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Teologia

Sistemática I

Marlon Silva Marques


Edilson Silva Castro
Humberto Duarte de Medeiros
Teologia
Sistemática I

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Marlon Silva Marques
Edilson Silva Castro
Humberto Duarte de Medeiros

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3

INTRODUÇÃO
Veremos nas páginas seguintes o conteúdo de bibliologia e teontologia
(conhecimento do Deus). A bibliologia procura averiguar as nuances acerca da
composição da Bíblia Sagrada e do seu conteúdo, além da questão da
inspiração dos autores sagrados. A teontologia procura analisar os atributos de
Deus bem como a composição da Trindade, conforme foram revelados nas
Escrituras Sagradas.
É recomendável que o leitor e a leitora analisem o que será lido com as
Escrituras Sagradas nas mãos para conferirem e absorverem os
embasamentos argumentativos que são apresentados nos próximos capítulos.
Assim, será mais proveitoso o estudo.
4

1. AS ESCRITURAS COMO REVELAÇÃO DIVINA


Deus se revelou e provou sua existência por meio de muitas provas.
Algumas delas, as mais pertinentes, são a razão, experiência e a igreja.
Contudo, nosso interesse é pelo meio mais garantido de entendermos o
propósito de Deus na criação, redenção e glorificação, que é por meio das
Escrituras Sagradas.
Com exceção, de Teodoro de Mopsuestia, pelo que sabemos, é difícil de
encontrar alguém nos oito primeiros séculos que tenha negado a inspiração da
Bíblia Sagrada. Apenas pessoas com entendimento heterodoxo poderiam
negar que a Bíblia é inspirada. A igreja tem mantido essa posição até os
dias de hoje, com exceção do liberalismo teológico e teólogos com
pensamentos parecidos.
O que torna a teologia possível é a revelação de Deus e a capacitação
divina dada aos seres humanos para que estes possam, de fato, entender o
que foi revelado. O que analisaremos é a questão da revelação escrita por
meio da atuação divina inspirando e capacitando seres humanos para que
estes pudessem relatar os oráculos divinos. As Escrituras Sagradas são a fonte
suprema de todo pensamento teológico. Vejamos alguns argumentos que
validam a revelação bíblica.1

1.1. Argumento a priori


É um argumento que acontece de algo anterior para um posterior. O ser
humano encontra-se em uma posição desesperadora, pois ele não é apenas
alguém debaixo de uma punição de morte eterna, mas também inclina-se
constantemente para longe de tudo o que se refere a Deus, sem instrução
daquilo que é condizente com os propósitos de Deus. Ele precisa de uma
orientação a respeito dos caminhos de vida eterna.
Podemos perceber os atributos e características divinas particulares que
concretizam a satisfação da necessidade humana do seu problema eterno.
Como Deus é onisciente, santo, amoroso, bom e onipotente, podemos
descansar na sua iniciativa em nos prover do que necessitamos. Em Sua
onisciência, Ele sabe de tudo que carecemos; em Sua santidade, Ele não pode

1
THIESSEN, 2006, p. 46-53.
5

ter um relacionamento profundo com o ser humano enquanto este não


se arrepender dos seus pecados; em seu amor e bondade, Ele decidiu
salvar a humanidade; e em sua onipotência, Ele pode não somente revelar a
Si próprio, como também proporcionar a revelação de Seus propósitos por
escritos no tocante à obtenção da salvação.
O argumento a priori nos leva ao entendimento de que pelo fato de
sabermos que o Senhor é um Deus amoroso e que sempre exala amor, temos
que ter sempre isso na nossa mente gerando certeza de que Ele ama os
pecadores. O amor não é uma necessidade para Deus. Do contrário, não seria
amor, mas sim algo autômato. O que precisa ser enfatizado é que Deus pode
satisfazer a necessidade urgente e crucial do ser humano a respeito do seu
futuro existencial.

1.2. Argumento da analogia


Sabemos que qualquer analogia entre algo e as Escrituras Sagradas é
imperfeita.2 Contudo, para fins didáticos, é necessário abordarmos. O
argumento da analogia é resultante da ligação entre as proporções ou relações
entre objetos verificados. A revelação é pertinente em um contexto que há uma
comunicação entre indivíduos. Entre animais irracionais há uma interação entre
eles por meio de seus sons característicos. Da mesma forma é o ser humano,
mas não somente um som característico, mas também por meio de
diversas linguagens que há em vários povos espalhados pela Terra.
Na natureza há sinais de bondade e paciência quanto a certas
necessidades que surgiram em decorrência de acidentes ou ações violentas.
Por exemplo, quando há um machucado, em um corpo saudável, depois de um
tempo haverá a restauração no lugar machucado. Se uma árvore é cortada, ela
pode crescer novamente com um tempo. Deus organizou dessa forma a Sua
criação mostrando Sua paciência e misericórdia.
No argumento a priori, podemos ter a esperança de que nosso
Deus amoroso vem em nosso socorro para suprir a nossa carência espiritual,
enquanto que o argumento da analogia mostra que Deus, nosso Pai celestial,
providenciou a cura de muitos males tanto no mundo animal quanto no mundo

2
GEISLER, 2010, p. 224, vol. 1.
6

vegetal e que Ele age pacientemente e por meio de Seu amor para com a
humanidade em geral.

1.3. Argumento da indestrutibilidade da Bíblia


Este argumento é muito importante para vermos o quão a Bíblia é digna
de toda credibilidade. O conhecido filósofo francês Voltaire afirmou no começo
do século XVIII que dentro de cem anos o cristianismo desapareceria. Contudo,
apenas 50 anos após a sua morte, a Sociedade Bíblica de Genebra estava
usando o prelo que ele imprimia seus livros para imprimir vários exemplares
das Sagradas Escrituras.3 A Bíblia tem tido um amplo crescimento de cópias.
A Bíblia tem sobrevivido aos mais duros ataques. É, de fato, algo
miraculoso. A autoridade da Bíblia tem sido constantemente desafiada.
Decretos imperiais ordenaram que cópias da Bíblia fossem queimadas.
Quando não conseguiam destruir as cópias, ordens foram dadas para que
quem fosse encontrado com tais cópias das Escrituras fosse imediatamente
condenado à morte. O fato da Bíblia ter passado imune a todos esses ataques
maravilha-nos.
Nem decretos imperiais nem quaisquer outros meios que foram
utilizados por inimigos das Escrituras conseguiram exterminá-la. Quanto mais
perseguição houve para com a Bíblia Sagrada, mais milhares e até milhões de
cópias foram impressas. O mais recente ataque à Bíblia dá-se por meio da
propagação de que ela é um livro como qualquer outro. A questão da
indestrutibilidade das Escrituras faz com que ela tenha respaldo por ter
sido preservada até os dias de hoje.

1.4. Argumento da natureza da Bíblia


A Bíblia magnifica a santidade e o amor de Deus.4 Ela reconhece a
unidade por meio da Trindade Santa. Nela são revelados a indesculpabilidade
e o justo castigo divino direcionado à humanidade. Contudo, também nela é
visto a salvação providenciada e aplicada na vida de todos aqueles que creem
em Cristo Jesus. As Escrituras também relatam sobre a segunda vinda de
Cristo à terra e dá-nos direção acerca do juízo final. O nosso Deus não

3
HIGGINS In HORTON, 1996, p. 93.
4
THIESSEN, 2006, p. 49.
7

somente planejou tudo isto (mesmo alternativas em decorrência da Queda do


ser humano) e registrou tudo neste livro maravilhoso.
A Bíblia é um livro que apresenta uma unidade bem percebida.
Com quarenta autores diferente passando por cerca de mil e seiscentos
anos, a Bíblia é tida como um único livro. As diversas histórias e doutrinas
contidas neste livro não são contraditórios.
Ao constatarmos o conteúdo e a unidade da Bíblia temos a
percepção clara que ela foi escrita por meio da inspiração divina. Não tem
como nenhum ser humano ou mesmo vários seres humanos terem tido
a ideia de ter inventado todos os registros bíblicos de forma harmoniosa.
Suponhamos que quarenta escritores isolados uns dos outros escrevessem
uma obra cada, Será que iria ter a mesma semelhança que os textos bíblicos
tem? mesmo com cerca de mil e seiscentos anos de diferença?5 A
unidade da Bíblia revela a inspiração do Espírito Santo para a glória
da Santíssima Trindade.

1.5. O argumento da influência bíblica


A influência das Sagradas Escrituras pode ser vista na arte, arquitetura,
música, literatura e demais áreas. Rafael, Michelangelo, Leonardo da Vinci,
Rembrandt e outros pintores utilizaram-se de inspiração de temas bíblicos para
produzirem suas obras. As catedrais e diversas igrejas na Europa e em outros
locais pelo mundo são adornadas e alicerçadas pela criatividade e
engenhosidade de artistas. Poetas europeus e americanos utilizam-se da Bíblia
para comporem. Grandes composições musicais como as de Bach e outros
foram criadas por causa da inspiração de textos bíblicos. A libertação dos
escravos teve impulso nos escritos e ações de homens como John Wesley,
William Wilberforce, John Newton etc. Os direitos das mulheres também
foram conquistados devido ao forte apelo de cristãos baseando-se nas
palavras das Sagradas Escrituras. Reformas sociais em todo o mundo
aconteceram por causa de cristãos engajados e envolvidos com a justiça social
e na luta por uma sociedade melhor. Podemos ver que a bíbia tem gerado

5
GILBERTO, 1986, p. 38.
8

influência muito grande sobre a humanidade. É a revelação de Deus para a


humanidade.

1.6. Argumento da profecia cumprida


Havia muitas profecias a respeito da vinda de nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo, nenhuma delas menos de cento e sessenta e
cinco anos antes da primeira vinda dEle. Todas elas foram cumpridas. Deus
revela o futuro e nos fala por meio das profecias. Ele usou desse artifício
para anunciar a vinda de Cristo.
Como não há o porquê de acusar os escritores das Escrituras de
fraudulência descarada, podemos perceber nelas que as muitas profecias não
somente a respeito de Cristo, mas também outras mais profecias foram
cumpridas.
Acerca da dispersão de Israel podemos ver seu cumprimento detalhado
(Dt 28; Jr 15.4; 16.13; Os 3.4); por meio de tal cumprimento, Samaria seria
conquistada, mas haveria uma preservação a Judá (Is 7.6-8; Os 1.6-7; 1 Re
14.15); Tanto Judá quanto Jerusalém seriam livradas dos assírios, mas não
dos babilônicos (Is 39.6; Jr 25.9-12); seria final a destruição de Samaria (Mq
1.6-9); O restaurador de Judá teve seu nome predito (Is 44.28; 45.1); os medos
e os persas conquistariam a Babilônia (Is 21.2; Dt 5.28) Tanto o templo quanto
Jerusalém seriam reconstruídos (Is 44.28).
Para um apanhado de outros assuntos que as Sagradas Escrituras
predizem vejamos: o progresso do conhecimento nos últimos dias (Dn 12.4); a
proliferação de guerras e seus rumores constantes (Mt 24;6-7); o aumento
drástico da maldade (Lc 17.26-37; 2 Tm 3.1-13), dentre tantas outras
profecias.6 Não há como um ser humano ou vários seres humanos terem tido
uma percepção do que ocorreria precisamente no futuro. Isto somente pode ser
algo divino. A Bíblia reivindica um ato de revelação plena por meio de Espírito
Santo.

