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E
xiste uma lacuna a ser preenchida na literatura cristã católica sobre as
relações entre Deus, o casamento e o dinheiro. É nesse contexto que sur-
ge o presente livro, que procura falar sobre o tema baseado na doutrina
católica e no conhecimento financeiro disponível.
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O que Deus Uniu, o dinheiro não separe
1
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) é um órgão governamental res-
ponsável por uma série de importantes pesquisas populacionais, econômicas e demográficas,
dentre outras.
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Prefácio
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O que Deus Uniu o dinheiro não separe
2
Fonte: https://www.pensador.com/frases_dinheiro/
[ 12 ]
Introdução
Prioridade zero: a lei da Divina Providência
N
ão importa se você é rico, classe média, pobre, empresário ou micro-
empreendedor, se fez faculdade ou não concluiu o ensino médio, fun-
damental ou básico, se fala somente português ou é fluente em cinco
idiomas. A lei da Divina Providência é uma lei espiritual universal, para todos.
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O que Deus Uniu, o dinheiro não separe
Até mesmo os que não conhecem a Deus, ou não creem em Jesus Cristo, estão
sob essa lei de bênçãos e graças.
Este livro é uma ferramenta para Deus agir na sua vida. Depende mais
de você do que do próprio Deus. Você quer mudar sua vida financeira? Você
deseja que Deus entre junto com você, ou vocês, na administração do dinheiro,
salários, dívidas, patrimônio, enfim, nas economias do seu casamento? Se sim,
este livro foi pensado, escrito sob muita oração e experiências de vida, fora e
dentro de sala de aula, em atendimentos com casais, e construído, após muitos
anos de pesquisa e entrega a esse ministério, com um único objetivo: propor
mudança de vida, encontro pessoal com Jesus e batismo no Espírito Santo
sobre o seu casamento, ou futuro casamento, e a vida financeira de vocês.
Todos os conteúdos, frases, pensamentos, citações, testemunhos, tudo foi
pensado para este objetivo. O primeiro passo é entender que tudo está debaixo,
submetido e contido sob a lei da Divina Providência. Por isso, queremos a
partir de agora explicar como funciona a Divina Providência no casamento. No
Evangelho de São Mateus, Jesus disse: “Buscai em primeiro lugar o reino dos
céus e a sua justiça, e tudo vos será dado em acréscimo” (Mt 6,33)(Lc 12,31).
Tudo quer dizer tudo! Não importa a sua situação, não importa de que
você esteja precisando, se é uma necessidade, ou algo que não seja estritamente
necessário, mas lhe fará bem – Deus quer lhe conceder isso. Desde uma casa
para morar, um carro para lhe servir, roupas, alimentos, a cama nova para a
sua filha, para o seu filho, talvez um emprego novo. Tudo isso não é para a
sua vaidade, mas para felicidade. Se algo que pedimos a Deus não nos levará a
glorificá-Lo, Deus não nos concederá, porque nos ama. Se você quer pintar a
casa, mudar de cidade, trocar os móveis, não importa qual seja a sua necessidade,
Deus está com você em tudo isso. Como diz o salmo: “A palavra ainda não me
chegou à língua, e já, Senhor, a conheceis toda” (Sl 138/139,4).
Muitos casais desejam quitar dívidas, ou conseguir dinheiro para pagar
a faculdade dos filhos, e também Deus quer entrar neste processo com vocês.
A lei da Divina Providência é muito interessante, porque as nossas decisões
financeiras passam por ela. Quando nós não estamos em sintonia com Deus, por
vezes tomamos decisões erradas, que não são da vontade Dele, e damos com a
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Introdução
cara na parede. Deus quer providenciar, mas espera de nós obediência e amor.
Não uma obediência por medo, mas por amor e reconhecimento do Senhor.
