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TJPA

PJe - Processo Judicial Eletrônico

17/05/2022

Número: 0800626-39.2022.8.14.0037
Classe: MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO
Órgão julgador: Vara Única de Oriximiná
Última distribuição : 04/05/2022
Valor da causa: R$ 5.000,00
Assuntos: Irredutibilidade de Vencimentos
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS SANDERSON ANDRE SILVA DE OLIVEIRA registrado(a)
EM EDUCAÇÃO PÚBLICA DO PARÁ (IMPETRANTE) civilmente como SANDERSON ANDRE SILVA DE OLIVEIRA
(ADVOGADO)
JOSE WILLIAN SIQUEIRA DA FONSECA (IMPETRADO)
MUNICIPIO DE ORIXIMINA (IMPETRADO)
MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DO PARÁ (FISCAL DA
LEI)
Documentos
Id. Data Documento Tipo
61646828 17/05/2022 MANDADO MANDADO
11:23
AUTOS N° 0800626-39.2022.8.14.0037

MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO LIMINAR

IMPETRANTE: SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS DA


EDUCAÇÃO PUBLICA DO ESTADO DO PARÁ (ADV. HABILITADO)

IMPETRADO: JOSE WILLIAN SIQUEIRA DA FONSECA - Rua Barão do Rio Branco,


2336 – CEP. 68.270-000

D E C I S Ã O / M A N D A D O / OFÍCIO

I - RELATÓRIO

Trata-se de Mandado de Segurança com pedido liminar impetrado pelo


SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS DA EDUCAÇÃO PUBLICA
DO ESTADO DO PARÁ, contra ato dito por ilegal do PREFEITO MUNICIPAL DE
ORIXIMINÁ, que ao reassumir seu cargo de prefeito após afastamento, em 22 de março
de 2022, procedeu a redução salarial dos servidores do magistério concursados com nível
superior, ao passo que suspendeu o reajuste salarial concedido em janeiro de 2022.

Requereu assim, medida liminar ordenando a suspensão do ato administrativo


de redução salarial normatizado a partir da Portaria 756/2022, e o restabelecimento do
piso profissional de 2022 pago aos professores.

Devidamente intimado para se manifestar no prazo de 72h, conforme a Lei n.


8437/92, o Município de Oriximiná apresentou manifestação ao ID60800685.

É o breve relatório.

II – FUNDAMENTAÇÃO

Inicialmente, rejeita-se a alegação de que a parte autora não teria legitimidade


ativa para ingressar com o Mandado de Segurança Coletivo. O STJ já se manifestou no
sentido de que os sindicatos e as associações, na qualidade de substitutos processuais,
têm legitimidade para atuar judicialmente na defesa dos interesses coletivos de toda a

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categoria que representam, estando a representação, por sua vez, regular, conforme
documentos acostados ao ID61407712 (ata de eleição do SINTEPP) e ID61407713
(fichas de filiação).

O SINTEPP nitidamente é o sindicato representante da categoria de professores


da educação pública no Estado do Pará, não havendo que se falar em sua substituição
por Sindicato Municipal Geral de Servidores Públicos, o qual atua em campo de defesa de
direitos diversos.

Observa-se das alegações iniciais que a categoria representada pela parte


autora, foi diretamente prejudicada pelo ato que se discute, tornando, com base na Teoria
da Asserção, o sindicato autor, parte legítima para pleitear em juízo a suspensão do ato
coator em questão.

Nesse sentido, evidencia-se a existência de pertinência temática entre os


objetivos e as finalidades institucionais da promovente e a matéria discutida nos
autos, pelo que afasto a preliminar de ilegitimidade ativa e prossigo na análise do
pedido liminar.

A Lei n. 12.016/2009 dispõe em seu art. 7º, III, prevê a faculdade do Juiz deferir
a medida liminar quando houver fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar
ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida.

Em outras palavras, concessão de medida liminar em Mandado de Segurança


são necessários o preenchimento cumulativo do “fumus boni juris” (houver fundamento
relevante) e “periculum in mora” (do ato impugnado puder resultar ineficácia da
medida).

