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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

ESCOLA DE MUSEOLOGIA

JULIANA CRISTINA FACRE

RIO DE JANEIRO, PAISAGENS CARIOCAS ENTRE A MONTANHA E O MAR


Jardim Botânico; Passeio Público; Parque do Flamengo; Orla de Cobacabana

DISCIPLINA: Patrimônio Natural


DOCENTE: Profa Deusana Maria da Costa Machado
Rio de Janeiro
1 de Maio de 2018

1 – LOCALIZAÇÃO DO MONUMENTO

Os espaços em questão no presente trabalho, que foram classificados no


dossiê de candidatura como “paisagens desenhadas intencionalmente”, estão situados
desde a Zona Sul (Jardim Botânico, Orla de Copacabana e Parque do Flamengo) até
o bairro da Lapa (Passeio Público), enquanto que toda a Paisagem Cultural da Cidade
do Rio de Janeiro está localizada desde a Zona Sul do Rio de Janeiro até a região
oeste da cidade de Niterói.

Figura 1 – Área de abrangência do patrimônio. Disponível em: <http://www.rio.rj.gov.br/web/irph/sitio-


unesco/>. Acesso em 01 de maio de 2018.

2. CONCEITOS E DEFINIÇÕES

A - RELAÇÃO SER HUMANO/NATUREZA E OS CONCEITOS DE NATUREZA E


PAISAGEM EXISTENTES NO PATRIMÔNIO ESTUDADO.
A relação ser humano/natureza se dá dentro de uma realidade concreta a qual
ambos fazem parte e revela o potencial transformador do homem diante dos objetos
que integram a sua cotidianidade. Essa práxis cotidiana ocorre de acordo com as
condições históricas e situações de classe existentes, e teve seu início com o homem
nômade primitivo. Neste período, a relação humano/natureza ocorria de acordo com o
ritmo dado pela natureza, então coletava-se apenas o que era disponibilizado, por isso
não havia bipartições entre o que era mundo natural e mundo social. Diante do
território a ser estudado no presente trabalho, poderemos ver como essa relação
humano/natureza ocorreu de diversas formas.
O domínio sobre a natureza se inicia quando os povos começam a se fixar em
determinados territórios, que é quando começam a surgir as diferenças sociais e os
“senhores da magia”. Nessa forma de interação não eram criados mundos distintos
entre o que é “natural” e “social”, pois ainda não existiam formas de mercadoria, ou
seja, não havia produtos sociais que pudesse definir esses povos como sociedade,
então só havia a natureza ou a supernatureza. Essa forma de relação ser
humano/natureza, que se enquadraria na relação dos indígenas com a natureza, não
pode mais ser vistos in situ no patrimônio aqui estudado, apenas em representações
sobre o conhecimento desses povos caçadores e coletores que estão presentes no
acervo do Jardim Botânico.

O abandono pelas comunidades do estado selvagem está relacionado à


mudança na forma de produção, que nesse novo estágio inicia uma busca por
excedentes na produção tendo em vista a geração de rendimentos. Esta forma
desenvolvida de produção acabou dando origem à forma de especialidade de
“privilegiados da sociedade”, que seriam espécies de intermediários entre o mundo
dos homens e o mundo sobrenatural, o que daria origem à sociedade de classes. Essa
distância social entre homens possibilitou o desenvolvimento de pensamentos a
respeito da natureza e da sociedade, o que permitiu que fossem percebidas diferenças
entre o homem e as “coisas naturais”. Esse conceito que determina a dicotomia entre
ser humano e natureza teria tido origem na Grécia, e corresponde ao início da
Filosofia, no século IV a.C, quando ocorre a separação entre “mundo da natureza” e
“mundo da sociedade”, visão esta que perdurou até à Idade Média (sociedade feudal).
Nesta época, o cristianismo pregava a ideia do ser humano como imagem e
semelhança de Deus, o que excluía os demais elementos da natureza.

Podemos ver essa relação natureza x sociedade quando nos deparamos com o
dossiê de candidatura do Rio de Janeiro à patrimônio mundial promovido pelo Iphan,
no qual é endossado diversas vezes essa dicotomia entre natureza e meio urbano,
que é utilizada como justificativa à promoção da cidade como patrimônio mundial
devido a essa “singularidade”, discurso este que também é absorvido pela UNESCO.

