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O que Deus Uniu,

o dinheiro não separe


Gerência geral: Rafael Cobianchi
Coordenação Editorial: Thuâny Simões
Projeto Editorial: Rhayssa Siqueira
Preparação e revisão: Bruno Castro/Decápole
Projeto gráfico, diagramação e Capa: Diego Rodrigues
Imagem de capa: Istock/Hiraman
 
 
 
 
Este livro segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.
 
 
 
 
 
 
 
Editora Canção Nova
Rua João Paulo II, s/n
Alto da Bela Vista
12.630-000
Cachoeira Paulista – SP
Tel.: [55] (12) 3186-2600
E-mail: editora@cancaonova.com
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Instagram: @editoracancaonova
 
Todos os direitos reservados.
 
ISBN: 978-85-9463-027-8
 
© EDITORA CANÇÃO NOVA
Cachoeira Paulista, SP, Brasil, 2022
Bruno Cunha

 
 
 
 
 
 
 

O que Deus Uniu,


o dinheiro não separe
 
 
 
 
 
 
 
 
Sumário
Capítulo 1
O que Deus uniu, o dinheiro não separe: a Divina Providência no casamento........ 25
Capítulo 2
Meu dinheiro ou seu dinheiro? A história financeira e perfis de casais..................... 54
Capítulo 3
Dinheiro não cresce em árvore: fé, trabalho duro e uma carreira inteligente........... 66
Capítulo 4
À beira do abismo: casais superendividados e as tentações financeiras..................... 96
Passo 1: “Conhece-te a ti mesmo” – Sócrates............................................................ 108
Passo 2: Autodomínio.............................................................................................. 109
Passo 3: Voltar-se ao interior e encontrar a felicidade................................................110
Passo 4: Quanto vale aquilo em que você acredita?....................................................110
Passo 5: Cura interior................................................................................................110
Passo 6: A fé como ponto de decisão..........................................................................111
Passo 7: Gratidão.......................................................................................................111
Passo 8: Ajude alguém............................................................................................... 113
Capítulo 5
Infidelidade financeira: o perigo mora ao lado........................................................ 118
Situação 1: O casamento vai muito bem, obrigado. A situação financeira é muito
boa............................................................................................................................124
Situação 2: O casamento vai muito bem, obrigado. A situação financeira é regular.... 125
Situação 3: O casamento vai muito bem, obrigado. A situação financeira é muito
ruim..........................................................................................................................126
Situação 4: O casamento está mediano. A situação financeira é muito boa................126
Situação 5: O casamento está mediano. A situação financeira é regular......................127
Situação 6: O casamento está mediano. A situação financeira é muito ruim..............127
Situações 7, 8 e 9: O casamento beira a separação. A situação financeira pode ser muito
boa, regular ou ruim..................................................................................................128
Capítulo 6
Dia D: resolvendo as dívidas, o casamento e a vida................................................. 132
Passo 1 – Abra o jogo e jogue limpo..........................................................................136
Passo 2 – Procurem um sacerdote para a confissão..................................................... 138
Passo 3 – Rezem e reflitam sobre a causa das dívidas..................................................139
Passo 4 – Relacionem tudo em uma planilha ou aplicativo de celular....................... 140
Passo 5 – Foco no resultado: busquem formas de ganhar dinheiro e gerar renda....... 140
Passo 6 – Negociar com os credores e, se preciso, limpar o nome/CPF...................... 141
Passo 7 – Ter acompanhamento................................................................................ 141
Passo 8 – Ter paciência e trabalhar duro para atingir metas e objetivos......................142
Passo 9 – Quitar todas as dívidas...............................................................................142
Dica 1 – Montar currículo, procurar emprego e gerar renda......................................145
Dica 2 – Desfazer-se das coisas não utilizadas............................................................145
Dica 3 – Procurar empregos temporários ou prestação de serviços............................ 146
Dica 4 – Corte de custos agressivo............................................................................ 146
Dica 5 – Abrir um negócio ou micro-empreendimento.............................................147
Dica 6 – Investir no mercado financeiro com cautela................................................147
Dica 7 – Internet e serviços digitais...........................................................................148
Capítulo 7
Orçamento do casal: economia na prática com planilha e aplicativo de celular....... 152
Capítulo 8
O contrato: consagração da vida financeira do casal................................................ 180
Considerações finais............................................................................................... 191
Referências.............................................................................................................192
Para Katia, amor da minha vida, e minhas princesas lindas, Rebeca e
Paola. Elas são minha família, meu lar e minha segurança.
Dedico este livro aos casais que lutam diariamente para manter uma vida
de santidade e crescer nas virtudes cristãs, ao mesmo tempo em que precisam
equilibrar o amor conjugal, a educação dos filhos, o pagamento das contas, o
trabalho, a gestão da vida financeira... tudo isso sem, muitas vezes, ter tido um
mestre, um professor, um amigo para ajudar nas decisões econômicas. Espero que
este livro seja esse amigo a ser consultado inúmeras vezes, se for preciso. E, o mais
importante, que ele seja canal para um encontro pessoal com Jesus Cristo na
eficácia do Espírito Santo.
Prefácio

“A riqueza é a grande divindade deste tempo: é a ela que a


multidão, toda a massa dos homens e mulheres, presta instintiva
homenagem. Mede-se a felicidade pela fortuna, como pela fortu-
na se mede a honorabilidade [...] Tudo provém desta convicção:
com a riqueza, tudo se pode. A riqueza é, pois, um dos ídolos
atuais: outro, é a notoriedade. [...] A notoriedade, o fato de se ser
conhecido e de dar brado no mundo (a que poderia chamar-se
fama de imprensa), acabou por ser considerada como um bem em
si mesma, um bem soberano, objeto, até, de verdadeira venera-
ção.” (Johannes Henricus Newman, Discourses addressed to Mixed
Congregations, 5 [Saintliness the Standard of Christian Principle],
Westminister, 1966, p. 89-91)
“Dinheiro compra remédios, mas não compra saúde. Compra
uma boa cama, mas não compra o sono. Compra a comida, mas
não o apetite. Pode comprar companheiros de momento, mas
não compra amizade.”

E
xiste uma lacuna a ser preenchida na literatura cristã católica sobre as
relações entre Deus, o casamento e o dinheiro. É nesse contexto que sur-
ge o presente livro, que procura falar sobre o tema baseado na doutrina
católica e no conhecimento financeiro disponível.

[9]
O que Deus Uniu, o dinheiro não separe

Este é o objetivo do livro: unir dois grandes e importantes temas, casamento


e dinheiro, e situá-los dentro da perspectiva de Deus. O que Deus quer do seu
casamento quanto ao dinheiro? Como o casal deve economizar ou distribuir
com sabedoria o dinheiro que ganha? Conta conjunta e transparência total
ainda existem? Essas são algumas perguntas que se levantam dia a dia, cada
vez mais, não somente no Brasil, mas em muitos países.

“Duas cabeças pensam melhor do que uma.”


(Provérbio popular)
Diante do aumento do número de divórcios e da crescente dissolução
das famílias, acelerada pela pandemia do Covid-19, vemos que o dinheiro é
um dos primeiros causadores de problemas no casamento. Segundo dados do
IBGE,1 um em cada três casamentos no Brasil termina em separação. Infeliz-
mente, esse número não para de crescer. Uma das razões para isso é que cada
vez mais as pessoas têm se casado sem se conhecer, ou baseadas em futilidades,
e não em um profundo amor e conhecimento recíproco. Há também aqueles
que se casam e só pensam em dinheiro, encarando a união como uma espécie
de contrato de felicidade com duração limitada; do outro lado, temos casais
que só pensam em amor, e nunca falam de dinheiro. Nesses casos, como
popularmente se diz, “eles só querem viver de amor, mas o amor não enche
barriga nem paga boletos e contas de água e luz”.
O casamento é sagrado, e deve ser bom por toda a vida. Sim, é possível ser
feliz no casamento, vivendo e trazendo alegrias um para o outro. O problema
está no âmago do ser humano manchado pelo pecado original, uma desordem
intrínseca e real, que nos arrasta ao erro, ao egoísmo e ao sofrimento. Foi esse
pecado que tornou muito exigentes (e, para alguns, quase impossíveis) tarefas
como dividir as contas, partilhar tranquilamente sobre dinheiro e construir

1
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) é um órgão governamental res-
ponsável por uma série de importantes pesquisas populacionais, econômicas e demográficas,
dentre outras.

[ 10 ]
Prefácio

um orçamento do casal e da família. Não falta conhecimento. Não faltam téc-


nicas, planilhas, aplicativos de celular para auxiliar. Falta mesmo é disposição
de encarar o dinheiro como uma bênção de Deus que precisamos administrar
bem, e sobra comodismo em muitos casais que deixam o dinheiro em segundo
plano, para depois, para o fim do dia. Quando já estão deitados na cama é que
decidem falar das contas a pagar e das coisas que precisam comprar. Se você
se identificou com essa descrição, tome vergonha na cara! Você, homem, ou
você, mulher, devore este livro e outros que forem necessários, e ponha em
prática o que aprendeu. Como diz um autor canadense de finanças, não leia
livros, use livros.
Temos tecnologias de sobra e disposição e amor de menos. Por que não
mudar esse jogo hoje, agora? Aqui você encontrará uma mistura de conheci-
mentos sobre finanças e economia, relacionamento e conjugalidade, espiritu-
alidade e encontro com Deus. O livro segue um formato de retiro: retirar-se
para rezar, conversar sobre o relacionamento e colocar a vida financeira em dia.
Dedico esta obra aos casados de longa data e aos recém-casados ainda em
lua de mel; aos noivos e namorados em amadurecimento no relacionamento.
De forma especial, dedico-a aos casados que desistiram do seu casamento. Para
eles, desejo que este seja um livro-retiro de reencontro, perdão, cura e liberta-
ção no seu casamento. Que seja uma revolução na forma como você enxerga
seu(sua) esposo(a), e como vocês lidam com dinheiro.