1.7. As reivindicações da própria Bíblia

6
THIESSEN, 2006, p. 52.
9

Pode-se pensar que o testemunho próprio seja desconsiderado como


tendo algum peso para sua própria alegação. Contudo, este é o primeiro passo
para que possamos crer em algo ou em alguém. É fato que se uma pessoa não
acredita na sua própria inocência diante de um crime, por exemplo, quaisquer
outras defesas que lhe são dirigidas não terão uma defesa satisfatória para tal
pessoa. Com relação às Sagradas Escrituras, se testificamos que elas
apresentam verdades de tudo o que relatam concernente a muitos assuntos e
pudermos expor a autenticidades dos muitos livros e textos bíblicos, podemos
concluir que seremos justificados em reter o testemunho que as próprias
Escrituras Sagradas têm de si mesmas.
Em várias ocasiões vemos no Antigo Testamento sobre Deus revelando-
se e orientando a escrita de textos. No Pentateuco, vemos várias vezes Deus
dizendo informações a Moisés. Este recebeu ordens para escrever o que Deus
lhe relatou em um livro (Ex 17.14; 24.27). Podemos constatar que Moisés fez o
que Deus lhe mandou fazer (Ex 24.4; 34.28; Nm 33.2; Dt 31.9,22,24). Vemos
nos escritos proféticos também o Senhor comunicando-se diretamente a eles
(Is. 1.2; 7.3; 43.1; Jr 11.1; Ez 1.3; Os 1.1; Jl 1.1). Estima-se que mais de três
mil e oitocentas vezes ocorrem essas declarações no Antigo Testamento.7
Percebemos as reivindicações da própria Bíblia nos escritos
veterotestamentários, que afirmam, indubitavelmente, a inspiração e revelação
de Deus.
No Novo Testamento ocorre da mesma maneira sobre escritos
orientados por meio da ação divina. O apóstolo Paulo declarou que o que ele
escreveu eram mandamentos de Deus (1 Co 14.37); que os seus
destinatários deveriam aceitar como a própria palavra de Deus. (1 Ts 2.13); o
que ele ensinava era importante para a salvação dos que o ouviam e liam
(Gl 1.8); João declarou que o seu testemunho era exatamente o
testemunho dado por Deus (1 Jo 5.10); Pedro escreve sobre mandamentos da
parte dos profetas, de Jesus e dos apóstolos (2 Pe 3.2); o autor de Hebreus
menciona um severo castigo para aqueles que menosprezam a mensagem
confirmada por ele e pelos outros que ouviram a Cristo (Hb 2.1-4). O Novo

7
Ibid, p. 53.
10

Testamento também afirma a revelação divina por meio dos livros que o
compõem.
Ao analisarmos todos os argumentos apresentados neste capítulo que
testificam a revelação divina por meio do Espírito Santo, veremos que o peso
da evidência é cumulativo. Por meio de tais argumentos vemos como Deus, em
sua graciosidade, tem se revelado ao ser humano para que este possa
entender o plano de salvação conquistado por meio de Jesus Cristo, nosso
Senhor e Salvador.
11

2. AUTENTICIDADE, CREDIBILIDADE E CANONICIDADE DAS SAGRADAS


ESCRITURAS
A natureza dos escritos da Bíblia Sagrada é de fundamental interesse
para o estudante de teologia. Veremos a autenticidade, credibilidade e
canonicidade acerca dos livros que compõem a Bíblia.8

2.1. Autenticidade da Bíblia


É de fundamental importância sabermos sobre como os livros das
Sagradas Escrituras confirmam serem verdadeiros. Abordaremos tanto o
Antigo Testamento quanto o Novo Testamento.

2.1.1 Autenticidade do Antigo Testamento


É importante analisarmos a autenticidade do Antigo Testamento
separando as análises de acordo com a divisão tríplice do Antigo Testamento
em relação às Escrituras hebraicas, a saber: Lei, Profetas e Ketubim.

2.1.1.1 Autenticidade dos livros da Lei.


Os modernistas ou liberais teológicos, em quase unanimidade, negam a
autoria mosaica do Pentateuco. Há várias tradições, segundo eles,
que relataram a história do Pentateuco, como a jeovistas, eloística,
deuteronomista, sacerdotal e de santidade. Cada uma dessas tradições
compuseram os cinco primeiros livros das Sagradas Escrituras. Contudo,
veremos a autenticidade da autoria de Moisés do Pentateuco:

(a) As pessoas já sabiam ler e escrever no período de Hamurabe, sendo que


as tábuas e listas eram lidas séculos antes de Abraão na Babilônia. Há uma
grande probabilidade de Abraão ter trazido consigo tábuas cuneiformes de
registros de Harã para Canaã. Desta forma, Moisés poderia ter visto essas
tábuas,9 por meio de tais registros, por meio da tradição oral, por meio de uma
revelação direta com Deus ou os três fatores juntos, é fato que a
ortodoxia cristã sempre atestou que Moisés, mais do que comprovado,
escreveu Gênesis.

8
THIESSEN, 2006, p. 54-64.
9
ALLIS Apud THIESSEN, 2006, p. 55.
12

(b) Moisés reiteradamente é tido como o autor dos outros livros do Pentateuco.
Ele teve ordens para escrever (Ex 17.14; 34.27) e foi comprovado que ele
escreveu (Ex 24.4; 34.28; Nm 33.2; Dt31,9,23,24). Moisés escreveu como
palavras da lei (Dt 28.58), “o livro desta lei” (Dt 28.61), “este livro” (Dt 29.20,27),
“este livro da lei” (Dt 29.21; 30.10; 31.26) e “as palavras desta lei” (Dt 31.24).10

(c) Fora do Pentateuco, mas no Antigo Testamento, Moisés é tido como o autor
dos textos por treze vezes. É chamado de “o livro da lei de Moisés” (Js 8.31;
26.6; 2 Re 14.6), “a lei de Moisés” (1 Re 2.3; 2 Cr 23.18; Ed 3.2; Ne 8.14; Dn
9.11,13), e o “livro de Moisés (2 Cr 25.4; 34.12; Ed 6.18; Ne 13.1).

(d) Jesus, nosso Senhor e Salvador, testifica acerca de Moisés como sendo
o autor dos textos (Lc 16.29,31; 24.27,44; Jo 5.45,46; 7.19). Vários dos
ensinos do Pentateuco, Jesus atribuiu a Moisés (Mt 8.4; 19:7,8; Mc 7.10;
12.26; Jo 7.22,23). Ele falou dos “escritos de Moisés” (Jo 5.47). Outros
escritores do Novo Testamento apontam para Moisés como um “livro” (At
15.21; 21.21; 26.22; 2 Co 3.15) e à “lei de Moisés” (Jo 1.45; At 13.39;
28.23; 1 Co 9.9; Hb 10.28). Há uma atribuição de ensinamentos no
Pentateuco a Moisés em livros neotestamentários (At 3.22; 7.37,44; 15.1; Rm
11
9.15; 10.5,19;
12.21). Hb 7.14; 8.5; 9.19;

(e) A tradição judaica, indubitavelmente, atribui o Pentateuco a Moisés. Flávio


Josefo, em sua obra para Ápio, relatou que

“Pois não temos uma incontável multidão de livros entre nós,


discordando uns dos outros e contradizendo-se uns aos outros (como
têm os gregos), mas apenas vinte e dois livros, que contêm os
registros de todas as eras passadas, que são, como é justo,
consideradas divinas. E desses, cinco pertencem a Moisés.”12

2.1.1.2 Autenticidade dos livros dos Profetas

10
THIESSEN, 2006, p. 55.
11
Ibid, p. 55.
12
JOSEFO Apud THIESSEN
13

Costumeiramente, os hebreus separam os profetas mais antigos dos


mais recentes. Os antigos são Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis. Já os
mais recentes são Isaías, Jeremias, Ezequiel e os Doze Profetas Menores.

(a) Jousé escreveu o livro que leva seu nome e Samuel escreveu Juízes,
sendo que este livro foi escrito logo após o começo da monarquia (19.1; 21.25)
e antes de Davi ser rei (1.21; cf. 2 Sm 5.6-8). A tradição hebraica afirma que 1
Samuel 1-24 foi escrito por Samuel e 1 Samuel 24 a 2 Sm 24 por Gade e
Natã.13 Jeremias é considerado o autor dos livros de Reis.

(b) A profecia de Isaías é relatada a ele próprio (1.1). Jeremias foi incumbido
de escrever em um livro todas as palavras que lhe foram designadas que
fossem escritas ((Jr 30.2). Em muitas partes, Baruque parace ter trabalhado
como amanuense (Jr 36; cf. 45.1). Ezequiel também foi incumbido de escrever
(Ez 24.2; 43.11), assim como Habacuque (2.2). É aceito nos meios mais
ortodoxos o fato dos nomes nos primeiros versículos dos livros proféticos
serem referente aos autores de tais livros.

2.1.1.3 Autenticidade dos livros do Ketubim


Os ketubim são os escritos.14 São divididos em poéticos: Salmos,
Provérbios e Jó; Megilotes: Cantares, Rute, Lamentações Eclesiastes e Ester;
e os livros históricos não proféticos: Daniel, Esdras, Neemias e Crônicas.15
Davi e Salomão são tidos como escritores (2 Cr 35.4). As inscrições dos
salmos não fazem parte das obras originais, contudo a tradição hebraica as
aceita. Dos 150 salmos, 100 foram atribuídos aos seguintes nomes: 73 a Davi;
11 aos filhos de Coré; 12 a Asafe; 2 a Salomão; 1 a Etã e 1 a Moisés. Os
outros são anônimos.
Salomão escreveu os 24 primeiros capítulos de Provérbios. Do 25 ao 29
foram escritos por homens de Ezequias, embora Salomão tenha sido o autor. O
30 foi escrito por Agur, filho de Jaque e o capítulo 31 por Lemuel.

