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A hora do jogo diagnóstica: Constitui um recurso ou instrumento técnico que


o psicólogo utiliza dentro do processo psicodiagnóstico com a finalidade de conhecer a
realidade da criança que foi trazida à consulta.
A atividade lúdica é a sua forma de expressão própria, então, trata-se de
instrumentalizar suas possibilidades comunicacionais para depois conceituar a
realidade que nos apresenta.
Ao oferecer um contexto particular, com enquadramento dado que inclui tempo,
espaço, explicitação de papéis e finalidade, cria-se um campo estruturado em função
das variáveis internas de sua personalidade, assim, expressa somente um segmento
de seu repertório de condutas, reatualizando no aqui e agora um conjunto de fantasias
e relações de objeto que irão se sobrepor ao campo de estimulo, por isso, recorre-se a
outros instrumentos e métodos de investigação.
A hora de jogo diagnóstica engloba um processo que tem começo,
desenvolvimento e fim em si mesmo, opera como uma unidade e deve ser interpretada
como tal. A hora de jogo terapêutica é um elo a mais em um amplo continuum no qual
novos aspectos e modificações estruturais vão surgindo pela intervenção do terapeuta.
Existe muita semelhança com uma entrevista diagnostica livre do adulto, mas
as diferenças são:
Em uma, a fantasia é mediada pelas verbalizações, na atividade lúdica o
mediador é, predominantemente, o brinquedo oferecido que expressa o que a criança
está vivenciando no momento. Na verbalização a fantasia aparece depurada pela
maior influência do processo secundário; a localização temporal da fantasia expressa
através da linguagem, do uso apropriado dos verbos e das leis do pensamento logico-
formal torna-se mais clara. No brincar, há uma comunicação de tipo espacial na qual
são incluídos mais elementos do processo primário através de princípios como os de
condensação, atemporalidade e deslocamentos, atuados no próprio brincar.
A hora de jogo diagnóstica é precedida das entrevistas realizadas com os pais,
é necessário, reformular para a criança, em um primeiro contato, instruções de forma
clara e precisa. Cada hora de jogo diagnóstica significa uma experiência nova, tanto
para o entrevistar como para o entrevistado, isto implica o estabelecimento de um
vínculo transferencial breve cujo objetivo é o conhecimento e a compreensão da
criança.
Sala de jogo e materiais: Os aspectos formais da hora de jogo diagnóstica
interferem no conteúdo da mesma, já que o enquadramento e as condições do âmbito
de trabalho configuram uma Gestalt que responde a nosso marco referencial teórico.
A sala de jogo será um quarto não muito pequeno, com mobiliário escasso a
fim de possibilitar liberdade de movimentos à criança. É preferível que as paredes e o
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chão sejam laváveis, o que permitirá que o entrevistador não se preocupe com a
conservação do local de trabalho. É conveniente oferecer a possibilidade de brincar
com água, se desejar, permitindo-lhe fácil acesso a mesma. Os elementos devem
estar expostos sobre a mesa, ao lado da caixa aberta. Convém que estejam
distribuídas sem corresponder a nenhum agrupamento de classes, dando a
possibilidade de ordenação que corresponda às suas variáveis internas, em função de
suas fantasias e/ou nível de desenvolvimento intelectual. Deve-se evitar um panorama
caótico através de um amontoamento indiscriminado de brinquedos.
A caixa deve estar presente, pois pode funcionar como um elemento lúdico a
mais e será o continente depositário da produção que o entrevistado deseje deixar ao
final da hora. A apresentação dos brinquedos sobre a mesa evita o incremento da
ansiedade persecutória que pode surgir no primeiro contato. Com relação aos
brinquedos a serem incluídos, há diversas modalidades que corresponde ao marco
teórico adotado pelo entrevistador. No caso, aderimos materiais de tipos diferentes,
tanto estruturados quanto não estruturados, possibilitando a expressão, sem que a
experiência se torne invasora. (tesoura, papel, lápis preto/colorido, lápis de cera,
massa de modelar, borracha, cola, apontador, famílias de animais
selvagens/domésticos, etc)
É importante que o material seja de boa qualidade para evitar fáceis estragos,
situação que pode criar culpa na criança e fazê-la sentir que o entrevistador pode ser
facilmente destruído por seus impulsos agressivos, os quais ela tem pouca capacidade
para conter e manipular.
Instruções: O psicólogo deve manifestar, de forma breve e numa linguagem
compreensível, uma série de informações que configuram as instruções – definição de
papéis, do tempo e do espaço, material a ser utilizado, objetivos esperados.
Papel do psicólogo: Um papel passivo já que funciona como observador e
ativo à medida que sua atitude atenta e aberta permite-lhe a compreensão e a
formulação de hipóteses sobre a problemática do entrevistado. Assim, a função
específica é observar, compreender e cooperar com a criança.
Pode acontecer, de desempenhar um papel complementar, ou seja, a
necessidade de fazer uma sinalização, esta corresponde a explicitação de aspectos
dissociados manifestos da conduta da criança (quando manifesta sua rejeição na
atividade lúdica). Ou, o estabelecimento de limites quando o paciente tende a rompê-
lo.
Transferência: Adquire características particulares que responder, por um
lado, à brevidade do vínculo e, por outro, ao fato de que o meio de comunicação sejam
os brinquedos oferecidos pelo psicólogo, o que permite que a transferência se amplie
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e se diversifique para estes objetos intermediários. Neles, o paciente depositará parte


