poderão querer considerar. Este relatório não é, até agora,
excepção. Contudo muita da literatura sobre reforma e mudança das escolas enfatiza que
em última análise é a qualidade da implementação local – i.e. a extensão a que as escolas
adoptam a reforma – que determinará o sucesso desta. A implementação é muitas vezes
muito menos automática do que as autoridades centrais presumem. Na Zâmbia, por
exemplo, muitas escolas primárias ainda não implementaram a política mandatada pelo
governo de oferecer o 8º e 9º ano (Bennell et al, 2005; CIDT, 2005). As dificuldades de
mudar as práticas de ensino na sala de aula estão bem documentadas (Capítulo 8). A
vontade de mudar das escolas e dos administradores locais determinará em grande
medida o ritmo viável de implementação. Mas os modelos mentais da mudança serão
determinados pela forma como as estratégias de mudança forem concebidas e praticadas
pelas autoridades centrais.
A política da mudança
48. A reforma das políticas de ensino secundário é quase sempre controversa. Isto
reflecte o facto de o ensino secundário não ser apenas um problema técnico, mas ser
quase sempre uma questão política com vencedores e vencidos potenciais fazendo lóbi
para proteger os seus interesses. A aplicação bem-sucedida exige vontade política e o
progresso dependerá, primeiro e acima de tudo, da disponibilidade para tomar decisões
difíceis e mantê-las durante o longo período de tempo normalmente necessário para as
pôr em prática. Tipicamente, isso envolverá esforços para construir um consenso nacional
e apoiar os objectivos de políticas e de reforma através de práticas consultivas de
desenvolvimento de políticas, estratégias de comunicação efectivas, transparência nos
procedimentos de tomada de decisão e afectação de recursos e uma vontade de considerar
dados e lições da experiência, mesmo quando eles questionam ideias preconcebidas e a
sabedoria convencional. O sucesso tem estado associado com o pragmatismo mais
frequentemente do que com a ideologia ou a liquidação de opositores políticos.
220
de Leste – a ênfase no papel do desenvolvimento da educação é impulsionada por
prioridades que vão muito para além das questões económicas, dado que a educação pode
desempenhar um papel chave na construção de uma nação, incluindo a construção dos
valores morais e da coesão nacional necessários para fazer funcionar uma sociedade
multi-étnica. E é, em particular, ao nível secundário – com adolescentes – que tanto a
preparação para o mercado de trabalho como os aspectos morais da educação são
particularmente importantes.
50. Onde existe uma tal visão combinada com a vontade de agir, tem sido
frequentemente possível uma mudança rápida. Por exemplo, nos últimos 40 anos a
Finlândia e a Coreia implementaram políticas de ensino que conduziram a um grande
aumento no número de adultos com pelo menos o ensino secundário completo. As
políticas coreanas demoraram apenas 20 anos a conseguir isto, enquanto, na Finlândia, o
mesmo processo demorou 40 anos. A Tailândia aumentou o rácio de inscrições no
secundário de 30% em 1990 para mais de 70% 15 anos mais tarde. O melhoramento do
ensino nos “tigres” do Oriente, nos EUA e Europa começou com melhorias no fundo da
pirâmide, através de esforços fortes e sustentados para fornecer ensino secundário (Banco
Mundial, 2005).
51. A experiência na ASS também mostra que é possível uma rápida mudança uma
vez que ela passe a ser uma prioridade política no contexto do desenvolvimento nacional.
Na África do Sul, a reforma do sistema de educação tornou-se uma prioridade para o
primeiro governo democraticamente eleito em 1994. Extensas mudanças foram postas em
prática no espaço de três anos. Foram aplicadas mais reformas para lidar com as
preocupações com baixas taxas de passagem do “exame de aptidão à universidade”99 que
resultaram num aumento de cerca de 50% em meados dos anos 1990 para 70% dez anos
mais tarde, embora a preocupação com a qualidade dos resultados, em especial em
matemática e ciências, ainda se mantenha. O Zimbabwe, depois da independência em
1980, lançou um programa massivo para expandir o acesso à educação aos estudantes
negros que, antes disso, tinham estado excluídos dela. O movimento Harambee no
Quénia tem um registo impressionante de expansão das oportunidades secundárias em
áreas rurais. (Caixa 9.3).