[ 11 ]
O que Deus Uniu o dinheiro não separe

“De onde poderei haurir a força para descrever satisfatoriamente


a felicidade do Matrimônio administrado pela Igreja, confirmado
pela doação mútua, selado pela bênção? Os anjos o proclamam, o
Pai Celeste o ratifica... O casal ideal não é o de dois cristãos unidos
por uma única esperança, um único desejo, uma única disciplina,
o mesmo serviço? Ambos filhos de um mesmo Pai, servos de um
mesmo Senhor. Nada pode separá-los, nem no espírito nem na
carne; ao contrário, eles são verdadeiramente dois numa só carne.
Onde a carne é uma só, um também é o espírito.” (Tertuliano)

Certa vez, um famoso financista disse: “Muita gente gasta um dinheiro


que não tem, para comprar coisas que não quer, para impressionar pessoas de
que não gosta” (Will Roger). Que Deus abençoe sua vida, seu casamento e
seu suado dinheiro.

“Dinheiro é um negócio curioso. Quem não tem está louco


para ter; quem tem está cheio de problemas por causa dele.”
(Ayrton Senna)2

2
Fonte: https://www.pensador.com/frases_dinheiro/

[ 12 ]
Introdução
Prioridade zero: a lei da Divina Providência

N
ão importa se você é rico, classe média, pobre, empresário ou micro-
empreendedor, se fez faculdade ou não concluiu o ensino médio, fun-
damental ou básico, se fala somente português ou é fluente em cinco
idiomas. A lei da Divina Providência é uma lei espiritual universal, para todos.

[ 13 ]
O que Deus Uniu, o dinheiro não separe

Até mesmo os que não conhecem a Deus, ou não creem em Jesus Cristo, estão
sob essa lei de bênçãos e graças.
Este livro é uma ferramenta para Deus agir na sua vida. Depende mais
de você do que do próprio Deus. Você quer mudar sua vida financeira? Você
deseja que Deus entre junto com você, ou vocês, na administração do dinheiro,
salários, dívidas, patrimônio, enfim, nas economias do seu casamento? Se sim,
este livro foi pensado, escrito sob muita oração e experiências de vida, fora e
dentro de sala de aula, em atendimentos com casais, e construído, após muitos
anos de pesquisa e entrega a esse ministério, com um único objetivo: propor
mudança de vida, encontro pessoal com Jesus e batismo no Espírito Santo
sobre o seu casamento, ou futuro casamento, e a vida financeira de vocês.
Todos os conteúdos, frases, pensamentos, citações, testemunhos, tudo foi
pensado para este objetivo. O primeiro passo é entender que tudo está debaixo,
submetido e contido sob a lei da Divina Providência. Por isso, queremos a
partir de agora explicar como funciona a Divina Providência no casamento. No
Evangelho de São Mateus, Jesus disse: “Buscai em primeiro lugar o reino dos
céus e a sua justiça, e tudo vos será dado em acréscimo” (Mt 6,33)(Lc 12,31).
Tudo quer dizer tudo! Não importa a sua situação, não importa de que
você esteja precisando, se é uma necessidade, ou algo que não seja estritamente
necessário, mas lhe fará bem – Deus quer lhe conceder isso. Desde uma casa
para morar, um carro para lhe servir, roupas, alimentos, a cama nova para a
sua filha, para o seu filho, talvez um emprego novo. Tudo isso não é para a
sua vaidade, mas para felicidade. Se algo que pedimos a Deus não nos levará a
glorificá-Lo, Deus não nos concederá, porque nos ama. Se você quer pintar a
casa, mudar de cidade, trocar os móveis, não importa qual seja a sua necessidade,
Deus está com você em tudo isso. Como diz o salmo: “A palavra ainda não me
chegou à língua, e já, Senhor, a conheceis toda” (Sl 138/139,4).
Muitos casais desejam quitar dívidas, ou conseguir dinheiro para pagar
a faculdade dos filhos, e também Deus quer entrar neste processo com vocês.
A lei da Divina Providência é muito interessante, porque as nossas decisões
financeiras passam por ela. Quando nós não estamos em sintonia com Deus, por
vezes tomamos decisões erradas, que não são da vontade Dele, e damos com a

[ 14 ]
Introdução

cara na parede. Deus quer providenciar, mas espera de nós obediência e amor.
Não uma obediência por medo, mas por amor e reconhecimento do Senhor.
Certa vez, conheci um empresário que desejava muito expandir seus
negócios. Embora entendesse que aquilo não era vontade de Deus, mesmo
assim o fez, e perdeu tudo que tinha. Deus sabe o que é melhor, os tempos e
os momentos, e não se apraz com a ruína e falência dos seus filhos. Ocorre que,
pela ganância, muitos de nós podemos tomar caminhos de avareza e ambição
que não são o caminho de Deus.
Deus quer providenciar muito mais do que possamos pedir. Observe que
não são apenas bens financeiros, mas felicidade, saúde, amigos, filhos e, espe-
cialmente, a salvação. Deus jamais permitirá que nos seja concedida qualquer
coisa que não contribua para nossa salvação. Por outro lado, tudo que irá
beneficiar, contribuir, impulsionar a nossa salvação, Deus com toda certeza
irá providenciar, e até muito mais do que possamos esperar.
Mesmo quando não somos fiéis a esta lei, mas buscamos a Deus em primei-
ro lugar, Ele continua providenciando tudo de que precisamos. Mas, quando
colocamos Deus em primeiro lugar, experimentamos o extraordinário – desde
as coisas mais simples, até as maiores. Conheci vários empresários que passa-
ram por grandes períodos de tribulações financeiras, empresariais e contábeis
de diversas naturezas, mas quando se renderam à lei da Divina Providência,
viram tudo se transformar. Isso não significa que ficaram ricos – esse não é o
objetivo do livro, não é o objetivo de Deus para a sua vida. A riqueza pode até
acontecer, mas para servir. Afinal, quantos santos da Igreja foram reis e rainhas!
Santa Isabel dá um belo testemunho a este respeito. Do próprio rei Davi, por
exemplo, se deu a origem de Jesus nosso salvador e Mestre.
Quantos santos deixaram tudo e seguiram a Deus! É o caso de Santo
Tomás de Aquino e de muitos outros. Deus permitiu, sim, que alguns fossem
pobres, classe média, e outros fossem ricos (dentre outras classes sociais e eco-
nômicas), mas Ele jamais desejará que nos falte coisa alguma. São numerosos
os testemunhos de pessoas que passaram por grandes dificuldades financeiras,
mas quando entregaram sua vida a Deus, tudo foi se resolvendo pouco a pouco.
Não estamos falando de ganhar na loteria, mas de permitir que Deus cuide

[ 15 ]
O que Deus Uniu, o dinheiro não separe

das nossas finanças, do dinheiro, que na verdade, é dEle. Conforme a lei da


Divina Providência, quando as situações financeiras são solucionadas por Deus,
somos levados para mais perto Dele.
No mundo, quando se busca segurança econômica, quando se busca ga-
nhar, quando se busca ter mentalidade financeira, do tipo “ganhar o primeiro
milhão antes dos trinta anos”, traçando esse tipo de objetivo como um fim
último, nos tornamos pessoas egoístas, consumistas, utilitaristas. Mas quando
vivemos sob a ótica da Divina Providência, tudo se transforma, porque o nosso
trabalho passa a ser um serviço, e ganhar dinheiro passa a ser uma consequência.
Muitas vezes se diz que dinheiro não traz felicidade. E é verdade: ele não
traz. Porém, a falta de dinheiro também traz muitos problemas. Afinal, dinheiro
paga as contas. Mas o que é mais importante dizer sobre isso é que o dinheiro
sozinho não faz nada.
Quantas pessoas, no fim de suas vidas, estão como o idoso retratado na
figura! Elas correm a vida inteira atrás do dinheiro e, quando conseguem al-
cançá-lo, a vida acabou. É claro que existem os extremos – também há pessoas
que não se esforçaram para ganhar dinheiro e hoje passam por grandes tribu-
lações financeiras, porque a lei da Divina Providência também existe para que
nós trabalhemos. Ela prevê que acordemos cedo, que sejamos fiéis ao nosso
trabalho e não coloquemos tudo nas costas de Deus. O que cabe a mim e a
você Deus não vai fazer.
Se você precisa responder os seus e-mails pontualmente, se você precisa
atender aos seus clientes com satisfação, com sorriso no rosto, Deus não vai
fazer isso por você. É seu trabalho. Então, a lei da Divina Providência nos equi-
libra, nos centraliza na vontade de Deus. Não importa o que você faz, se você é
pedreiro ou empresário, se você é médico, advogado, engenheiro ou do lar. Se
você é um microempresário, um estudante, ou se você é um adolescente que
sonha em um dia ter uma profissão, uma carreira, não importa; o importante
é que esse serviço seja para a glória de Deus.
Quando fazemos a vontade Dele, nós conseguimos, em primeiro lugar,
alcançar os objetivos ligados à satisfação pessoal, de sentir-se feliz com o que se
faz, sentir satisfação interior. Ao mesmo tempo, conseguimos também ajudar

