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Tratado de

Cura Interior
Gerência geral: Rafael Cobianchi
Preparação e revisão: Rochelle Lassarot
Diagramação e Capa: Diego Rodrigues
Imagem de capa: Istock/david5962
 
 
 
 
Este livro segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.
 
 
 
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Todos os direitos reservados.
 
ISBN: 978-85-9463-025-4
 
© EDITORA CANÇÃO NOVA
Cachoeira Paulista, SP, Brasil, 2022
José´ Augusto Nasser dos Santos

 
 
 
 

Tratado de
Cura Interior
 
 
 
 
 
 
 
´
Sumário
Introdução............................................................................... 9
Como a terapia cristã é drasticamente diferente da terapia
secular?..................................................................................... 15
Oração..................................................................................... 18
Capítulo 1...............................................................................21
Separando o joio do trigo.........................................................26
Jesus responde a tudo isso: Ele cura hoje...................................28
Capítulo 2 ............................................................................. 29
Cura espiritual..........................................................................30
Cura mental.............................................................................34
Cura da vontade.......................................................................37
Cura emocional........................................................................37
Cura dos relacionamentos........................................................42
Cura das memórias...................................................................44
Cura da imaginação..................................................................45
Cura física................................................................................46
Cura de gerações......................................................................47
Sete princípios básicos para cura interior..................................48
Cura do orgulho — soberba.....................................................85
Capítulo 3.............................................................................. 93
Raiz causal................................................................................94
Aconselhamento.......................................................................95
Capítulo 4 ............................................................................. 99
Raiz causal............................................................................... 101
Estratégia de aconselhamento.................................................. 103
Capítulo 5 ............................................................................. 111
Raiz causal............................................................................... 113
Estratégia geral de aconselhamento.......................................... 114
Estratégias específicas de convencimento................................. 115
Escrituras................................................................................ 118
Capítulo 6............................................................................. 119
Estratégia de aconselhamento.................................................. 120
Raiz causal............................................................................... 122
Capítulo 7............................................................................. 125
Raiz causal............................................................................... 126
Estratégia de aconselhamento.................................................. 127
Capítulo 8..............................................................................131
Raiz causal............................................................................... 131
Estratégia de aconselhamento.................................................. 132
Como ir para a confissão......................................................... 132
Estratégia de aconselhamento para não católicos...................... 140
Estratégia de aconselhamento para os católicos que são amargos ou
ressentidos............................................................................... 141
Capítulo 9............................................................................. 143
Raiz causal............................................................................... 144
Capítulo 10........................................................................... 149
Raiz causal............................................................................... 150
Aconselhamento...................................................................... 152
Capítulo 11........................................................................... 155
Estratégias de aconselhamento................................................. 157
Capítulo 12........................................................................... 165
Raiz causal............................................................................... 166
Estratégia de aconselhamento..................................................166
Capítulo 13........................................................................... 169
Fundamento............................................................................ 169
Raiz causal............................................................................... 172
Aconselhamento...................................................................... 174
Capítulo 14........................................................................... 177
Raiz causal............................................................................... 179
Passos individuais para discernimento..................................... 179
Estratégias de aconselhamento................................................. 180
Capítulo 15........................................................................... 183
Síndrome traumática pós-aborto............................................. 184
Raiz causal............................................................................... 185
Estratégia de aconselhamento.................................................. 185
Capítulo 16........................................................................... 193
Raízes causais.......................................................................... 194
Estratégia de aconselhamento.................................................. 195
Capítulo 17...........................................................................203
Raiz causal...............................................................................204
Estratégia de aconselhamento..................................................204
Capítulo 18.......................................................................... 209
Raiz causal............................................................................... 211
Estratégia de aconselhamento.................................................. 211
Capítulo 19........................................................................... 215
Raízes causais ......................................................................... 216
Estratégia de aconselhamento.................................................. 216
Capítulo 20........................................................................... 219
Histórico................................................................................. 219
Raiz causal...............................................................................220
Estratégia de aconselhamento..................................................222
Os doze passos (versão católica)............................................... 223
A Eucaristia.............................................................................228
Capítulo 21........................................................................... 231
Exemplos de luto..................................................................... 232
Exemplos de perda.................................................................. 232
Raiz causal............................................................................... 233
O que Maria nos ensina mediante o sofrimento...................... 234
Estratégias de aconselhamento................................................. 235
Capítulo 22........................................................................... 237
Introducao
˜

˜
“Vou pensar-lhes as feridas e curá-las e proporcionar-lhes
abundância de felicidade e segurança” (Jr 33,6).

