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Ação supervisora e

tendências pedagógicas
Eloiza da Silva Gomes de Oliveira

O que significa tendência pedagógica?

E
sta aula tem como objetivo principal mostrar que a Educação não é neutra e que, sempre que
ocorre o fato educativo, está envolto em intencionalidade e ideologia. Sendo assim, muito se ouve
falar das tendências pedagógicas da Educação brasileira e nas suas características e aspectos
mais importantes. Elaboram-se quadros comparativos, verificam-se os educadores que mais se desta­
caram em cada uma delas, mas muitas vezes não se reflete sobre o que caracteriza uma tendência
pedagógica: a concepção político-filosófica de sociedade, de Edu­cação e de homem que ela traz.
O processo pedagógico envolve três grandes dimensões – a humana, a técnica e a político-
-social. Além disso, as tendências pedagógicas têm sua origem em movimentos sociais e filosóficos
que, presentes em um determinado momento histórico, aproximam as práticas didático-pedagógicas
das aspirações da sociedade, criando modelos educacionais e formas específicas de construção do
conhecimento. Segundo Ferreira (2007),
Qualquer prática ou estudo em educação precisa deixar claro, desde o início, as categorias que o orientam. Definir
essas categorias remete o autor a classificações, a apegos a determinadas linhas de pensamento. São essas linhas
as definidoras dos rumos a seguir, por isso representam racionalidades: a forma como se pensa a educação.
Assim, partindo-se do pressuposto que toda a ação educativa implica necessariamente uma intencionalidade,
porque é uma ação política, é preciso ter o entendimento dessas racionalidades para, a partir daí, movimentar-
-se. Importante destacar que esse processo só acontece no coletivo, referenda-se e consubstancia-se no grupo
de professores, momento e espaço propício para a necessária reflexão e para a distinção entre as diferentes
possibilidades orientadoras do fazer educativo.

Mais adiante, a mesma autora define tendência de maneira bastante adequada:


Entende-se por tendência toda e qualquer orientação de cunho filosófico e pedagógico que determina padrões
e ações educativas, ainda que esteja desprovida de uma reflexão e de uma intencionalidade mais concreta. Uma
tendência pedagógica é, na verdade, uma inclinação por pensamentos e comportamentos pedagógicos lidos na
história da educação ou mesmo em outras práticas pedagógicas hodiernas.

O educador deve estar plenamente consciente da tendência pedagógica que influencia a sua
prática, para que possa refletir sobre o referencial teórico que lhe serve de suporte, atribuindo um
caráter de reflexão-ação à mesma. Segundo Marques (1993, p. 104),
Os paradigmas básicos do saber, que se sucederam interpenetrados e que continuam em nossa cultura e em
nossas cabeças, necessitam recompor-se em um quadro teórico mais vasto e coerente. Sem percebê-los dialetica-
mente atuantes, não poderemos reconstruir a educação de nossa responsabilidade solidária.

Nesse momento, cabe acreditar que a supervisão educacional esteja imune às tendências peda-
gógicas que predominaram no Brasil? A resposta, que se mostra clara, é a de que, do mesmo modo
que acontece com o currículo, a didática e a avaliação, as ações supervisoras também adquiriram
nuances próprias, de acordo com as tendências pedagógicas predominantes no cenário educacional.

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A principal característica de uma tendência pedagógica é a forma de aborda-


gem do objeto de estudo da Pedagogia – a Educação. Dependendo da tendência, a
práxis educativa – da realidade pedagógica – pode assumir diferentes enfoques.

Tendências pedagógicas na Educação


brasileira
Para a explicação sobre as tendências pedagógicas no Brasil, foram escolhidos
dois estudos conhecidos: o de José Carlos Libâneo, em seu livro Democratização
da Escola Pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos (1985), e o de
Dermeval Saviani, em Escola e Democracia (2001).

Tendências pedagógicas segundo Libâneo


José Carlos Libâneo (1985, p. 19-44) divide as tendências pedagógicas exis-
tentes na prática escolar brasileira em dois grandes blocos: a tendência liberal e a
tendência progressista.