[ 16 ]
Introdução

as pessoas. É uma moeda de dois lados: mesmo que o trabalho seja desgastante
e tenha partes de que não gostamos, ele nos traz uma satisfação de serviço bem
feito e cumprido.
Podemos ilustrar isso com o exemplo de um pedreiro que ajudou a cons-
truir uma catedral e, ao olhar aquele edifício pronto, fica feliz porque ajudou
a colocar alguns tijolos naquele templo. Não importa o que você faz, o que
importa é que você o faça sob a vontade de Deus.
Portanto, a lei da Divina Providência é uma dádiva maravilhosa concedi-
da por Deus a todos nós. Muitos de nós não queremos seguir essa lei porque,
assim como tudo que há na Bíblia, trata-se de uma lei radical. Não se pode
viver sob a Divina Providência e sob a ótica do mundo ao mesmo tempo. Não
é possível pôr um pé no céu e outro no mundo; só é possível colocar os dois
pés em um único lugar.
Por isso, já no início deste livro, eu lhe pergunto: onde você quer colocar
os seus pés? No céu ou na terra? Tenho certeza de que a sua escolha é colocar
os dois pés no céu. Muito bem! Mas não se esqueça de cumprir os seus afaze-
res terrenos.
Há pessoas que vivem pensando nas coisas de Deus, mas se esquecem
de tratar bem os irmãos à sua volta. Elas não entenderam nada! O nosso céu
começa aqui na terra. E por falar em dinheiro, por falar em finanças, a lei da
Divina Providência prevê que buscar o reino de Deus acima de tudo é também
ajudar o pobre, o necessitado, o enfermo, aquele que está nu, aquele que tem
fome, que tem sede, aquele que está preso, aquele que está doente, aquele que
é estrangeiro (cf. Mt 25,31-46).
Há pessoas que cumprem a lei da Divina Providência mesmo sem saber,
honrando seu trabalho, ajudando o próximo, não tendo ganância no seu coração.
Lembrando que querer crescer, querer ter um patrimônio e dar estabilidade
financeira à família não é ganância, isso é previdência humana. Afinal, a Pro-
vidência Divina não exclui a previdência humana.
Se você tem uma boa reserva financeira, este livro também é para você.
Você sabe por que esse dinheiro foi até as suas mãos? Claro, pelo fruto do seu

[ 17 ]
O que Deus Uniu, o dinheiro não separe

trabalho, do seu esforço, da sua inteligência, da sua técnica, mas esse dinheiro
está em suas mãos por graça de Deus.

“Vivei sem avareza. Contentai-vos com o que tendes, pois Deus


mesmo disse: ‘Não te deixarei nem desampararei’.” (Hb 13,5)
Ouvir a voz de Deus é um dos pré-requisitos para viver a lei da Divina
Providência. Quantas pessoas ganham dez, vinte, trinta salários-mínimos
por mês e vivem endividadas! Já encontrei alguns casos de pessoas que não se
aguentam e precisam comprar o último smartphone da moda, ainda que muitas
vezes não saibam utilizar esse equipamento. Por isso, é preciso estar atento. O
consumismo, inclusive, tem devorado muitos jovens, donas de casa, mães e
pais, até mesmo muitos idosos, que empregam sua aposentadoria em longos
empréstimos.
Nesses tempos de pandemia, a lei da Divina Providência é ainda mais
exigente. O período de distanciamento social foi um tempo financeiramente
muito exigente, mas para aqueles que puseram sua confiança no Senhor, mesmo
passando por tribulações, nada lhes faltou. Algumas coisas que antes tínhamos,
talvez não tenhamos agora. Mas o essencial não faltou, porque Deus dá aos
seus até durante o sono, como diz a Bíblia:

“Doce é o sono do trabalhador, tenha ele pouco ou muito


para comer; mas a abundância do rico o impede de dormir.”
(Ecl 5,11)
Deus cuida de mim e de você, não perca o seu sono. Confie em Deus,
pois Ele tem o melhor para você, para a sua família, para os seus filhos, para
os seus funcionários. A lei da Divina Providência também se manifesta para
aqueles que possuem uma empresa, um negócio, um micro empreendimento,
porque gerar empregos é uma grande obra de caridade.

[ 18 ]
Introdução

Muitas pessoas colocam trabalhadores contra empreendedores, seguindo


ideias marxistas. E, nos tempos modernos, se criam divisões sociais envolvendo
todas as categorias, como homens contra mulheres e brancos contra negros.
Não podemos cair nesse jogo do mal. Precisamos nos unir para servir a Deus,
trabalhando com as ferramentas que nós temos.
Por isso, convido você a tomar a decisão de seguir a lei da Divina Provi-
dência. Quero, inclusive, que você anote a data de hoje, em que você tomou
essa importante decisão. Todas as manhãs, lembre-se de repetir: “Hoje eu vou
colocar as coisas de Deus em primeiro lugar, e tudo me será dado em acréscimo”.
Pode ser que, após tomar essa decisão, você passe por uma prova, porque
é assim a nossa vida: nós passamos por provas o tempo todo. O próprio Jesus
passou por provas, mas não tenha medo, pois após essa prova, você será maior
e mais forte, com uma fé muito mais amadurecida. Entregue-se confiante a
Deus. Não tenha medo de abrir mão da sua segurança, até mesmo em alguns
aspectos intelectuais, porque, como ensinam Santo Agostinho e Santo Tomás
de Aquino, a fé é um ato de inteligência, mas também pressupõe acreditar em
algo que ainda não vemos (cf. Hb 11,1). Por isso, fica aqui o questionamento:
você quer ver a Divina Providência agir? Tome agora uma decisão.

[ 19 ]
O que Deus Uniu, o dinheiro não separe

A tentação é logo ali

Sim, é verdade, a tentação mora ao lado! A partir do momento em que


você tomar a decisão de acompanhar a vontade de Deus, sendo fiel à lei da
Divina Providência, várias tentações irão bater a sua porta. De forma especial,
o inimigo de Deus irá propor atalhos, encurtamentos de distâncias. Aí é que
mora o perigo. Afinal, a tentação é sempre com algo aparentemente bom, mais
fácil, mais rápido, mas que não corresponde à vontade de Deus.
Os desafios que Deus nos propõe passam, muitas vezes, por caminhos
longos e incompreensíveis, mas que levam à realização da Sua santa vontade.
Por isso, esteja atento: se você se decidiu a seguir a lei da Divina Providência,
não volte atrás. O próprio Jesus foi tentado no deserto. O inimigo de Deus
quis trazer atalhos para a vida de Jesus. Prometeu-lhe a glória sem passar pela
cruz. Prometeu alimento enquanto Ele fazia jejum. Propôs que Ele pulasse
do templo e fosse salvo. Mas Jesus recusou essas ofertas e, por isso, eu e você
somos chamados a recusar todo e qualquer tipo de atalho, seguindo a vontade

[ 20 ]
Introdução

de Deus até o final. É importante entender que, por mais que a Divina Pro-
vidência possa ter caminhos por vezes insondáveis, incompreensíveis, eles são
caminhos de sabedoria.
Na obra O Abandono à Providência Divina, do Pe. Jean Pierre de Caussa-
de, aprendemos que os deveres de cada momento são sombras sob as quais se
oculta a ação da Divina Providência. Segundo o autor, muitas vezes a virtude
de fazer a vontade de Deus se oculta nos afazeres, nas coisas que precisamos
fazer. Por isso, é importante estar inteiro e colocar cada dever do momento
sob a vontade de Deus.
É importante entender que a lei da Divina Providência nos concentra,
nos torna focados apenas no projeto de Deus. Portanto, projetos que não
estão conforme a vontade de Deus não irão para frente. Isso pode ser muito
doloroso; por exemplo, imagine um jovem que Deus chama ao sacerdócio,
mas que insiste em um namoro que, por vezes, é bom, mas não está de acordo
com a vontade de Deus. Por mais que esse jovem lute pela santidade, a fuga
da própria vocação nunca o fará plenamente feliz e realizado. Ele carregará
sempre consigo essa inquietação. Afinal, a voz de Deus nos chama noite e dia.
Deus chama cada um de nós a um serviço, a um trabalho, a uma missão.
Imagine uma pessoa chamada a ser médico mas que, pela dificuldade em se
formar em Medicina, escolhe alguma outra profissão. Por toda a sua vida, ele
irá carregar dúvidas como: “Será que eu poderia ter feito mais?”, “Será que eu
poderia ter me dedicado mais?”. A lei da Divina Providência nos livra de todo
e qualquer tipo de arrependimento porque, ao segui-la, nós fazemos a vontade
de Deus acima de tudo. E, mesmo quando a vontade de Deus não é aquilo
que nós imaginamos, Ele corrige e dirige os nossos passos. É assim que ocorre
com quem se consagra à vontade Dele.
Olhar as finanças com o olhar de Deus muda toda a história. Há muitos
casais que olham as finanças apenas com os olhos humanos, vendo somente
contas a pagar, boletos e faturas. Mas, do ponto de vista da Divina Providência,
tudo se torna instrumento e meio para a salvação, tanto do casal como dos
filhos que virão ou que já vieram, e até mesmo dos netos.

