Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PEDAGÓGICO
Resumo
Introdução
1
Licenciado em Educação Física pela Instituto Educacional Luterano Bom Jesus/IELUSC. Mestrando em
Educação.E-mail:rsch13@pop.com.br
2
Doutora em Educação: Psicologia da Educação pela PUCSP. Professora da Universidade da Região de
Joinville. E-mail: aliciene_cordeiro@hotmail.com
17050
Não é de hoje que a escola discute a inclusão e a diversidade dentro de seu ambiente.
As mudanças e transformações advindas de conferências e declarações, como a Declaração
dos Direitos Humanos (1948), a Declaração de Jontien (1990) e a Declaração de Salamanca
(1994), expuseram as escolas à novas trajetórias, que suscitaram a necessidade de rever
práticas e modelos até então indiscutíveis.O espaço escolar, antes composto por grupos
semelhantes, cujas práticas pedagógicas direcionavam-se para um público alvo homogêneo,
recebe desde então, obrigatoriamente, grupos heterogêneos, representando a diversidade
presente na sociedade. O ingresso deste novo grupo amplia a discussão sobre as diferenças
individuais, os processos de escolarização e seu papel na aprendizagem e desenvolvimento do
estudante.
Diante disso, à escola, afeita ao modelo tradicional, repetitivo e segregador, marcado
pela dialética inclusão/exclusão, com alunos adaptados ao processo de escolarização e outros
abortados do mesmo, coube criar mecanismos para ensinar aqueles que somente figuravam
entre os estudantes. Um destes mecanismos são as salas de apoio pedagógico – SAP, que tem
como objetivo “oferecer atendimento especializado aos alunos que apresentam dificuldades
de aprendizagem” (MEC, 1994, p.5).
Considerando que a aprendizagem “trata-se essencialmente de um processo de
mudança, de reorganização e enriquecimento do próprio aluno, implicando sua participação
ativa e, ao mesmo tempo, a intencionalidade educativa daquele que ensina”. (LIBÂNEO,
2012, p.42). Cria-se em cada escola uma expectativa em relação ao trabalho pedagógico do
professor da sala de apoio, pois cabe a ele proporcionar a relação entre o estudante e o objeto
de conhecimento, salientando que tal relação foi frustrada na sala de aula comum.
Tal como destaca Libâneo (2012) ao educar pessoas, cabe ao professor efetivar
práticas pedagógicas que favoreçam a apropriação de conteúdos e formas de lidar com o
mundo social e dos objetos, sem desconsiderar contudo que nesta prática irão se constituir
sujeitos e identidades. Assim, cabe questionar em que se constituem as práticas pedagógicas
dos professores da sala de apoio pedagógico. Não só enfocando o “como se faz”, mas também
e principalmente o “porque se faz”, pois é compreendendo a intencionalidade das ações
docentes que será possível discutir as finalidades políticas e sociais subjacentes ao ato de
ensinar.
Este trabalho é um recorte da pesquisa de mestrado, em andamento, intitulada
“Práticas Pedagógicas dos Professores da Sala de Apoio Pedagógico” e tem por objetivo geral
17051
Referencial Teórico
a escola como um lugar instituído historicamente, que tem a função social de criar
condições, por meio da educação, para que as crianças se humanizem, apropriando-
se do que o homem produziu historicamente no campo do conhecimento e se
desenvolvam em seus múltiplos aspectos.
17052
Além desta função, outra prática conhecida, porém não oficialmente destacada, é a de
doutrinar os corpos, discipliná-los e preparar para a vida de trabalho. Destacam Rockwell e
Mercado (1999, p.22) “la escuela también es el contexto natural del proceso de toma de
consciencia laboral y social por parte de los alumnos3” e prosseguem
3
A escola também é o contexto natural do processo de tomada de consciência social e de trabalho por parte dos
alunos. Tradução livre.
4
Por isso, alguns aspectos da formação implícita na escola são análogos as características do trabalho industrial;
a formalização, a importância de cumprir as tarefas, a desarticulação entre uma e outra tarefa e a necessidade de
trabalhar sem compreender o sentido global do conhecimento transmitido se assemelhar a aspectos do processo
de trabalho da produção capitalista do país. Tradução livre.