Pedagogia Liberal
Para a Pedagogia Liberal, a escola tem como função preparar os indivíduos
para o desempenho de papéis sociais, de acordo com suas aptidões: “A ênfase
no aspecto cultural esconde a realidade das diferenças de classes, pois, embora
difundida a ideia de igualdade de oportunidades, não leva em conta a desigualdade
de condições” (LIBÂNEO, 1985, p. 21-22).
Para muitos professores, a palavra liberal possui uma conotação equivocada:
eles afirmam, orgulhosamente, que são liberais, pensando que isso é sinônimo de
democráticos.
Há três modelos nessa tendência pedagógica: Tradicional, Renovada e
Tecnista.

Tendência Liberal Tradicional


Na Pedagogia Liberal Tradicional, a preocupação central é a universalização
do conhecimento: o professor utiliza o treino intensivo, a repetição e a memorização
para transmitir ao aluno o saber universal sistematizado. Por outro lado, os alunos,
elementos passivos no processo de ensino e aprendizagem, simplesmente absorvem
os conteúdos, que são verdades absolutas e dissociadas de sua vivência e de sua
realidade social. Aqui não existe a preocupação com as características específicas
e com a diversidade dos alunos, e os métodos mais usados são a exposição verbal
e a demonstração dos conteúdos, que são apresentados de forma linear e em
progressão lógica, sendo fixados e avaliados por meio de provas escritas, orais,
exercícios e trabalhos de casa (SCHRAMM, 2007).
Ao se observar a Pedagogia Tradicional, percebe-se que ela ainda está
muito presente na nossa Educação, e com forte tendência à reprodução. Demo
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(1999, p. 86) critica fortemente o reprodutivismo na Educação, resgatando o


sentido político:
Nada é mais político – em sentido negativo – do que produzir a subalternidade, lançando
mão de toda instrumentação técnica disponível, desde meras aulas reprodutivas, abuso
dos meios de comunicação, manuseio estereotipado da inteligência artificial, submissão a
livros didáticos e a currículos vindos de fora e artimanhas instrucionistas imbecilizantes.
Aprender é, profundamente, a competência de desenhar o destino próprio, de inventar um
sujeito crítico e criativo, dentro das circunstâncias dadas e sempre com sentido solidário.

Tendência Liberal Renovada


Segundo Libâneo, a Pedagogia Liberal Renovada possui duas versões: a
renovada progressista ou programática, que tem em Anísio Teixeira seu principal
expoente, e a renovada não diretiva, com Carl Rogers como elemento de destaque,
enfatizando a igualdade e o sentimento de cultura como desenvolvimento de
aptidões individuais.
Na concepção renovada progressista, a escola deve ajustar-se às necessidades
do indivíduo e ao meio social em que ele está inserido, tornando-se mais próxima
da vida. Essa tendência é também conhecida como Pedagogia Nova, Escola Nova
ou ainda Escolanovismo. A concepção renovada não diretiva atribui à escola
o papel de formar atitudes e, para isso, está mais preocupada com os aspectos
psicológicos que com os aspectos pedagógicos ou sociais (SCHRAMM, 2007). Há a
preocupação com o estabelecimento de um clima de mudança interna do indivíduo,
caracteristicamente existencial-humanista. Além disso, todos os profissionais que
trabalham na escola funcionam como “facilitadores de aprendizagem” rogerianos,
esmaecendo-se os contornos e as especificidades entre eles.
A necessidade de democratizar a sociedade fez com que o movimento da
Escola Nova acontecesse paralelamente à Pedagogia Tradicional, buscando reformas
educacionais urgentes. Os objetivos da Escola Nova estão concentrados no aluno, e
os educadores que adotam essa concepção acreditam em uma sociedade mais justa e
igualitária, na qual caberia à Educação adaptar os estudantes ao seu ambiente social
(SCHRAMM, 2007). De acordo com Fusari e Ferraz (1992, p. 28),
Do ponto de vista da Escola Nova, os conhecimentos já obtidos pela ciência e acumulados
pela humanidade não precisariam ser transmitidos aos alunos, pois acreditava-se que,
passando por esses métodos, eles seriam naturalmente encontrados e organizados.