A
nos atrás, uma paciente de 40 anos foi apresentada a
um diácono médico com um problema aparentemente
insolúvel. Ela era casada e tinha duas filhas adolescentes.
Suas queixas se resumiam a fobias, angústia progressiva, medo,
mas muito medo mesmo, medo de morte, medo de adoecer,
medo das pessoas, medo dos lugares, insegurança, tremores,
especialmente em situações de estresse e pesadelos horrendos,
hipersudorese, hiperidrose. Tinha perdido seu apetite sexual
pelo seu marido. Ela havia sido estuprada pelo seu pai dos 6
aos 16 anos com uma arma na cabeça. Em todos esses anos ela
tinha pesadelos matando seu pai, muitas e muitas vezes, e não
conseguia. Seu pai já tinha morrido há 11 anos.
Esse diácono era doutor em psicologia e estava iniciando
seu trabalho com cura interior, mas em nenhuma parte dos seus
estudos ele confessava encontrar qualquer técnica ou terapia

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Tratado de cura interior

que pudesse atingi-la; o que mais ele fazia era ouvi-la e aliviar,
de certa forma, suas emoções, mas tudo era temporário.
Cheio de compaixão, o diácono então iniciou uma ver-
dadeira odisseia na tentativa de ajudar essa alma desesperada e
sofrida. Foi até a universidade onde lecionava e apresentou a
situação ao Comitê de Terapia Mental (professores de diversas
áreas, entre elas, psiquiatria, psicologia, filosofia, que se reúnem
semanalmente). Nenhuma das sugestões oferecidas pelo Comitê
não havia sido tentada sem êxito antes. Um dos professores
levantou a hipótese de que a paciente seria lésbica, por isso
rejeitava seu marido. Dessa forma, nenhuma das sugestões foi
algo novo, e mais uma vez trouxe ainda mais frustração a essa
pessoa já em vias de pensar em tirar sua própria vida.
Como o diácono era entre os poucos que a filha de Deus
confiava, era sobre seus braços que repousava a esperança dessa
que, entre tantas no mundo, sofre de transtorno pós-traumá-
tico, semelhante às mulheres que cometem o crime do aborto,
e então ele teve uma ideia genial: trazê-la diante de um grupo
de sacerdotes para ser orada e atendida numa experiência de
oração de um dia e ouvir o que a Igreja poderia dizer sobre
esse caso. Infelizmente eles sugeriram que a ciência deveria
tratá-la e falaram não tinham muito a oferecer diante daquela
síndrome tão devastadora. Eles acreditavam que a medicina
poderia cuidar do caso, e o diácono indagava se não era Jesus
quem ia curá-la. Nesse momento, ficou bem claro que existia
um território inabitado entre a psicologia e a cura espiritual, e
ele tinha em seu coração a certeza de que haveria de haver uma
ponte entre as duas disciplinas.

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Introdução

E foi por um caminho mediante os dons do Espírito Santo


e no encontro com pessoas ministeriadas, sacerdotes doces ao
chamado para esse duro e árduo ministério, que o diácono pôde
entregar a paciente, e, diante do Senhor Jesus, ela foi liberta
e transformada pelo poder do Espírito Santo de Deus, diante
de Jesus Eucarístico, em um retiro de cura. Ambos, a paciente
e o diácono, até hoje andam pelo mundo dando testemunho
das maravilhas que o Senhor Jesus operou há dois mil anos e
ainda opera entre nós, por meio daqueles que, ouvindo a voz do
Senhor, se põem a caminho, como Jacob: “Eis-me aqui, Senhor!”
Graças a Deus, hoje temos muitos sacerdotes, médicos
e leigos que acolheram os dons de cura e discernimento do
Espírito Santo e que oferecem horas do seu dia ao ministério.
Quanto mais nos aprofundamos nesses dons, mais o Senhor
vai nos revelando os seus caminhos e a sua maneira de, com
seu amor, curar corações feridos e despedaçados e, desse modo,
como estabelecer uma parceria entre Deus e Homem, espírito e
alma, teologia e ciência. Jesus é o único capaz de curar alguém;
sem Ele nenhuma cura é possível. Algumas vezes, raras, Jesus
escolhe usar o Espírito Santo e realizar um milagre por meio do
seu poder; na maioria das vezes Ele escolhe os nossos recursos
para operar a cura, assim, quando um médico que não crê
alcança a cura em algum paciente, mesmo sem ele saber, foi
pela condescendência do Senhor nosso Bom Deus.
No livro do Eclesiástico (Jesu Ben Sirach) fica muito bem
estabelecida a relação entre ciência e fé, cuidado médico e oração.
 