A prática da mudança
52. A reforma do ensino e em particular a reforma do ensino secundário é um
processo complexo e multifacetado que muitas vezes não conseguiu produzir os
resultados prometidos. As melhores ideias encalharam muitas vezes nos baixios da
implementação. Felizmente a experiência acumula-se e as lições estão a ser aprendidas à
medida que os países – em África e noutras regiões – enfrentam os desafios do
desenvolvimento do ensino secundário. Várias tendências tornam-se aparentes.
53. Em primeiro lugar, os sistemas escolares estão cada vez mais a transformar-se
num sistema de escolas em que a responsabilidade de melhoramento e desempenho está a
passar dos gestores de nível central para o nível da escola. Mas não faz muito sentido
pedir às escolas que implementem reformas cada vez mais complexas quando a
99
Com os exames do grau 12 certificando a conclusão da escola secundária.
221
capacidade de mudança ao nível da escola é limitada e os professores não estão
familiarizados com os métodos de ensino que se pede que implementem. Não existem
soluções rápidas para os problemas das escolas secundárias. Especialmente as reformas
que procuram mudar a prática do ensino e melhorar o sucesso escolar têm que ser
concebidas como processos e não como eventos. Estas não são intervenções que possam
ser mandatadas centralmente. Não existe substituto para um esforço sustentado ao longo
do tempo que aumente a capacidade de mudança ao nível da escola, desenvolva
mecanismos de apoio centralizados e forneça liderança nacional sustentada. O que é
preciso é um processo de melhoramento e aprendizagem contínuo, que se infiltre no
sistema. As escolas podem aprender umas com as outras. Os administradores podem
partilhar as suas experiências com colegas noutros distritos. Os administradores de nível
central podem aprender com a sua própria experiência e com a experiência de outros
países na região e não só.
54. Em segundo lugar, as estratégias com base em dados empíricos são a raiz de uma
reforma de sucesso. A aprendizagem contínua a partir da experiência requer informação.
Onde as avaliações rigorosas, usando informação quantitativa e qualitativa, estão
ausentes, a aprendizagem acaba por se basear em anedotas, opiniões e preconceitos. Estes
são substitutos pobres da informação autêntica que fornece a base para uma
aprendizagem e sistemas de recolha de dados baseados na aprendizagem. Mas muito do
esforço focou-se no ensino secundário. A recolha de informação no ensino secundário
tem sido negligenciada (ver capítulo 8). A concepção e implementação bem-sucedida da
necessária reforma do secundário não podem acontecer sem boa informação. As
estatísticas nacionais devem fornecer informação sobre a disponibilidade das entradas. Os
inquéritos às famílias fornecem informação sobre o acesso ao ensino, a frequência escolar
e as despesas com educação. As avaliações podem dar aos criadores de políticas
informação sobre o desempenho global do sistema e compará-las com os países vizinhos.
Avaliações contínuas na sala de aula podem ajudar os professores a identificar a
necessidade de instrução complementar. Estudos aleatórios de amostras são
frequentemente muito úteis para reunir dados sobre o desempenho de programas
particulares.
100
Ver por exemplo o relatório do Departamento de Educação: Report to the Minister : Review of the
Financing, Resourcing and Costs of Education in Public Schools ( 3 de Março de 2003(e o relacionado
2003 Plan of Action: Improving Access to Free and Quality basic Education for All (14 de Junho de 2003)
disponíveis em
http://www.education.gov.za/dynamic/dynamic.aspx?pageid=329&catid=10&category=Reports
222
56. Em terceiro lugar, a ampla comunicação de desafios e realizações, a discussão
pública de opções políticas e a transparência na tomada de decisões são ingredientes
chave de estratégias de implementação eficazes. Muitas das reformas no ensino
secundário serão controversas e muitas vezes ameaçarão interesses velados ou desafiarão
formas estabelecidas de prestação de serviço e prática de ensino. As consultas com os
actores e a informação aberta e honesta ao público podem muitas vezes ajudar a construir
aceitação e apoio público.