[ 21 ]
O que Deus Uniu, o dinheiro não separe

A Divina Providência para o casal é um ponto de união, porque ambos


rezam, clamando a Deus pelas suas necessidades, e são abençoados. Ao fazer
isso, correm atrás também dos prejuízos e das lutas do dia a dia pelo trabalho,
pelo sustento. Eles não cruzam os braços, esperando receber tudo de graça.
A maior parte das coisas que temos, que por sinal são as mais importantes,
nós as recebemos de graça. Foi a Divina Providência que nos abençoou com
a vida, o dom maior que temos, e com o tempo, o dia de hoje. Mas também
provêm da Divina Providência as obrigações que temos em nossa profissão, os
colegas de trabalho que nos incomodam, os clientes inconvenientes ou aqueles
vizinhos que nos importunam. Tudo isso é providência para a nossa santificação.
Tudo é bênção, quando nos submetemos à vontade de Deus.
É interessante observar que algumas pessoas, ao perderem o emprego,
entram em desespero, mas ali também a Divina Providência está agindo. Já
pude ver testemunhos de pessoas nessa situação que rezaram pedindo a Deus
algo novo, e esse algo novo aconteceu. Então, quando algo novo acontecer na
sua vida, à medida que você lê esse livro, não se desespere ou se inquiete. A
vontade de Deus estará com você!

“Na casa do sábio há reservas de comida e azeite; o homem


imprudente, porém, devora tudo o que pode.” (Pr 21,20)

[ 22 ]
“Se você não consegue controlar
as suas emoções, você não
pode controlar o seu dinheiro.”
(Warren Buffet)
Capítulo
1
O que Deus uniu, o dinheiro
não separe: a Divina
Providência no casamento
“Buscai em primeiro lugar o Reino
de Deus e a sua justiça, e todas
estas coisas vos serão dadas em
acréscimo.” (Mt 6,33)
Capítulo 1
Bruno Cunha

“Eu só consigo pensar em você, minha amada imortal. Só


posso viver plenamente com você, ou não posso viver.” (Ludwig
van Beethoven)

J
orge e Melissa3 são um casal jovem, em idade e tempo de casamento.
Batalhadores que são, sonham juntos com seu futuro familiar e financei-
ro. Com sete anos de casados, já passaram bons bocados. Com o tempo
e o desgaste da relação, quase que semanalmente passaram a trocar indiretas,
farpas, acusações sobre os gastos e escolhas financeiras de ambos. Estão em
bons empregos, com bons salários, trilhando carreiras distintas e de sucesso.
Colocam em comum tudo que possuem: conta conjunta, construção da casa,
reserva financeira de emergência, investimentos, menos as férias: enquanto um
quer ir a Bariloche, o outro prefere Dubai. Quando isso acontece, decidem ir
cada um para um lado. Estão crescendo economicamente, mas o casamento
está na direção oposta. Não souberam fazer do dinheiro um servo de Deus e
do casamento.
Nem sempre o relacionamento de Jorge e Melissa foi assim. No tempo
do namoro, tudo parecia perfeito – eles eram jovenzinhos, com vinte e poucos
anos, e tudo fluía maravilhosamente bem. Saíam juntos, namoravam tran-
quilamente, participavam da missa juntos aos domingos e dividiam as contas
com os amigos. Dinheiro nunca era problema. Discutir, só rapidinho, e logo
se beijavam e se perdoavam. Cada um ia para sua casa, sua cama de solteiro,
e ficaram trocando mensagens de amor pelo celular até altas horas. Conversas
sobre dinheiro e finanças, na verdade, quase nem existiam. Achavam que era
um ponto comum, já alinhado e definido. Suas metas eram comuns: planejar
tudo, gastar só com o necessário, ter uma boa casa e um bom carro, viajar nas
férias, ter três filhos. “Para que, afinal, falar de dinheiro, se nosso amor é tão

3
Todos os casais retratados como exemplo ao longo do livro são reais. Mas, por questão
de sigilo e ética profissional, optou-se por atribuir a eles nomes fictícios, assegurando sua
privacidade.

[ 27 ]
O que Deus Uniu o dinheiro não separe

grande, e isso é só um detalhe?”, pensavam. “A gente se ama mesmo!”, diziam


um ao outro na frente da família e dos amigos, e nos momentos a sós.
Depois de cinco anos de namoro, veio o noivado e o casamento logo em
seguida. Já casados, com dinheiro caindo em suas contas, e contas a pagar
chegando a todo momento, faturas de cartão, conta de água, luz, internet,
telefonia, supermercado, o que era simples passou a se complicar.
Com o passar dos anos, a história mudou, e muito! O amor desinteressado
e aquela percepção de que tudo estava bom para ambos deram lugar a brigas
e mais brigas. No café da manhã, no almoço e jantar, na fila do cinema, no
restaurante com os amigos, no shopping e até antes de dormir, já na cama, o
assunto dinheiro, contas a pagar, necessidades surgia facilmente. Não com
esse nome, mas disfarçado de comentários como este, cinco segundos antes de
dormir: “Amor, tem que pagar aquela conta... Você não esqueceu, né?”. Isso
era suficiente para um irritar profundamente o outro e transformar o ninho
de amor em um balaio de gatos, com uma DR4 que se prolongava até altas
horas da madrugada.
Melissa é metódica, perfeccionista e sistemática. Para ela, cada centavo
tem sua hora, lugar, destino certo e precisa ser registrado, contabilizado, lan-
çado em sua planilha financeira (que, por sinal, só ela entende). Suas contas e
gastos são feitos com racionalidade cartesiana. Despesa não planejada, para ela,
não pode existir de maneira alguma. O cartão de crédito acumula poeira, pois
Melissa quase não o utiliza, preferindo pagar tudo no cartão de débito. Ela não
parcela nem as compras de fim de ano, e muito menos financiou o carro que
comprou – o carro de Jorge, por outro lado, está financiado em sessenta meses.
Ela prefere pagar tudo à vista e chora por descontos. Melissa sabe nego-
ciar, pois conhece o mercado e fez cursos à distância de negociação e vendas.
Nas viagens que já fez, nunca se deixou levar pela beleza ou pelo impulso do
momento. Traz na sua mente um mote escrito com letras garrafais: “Eu pre-
ciso mesmo disso?”. Nas compras de eletrodomésticos, mensalidade de cursos,

4
Abreviação moderna para discutir a relação, geralmente com conotação tensa, variando de
casal para casal.

[ 28 ]
Capítulo 1
Bruno Cunha

supermercados, está sempre em busca da economia. É capaz de entrar e sair de


um shopping correndo para não pagar o estacionamento, dentro da tolerância
de quinze minutos. Seus lemas de vida, ensinados carinhosamente por seu pai,
empresário bem-sucedido, e repetidos por anos, são:
 
Lemas de vida de Melissa
• Se não tenho, não gasto.
• Dinheiro não nasce em árvore.
• Não existe almoço de graça!
• Dinheiro não aceita desaforo.
 
Jorge é o avesso de Melissa. Sonhador, puro de coração e ligado às emoções,
gosta de curtir a vida e não se incomoda nem um pouco com quanto gasta.
Possui um bom salário, não tão bom quanto o de Melissa, mas não reclama
e não tem qualquer ambição de crescer, prosperar ou sequer poupar para o
futuro. Paga tudo parcelado, tal como aprendeu de sua mãe. Prefere comprar
o automóvel financiado, afinal, diz ele, “são só uns jurinhos pequenos de 2,5%
ao mês”. O celular ainda está pagando em dez vezes, e as roupas em doze vezes
“sem juros”5 no cartão. O seu objetivo é a qualidade de vida. Por isso, prefere
o melhor sempre, desde as roupas e perfumes até o automóvel, que é sempre
o modelo do ano – ainda que não seja seu, mas do banco, da financeira.
Jorge justifica seus gastos dizendo: “Que mal tem? Todo mundo faz isso!”.
Não quer guardar dinheiro, pois acredita ser mais importante aproveitar a
juventude, usufruindo do consumo instantâneo. Detesta falar sobre dinheiro,
contas a pagar, planilhas, aplicativos de celular para controle de gastos e no-
ticiário econômico. Para ele, isso é coisa de gente chata e estressada, que não
sabe viver a vida. Ele não acessa sites de finanças nem assiste ao noticiário de

5
As compras sem juros no cartão escondem, muitas vezes, um grande desconto que só pode
ser obtido se o pagamento for realizado à vista, em apenas uma vez, ou até mesmo no boleto.

[ 29 ]
O que Deus Uniu o dinheiro não separe

economia, até porque Melissa já faz isso por ele – o que é pretexto para brigas
constantes. Seus lemas de vida são:
 
Lemas de vida de Jorge
• A vida é curta, então curta!
• Caixão não tem gaveta.
• Deixe-me ser feliz!
• Eu mereço.
• Estou estressado.
• Para de pegar no meu pé, sua chata!
 