Sobre a fumaça do bom direito, a doutrina leciona que:

“Fundamento relevante” faz as vezes do que, no âmbito do “processo


cautelar”, é descrito pela expressão latina fumus boni iuris e do que, no
âmbito do “dever-poder geral de antecipação”, é descrito pela expressão
“prova inequívoca da verossimilhança da alegação”. Todas essas
expressões, a par da peculiaridade procedimental do mandado de
segurança, devem ser entendidas como significativas de que, para a
concessão da liminar, o impetrante deverá convencer o magistrado de que é
portador de melhores razões que a parte contrária; que o ato coator é, ao
que tudo indica, realmente abusivo ou ilegal. Isto é tanto mais importante em
mandado de segurança porque a petição inicial, com os seus respectivos
documentos de instrução, é a oportunidade única que o impetrante tem para
convencer o magistrado, ressalvadas situações excepcionais como a que

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vem expressa no § 1° do art. 6° da nova Lei (v. n. 8, supra), de que é
merecedor da tutela jurisdicional, isto é, de que é efetivamente titular do
direito que afirma ser seu.(Cassio Scarpinella Bueno, em sua obra A Nova
Lei do Mandado de Segurança, 2a Edição, editora Saraiva, p. 41 do livro
digital)

No que se refere ao perigo na demora da liminar, o referido jurista doutrina que:

A ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida”, é expressão que


deve ser entendida da mesma forma que a consagrada expressão latina
periculum in mora, perigo na demora da prestação jurisdicional. No
mandado de segurança, dado o seu comando constitucional de perseguir in
natura a tutela do direito ameaçado ou violado por ato abusivo ou ilegal, é
tanto maior a ineficácia da medida na exata proporção em que o tempo de
seu procedimento, posto que bastante curto, não tenha condições de
assegurar o proferimento de sentença apta a tutelar suficiente e
adequadamente o direito tal qual venha a reconhecer. A circunstância de o
dano a ser evitado com a medida liminar ser irreparável ou de difícil
reparação é indiferente. O direito brasileiro, diante do que dispõe o art. 5°,
XXXV, da Constituição Federal, não pode aceitar essa distinção que, em
outros ordenamentos jurídicos, enseja desdobramentos diversos,
interessantes, mas, frise-se, estranhos ao nosso sistema jurídico. (Obra
citada acima)

Em análise perfunctória dos elementos de prova e fatos trazidos pela parte,


tenho que a liminar deve ser deferida por estarem presentes os requisitos para
concessão da medida.

Restou comprovado que através da Portaria 756/2022, houve redução


salarial dos servidores do magistério municipal concursados com nível superior,
procedido pelo impetrado, no último mês de abril, após a concessão do reajuste do piso
do magistério municipal concedido em janeiro de 2022.

Percebe-se que o ato administrativo em questão foi revogado de maneira


abrupta, ferindo a legítima expectativa da categoria que foi beneficiada com o
reajuste a partir de janeiro de 2022, mas teve de maneira surpreendente os valores
extirpados em abril de 2022.

Registre-se que o piso salarial profissional, em sentido amplo, foi elevado a nível
de direito social constitucional, previsto no art. 7, inc. 5, da Carta Magna de 1988, in
verbis:

“Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que

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visem à melhoria de sua condição social:
(...) V - Piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho.”

Não se verifica nos autos, qualquer demonstração de que houve


instauração de processo administrativo para a revogação do ato ou mesmo um
diálogo anterior com a categoria, sendo certo que a despeito do poder que tem a
Administração Pública de anular/revogar seus próprios atos, tem esta também o dever de
respeitar os princípios da boa fé, transparência e razoabilidade.

Em sede de cognição sumária, não se observa ainda que a Lei 11.738/2008


faça qualquer distinção entre os professores com formação em nível médio ou superior,
sendo a sua referência em verdade aos profissionais da educação básica.