Conclusão
57. O imperativo de reforma do ensino secundário já não pode ser ignorado na África
Subsaariana. A transformação de um sistema tradicional de elite que prepara poucos
alunos privilegiados num outro que disponibiliza oportunidades a uma proporção de
adolescentes em rápido crescimento é algo que está a acontecer em toda a região. Mas o
desafio não é apenas de expansão; envolve melhorar a qualidade e a igualdade ao mesmo
tempo. A expansão linear dos sistemas existentes – mais do mesmo – não é uma opção.
223
construir amplo apoio público para uma agenda de reforma. Apenas então será possível
enfrentar o desafio do ensino secundário com confiança.
224
... à medida que se aprofunda a base de conhecimento do
Grupo do Banco Mundial e dos nossos parceiros para o
desenvolvimento ... será sentido o impacto num
realinhamento progressivo das afectações da IDA em
apoio do ensino pós-primário...
- Plano de Acção para a África do Banco Mundial
Capítulo 10
1. Nas últimas duas décadas, a estratégia do Banco para o sector de educação tem
dado menos atenção ao nível do ensino secundário, relativamente ao primário e terciário.
Muito antes da iniciativa da Educação para Todos, a política de empréstimos do banco
enfatizou, com fundamentos económicos e sociais, o desenvolvimento do ensino
primário. Consequentemente, os empréstimos para o ensino secundário ocorreram
principalmente em países que já tinham alcançado o acesso universal ao ensino primário.
Para os projectos aprovados a partir do ano fiscal de 1990 (AF90)101 dois terços dos
empréstimos ao secundário estão concentrados nos países de rendimento médio da
América Latina e Caraíbas (ALC), da Europa de Leste e da Ásia Central (EAC) e da Ásia
de Leste (ALP), embora as parcelas de cada um tenham mudado consideravelmente no
período mais recente, com aumentos significativos da parte que cabe à Ásia do Sul e à
EAC e uma notável diminuição para a ALP (Figura 10.1). A parte da África Subsaariana
tem-se mantido notavelmente estável ao longo de ambos os períodos em cerca de 13-
14%. Dados os compromissos de empréstimos anuais muito maiores neste último período
isto significa que o investimento médio anual no ensino secundário na ASS aumentou de
27 milhões de dólares nos AF90-AF01 para 37 milhões de dólares em AF01-AF06.
101
O ano fiscal do Banco Mundial (AF) vai de 1 de Julho a 30 de Junho; o AF90 começa em 1 de Julho de
1989.
225
S econdary Lending by Region as % of Total S econdary S econdary Lending by Region as % of Total S econdary
Lending, FY90-FY01 Lending, FY01-FY06
SAR SSA
SSA SAR
8.2% 13.7%
14.8% 16.8%
MENA
8.0% EAP
5.8%
MENA
11.7%
ECA
LAC EAP 19.2%
29.9% 31.1%
LAC
ECA 32.8%
8.0%
Source: Edstats Source: Edstats
226
colaboração com pessoal dos ministérios ou instituições de investigação dos países
envolvidos. O dinheiro tem estado, na maior parte dos casos, comprometido com
projectos específicos de investimento, mas, em anos recentes, têm sido desenvolvidos e
usados novos mecanismos de financiamento e para apoiar também o ensino secundário.