13
THIESSEN, 2006, p. 56.
14
MIRANDA, 2007, p. 24.
15
THIESSEN, 2006, p. 56.
14

Não há o nome do autor no livro de Jó, contudo, não é improvável que


Jó o tenha escrito. É um livro escrito nos dias dos patriarcas. Jó é o mais
provável de descrever tão bem os discursos de Elifaz, Bildade, Zofar, Eliú e de
Deus.
Salomão aparece como autor de Cantares (1.1). Ele frequentemente faz
alusão a plantas específicas e ao luxo real com a descrição de sua época, além
do fato de ter contato com outras obras suas (Sl 72 e Provérbios).16
Samuel foi, muito provavelmente, o autor do livro de Rute, pois este livro
é associado a Juízes. A semelhança e associação entre os livros faz com que
Samuel, que é o autor de Juízes, tenha sido o autor do livro de Rute também.
Lamentações tem Jeremias como seu autor, sendo que a tradição
hebraica fez com que isso acontecesse. Na verdade, o livro tem muita
semelhança com o livro de Jeremias.
Mais um vez, Salomão é tido como autor de um livro, a saber, do
Eclesiastes. Logo no início do livro, está escrito que o autor é pregador, filho de
Davi e rei em Jerusalém (1.1). Há referência à sabedoria de Salomão (1.16) e
às obras que ele realizou (2.4-11).
Mordecai provavelmente escreveu o livro de Ester, pois é o mais
provável de ter conhecido os relatos tão precisos do livro. Esta é a opinião
entre os cristãos mais ortodoxos.
O livro de Daniel foi escrito pelo próprio Daniel (Mt 24.15). Alguns
modernistas e liberais teológicos não creem que Daniel escreveu o livro por
causa das profecias tão precisas que há no livro. Eles atribuem a escrita do
livro em um período posterior, no tempo dos macabeus entre 168-165 a.C. Na
verdade, o livro foi escrito seis séculos antes da vinda de nosso Salvador e
Senhor Jesus Cristo.
Esdras foi o autor do livro que leva o seu nome. Foi escrito em tempos
de grande tribulação que antecedeu Neemias por volta dos anos 450-445 a.C.
provavelmente. Neemias, o despenseiro do rei, por sua vez, é tido como
também o autor do livro que leva o seu nome de acordo com Neemias 1.1. O
autor fala em primeira pessoas constantemente por todo o livro. Foi escrito no
período de Malaquias (424-395 a.C.).

16
RAVEN Apud THIESSEN, 2006, p. 57.
15

Crônicas trata mais dos aspectos sacerdotais, enquanto que Reis


aborda mais as questões proféticas.17 A tradição aponta Esdras como o autor
de Crônicas. Foi escrito provavelmente entre 450-425 a.C. antes do livro de
Esdras.

2.1.2. Autenticidade dos livros do Novo Testamento


Os evangelho sinóticos foram escritos na seguinte ordem: Marcos,
Mateus e Lucas. Mateus e Lucas fizeram uso de Marcos. Contudo, eles
usaram uma segunda fonte, chamada “Q”, e outras fontes como “M”,
encontram-se somente em Mateus, e “L”, é encontrada somente em Lucas.18
O evangelho de João é posto em dúvida da sua autenticidade devido
ao fato dele enfatizar à divindade de Jesus. Contudo, os sinóticos não
enfatizam menos.
Atos dos Apóstolos é atribuído a Lucas. Indubitavelmente esse fato é
verídico. Quase nenhum teólogo discorda da autoria lucana do livro de Atos. É
propagado que Atos é o segundo tomo da sua obra. Sendo o evangelho o
primeiro tomo.
O apóstolo Paulo escreveu 13 das epístolas contidas no Novo
Testamento. As epístolas pastorais (1 e 2 Timóteo e Tito) são posta em
dúvidas quanto à autoria paulina. Contudo, a maioria absoluta dos teólogos
bíblicos conservadores vê Paulo como seu autor.
Não sabemos quem escreveu Hebreus. Tiago e Judas foram escritas
pelos irmãos de Jesus, nosso Senhor e Salvador.19 Pedro escreveu as duas
cartas que levam seu nome, embora 2 Pedro tenha um estilo claramente
diferente. O que se pode explicar tendo Silvano como amanuense para a
primeira epístola (1 Pe 5.12).
João, o apóstolo, é tido como o autor de três epístolas e de Apocalipse.
As diferenças de estilo contidas em Apocalipse podem ser elucidadas da
mesma forma que 1 e 2 Pedro.

2.2. Credibilidade dos livros bíblicos

17
THIESSEN, 2006, p. 58.
18
HALE, 2011, p. 59-60.
19
THIESSEN, 2006, p. 59.
16

Diz-se que um livro é corrupto pelo fato de seu texto ser diferente do
original. A credibilidade inclui tanto fatos de veracidade quanto de pureza do
texto.20

2.2.1. Credibilidade dos livros do Antigo Testamento


2.2.1.1 Testificação do recebimento de Cristo do Antigo Testamento
Jesus recebeu o Antigo Testamento como acontecimentos reais e
doutrinas autênticas (Mt 5.17,18; Jo 10.34-36; Lc 24.27,44,45). Para Ele, o
Antigo Testamento tinha autoridade final.21 Grandes ensinos
veterotestamentários Jesus relata como verdadeiros, como a criação do
universo pelo Pai (Mc 13.19); a criação do ser humano (Mt 19.4,5);
personalidade de Satanás e sua característica maligna (Jo 8.44); destruição do
mundo pelo dilúvio (Lc 17.26,27); destruição de Sodoma e Gomorra e salvação
de Ló (Lc 17.28-30); revelação de Deus a moisés na sarça ((Mc 12.26); maná
no deserto (Jo 6.32); existência do tabernáculo (Lc 6.3,4); Jonas (Mt 12.39,40).
Jesus não poderia passar para frente um equívoco. Logo, tais relatos do Antigo
Testamento são verdadeiros.

2.2.1.2. Prova derivada da história e arqueologia


Descrições bíblicas no Egito, Assíria, Babilônia, Medo-Pérsia e em
outros lugares são provadas pela história. Nomes de estadistas de tais lugares
são citados na Bíblia e são comprovados pela história por meio de outras
fontes.
A arqueologia confirma muitos dos relatos bíblicos. As lendas
babilônicas da Queda são conhecidas, bem como a lenda do dilúvio. A batalha
dos reis (Gn 14) é atestada no Vale do Eufrates por arqueólogos. Fato é que
nenhuma descoberta arqueológica se opõe às informações encontradas no
Antigo Testamento.22

2.2.2. Credibilidade dos livros do Novo Testamento


2.2.2.1. Os escritores do Novo Testamento tinham competência

20
Ibid, p. 59.
21
OSBORNE, 2014, p. 58.
22
RICHELLE, 2017, p. 127.
17

Possuíam qualificações e testemunho para o ensino da verdade de


Deus. Mateus, João e Pedro foram testemunhas oculares de Cristo. Marcos foi
o intérprete de Pedro. Lucas foi companheiro de Paulo. Este foi chamado
diretamente por Deus (Gl 1.11-17). Tiago e Judas eram irmãos de Jesus. O
Espírito Santo os inspirou.

2.2.2.2. A honestidade dos escritores neotestamentários


Eles não se preocuparam com seus bens materiais, posição social ou
mesmo a própria vida. Sua preocupação com a verdade e o tom moral de seus
escritos indicam a honestidade deles. Inventar histórias que condenam a
hipocrisia e morrer por causa disso não é uma atitude muito sábia se
tais histórias fossem inventadas. Não há evidência de que
testemunhas falsas tenham inventado histórias e tenham sacrificado suas
posições, bens e a própria vida por uma mentira inventada exatamente por elas
mesmas.23

2.2.2.3. A Harmonia dos escritos


Não há uma contradição dos sinóticos, mas sim uma complementação.
O evangelho de João se encaixa harmoniosamente com os sinóticos. Atos é o
contexto por trás das epístolas. Doutrinariamente, há uma harmonia entre os
livros do Novo Testamento. Cristo é Deus nos sinóticos e em João. Fé e obras
são vistas de pontos diferentes por Paulo e Tiago em certas ocasiões. Paulo
fala das obras da lei em muitos casos, mas também fala das boas obras. Tiago
fala das obras de misericórdia, que são boas obras.

2.2.2.4. Os fatos neotestamentários estão de acordo com a história e com


a experiência
Fatos bíblicos são comprovados por historiadores, como o
recenseamento de Quirino na Síria (Lc 2.2), os atos de Herodes, o Grande (Mt
2.16-18), de Herodes Antipas (Mt 14.1-12), de Agripa I (At 12.1), Gálio (At
18.12-17), Agripa II (At 25;13-26.32)...

23
PALEY Apud THIESSEN, 2006, p. 61.
18

Quanto à experiência, cristãos testificam um encontro com Deus e


ouvem a Sua voz. Se cremos na existência de Deus e os relatos sobre Ele por
meio da Bíblia é mais do que natural crer que Ele se revela aos seres humanos
e fala com qualquer um que tenha a disposição de falar com ele
constantemente.

3.1. A Canonicidade do Novo Testamento


Cânon significa, literalmente, “vara reta de medir”. É a coleção completa
dos livros divinamente inspirados.24 Atanásio foi o primeiro a usar a expressão
concernente à Bíblia.

3.1.1. Canonicidade do Antigo Testamento


Os livros do Pentateuco foram tido como inspirados oficialmente depois
da volta dos judeus da Babilônia.25 Os livros proféticos foram logo depois, no
século III a. C. Já os ketubim (escritos) foram tidos como inspirados
somente no Concílio de Jamnia, no fim do século I.26
Alguns são da opinião de que a seleção final do cânon do Antigo
Testamento foi finalizada por Esdras por volta do século V antes de Cristo.
Josefo relata que o cânon foi completo no tempo de Esdras no reinado de
Artaxerxes; Esdras tinha uma grande preocupação com os livros sagrados,
sendo chamado de “o escriba” (Ne 8.1,4,9,13; 12.26,36). O povo, depois do
exílio, estava desejoso de ser guiado nos mandamento do Senhor, uma
ocasião propícia para elaborar uma lista de livros para fundamentarem suas
crenças. Livros estes já há muitos anos circulados entre a comunidade judaica
daquela época.

3.1.2. Canonicidade do Novo Testamento


Orígenes cita os vinte e sete livros do Novo Testamento mais alguns
outros que ele considerava como Escrituras, a saber, Didaquê, Epístola de
Barnabé e O Pastor de Hermas.27

24
GILBERTO, 1986, p. 51.
25
Não que o Pentateuco antes não tenha sido tido como inspirado, mas sim foi tido como
oficialmente confirmado por todos como inspirado.
26
BRUCE, 2011, p. 35.
27
Ibid, p. 175.
19

Atanásio é o primeiro escritor que alistou exatamente os 27 livros que


constituem o Novo testamento, embora ele tenha colocado a ordem dos livros
diferente da que temos hoje, como, por exemplo, colocando as epístolas
paulinas depois de Atos e das epístolas gerais.28
Os critérios para os livros entrarem no cânon foram:
 Apostolicidade – o livro teria que ser escrito por um apóstolo ou alguém
próximo.
 Conteúdo espiritual – o conteúdo do livro teria que transmitir uma
espiritualidade em sua natureza.
 Universalidade – os livros teriam que ser aceito na maioria das igrejas
da época.
 Inspiração – o livro deveria possuir indícios da inspiração divina.