Certa vez, conheci um empresário que desejava muito expandir seus
negócios. Embora entendesse que aquilo não era vontade de Deus, mesmo
assim o fez, e perdeu tudo que tinha. Deus sabe o que é melhor, os tempos e
os momentos, e não se apraz com a ruína e falência dos seus filhos. Ocorre que,
pela ganância, muitos de nós podemos tomar caminhos de avareza e ambição
que não são o caminho de Deus.
Deus quer providenciar muito mais do que possamos pedir. Observe que
não são apenas bens financeiros, mas felicidade, saúde, amigos, filhos e, espe-
cialmente, a salvação. Deus jamais permitirá que nos seja concedida qualquer
coisa que não contribua para nossa salvação. Por outro lado, tudo que irá
beneficiar, contribuir, impulsionar a nossa salvação, Deus com toda certeza
irá providenciar, e até muito mais do que possamos esperar.
Mesmo quando não somos fiéis a esta lei, mas buscamos a Deus em primei-
ro lugar, Ele continua providenciando tudo de que precisamos. Mas, quando
colocamos Deus em primeiro lugar, experimentamos o extraordinário – desde
as coisas mais simples, até as maiores. Conheci vários empresários que passa-
ram por grandes períodos de tribulações financeiras, empresariais e contábeis
de diversas naturezas, mas quando se renderam à lei da Divina Providência,
viram tudo se transformar. Isso não significa que ficaram ricos – esse não é o
objetivo do livro, não é o objetivo de Deus para a sua vida. A riqueza pode até
acontecer, mas para servir. Afinal, quantos santos da Igreja foram reis e rainhas!
Santa Isabel dá um belo testemunho a este respeito. Do próprio rei Davi, por
exemplo, se deu a origem de Jesus nosso salvador e Mestre.
Quantos santos deixaram tudo e seguiram a Deus! É o caso de Santo
Tomás de Aquino e de muitos outros. Deus permitiu, sim, que alguns fossem
pobres, classe média, e outros fossem ricos (dentre outras classes sociais e eco-
nômicas), mas Ele jamais desejará que nos falte coisa alguma. São numerosos
os testemunhos de pessoas que passaram por grandes dificuldades financeiras,
mas quando entregaram sua vida a Deus, tudo foi se resolvendo pouco a pouco.
Não estamos falando de ganhar na loteria, mas de permitir que Deus cuide
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Introdução
as pessoas. É uma moeda de dois lados: mesmo que o trabalho seja desgastante
e tenha partes de que não gostamos, ele nos traz uma satisfação de serviço bem
feito e cumprido.
Podemos ilustrar isso com o exemplo de um pedreiro que ajudou a cons-
truir uma catedral e, ao olhar aquele edifício pronto, fica feliz porque ajudou
a colocar alguns tijolos naquele templo. Não importa o que você faz, o que
importa é que você o faça sob a vontade de Deus.
Portanto, a lei da Divina Providência é uma dádiva maravilhosa concedi-
da por Deus a todos nós. Muitos de nós não queremos seguir essa lei porque,
assim como tudo que há na Bíblia, trata-se de uma lei radical. Não se pode
viver sob a Divina Providência e sob a ótica do mundo ao mesmo tempo. Não
é possível pôr um pé no céu e outro no mundo; só é possível colocar os dois
pés em um único lugar.
Por isso, já no início deste livro, eu lhe pergunto: onde você quer colocar
os seus pés? No céu ou na terra? Tenho certeza de que a sua escolha é colocar
os dois pés no céu. Muito bem! Mas não se esqueça de cumprir os seus afaze-
res terrenos.
Há pessoas que vivem pensando nas coisas de Deus, mas se esquecem
de tratar bem os irmãos à sua volta. Elas não entenderam nada! O nosso céu
começa aqui na terra. E por falar em dinheiro, por falar em finanças, a lei da
Divina Providência prevê que buscar o reino de Deus acima de tudo é também
ajudar o pobre, o necessitado, o enfermo, aquele que está nu, aquele que tem
fome, que tem sede, aquele que está preso, aquele que está doente, aquele que
é estrangeiro (cf. Mt 25,31-46).