de seus sentimentos representantes de diferentes vínculos com objetos de seu mundo
interno.
Contratransferência: Pode ajudar a compreensão da criança, se for
conscientemente integrada pelo psicólogo. Este deve discriminar suas próprias
motivações e impulsos para que não interfiram na análise compreensiva da conduta
lúdica da criança.
Indicadores da hora do jogo diagnóstica: Permite considerar os itens mais
importantes para fins diagnóstico e prognóstico, apontando tanto para o dinâmico
quanto para o estrutural e econômico.
Deve-se analisar a escolha de brinquedos e brincadeiras, esta pode assumir as
formas de observação à distância; dependente (esperar indicações); evitativa;
dubitativa (pegar e largar os brinquedos); de irrupção brusca dos materiais; de irrupção
caótica e impulsiva; de aproximação (tempo de reação inicial do campo e, desenvolver
atividade).
Deve-se levar em conta o tipo de brinquedo para estabelecer o primeiro
contato, de acordo com o momento evolutivo e com o conflito a ser veiculado. Quanto
a escolha do jogo, é necessário ver se tem princípio, desenvolvimento e fim, se é uma
unidade coerente em si mesma e se os jogos organizados correspondem ao seu
estágio de desenvolvimento intelectual correspondente a sua idade cronológica.
A modalidade das brincadeiras é a forma em como o ego manifesta a função
simbólica. Cada sujeito estrutura o seu brincar de acordo com uma modalidade que
lhe é própria e que implica um traço caracterológico – plasticidade (expressa a mesma
fantasia ou defesa através de mediadores diferentes ou uma grande riqueza interna
por meio de poucos elementos que cumprem diversas funções); rigidez (geralmente
utilizada frente a ansiedades muito primitivas para evitar a confusão aderindo a
mediadores de forma exclusiva e predominante para expressar a mesma fantasia);
estereotipada e predominante (modalidade mais patológica de funcionamento egóico –
desconexão com o mundo externo cuja única finalidade é a descarga, não há fins
comunicacionais).
A personificação refere-se à capacidade de assumir e atribuir papéis de forma
dramática. Em cada período evolutivo essa capacidade adquire diferentes
características – em crianças pequenas a realização de desejos se expressa de
maneira mais imediata e a identificação projetiva é utilizada como mecanismo
fundamental; numa etapa posterior, se enriquecem com figuras imaginárias e também
começa a atribuir papéis e a tornar mais explícito o vínculo que mantem com essas
imagos.
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Na latência, tende a dramatizar papéis definidos socialmente, com menor


expressão da fantasia, em função do aumento da repressão. Os pré-púberes, inibem
essa capacidade porque torna-se possível a atuação real dessas fantasias, escolhem
objetos mais afastados do meio familiar através de um deslocamento que se expressa
na área simbólica. Na adolescência, adquire importância novamente e é utilizada
como meio de expressão.
Como elemento comum a todos os períodos evolutivos normais, possibilita a
elaboração de situações traumáticas, aprendizagem de papéis sociais, compreensão
do papel do outro e o ajuste de sua conduta em função disso, favorece o processo de
socialização e individuação. A análise, nos leva a avaliar a qualidade e a intensidade
das diferentes identificações, o equilíbrio existente entre o superego, o id e a
realidade, elemento de fundamental importância diagnóstica e prognóstica.
A motricidade nos permite ver a adequação da criança à etapa evolutiva que
atravessa - a comunicação gestual e postural enriquece a mensagem e pode mostrar
aspectos dissociados que se manifestam como uma discordância entre o que diz e o
que expressa corporalmente. Deve-se observar o deslocamento geográfico;
possibilidade de encaixe; preensão e manejo; alternância de membros; lateralidade;
movimentos voluntários e involuntários; movimentos bizarros; ritmo do movimento;
hipercinesia; hipocinesia; ductibilidade;
Criatividade, criar é unir ou relacionar elementos dispersos num elemento novo
e diferente, isso exige um ego plástico capaz de abertura para experiências novas,
tolerante à não-estruturação do campo. Esse processo tem a finalidade deliberada:
descobrir uma organização bem sucedida, gratificante e enriquecedora, produto de um
equilíbrio adequado entre o princípio do prazer e da realidade.
A tolerância à frustração é detectada, na hora do jogo, pela possibilidade de
aceitar as instruções com as limitações que elas impõem e pelo desenvolvimento da
atividade lúdica.
A avaliação é importante a nível diagnóstico, mas principalmente, quanto ao
prognóstico. Torna-se fundamental diferenciar onde a criança situa a fonte de
frustração – se deriva do mundo interno ou se localiza no mundo externo, assim como
a reação frente a ela. A capacidade de tolerar a frustração está relacionada com o
princípio de prazer e realidade.
O brincar é uma forma de expressão da capacidade simbólica e via de acesso
às fantasias inconscientes. Sendo possível avaliar a riqueza expressiva: A busca que
faz à sua volta (significantes e significados), uma nova busca quando através das
formas anteriores de simbolização não conseguem os fins comunicacionais; a
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coerência da concatenação dos símbolos, isto é, a possibilidade de transmiti-los