28
Ibid, p. 189.
20

3. INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS


A pergunta mais pertinente acerca dos estudos da bibliologia é se a
Bíblia é inspirada totalmente por Deus. De fato, a crença na inspiração plena
das Escrituras é de fundamental importância para a confiança no caráter de
Deus. Nós devemos crer na Bíblia por convicção sólida, e não por meio de
reflexão de outros.29

3. 1. Definição de inspiração
Um ponto de destaque é não confundirmos inspiração com revelação.
Esta é a transmissão da verdade que não tem como vir de outra forma,
enquanto que a inspiração está liga ao registro da verdade. Pode-se ter
revelação sem inspiração, como houve com muitos e com João quanto às
vozes dos sete trovões, das quais ele não pode escrever (Ap 10.3,4). Também
pode haver inspiração sem revelação, quando os autores escreveram mediante
inspiração depois de um trabalho de pesquisa (1 JO 1.1-4; Lc 1.1-4).
Há uma diferença entre a forma de inspiração e a consequência ou
resultado da inspiração. As teorias da inspiração, iluminação, dinâmica e
ditado estão ligadas à forma de inspiração, de modo que as teorias verbais
ou plenárias estão ligadas ao resultado.
A teoria da intuição propõe que a inspiração é simplesmente uma
percepção superior das questões morais e religiosas pelo ser humano natural.
Os pelagianos e unitarianos pensam dessa forma. A teoria da iluminação
advoga que a inspiração é apenas uma intensidade da percepção religiosa do
ser humano. Cada pessoa apresenta uma iluminação, enquanto que uns
possuem mais iluminação que outros. Shleiermacher, Neander, Coleridge e
outros teólogos entendiam assim a questão da inspiração bíblica. Há algo
digno de observação. Iluminação não é concernente à transmissão da verdade,
senão da compreensão da verdade que já foi revelada. No Salmo 119.18
vemos: “Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas
da Tua lei”. Paulo escreve: “para que conheçamos o que por Deus nos foi
dado gratuitamente” (1 Co 2.12). A iluminação geralmente acontece
com a inspiração, mas nem sempre (1 Pe 1.11).

29
GILBERTO, 1986, p. 32.
21

A teoria dinâmica ressalta que Deus concedeu a capacidade para confiar


na transmissão da verdade que os autores da Bíblia tiveram para propagar.
Eles eram infalíveis no que concerne à fé e à prática, contudo, não em
questões imediatamente religiosas. Alguns teólogos alemães pensam dessa
forma. Essa teoria falha em apontar quais aspectos são essenciais e quais
outros não são.
A teoria do ditado aborda que os escritores bíblicos foram somente
amanuenses. O Espírito Santo foi o escritor, na verdade, dos livros. Esta teoria,
contudo, ignora as diferenças de estilo de Moisés, Davi, Pedro, Tiago, João,
Paulo e outros.
A inspiração é melhor definida como o inexplicável poder que o Espírito
Santo delegou aos escritores sagrados para que fossem coordenados no
emprego das palavras usadas e preservados de enganos ou quaisquer
omissões. Tal ação do Espírito Santo de inspiração é limitada aos escritores
dos 66 livros da Bíblia.30
É de extrema importância entendermos que a inspiração do Espírito
Santo deu-se às palavras, não apenas aos pensamentos. De mesma
importância é que a inspiração está relacionada somente aos autógrafos, isto
é, aos livros originais que os escritores bíblicos escreveram, e não às cópias
destes. Tais cópias, que são as que temos, podem conter erros. Mas isso não
é questão de duvidar das Sagradas Escrituras, pois a proximidade de tempo
entre os originais e as cópias é de tempo menor do que de outras obras
clássicas como as de Platão e Homero.
Há uma discussão em torno da inspiração e da autoridade. Algo pode
ser inspirado no que se refere ao registro que foi inspirado, mas não a
autoridade do fato registrado por meio da inspiração. O que Satanás disse para
Eva, sobre desobedecer a Deus foi um registro inspirado, mas não é algo que
deve ser tido como autoridade (Gn 3.4,5). Não devemos desobedecer a Deus.
De modo geral, devemos ter a Bíblia toda como inspirada e como autoridade,
sendo que este último aspecto devemos ter o bom senso e sermos deixado ser
conduzidos pelo Espírito Santo para vermos quais passagens bíblicas não são
imbuídas de autoridade.

30
Para os católicos romanos são 73 ao todo.
22

3.2. Provas da Inspiração


Muitos nos nossos tempos têm dúvidas quanto à inspiração total das
Sagradas Escrituras. Vejamos dois aspectos que podemos nos basear sobre a
teoria da inspiração verbal da Bíblia.

3.2.1 A natureza de Deus


Que Deus existe todos os cristãos sabem conscientemente. Não há
cristãos que duvidam da existência e relacionamento de Deus com a
humanidade. Veremos mais sobre Deus nos capítulos seguintes.
Deus, como sabemos, tem uma preocupação e cuidado com Suas
criaturas. A salvação por meio de Cristo é uma evidência do socorro divino em
nosso favor. O ser humano tem necessidades físicas, sendo que Deus o supriu
de tudo isso, desde água, oxigênio, sol e outros dos mais diversos meios. O ser
humano também possui necessidades espirituais. Deus também supriu o ser
humano de todas essas necessidades dando o sentimento de justiça, dos
valores morais e a capacidade de exercer bem todos eles.

3.2.2. A natureza e afirmações bíblicas


A Bíblia é superior a todos os outros livros que existem. Há padrões
éticos elevados e nos informa como podemos ter um relacionamento favorável
e amoroso com o nosso Criador.
As Escrituras afirmam ser a Palavra de Deus. Os escritores do Antigo
Testamento declaram “assim diz o Senhor” ou termos parecidos mais de 3.800
vezes. Os escritores do Novo Testamento escrevem sobre comunicar a
vontade de Deus em várias ocasiões. Nosso Senhor Jesus Cristo declara que a
Escritura não pode falhar (Jo 10.34-35). Em todas as três divisões da Bíblia no
entendimento judaico (Pentateuco, Proféticos e Ketubim), Jesus diz que elas
falam sobre Ele (Lc 24.44), além de outros fatos.
Antes de subir aos Céus, Jesus afirmou aos discípulos e discípulas que
o Espírito Santo os transformariam em verdadeiros comunicadores da verdade
santa. O Espírito Santo lhes ensinaria, como também a nós, e os guiaria em
toda verdade. Os apóstolos testificaram que receberam o Espírito Santo e
escreveram por meio dEle (At 2.4; 9.17; 1 Co 2.10,12; 7.40; Tg 4.5; 1 Jo 3.24;
Jd 9).
23

3.3. Objeções à teoria da inspiração


Há aqueles que duvidam da inspiração bíblica. Uns se apegam
a questão de menos significância e equívoco de entendimento ao alegar
que a Bíblia não é inspirada porque registra fatos que mostram um
desconhecimento de certos personagens no relato bíblico. Eles aludem ao
fato de Paulo não saber que Ananias era o sumo sacerdote na ocasião de
Atos, como indício que Paulo não era inspirado. Mas a ignorância de
Paulo não minimiza, de forma alguma, sua inspiração quando escreveu as
13 epístolas que lhe são atribuídas.31 Um escritor bíblico não era onisciente.
Uns querem negar a influência da Bíblia por meio da ciência e da
história. Contudo, já mostramos que a arqueologia tem comprovado os relatos
bíblicos. Como a arqueologia está ligada, de certo modo, à história, podemos
ver que descoberta que evidenciam nomes como Hamurabe, Sargão II, hititas,
Belsazar e outros comprovam que as Escrituras são mais do que verídicas. Isto
é incontestável.
À luz da concretização das profecias quanto aos reinos da Babilônia,
Medo-Pérsia, Grécia, Roma, de Cristo e de outros eventos relatados centenas
de anos antes de serem realizados, mostram que a Escritura é um livro de
predição divina.
A ligação entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento é muito
pertinente. Os autores neotestamentários apresentam, em muitas ocasiões,
suas ideias com verbetes emprestados do Antigo Testamento (Rm 10.6-8; cf.
Dt 30.12-14); há uma verificação de um elemento acerca de um tipo em uma
passagem que não era tido como tipo (Mt 2.14; cf Os 11.1).32; dentre outros
diversos fatores.
É verificado no Antigo Testamento, principalmente, relatos de erros no
âmbito moral e espiritual. A questão, entretanto, é que tais erros são
registrados, mas nunca recomendados, como a bebedeira de Noé (Gn 9.20-
27), o incesto de Ló (Gn 19.30-38), a poligamia de Salomão (1 Re 11.1-3); cf.
Dt 17.17), dentre outros tantos mais.

31
THIESSEN, 2006, p. 70.
32
Tipo é algo relacionado do Antigo Testamento a algo exatamente no Novo Testamento, que
é chamado de antítipo.
24

Ester, Jó, Cantares, Eclesiastes, Jonas, Tiago e Apocalipse são livros


que, por muito tempo, foram colocados em dúvida quanto ao conteúdo
apresentado por eles. Entretanto, a teologia conservadora, que se adequa à
Tradição de cerca de 2000 anos, valida todos os livros que se encontram
nas Sagradas Escrituras que temos hoje.
25

4. EXISTÊNCIA E NATUREZA DE DEUS


Ao ver a beleza da Terra, das plantas, dos animais, do quão prodigioso
é o ser humano, podemos chegar à conclusão que tudo o que existe não veio
do nada. Se Deus não existir, o ser humano está fadado à morte.33 Mas não
somente isso, a explicação para o quão complexo é o universo e os seres vivos
ficam sem explicação. Um Criador que deu a vida a tudo o que existe é o
pensamento mais óbvio.

4.1. A Existência de Deus


O ser humano somente poderia ter conhecimento de Deus se Ele se
revelasse por meio das obras da natureza ou pela consciência humana. Outra
forma, mais direta, é a revelação mais específica por meio do Espírito Santo
diretamente ao ser humano.

4.1.1 A ideia de Deus é intuitiva


O conhecimento de Deus é intuitivo para todas as pessoas em todos os
lugares do mundo. Tal conhecimento não é inerte ao ser humano, mas sim que
a natureza humana desenvolve a ideia de Deus por meio da revelação
da mesma forma que a mente apresenta um desenvolvimento do mundo
externo que lhe chegam pelos sentidos.34 A razão intuitiva e a
revelação são importantes aspectos do conhecimento de Deus.

4.1.2. O testemunho das Escrituras


As Escrituras testificam que o conhecimento de um Ser supremo
encontra-se na consciência humana. Paulo, citando a filosofia grega, atesta
que em Deus vivemos, nos movemos e existimos (At 17.27-28). Paulo também
verifica que os atributos invisíveis de Deus, como Seu eterno poder e divindade
são conhecidos por todos (Rm 1.20). Os seres humanos encontram-se sem
desculpas perante Deus.