Há pessoas que cumprem a lei da Divina Providência mesmo sem saber,
honrando seu trabalho, ajudando o próximo, não tendo ganância no seu coração.
Lembrando que querer crescer, querer ter um patrimônio e dar estabilidade
financeira à família não é ganância, isso é previdência humana. Afinal, a Pro-
vidência Divina não exclui a previdência humana.
Se você tem uma boa reserva financeira, este livro também é para você.
Você sabe por que esse dinheiro foi até as suas mãos? Claro, pelo fruto do seu
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trabalho, do seu esforço, da sua inteligência, da sua técnica, mas esse dinheiro
está em suas mãos por graça de Deus.
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Introdução
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Introdução
de Deus até o final. É importante entender que, por mais que a Divina Pro-
vidência possa ter caminhos por vezes insondáveis, incompreensíveis, eles são
caminhos de sabedoria.
Na obra O Abandono à Providência Divina, do Pe. Jean Pierre de Caussa-
de, aprendemos que os deveres de cada momento são sombras sob as quais se
oculta a ação da Divina Providência. Segundo o autor, muitas vezes a virtude
de fazer a vontade de Deus se oculta nos afazeres, nas coisas que precisamos
fazer. Por isso, é importante estar inteiro e colocar cada dever do momento
sob a vontade de Deus.
É importante entender que a lei da Divina Providência nos concentra,
nos torna focados apenas no projeto de Deus. Portanto, projetos que não
estão conforme a vontade de Deus não irão para frente. Isso pode ser muito
doloroso; por exemplo, imagine um jovem que Deus chama ao sacerdócio,
mas que insiste em um namoro que, por vezes, é bom, mas não está de acordo
com a vontade de Deus. Por mais que esse jovem lute pela santidade, a fuga
da própria vocação nunca o fará plenamente feliz e realizado. Ele carregará
sempre consigo essa inquietação. Afinal, a voz de Deus nos chama noite e dia.
Deus chama cada um de nós a um serviço, a um trabalho, a uma missão.
Imagine uma pessoa chamada a ser médico mas que, pela dificuldade em se
formar em Medicina, escolhe alguma outra profissão. Por toda a sua vida, ele
irá carregar dúvidas como: “Será que eu poderia ter feito mais?”, “Será que eu
poderia ter me dedicado mais?”. A lei da Divina Providência nos livra de todo
e qualquer tipo de arrependimento porque, ao segui-la, nós fazemos a vontade
de Deus acima de tudo. E, mesmo quando a vontade de Deus não é aquilo
que nós imaginamos, Ele corrige e dirige os nossos passos. É assim que ocorre
com quem se consagra à vontade Dele.
Olhar as finanças com o olhar de Deus muda toda a história. Há muitos
casais que olham as finanças apenas com os olhos humanos, vendo somente
contas a pagar, boletos e faturas. Mas, do ponto de vista da Divina Providência,
tudo se torna instrumento e meio para a salvação, tanto do casal como dos
filhos que virão ou que já vieram, e até mesmo dos netos.
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“Se você não consegue controlar
as suas emoções, você não
pode controlar o seu dinheiro.”
(Warren Buffet)
Capítulo
1
O que Deus uniu, o dinheiro
não separe: a Divina
Providência no casamento
“Buscai em primeiro lugar o Reino
de Deus e a sua justiça, e todas
estas coisas vos serão dadas em
acréscimo.” (Mt 6,33)
Capítulo 1
Bruno Cunha
J
orge e Melissa3 são um casal jovem, em idade e tempo de casamento.