Esse movimento baseia-se em uma crença: a de que a relação entre as pessoas


pode ser mais justa sem a divisão em classes sociais. A ditadura de Vargas (1937-1945)
fez com que a Escola Nova fosse afastada do cenário nacional e, desse modo, a
Educação passou por um período de estagnação.

Tendência Liberal Tecnicista


A Revolução de 1964, com o objetivo de manter a hegemonia social, lançou
mão de recursos tecnológicos sofisticados, que ocasionaram reformulações no
Ensino Superior, a criação de um sistema nacional de Pós-Graduação e a divisão
do Ensino Básico, que passou a ser denominado de primeiro e segundo graus.
Assim, surgiu a Tendência Liberal Tecnicista, voltada para a cientificidade
e a competência, ou seja, as técnicas e métodos que aumentam a eficiência da
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aprendizagem tornam-se centrais. Nessa nova tendência, fala-se em enfoque


sistêmico, em operacionalização de objetivos e em tecnologias de ensino. Essa
tendência responde à reprodução da ideologia e das relações sociais, já que o que
se almeja é a produtividade, o baixo custo da mão de obra numerosa e qualificada
tecnicamente, dócil e disciplinada (NEIVA, 2007).
A tarefa do professor é dar respostas apropriadas aos objetivos institucionais
para conseguir o comportamento adequado pelo controle do ensino por meio da
tecnologia educacional – o professor é apenas um vínculo entre a verdade científica
e o aluno, cabendo-lhe empregar o sistema instrucional previsto. A aplicação da
Pedagogia Tecnicista (planejamento, livros didáticos programados, procedimentos
de avaliação etc.) não configura uma postura tecnicista do professor: antes, o exer­
cício profissional do docente assume uma postura eclética em torno de princípios
pedagógicos pautados nas pedagogias tradicional e renovada (LUCKESI, 1993,
p. 63).

Pedagogia Progressista
A segunda grande tendência pedagógica descrita por Libâneo é a progres-
sista. O autor afirma que o termo progressista é tomado emprestado de Snyders,
e utilizado nesses estudos para:
[...] designar as tendências que, partindo de uma análise crítica das realidades sociais,
sustentam implicitamente as finalidades sociopolíticas da educação. Evidente que a Peda-
gogia não tem como institucionalizar-se numa sociedade capitalista; daí ser ela um instru-
mento de luta dos professores ao lado de outras práticas sociais. (LIBÂNEO, 1985, p. 32)

Essa tendência é resultado da insatisfação de muitos educadores que, a


partir da década de 1960, manifestam suas preocupações em relação ao rumo
tomado pela Educação. Suas discussões e questionamentos colocam ênfase na
escola pública, no que diz respeito à real contribuição desta para a sociedade
(SCHRAMM, 2007). Para Libâneo, essa tendência divide-se em três vertentes:
libertadora, progressista e de crítica social dos conteúdos.

Tendência Progressista Libertadora


O grande vulto na Tendência Progressista Libertadora é Paulo Freire, com seu
brilhante ideário sobre a Educação Libertadora, o processo dialógico, a problema-
tização do ensino e da aprendizagem.
Nessa concepção, o homem é considerado um ser no mundo – material,
concreto, econômico, social e ideologicamente determinado – e ao homem cabe
transformar essa situação em que vive. A busca do conhecimento é uma atividade
inseparável da prática social, não se baseando no acúmulo de informações, mas em
uma reelaboração mental que deve surgir na forma de ação sobre o mundo. A escola
passa a ser vista como instrumento de luta das camadas populares, relacionando-se
dialeticamente com a sociedade e constituindo-se em um meio de transformação

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dessa sociedade. Sua principal função é elevar o nível de consciência do educando


a respeito da realidade, tornando-o capaz de buscar sua emancipação econômica,
política, social e cultural (SCHRAMM, 2007).