E aí? Você se identificou com alguma parte dessa história? Talvez o seu
relacionamento, casamento, namoro, noivado, tenha algumas semelhanças
com Jorge e Melissa. Faça um teste rápido:

[ 30 ]
Capítulo 1
Bruno Cunha

Testando a nota financeira do casal

Numa escala de zero a dez, qual nota você daria ao tema diálogo e plane-
jamento do dinheiro no seu casamento/relacionamento?
 
Nota: ____
 
Anote este número. Agora, obtenha a nota do seu cônjuge, namorado(a)6
ou noivo(a). Você fará isso sem perguntar diretamente a ele(a), ou seja, solicite
que algum(a) amigo(a) faça a pergunta e repasse a resposta a você.

6
Recomenda-se que os casais de namorados, que já se encontram maduros, e olham para
o noivado, casamento, procurem falar sobre vivência da fé em conjunto, dinheiro, trabalho,
visões de mundo e objetivos. Iniciar um namoro morando juntos é começar errado algo que
pode ser muito melhor se começar do jeito certo, com um bom tempo de vivência do namoro,
conhecimento mútuo, noivado e o grande dia do casamento.

[ 31 ]
O que Deus Uniu o dinheiro não separe

Depois, some as duas notas de vocês e divida por dois. Veja como vocês
estão. Passaram de ano, sendo uma faculdade com média sete? Ou vão ficar
em recuperação? Se a nota ficou abaixo de sete, acenda uma luz vermelha. Se
ficou acima de sete, como oito ou nove, por que não conhecer mais do tema
dinheiro e casamento para chegar ao dez? Se vocês tiraram notas abaixo de
cinco, melhor ler o livro até o final e salvar seu casamento de muitos desgos-
tos ou dívidas. Será que existem diferenças nas histórias financeiras de vocês?
Não perca o tema financeiro de vista, pois ele tem importância fundamental
na qualidade do seu casamento. Vejamos a segunda parte da história de Jorge
e Melissa.
No início do casamento, eles viveram felizes, mas isso não durou para
sempre. Passados os primeiros anos, as camadas mais profundas da personali-
dade começam a saltar aos olhos um do outro.
O tempo decanta as emoções e os sentidos, e faz flutuar as razões.
Com o tempo de casados e as brigas constantes, catalisadas pela falta
de sintonia financeira, a paixão esfriou. Terminado o encanto, o casamento
começou a se tornar burocrático, resumindo-se às rotinas e lutas do dia a dia.
Tudo isso fez cair as escamas que antes cegavam os olhos de Jorge e Melissa.
Eles passaram a brigar diariamente por causa da conta de luz, do tempo do
banho com chuveiro elétrico, dos gastos em restaurantes, do excesso em querer
poupar/gastar, e por diante. Resumo da ópera: histórias financeiras diferentes,
visões de mundo diferentes, projetos de felicidade diferente. As brigas cres-
ceram tanto que, em alguns casos, culminou em histeria e agressões. Como
resolver tal impasse? Por que o amor deles perdeu tanto espaço para problemas
com dinheiro?
Resumindo a narrativa apresentada, temos:

[ 32 ]
Capítulo 1
Bruno Cunha

Para efeito de comparação, veja como seria o cenário ideal:

É bastante comum casais discutirem ou até brigarem por causa de dinheiro,


finanças, salários, conta conjunta, construção da casa própria, compra ou troca
do automóvel, alcançar sonhos financeiros, viajar, construir um patrimônio
juntos, escolha de onde alocar seus salários, recursos e investimentos. Não
são incomuns também as conversas acaloradas sobre empréstimos, dívidas,
financiamentos, prestações do carro e/ou da casa, cartão de crédito, cheque
especial, bancos, financeiras, empréstimos consignados e por aí vai. Se você
está dentro desse grupo de pessoas, se está namorando ou um dia pensa em
se casar, não imagine que os casais começaram há pouco tempo a falar sobre
suas economias e finanças. O dinheiro tem uma longa história e, na vida dos
casais, tem deixado seu rastro ao longo dos séculos.
Ainda no século 8 antes de Cristo, na Índia, um texto escrito em sânscrito
(uma das línguas mais antigas da história humana, de onde derivou inclusive
o aramaico do tempo de Jesus), narra-se um diálogo entre marido e mulher
sobre dinheiro. Quais seriam os modos, caminhos, meios, para se tornarem
mais ricos? O que os movia em sua conversa eram suas inquietações quanto ao
dinheiro. Perguntavam entre si se a riqueza teria a capacidade de ajudá-los a
realizar seus sonhos. A esposa, tal como narra o texto, queria saber se o mundo

[ 33 ]
O que Deus Uniu o dinheiro não separe

inteiro, repleto de riquezas, poderia lhes fornecer a imortalidade. O homem,


seu esposo, responde que não, mas que ambos teriam a vida de pessoas ricas,
com as devidas regalias e confortos, no entanto, sem qualquer esperança de
alcançar a imortalidade por meio do dinheiro acumulado. A esposa responde
ao marido com a afirmação: “De que me serve isso (todo este dinheiro), se
não me torna imortal?”.7
O diálogo do casal, datado de 2800 anos atrás, se aproxima bastante das
ansiedades e anseios do homem de hoje. Muitos casais, infelizmente, têm
colocado o dinheiro como meta e objetivo de suas uniões, o que muitas vezes
pode sufocar o amor que um tem pelo outro. Isso se parece com o que você tem
falado com sua esposa(o), namorado(a) e até planejado a respeito? A pergunta
da esposa foi citada inúmeras vezes pelos filósofos nos séculos que se seguiram.
Eles desejavam mostrar como as inquietações e tribulações dos homens são
limitadas pelo mundo material. Aristóteles, na Grécia antiga, em sua obra
Ética a Nicômaco, na mesma direção, descreve que “a riqueza evidentemente
não é o bem que estamos buscando, sendo ela meramente útil e em proveito
de alguma outra coisa”.

7
SEN, A. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

[ 34 ]
Capítulo 1
Bruno Cunha

O que Deus uniu, o homem não separe

Em Mc 10,9, Jesus diz categoricamente que “o que Deus uniu, o ho-


mem não separe”. Na passagem, que se inicia no versículo 2, alguns fariseus
se aproximaram de Jesus para experimentá-lo, testá-lo, armar-lhe embustes.
Perguntaram se era permitido ao homem despedir sua mulher. Jesus retorna
a pergunta e vai ao encontro do que lhes interessava, pois sabia bem o que
pensavam no coração: “Qual é o preceito de Moisés a respeito?”. Observe que,
no tempo de Jesus, existiam diversos relatos históricos de que, para o homem
dispensar sua esposa, era preciso pouca coisa. Até mesmo queimar a comida
na panela era suficiente para justificar um divórcio, o que por si só é absurdo
hoje. É preciso, no entanto, entender o contexto histórico.
O texto segue com a resposta dos fariseus: “Moisés permitiu escrever um
atestado de divórcio e despedi-la”. Jesus então disse: “Foi por causa da dure-
za do vosso coração que Moisés escreveu este preceito. No entanto, desde o

[ 35 ]
O que Deus Uniu o dinheiro não separe

princípio da criação Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará
pai e mãe e se unirá à sua mulher e os dois formarão uma só carne” (Mc 10,8).
A resposta de Jesus é tão profunda e tão bela, que seriam necessárias mui-
tas páginas para discorrer sobre sua sabedoria e força. Jesus é o próprio Deus,
único e verdadeiro, conhecedor de todos os pensamentos dos homens, capaz
de sondar os corações antes mesmo que tenham existido. A resposta de Jesus
hoje é mais atual do que nunca. No universo de novas configurações de “amor”
e novas formas de amar, Jesus tem suas palavras ecoadas em nossos corações.
Ao falar que desde o princípio não era assim, Jesus quer restaurar todas
as coisas, voltar à essência. Muitos casamentos hoje acabam em separação
porque perderam sua essência, sua origem, sua fonte vital: um homem e uma
mulher que, por amor e iniciativa própria, com toda liberdade de filhos de
Deus, deixam suas famílias, seus pais, e se unem para criar uma nova família.
Quantos casamentos hoje estão desmoronando porque perderam o foco
no amor e passaram a pensar só em dinheiro? Esses casais ignoram o amor de
Deus que os uniu, assim como o amor um pelo outro, que os fez largar tudo
por amor, e focam no dinheiro, bens, carreira, casa, apartamento, carros e
vaidades mundanas.
Jesus continua a dizer, no Evangelho de Marcos: “o que Deus uniu, o
homem não separe” (Mc 10,9). A palavra “homem” significa que nada humano,
mundano, terreno, secular, deve separar aquilo que Deus uniu. Quando o as-
sunto é o divórcio, as coisas do mundo, o pecado, estão sempre como princípio
causador. A infidelidade e o dinheiro são as duas grandes causas de separação no
mundo de hoje. Segundo dados do IBGE, em cada três casamentos celebrados
no Brasil, um acaba em separação. Em 2018, o número de separações atingiu
34% dos casais, cifra muito superior aos 10% observados em 1984, quando
foi aprovada a lei do divórcio.
Fora do Brasil, a história não é muito diferente. Nos Estados Unidos,
os chamados “divórcios depois dos cinquenta” ou “grey divorces” (divórcios
grisalhos) dobraram nos últimos vinte anos.8 Trata-se de um fenômeno em

