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1.0.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho enquadra-se na Disciplina de Introdução Estudos Literários do Curso de


Licenciatura em Português. O mesmo tem como objecto de estudo Evolução Histórica e
Semântica do Lexema Literatura. De salientar que a história da evolução semântica da palavra
nos revela a dificuldade de estabelecer um conceito incontestável de literatura. Dos múltiplos
sentidos mencionados apenas um nos interessa o de literatura como atividade estética, e as obras
delas resultantes. Não cedamos, porém, à tentação de tentar definir por meio de uma breve
fórmula a natureza eo âmbito da literatura, pois tais fórmulas, muitas vezes, inexatas, são sempre
insuficientes

1.1. Objectivos

1.1.2. Objectivo geral


Conhecer a evolução histórica e Semântica do Lexema Literatura

1.1.3. Objectivos específicos


Conhecer o conceito de literatura;
Compreender a história semântica do conceito literatura;
Reflectir sobre a polissemia do lexema literatura.

1.2. Metodologia
Na procura de entender Evolução histórica e Semântica do Lexema Literatura a realização e
conclusão desde trabalho de campo baseou-se, em pesquisa bibliográfica, realizada em
bibliotecas e escolas públicas, utilizou-se (livros de metodologia científica, obras literárias e
didácticas, artigos científicos, dicionários, revistas, internet, jornais etc.). A pesquisa foi
desenvolvida através de acções e investigações concretas, assim como de leitura, conhecimentos
precisos, reflexão, e com base em análise crítica sobre o tema norteador do trabalho
2.0. Evolução histórica e Semântica do Lexema Literatura

A questão sobre o termo literatura remete para uma pluralidade de conceitos complexos e não
raro ambíguos. Este termo pode assumir significações diversas, é, portanto, fortemente
polissémico. À partida, e simplificadamente, podemos dizer que a literatura pertence ao campo
das artes (arte verbal), que o seu meio de expressão é a palavra e que a sua definição está
comumente associada à ideia de estética/ valor estético.

Etimologicamente, o lexema deriva do latim litteratura, a partir de littera, letra, aparentemente.


Portanto, o conceito de literatura parece estar implicitamente ligado à palavra escrita ou impressa,
à arte de escrever, à erudição.

Nas línguas europeias, a palavra “literatura” designou em regra, até ao século XVIII, o saber,
conhecimento, as artes e as ciências em geral. Até à segunda metade desse século, para designar
especificamente a arte verbal, o corpus textual, eram utilizadas palavras como “poesia”, “verso” e
“prosa” (que hoje reconhecemos enquanto classificação de géneros literários).

Desde meados do século XVIII – tem o significado que hoje lhe damos. Até aí, a palavra existia
mas com um sentido diferente: designava, de modo geral, o que estava escrito e o seu conteúdo, o
conhecimento.

O vocábulo “literatura” durante o século XVIII, continuando ainda a designar o conjunto das
obras escritas e dos conhecimentos nelas contidos, passa a adquirir uma acepção mais
especializada, referindo-se especialmente às “belas artes”, ganhando assim uma conotação
estética e passando a denominar-se a arte que se exprime pela palavra. Saliente-se que, ao
significar a arte que se exprime pela palavra, o lexema assume desde logo uma referência
nacional, enquanto conjunto da produção literária de determinado país.

É na segunda metade do século XVIII que Voltaire (1827) caracteriza a literatura como forma
particular de conhecimento que implica valores estéticos e uma particular relação com as
letras. Na mesma linha de análise, Diderot (1751) define a literatura como arte e como o
conjunto das manifestações dessa arte, os textos impregnados de valores estéticos. Diderot
documenta dois novos e importantes significados com que o lexema “literatura” será
crescentemente utilizado a partir da segunda metade do século XVIII: específico fenómeno
estético, específica forma de produção, de expressão e de comunicação artísticas e corpus de
objectos – os textos literários – resultante daquela particular actividade de criação estética.
Digamos então, à partida, que o fenómeno literário se traduz em duas dimensões: por um lado, a
actividade de criação ou produção literária; por outro, o texto, o corpus textual de determinada
colectividade, de determinado grupo, de determinada época.

Tal evolução, porém, não se quedou aí, prosseguiu ao longo dos séculos XIX e XX. Vejamos, em
rápido esboço, as mais relevantes acepções adquiridas pela palavra neste período de tempo:

a) Conjunto da produção literária de uma época – literatura do século XVIII, literatura victoriana
-, ou de uma região – pense-se na famosa distinção de Mme. de Staël entre "literatura do norte" e
"literatura do sul", etc. Trata-se de uma particularização do sentido que a palavra apresenta na
obra de Lessing (Briefe die Literaturbetreffend).
b) Conjunto de obras que se particularizam e ganham feição especial quer pela sua origem, quer
pela sua temática ou pela sua intenção: literatura feminina, literatura de terror, literatura
revolucionária, literatura de evasão, etc.