4.1.3. Argumentos confirmatórios

33
CRAIG, 2011, p. 33.
34
WILEY; CULBERTSON, 2013, p. 86-87;
26

Há verdades intuitivas acerca da existência de Deus, mas há


argumentos alicerçados na experiência ou por meio da lógica que comprovam
a existência divina. Vejamos seis argumentos para a existência de Deus, sendo
que os três primeiros são deduzidos da contemplação do mundo e os três
últimos do estudo do ser humano.35

4.1.3.1. Argumento cosmológico


Aponta-se do efeito para a causa. Há uma formulação lógica como: (1)
todo acontecimento deve ter uma causa suficiente antecipadamente; (2) há
muitas transformações no universo; (3) com isso, deve haver um Ser que não
dependa de nada ou de ninguém como a causa de todos esses
acontecimentos.36 As Escrituras atestam essa verdade quando afirma que
todas as coisas foram estabelecidas por Deus (Hb 3.4). Ele estabeleceu todos
os fundamentos da terra, sendo que os céus são obras de Suas mãos (Hb
1.10). De eternidade a eternidade o Senhor é Deus Soberano do universo (Sl
90.2).
A logicidade é algo que até uma criança exerce quando pergunta:
“Quem criou Deus?”. A conclusão lógica é que Deus é a Primeira Causa de
tudo o que existe. Para haver vida, é preciso que alguém que sempre existiu
tenha criado toda a vida.
Alguns filósofos costumam explicar a existência do mundo por meio da
matéria ou da força. A matéria é algo essencial para as coisas que existem,
mas não tem como a matéria ser eterna. O próprio desgaste da matéria
comprova que ela teve um início. Sua existência pressupõe um Criador.

4.1.3.2. Argumento teleológico


Também é chamado de argumento do desígnio. Apela muito à mente
popular. Este argumento incita todos a pensarem que há propósito e desígnios
à existência de cada pessoa. Podemos ver em Gênesis quando nos é relatado
que os astros foram feitos para fornecerem luz à terra e os frutos foram criados
para alimentarem os seres vivos. Em Salmo 94.9-10 nos é informado que Deus

35
WILEY; CULBERTSON, 2013, p. 88-93.
36
Ibid, p. 88.
27

proporciona audição, visão e age por meio de repreensão e punição resultantes


da desobediência das Suas orientações. Há um propósito.
Na natureza podemos verificar vários sinais de propósitos que são
resultados de um Deus amoroso e beneficente. Quando Deus é tirado de todas
essas questões, um sentimento de caos generalizado é percebido, sendo o
único sentido para uma existência sem Deus.

4.1.3.3. Argumento ontológico


Este argumento tem o intento de estabelecer o fato da razão de ser da
existência. Anselmo propagava que todo ser humano tem a ideia de Deus na
sua vida, um Deus que é muito acima de tudo o que pensamos. É um exemplo
de poder absoluto e de toda a moralidade possível. É um Ser perfeito em quem
podemos recorrer em todas as nossas aflições. Há um padrão infinito em toda
a ideia do Ser divino. Não são meras ideias, são conclusões tiradas de tudo o
que um Ser perfeito pode ser.

4.1.3.4. Argumento moral


Da mesma forma que presumimos a realidade do mundo dos objetos em
relação às nossas experiências sensoriais, da mesma forma presumimos a
existência da ordem moral de acordo com nossa experiência moral.37 Este
argumento apresenta dois aspectos fundamentais: (1) Há na consciência de
todo ser humano (com exceção dos incapazes) a distinção entre o bem e o mal
e o sentido de responsabilidade. Há na consciência de ser humano a realidade
de justiça. Logo, há um Juiz e Legislador universal a quem todas as
pessoas terão de prestar contas. Na consciência humana também consta
um padrão elevado de bondade e justiça que não há como medir; (2)
Neste mundo, na maioria das vezes, não há justa punição pelos delitos
cometidos. Este fato de injustiça requer que algo posteriormente, pelo menos,
seja resolvido. Somente a concepção da existência de um Deus justo e
benevolente pode resolver essa questão.

4.1.3.5. Argumento histórico

37
CRAIG, 2011, p. 140.
28

É quase uma mistura do argumento teleológico com o argumento moral.


Procura evidenciar um propósito na decorrer da história humana verificando,
assim, a existência de um Governador e Administrador moral de todo o
universo. O cristianismo sempre concebeu que Deus, o Pai de todos os
crentes, administra toda a criação. Nada foge da Sua administração. Ao
afirmar isso, automaticamente afirmamos que Deus decreta e define todas as
coisas. Mesmo que nós, como humanos limitados não entendamos os
propositos de Deus, isso não altera o fato d'Ele decretar todas as coisas.

4.1.3.6. Argumento religioso


As experiências religiosas dos seres humanos são abordadas nessa
forma argumentativa. Aqueles que experimentaram a graça de Deus em
quaisquer tipos de contato com Deus, podem comprovar que Ele, de fato,
existe e tem um relacionamento com a humanidade. Sabemos que o Espírito
de Deus testemunha ao nosso próprio espírito (Rm 8.16). A questão é que
esse argumento é atestado somente por aqueles que têm um relacionamento
de experiência com Deus.
É preciso destacar que a tarefa primordial da Bíblia Sagrada e do estudo
da teologia cristã não é responder a pergunta acerca da existência de Deus.
Isto já é pressuposto por todos aqueles que se achegam às Sagradas
Escrituras. Não há um livro da Bíblia que tenha a incumbência de evidenciar,
passo por passo, que Deus existe. A Bíblia não é um livro apologético no
sentido moderno do termo. É bom que todos nós tenhamos isso nas nossas
mentes. A questão das Escrituras Sagradas é o ensino dos profetas
veterotestamentários, dos apóstolos neotestamentários e do próprio Senhor e
Salvador Jesus Cristo, que é: “Que Deus escolhereis?”. Esta é uma pergunta
que Elias fez no Monte Carmelo: "Até quando coxeareis entre
dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; se é Baal, segui-o." (1 Re
18.21). Jesus mesmo afirmou que não dá para servirmos a dois senhores, ou
a Deus ou as riquezas.

4.2. A Natureza de Deus


O que Deus é, e não se Ele existe é o objetivo fundamental da teologia
cristã. Fato notório não somente aos estudantes de teologia, mas a todos os
29

cristãos é a questão de não termos a mínima possiblidade de compreendermos


Deus por completo. Deus é incognoscível. Contudo, podemos conhecê-lo na
medida que aprendemos sobre o que Ele revelou nas Sagradas Escrituras.
Somente o infinito pode compreender o infinito.38 Deus somente pode ser
conhecido por meio de Sua misericordiosa revelação. A boa notícia é que Deus
decidiu se revelar a nós, sendo que estamos sempre, em todo o tempo, em
total dependência dEle .39

4.2.1. Definições de Deus


Deus é eternamente existente e administra toda a Sua criação, sendo
sempre santo, sendo revelado como Pai, Filho e Espírito Santo por meio de
três pessoas distintas, mas sempre unidas pelo vínculo do amor.40 Deus
conserva todas as coisas de acordo com a Sua vontade santa. Ele é imutável
em Sua santidade, Seu poder e todos os outros atributos.

4.2.2. Nomes de Deus


Houve uma forma progressiva de revelação da natureza de Deus aos
seres humanos por meio dos nomes de Deus. O primeiro nome que Deus
utilizou-se para se revelar ao ser humano foi Elohim, que tem o significado
de poder em sua raiz. Deus possui, inerentemente, toda forma de poder.
Não é um poder tirânico como os ditadores possuem, mas sim um poder
que tem como objetivo a glória dEle e o bem-estar da humanidade. O
segundo nome que Deus usou para revelar-se à humanidade é Jeová ou
Javé. Não é um termo genérico, mas sim um nome que foi entendido por
o
Moisés
que Sou”.
como “Eu sou
Estabeleceu-se entre os judeus formar nomes compostos retratando
Deus para expressar triunfos e conquistas nacionais ou pessoais. Assim,
houve a proliferação dos nomes Jeová-jireh (Deus proverá, Jeová-nissi (O
Senhor é minha bandeira), Jeová-shalom (O Senhor envia paz), Jeová-
shammah (O Senhor está ali), Jeová Tsidkenu (O Senhor é nossa justiça). El
Shaddai, outro

38
WILEY; CULBERTSON, 2013, p. 93.
39
COTTRELL, 2016, p. 47.
40
Mais sobre a Trindade no capítulo 6.
30

termo bastante utilizado para Deus, significa “Todo Poderoso”. Adonai significa
simplesmente Senhor.41

4.2.3. Conceito cristão de Deus


Veremos como os cristãos passaram a chamar o nosso Pai desde o
início do cristianismo.

4.2.3.1. Deus é Espírito


Que Deus é Espírito vemos isso nas palavras de Jesus (Jo 4.24). O
termo Espírito refere-se à personalidade divina. Como Espírito, Deus se move
dando-nos do Seu conhecimento para todos os que O buscam. Por todo o
universo o Espírito paira tendo todo o poder para fazer o que Sua vontade
almeja.

4.2.3.2. Deus como Espírito é Vida


O termo vida não significa apenas existência, mas vida
organizada.42 Como a Vida Absoluta que Ele é e tem para dar, a
transitoriedade, a diminuição e a passividade não Lhe afetam. O Filho de
Deus, Jesus Cristo, tem vida em Si mesmo (Jo 5.26). Daí dá para vermos
a divindade do Filho de Deus. Ele mesmo declarou que é o caminho, a
verdade e a vida (Jo 14.6).
4.2.3.3. Deus como Espírito é Luz
A comparação com a luz é vista em 1 João 1.5, onde João afirma que
Deus é luz, sendo que nEle não há treva nenhuma. A luz é a expressão da
natureza intrínseca do Pai, enquanto que as trevas são a consequência
da depravação moral humana. Tal depravação consiste na escuridão ética na
qual se encontra a raça humana sem Deus. A luz emana santidade para
todos aqueles que creem em Jesus e vive em obediência aos
mandamentos não penosos da Trindade.

4.2.3.4. Deus como Espírito é amor

41
WILEY; CULBERTSON, 2013, p. 96.
42
Ibid, p. 96.
31

Deus é amor é uma expressão joanina vista em 1 João 4.8,16). O amor


é iniciado por Deus, misericordiosamente, para a salvação do ser humano. O
amor de Deus possibilita o relacionamento entre Ele e o ser humano, sendo
que este nunca conseguiria agradar a Deus se Ele não fosse primeiro ao seu
encontro.
32

5. ATRIBUTOS DE DEUS
5.1. Classificações dos atributos divinos
5.1.2. Atributos, perfeições e predicados divinos
Podemos entender que os atributos são as qualidades que os seres
humanos relacionam a Deus acerca da ideia que eles têm a respeito de Deus.
As perfeições são as características de qualificações que são inerentes à
essência de Deus, com aplicação a Deus por Ele mesmo. O predicado divino
pode ser entendido como respeito a Deus, como Sua soberania e criatividade,
sem atribuição a Ele. Predicado é um aspecto mais amplo do que atributo.