17053
Percurso Metodológico
Esta é uma pesquisa etnográfica, e acreditamos, como Gatti e André (2010, p.32), que
“os acontecimentos de sala de aula só podem ser entendidos no contexto em que ocorrem e
são permeados por uma multiplicidade de significados”. Realizada por meio de observação
participante, que conforme descreve André (1995, p.28) “a observação é chamada de
participante porque parte do princípio de que o pesquisador tem sempre um grau de interação
com a situação estudada, afetando-a e sendo por ela afetado”, e acreditando, conforme
Riemann (2010, p.17) que “o trabalho etnográfico pode promover uma reflexão sobre a
própria prática pedagógica”.
A observação participante foi realizada em 2 escolas da Rede Municipal de Ensino de
Joinville, em um período de 3 meses em cada uma delas, com acompanhamento de uma turma
de alfabetização das duas escolas. As escolas foram selecionadas a partir do trabalho sobre as
salas de apoio pedagógico da mestre em educação Solange Rosskamp, intitulado “Sala de
Apoio Pedagógico: o coração da escola”. Algumas das professoras entrevistadas para este
trabalho colocaram-se a disposição para continuar os estudos, e por esta razão foram
selecionadas.
17055
Conhecer o ambiente de uma sala de apoio pedagógico nos leva a uma primeira
surpresa: neste espaço, não há a tradicional disposição das carteiras. Na escola A, existem
duas fileiras com cinco cadeiras, de frente uma para a outra. Na escola B, são duas mesas
redondas, com cinco lugares em cada uma delas. Nesta disposição de carteiras, os alunos
estão sempre próximos, acompanhando o que seu colega do lado e da frente está fazendo.
Notou-se em algumas situações, propostas pelas professoras, que os alunos utilizam desta
formação para em conjunto com seu colega, aprenderem. Com esta prática pedagógica, o
professor beneficia-se da mediação entre as crianças para a aprendizagem, pois conforme
Rego (2009, p.42) baseada em Vygotsky, a “mediação são os instrumentos técnicos e os
sistemas de signos, construídos historicamente, que fazem a mediação dos seres humanos
entre si e deles com o mundo”.
Esse trabalho, neste espaço, é possível de ser desenvolvido, pois de alguma forma ali
se rompe com os padrões do chamado ensino tradicional. Conforme citam Behrens (2011),
Zabala (1998) e Rockwell e Mercado (1999), o modelo tradicional de escola está assentado
numa transmissão de conteúdos que necessita ser ministrada aos alunos, uma espécie de
“carga” que leva os professores das salas regulares a concentrar-se no conteúdo, e não na
aprendizagem individual de seus alunos. Este fato leva o professor a criar um “padrão” de
aluno, um aluno “médio”, que possa ser atendido por sua demanda de conteúdos. Com isto, os
alunos que estão abaixo deste “médio” não são inseridos no processo de escolarização.
17056
Na sala de apoio pedagógico, entretanto, nota-se que não há esta demanda por
conteúdos curriculares, de forma que as professoras podem concentrar-se nos desafios
apresentados por cada aluno. Percebemos este elemento em várias situações, em especial nas
falas da professora da escola A: “- Calma, tô chegando. Calma, calma, calma. Lembra que
aqui é tudo bem devagar, bemmmm devagar” (ênfase no bem). Em outra situação: “- Agora,
no caderno, vamos escrever Joinville. Vamos fazer bem devagar. JO-IN-VI- LLE. Não tenho
pressa”. Com este processo, podemos perceber a ênfase no tempo, mas um tempo que mostra
ser diferenciado, que respeita o processo individual que cada aluno apresenta, sem que seja
necessário, para isso, uma prática formatada para cada aluno. Como afirma André (1999,
p.12) “procura-se substituir o ensino individualizado, em que cada aluno desenvolve
isoladamente suas tarefas, por uma diferenciação no interior de situações didáticas abertas e
variadas, confrontando cada aluno com aquilo que é obstáculo para ele na construção de
saberes”.