11
Tratado de cura interior

Honra o médico por causa da necessidade, pois foi o Altíssimo


quem o criou. (Toda a medicina provém de Deus), e ele recebe
presentes do rei: a ciência do médico o eleva em honra; ele é ad-
mirado na presença dos grandes. O Senhor fez a terra produzir os
medicamentos: o homem sensato não os despreza. Uma espécie
de madeira não adoçou o amargor da água? Essa virtude chegou
ao conhecimento dos homens. O Altíssimo deu-lhes a ciência da
medicina para ser honrado em suas maravilhas; e dela se serve para
acalmar as dores e curá-las; o farmacêutico faz misturas agradáveis,
compõe unguentos úteis à saúde, e seu trabalho não terminará,
até que a paz divina se estenda sobre a face da terra. Meu filho, se
estiveres doente não te descuides de ti, mas ora ao Senhor, que te
curará. Afasta-te do pecado, reergue as mãos e purifica teu coração
de todo o pecado. Oferece um incenso suave e uma lembrança de
flor de farinha; faze a oblação de uma vítima gorda. Em seguida dá
lugar ao médico, pois ele foi criado por Deus; que ele não te deixe,
pois sua arte te é necessária. Virá um tempo em que cairás nas mãos
deles (Eclo 38,1-14).
 
Assim, para nossa estratégia de alcançar a cura, a Palavra
de Deus nos ensina:
 
• Reze, ore pela cura.
• Purifique seu coração de todo pecado.
• Ofereça-se ao Senhor, faça uma oferenda ao Senhor.
• Consulte o médico, pois a medicina é um dom de Deus.
 
Como batizados e viventes no Novo Testamento, temos
hoje recursos próximos que nos assistem e nos permitem fazer
esse caminho nas mãos do Senhor:
 

12
Introdução

1. Orar pela cura: sacramento da unção dos enfermos


(“Está alguém enfermo? Chame os sacerdotes da Igreja,
e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em
nome do Senhor” Tg 5,14).
2. Purifique seu coração de todo pecado: Jesus nos
deixou o grande sacramento da reconciliação, pelo qual
nós somos totalmente purificados dos nossos pecados.
Seguramente o Senhor é o maior de todos os psiquia-
tras e psicólogos, os quais não podem nos purificar dos
nossos pecados, mesmo que eles pensem que podem.
3. Faça uma oferta de agradável odor a Deus: a grande
oferenda é a santa missa, o maior de todos os sacrifícios
da nova e eterna aliança para a remissão dos pecados.
O amor de Jesus e o seu poder em nenhum outro lu-
gar pode se manifestar ou ser mais efetivo do que no
eterno sacrifício.
4. Consulte o médico: Deus, em sua imensa sabedoria,
continua revelando mais e mais estratégias de cura à
ciência médica. Ele nunca deixa de iluminar a inteli-
gência humana para novos progressos médicos, mas
infelizmente a maioria dos médicos não dão o devido
crédito ao Senhor.
 