c) Bibliografia existente acerca de um determinado assunto. Ex: "Sobre o barroco existe uma
literatura abundante...". Este sentido é próprio da língua alemã, donde transitou para outras
línguas.

d) Retórica, expressão artificial. Verlaine, no seu poema Art poétique, escreveu: "Et tout le reste
est littérature", identificando pejorativamente "literatura" e falsidade retórica. Este significado
depreciativo do vocábulo data do final do século XIX e é de origem francesa.
Com fundamento nesta acepção de "literatura", originou-se e temse difundido a antinomia
"poesia -literatura", assim formulada por um grande poeta espanhol contemporâneo: "[...] ao
demónio da Literatura, que é somente o rebelde e sujo anjo caído da Poesia."

e) Por elipse, emprega-se simplesmente "literatura" em vez de história da literatura.


f) Por metonímia, "literatura" significa também manual de história da literatura.
g) "Literatura" pode significar ainda conhecimento organizado do fenómeno literário. Trata-se de
um sentido caracteristicamente universitário da palavra e manifesta-se em expressões como
literatura comparada, literatura geral, etc.

A história da evolução semântica da palavra imediatamente nos revela a dificuldade de


estabelecer um conceito incontroverso de literatura. Como é óbvio, dos múltiplos sentidos
mencionados nos interessa apenas o de literatura como actividade estética, e, consequentemente,
como os produtos, as obras daí resultantes.

Não cedamos, porém, à ilusão de tentar definir por meio de uma breve fórmula a natureza e o
âmbito da literatura, pois tais fórmulas, muitas vezes inexactas, são sempre insuficientes.

Evolução semântica do vocábulo “literatura” até ao limiar do romantismo

Conjunto da produção literária de uma época – literatura do século XVIII, literatura vitoriana –,
ou de uma região – literatura baiana, literatura russa; Conjunto de obras que se particularizam e
ganham feição especial quer pela origem, quer pela temática ou pela intenção – literatura
feminina; literatura de terror; literatura revolucionária, literatura de evasão; Bibliografia existente
acerca de um determinado assunto – “Sobre o barroco existe uma literatura abundante...”

Retórica, expressão artificial


Retórica, expressão artificial. Verlaine, no seu poema Art poétique, escreveu: “Et tout le reste est
littérature” ;Por elipse, emprega-se simplesmente “literatura” em vez de história da literatura;Por
metonímia, “literatura” significa também manual de história da literatura;“Literatura” pode
significar ainda conhecimento organizado do fenômeno literário – literatura comparada; literatura
geral, etc.
A história da evolução semântica da palavra nos revela a dificuldade de estabelecer um conceito
incontestável de literatura. Dos múltiplos sentidos mencionados apenas um nos interessa o de
literatura como atividade estética, e as obras dela resultantes. “Não cedamos, porém, à tentação
de tentar definir por meio de uma breve fórmula a natureza eo âmbito da literatura, pois tais
fórmulas, muitas vezes, inexatas, são sempre insuficientes”

Terry Eagleton Teoria da literatura: uma introdução Se a teoria literária existe, parece óbvio
que haja alguma coisa chamada literatura, sobre a qual se teoriza. Podemos começar, então, por
levantar a questão: o que é literatura?”

Muitas têm sido as tentativas de se definir literatura


Muitas têm sido as tentativas de se definir literatura. É possível defini-la como a escrita
“imaginativa”, no sentido de ficção – escrita esta que não é literalmente verídica. A distinção
entre “fato” e “ficção”, portanto, não parece nos ser muito útil, e uma das razões para isto é a de
que a própria distinção é muitas vezes questionável. Verdade “histórica” e verdade “artística” =
as sagas, por exemplo. No inglês em fins do séc. XVI e princípios do séc. XVII, a palavra
“novel” foi usada tanto para os acontecimentos reais quanto para os fictícios – os romances e as
notícias não eram claramente fatuais, nem claramente fictícios. Se a “literatura” inclui muito da
escrita “fatual”, também exclui uma boa margem de ficção.

As histórias em quadrinhos do Super-Homem são ficção, mas isso não faz com que sejam
geralmente considerados como literatura, e muito menos como Literatura. O fato de a literatura
ser a escrita “criativa” ou “imaginativa” implicaria serem a história, a filosofia e as ciências
naturais não criativas e destituídas de imaginação? Talvez seja necessária uma abordagem
diferente. Talvez a literatura seja definível não pelo fato de ser ficcional ou “imaginativa”, mas
porque emprega a linguagem de forma peculiar. Segundo essa teoria, a literatura é a escrita que,
nas palavras do crítico russo Roman Jakobson, representa uma “violência organizada contra a
fala comum”. Esta foi a definição de “literário” apresentada pelos formalistas russos: Vítor
Sklovski; Roman Jakobson; Osip Brik; Yury Tynianov; Boris Eichenbaum e Boris Tomashevski.
As ideias dos formalistas russos

Rejeitaram as doutrinas simbolistas quase místicas que haviam influenciado a crítica literária até
então e, imbuídos de um espírito prático e científico, transferiram a atenção para a realidade
material do texto literário em si. A literatura não era uma pseudo-religião, ou psicologia, ou
sociologia, mas uma organização particular da linguagem. A literatura não era um veículo de
ideias, nem uma reflexão sobre a realidade social, nem a encarnação de uma verdade
transcendental: era um fato material, cujo funcionamento podia ser analisado.