Batalhadores que são, sonham juntos com seu futuro familiar e financei-
ro. Com sete anos de casados, já passaram bons bocados. Com o tempo
e o desgaste da relação, quase que semanalmente passaram a trocar indiretas,
farpas, acusações sobre os gastos e escolhas financeiras de ambos. Estão em
bons empregos, com bons salários, trilhando carreiras distintas e de sucesso.
Colocam em comum tudo que possuem: conta conjunta, construção da casa,
reserva financeira de emergência, investimentos, menos as férias: enquanto um
quer ir a Bariloche, o outro prefere Dubai. Quando isso acontece, decidem ir
cada um para um lado. Estão crescendo economicamente, mas o casamento
está na direção oposta. Não souberam fazer do dinheiro um servo de Deus e
do casamento.
Nem sempre o relacionamento de Jorge e Melissa foi assim. No tempo
do namoro, tudo parecia perfeito – eles eram jovenzinhos, com vinte e poucos
anos, e tudo fluía maravilhosamente bem. Saíam juntos, namoravam tran-
quilamente, participavam da missa juntos aos domingos e dividiam as contas
com os amigos. Dinheiro nunca era problema. Discutir, só rapidinho, e logo
se beijavam e se perdoavam. Cada um ia para sua casa, sua cama de solteiro,
e ficaram trocando mensagens de amor pelo celular até altas horas. Conversas
sobre dinheiro e finanças, na verdade, quase nem existiam. Achavam que era
um ponto comum, já alinhado e definido. Suas metas eram comuns: planejar
tudo, gastar só com o necessário, ter uma boa casa e um bom carro, viajar nas
férias, ter três filhos. “Para que, afinal, falar de dinheiro, se nosso amor é tão
3
Todos os casais retratados como exemplo ao longo do livro são reais. Mas, por questão
de sigilo e ética profissional, optou-se por atribuir a eles nomes fictícios, assegurando sua
privacidade.
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Abreviação moderna para discutir a relação, geralmente com conotação tensa, variando de
casal para casal.
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As compras sem juros no cartão escondem, muitas vezes, um grande desconto que só pode
ser obtido se o pagamento for realizado à vista, em apenas uma vez, ou até mesmo no boleto.
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economia, até porque Melissa já faz isso por ele – o que é pretexto para brigas
constantes. Seus lemas de vida são:
Lemas de vida de Jorge
• A vida é curta, então curta!
• Caixão não tem gaveta.
• Deixe-me ser feliz!
• Eu mereço.
• Estou estressado.
• Para de pegar no meu pé, sua chata!
E aí? Você se identificou com alguma parte dessa história? Talvez o seu
relacionamento, casamento, namoro, noivado, tenha algumas semelhanças
com Jorge e Melissa. Faça um teste rápido:
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Capítulo 1
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Numa escala de zero a dez, qual nota você daria ao tema diálogo e plane-
jamento do dinheiro no seu casamento/relacionamento?
Nota: ____
Anote este número. Agora, obtenha a nota do seu cônjuge, namorado(a)6
ou noivo(a). Você fará isso sem perguntar diretamente a ele(a), ou seja, solicite
que algum(a) amigo(a) faça a pergunta e repasse a resposta a você.
6
Recomenda-se que os casais de namorados, que já se encontram maduros, e olham para
o noivado, casamento, procurem falar sobre vivência da fé em conjunto, dinheiro, trabalho,
visões de mundo e objetivos. Iniciar um namoro morando juntos é começar errado algo que
pode ser muito melhor se começar do jeito certo, com um bom tempo de vivência do namoro,
conhecimento mútuo, noivado e o grande dia do casamento.
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Depois, some as duas notas de vocês e divida por dois. Veja como vocês
estão. Passaram de ano, sendo uma faculdade com média sete? Ou vão ficar
em recuperação? Se a nota ficou abaixo de sete, acenda uma luz vermelha. Se
ficou acima de sete, como oito ou nove, por que não conhecer mais do tema
dinheiro e casamento para chegar ao dez? Se vocês tiraram notas abaixo de
cinco, melhor ler o livro até o final e salvar seu casamento de muitos desgos-
tos ou dívidas. Será que existem diferenças nas histórias financeiras de vocês?