O maior de todos os mandamentos é amar a Deus sobre
todas as coisas e o próximo como a si mesmo. Não há amor maior
do que dar a vida pelos outros. Para executar esse ministério é
preciso estar em vida de oração, estar em estado de graça, em
que reconciliação e Eucaristia estão em dia e ainda fazer tudo

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Tratado de cura interior

o que tem de ser feito. Assim sendo, qualquer cristão pode orar
por um irmão que necessite e presenciar milagres pelo poder
de Jesus Cristo. Se a pessoa por quem estamos orando tiver se
confessado, o mal não pode interferir nesse momento santo.
Em todo esse tempo de ministério, tenho utilizado as fer-
ramentas da neurologia e da psicologia para abrir os caminhos,
aliando ciência e fé, mas a fé traz a sabedoria: “Não é a erva
nem o unguento que te cura, mas a Palavra de Deus que cura
todas as coisas.” (Sb 16,12).
Toda cura vem de Deus, pelos caminhos naturais (ciência)
ou pela fé (Espírito Santo), não há terceira via, tudo além é
ocultismo. Mas quando o Senhor nos cura, nos cura por amor
e para o amor, ou seja, para servirmos a Ele. Antes de ser um
prêmio, é uma carinhosa forma de dizer: “Eu te amo e preciso
da sua vida em união com a minha.”
Somente o Senhor pode verdadeiramente curar; somos
apenas a sua caneta que realiza o ato. Se não tivéssemos a in-
teligência, seríamos dominados por nossos sentidos e escravi-
zados por eles, portanto a primeira libertação precisa ser no
intelecto. Deus nos conhece desde o ventre materno. Ele nos
chama pelo nosso nome (Is 49). Temos sede e fome de voltar
para a Mother’s House (Igreja — Casa da Mãe) e lutamos dia
e noite contra nós mesmos, especialmente contra toda ruptura
entre nós e as coisas de Deus, nossa alienação, nossa dissintonia,
nossa ansiedade, nossos ruídos, nos abusos, divórcios, adição,
dependências, baixa autoestima, solidão, culpa, medo, preocu-
pação, dúvidas, desespero, depressão, tudo isso nos flagela todos
os dias. Todos somos pecadores. Todos temos personalidade

14
Introdução

aditiva. Todos nós temos necessidade de ver as coisas pelo nosso


próprio ponto de vista. Todos temos dificuldades de perdoar,
de amar e ir além das feridas do passado.
Jesus vem como o Salvador, nosso Salvador. Ele vem para
nos mostrar como substituir a preocupação e o medo pela fé,
depressão por esperança, solidão e alienação por amor, culpa e
pecado por arrependimento, ódio e vingança por reconciliação.
Ele vem para nos curar espiritual, emocional e fisicamente.
Ele vem como nosso curador, nosso Redentor, nosso pacificador,
nosso conselheiro, nosso conforto. Ele vem infundir, ainda mais,
seu Espírito Santo em nós — seu Corpo Místico —, assim Ele
pode trabalhar em nós e por meio de nós com sua sabedoria,
amor e poder curador. Nós somos chamados a ser Suas mãos,
Seus olhos, Seus ouvidos, Seu coração, Seus lábios e Seus braços.

Como a terapia cristã é drasticamente


diferente da terapia secular?

1. Uma antropologia diferente: pela psicologia cristã, a


cura se dá apenas em Jesus e no poder do seu Espírito;
somente assim podemos ser curados, por isso somos
tão adversos às terapias seculares, humanísticas e pagãs
por inúmeras razões. A antropologia cristã é totalmente
adversa às freudianas, adlerianas, iunguianas. Freud,
por exemplo, advoga que o homem é um poço de
instintos libidinosos buscando incessantemente ser
saciado. Somente o superego, que é parte da própria
cultura de um ser, mantém a libido sobre controle;