Os formalistas passaram ao largo da análise do “conteúdo” literário e dedicaram-se ao estudo da


forma literária – o conteúdo era apenas a “motivação” da forma, uma ocasião ou pretexto para um
tipo específico de exercício formal.Começaram por considerar a obra literária como uma reunião
mais ou menos arbitrária de “artifícios”, só mais tarde passaram a ver esses “artifícios” como
elementos relacionados entre si.Os “artifícios” incluíam som, imagens, ritmo, sintaxe, métrica,
rima, técnicas narrativas; incluíam todo o estoque de elementos literários formais.O que todos
esses elementos tinham em comum era o seu efeito de “estranhamento” ou de
“desfamiliarização”.

O discurso literário torna estranha, aliena a fala comum; ao fazê-lo, paradoxalmente nos leva a
vivenciar a experiência de maneira mais íntima, mais intensa. Os formalistas consideravam a
linguagem literária como um conjunto de desvios da norma, uma espécie de violência linguística:
a literatura é uma forma “especial” de linguagem, diferente da linguagem “comum”. Mas para se
identificar um desvio é necessário que se possa identificar a norma da qual ele se afasta. A
“estranheza” de um texto não é garantia deque ele sempre foi, em toda parte, “estranho”: era-o
apenas em contraposição a um certo pano de fundo linguístico normativo.

Eles não queriam definir a “literatura”, mas a “literaturidade” – os usos especiais da linguagem.
Os formalistas achavam que a essência do literário era o “tornar estranho”. O contexto pode
mostrar que um determinado texto é literário, mas nem sempre a linguagem em si tem
propriedade ou qualidade que a distinga de outros tipos de discurso. Poderíamos dizer que a
literatura é um discurso “não pragmático”; ela não tem nenhuma práticaimediata. A literatura
seria, então, uma espécie de linguagem autorreferencial, uma linguagem que fala de si mesma.

A definição de literatura fica dependendo da maneira pela qual alguém resolve ler, e não da
natureza daquilo que é lido. Alguns textos nascem literários, outros atingem a condição de
literários, e a outros tal condição é imposta. O que importa pode não ser a origem do texto, mas o
modo pelo qual as pessoas o consideram. Os julgamentos de valor parecem ter muita relação com
o que se considera literatura, e o que não se considera – não necessariamente o estilo tem de ser
“belo” para ser literário, mas sim de que tem de ser do tipo considerado belo. A expressão “bela
escrita”, ou belles lettres, é ambígua, pois denota uma espécie de escrita em geral muito
respeitada, embora não no leve necessariamente à opinião de que um determinado exemplo dela é
“belo”.

Alguns tipos de ficção são literatura, outros não; parte da literatura é ficcional, e parte não é; a
literatura pode se preocupar consigo mesma no que tange ao aspecto verbal, mas muita retórica
elaborada não é literatura. “Valor” é um termo transitivo: significa tudo aquilo que é considerado
como valioso por certas pessoas em situações específicas, de acordo com critérios específicos e à
luz de determinados objetivos. A estrutura de valores, em grande parte oculta, que informa e
enfatiza nossas afirmações fatuais, é parte do que entendemos por “ideologia”.

Se não é possível ver a literatura com uma categoria “objetiva”, descritiva, também não é
possível dizer que a literatura é apenas aquilo que, caprichosamente, queremos chamar de
literatura. O que descobrimos até agora:não apenas que a literatura não existe da mesma maneira
que os insetos, e que os juízos de valor que a constituem são historicamente variáveis;mas que
esses juízos têm uma estreita relação com as ideologias sociais;eles se referem não apenas ao
gosto particular mas aos pressupostos pelos quais certos grupos sociais exercem e mantêm o
poder sobre outros.
3.0. CONCLUSÃO

Ao finalizar este Trabalho, conclui-se que a história da evolução semântica da palavra


imediatamente nos revela a dificuldade de estabelecer um conceito incontroverso de literatura.
Como é óbvio, dos múltiplos sentidos mencionados nos interessa apenas o de literatura como
actividade estética, e, consequentemente, como os produtos, as obras daí resultantes. Não
cedamos, porém, à ilusão de tentar definir por meio de uma breve fórmula a natureza e o âmbito
da literatura, pois tais fórmulas, muitas vezes inexactas, são sempre insuficientes.
4.0. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

COVANE, Lourenço, Manual do Curso de Licenciatura em Ensino da Língua Portuguesa:


Introdução aos Estudos Literários, Universidade Católica de Moçambique UCM – Centro de
Ensino à Distância (CED)

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