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Palavras 11

5.º Teste - 11.º ano abril

Grupo I (100 pontos)


Educação Literária

A (60 pontos)

Lê o texto e consulta as notas apresentadas.

Acordando

Em sonho, às vezes, se o sonhar quebranta1


Este meu vão2 sofrer, esta agonia3,
Como sobe cantando a cotovia4,
Para o céu a minh'alma sobe e canta.

Canta a luz, a alvorada, a estrela santa,


Que ao mundo traz piedosa mais um dia...
Canta o enlevo5 das cousas, a alegria
Que as penetra de amor e as alevanta...

Mas, de repente, um vento húmido e frio


Sopra sobre o meu sonho: um calafrio6
Me acorda. ‒ A noite é negra e muda: a dor

Cá vela, como d'antes, ao meu lado...


Os meus cantos de luz, anjo adorado,
São sonho só, e sonho o meu amor!
Antero de Quental, Sonetos, Lisboa: IN-CM, 2002, p. 100.

1. Divide o texto em partes, tendo em conta a oposição sonho/realidade, justificando.


2. Explica a utilização do gerúndio no título do poema.
3. Explicita o sentido dos dois últimos versos do poema.

1
perturba.
2
sem valor.
3
sofrimento.
4
ave canora.
5
encanto.
6
arrepio.

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B (40 pontos)
4. Em Os Maias, durante o jantar no Hotel Central, Ega e Alencar envolvem-se
numa discussão sobre literatura e crítica literária.
Numa exposição (130-170 palavras), analisa o modo como, nesse episódio, se
manifesta a oposição entre as personagens referidas, identificando a corrente
literária que cada uma delas representa.

Grupo II (50 pontos)

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.


Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção
escolhida.

Leitura | Gramática
João Botelho adaptou Os Maias, de Eça de Queirós, possivelmente o mais
estudado e um dos mais lidos romances portugueses de todos os tempos, publicado em
1888 e que mantém uma contemporaneidade perturbante. (…)
Por respeito ou por pudor, João Botelho, que também foi o argumentista, não
5 mudou nem acrescentou uma única palavra ao texto. É uma adaptação literal e literária,
que ilustra o livro e dá prevalência à escrita. A experiência cinematográfica aproxima-
se da experiência de leitura. “Os textos literários são matéria de cinema, desde que sejam
respeitados. Não se pode violar o texto do Eça, tem que se adaptar de um modo abstrato
10 e que ao mesmo tempo seja inquietante. É uma coisa para dizer: isto somos nós.”
Claro que, se em nome desse ‘respeito’ não foi acrescentada uma palavra,
também é verdade que inevitavelmente foram cortadas milhares. (…)
Apesar da extrema fidelidade ao texto, para beneficiar a narrativa, o cineasta fez
uma alteração significativa, evitando a analepse, na primeira parte da história: “Retirei
15 o flashback e pus por ordem, para ser menos complexo.” Para acentuar a ideia de
espaços temporais distintos, toda essa primeira parte, da história de Pedro da Maia, é
filmada a preto e branco, transmitindo-nos a imagem de passado remoto, centrando
assim a história em Carlos da Maia, o seu meio e, claro, Maria Eduarda.” (…)
Os Maias, segundo João Botelho, são Os Maias segundo Eça de Queirós, passa
20 com distinção no teste da fidelidade, assumindo uma perspetiva radicalmente diferente
da de outros realizadores, como por exemplo Mário Barroso, que fez uma adaptação
livre de Amor de Perdição, de Camilo, trazendo-o para um novo contexto, querendo de
alguma forma demonstrar que as histórias trágicas de amor sem limites ultrapassam os
tempos. Em Botelho, não temos apenas o Eça em espírito, temos o Eça letra por letra,
25 sendo que, por ser tão maravilhoso e perspicaz, a pertinência do romance nunca caduca.
Foi precisamente esse lado atual e político que o atraiu: “Quantos Eusebiozinhos,
banqueiros Cohen, condes Gouvarinho há por aí? Adoro aquela frase: ‘Para que servem
os governos? Contrair empréstimos e cobrar impostos’. Está tudo lá. O comportamento
português, a intriga e ao mesmo tempo a comédia, parece tudo muito sério, mas depois
30 não é. (…)”

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João Botelho fez um filme sobre o seu mundo, apesar de viajar até ao século
XIX: “Era incapaz de fazer uma comédia espanhola ou um policial francês, mas aqui
sei. Sei o que é a poesia e a prosa. Eu estou em Portugal e sempre fiz filmes sobre
Portugal, mesmo quando adaptei O Fatalista ou Tempos Difíceis. É tentar falar sobre o
35 que sei: o que é isto? Para onde vamos? Que raio de país é este tão pequenino,
desgraçado, mesquinho, mas com coisas tão fantásticas?”
Manuel Halpern, Jornal de Letras, 3 a 16 de setembro de 2014, pp. 8-11. (adaptado)

1. A expressão “adaptação literal e literária” (l. 5) significa


(A) adaptação excessiva.
(B) adaptação redundante.
(C) adaptação credível.
(D) adaptação rigorosa.

2. A filmagem de certas cenas a preto e branco confere


(A) antiguidade ao filme.
(B) centralidade a outras personagens.
(C) simplicidade ao filme.
(D) verosimilhança às cenas.

3. As interrogações do quinto parágrafo


(A) provam a atualidade da obra.
(B) transmitem a opinião do realizador.
(C) sugerem a imutabilidade do romance.
(D) inquietam o leitor do romance.

4. A utilização de aspas
(A) corresponde a citações de Os Maias.
(B) expressa emoções de João Botelho.
(C) apresenta falas de João Botelho.
(D) destaca réplicas de personagens de Os Maias.

5. As expressões/palavras “João Botelho” (ll. 1, 4, 18, 30), “o argumentista” (l. 4),


“o cineasta” (l. 12) e “Botelho” (l. 23) contribuem para a
(A) coesão frásica.
(B) coesão referencial.
(C) coesão lexical.
(D) coesão interfrásica.

6. A oração “que também foi o argumentista” (l. 4) é


(A) subordinada adjetiva relativa restritiva.
(B) subordinada adjetiva relativa explicativa.

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(C) subordinada substantiva completiva.


(D) subordinada substantiva relativa.

7. A oração subordinada na frase “é verdade que inevitavelmente foram cortadas


milhares” (l. 11) desempenha a função sintática de
(A) sujeito.
(B) complemento direto.
(C) predicativo do sujeito
(D) complemento Oblíquo.

8. Divide e classifica as orações da frase “Por respeito ou por pudor, João Botelho,
que também foi o argumentista, não mudou nem acrescentou uma única palavra ao
texto” (ll. 4-5).
9. Indica o referente do pronome pessoal em “trazendo-o para um novo contexto,” (l.
21).
10. Indica a função sintática da expressão sublinhada em “não foi acrescentada uma
palavra” (l. 10).

Grupo III (50 pontos)


Escrita

A obsessão com a imagem e a veneração de tudo o que vem do estrangeiro são vícios
sociais duramente criticados por Eça de Queirós, principalmente através da personagem
Dâmaso Salcede.

Tendo em conta a surpreendente atualidade da crítica queirosiana, apresenta, num


texto bem estruturado, de 180 a 220 palavras, uma reflexão sobre a imitação acrítica do
estrangeiro, na sociedade portuguesa dos nossos dias.

Fundamenta o teu ponto de vista com dois argumentos e com, pelo menos, um exemplo
concreto e significativo para cada um.

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