5.1.2. Classificação dos atributos de Deus


Os atributos naturais e os atributos morais de Deus são formas simples
de classificação. A originalidade, Infinitude, eternidade, imensidade,
imutabilidade fazem parte dos atributos naturais divinos. Os atributos morais
incluem a aplicação de Sua vontade, como a justiça, misericórdia, amor,
bondade e verdade.
Adotaremos, contudo, uma outra classificação consistindo de uma
tríplice divisão:43
 Atributos absolutos: pertencentes à essência de Deus, à parte da
Sua obra criadora.
 Atributos relativos: resultantes da ligação entre o Criador e a
criatura, em que as criaturas precisam existir para que tais
atributos sejam postos em evidência.
 Atributos morais: pertencentes ao relacionamento entre Deus e os
seres morais que estão sob Seu governo.

5.2. Atributos absolutos de Deus


Entendemos ser os atributos absolutos tudo aquilo relacionado à
existência de Deus que é diferente do operar e da atividade dEle. Não estão
limitados pelo tempo ou espaço.

5.2.1. Espiritualidade

43
WILEY; CULBERTSON, 2013, p. 101.
33

Deus é Espírito (JO 4.24). Este é, indubitavelmente, um atributo divino


bastante conhecido. Ele não está sujeito às limitações físicas que o ser
humano está limitado.44
Deus possui originalidade, que significa a posse da vida por Si
mesmo. Nós, seres humanos, dependemos de Deus para viver. Ele não
precisa de ninguém. Ele não é servido por mãos humanas, sendo que ele dá
vida a todos (At 17.24-25).
A simplicidade é aplicada como ligada a Deus. Ele é isento de toda
composição. Não há compartimentação no Ser de Deus. Isto é impensável
para o conceito de Deus. A simplicidade é a pura realidade de Deus.45
Um ser de existência própria não precisa da necessidade de outro para
poder viver. É preciso que creiamos na originalidade e simplicidade divinas
para contemplarmos Sua unidade. Rejeitar a unidade de Deus é cairmos no
paganismo. A crença que Deus é um ser espiritual é primordialmente algo
factível, pois vai ao encontro do ser humano como um ser dependente e
responsável.

5.2.2. Infinidade
Significa que não há barreiras nem limites para a natureza
divina. Somente a Deus é aplicado esse atributo. Ele pode estar em vários
lugares, pois ele é onipresente. Ele não tem dimensões justamente por causa
da Infinitude do Seu ser.
O Senhor não cabe em espaços terrestres, pois, como sabemos, Ele
mesmo os criou. Ele não habita em templos feitos por mão humanas, como As
Escrituras nos dizem (At 7.24).

5.2.3. Eternidade
Deus está acima de todo o tempo. Ele não se prende ao passado ou ao
presente. Ele conhece todas as coisas. Nele não há sucessão de tempo, pois
ele está sempre em um eterno-agora. Tudo para Ele é como se estivesse
sempre no presente.

44
PEARLMAN, 2009, p. 66.
45
GEISLER, 2010, p. 571, vol. 1.
34

Embora, certamente haja pensamentos dos mais diversos, inclusive


dentre do meio cristão, que reduza a atuação divina ou mesmo a capacidade
divina de estar ou não em um lugar, estar ou não no futuro, Deus pode não
querer estar em algum lugar por um ato dEle mesmo, e não porque Ele é
limitado por algo ou por alguém. É preciso que entendamos isso para
compreendermos o quão glorioso é contemplarmos a Infinitude de Deus, nosso
Pai.

5.2.4. Imensidade
A imensidade é muito próxima da infinidade. Os Céus não podem conter
a Deus (2 Cr 6.18; 1 Re 8.27). Deus não pode ser aprisionado por nenhum
espaço terrestre. Esse atributo nos move a recorrê-lo em todas as ocasiões e
onde quer que nós estejamos. A Sua presença faz-se conhecida em todos os
lugares.

5.2.5. Imutabilidade
Deus não apresenta variações em Sua essência. Contudo, Ele não é um
déspota rígido em Seu relacionamento com os seres humanos. A questão que
Deus ama a justiça e aborrece a iniquidade, estando o Seu governo sempre em
harmonia com a natureza do Seu amor santo.46
A imutabilidade divina é um atributo importante para a questão da
moralidade. Deus não muda Sua moral, ou seja, Ele não diz que uma coisa é
certa hoje e amanhã diz que essa mesma coisa é errada. Em Salmos, vemos:
“Tu, porém, és sempre o mesmo, e os teus anos jamais terão fim” (Sl 102.27);
Vemos também: “Por eu, o Senhor, não mudo” (Ml 3.6). Sendo
assim, podemos descansar na imutabilidade divina. O que ele prometeu,
certamente Ele cumprirá.

5.2.6. Perfeição
Este atributo harmoniza todos os aspectos de realização divina em
outros de Seus atributos. Este atributo não é a culminância da existência de um
processo de perfeição, mas sim a origem de todos os atos de Deus, sendo que

46
WILEY; CULBERTSON, 2013, p. 105.
35

todos eles são perfeitos. O próprio Jesus disse que devemos ser perfeitos
como o Pai é perfeito (Mt 5.48).

5.3. Atributos Relativos de Deus


Os atributos relativos de Deus apontam para as mesmas perfeições dos
atributos absolutos, contudo, em outros aspectos.

5.3.1. Onipresença de Deus


A imensidade de Deus dá base para a onipresença divina.
A onipresença de Deus o coloca em total diferença para com os
seres humanos.47 Ele está sempre presente em quaisquer locais em
toda Sua inteireza. Em Isaías 57.15, nos é dito que Deus habita em
qualquer lugar e também no coração do abatido de espírito.
Deus é totalmente transcendente. Ele, do céus, vê todos os seres
humanos (Sl 33.13). Não há lugar onde Ele não esteja (Sl 139.8). Isto deve nos
tornar mais propensos a confiar e estarmos mais seguros nos braços do nosso
Criador.

Devo para sempre recordar


Quer na terra quer no mar;
Que não devo o mal fazer
Pois Deus sempre me há de ver.48

5.3.2. Onipotência de Deus


Define-se como o atributo que Deus pode fazer tudo o que Ele quiser
e achar necessário, não sendo coagido nem influenciado por ninguém. Tudo
o que lhe apraz impulsiona o Seu agir (Sl 115.3). Não há nada impossível
para Deus, a não ser algo que vá contra Sua natureza. Deus não pode
mentir, por exemplo (Tt 1.2).
Deus é Todo-Poderoso (Ap 19.6). A doutrina da onipotência de Deus é
altamente necessária para compreendermos quaisquer atributos de Deus. Se

47
Ibid, p. 107.
48
Ibid, p. 107.
36

Ele não fosse Todo-Poderoso, não teríamos a quem nos recorrer em várias
situações. Descansamos na onipotência divina.

5.3.3. Onisciência de Deus


Deus tem perfeito conhecimento de todas as coisas. Nada Lhe é
desconhecido. O Seu entendimento não pode mentir (Sl 147.5). Desde o
princípio Deus sabe o que acontecerá (Is 46.9-10). Tudo é exposto aos olhos
do nosso Deus (Hb 4.13).
Há uma questão sobre os aspectos da onisciência divina. O
conhecimento necessário é o conhecimento que Deus tem de Si mesmo. Ele
nunca se equivoca. Há o conhecimento livre, que Deus tem de pessoas fora de
Si mesmo. Arminianos atrelam este conhecimento às contingências
(probabilidades), que Deus sempre as conhece todas. Os calvinistas entendem
esse conhecimento como predeterminante, ou seja, Deus sabe algo porque
determinou. Há o conhecimento médio, que é hipotético. Por meio deste
conhecimento, Deus sabe não somente o que acontecerá, mas também o que
aconteceria ou deixaria de acontecer sob certas condições estabelecidas na
ocasião. Resumindo, Deus conhece o que cada possível criatura faria em
qualquer conjunto possível de circunstância.49
Afirmamos que que Deus determina e predestina todas as coisas, por
que ele é onsiciente e onipotente. Deus sabe de todas as coisas por que ele
mesmo predestinou, não por que ele simplesmente viu, ou anteviu, mas sim,
por que ele decretou os acontecimentos. Claro, que para esta afirmação há
algumas objeções, mas ela parece ser a mais plausivél dentre as opiniões.

5.3.4. Sabedoria de Deus


A sabedoria divina está estreitamente ligada à onisciência divina. Uma
diferenciação, que podemos fazer, é que a sabedoria divina atua de forma
mais ativa, enquanto que a onisciência divina é mais passiva. Ao saber de
todas as coisas (onisciência), E Deus trabalha no universo mediante o que
Ele sempre sabe (sabedoria). É necessário, contudo, ser extremamente
enfatizado, que esses dois atributos são mutuamente importantes. O

49
CRAIG, 2016, p. 124.
37

conhecimento é necessário para a sabedoria e a onisciência é necessária para


a sabedoria.50

5.3.5. Bondade de Deus


Este atributo evidencia que Deus quer a felicidade de Suas criaturas,
principalmente em um relacionamento salvífico com Ele. A bondade do nosso
Deus é voluntária. Ele nos ama porque Ele quer e deseja nos amar, mesmo
nós sendo pecadores obstinados. Ele sempre cuida da sua criação e
podemos ver isso claramente nos textos bíblicos.
A bondade de Deus está relacionada também ao Seu amor. A bondade
e a misericórdia sempre estarão disponíveis a todas as Suas criaturas (Sl
23.6). A bondade divina dura para sempre (Sl 52.1). Por causa da sua
bondade, podemos nos arrepender e sermos salvos (Rm 2.4). A bondade
é fruto do Espírito que devemos sempre procurar (Gl 5.22; Ef 5.9).

5.4. Atributos Morais de Deus


Referem-se ao Seu governo em todo o universo. Os atributos absolutos
e relativos são entendidos pela inteligência natural do ser humano, enquanto
que os atributos morais são entendidos por meio de um relacionamento
autêntico com o Criador. Depois que o ser humano caiu, ele perdeu o
relacionamento com o Deus. Com isto, o ser humano ficou impossibilitado de
ter percepções dos atributos morais de Deus. Contudo, com a salvação em
Cristo Jesus, o ser humano pode contemplar novamente tais atributos divinos.
Veremos estes atributos divididos em santidade, amor, justiça, retidão, verdade
e graça.51

5.4.1. Santidade de Deus


A santidade é a gloriosa plenitude da excelência moral divina da qual
Ele sempre se expressa. Essa excelência moral é originada dEle mesmo.
Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos (Is 6.3). Ele é o Santo Todo-
Poderoso (Ap 4.8). Todos os seres humanos comparecerão ao Juízo Final e
glortificarão a santidade do nosso Deus (Ap 15.4).

50
WILEY; CULBERTSON, 2013, p. 112.
51
Ibid, p. 113-120.
38

A santidade, é o requerimento para todo aquele que é nascido de novo.