através de um nexo lógico; a capacidade intelectual e a qualidade do conflito.
A adequação à realidade é um dos primeiros elementos a serem levados em
conta ao se analisar uma hora de jogo, é a capacidade da criança de se adequar à sua
realidade. Manifesta-se pela possibilidade de se desprender da mãe e atuar de acordo
com sua idade cronológica, demonstrando a concentração e aceitação das instruções
– Permite a avaliação das possibilidades egóicas, embora possa adaptar-se ou não
aos limites que esta situação lhe impõe: aceitação ou não do enquadramento espaço-
temporal com as limitações que isto implica; possibilidade de colocar-se em seu papel
e aceitar o papel do outro.
O brincar da criança psicótica: A dificuldade para brincar é o índice mais
evidente. No psicótico, o significado e significante são a mesma coisa (equação
simbólica). Devemos levar em conta que a criança pode ter partes de sua
personalidade mais preservada ou que conseguiram uma organização não psicótica, e
a possibilidade de expressar seu conflito dependerá da quantidade, da qualidade e da
inter-relação das partes.
A dificuldade vai desde a inibição total ou parcial até a desorganização da
conduta. A estrutura psicótica evidencia-se nos diversos indicadores, assim, não pode
se adequar à realidade, à medida que ela se manipula com predomínio do processo
primário, distorcendo a percepção do mundo externo e, na situação diagnostica, a
relação ou o vínculo com o psicólogo.
A capacidade simbólica fica relegada pela predominância de equações
simbólicas, os personagens extremamente cruéis atuados pela criança estão em
correspondência com um superego primitivo de características terroríficas e sádicas,
um dos fatores básicos do transtorno psicótico. Concomitantemente, encontramos
frente a um ego desorganizado, cujos mecanismos de defesa primitivos são a
identificação projetiva e o splittig.
Outros elementos significativos costumam ser a perseverança ou
estereotipada na conduta verbal e pré-verbal, ainda que não sejam características
exclusivas de brincar de quadros psicóticos, mas que se apresentam também em
orgânicos ou em neuroses graves. São frequentes as organizações originais, os
nesologismos, as atitudes bizarras e as dificuldades de adequação à realidade,
tolerância à frustração e aprendizagem. Com relação ao prognóstico, é importante
considerar no desenvolvimento da hora de jogo diagnóstico os elementos que
impliquem uma possibilidade de conexão com o psicólogo e/ou objeto intermediário.
O brincar da criança neurótica: Encontramos a capacidade simbólica
desenvolvida, o que possibilita a expressão de seus conflitos no “como se” da situação
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lúdica, sendo capaz de discriminar e evidenciar um melhor interjogo entre fantasia e


realidade, assim como as alterações significativas em áreas específicas.
Há uma adequação relativa à realidade cujo grau depende dos termos do
conflito, há uma tentativa de satisfazer o princípio de prazer que, por seu lado, gera
culpa não tolerada pelo ego, que desloca o impulso para objetos substitutivos
afastados do original. Este deslocamento, a serviço da repressão, provoca um círculo
vicioso pelo qual não se consegue a satisfação e deve-se recorrer a novos
deslocamentos que, mais uma vez, evidenciam o conflito.
Deste modo, veem-se limitadas a capacidade de aprendizagem e as
possibilidades de criativas dependem de uma síntese egóica adequada. Outra
característica, diagnóstica é o baixo limiar de tolerância à frustração ou a
superadaptação em certas áreas, que são, ambas, manifestações da fraqueza egóica
do neurótico que está em intima relação com as características severas de seu
superego e os termos de conflito - dramatizam personagens mais próximos dos
modelos reais, com menos carga de onipotência e maldade.
O brincar da criança normal: O conflito não é sinônimo de doença, em cada
período evolutivo, a criança atravessa situações conflitivas inerentes ao seu
desenvolvimento.
O equilíbrio estrutural permite a superação desses conflitos e que ela saia
enriquecida, isto é, a situação conflituosa opera como motor e não como inibidor do
desenvolvimento.
A confiança em suas possibilidades egóicas e um superego benévolo tornam
possível atravessar estas situações de crise que supõem a elaboração de perdas e
novas aquisições próprias do crescimento.
A liberdade interna oferecida pelo equilíbrio ótimo entre fantasia e realidade,
suas possibilidades criativas e, portanto, reparatórias, enriquecem-na
permanentemente, permitindo-lhe aprender a experiência.
Quanto à personificação ao brincar, os modelos atuais aproximam-se dos
objetos reais representados, a criança dá livre curso à fantasia, atribuindo e
assumindo diferentes papéis na situação de vínculo com o psicólogo, ampliando as
possibilidades comunicativas.
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