15
Tratado de cura interior

assim o ego é formado. Na antropologia cristã, homem


é corpo, alma e espírito com o Espírito Santo de Deus
habitando nosso espírito. Dessa forma, o Espírito San-
to, que habita em nós, ilumina nossas mentes com a
sabedoria de Deus e inflama nossos corações com seu
amor. Essa antropologia é totalmente adversa à secular.
Na antropologia apresentada por Freud, o homem é
um pouco mais racional que um animal.
2. Uma fonte de energia diferente: a psicologia cristã
utiliza-se dos dons do Espírito, especialmente as palavras
de profecia e sabedoria, e ainda princípios espirituais
de fé, esperança, amor e perdão. Ao contrário, a terapia
secular esvazia-se desses princípios espirituais e se preo-
cupa mais com as intuições e recursos humanos próprios.
3. Cristo trabalha em e por meio de nós: na terapia cristã,
é o próprio Cristo que trabalha, que age por meio de
quem exerce o ministério; na secular, é o terapeuta sozi-
nho que utiliza seus métodos, sem interferência externa.
4. Ênfase em cura interior e santidade: a terapia cris-
tã enfatiza a cura interior, a busca da santificação e
restauração por um ser humano novo e renovado no
Espírito, pela redenção; a terapia secular enfatiza apenas
a normalidade e o ajuste do ser humano.
5. Dá respostas verdadeiras, vindas do Alto: não há
respostas neuropsicológicas para preocupação e medo;
há uma resposta cristã: a fé! Não há resposta neuropsico-
lógica para depressão; há uma resposta cristã: seu nome
é Jesus Cristo. Não há resposta neuropsicológica para

16
Introdução

culpa; há uma cristã: sangue de Cristo derramado na


cruz e adquirido mediante arrependimento e confissão.
Não há resposta neuropsicológica para amargura, rancor
e ressentimento, talvez um forçado esquecimento ou “o
tempo cura”, o que é falso, mas há uma resposta cristã:
podemos, pelo poder do Espírito Santo de Deus, que
opera em nós, perdoar até os nossos inimigos. Essas
são as verdadeiras ajudas do Alto, e não a autoajuda.
Por isso a Palavra de Deus continua dizendo: sem mim
nada podeis fazer!
6. Falsos objetivos: a terapia secular comportamental,
terapia do ajuste ou behaviorista, muitas vezes traz uma
ilusão. A ilusão, ao aconselhar uma pessoa adúltera,
de que adultério é uma coisa normal e que ela deveria
se adaptar à realidade e assim não se sentir culpada
porque pode ser contraproducente a sua cura mental
e espiritual. Essa estratégia pode funcionar se o padrão
que uma pessoa busca atingir for Jesus Cristo, e não o
que é normal para o homem pecador.
7. Visão verdadeira: o objetivo da psicologia cristã é levar
todo ser humano à maturidade e, portanto, a ter relações
maduras e frutíferas: em vez de se isolar, relacionar-se
de forma madura, saudável e ser capaz de pensar, amar
e agir como Jesus Cristo dentro do contexto de um só,
verdadeiro Corpo Místico de Cristo

17
Tratado de cura interior

Oração

Senhor, eu quero agradecer pelo dia de hoje. Eu agradeço


por hoje poder ver e ouvir nesta manhã. Eu sou abençoado
porque o Senhor é um Deus compassivo. O Senhor tem feito
tanto por mim e cuida bem de mim. Peço perdão por tudo que
tenho feito, dito ou pensado que não foi agradável ao Senhor.
Eu rogo agora pelo seu perdão.
Obrigado, Senhor, por hoje me guardar de todos os pe-
rigos e riscos até aqui. Ajuda-me, Senhor, a começar este dia
com uma nova postura e uma nova atitude cheia de gratidão.
Faz-me melhor neste dia e limpa os meus ouvidos para te ouvir
melhor e me colocar a teu serviço.
Obrigado por ampliar minha mente e assim eu poder
acolher melhor todas as coisas. Tira de mim todo espírito de
murmuração e reclamação das coisas que eu não posso mu-
dar. Faz-me sempre ver o pecado pelos olhos do Senhor e ter
consciência de que o pecado é mal, e, se eu pecar, me faz me
arrepender e confessar com minha boca e receber o perdão de
Deus. Que eu saiba sempre encontrar um lugar quieto para eu
rezar. Que seja sempre a oração a força para quando estou no
limite das minhas forças. Quando eu não puder rezar, que eu
tenha a certeza de que o Senhor conhece e ouve meu coração.
Continua, Senhor, a usar-me conforme teu desejo.
Obrigado por me abençoar, e que eu possa abençoar os
outros. Faz-me forte para que eu possa ajudar os fracos. Colo-
ca-me em pé para que eu possa encorajar os demais. Eu peço
pelos que estão perdidos para que encontrem o caminho. Eu