Empréstimos
4. A figura 10.2 mostra a tendência dos empréstimos para o ensino secundário e
formação vocacional na região África desde 1990. As quantias anuais emprestadas
Figura 10.2: Percentagem empréstimos concedidos pelo Banco tendem a flutuar
Mundial a Africa para o ensino secundário e significativamente; o
formação vocacional, AF90-06 ensino secundário
40% contribuiu com 35%
35%
para o total emprestado
30%
25% para o ensino na ASS
20% no AF04, mas 0% no
15%
10% AF93. A formação
5% vocacional recebeu
0%
FY90 FY91 FY92 FY93 FY94 FY95 FY96 FY97 FY98 FY99 FY00 FY01 FY02 FY03 FY04 FY05 FY06 20% do AF94, mas
% secondary education % vocational training somente 0,5% no
Source: Edstats
AF93. Os
investimentos únicos têm um impacto importante. A elevada quota-parte de empréstimo
para o ensino secundário no AF04 deveu-se quase exclusivamente a um “Projecto de
Desenvolvimento do Ensino Secundário” na Tanzânia (150 milhões de dólares de custo
total); no AF06, um “Projecto de Ensino Pós-primário” no Burkina Faso foi responsável
por 80% (15 milhões de dólares) dos empréstimos para o secundário. Empréstimos acima
da média para a formação vocacional no AF06 deveram-se a um projecto de formação
vocacional em Moçambique com um custo total de 30 milhões de dólares. Não obstante
estas flutuações, as médias de cinco anos – AF 90-94, AF 95-99 e AF00-AF06 são
notavelmente estáveis com 10,3%, 10,6% and 11,6% respectivamente para o ensino
secundário e 7,0%, 3,6% and 7,0% para a formação vocacional.
227
Caixa 10.1: Tanzânia: Programa de Desenvolvimento do Ensino Secundário
A Tanzânia tem uma das taxas mais baixas de inscrições no secundário de África. São precisas alterações
fundamentais para aumentar as inscrições e melhorar a qualidade nas escolas, tanto governamentais como
não governamentais. Essas alterações incluem reduzir os custos para as famílias, redesenhar e reestruturar
os programas de ensino e reforçar o sistema de gestão através da descentralização. O Banco Mundial está a
apoiar o Programa de Reformas do ensino secundário do Governo com um Empréstimo de Ajustamento
Sectorial de 150 milhões de dólares que será desembolsado em três tranches anuais de dependentes da
implementação das reformas de políticas especificadas.
Será construído um número substancial de salas de aula, formados os professores e inscritos os alunos mas
o objectivo principal é lançar as bases de um sistema de ensino secundário de qualidade que seja
pertinente, eficaz e eficiente. Subsídios ao desenvolvimento ajudarão as comunidades a construir as
escolas. Serão introduzidos incentivos para prestadores não governamentais. As propinas nas escolas do
governo serão reduzidas. Serão providenciadas bolsas para os filhos de famílias pobres. Serão expandidos
os programas de ensino à distância. Os currículos serão examinados e revistos e os professores orientados
para usá-los; será completado e publicado um novo programa de exames; será estabelecida uma nova
estrutura de formação dos professores pré-serviço e o seu conteúdo; serão adoptadas políticas para tornar
mais produtiva a utilização dos professores; e instalada uma nova estrutura organizacional com capacidade
de executar eficientemente mais funções a níveis mais baixos.
As condições das tranches estão ligadas à implementação do pacote de reformas. Já foram libertadas duas
tranches após a conclusão de:
• Promulgação de regulamentação sobre capitação, desenvolvimento, trabalho académico e normas
para colocação de professores nas escolas públicas para alcançar, em 2008, um rácio de pelo menos
30 alunos por professor;
• Conclusão dos acordos entre o Instituto Tanzaniano da Educação (TIE) e editores do sector privado
para publicação de manuais já existentes e revisão do processo de avaliação dos manuais
• Afectações orçamentais para pessoal, bolsas, subsídios de capitação e de desenvolvimento para
instalações e melhorias pedagógicas em harmonia com normas acordadas;
• Redução pelo governo das propinas das escolas secundárias públicas de Tsh 40 000 para Tsh
20 000, começando no ano escolar de 2005;
• Regulamentação de um pacote de benefícios para atrair professoras para áreas mal servidas; e
• Adopção e implementação de um programa de desenvolvimento profissional contínuo dos gestores
e professores das escolas.