Devemos adorar a Deus em santidade todos os nossos dias (Lc 1.74-75).
Todos os nossos procedimentos devem ser guiados pela santidade
divina (1 Pe 1.15-16). O ser humano tem que ser santo não no sentido
absoluto, pois somente Deus exerce essa santidade, mas sim de
maneira relativa, no que for possível diante da limitação humana.
No Pai a santidade é oriunda, e jamais derivada. O Filho tem a santidade
revelada através de Seu sacrifício substitutivo em favor do ser humano. No
Espírito Santo a santidade não é apenas acessível, mas distribuída a todos que
a buscam.
A santidade não deve tornar-se um simples assunto que evoca
meditação antropocêntrica, mas é um convite para participarmos da justiça de
Deus e o louvemos com todos os povos da Terra no momento presente e no
momento futuro com todos aqueles que já morreram lavados pelo sangue
de Cristo.52

5.4.2. Amor de Deus


Deus é amor é uma expressão muito conhecida no meio cristão. O
apóstolo João declara isso enfaticamente (1 Jo 4.16). O amor é a natureza de
Deus. Na verdade, o amor santo.53 O amor de Deus propaga santidade a todos
os que buscam a presença de Deus.
O amor verdadeiro mostra-se pelo sacrifício. Uma mãe que
verdadeiramente ama seu filho dá a sua própria vida por ele. O amor da mãe
para um filho é próximo da nossa realidade. Deus provou seu amor para
conosco enviando Seu Filho para morrer em nosso favor (Rm 5.8). Nós
somente amamos a Deus porque Ele nos amou primeiro (1 Jo 4.19).
O amor divino costumeiramente é representado de duas formas: (1)
amor de benevolência – é a disposião ou forma divina do seu amor que
transmite felicidade e alegria as suas criaturas. (2) amor de complacência –
é o amor de Deus que o inclina a comunicar-se e a deleitar-se na santidade
de Suas criaturas.54

52
HORTON, 1996, p. 139.
53
COLLINS, 2010, p. 22.
54
WILEY; CULBERTSON, 2013, p 117.
39

O primeiro versículo que, geralmente, aprendemos quando nos


tornamos novas criaturas é João 3.16, que nos fala do amor de Deus pelo
mundo todo. Esse é um versículo que não transmite apenas a ideia quantitativa
do amor divino, ou seja, por todas as pessoas de todo o mundo, mas também o
aspecto qualitativo. Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo sofreu o nosso
sofrimento. Ele morreu a nossa morte. A sua morte não encerra nossos
sofrimentos terrenos, mas nos livra do sofrimento eterno.
O caminho que devemos andar deve expressar as características do
amor de Deus revelados na Sua Pessoa e na Sua obra (1 Co 12.31-13.13).55
Nosso Senhor Jesus Cristo disse que se de fato nós amamos a Ele, nós
devemos guardar os Seus mandamentos (Jo 14.15). Esta é uma declaração
muito importante. Não demonstramos que o amamos pelo que nós
conhecemos a respeito dEle, mas sim se, de fato, nós o obedecemos e
guardamos os mandamentos que ele nos deixou. Afinal, aquele que diz que
está em Cristo, ou seja, faz parte da Sua igreja santa e imaculada, deve andar
como Ele, Cristo, andou (1 Jo 2.6). Se não andarmos como Ele andou, não há
evidência alguma que somos novas criaturas, mas sim pessoas iludidas quanto
à salvação em Cristo.

5.4.3. Justiça e retidão


Estes atributos estão relacionados à santidade. Contudo, são diferentes.
A santidade faz parte da essência divina, enquanto que a retidão é a sua
forma de transmitir e expor a sua santidade. A retidão é o fundamento da lei
divina, sendo que a justiça é a administração desta lei.56
Há, didaticamente, alguns ramos da justiça divina. A justiça legislativa é
tem como objetivo determinar o dever moral do ser humano com as
consequências dos atos humanos, assim como também as recompensas. A
justiça judicial é o meio pelo qual Deus dá a todos os seres humanos mediante
as suas obras. Entendamos, a justiça legislativa estabelece as leis, já a judicial
aplica a lei. A justiça remunerativa é dirigida aqueles que cumprem a lei de
Cristo, enquanto que a justiça retributiva é para aqueles que são culpados de
transgredir a lei de Cristo.

55
HORTON, 1996, p. 138.
56
WILEY; CULBERTSON, 2013, p. 118.
40

Algumas passagens bíblicas abordam sobre a justiça e retidão de Deus.


Em Salmo 19.9, o salmista declara que os juízos do Senhor são verdadeiros e
todos igualmente justos. A justiça e o direito são o fundamento do Seu trono (Is
45.21). O Senhor retribuirá a cada um segundo tudo o que fizeram na terra (Rm
2.6).

5.4.4. Verdade como atributo divino


Também está ligada à santidade de Deus. Por verdade queremos
salientar que tudo o que faz e em todas as ocasiões que Deus se manifesta há
perfeita conformidade com a natureza santa e verdadeira de nosso Bom Deus.
A Bíblia declara que Deus é o Deus da verdade (Sl 31.5). As palavras
proferidas por Deus são todas palavras verdadeiras (Sl 119.160). Nosso
Senhor e Salvador Jesus Cristo declarou que Ele é o caminho, a verdade e a
vida (Jo 14.6).
O nosso Deus não é ser humano para que minta (Nm 23.19). Disto nós
todos temos que ter a mais incisiva convicção. A verdade de Deus expõe o
quão o ser humano é desprovido da firmeza da verdade. Tudo o que o Senhor
prometeu Ele cumprirá. Nisto nós podemos descansar. Diante da vida que
vivemos, cheia de mentiras e falsidades, confiamos em Deus. O ser humano
anseia por um padrão elevado de verdade. Se ele anseia é porque existe. Nós,
os salvos em Cristo Jesus, um dia conheceremos a Verdade Absoluta. Deus
não mente jamais e cumprirá suas promessas (Tt 1.1)!57

5.4.5. Graça de Deus


Cristo é referido como cheio de graça e de verdade (Jo 1.17). A graça é
um favor imerecido da parte de Deus. Toda forma de graça são forma da
bondade do nosso Deus e do seu amor. Todo o ar que respiramos e tudo o
que temos são reflexos da graça de Deus.
A graça de Deus é manifesta a todos os seres humanos (Tt 2.11). Tal
graça é salvadora. Não há ninguém desprovido da graça de Deus, pois Seu
amor é para todas as pessoas (Jo 3.16). Vemos isto em Romanos 5.18,
quando Paulo fala categoricamente que por meio de nosso Senhor e Salvador

57
HORTON, 1996, p. 136.
41

Jesus Cristo todos recebem da sua graça. Antes de sermos salvos, já somos
alvos da graça divina. Quando somos salvos, permanecemos na sua graça e
dela desfrutamos. Sua graça dura para sempre aos que dela se
apropriam verdadeiramente.
42

6. TRINDADE
A Trindade é descrita como três Pessoas e uma única essência ou
substância. Não é uma doutrina especulativa, mas sim um entendimento
baseado nas Sagradas Escrituras.
Desde a igreja primitiva, é crido que se Jesus não for Deus plenamente,
adorá-lo seria uma idolatria. Logo, reconheceram que Cristo é divino em Sua
plenitude.

6.1. Unidade e Triunidade de Deus


6.1.1. Unidade de Deus
Só há um Deus. É isto que a unidade divina quer passar. Ele tem
existência própria, é infinito e eterno. Na Bíblia Sagrada pode ser encontrada
essa definição. Em Deuteronômio 6;4 vemos a conhecida declaração: “Ouve,
Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor”. O mandamento para não ter
outros deuses ilustra o período no qual ele foi estabelecido. Alguns, mesmo os
israelitas, estavam crendo em outros deuses, o que é algo inadmissível para
um verdadeiro crente.
O Novo Testamente testifica acerca da unidade divina. Marcos 12.29
ressoa Deuteronômio 6.4. Jesus declara que a vida eterna é que conheçam o
único Deus verdadeiro (Jo 17.3). O apóstolo Paulo declara que só há um Deus,
o Pai, de quem são todas as coisas (1 Co 8.4-6).
É preciso destacar que o fato de não entendermos que um só Deus são
três pessoas não implica que não seja assim. Não precisamos entender para
que creiamos na sua existência. A trindade pode ser um mistério, mas, de
forma alguma, é uma contradição.58

6.1.2. Triunidade de Deus


Deus é um Ser e Três Pessoas, como já vimos. As pessoas divinas são
sempre unidas. A simplicidade de Deus faz com que Ele não seja
compartimentado. Não sabemos explicar como há três Pessoas, mas, de fato,
há. Aliás, se soubéssemos explicar Deus detalhadamente, Ele não seria Deus,

58
GEISLER, 2010, p. 790, vol. 1.
43

mas sim um objeto muito fácil de se explicar. Sabemos apenas o que Ele
mesmo deixou-nos para conhecermos.

6.1.2.1. Trindade no Antigo Testamento


Diferente do pensamento dos antitrinitarianos, a doutrina da Trindade é
vista no Antigo Testamento. O uso de nomes plurais para representar Deus é
visto como uma evidência da Trindade. Em Gênesis 1.1 nos é dito que no
princípio Deus criou os céus e a terra. A palavra para Deus é Elohim (no
plural), da mesma forma em Gênesis 1.26 e 3.22. O Anjo de Jeová é tido como
demonstração da Trindade (Ex 23.20-21). A bênção de Arão tem um sentido
triplo: “Jeová te abençoe e te guarde; Jeová faça resplandecer o seu rosto
sobre ti; Jeová sobre ti levante o seu rosto, e te dê a paz” (Nm 6.24-27). Esta
tríplice bênção indica a Trindade. Da mesma forma, Isaías declara que Deus é
Santo, Santo, Santo (Is 6.3).
A palavra hebraica um (echad) usada para Deus (Dt 6.4) é usada para o
plural. É uma pluraridade na unidade. É a mesma palavra usada em Gênesis
2.24 quando Deus declarou que o homem e a mulher seriam um no
casamento.59
Em Isaías 48.16, nos é mencionado referência acerca do Messias:
“Agora o Senhor Deus me enviou a mim e a Seu Espírito”. Esta é um profecia
cumprida em Cristo séculos depois.

6.1.2.2. O Filho e o Espírito Santo no Novo Testamento


Tanto a paternidade quanto a filiação divinas são
revelações neotestamentárias. O Antigo Testamento não trata desses
temas devido ao fato da Paternidade de Deus não ter sido totalmente
revelada. Sabemos que a revelação é progressiva, ou seja, Deus foi se
revelando, bem como revelando outras coisas, na medida do passar do
tempo. Os judeus, por exemplo, não tinham a ideia de que o Messias viria
duas vezes à Terra nem que o Seu Reino não seria deste mundo (Jo
18.36). Logo, devemos entender que a personalidade do Espírito Santo e
a personalidade divina do Messias não eram cridos ainda por eles.60

59
Ibid, p. 800.
60
STRONSTAD, 2018, p. 33.
44

Em João 1.14 vemos que o Verbo se fez carne, e habitou entre nós,
cheio de graça e de verdade. O verbo é o unigênito do Pai. Unigênito no
sentido de ser gerado (não criado) de Deus desde sempre. Nunca houve um
tempo em que o Filho não fosse o Filho nem divino.