18
Introdução

peço pelos incompreendidos e condenados. Eu peço por todos


os que o Senhor conhece intimamente. Eu rezo pelos que não
creem. Eu agradeço pela minha fé. Eu creio que o Senhor é o
Deus do impossível e pode mudar as coisas e as pessoas. Eu rezo
por todos os meus irmãos e irmãs, os de perto e os de longe. E
peço pela paz, pelo amor e alegria em todos os lares.
Eu rogo por todos os que abraçam a tua Palavra para
que nada os distraia. Que possam guardar tua Palavra e ser
transformados por ela. Cada batalha está em tuas mãos para o
Senhor lutar. Eu peço para que aquele que dirigir esta oração
ao Senhor possa chegar ao teu coração infinito. Deus forte,
Deus maravilhoso, Deus Todo-Poderoso, Pai amoroso, receba
esta oração por Cristo Senhor Nosso, na unidade do Espírito
Santo. Amém!

19
Capítulo 1

A cura na Igreja hoje

A
razão primária porque Jesus foi enviado ao mundo
foi para curar, restaurar, redimir e salvar. Jesus veio
para fazer o homem um ser pleno e santo, homens
e mulheres em seus relacionamentos. Cura, como vemos nos
primeiros capítulos do Evangelho de São Marcos, se torna o
início da vida pública de Jesus; também no Evangelho segundo
São Lucas lemos:
 
Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. Desenrolando o livro,
escolheu a passagem onde está escrito (61,1s.): o Espírito do Senhor
está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa
nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar
aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em
liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor. E enro-
lando o livro, deu-o ao ministro e sentou-se; todos quantos estavam
na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Ele começou a dizer-lhes:
Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir (Lc 4,17-21).

21
Tratado de cura interior

No Evangelho de São Mateus, quando os enviados de João


Batista perguntaram se ele era o Messias, Jesus disse: “Respon-
deu-lhes Jesus: ‘Ide e contai a João o que ouvistes e o que vistes:
os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos
ouvem, os mortos ressuscitam, o Evangelho é anunciado aos
pobres’” (Mt 11,4-5).
Desse modo, seguir Jesus em totalidade significa ser, ho-
mem ou mulher, um instrumento eficaz em seu nome e pelo
seu Espírito Santo, homens e mulheres curados espiritual e
fisicamente e em seus relacionamentos. Cada cristão é chamado,
pelo batismo, a dar continuidade à Redenção, à santificação, à
evangelização e a exercer o ministério de cura de Jesus. Porque
Jesus, que é o mesmo hoje, ontem e sempre, é curador e Redentor.
Cada católico deveria seria uma pessoa curada. Cada missa
é de cura. Em cada missa pelo mundo todo os padres elevam
Jesus presente na Sagrada Eucaristia imediatamente antes da
comunhão e dizem: “Eis o Cordeiro de Deus.” E a assembleia
responde: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha
morada, mas dizei uma só palavra, e serei salvo.” Em inglês,
fala-se “healing”, que quer dizer “curado”, pois curado e salvo
em português são sinônimos, mas as pessoas não pensam dessa
mesma forma.
Segundo Francis McNut, um dos grandes nomes norte-
-americanos da Renovação Carismática, em seu livro clássico
A cura, nos ensina que existem cinco obstáculos contra a cura:
 
1. “Nós não queremos saber sobre cura”: a maioria dos
católicos ocidentais de hoje jamais participaram de um