Mais recentemente, o governo criou um novo ambiente de políticas quando foi anunciado um programa de
Ensino Pós-primário e Formação que tem como intenção expandir dramaticamente o acesso ao ensino
secundário até 2007.
5. O ensino secundário tem sido apoiado em dez países da ASS desde o AF03
(tabela 10.2), ou dois ou três em cada ano; o apoio aos projectos de formação vocacional
está mais largamente disseminado pelos países – 3 a 5 por ano mas o âmbito – tal como é
reflectido pela quantia entregue – tende a ser bastante pequeno.
228
Tabela 10.2 Empréstimos do Banco para o ensino secundário e Com 6.
formação vocacional na ASS (AF00-06) excepção de uns
01 02 03 04 05 06
poucos projectos que
Ensino secundário
1 0 3 2 2
se centram quase
3
Projectos (#)
Quantia($m) 14,4 0 53,9 124,2 11,2 exclusivamente
18,3 no
ensino secundário –
Formação vocacional Tanzânia e Burkina
Projectos (#) 1 3 1 3 5 5
Faso – as quantias
Quantia ($m) 19,8 47,1 2,1 16,5 15,8 27,2
disponibilizadas para
Total ($m) 209,5 472,6 423,6 362,9 369 339,3
16 10 13 39 7 13
o ensino secundário
Sec &Voc % do total
tendem a ser bastante
Fonte: Edstats
pequenas – 5 a 6
milhões de dólares
nos AF05 e 06,
distribuídos por componentes em diversos países. É improvável que estes esforços
produzam um apoio significativo a programas de reformas importantes. O projecto do
Burkina Faso fornece um bom exemplo de um esforço sustentado para apoiar o ensino
secundário. Um primeiro projecto foi aprovado em 1996, seguido de um
acompanhamento no AF06. O primeiro projecto apoiava abordagens inovadoras para
promover: parcerias público-privado para construção e operação das escolas (Capítulo 9,
Caixa 9.1); reformas da formação dos professores (Capítulo 7, Caixa 7.3); avaliação
sistemática da aprendizagem dos estudantes; progressos no sentido da igualdade de
género; e melhor acesso dos estudantes pobres. A segunda operação (AF06) prolonga
esses esforços incorporando as lições da experiência ao mesmo tempo que apoia um
grande aumento das inscrições, em especial no primeiro nível do secundário, com um
crescimento da taxa de entrada de 22% em 2004 para 40% em 2009.
229
vocacional incluídos no pilar do Desenvolvimento Humano, com uma matriz detalhada
de políticas e resultados (Caixa 10.2). O enquadramento político do ensino secundário é
desenvolvido no Plano de Ensino Pós-primário e Formação (PTETP)103. O diálogo sobre
as políticas e a avaliação do progresso da implementação têm lugar anualmente durante
um exame do sector da educação que inclui o (PPETP). A implementação dos
compromissos assumidos pelo governo nesses exames sectoriais é uma acção prévia para
os PRSC.
103
Este plano do Uganda foi substituído por um passo em direcção a universalizar o acesso ao ensino
secundário que precisa de ser escorado por um conjunto coerente de reformas políticas. A taxa de
construção de escolas está abaixo das necessidades. O esquema de bolsas mencionado é inadequado para
cobrir as necessidades e não há grandes progressos na reforma dos currículos e na limitação do número de
disciplinas. Até à data, não foram incluídos novos professores na folha de pagamentos oficial (apesar de
2000 terem sido identificados) mas o número de professores pagos pelas APP tem aumentado.