Na Renascença era promovida uma concepção da natureza como sendo esta


uma criação divina, mas esse conceito estava repleto de influência da cultura greco-
romana por conta do redescobrimento da Antiguidade. A natureza já não era mais
vista como algo externo do homem, mas como a própria força que formava sua
individualidade. No século XV ocorre um maior desenvolvimento técnico capaz de
promover apropriações e modificações da natureza, o que propicia um distanciamento
maior entre o homem e o mundo natural. Neste período surge o conceito de paisagem
sob a forma de landskip (Países Baixos), e os quadros começam a apresentar
pedaços da natureza a partir de uma noção de enquadramento.

Quanto à esse conceito de paisagem, que surgiu no século XV, parece-nos


evidente que ainda é bastante utilizado no patrimônio em questão, pois basta uma
breve busca sobre uma imagem que defina o Rio de Janeiro para que a cidade já seja
associada à sua paisagem, e esta se inclui em grande parte nos locais aqui
estudados.
Figura 2 – Praia do Flamengo. Disponível em: <https://viagemeturismo.abril.com.br/atracao/praia-do-
flamengo/>

No século XVII ocorre a Revolução Científica, quando nasce um espírito crítico


forte por parte de uma elite intelectual em relação à fenômenos anteriormente
atribuídos a uma origem oculta. O filósofo Francis Bacon através de seu método
indutivo deu à natureza um caráter de objeto de investigação e, segundo ele, só seria
possível a criação de novos conhecimentos através da observação, investigação e
experimentação.

Com o fim do período feudal, a burguesia, que tinha como principal forma de
produção de riqueza o comércio, viu-se fortalecida. A imensa quantidade de recursos
extraída do “Novo Mundo” (séculos XV, XVI e XVII) serviu para estabilizar o
capitalismo como principal método de produção. Com a Revolução Industrial, ocorrida
no século XVIII, é que este sistema finalmente se consolidou. A relação do ser-
humano com a natureza nesse momento já não busca mais por uma reconciliação
com esta última, mas tenta atingir uma forma de dominá-la: procura-se extrair ao
máximo recursos que servirão para a produção de mercadorias.

Os novos filósofos nascidos nesse contexto procuravam definir a natureza de


acordo com as exigências dos setores dominantes da época e combinaram pela
primeira vez a linguagem matemática com experimentações científicas, e tinham como
objetivo em suas descobertas reduzir a natureza para que ela pudesse servir ao
homem em suas necessidades. Esse processo de redução da natureza, que
procurava esmiuçar suas diversas partes (método cartesiano) se tornou sinônimo de
método científico nesta época, mas mesmo nos dias atuais este método ainda é muito
utilizado na produção de conhecimento científico (separação, hierarquização de fatos,
dedução e comprovação de hipóteses) (CARVALHO, 1994, p. 48)
Encontra-se essa relação de domínio sobre a natureza em praticamente toda
extensão da paisagem em questão. O Passeio Público configura esta ideia de
“natureza domesticada”, com suas plantas dispostas de forma delimitada, obedecendo
a certos padrões. A Orla de Copacabana e o Parque do Flamengo também
demonstram essa situação de “submissão” da natureza diante do homem, quando
suas faixas de água tiveram que se submeter às necessidade de expansão da
sociedade, que ergueu suas construções sobre o que antes era mar. O Jardim
Botânico, assim como o Passeio Público, também possui essa idéia de domínio
através da domesticação das espécies vegetais, mas, além disso, também oferecia
um espaço para pesquisas visando contribuir no desenvolvimento da agricultura
colonial ao introduzir novas espécies, exóticas ou nativas, e novas técnicas de plantio
que visavam o aumento da produção de mercadorias.1

A partir da Revolução Industrial a paisagem também ganhou um significado


científico, quando passa a ser dividida em paisagem natural e paisagem cultural. Essa
diferenciação entre tipos de paisagens ainda hoje é incorporada pela UNESCO e
carrega a idéia da dicotomia natural-cultural.

Durante a Fase Industrial do capitalismo, ocorrida principalmente no século


XIX, aparece a Teoria da Evolução, quando a natureza não é mais percebida como
uma forma mecânica e tudo no mundo orgânico e no inorgânico passa a ser visto do
ponto de vista evolutivo, onde apenas os mais aptos sobrevivem. Esta definição é
deturpada por Spencer, que afirma que a evolução caminha apenas para o progresso,
onde os mais fortes sobrevivem, o que possibilitou, em nome do progresso, o domínio
do mundo da sociedade sobre o mundo natural.

