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SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO

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01ª Vara Federal de Itaboraí JFRJ

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Fls 294
Processo AÇÃO CIVIL PÚBLICA - nº 0147539-55.2015.4.02.5107 (2015.51.07.147539-5)
Autor: MINISTERIO PUBLICO FEDERAL.
Réu: MUNICIPIO DE RIO BONITO-RJ.

Decisão

Trata-se de ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal em face do Município de
Rio Bonito, objetivando a correta implantação do sítio eletrônico daquele Município no Portal de
Transparência, em cumprimento à Lei nº 12.527/2011 e à Lei Complementar nº 131/2009.
Aduz a parte autora, em síntese, que, com o objetivo de cumprir as determinações da Lei de
Acesso à Informação e da Lei de Transparência, realizou a avaliação dos portais e ferramentas de
comunicação usadas pelas prefeituras e governos estaduais, através de checklist feito com base em
quesitos legais, tendo detectado o descumprimento às mencionadas leis pelo Município réu.
Informa o MPF que encaminhou à Prefeita do Município de Rio Bonito duas recomendações (em
janeiro/2014 e maio/2015), na tentativa de solucionar a demanda extrajudicialmente, tendo algumas das
irregularidades, no entanto, persistido, razão pela qual propôs a presente ação civil pública.
Quanto ao pedido de antecipação dos efeitos da tutela, cumpre esclarecer que seu deferimento,
quando se objetiva o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, exige a presença dos requisitos
descritos no art. 461, § 3º, do CPC, aplicável subsidiariamente à ação civil pública por força do art. 19 da
Lei 7347/85, quais sejam, a relevância do fundamento da demanda e o justificado receio de ineficácia do
provimento final.
A fim de demonstrar a presença do primeiro requisito, juntou o MPF, às fls. 13/289, cópia do
Inquérito Civil nº 1.30.020.000016/2014-01, do qual consta, a primeira recomendação encaminhada ao
Município de Rio Bonito, em janeiro de 2014 (fls. 23/26).
Em resposta, foram apresentados pelo Município réu, ainda nos autos do IC, os documentos de
fls. 29/251, os quais revelam a existência de decreto em tramitação, para regulamentar a lei de acesso à
informação naquele município (minuta às fls. 226/240), sendo certo que a última movimentação interna
data de maio de 2014 (fl. 250). Outrossim, a resposta do Município informa haver processo aberto para
contratação de um novo sistema, que contempla também os serviços para o portal de transparência, sendo
certo que o documento de fl. 192 noticia o encaminhamento à licitação em maio de 2014.
Em novembro de 2014, encaminhou o MPF ofício à Prefeita do Município de Rio Bonito,
solicitando informações atualizadas sobre o cumprimento da recomendação nº 05/2014, conforme

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demonstra o documento de fl. 255, tendo referido ofício sido reiterado às fls. 257 (dezembro/2014), fl.
260 (abril de 2015) e fl. 261 (maio/2015), no entanto, sem resposta.
Às fls. 262/270, nova recomendação expedida ao Município réu, em 26 de maio de 2015,
igualmente sem resposta. JFRJ
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Os documentos de fls. 271/273 revelam a avaliação, realizada pelo Parquet federal, acerca da
transparência do portal eletrônico do Município.
Em julho de 2015, foi expedido novo ofício pelo MPF, repetindo a tentativa de obter informações
atualizadas sobre o cumprimento da Recomendação anteriormente encaminhada à Prefeita municipal (fl.
276).
Em resposta, informou o Município que, para acatamento das recomendações, foram inclusos ao
processo administrativo os itens necessários para adequar o portal da transparência às exigências legais,
informando, ainda, que seria necessário aproximadamente um período de oito meses para que o portal
ficasse totalmente operante (ofício à fl. 277, de 10 de julho de 2015).
Solicitado pelo MPF cronograma atualizado dos atos a serem adotados no prazo indicado,
ofereceu o Município a resposta de fl. 281, com imagens do portal eletrônico acostadas às fls. 282/284.
Nova avaliação do portal da transparência realizada pelo MPF em setembro de 2015, conforme se
observa do teor de fls. 287/289, com resposta negativa aos quesitos “5”, “7”, “9”, “15” e “16”, relativos à
transparência no que tange aos editais de licitação dos últimos seis meses, à prestação de contas do ano
anterior e aos relatórios fiscais e orçamentários dos últimos 6 meses, ao relatório estatístico contendo a
quantidade de pedidos de informação recebidos, atendidos e indeferidos e sobre os solicitantes, além de
negativa quanto à transparência das informações sobre a existência de SIC físico, divulgação de
remuneração individualizada por nome do agente público e de diária e passagens por nome de favorecido,
com data, destino, cargo e motivo da viagem.
Não obstante, ressalvou a avaliação supramencionada que, em que pese não serem
disponibilizados no portal os editais de licitação, resultados dos certames e contratos, há a divulgação dos
avisos de licitação. Outrossim, no tocante ao item “9”, menciona a existência no sítio eletrônico da
informação com telefone e endereço da “Ouvidoria saúde” (fl. 289, in fine).
Pois bem.
A Lei Complementar 131/2009 – Lei da Transparência – alterou e acrescentou dispositivos à Lei
de Responsabilidade Fiscal, incluindo mecanismos que visam a ampliar a transparência na gestão dos
recursos públicos, sendo certo que a Lei de Acesso à Informação (Lei 12537/2011) veio aliar-se a tal
escopo, determinando que os órgãos públicos assegurem uma gestão transparente da informação e
ofereçam informações relacionadas às suas atividades, de forma clara e por meio de fácil acesso,
mantendo Serviços de Informação ao Cidadão.
No caso sob análise, a plausibilidade jurídica está materializada na documentação acostada com a
inicial (fls. 13/289), conforme acima delineado, uma vez que o contexto factual é indicativo suficiente de