6.2. Divindade de Jesus Cristo


6.2.1. Preexistência de Cristo
João Batista declara que Jesus, a quem ele batizou, já existia antes dele
(Jo 1.15). Isto não é no sentido que Jesus nasceu primeiro que João Batista,
pois João batista nasceu primeiro que Jesus. Essa declaração se refere à
existência eterna de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
O próprio Senhor Jesus declara: “Agora, glorifica-me, ó Pai,
contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse
61
mundo” (Jo 17.5). Não há como duvidar da preexistência eterna de Jesus
Ele é antes de todas as coisas.

6.2.2. Nomes e títulos divinos de Jesus


Jesus é chamado de Senhor: “Preparai o caminho do Senhor” (Mt 3.3).
Ele é chamado de Deus: “No princípio era o Verbo, e o verbo estava com Deus,
e o Verbo era Deus” (Jo 1.1); “E também deles descende o Cristo, segundo a
carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Amém.” (Rm
9.5); “Aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória de nosso
grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tt 2.13).

6.2.3. Atributos divinos de Jesus


A Jesus é verificado o atributo da eternidade: “Mas, acerca do Filho: O
teu trono, ó Deus, é para todo o sempre” (Hb 1.8). Também há o atributo
da onipresença: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu
nome, ali estou no meio deles” (Mt 18.20). Onisciência: “Em quem todos os
tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos (Cl 2.3).
Onipotência: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mt
28.18). Imutabilidade: “Jesus Cristo ontem e hoje é o mesmo, e o será para
sempre” (Hb 13.8)
61
WILEY; CULBERTSON, 2013, p. 127.
45

6.2.4. Obras divinas de Jesus


As obras de Cristo como Deus na criação: “Todas as coisas foram
feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez (Jo 1.3);
“Estavam no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o
conheceu” (Jo 1.10)”. Ele atua na preservação e conservação de todas as
coisas: “Ele é antes de todas as coisas. Nele tudo subsiste” (Cl 1.17). Ele
perdoa pecados. Somente Deus perdoa pecados: “Vendo-lhes a fé, Jesus
disse ao paralítico: Filho, os teus pecados estão perdoados... Ora, para que
saibais que o Filho do homem tem sobre a terra autoridade para perdoar
pecados – disse ao paralítico: Eu te mando: Levanta-te, toma o teu leito, e vai
para tua casa.” (Mc 2.5,10-11). Ele é o doador do Espírito Santo: “Eis que envio
sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto
sejais revestidos de poder” (Lc 24.49).

6.2.5. Jesus recebe adoração


Somente Deus pode receber adoração. João ajoelhou-se aos pés do
anjo, mas este disse-lhe que não se ajoelhasse, pois deveria adorar somente
a Deus (Ap 19.10). Entretanto, Jesus recebeu adoração e não repudiou os que
O adoraram: “Adoraram-no, dizendo: Verdadeiramente tu és Filho de
Deus” (Mt 14.33). O escritor de Hebreus menciona que Jesus é adorado: “E,
novamente, ao introduzir o Primogênito no mundo, diz: E todos os anjos de
Deus o adoram (Hb 1.6).
Há vários outros casos onde Jesus é relatado recebendo adoração,
como a mulher cananeia (Mt 15.25), a mãe de Tiago e João (Mt 20.20), o
endemoniado gadareno (Mc 5.6) e outros. Um cego foi curado por Jesus e
adorou o Filho de Deus (Jo 9.38). Tomé exclamou, em adoração, que Jesus é
Deus (Jo 20.28). Isto só aconteceu porque Tomé reconheceu a divindade
de Jesus.62

6.2.6. Significado da divindade de Jesus


O plano da salvação depende do reconhecimento da divindade de Jesus
Cristo. Todo o plano de redenção passa por Jesus. Um mero ser humano não

62
GEISLER, 2010, p. 793, vol. 1.
46

poderia ter tirado os nossos pecados. Vê-lo como um mero ser humano é
rebaixar o quão a salvação foi importante. Saber exaustivamente acerca da
divindade de Jesus, bem como todos os detalhes da Santíssima Trindade é
algo impossível. Contudo, devemos deleitar-nos no fato de que o que podemos
saber a respeito de tudo isso está disponível para cada filho e filha de Deus em
Cristo Jesus.

6.3. Personalidade e divindade do Espírito Santo


Faz muita diferença se cremos na divindade do Espírito Santo ou não,
pois o Espírito Santo é a Pessoa que faz com que tenhamos comunhão e um
relacionamento profundo com toda a Trindade. Ele nos socorre em todos os
momentos e também nos dá poder para o Seu serviço.

6.3.1. Personalidade do Espírito Santo


6.3.1.1. Nomes próprios referentes ao Espírito Santo
Ele é o Consolador ou “outro Consolador” (Jo 14.16). Ele é o nosso
Advogado em 1 João 2.1. Ele é o Espírito da Verdade: “Quando vier, porém, o
Espírito da Verdade, ele vos guiará a toda a verdade. Porque não falará por si
mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas que hão de
vir. Ele me glorificará porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de
anunciar. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso é que vos disse que há de
receber do que é meu e vo-lo há de anunciar.” (Jo 16.13-15).

6.3.1.2. Atos Pessoais adscritos ao Espírito Santo


É-nos relatado que o Espírito Santo ensina, há de vir, reprova, guia, fala,
ouve, mostra, toma e recebe.63 Que Ele ensina e manda, vemos em João 14;21
e Atos 8.29. Ele é o agente na regeneração (Jo 3.6) e na nossa inteira
santificação (2 Ts 2.13).

6.3.1.3. O Espírito Santo recebe tratamento pessoal


Os seres humanos podem se rebelar contra o Espirito Santo: “Mas eles
foram rebeldes e contristaram o seu Espírito Santo pelo que se lhes tornou

63 63
WILEY; CULBERTSON, 2013, p. 132.
47

inimigo” (Is 63.10); “Então disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu
coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando para do valor do
campo? (At 5.3). Os seres humanos podem blasfemar contra o Espírito santo:
Todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens; mas a blasfêmia
contra o Espírito não será perdoada (Mt 12.31). Não é possível os seres
humanos mentirem e rebelarem-se contra uma força impessoal. Isto somente
se refere a uma pessoa.64

6.3.2. Divindade do Espírito Santo


Ao Espírito Santo são atribuídos o nome de Deus, Seus atributos e Suas
obras. A eternidade é um atributo divino ao Espírito Santo: “Muito mais o
sangue de Cristo que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem
mácula a Deus, purificará a nossa consciência do obras mortas para servirmos
ao Deus vivo!” (Hb 9.14). A onipotência é atribuída ao Espírito Santo: “Por força
de sinais e prodígios, pelo poder do Espírito Santo (Rm 15.19). Ele possui
onipresença: “Para onde irei me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei
da tua face? (Sl 139.7). Ele também possui onisciência: “O Espírito a todas as
coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque, qual dos
homens sabe as coisas do homem, senão o seu espírito que nele está? Assim
também as coisas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus (1
Co 2.10-11).
Pedro refere-se ao Espírito Santo como Deus no caso de Ananias e
Safira: “Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao
Espírito Santo, reservando parte do valor do campo?... Não mentiste aos
homens, mas a Deus” (At 5.3-4).
Podemos ver na bênção apostólica a Trindade sendo mencionada e o
Espírito Santo sendo mencionado como parte da Trindade: “A graça do Senhor
Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com
todos vós” (2 Co 13.13).
A criação e a conservação são atribuídas ao Espírito Santo (Gn 1.2-3; Sl
104.29-30; Jó 33.4); Ele convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo

64
Ibid, p. 132.
48

16:8-11); Ele guia e ensina todos os crentes sinceros (Jo 16.13; 1 Co 2.9-15),
dentre outras atribuições divinas a Ele.

6.4. Teorias antitrinitárias


Veremos duas doutrinas antitrinitárias que são bem conhecidas
nos nossos dias, mas que são bem antigas na história da Igreja. Elas vêm
do monarquianismo, que afirma que Deus é somente uma pessoa.
Veremos acerca do sabelianismo e arianismo.65

6.4.1. Sabelianismo
Deriva de Sabélio (250-260), que propagava não existir três Pessoas,
mas sim somente uma Pessoa na Divindade. É também chamado de
modalismo, pois, como veremos, são três modos de manifestação de Deus,
segundo este pensamento.66A questão é que Deus manifesta-se por meio de
três formas, a saber, como Pai na criação; como Filho na encarnação; e como
Espírito na vida rotineira da Igreja. Não é uma Trindade, mas sim três formas
de manifestações divinas. Como já vimos, cada Pessoa da Trindade tem sua
personalidade. No batismo de Jesus vemos claramente não somente a
manifestação, mas sim a atuação das três Pessoas da Santíssima Trindade na
cena em questão.
Nos dias de hoje, essa doutrina é encontrada em algumas igrejas, como
a Igreja Pentecostal Unida e o Ministério Voz da Verdade. Esta doutrina é
chamada não somente como sabelianismo ou modalismo, mas também de
unicismo.

6.4.2. Arianismo
Ário (256-336) deu origem a este pensamento herético que leva o seu
nome. Esta doutrina foi uma rival muito grande contra o cristianismo ortodoxo.
Ário entendia que Cristo é a criatura mais perfeita que existe, mas nunca,
jamais, pode ser atribuída a Ele a divindade. O Filho, portanto, era uma criatura
diferente da essência do Pai. Ele era como Deus , e não Deus propriamente

65
Ibid, p. 135.
66
GEISLER, 2010, p. 804.
49

dito. Esta doutrina é totalmente equivocada, não encontrando respaldo algum


nas Sagradas Escrituras. Como já vimos, Jesus é Deus (Jo 20.28; Rm 9.5).
As testemunhas de Jeová, nos dias de hoje, são quem propagam
com mais ênfase esta heresia ariana, também chamada de unitarianismo.
Esta doutrina é mais grave que o unicismo visto anteriormente.
50

CONCLUSÃO
Recomendamos que os estudos acerca da bibliologia e da teontologia
não parem por aqui. Estudar constantemente não somente é o ideal para
apreender o que foi estudado, mas também tornará mais fácil a explicação
sobre estes assuntos.
É nossa gratidão vermos o aluno e a aluna buscando sempre
interessarem-se pelo conhecimento acerca de tudo o que foi revelado da parte
de Deus. Os livros utilizados para a produção deste livro é altamente
recomendável para aprofundar-se nos estudos.
51

BIBLIOGRAFIA

BRUCE, F. F. O Cânon das Escrituras – Como os Livros da Bíblia Vieram a


ser Reconhecidos como Escrituras Sagradas? São Paulo: Hagnos, 2011.

COLLINS, Kenneth. Teologia de John Wesley – O Amor Santo e a Forma da


Graça. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

COTTRELL, Jack. Fundamentos da Fé: Sete Crenças Essenciais da Fé


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Teologia Sistemática I -
Escrituras / Doutrina de
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