22
A cura na Igreja hoje

momento de oração na Igreja católica em que os minis-


tros, religiosos ou leigos oravam impondo as mãos sobre
os doentes. Confundem esse momento sublime, seja
numa santa missa, seja durante um encontro de oração,
com shows televisivos e histeria coletiva de muitas ditas
igrejas neopentecostais, no qual se vê mais show do que
propriamente a ação magnífica do Espírito Santo de
Deus, o mesmo que agia pelas mãos do Senhor Jesus
e, depois, dos Apóstolos, até os dias de hoje.
Isso em nada tem a ver com a verdadeira presença de
Jesus, que caminha no meio de nós usando-nos em
toda a nossa abertura para sermos canais dessa graça
abundante que Deus derrama nos dias de hoje sobre a
Igreja, principalmente por meio dos movimentos que
reavivam o derramamento ou efusão do Espírito. Esse
Jesus que caminha e por intermédio de nós se aproxima
dos doentes, enfermos, deprimidos, culpados, medrosos
e alienados. Jesus é o grande curador (Ele curava pela
fé); vemos isso bem claro nos primeiros oito capítulos
do Evangelho de Marcos, quem se preocupa em narrar
como Jesus curava de diversas formas: “Curou a muitos,
de modo que todos os que padeciam de algum mal se
arrojavam a ele para o tocar.” (Mc 3,10).
2. “Minha doença é uma cruz enviada por Deus”: o
segundo obstáculo para acolher o ministério da cura e
da cura interior é a afirmação distorcida de que Deus
enviou o sofrimento para aquela pessoa e não quer curá-
-la. Muitos católicos pensam assim e não aceitam que

23
Tratado de cura interior

Jesus quer restaurar, quer libertar, quer purificar, quer


perdoar e quer curar. Nas Escrituras temos as doenças
sendo tratadas como uma manifestação do reino de
Satanás e que Jesus veio para destruir. No Evangelho de
São Marcos, no primeiro dia da vida pública de Jesus
houve uma poderosa manifestação do poder de Deus
desterrando toda doença, dor, sofrimento, alienação
e o pecado que oprimia aquele povo.
3. “Recorro a um santo para interceder pelo milagre
porque eu não sou santo”: Jesus disse: “Os milagres
acompanharão aqueles que creem em mim, e farão
ainda coisas maiores do que Eu fiz.” Católicos sempre
acreditaram em milagres, é parte da nossa fé, contudo
muitos acreditam que eles só acontecem em lugares
como Lourdes ou Fátima ou pelas mãos de pessoas
muito santas. Seria muito proveitoso se todos pudessem
ouvir Jesus dizendo: “Estes milagres acompanharão os
que crerem: expulsarão os demônios em meu nome;
falarão novas línguas; manusearão serpentes, e, se bebe-
rem algum veneno mortal, não lhes fará mal; imporão
as mãos aos enfermos, e eles ficarão curados.” (Mc
16,17-18). Hoje mais e mais católicos são chamados
a testemunhar que cura é um desejo do coração do
Senhor, e que o mesmo Espírito Santo que habitava
o interior de Jesus e agia por meio do seu ministério
público habita em nós e capacita a todos que abraça-
rem a fé de verdade a pensar, amar e agir como Jesus
Cristo, nosso Salvador.

24
A cura na Igreja hoje

4. “Nós não precisamos de sinais e prodígios pois nós


temos fé”: essa é outra atitude que mostra superiori-
dade no que diz respeito à cura e que sinaliza que curas
e milagres foram necessários na Igreja para iniciar o
movimento religioso que hoje conhecemos como ca-
tolicismo, mas que nos primeiros tempos era chamado
de “o caminho”. Contudo, agora que o povo crê, não
há mais lugar para provas e sinais. Tradicionalmente
essa atitude se chama “dispensacionalismo”. A maioria
dos católicos romanos tem uma abertura aos milagres,
mas eles tendem a vê-los com alta verdade e não veem
com sua própria razão e entendimento. Embora a cura
seja um sinal de fé e não dependa de sinais e prodígios,
no entanto nós temos que ter fé em Jesus como Ele é,
nominado com Aquele que traz em si toda a miseri-
córdia e com o Pai e pelo Espírito Santo vem nos curar.
5. “Milagres não existem, eles representam apenas uma
maneira primitiva de expressar a realidade”: em
1970, um autor popular católico, Louis Evely, escrevia
que milagres eram meramente um remanescente de
uma idade antiga, pré-científica e que ainda continua
a existir em locais onde habitam essas ideias. Contudo
nós vivemos numa época materialista e científica em
que muitas pessoas estão condicionadas a acreditar
que Deus pessoalmente não intervém nos problemas
do homem e que Ele nos deixou sozinhos no campo
de batalha deste tempo para nos conduzirmos para Ele
com a graça que Ele nos deixou.