8
Levantamento realizado pelo Pew Research Center dos EUA.

[ 36 ]
Capítulo 1
Bruno Cunha

crescimento, e entre as pessoas acima dos 65 anos o número triplicou. Os casais


chamados baby boomers, nascidos entre 1946 e 1964, e que hoje se encontram
na faixa dos cinquenta anos, vivenciaram a chamada revolução sexual,9 que
gerou um número sem precedentes de divórcios.
A palavra de Jesus é profética: “o homem não separe”. O mundo tem
proposto muitas formas de separação. Dentre as principais está o dinheiro.
Segundo o professor da Universidade de Michigan, Scott Rick, os casais que
não planejam juntos suas finanças, seus gastos, tendem a procurar a separação.10
No Brasil, segundo pesquisa do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e
da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas), o principal motivo
de brigas entre casais é o dinheiro.
A Bíblia traz, em todos os seus livros, mais de 250011 menções sobre dinheiro,
patrimônio, riqueza, empréstimo, bens, juros, herança e termos relacionados
a posses. Deus inspirou os hagiógrafos – autores movidos pelo Espírito Santo
a escrever os livros da Bíblia – a falar com muita frequência sobre dinheiro e
necessidades materiais. A pergunta básica a ser feita é: Por que Deus quis nos
falar tantas vezes sobre economia, dinheiro e finanças? Ele fez isso porque sabe
que é um tópico importante para o ser humano.
A Bíblia é como uma bússola capaz de nos guiar pelos caminhos da vida
na certeza de nos levar à vontade de Deus. Obviamente, não pode ser lida de
qualquer forma; precisa ser interpretada, meditada e esclarecida diante de seu
contexto histórico e teológico. Dito isso, o mais importante é saber que Deus
nos quer instruir em todas as áreas da nossa vida, o que inclui o dinheiro. Deus
sabe o quanto precisamos do dinheiro para realizar sonhos e suprir necessida-
des, e também o quão fácil podemos cair em tentações ao fazer mau uso dele.

9
Revolução sexual, em linhas gerais, foi o fenômeno entre os anos 1960 e 1970 que se con-
trapôs à realidade heterossexual e monogâmica tradicional, principalmente contra o casamento.
A pesquisa do Dr. Scott foi realizada com mil pessoas, entre casados e solteiros, e constatou
10

que a maioria se relaciona com pessoas de hábitos econômicos opostos.


Pesquisa realizada pelos autores americanos Howard Dayton e Jon Bean na obra Your
11

Money Counts.

[ 37 ]
O que Deus Uniu o dinheiro não separe

“O amor ao dinheiro é a origem de todos os males” (1Tm 6,10)

Esta passagem bíblica emblemática é repetida muitas vezes em sermões e


pregações. Observe que ela não diz que o dinheiro é mau, mas que o amor ao
dinheiro, este sim, é desordenado e um pecado grave. Logo, se utilizamos o
dinheiro a nosso favor e em prol da nossa santificação, ele será um instrumento
maravilhoso de fazer o bem.
A sua relação com o dinheiro impacta diretamente a sua relação com Deus.
Quanto mais confio no dinheiro, menos confio em Deus. Quanto mais
coloco minha segurança e esperança na riqueza, mais esqueço que a única
esperança e segurança é Jesus Cristo, nosso salvador. Cada decisão financeira
é uma decisão espiritual, pois o dinheiro pertence a Deus. Cada centavo que
tenho em minha conta foi fruto da Divina Providência em minha vida.
Você pode se perguntar: “Mas tive que trabalhar duro o mês inteiro para
ganhar este salário! Não foi Deus que me deu. Eu que ganhei!”. Aí mora o en-
gano do homem moderno, que quer ser deus de si mesmo. Observe o que diz

[ 38 ]
Capítulo 1
Bruno Cunha

o Salmo 23: “Do Senhor é a Terra e tudo o que ela contém, a órbita terrestre e
todos os que nela habitam”. Deus criou todas as coisas, criou o homem e toda
a face da Terra. Tudo lhe pertence. Acontece que Deus dá ao homem a graça
de desfrutar da criação, usufruir dela, a partir do seu livre arbítrio. Ninguém
pode achar que possui coisa alguma, pois nada desta vida será levado adiante.
Devemos, então, rasgar as vestes e abandonar tudo? De forma alguma! Deus
concedeu tudo que você tem, por meio da sua Divina Providência, e quer contar
com a sua colaboração, ainda que não precise, para que o Reino de Deus seja
instaurado em nosso meio.

As decisões financeiras do seu casamento


são também decisões espirituais

O propósito deste livro é, na verdade, uma missão: salvar seu relaciona-


mento e o seu casamento! Queremos salvar casais que estejam caminhando
rumo ao divórcio ou vivendo em “pé de guerra”.

[ 39 ]
O que Deus Uniu o dinheiro não separe

O livro procura também responder alguns questionamentos:


 
1. O dinheiro tem sido motivo de brigas, desentendimentos, separação
e divórcio de casais?
2. Por que o dinheiro tem causado tais problemas e quais os motivos
destes sofrimentos na vida matrimonial?
3. Como salvar seu casamento, noivado ou relacionamento, das arma-
dilhas do dinheiro (dívidas, desemprego, consumismo, conformismo,
preguiça, ganância)?
4. Como o casal pode fazer uso do dinheiro para consolidar seu matri-
mônio e se preparar para o futuro, ciente de que Deus é o princípio
e o fim de tudo?
5. Como alcançar uma vida financeira estável e, ao mesmo tempo, ajudar
os pobres e necessitados ao seu redor?
6. Como salvar o casamento de algum amigo ou parente cujo dinheiro
tornou-se motivo e causa de atritos e até infidelidades?
 
As perguntas serão respondidas ao longo dos capítulos e sua base será
argumentada em duas principais fontes:
 
a. A Palavra de Deus, a Bíblia, de forma especial, mas também os ensi-
namentos da Santa Igreja Católica Apostólica Romana em sua Sagrada
Tradição e no Magistério (escritos dos Papas em especial).
b. A literatura de economia e de finanças, baseada em dados estatísticos
e factuais publicados pela imprensa e por institutos de pesquisa.
c. Testemunhos de casais que tiveram suas vidas transformadas por Deus
em suas esferas espiritual e econômica. Pretende-se ainda analisar dados
e estatísticas dos muitos casamentos que, infelizmente, têm terminado
em divórcio por motivos relacionados ao dinheiro.

[ 40 ]
Capítulo 1
Bruno Cunha

A beleza do casamento e o sofrimento do divórcio

A união de um homem e de uma mulher pelos laços matrimoniais é a


obra mais bela, o ápice da criação divina relatado já no primeiro livro da Bíblia,
o Gênesis:
 

“Por isso, deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua


mulher, e eles serão uma só carne.” (Gn 2,24)
 
Do casamento surgem os filhos, dos quais se origina a família, centro, base
e santuário da vida, da sociedade e da Igreja. O objetivo do livro, portanto, não
é outro senão salvar casamentos. Se você conhece algum casal em dificuldades
financeiras ou de relacionamento por causa do dinheiro, você já faz parte desta

[ 41 ]
O que Deus Uniu o dinheiro não separe

missão de evangelização. Leve esta proposta até eles. Infelizmente, o número


de divórcios cresce a cada ano no Brasil e no mundo. Somente em nosso país,
ocorrem entre 50 e 60 mil divórcios por ano.12
Assim, o propósito que assumimos, de modo um tanto ousado, é interrom-
per esta trajetória de sofrimento, com vistas a atingir centenas de milhares de
casais. Se o seu casamento passa por brigas e dificuldades no diálogo financeiro,
ou em discussões mais sérias, este livro é para você.
O que quero apresentar e esclarecer, da melhor forma possível, são os
motivos pelos quais tantos casamentos têm chegado ao fim. Por que razões
muitos casais desistem do amor, desistem das promessas feitas no altar diante de
Deus, e colocam fim em suas histórias de amor? Quantos casamentos chegam
ao fim por motivos financeiros?
O que Deus uniu, o dinheiro não deveria separar. Não somente o dinheiro,
mas também as dívidas, as contas a pagar, o desemprego, os bens, o patrimônio,
a conta bancária, a herança dos pais. Enfim, o dinheiro ou a falta dele não
devem ser motivos para o fim de um relacionamento.
Em 2007, a média de duração dos casamentos era de dezessete anos. Em
2017, a média caiu para quatorze anos (IBGE).
Por fim, o livro busca trazer soluções, resolver problemas. Não é um
livro de acusação e apontamento de dedos! É um livro de conversão para os
que querem ter uma vida em Deus, com estabilidade financeira, sem perder o
romantismo e o amor. Queremos elucidar como um casal pode compreender
os motivos que o levam a discutir com frequência sobre dinheiro, como cons-
truir um diálogo sólido, baseado na fé, na cumplicidade e no trabalho duro
em conjunto para construir um patrimônio com as bênçãos de Deus.
Com a ajuda deste livro, você poderá identificar onde a história financeira
de cada um afeta o relacionamento negativamente. Também obterá ferramentas
para vencer as dívidas que atormentam o casal, além de descobrir como não

12
Para mais informações sobre o estudo do IBGE sobre divórcios, acesse ibge.gov.br e consulte
a seção de pesquisa Estatísticas do Registro Civil.