230
Caixa 10.2 : Uganda: Políticas PEAP e Matriz de Resultados para o Ensino Secundário
Fim de Junho de 2005 Fim de Junho de Fim de Junho de Fim de Junho de
2006 2007 2008
Aumento das O Governo continua a Continuação da Continuação da Todas as escolas
inscrições no pós- melhorar o acesso por meio construção construção semente (60)
primário da construção de 60 escolas construídas. Meta
(GER por Género) secundárias de 270 escolas
atingida
Aumentar acesso a Mais professores recrutados Mais professores Mais professores Implementação de
escolas recrutados recrutados acordo com a
secundárias e análise.
instituições BTVET O Governo continua a
subvenção de ajuda à meta
de 270 escolas
comunidade/privadas
Implementado um plano Continuação da Revisão e
piloto para criar um máximo implementação do avaliação do plano
de 30 escolas politécnicas da plano piloto piloto
Comunidade, 14 das quais
14 serão inteiramente
financiadas pelo Governo do
Uganda, enquanto 16 serão
co-financiadas por IDB
Melhorar a Implementar esquema de Aumento para três Continuação da Continuação da
equidade do acesso bolsas com cada turma do do número de implementação do implementação do
e eficácia do secundário a ter, agora, 2 beneficiários por rácio 2:1 rácio 2:1
sistema beneficiários por sub- sub-condado, a ser (rapariga:rapaz) (rapariga:rapaz)
providenciando condado. Esquema para partilhado por por turma e sub- por turma e sub-
bolsas para incluir raparigas que tiveram género com um condado condado
estudantes pobre um filho e desejam regressar rácio de 2:1 a favor
se brilhantes. à escola das raparigas.
Qualidade Desenvolvida a Implementados os Implementados os
melhorada do Autoridade para as programas programas
Ensino Pós- Qualificações modularizados modularizados
primário Vocacionais nos institutos nos institutos
EFTV EFTV
(Taxa de conclusão Rever os currículos para os Currículo revisto e Currículo revisto e Novo currículo
do grau 4 transformar em unidades de implementado implementado implementado,
desagregada por crédito ponderadas de acor- monitorizado e
género) do com o nível da instituição avaliado
Disciplinas de ciências e Professores de Professores de Professores de
tecnologia tornadas ciências e tecno- ciências e tecno- ciências e tecno-
obrigatórias logia formados e logia formados e logia formados e
reciclados reciclados reciclados
Laboratórios existentes Laboratórios e Laboratórios e Laboratórios e
reabilitados bibliotecas bibliotecas bibliotecas
construídos construídos construídos
Laboratórios e Laboratórios e Laboratórios e
bibliotecas exis- bibliotecas exis- bibliotecas exis-
tentes reabilitados e tentes reabilitados tentes reabilitados
equipados e equipados e equipados
Currículo dos politécnicos Currículo das Currículo das Continuação da
comunitários modularizado escolas técnicas e escolas técnicas e implementação de
comerciais escolas agrícolas programa
modularizado modularizado modularizados e
avaliação
Fonte: Banco Mundial, 2005e
231
O Ensino Secundário em Artigos de Estratégia de Redução da Pobreza (PRSP)
8. Uma análise recente do lugar do ensino nos projectos de PRSP que foram
completados até 2003 (Hallak e Caillods, 2004) conclui que os níveis pós-primários “não
são considerados” (p. 149). As questões de desenvolvimento de competências são
frequentemente incluídas, mas, em geral, em apoio de programas sectoriais que não são
os do ensino e fora do enquadramento político da educação. Isto pode estar a mudar. Por
exemplo, o PRSP do Burkina Faso (2004) insiste em que o aumento da procura de força
laboral mais qualificada para a economia em crescimento exigirá mais diplomados, e
melhor formados, do ensino secundário, vocacional e profissional, para melhorar a
capacidade competitiva do Burkina Faso nos mercados regionais e globais. Similarmente,
o PRSP da Tanzânia apela a uma expansão do ensino secundário por intermédio das
escolas governamentais existentes e do encorajamento das escolas não governamentais.