Não perca o tema financeiro de vista, pois ele tem importância fundamental
na qualidade do seu casamento. Vejamos a segunda parte da história de Jorge
e Melissa.
No início do casamento, eles viveram felizes, mas isso não durou para
sempre. Passados os primeiros anos, as camadas mais profundas da personali-
dade começam a saltar aos olhos um do outro.
O tempo decanta as emoções e os sentidos, e faz flutuar as razões.
Com o tempo de casados e as brigas constantes, catalisadas pela falta
de sintonia financeira, a paixão esfriou. Terminado o encanto, o casamento
começou a se tornar burocrático, resumindo-se às rotinas e lutas do dia a dia.
Tudo isso fez cair as escamas que antes cegavam os olhos de Jorge e Melissa.
Eles passaram a brigar diariamente por causa da conta de luz, do tempo do
banho com chuveiro elétrico, dos gastos em restaurantes, do excesso em querer
poupar/gastar, e por diante. Resumo da ópera: histórias financeiras diferentes,
visões de mundo diferentes, projetos de felicidade diferente. As brigas cres-
ceram tanto que, em alguns casos, culminou em histeria e agressões. Como
resolver tal impasse? Por que o amor deles perdeu tanto espaço para problemas
com dinheiro?
Resumindo a narrativa apresentada, temos:
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SEN, A. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
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princípio da criação Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará
pai e mãe e se unirá à sua mulher e os dois formarão uma só carne” (Mc 10,8).
A resposta de Jesus é tão profunda e tão bela, que seriam necessárias mui-
tas páginas para discorrer sobre sua sabedoria e força. Jesus é o próprio Deus,
único e verdadeiro, conhecedor de todos os pensamentos dos homens, capaz
de sondar os corações antes mesmo que tenham existido. A resposta de Jesus
hoje é mais atual do que nunca. No universo de novas configurações de “amor”
e novas formas de amar, Jesus tem suas palavras ecoadas em nossos corações.
Ao falar que desde o princípio não era assim, Jesus quer restaurar todas
as coisas, voltar à essência. Muitos casamentos hoje acabam em separação
porque perderam sua essência, sua origem, sua fonte vital: um homem e uma
mulher que, por amor e iniciativa própria, com toda liberdade de filhos de
Deus, deixam suas famílias, seus pais, e se unem para criar uma nova família.
Quantos casamentos hoje estão desmoronando porque perderam o foco
no amor e passaram a pensar só em dinheiro? Esses casais ignoram o amor de
Deus que os uniu, assim como o amor um pelo outro, que os fez largar tudo
por amor, e focam no dinheiro, bens, carreira, casa, apartamento, carros e
vaidades mundanas.
Jesus continua a dizer, no Evangelho de Marcos: “o que Deus uniu, o
homem não separe” (Mc 10,9). A palavra “homem” significa que nada humano,
mundano, terreno, secular, deve separar aquilo que Deus uniu. Quando o as-
sunto é o divórcio, as coisas do mundo, o pecado, estão sempre como princípio
causador. A infidelidade e o dinheiro são as duas grandes causas de separação no
mundo de hoje. Segundo dados do IBGE, em cada três casamentos celebrados
no Brasil, um acaba em separação. Em 2018, o número de separações atingiu
34% dos casais, cifra muito superior aos 10% observados em 1984, quando
foi aprovada a lei do divórcio.
Fora do Brasil, a história não é muito diferente. Nos Estados Unidos,
os chamados “divórcios depois dos cinquenta” ou “grey divorces” (divórcios
grisalhos) dobraram nos últimos vinte anos.8 Trata-se de um fenômeno em
8
Levantamento realizado pelo Pew Research Center dos EUA.