[ 42 ]
Capítulo 1
Bruno Cunha

colocar o dinheiro acima do amor – o que será explicado, de forma especial, para
os casais que já possuem estabilidade econômica ou até um vultoso patrimônio.
Em meus dezoito anos como economista e nove como professor, e tendo
acompanhado solteiros e casados há mais de vinte anos, noto basicamente alguns
tipos de casais que apresentam problemas com dinheiro. Entrarei em detalhes
sobre isso em um capítulo posterior, mas aqui já apresento os três principais
tipos de casais que já atendi, atendo, e continuo a encontrar. 

• Tipo 1: Casal que tem fé e vive uma espiritualidade, mas não sabe usar
o dinheiro a seu favor.
• Tipo 2: Casal que coloca sua fé no dinheiro e não em deus.
• Tipo 3: Casal acomodado, que vive na zona de conforto, se contenta com
pouca fé e espiritualidade e também com pouco dinheiro, ou sem um
plano de crescimento na profissão e nos negócios. Finge estar tudo bem
mas, na verdade, seu coração quer muito mais fé e conforto financeiro.
• Tipo 4: Casal equilibrado entre fé e razão, que busca a Deus e é es-
forçado financeiramente, mas precisa de atualização sobre economia e
finanças, uma vez que esta área está em profunda revolução, especial-
mente no Brasil. 
 
O primeiro tipo corresponde ao casal católico que possui muita fé, com-
prometimento com a Palavra e com a vontade de Deus. Frequenta a missa ou
o culto todos os domingos, ou até em outros dias da semana estão na Igreja,
grupo de oração, alguns engajados em movimentos paroquiais, e colocam suas
vidas sob as mãos de Deus.
Embora isso seja totalmente louvável, e que bom seria se todos seguissem
este caminho, alguns destes casais cheios de fé não dão a devida importância
ao dinheiro. Não buscam organizar suas economias, não investem tempo em
dialogar sobre finanças, salários, patrimônio e bens. Não utilizam ferramentas
como planilhas, aplicativos de celular, agendas, reuniões mensais de planejamento

[ 43 ]
O que Deus Uniu o dinheiro não separe

financeiro-econômico. Tampouco sabem quanto ganham, gastam e guardam


a cada mês, nem buscam ler o noticiário econômico, ou sites sobre o que está
ocorrendo com o PIB,13 o dólar, o nível de preços e a inflação.
Esses casais colocam toda a sua confiança na Providência Divina, o que
é um grande mérito, mas infelizmente se descuidam da previdência humana,
de fazer a parte que lhes cabe. Não se atentam a unir a fé e a razão para alcan-
çarem seus objetivos e dar estabilidade à família. Muitas vezes estão permea-
dos de dívidas, desemprego, morando em situação de grande sofrimento. É
importante ressaltar que Deus não quer outra coisa senão dar uma nova vida,
uma estrutura e conforto, e suprir todas as necessidades aos seus filhos. Muito
embora o desemprego e as dívidas, assim como todo sofrimento, possam ser
utilizados por Deus para a santificação, Ele não quer o sofrimento. A família
é o santuário da vida, a instituição mais importante da sociedade, e Deus tem
seus olhos voltados para ela.
O segundo modelo de casais que tenho observado são muito bem-suce-
didos em suas carreiras. Ganham bastante dinheiro, possuem casas e carros
confortáveis, viajam constantemente de férias. Poupam para o futuro, possuem
consultores econômicos, contadores, planejadores financeiros em corretoras de
valores e bancos, enfim, recursos sofisticados para gerir um grande patrimônio.
Do ponto de vista humano, tiram nota dez. Declaram seu imposto de
renda com precisão, afinal, realizam um excelente planejamento tributário, ao
anotar em planilhas toda a movimentação financeira ao longo do ano.14 No
entanto, do lado espiritual, pecam por não dar a Deus a devida importância.
Até têm fé, mas as preocupações mundanas acabam por abafar a confiança em
Deus, e pensam ter no dinheiro a segurança de suas vidas.

13
PIB é a sigla para Produto Interno Bruto. Calculado pelo IBGE, ele reflete o estado geral
da economia do Brasil e corresponde à soma de todas as riquezas, serviços, produtos, bens e
salários produzidos ao longo de um ano. Quando o PIB não cresce, mas fica estagnado, ou
até cai, como foi visto durante os anos de 2015 e 2016 no Brasil, temos uma recessão. Esse
fenômeno, entre outras consequências, faz o país e seus habitantes se tornarem mais pobres e,
geralmente, vem acompanhado de um grande crescimento da taxa de desemprego.
14
O imposto de renda do casal é um tema de suma importância e será tratado adiante.

[ 44 ]
Capítulo 1
Bruno Cunha

Muitos desses casais, com poucos anos de casados, ou até depois de algu-
mas décadas, enfrentam grandes tribulações conjugais. Surgem a desconfiança,
o medo, rivalidade financeira, separação de contas e, em alguns casos, até os
móveis e eletrodomésticos da casa são divididos. Não existe “nós”: nosso di-
nheiro, nossa conta, mas apenas meu dinheiro e seu dinheiro, minhas contas
e suas contas, meu cartão e seu cartão, meus investimentos e seus investimen-
tos, minha carreira e sua carreira. Então, infelizmente, o amor acaba virando
apenas um contrato em cartório, e a separação já veio desde o início com a
separação dos bens.15
O terceiro tipo de casal bastante comum é aquele chamado mediano.
Tem fé, mas não muita. Vivem à margem da espiritualidade, à espreita, mas
não mergulham em Deus. Não desejam “avançar para águas mais profundas”
em busca de santidade. Se contentam com pouco. Missa ou culto somente
aos domingos e com má vontade, ou só no Natal. Na vida financeira, agem da
mesma forma. Não se esforçam o suficiente para crescer. Estão acomodados
em seus empregos, sem ganhar muito; preferem o pouco a se arriscar, escolhem
deixar as coisas como estão. Não têm dívidas grandes, mas não poupam nem
investem. Utilizam seus cartões ao limite, ou seja, gastam suas rendas antes de
ganharem. Pensam na maior parte das vezes: “Sempre deu certo assim, então
melhor não mudar. Mudar por quê? Se estressar à toa!”. Se contentam em ficar
em suas zonas de conforto, e não almejam crescer, construir um patrimônio
para a família e para servir ao próximo. Afinal, não está bom, mas também
não está ruim, então, deixa como está.
Em suma, temos três tipos básicos de casais:

15
Basicamente, existem três formas gerais de união civil matrimonial: união universal de bens,
em que tudo que cada cônjuge possui, até mesmo antes do casamento, passa a ser de ambos;
união parcial de bens, em que cada um preserva os bens adquiridos antes da união, e passa
a dividir tudo que foi adquirido após a união civil e, por último, separação de bens, em que
antes e após o casamento civil, cada um permanece com seus bens separadamente, de acordo
com o critério de aquisição.

[ 45 ]
O que Deus Uniu o dinheiro não separe

Modelo de casal Fé e espiritualidade Conhecimento sobre dinheiro


Tipo 1 Alto Baixo
Tipo 2 Baixo Alto
Tipo 3 Mediano Mediano

Ressalta-se, contudo, que esta é apenas uma forma didática de tratar do


tema casamento, pois existem inúmeras formas e perfis de casais e ninguém é
capaz de mapeá-los ou categorizá-los.
De forma prática e rápida, você consegue mapear o seu casamento com
base em três parâmetros? Preencha a tabela abaixo:

Avaliação do casamento/relacionamento
Nome do Casal: Conhecimento
Fé e espi-
_________________ e diálogo so- Romantismo
ritualidade
e ______________ bre dinheiro
Como anda meu Alto (__) Alto (__) Alto (__)
casamento ou rela- Médio (__) Médio (__) Médio (__)
cionamento? Baixo (__) Baixo (__) Baixo (__)

O que posso fazer Ações concretas Ações concretas Ações concretas


hoje para melhorar 1.___________ 1. ____________ 1. __________
este quesito no 2.___________ 2. ____________ 2. __________
meu casamento ou 3.___________ 3. ____________ 3. __________
relacionamento? 4.___________ 4. ____________ 4. __________

Ainda neste capítulo, faremos um teste mais amplo e bem interessante.