Este conceito de "evolução" estava carregado de soluções simplistas acerca


da relação homem-natureza e das desigualdades entre seres humanos, o qual se
atribuía à natureza a culpa das mazelas da sociedade, se tornando terreno ideal para
que a burguesia pudesse sustentar a sua práxis imediata, baseada em novas
verdades que se localizavam acima dos fenômenos, longe da totalidade que se
constrói com a dinâmica de totalidades relativas. Assim, a Teoria da Evolução se
tornou um fôlego novo aos ideais burgueses, pois nela encontrou justificativas para se
viver na sociedade de mercado onde apenas os “mais evoluídos” prosperam e a
miséria pode ser justificada utilizando como argumento a “implacável lei da natureza”.

Esse conceito sobre a natureza pode ser visto ao analisarmos toda a


constituição da sociedade na qual está fundada a cidade, pois basicamente foi erguida
por negros que forçadamente foram trazidos para a região sob o argumento de que a
escravidão nada mais era do a natureza aplicando sua lei do mais forte. Se tratando
do patrimônio em questão, sabe-se que no Jardim Botânico há muitas referências a
esse período de escravidão, como a presença de construções que remetem à época,
como a Fábrica de Pilões e as ruínas da Fábrica de Pólvora, que se constituem como
sítios arqueológicos, mas que no dossiê de candidatura não há nenhuma menção a

1
BEDIAGA, B.; LIMA, H.C.; MORIM, M.P. ; BARROS, C.F. Da aclimatação à conservação:
as atividades científicas durante dois séculos. In: Jardim Botânico do Rio de
Janeiro: 1808 – 2008. Organizado por Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de
Janeiro, 2008, p. 86.
esses locais. Na verdade o Dossiê de candidatura em nenhum momento dá relevância
a esses povos na construção da cidade.

No início do século XX passa a ser construída uma definição que permite unir o
“mundo dos homens” com o “mundo da natureza”. Nas duas primeiras décadas do
século XX o conceito de paisagem estava atrelado à herança do naturalismo, e só a
partir da década de 40 é que este conceito passa a adquirir uma abordagem sistêmica.
O conceito de paisagem cultural defendido pela UNESCO pode ser entendido a partir
dessa abordagem, ao se analisar a paisagem como um conjunto espacial composto de
elementos materiais que obedecem à morfologia e dinâmica do território e que
interagem com aspectos locais construídos socialmente, e a aplicação desse conceito
na cidade do Rio de Janeiro pode ser visto no seu dossiê de candidatura à patrimônio:

A cidade do Rio de Janeiro esteve ao longo de sua formação e


desenvolvimento em íntima interação com a natureza,
desenhando os contornos de uma paisagem cultural urbana
exemplar. Paralelamente, os modos de construir e de viver na
cidade consolidaram, ao longo dos últimos séculos, união
indissociável entre natureza e espaço urbano. Os contornos da
paisagem orientaram a delimitação de um sítio exemplar e
paradigmático, onde a interrelação entre a cidade edificada e a
natureza foi retratada por meio dos aspectos histórico,
funcional, social e urbanístico de seus elementos
estruturadores. (IPHAN, p. 46)

B – RELAÇÕES ENTRE GEO/BIODIVERSIDADE E CULTURA ENCONTRADAS NO


PATRIMÔNIO ESTUDADO.
No Jardim Botânico podemos ver predominantemente a relação entre
biodiversidade e cultura através do cultivo de espécimes encontrados no local, que
consistem tanto em plantas nativas quanto em plantas trazidas de outros locais. Essa
relação se iniciou com o objetivo de estudo, tendo em vista a necessidade de ampliar
o conhecimento sobre a agricultura para que a produção de mercadoria pudesse ser
intensificada, mas essa relação também se realizava no sentido de fruição estética e
lazer, pois o espaço desde o início foi utilizado como área de passeio e divertimento.
Nos dias atuais ainda são realizadas no local pesquisas científicas relacionadas à área
de Botânica, tais como taxonomia, anatomia, morfologia, fisiologia, biogeografia,
fitogeografia, ecologia e conservação. A instituição também oferece estudo sobre
história da ciência, fitopatologia e outros temas associados a jardins botânicos. E
quanto à fruição estética e lazer, qualquer visita à instituição já demonstra como esta
continua sendo utilizada para esses fins, dada a quantidade de fotografias que são
tiradas no local e de famílias que recorrem ao espaço como forma de recreação.