Um objectivo é ter uma escola secundária em cada canto (implicando cerca de 2 500
escolas secundárias, comparadas com 1 000 presentemente). As estratégias de ajuda aos
países (CAS) reconhecem a importância de uma força de trabalho mais instruída, mas é
frequente que não exprimam apoio explícito ao desenvolvimento do ensino secundário ou
à inclusão do ensino secundário ou formação vocacional como elementos importantes do
programa de empréstimos. Uma excepção é o CAS da Tanzânia que tem um ou dois
padrões de referência para o desempenho do país na educação e um aumento da taxa de
transição das escolas primárias para as secundárias. O CAS 2006-2009 do Burkina Faso
inclui apoio ao ensino secundário de primeiro nível como um dos seus objectivos
prioritários.
Trabalho analítico
9. Em anos recentes, só houve dois estudos formais aprofundados de questões do
ensino secundário específicos de um país: Uganda (Liang, 2003) e Madagáscar
(Ramanantoanina, 2006). Na Tanzânia foi desenvolvido um projecto de relatório de
estratégia para o ensino secundário pelo governo, apoiado pelo Banco Mundial e outros
parceiros para o Desenvolvimento, para lançar os alicerces para o projecto de
Desenvolvimento do Ensino Secundário anteriormente referido. Para vários outros países
– Nigéria, Camarões, Benim, Gana e Zâmbia – a Iniciativa SEIA apoiou estudos
nacionais. As análises económicas em relatórios de apreciação no Malawi (Programa de
Apoio ao Sector da Educação) e no Burkina Faso, por exemplo, sublinham os parâmetros
da sustentabilidade financeira. Muitos desses relatórios incluem uma análise de questões
de ensino secundário e recomendações para políticas de reforma – embora, tipicamente,
em menor profundidade do que para o ensino primário – mas apenas alguns, poucos,
fornecem realmente um enquadramento para a acção e são seguidos de apoio financeiro
ao sector secundário.
232
simultaneamente em direcção aos MDG para o ensino primário, a expandir o acesso ao
secundário, a desenvolver a EFTV e a reforçar o ensino superior, e precisam de
considerar os compromissos entre as afectações de recursos aos subsectores. A magnitude
do desafio é ilustrada no Burkina Faso, onde se espera que a quota-parte do ensino
secundário aumente de menos de 10% do orçamento da educação para mais de 20%, com
um decréscimo concomitante da quota-parte do ensino primário, tornada possível por
importantes reformas do modo como os professores são recrutados e remunerados (Banco
Mundial, 2006). Um quadro político sectorial amplo integrado e uma análise da
sustentabilidade financeira são, habitualmente, pré-condições para caminhar para os
instrumentos DPL para apoio ao ensino pós-primário.
13. A geração mais antiga de projectos para a região África na análise IEG, enfatizou
principalmente as melhorias de qualidade, a expansão da capacidade e melhorias do
planeamento e da gestão. A redução dos obstáculos da pobreza e do género foi muito
menos prevalecente. As parcerias com o sector privado raramente foram procuradas
nesses projectos, para lá dos estudos e assistência técnica. As ligações com os objectivos
do desenvolvimento, exteriormente ao sector da educação, foram fracas ou inexistentes.
104
Conhecido, à época, como Departamento de Avaliação de Operações (OED).
233
Muitas dedicaram-se a múltiplos objectivos em vários subsectores. Poucos projectos
contribuíram com sucesso para reformas políticas importantes.
14. Nos anos recentes, este quadro está a mudar. Tem sido dada uma atenção
considerável aos problemas de género e de igualdade: o PEAP do Uganda e a Gâmbia
(AF05), por exemplo, providenciam financiamento ou bolsas para raparigas pobres. O
Projecto Pós-primário do Burkina Faso tem especificamente por alvo 18 províncias
pobres, providencia uma redução de propinas escolares, apoia bolsas direccionadas para
os pobres e, especificamente, para as raparigas, e estabelece parcerias inovadoras com as
comunidades e o sector privado. O Programa de Desenvolvimento do Ensino Secundário
da Tanzânia (AF04) providencia subvenções ao desenvolvimento para a construção de
salas de aula às comunidades mais pobres, e suporta reduções de propinas e bolsas de
estudo para crianças pobres. As questões de financiamento e sustentabilidade de todo o
sector são uma parte central da análise em muitos projectos. Nos casos em que não existe
um plano coerente de reformas, os projectos fornecem apoio financeiro e técnico para o
desenvolver.