Tendência Progressista Libertária


A Pedagogia Progressista Libertária acentua a conotação política do
movimento anterior: traz preocupações com a participação grupal, a análise
institucional, os processos de mudança, a efetiva inserção da Educação na prática
social. Por outro lado, valoriza a experiência de autogestão, autonomia e não
diretividade. A Pedagogia Libertária tem em comum com a Pedagogia Libertadora
“[...] a valorização da experiência vivida como base da relação educativa e a ideia
de autogestão pedagógica” (LUCKESI, 1993, p. 64).
Nessa tendência, o conhecimento não é a investigação cognitiva do real,
mas a descoberta de respostas relacionadas às exigências da vida social. Aqui,
acredita-se na liberdade total, e por isso dá-se mais importância ao processo de
aprendizagem grupal do que aos conteúdos de ensino (SCHRAMM, 2007). É
correto afirmar que a Pedagogia Libertária “[...] abrange quase todas as tendências
antiautoritárias em educação, como a psicanalítica, a anarquista, a dos sociólogos
e também a dos professores progressistas” (LIBÂNEO, 1985, p. 39).

Tendência Progressista Crítico-Social dos Conteúdos


A Pedagogia Progressista Crítico-Social dos Conteúdos – também chamada
Histórico-Crítica –, apresentada por Libâneo e outros educadores brasileiros
no início da década de 1980, propõe a valorização dos conteúdos do saber
sistematizado, mas não de forma inerte, como na escola tradicional. Os conteúdos
vivos, concretos e inseridos na realidade sociopolítica provêm do confronto entre
os saberes erudito e popular, combinando os processos de continuidade e ruptura,
assim não basta que os conteúdos sejam bem ensinados, é preciso que tenham
significação humana e social.
Ao falar dessa tendência pedagógica, Libâneo (1985, p. 70) afirma que:
A Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos toma o partido dos interesses majoritários da
sociedade, atribuindo à instrução e ao ensino o papel de proporcionar aos alunos o domínio
de conteúdos científicos, os métodos de estudo e habilidades e hábitos de raciocínio
científico, de modo a irem formando a consciência crítica face às realidades sociais e
capacitando-se a assumir no conjunto das lutas sociais a sua condição de agentes [...] de
transformação da sociedade e de si próprios.

Tendências pedagógicas segundo Saviani


Dermeval Saviani (2001) fala de dois grandes grupos de tendências pedagó-
gicas, e propõe ainda uma terceira.

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Teorias não críticas – incluem a Pedagogia Tradicional, a Pedagogia


Nova e a Pedagogia Tecnicista, que consideram a Educação como uma
panaceia milagrosa, capaz de erradicar a marginalidade da sociedade;
Teorias crítico-reprodutivistas – incluem a Teoria do Sistema como
Violência Simbólica (proposta pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu), a
Teoria da Escola como Aparelho Ideológico do Estado – AIE (enunciada
por Antonio Gramsci e Louis Althusser) e a Teoria da Escola Dualista
(originada das pesquisas de C. Baudelot e R. Establet sobre a escola na
França), nas quais a Educação aparece como fator agravante, responsável
pela marginalidade por meio da discriminação;
Teoria crítica da Educação – proposta por Saviani, ressalta que os dois
primeiros grupos explicam a marginalização pela forma de relação entre
Educação e sociedade.
O autor critica a Escola Tradicional, afirmando que ela surgiu com o
objetivo de superar o Antigo Regime, baseando-se nas conquistas da Revolução
Francesa. Esta propunha a universalização do ensino para transformar os súditos
em cidadãos esclarecidos: a escola seria o remédio para esse problema ao difundir
um ensino centrado e organizado em torno da figura do professor, e ao minimizar
o déficit intelectual causado pela falta de instrução.
Por outro lado, a Pedagogia Nova, também criticada por Saviani, surgiu como
uma tentativa de equacionar os problemas causados pela Pedagogia Tradicional.
Nascida das experiências de Educação com portadores de necessidades especiais
(de Decroly e Montessori), ampliou-se posteriormente como uma proposta para
todo o âmbito escolar. Essa vertente concebe o marginalizado não como um
ignorante, mas como alguém que foi rejeitado pelo sistema escolar e pela sociedade
– e assim cabe à escola reintegrar o aluno ao grupo, colocando-o como centro do
processo de ensino e aprendizagem.
Já para a Pedagogia Tecnicista, marginalizado não é o ignorante nem o
rejeitado, mas o improdutivo, o incompetente (no sentido técnico da palavra); desse
modo, a Educação colabora para o fim da marginalidade ao formar indivíduos
tecnicamente eficientes, aptos a contribuir para o aumento de produtividade da
sociedade.
O autor critica também as teorias crítico-reprodutivistas que denunciam a
violência simbólica cometida pela escola, por exemplo, ao impor conteúdos que
representam uma cultura dominante e desprezar a diversidade das manifestações
culturais dos alunos. Além disso, denuncia o reprodutivismo das teorias que
criticam a utilização da escola como aparelho ideológico do Estado para manter a
dominação burguesa, bem como as que se opõem à separação das redes escolares
para as classes privilegiadas e para as camadas populares da sociedade.