A relação entre cultura e geodiversidade pode ser encontrada no espaço até


mesmo antes da fundação da instituição, no qual estava fundada a Real Fábrica de
Pólvoras – desativada em 1831 – cujo prédio ainda pode ser visto na área que
abrange o Jardim Botânico e que hoje funciona como um sítio arqueológico.

Na Orla de Copacabana essa relação entre biodiversidade e cultura pode ser


vista na pesca e na interação de banhistas com as conchas na areia, produtos dessa
biodiversidade. A relação entre geodiversidade e cultura pode ser vista em todo o
processo de desenvolvimento da região, onde foi necessário aterramento para o
alargamento da avenida que se encontra paralela à praia. Essa relação pode ser vista
na construção do Museu Naval, situada sobre formações rochosas que beiram o mar,
que no início servia a interesses militares, e que nos dias atuais funcionam como um
espaço de lazer e fruição estética graças à vista privilegiada que o local oferece. Esse
conceito de vista privilegiada também é explorado pelos apartamentos que oferecem a
melhor visão da paisagem, que cobram preços exorbitantes pela vista oferecida.
Também pode ser observada essa interação na relação dos banhistas com o mar, que
possui fins recreativos, e na relação entre vendedores (tanto ambulantes, quanto fixos
em barracas) e a areia da praia, com fins econômicos.

No Parque do Flamengo podemos ver essa relação biodiversidade/cultura na


interação das pessoas com as árvores, quando se aproveitam de suas sombras para
fazer piqueniques nos finais de semana. A relação entre geodiversidade/cultura pode
ser vista no processo de construção da área, quando foi necessário o aterramento de
grande faixa de água para que o parque pudesse ser estabelecido; pode ser vista na
fruição estética de quem registra em fotografia a paisagem do local, desenhado pelo
paisagista Burle Marx e que contempla a visão de todo o complexo do Pão de Açúcar,
e na interação entre barcos e o mar, que possui interesses recreativos ou econômicos.
A interação com sentido de fruição estética, da vista para o mar de certos
apartamentos, e a exploração da visão dessa paisagem no sentido econômico, assim
como ocorre em Copacabana, também pode ser visto neste local e pode ser vista
como uma relação entre biodiversidade (área verde), geodiversidade (morros e mar) e
cultura.

A relação biodiversidade/cultura ocorrida no Passeio Público pode ser vista a


partir convivência entre as variadas espécies de flora com as obras de arte do Mestre
Valentin e a interação destas com os visitantes, que possuem como objetivo tanto a
fruição estética, quanto utilizar o local como espaço de recreação.

D – Conceitos de Patrimônio

Apesar do conceito de Patrimônio ter sofrido diversas alterações desde sua


origem, ainda existem certas ideias sobre este conceito que permanecem nos dias
atuais. A palavra patrimônio pode ser vista pela primeira vez em Roma, e remete a
algo que pode ser herdado ou passado para as novas gerações, conceito esse que
ainda cabe nas definições atuais sobre patrimônio. Posteriormente os diversos
períodos históricos passaram a desenvolver seus próprios conceitos que puderam
modificar a noção de patrimônio ao longo do tempo.

No patrimônio em questão ainda são aplicados a noção de que há nele uma


continuidade a ser preservada, assim como na Idade Média, e suas características
ainda podem ser vistas a partir de uma perspectiva artística - na medida em que são
enfatizados nesses locais a técnica artística aplicada no paisagismo do Parque do
Flamengo e no calçadão de Copacabana, ambos de Burle Marx, e nas esculturas de
Mestre Valentim – e a partir de uma perspectiva histórica, quando nos deparamos com
a ênfase dada ao Jardim Botânico e ao Passeio Público quanto ao contexto histórico
no qual estavam inseridos, época em que imperava os interesses naturalistas.

Os ideais de preservação, valoração e institucionalização do Estado, originados


da Revolução Francesa, podem ser vistos no patrimônio em questão na medida em
que eles contribuem na defesa da existência de um imaginário nacional a partir das
característica de sua geo/biodiversidade que, em consonância com o povo que habita
esta cidade, permite uma conceituação que invoque sua diferenciação em relação aos
demais lugares do mundo. Esse ideário sobre identidade pode ser visto no dossiê de
candidatura da cidade do Rio de Janeiro:

[..] Mais do que usos, há na cidade do Rio de Janeiro uma


singularidade dos processos sociais2 que deram origem à forma e vice
e versa. Os usos sociais das ruas, os espaços à beira mar, a orla da
lagoa, os parques e as praças promovem encontros entre mar, floresta
e cidade, entre morro e asfalto, moldando ativamente a paisagem
cultural. (IPHAN, p. 21)3

A partir da Revolução Industrial, por conta do processo de industrialização,


passa a existir uma separação entre a história das sociedades e o seu meio ambiente
e, a partir dessa nova noção de cidade industrializada, surge o sentimento de nostalgia
e saudosismo característicos do Romantismo, e o monumento histórico toma o lugar
de refúgio contra a modernidade. Dentro desse contexto ocorre a separação entre
Patrimônio Natural e Patrimônio Cultural. No contexto do patrimônio aqui estudado
pode ser observada essa dicotomia entre natureza e cultura a partir dessa
conceituação formulada no dossiê de candidatura da cidade do Rio de Janeiro:

[O conceito de] Paisagem Cultural Brasileira fundamenta-se na


Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,
segundo a qual o patrimônio cultural é formado por bens de
natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em
conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à
memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem as formas de expressão, os
modos de criar, fazer e viver, as criações científicas, artísticas e
tecnológicas, as obras, objetos, documentos, edificações e
demais espaços destinados às manifestações artístico-
culturais, os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico,
paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e
científico; que os fenômenos contemporâneos de expansão
2
Negrito do aluno.
3
IPHAN. Dossiê de Candidatura do Rio de Janeiro à Lista de Patrimônio da Humanidade. Rio de Janeiro:
paisagens cariocas entre a Montanha e o Mar. 2012.
urbana, globalização e massificação das paisagens
urbanas e rurais colocam em risco contextos de vida e
tradições locais em todo o planeta.4 (IPHAN, p. 48)

Ou seja, essa conceituação compartilha com os ideais românticos a noção de


que patrimônio deve agir como um refúgio contra essa expansão urbana, a qual
assume lugar de oposição contra o que é “natural” ou “tradicional”.

O conceito de patrimônio integral, desenvolvido a partir de discussões em torno


do tema patrimônio que ocorreram no século XX, fala sobre o “conjunto de todos os
bens naturais ou criados pelo homem, sem limite de tempo ou de lugar” (SCHEINER,
2004 - BRULON, 2008, p.60), ou seja, o patrimônio passa a ser constituído através da
fusão entre o intangível e o material. Analisando o patrimônio em questão podemos
ver como este se constitui por esses dois elementos, como no caso do Jardim
Botânico, onde enfatizadas as relações do Jardim Botânico com a cidade e a sua
organização para a proteção de seus aspectos científicos e histórico-culturais
(intangíveis) e de seus aspectos naturais, paisagísticos e arqueológicos (materiais).

CONCLUSÕES

Promover uma relação entre os conceitos de patrimônio desenvolvidos ao


longo da história com o patrimônio em questão nos permitiu observar sobre como as
transformações sobre determinado conceito emergem de acordo com as condições
históricas de determinado período. A expressão teórica, que neste caso abarca o
conceito de patrimônio, se evidencia como uma resposta do homem a uma realidade
social imediatamente colocada diante de si e, por isso, deve-se considerar que a
conceituação do Rio de Janeiro como Patrimônio Cultural também se constitui como
uma resposta diante de uma realidade dada até então: fortalece-se o conceito de
identidade territorial ao se insistir no discurso de conciliação e harmonização entre os
objetos deste patrimônio, negando a situação de conflito e as contradições existentes,
o que parece ser conveniente à estratégia de legitimação institucional.

BIBLIOGRAFIA

BEDIAGA, B.; LIMA, H.C.; MORIM, M.P. ; BARROS, C.F. Da aclimatação à


conservação: as atividades científicas durante dois séculos. In: Jardim Botânico
do Rio de Janeiro: 1808 – 2008. Organizado por Instituto de Pesquisas Jardim
Botânico do Rio de Janeiro, 2008, p. 86.

CARVALHO, Marcos do. O que é natureza. São Paulo: Editora Braziliense..

IPHAN. Dossiê de Candidatura do Rio de Janeiro à Lista de Patrimônio da


Humanidade. Rio de Janeiro: paisagens cariocas entre a Montanha e o Mar.
2012.

4
Negrito do aluno.
MACHADO, Deusana. Desenvolvimento do Conceito de Patrimônio. Material dado como
conteúdo da disciplina Patrimônio Natural na Escola de Museologia, UNIRIO.

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