Vamos adiante?
A Palavra de Deus é muito clara quando diz:
 

[ 46 ]
Capítulo 1
Bruno Cunha

“Honra o Senhor com teus haveres, e com as primícias de todas as tuas


colheitas. Então, teus celeiros se abarrotarão de trigo e teus lagares transbordarão
de vinho.” (Pr 3,9-10)
 
Em outras palavras, Deus quer que o louvemos com o fruto do nosso
trabalho, e mesmo estes talentos que recebemos, são graça Dele. Por outro
lado, o próprio Deus quer confiar mais aos que lhe são fiéis, algumas vezes em
bens e dinheiro, mas em outros casos, em saúde, filhos, estabilidade e felicidade,
serviço ao próximo, uma profissão digna e um lar cheio de bênçãos e alegrias
em meio às lutas.
E aí? Se viu em algum destes “modelos” de casal? Veremos mais sobre eles
no capítulo seguinte. O importante é entender que Deus tem meios e caminhos
para todos os casais. Por mais difícil que seja recomeçar, a proposta do livro é
recomeçar pelo batismo no Espírito Santo, um encontro pessoal (de cada um
dos cônjuges individualmente) com Jesus. Somente a partir disso Deus poderá
intervir poderosamente nas suas finanças.
Disse um filósofo que a melhor forma de explicar uma coisa é dizer o que
ela não é. Então, vejamos agora o que este livro não é: 
 
• Não é um livro de autoajuda, que lhe promete uma guinada financeira
e no seu casamento, em questão de poucos dias.
• Não é também relacionado ao coaching de que tanto se fala ultimamente.
• Não é sobre o poder da mente, a força do universo e a lei da atração.
Tudo isso é contra a fé cristã, que se baseia em Jesus Cristo e na sua Igreja.
• Não espere também nenhuma menção às famosas ferramentas de de-
senvolvimento pessoal, com aquelas frases impactantes: “o poder das
metas”, “o sucesso está em suas mãos”, “desperte o seu gigante interior”.
• Não é a proposta deste livro ensinar o caminho do sucesso e da moti-
vação interior, ou fazê-lo acreditar que tudo depende de você.

[ 47 ]
O que Deus Uniu o dinheiro não separe

• Não se trata de um livro para ser lido como uma peça para enrique-
cimento do casal, para conquistar liberdade financeira, acumular o
primeiro milhão, se aposentar antes dos trinta anos ou algo do tipo.
 
O que posso afirmar, simples e diretamente, é que o livro propõe uma
bênção de Deus para vocês, na sua família e no seu casamento. Parte-se, pois,
da gestão das suas economias baseadas na fé em Jesus Cristo e na Bíblia.
É interessante utilizar o livro como um retiro de um final de semana. Se
não for possível, durante um dia inteiro, quando for mais tranquilo na sua
rotina. Se nem isso for possível, então separe uma noite apenas para o tema,
sem interferências ou pausas.
O ideal seria reservar um dia inteiro, tranquilo, iniciado de preferência
com uma santa missa, seguida de uma boa confissão, previamente preparada.
Observe que para poder se confessar é preciso estar casado na Igreja Católica,
ou seja, se vocês não estão casados, o que os impede? Seria o momento? Por
que não procurar ajuda com um padre para regularizar o casamento de vocês
se preciso for? Deus não nos quer pela meta, mas sempre por inteiro em tudo
que somos e fazemos. Voltando ao retiro, o sentido disso é que, para que Deus
possa intervir nas suas finanças, nas suas economias, é fundamental dar abertura
à sua ação poderosa. Muitos casais andam patinando na vida financeira porque
ainda não entenderam esta ligação:
 
Primero: Estar unido a Deus.
Segundo: Estar unido a si mesmo.
Terceiro: Estar unido ao esposo(a).
Quarto: Os dois estarem unidos e decididos quanto ao dinheiro e suas vidas
financeiras (metas, objetivos, sonhos, ajuda ao próximo, dívidas a pagar, dízimo etc.).
 
Sem se amarrar a estes quatro pilares, tudo se torna perda de tempo, energia
e esforço. Alguns casais até tiveram boa intenção de consagrar seu dinheiro a
Deus, mas estavam com falta de perdão de coisas antigas. Para Deus agir, é

[ 48 ]
Capítulo 1
Bruno Cunha

preciso desenterrar tudo e colocar a situação às claras, fazendo uma faxina no


relacionamento.
Da mesma forma, é preciso estar inteiramente unido a Deus, com a con-
fissão dos pecados, e uma vida de oração constante e profunda. Não adianta o
casal estar entrosado entre si e com metas financeiras ambiciosas estabelecidas,
se não parar para escutar a voz de Deus, a voz do Espírito Santo para lhes
conduzir. Sem fazer a vontade do Pai Celeste, pode-se até ganhar dinheiro,
mas nunca teremos paz verdadeira e união sólida por toda a vida. Afinal, o
casamento é para nos levar para Deus. E o dinheiro é uma das ferramentas que
Deus se utiliza para unir os casais no mesmo propósito de vida e objetivos, até
mesmo para demonstrar sua bondade e sua providência. O dinheiro de vocês
precisa levá-los para o Céu.
Acredite que Deus, em sua bondade e amor, quer ver você bem, feliz, e
capaz de lutar e suportar com sabedoria as intempéries financeiras da vida. A
missão deste livro é salvar o seu casamento. Sim, o seu! Talvez você diga: “O
meu casamento está ótimo! Não temos dívidas, não sobra muito dinheiro, mas
não falta nada”. Que bom que esteja assim! Mas os imprevistos vêm para todos.
Emergências, acidentes, eventualidades na saúde, imprevistos com os filhos, a
casa, o carro, a sua empresa e emprego. Deus lhe deu um cérebro extraordinário
para que você raciocine, à luz da fé, e organize suas finanças com seu cônjuge.
Não coloque tudo na conta de Deus! Existe uma parte que é só sua, e
Deus não irá fazê-la por você. Quando foi a última vez que você conferiu a taxa
de juros do seu cartão de crédito, as taxas bancárias da sua conta corrente, fez
comparativos de consumo de combustível do seu carro, reavaliou seus gastos
com alimentação, saúde, energia elétrica e lazer? Você planejou seu futuro
financeiro para daqui a dez anos? Faz uma previdência privada (ou algo pare-
cido) para quando estiver com sessenta anos? E quanto ao investimento para
reformar a casa ou trocar de carro, em que pé está?
Nunca espere a bomba estourar e ter que pegar empréstimo, financiamento,
crédito consignado em folha de pagamento, ou parcelar as compras no cartão
de crédito. Não que isso não possa acontecer vez ou outra, não há pecado nisso.

[ 49 ]
O que Deus Uniu o dinheiro não separe

Contudo, se pode ser evitado, por que não mudar agora e evitar o desgaste no
seu casamento com tais situações?
Um em cada três casamentos no Brasil acaba em divórcio (IBGE).16 Se
você já pensou em divórcio, ou está pensando neste momento, este livro é para
você. Talvez você nunca tenha refletido sobre separação, mas tenha enfrentado
duras provas na gestão financeira com sua esposa(o). Portanto, o livro poderá
lhe mostrar caminhos baseados na fé, que irão ajudar! Mesmo antes de ser lan-
çado, este livro já ajudou vários casais por onde já pude ensinar sobre o método
proposto. Se o seu casamento anda bem, sem grandes percalços, o conteúdo
poderá ajudá-los a ir mais longe, ter uma vida mais confortável financeiramente
e, principalmente, consagrar tudo que você alcançou ao único dono de tudo.
 

“A prata e o ouro me pertencem.” (Ag 2,8)


 
Todo o ouro e toda a prata pertencem a Deus. Todo o dinheiro que há
no mundo pertence a Deus, e deveria ser utilizado para a glória de Deus!

16
Dados do IBGE sobre divórcios pode ser acessados em: www.ibge.gov.br

[ 50 ]
“Do Senhor é a terra e tudo
o que ela contém, a órbita
terrestre e todos os que nela
habitam.” (Sl 24,1)
O que Deus Uniu o dinheiro não separe

Se seu casamento não está bem, convido você a consagrar hoje, agora,
todo o seu patrimônio (que não é seu, mas de Deus) ao Senhor, e confiar
plenamente na sua providência. Ao usar o dinheiro que Deus lhe concedeu
como um instrumento para ajudar pessoas, você estará colocando Deus em
primeiro lugar na sua vida.
Talvez seu casamento já seja abençoado financeira e espiritualmente. Se
o dinheiro de vocês já está consagrado a Deus, ótimo! Por que não se juntar a
este projeto de evangelização e compartilhar este livro com casais de namorados,
noivos, recém-casados? Ou, quem sabe, com casais juntos há dez, vinte, trinta
anos, e que sempre, ou volta e meia, tropeçam em situações financeiras difíceis?
Existem muitos casais que, por estarem em grande tribulação, não con-
seguem nem pedir ajuda. Estão tão atordoados que precisam de um colete
salva-vidas urgente. Porque não salvar um casamento hoje, agora? O conheci-
mento de Deus e a fé, unidos às ferramentas que irei apresentar, podem salvar
famílias inteiras à beira do colapso. Quanto mais compartilhamos coisas boas,
mais elas se multiplicam! Por fim, uma excelente leitura! Que Nosso Senhor
abra o seu coração para fazer uma experiência de fé, profética, renovadora,
restauradora, para que o dinheiro seja o seu servo e jamais o senhor do seu
casamento e da sua família!

[ 52 ]
Capítulo 1
Bruno Cunha

“Quem é fiel nas pequenas coisas será fiel também nas gran-
des coisas. Se não sois fiéis no uso do dinheiro iníquo, quem vos
confiará o verdadeiro bem?” (Lc 16,10-12)
“Teresa sem a graça de Deus é uma pobre mulher; com a graça
de Deus, uma força; com a graça de Deus e muito dinheiro, uma
potência.” (Teresa d’Ávila)

[ 53 ]

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