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que o ente federativo demandado nesta ação civil pública tem se mostrado resistente em dar cumprimento
às normas de transparência no uso de recursos públicos à população.
Verifica-se que a última informação prestada pelo Município réu ao MPF ocorreu no início de
julho de 2015, estimando o prazo de oito meses para cumprimento integral das recomendações JFRJ
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ministeriais, sendo certo que, oportunizada no presente feito a manifestação do Município de Rio Bonito
acerca das alegações iniciais, este permaneceu inerte (fl. 293).
Nesse contexto, as provas até então coligidas aos autos apontam que o Município ainda não
cumpriu com os parâmetros traçados pela Recomendação do Ministério Público Federal, nos moldes da
Lei de Transparência e Lei de Acesso à Informação, em que pese transcorrido prazo bastante razoável
para tanto, considerando-se que a primeira recomendação expedida pelo Parquet remonta há mais de dois
anos, sublinhando-se, além disso, que as leis que regem a matéria foram editadas em 2009 e 2011.
Quanto à presença do periculum in mora, vale registrar o entendimento consolidado do E.
Superior Tribunal de Justiça no sentido de que, em ações por ato de improbidade, o deferimento da
medida cautelar de indisponibilidade de bens prescinde de sua demonstração concreta, pois esse é
implícito e milita em favor da sociedade (REsp 1.366.721/BA, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho,
Rel. p/ Acórdão Ministro Og Fernandes, Primeira Seção, julgado em 26/02/2014, DJe 19./09/2014;
recurso julgado pela sistemática dos recursos repetitivos).
In casu, a conduta do demandado em descumprir a legislação federal em questão, de forma
adequada, ofende princípios constitucionais basilares, além de atentar contra a transparência dos gastos
envolvendo recursos públicos.
Nessa esteira, entende este Juízo pela aplicação, no caso em análise, da orientação traçada pelo
STJ, no sentido de que o periculum in mora é aqui presumido e em prol da sociedade, inclusive porque,
conforme sustentado na exordial, a inércia do gestor público impede a fiscalização pelo cidadão e pela
própria União do uso dos recursos financeiros federais pelo Município réu.
Ante o exposto, presentes os requisitos legais e tendo em vista que todas as providências
requeridas na inicial encontram-se previstas na legislação, DEFIRO A ANTECIPAÇÃO DA TUTELA,
para determinar que o Município de Rio Bonito, no prazo de 60 (sessenta) dias e sob pena de multa diária
de R$ 200,00 (duzentos reais), incidente após escoado este prazo, regularize as pendências encontradas
em seu sítio eletrônico, no que tange aos links que não estão disponíveis para consulta (sem registro ou
arquivos corrompidos), e promova a correta implantação do Portal da Transparência, previsto na Lei
Complementar nº 131/2009 e na Lei nº 12.527/2011, assegurando que nele estejam inseridos, e
atualizados em tempo real, os dados previstos nos mencionados diplomas legais e no Decreto 7185/2010
(art. 7º), inclusive com o atendimento dos seguintes pontos:

a) disponibilização de informações concernentes a procedimentos licitatórios, inclusive a íntegra


dos respectivos editais e resultados, bem como todos os contratos celebrados (art. 8º § 1º, inciso
IV, da Lei 12.527/2011);

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b) apresentação das prestações de contas (relatório de gestão) do ano anterior, do Relatório
Resumido da Execução Orçamentária (RRO) dos últimos 6 meses, do Relatório de Gestão Fiscal
(RGF) dos últimos 6 meses e do Relatório Estatístico contendo a quantidade de pedidos de
informação recebidos, atendidos e indeferidos, bem como informações genéricas sobre os JFRJ
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solicitante (art. 48, caput, da LC 101/2000 e art. 30, III, da Lei 12527/2011).
c) indicação no site a respeito do Serviço de Informação ao Cidadão, que deve conter indicação
precisa no site de funcionamento de um SIC físico, além da indicação do órgão, endereço,
telefone e horários de funcionamento (art. 8º, § 1º, inc. I, c/c art. 9º, inc. I, ambos da Lei
12527/2011).

Intime-se a parte autora da presente decisão e cite-se o réu, para cumprimento das determinações
supra e apresentação de defesa, no prazo legal.

Niterói, 04 de março de 2016.

( assinado eletronicamente – alínea ‘a’, inciso III, § 2º, art. 1º da Lei 11.419/2006 )

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Juiz(a) Federal Titular

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