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Revolução sexual, em linhas gerais, foi o fenômeno entre os anos 1960 e 1970 que se con-
trapôs à realidade heterossexual e monogâmica tradicional, principalmente contra o casamento.
A pesquisa do Dr. Scott foi realizada com mil pessoas, entre casados e solteiros, e constatou
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Money Counts.
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o Salmo 23: “Do Senhor é a Terra e tudo o que ela contém, a órbita terrestre e
todos os que nela habitam”. Deus criou todas as coisas, criou o homem e toda
a face da Terra. Tudo lhe pertence. Acontece que Deus dá ao homem a graça
de desfrutar da criação, usufruir dela, a partir do seu livre arbítrio. Ninguém
pode achar que possui coisa alguma, pois nada desta vida será levado adiante.
Devemos, então, rasgar as vestes e abandonar tudo? De forma alguma! Deus
concedeu tudo que você tem, por meio da sua Divina Providência, e quer contar
com a sua colaboração, ainda que não precise, para que o Reino de Deus seja
instaurado em nosso meio.
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Para mais informações sobre o estudo do IBGE sobre divórcios, acesse ibge.gov.br e consulte
a seção de pesquisa Estatísticas do Registro Civil.
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colocar o dinheiro acima do amor – o que será explicado, de forma especial, para
os casais que já possuem estabilidade econômica ou até um vultoso patrimônio.
Em meus dezoito anos como economista e nove como professor, e tendo
acompanhado solteiros e casados há mais de vinte anos, noto basicamente alguns
tipos de casais que apresentam problemas com dinheiro. Entrarei em detalhes
sobre isso em um capítulo posterior, mas aqui já apresento os três principais
tipos de casais que já atendi, atendo, e continuo a encontrar.
• Tipo 1: Casal que tem fé e vive uma espiritualidade, mas não sabe usar
o dinheiro a seu favor.
• Tipo 2: Casal que coloca sua fé no dinheiro e não em deus.
• Tipo 3: Casal acomodado, que vive na zona de conforto, se contenta com
pouca fé e espiritualidade e também com pouco dinheiro, ou sem um
plano de crescimento na profissão e nos negócios. Finge estar tudo bem
mas, na verdade, seu coração quer muito mais fé e conforto financeiro.
• Tipo 4: Casal equilibrado entre fé e razão, que busca a Deus e é es-
forçado financeiramente, mas precisa de atualização sobre economia e
finanças, uma vez que esta área está em profunda revolução, especial-
mente no Brasil.
O primeiro tipo corresponde ao casal católico que possui muita fé, com-
prometimento com a Palavra e com a vontade de Deus. Frequenta a missa ou
o culto todos os domingos, ou até em outros dias da semana estão na Igreja,
grupo de oração, alguns engajados em movimentos paroquiais, e colocam suas
vidas sob as mãos de Deus.
Embora isso seja totalmente louvável, e que bom seria se todos seguissem
este caminho, alguns destes casais cheios de fé não dão a devida importância
ao dinheiro. Não buscam organizar suas economias, não investem tempo em
dialogar sobre finanças, salários, patrimônio e bens. Não utilizam ferramentas
como planilhas, aplicativos de celular, agendas, reuniões mensais de planejamento
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PIB é a sigla para Produto Interno Bruto. Calculado pelo IBGE, ele reflete o estado geral
da economia do Brasil e corresponde à soma de todas as riquezas, serviços, produtos, bens e
salários produzidos ao longo de um ano. Quando o PIB não cresce, mas fica estagnado, ou
até cai, como foi visto durante os anos de 2015 e 2016 no Brasil, temos uma recessão. Esse
fenômeno, entre outras consequências, faz o país e seus habitantes se tornarem mais pobres e,
geralmente, vem acompanhado de um grande crescimento da taxa de desemprego.
14
O imposto de renda do casal é um tema de suma importância e será tratado adiante.