Nessa medida, tenho como demonstrado, nessa análise preliminar, o requisito


do fumus boni juris, apto a concessão da medida liminar fundamentado no
descumprimento do devido processo legal administrativo, a qual a Administração Pública,
rompendo o dever de lealdade com seus servidores, abusou do direito de autotutela e
frustrou a legítima expectativa daqueles profissionais, expectativa esta que a própria
Administração deu causa.

Frise-se que não está a se ignorar que o reajuste guerreado foi concedido por
outro gestor que figurava como Prefeito na ocasião, entretanto, não se concebe a
existência de duas Administrações Públicas Municipais, mas apenas uma, devendo se
respeitar o princípio da continuidade do serviço público.

Por fim, a instabilidade política que Município vem enfrentando não pode ser
justificativa para que servidores sofram uma instabilidade financeira em que seus
rendimentos sejam alvos de uma batalha política.

O periculum in mora reside na imediata desestabilização na organização


financeira dos servidores, causada pela revogação do ato impugnado.

Nesse momento processual, não se pode desconsiderar que a despeito de


eventual legalidade do ato, a redução abrupta no percentual aproximado de 49% dos
proventos recebidos pelos professores concursados em nível superior, indicia a quebra
da confiança e da legítima expectativa gerada na classe anteriormente beneficiada.

A redução salarial em vultosa quantia, sem dúvidas ocasiona risco a


estabilidade e organização financeira dos professores que já se viam beneficiados
com o reajuste perpetrado.

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Com efeito, a demora no processamento e conclusão de pedido equipara-se a
seu próprio indeferimento, tendo em vista os prejuízos causados a classe de professores.

Desta feita, em razão da presença dos requisitos para concessão da medida, a


liminar deve ser deferida.

III - DISPOSITIVO

Diante do acima exposto, demonstrados os pressupostos específicos da medida


liminar requerida, DEFIRO o pedido liminar para suspender os efeitos do ato
administrativo de redução salarial normatizado a partir da Portaria 756/2022,
determinando que o Município de Oriximiná proceda a reimplementação do reajuste
aos professores concursados em nível superior, nos mesmos termos estabelecidos
em janeiro de 2022, a partir da folha de pagamento salarial referente a JUNHO DE
2022. O valor correspondente ao retroativo (ABRIL e MAIO DE 2022) poderá ser
parcelado de acordo com a disponibilidade financeira da Municipalidade que deverá abrir
imediata negociação com a categoria.

Fixo multa mensal de R$ 100.000,00 (cem mil reais), por cada mês de
descumprimento em que não haja o restabelecimento do piso profissional de 2022
pago aos professores.

Atente-se a parte impetrada que nos termos do artigo 77, inciso IV, e parágrafo
2º, do Código de Processo Civil as partes têm o dever de cumprir com exatidão as
decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final, e não criar embaraços à sua
efetivação, sob pena da configuração de ato atentatório à dignidade da justiça,
devendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis,
aplicar ao responsável multa de até vinte por cento do valor da causa, de acordo
com a gravidade da conduta.

IV - PROVIDÊNCIAS:

1. Notifique-se a autoridade dita como coatora do conteúdo da inicial para


prestar informações no prazo de 10(dez) dias.

2. Nos termos do art. 7º, II da Lei n. 12.016/2009, oficie-se, também, o


Município de Oriximiná, através de sua Procuradoria Municipal, enviando-
lhe cópia da inicial sem os documentos.

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3. Cumpridas as diligências acima, abra-se vistas ao Ministério Público,
conforme art. 12 da Lei n. 12.016/09.

4. Por entender que o feito comporta conciliação entre as partes e atendendo


a nova sistemática de primazia do mérito e da Justiça consensual, hei por
bem designar audiência presencial de conciliação para o dia
26/05/2022 às 14hs na sala de audiência do Fórum da Comarca de
Oriximiná. Intime-se as partes e o Ministério Público para se fazerem
presentes na audiência.

Expedientes Necessários.

SERVIRÁ A PRESENTE DECISÃO COMO MANDADO DE


INTIMAÇÃO/OFÍCIO.

Oriximiná/PA, 17 de maio de 2022.

WALLACE CARNEIRO DE SOUSA

Juiz de Direito

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