25
Tratado de cura interior

Separando o joio do trigo

O que vemos nos dias de hoje é que o inimigo veio se-


meando, ao longo do tempo, o joio entre o trigo, que é viver
em constante sintonia com um Deus que, como diz São Paulo,
não se conteve em ficar a distância, Ele desceu, se rebaixou por
meio de seu Filho para ser um entre nós. Ele foi morto, mas
ressuscitou e vive no meio de nós e nos ajuda dia após dia a
separar esse joio e purificar o trigo da santidade.
Purificar significa retirar o joio entre nós e a relação com
Deus, conosco e com a natureza da cura. Precisamos tirar de
nós tudo aquilo que o cientificismo ocidental semeou dentro
da Igreja e fez o povo de Deus se confundir, logo vemos tantas
igrejas vazias e outras que se tornaram museus ou nem mais
pertencem à nossa Igreja. Porque somos nós que nos corrom-
pemos com o joio da informação sem a análise crítica da fonte
e vamos contra o que a Palavra de Deus nos convoca na carta
de São Paulo aos tessalonicenses, capítulo 5: “Não extingais
o Espírito Santo que habita em vós.” Aí está a fonte de toda a
confusão, pois, se estamos cheios do Espírito Santo, temos a
sabedoria de Deus a nos guiar e nos prevenir das ciladas dos
falsos conhecimentos e das falsas doutrinas.
Eis o joio:
 
• Da relação com Deus: Ele não quer nos curar. Sofri-
mento e doença são o desejo de Deus para as pessoas se
purificarem, e a atitude do cristão deve ser de aceitação
e não orar para o alívio. Deus enviou essa cruz para

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A cura na Igreja hoje

você, não a rejeite, para a glória da vida futura. Falso.


Deus não nos envia sofrimento, Ele se utiliza desse
sofrimento para manifestar o seu poder e a sua glória
por esse caminho (Jo 11,4).
• Da relação consigo mesmo: Deus cura o doente, mas
não curaria você, pois você não é santo o suficiente. Se
Deus cura o doente de vez em quando, você deveria
ser superior a esse tipo de espiritualidade. Você é uma
pessoa intelectual e racional, portanto não se misture
com esse tipo de emocionalismo popular, com esse fana-
tismo popular. Sua fé não necessita presenciar milagres
e prodígios, ela não depende disso. Você pode escolher
entre sofrer e ser curado ou se manter no sofrimento,
pois traçaria uma estrada mais real para sua cruz. Falso.
• Da relação com a natureza da cura: já é hora de esque-
cer essas visões supersticiosas e ficar apenas no mundo
real. Cristianismo precisa ser purificado de seus elemen-
tos sobrenaturais, que é irrelevante para o estado atual
de desenvolvimento intelectual e espiritual do homem
deste século. Falso.
 
Todas essas visões anteriores tentam encobrir e distorcer
a Boa-Nova que Jesus Cristo trouxe. Nós atualmente estamos
vendo, em larga escala pelo mundo afora, a renovação dos ca-
rismas, dons de cura de maneira que apenas foi vista no início
da missão dos Apóstolos. Essa parece ser uma ação de um Deus
amoroso que contra-ataca os que tentam reprimir e excluir a fé
num Deus que quer curar seu povo, que quer cuidar pessoal-

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Tratado de cura interior

mente de cada um de nós e precisa de nós curados para anunciar


e viver o Reino de Deus. Cura não é uma ação periférica na
Igreja, e sim central. Se nós negamos a ação curadora ativa de
Deus em nós, em breve vamos bloquear a transmissão do seu
amor por nós. Se nós realmente duvidamos do amor de Deus
por nós, então que diferença faz crer ou não nele? Ou ainda
pior, se realmente ele existe.

Jesus responde a tudo isso: Ele cura hoje

Cura sempre foi e é uma parte essencial no ministério


de Jesus e sua Igreja. O que o Espírito Santo fez mediante o
ministério de Jesus hoje Ele quer fazer em nós. Nós somos os
Seus olhos, Seu coração, Seus pés e Seu corpo. Nós nunca deve-
mos negar a possibilidade de Deus desejar nos curar e também
anunciar que Ele só não pode curar aquele que, por falta de
fé, bloqueia sua entrada em seu coração. Todavia o desejo de
Deus será sempre como foi revelado em Jesus: nos salvar,
nos restaurar, nos redimir e nos curar!

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