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Muitos desses casais, com poucos anos de casados, ou até depois de algu-
mas décadas, enfrentam grandes tribulações conjugais. Surgem a desconfiança,
o medo, rivalidade financeira, separação de contas e, em alguns casos, até os
móveis e eletrodomésticos da casa são divididos. Não existe “nós”: nosso di-
nheiro, nossa conta, mas apenas meu dinheiro e seu dinheiro, minhas contas
e suas contas, meu cartão e seu cartão, meus investimentos e seus investimen-
tos, minha carreira e sua carreira. Então, infelizmente, o amor acaba virando
apenas um contrato em cartório, e a separação já veio desde o início com a
separação dos bens.15
O terceiro tipo de casal bastante comum é aquele chamado mediano.
Tem fé, mas não muita. Vivem à margem da espiritualidade, à espreita, mas
não mergulham em Deus. Não desejam “avançar para águas mais profundas”
em busca de santidade. Se contentam com pouco. Missa ou culto somente
aos domingos e com má vontade, ou só no Natal. Na vida financeira, agem da
mesma forma. Não se esforçam o suficiente para crescer. Estão acomodados
em seus empregos, sem ganhar muito; preferem o pouco a se arriscar, escolhem
deixar as coisas como estão. Não têm dívidas grandes, mas não poupam nem
investem. Utilizam seus cartões ao limite, ou seja, gastam suas rendas antes de
ganharem. Pensam na maior parte das vezes: “Sempre deu certo assim, então
melhor não mudar. Mudar por quê? Se estressar à toa!”. Se contentam em ficar
em suas zonas de conforto, e não almejam crescer, construir um patrimônio
para a família e para servir ao próximo. Afinal, não está bom, mas também
não está ruim, então, deixa como está.
Em suma, temos três tipos básicos de casais:
15
Basicamente, existem três formas gerais de união civil matrimonial: união universal de bens,
em que tudo que cada cônjuge possui, até mesmo antes do casamento, passa a ser de ambos;
união parcial de bens, em que cada um preserva os bens adquiridos antes da união, e passa
a dividir tudo que foi adquirido após a união civil e, por último, separação de bens, em que
antes e após o casamento civil, cada um permanece com seus bens separadamente, de acordo
com o critério de aquisição.
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Avaliação do casamento/relacionamento
Nome do Casal: Conhecimento
Fé e espi-
_________________ e diálogo so- Romantismo
ritualidade
e ______________ bre dinheiro
Como anda meu Alto (__) Alto (__) Alto (__)
casamento ou rela- Médio (__) Médio (__) Médio (__)
cionamento? Baixo (__) Baixo (__) Baixo (__)
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O que Deus Uniu o dinheiro não separe
• Não se trata de um livro para ser lido como uma peça para enrique-
cimento do casal, para conquistar liberdade financeira, acumular o
primeiro milhão, se aposentar antes dos trinta anos ou algo do tipo.
O que posso afirmar, simples e diretamente, é que o livro propõe uma
bênção de Deus para vocês, na sua família e no seu casamento. Parte-se, pois,
da gestão das suas economias baseadas na fé em Jesus Cristo e na Bíblia.
É interessante utilizar o livro como um retiro de um final de semana. Se
não for possível, durante um dia inteiro, quando for mais tranquilo na sua
rotina. Se nem isso for possível, então separe uma noite apenas para o tema,
sem interferências ou pausas.
O ideal seria reservar um dia inteiro, tranquilo, iniciado de preferência
com uma santa missa, seguida de uma boa confissão, previamente preparada.
Observe que para poder se confessar é preciso estar casado na Igreja Católica,
ou seja, se vocês não estão casados, o que os impede? Seria o momento? Por
que não procurar ajuda com um padre para regularizar o casamento de vocês
se preciso for? Deus não nos quer pela meta, mas sempre por inteiro em tudo
que somos e fazemos. Voltando ao retiro, o sentido disso é que, para que Deus
possa intervir nas suas finanças, nas suas economias, é fundamental dar abertura
à sua ação poderosa. Muitos casais andam patinando na vida financeira porque
ainda não entenderam esta ligação:
Primero: Estar unido a Deus.