234
co-financiar o Projecto Pós-primário no Burkina Faso. Vários organismos – e.g.,
DANIDA e GTZ – têm um compromisso de longa data com o apoio à EFTV.
235
objectivo do Plano de Acção para a África – desenvolver e implementar programas de
desenvolvimento do ensino secundário em 12 países até AF08 possa ser alcançado de
uma maneira substantiva e significativa. Similarmente, grande parte do trabalho analítico
e estratégico está relacionado com PERs e CSRs que põem uma grande ênfase no
diagnóstico e na economia/finanças de todo o sector. Os esforços adicionais centraram-se
mais limitadamente nas escolhas de políticas do ensino secundário para escorar o diálogo
político entre o governo, os parceiros para o desenvolvimento e outros interessados, que é
requerido por quase toda a parte.
Prioridades estratégicas
20. Será importante garantir que o apoio crescentemente disponível vindo de
múltiplas fontes seja bem coordenado e coerente e, quando possível, disponibilizado
dentro do quadro de uma abordagem de todo o sector (SWAP). As condições de cada país
determinarão o instrumento de empréstimo apropriado. A ajuda para o ensino secundário
pode ser disponibilizada através de uma série de instrumentos. Vários exemplos foram
discutidos acima: PRSC no Uganda (Caixa 10.2), Empréstimo de Ajustamento Sectorial
na Tanzânia (Caixa 10.1), e o Empréstimo de Investimento Específico no Burkina Faso,
enquanto no Mali 20% da segunda fase do Programa de Empréstimo Adaptável106 (APL)
para o Segundo Programa de Investimento para o Sector da Educação está a apoiar o
desenvolvimento do ensino secundário, em particular o segundo ciclo do ensino básico
(graus 7-9). No Senegal, a segunda fase de um Programa de Empréstimo Adaptável
(AF07) está a apoiar principalmente o ensino secundário do primeiro nível.
106
Um Programa Adaptável de Empréstimo (APL) providencia apoio para um desenvolvimento a longo
prazo libertando três tranches para apoio de investimentos específicos baseados num conjunto de
indicadores de performance acordados, conhecidos como activadores.
236
financeiramente pelo Banco e outros Parceiros para o Desenvolvimento. A acção
específica relativa a isto precisará de incluir:
• Partilha das conclusões deste relatório e de outro trabalho analítico com uma vasta
audiência de decisores africanos, profissionais de educação na região da África e
fora dela, e parceiros de desenvolvimento, com o intuito de estabelecer um
entendimento sobre a urgência da acção e uma consciencialização das opções
políticas mais promissoras para a reforma.
• Desenvolvimento de alicerces analíticos para o planeamento nacional e consulta
das partes interessadas, específicos de cada país, tanto para o diálogo sobre as
políticas como para o apoio financeiro.
• Incorporação do ensino secundário nos documentos CAS do Banco e no apoio da
inclusão em PRSPs.
• Apoio ao ensino secundário, tanto quanto possível num amplo quadro sectorial de
políticas, ligado aos PRSP e METF nacionais para melhorar a visibilidade na base
financeira para acção a mais longo prazo.
• Usar instrumentos de empréstimo flexíveis, tais como APL, SIPs ou PRSCs,
sempre que possível.
• Monitorizar cuidadosamente o progresso da aplicação dos programas de reformas,
aprendendo com as lições da experiência e adaptando as intervenções em
conformidade com elas.
• O apoio explícito à qualidade, equidade e sustentabilidade financeira deverá ser a
imagem de marca do apoio do banco.
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