Uma das funções da escola hoje é trabalhar com o sujeito de forma integral,
contemplando fatores cognitivos, afetivos, emocionais e motores. Libâneo (2012, p.43) cita o
desenvolvimento cognitivo, afetivo e moral dos indivíduos e afirma que “uma atividade
pedagógica somente é pedagógica se ela mobiliza as ações mentais dos sujeitos, visando a
ampliação de suas capacidades cognitivas e à formação de sua personalidade global”. O
modelo tradicional de escola tem favorecido, todavia, que o sujeito seja visto somente pelo
seu aspecto cognitivo, ignorando sua totalidade, enquanto ser complexo e multideterminado.
O trabalho docente, na sala regular, geralmente é marcado pela tensão da necessidade
que do aprendizado do aluno. Cabe ao professor verificar o “nível” em que o sujeito se
encontra, o estágio por ele alcançado, de forma a afirmar se o sujeito está ou não apto a
avançar no conteúdo ou, nos casos extremos, de série/ano. Este motivo tem levado o docente
a focar sua atenção no erro, porém de uma forma negativa. O erro não é visto como parte do
processo de aprender, condição na qual o sujeito se encontra e a partir da qual pode se
transformar.
No caso da sala de apoio pedagógico da escola A, notou-se uma prática pedagógica
inversa a esta lógica da sala regular. Nela, a professora utiliza o erro como estímulo ao aluno,
fazendo-o perceber onde errou para posteriormente alcançar o aprendizado e desenvolvimento
neste quesito. Esta forma de ver o erro permite trabalhar com o conceito de Zona de
Desenvolvimento Proximal, que como explica Vygotsky (2007, p.97) “é a distancia entre o
17057
Considerações Finais
observação, de fato que pesquisas realizadas em outros tempo e espaço podem apresentar
resultados diferentes dos apresentados nesta pesquisa.
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Eliana Borges Correa de; MORAIS, Artur Gomes de. As Práticas
Cotidianas de Alfabetização: O que Fazem as Professoras? Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S14134782008000200005&lang=pt
> Acesso em; 26 de fev. de 2013.
ANDRÉ, Marli E.D.A. (Org). Pedagogia das Diferenças na Sala de Aula. Campinas:
Papirus, 1999.
FRANCO, Maria Amélia do Rosário Santoro. Pedagogia e Prática Docente. São Paulo:
Cortez, 2012.
LIBÂNEO, José Carlos. Ensinar e Aprender, aprender e ensinar: o lugar da teoria e da prática
em didática. In: LIBÂNEO, José Carlos e ALVES, Nilda (Orgs.) Temas de Pedagogia:
diálogos entre didática e currículo. São Paulo: Cortez, 2012.
MARCON, Daniel; GRAÇA, Amandio Braga dos Santos; NASCIMENTO, Juarez Vieira.
Critérios Para a Implementação de Práticas Pedagógicas na Formação Inicial em
Educação Física e Implicações no Conhecimento Pedagógico do Conteúdo dos Futuros
Professores. Sítio Eletrônico Scielo. Disponível em <
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1807-
55092011000300013&lang=pt> Acesso em 9 de março de 2013.
MARTINS, José de Souza. Exclusão social e a nova desigualdade. São Paulo: Paulus, 2003.
ROSSKAMP, Solange. Sala de Apoio Pedagógico: o coração da escola. 125 fls. 2012.
Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade da Região de Joinville. Joinville.
SILVA, Analise de Jesus da. Jovens Estudantes Pobres: significados atribuídos às práticas
pedagógicas denominadas inovadoras por seus professores. 308 fls. 2007. Tese (Doutorado
em Educação). Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte.
SCHULZE, Mariana Datria. Todo Apoio que o Professor Recebe de Fora é Bem Vindo:
salas de apoio pedagógico e suas implicações no trabalho docente. 136 fls. 2012. Dissertação
(Mestrado em Educação). Universidade da Região de Joinville. Joinville.
VASQUEZ, Adolfo Sanchez. Filosofia da Práxis. 2ª edição. São Paulo: Expressão Popular,
2011.
ZABALA, Antoni. A Prática Educativa – como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.