Segundo: Estar unido a si mesmo.
Terceiro: Estar unido ao esposo(a).
Quarto: Os dois estarem unidos e decididos quanto ao dinheiro e suas vidas
financeiras (metas, objetivos, sonhos, ajuda ao próximo, dívidas a pagar, dízimo etc.).
Sem se amarrar a estes quatro pilares, tudo se torna perda de tempo, energia
e esforço. Alguns casais até tiveram boa intenção de consagrar seu dinheiro a
Deus, mas estavam com falta de perdão de coisas antigas. Para Deus agir, é
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O que Deus Uniu o dinheiro não separe
Contudo, se pode ser evitado, por que não mudar agora e evitar o desgaste no
seu casamento com tais situações?
Um em cada três casamentos no Brasil acaba em divórcio (IBGE).16 Se
você já pensou em divórcio, ou está pensando neste momento, este livro é para
você. Talvez você nunca tenha refletido sobre separação, mas tenha enfrentado
duras provas na gestão financeira com sua esposa(o). Portanto, o livro poderá
lhe mostrar caminhos baseados na fé, que irão ajudar! Mesmo antes de ser lan-
çado, este livro já ajudou vários casais por onde já pude ensinar sobre o método
proposto. Se o seu casamento anda bem, sem grandes percalços, o conteúdo
poderá ajudá-los a ir mais longe, ter uma vida mais confortável financeiramente
e, principalmente, consagrar tudo que você alcançou ao único dono de tudo.
16
Dados do IBGE sobre divórcios pode ser acessados em: www.ibge.gov.br
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“Do Senhor é a terra e tudo
o que ela contém, a órbita
terrestre e todos os que nela
habitam.” (Sl 24,1)
O que Deus Uniu o dinheiro não separe
Se seu casamento não está bem, convido você a consagrar hoje, agora,
todo o seu patrimônio (que não é seu, mas de Deus) ao Senhor, e confiar
plenamente na sua providência. Ao usar o dinheiro que Deus lhe concedeu
como um instrumento para ajudar pessoas, você estará colocando Deus em
primeiro lugar na sua vida.
Talvez seu casamento já seja abençoado financeira e espiritualmente. Se
o dinheiro de vocês já está consagrado a Deus, ótimo! Por que não se juntar a
este projeto de evangelização e compartilhar este livro com casais de namorados,
noivos, recém-casados? Ou, quem sabe, com casais juntos há dez, vinte, trinta
anos, e que sempre, ou volta e meia, tropeçam em situações financeiras difíceis?
Existem muitos casais que, por estarem em grande tribulação, não con-
seguem nem pedir ajuda. Estão tão atordoados que precisam de um colete
salva-vidas urgente. Porque não salvar um casamento hoje, agora? O conheci-
mento de Deus e a fé, unidos às ferramentas que irei apresentar, podem salvar
famílias inteiras à beira do colapso. Quanto mais compartilhamos coisas boas,
mais elas se multiplicam! Por fim, uma excelente leitura! Que Nosso Senhor
abra o seu coração para fazer uma experiência de fé, profética, renovadora,
restauradora, para que o dinheiro seja o seu servo e jamais o senhor do seu
casamento e da sua família!
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Capítulo 1
Bruno Cunha
“Quem é fiel nas pequenas coisas será fiel também nas gran-
des coisas. Se não sois fiéis no uso do dinheiro iníquo, quem vos
confiará o verdadeiro bem?” (Lc 16,10-12)
“Teresa sem a graça de Deus é uma pobre mulher; com a graça
de Deus, uma força; com a graça de Deus e muito dinheiro, uma
potência.” (Teresa d’Ávila)
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