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Ao estudar as tendências pedagógicas brasileiras e propor a Teoria Crítica


da Educação, Saviani (2001, p. 75-76) postula a construção de uma “pedagogia
revolucionária”:
Se as pedagogias tradicional e nova podiam alimentar a expectativa de que os métodos por
elas propostos poderiam ter aceitação universal, isto devia-se ao fato de que dissociavam
a educação da sociedade, concebendo esta como harmoniosa, não contraditória. Já o
método que preconizo deriva de uma concepção que articula educação e sociedade e
parte da consideração de que a sociedade em que vivemos é dividida em classes com
interesses opostos. [...] Trata-se, portanto, de lutar também no campo pedagógico para
fazer prevalecer os interesses até agora não dominantes. E essa luta não parte do consenso,
mas do dissenso. O consenso é vislumbrado no ponto de chegada. Para se chegar lá, porém,
é necessário, pela prática social, transformar as relações de produção que impedem a
construção de uma sociedade igualitária. A pedagogia por mim denominada ao longo
deste texto, na falta de uma expressão mais adequada, de pedagogia revolucionária, não
é outra coisa senão aquela pedagogia empenhada decididamente em colocar a educação a
serviço da referida transformação das relações de produção.

Ação supervisora e tendências pedagógicas


Esse tópico será esquematizado por meio de um quadro-síntese1, que foi
adaptado para tornar mais fácil a compreensão das diversas nuances assumidas
pela ação supervisora, conforme as tendências pedagógicas preponderantes no
Brasil.
Agora, provavelmente surjam as seguintes perguntas:
Qual é a tendência pedagógica predominante na atualidade?
Que forma a ação supervisora adquire?
Hoje em dia, pela extensão e pela complexidade da rede educacional, o que
existe é uma convivência de boa parte das tendências descritas. Ao mesmo tempo,
o impacto causado pelas tecnologias de informação e de comunicação faz com
que o supervisor educacional reveja pontos importantes de sua atuação.
Alarcão (2001, p. 35) fala de um objeto redefinido da supervisão educacional,
o que pode servir como parte da resposta à pergunta feita anteriormente:
[...] o desenvolvimento qualitativo da organização escolar e dos que nela realizam seu
1 O quadro original está
dis­ponível no site: <http://­
terezinhamachado.verandi.org/
trabalho de estudar, ensinar ou apoiar a função educativa por meio de aprendizagens textos/doc_30.doc>. Acesso em:
9 fev. 2007.
individuais e coletivas, incluindo a formação dos novos agentes.

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Relação
Tendência Papel da Ação
Conteúdos Métodos professor- Aprendizagem Manifestações
pedagógica escola supervisora
-aluno

São conhecimentos
A aprendizagem é
Preparação e valores sociais Exposição e Ação fiscalizadora
A autoridade do receptiva e mecânica, Nas escolas que
intelectual e moral acumulados ao demonstração da atuação docente
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Pedagogia Liberal professor exige sem considerar adotam filosofias


dos alunos para longo dos tempos verbal da matéria e mantenedora da
Tradicional uma atitude as características humanistas clássicas
assumirem seu e repassados aos e/ou por meios de ordem na escola;
receptiva do aluno. próprias de cada ou científicas.
papel na sociedade. alunos como modelos. inspeção escolar.
idade.
verdades absolutas.
Os conteúdos
são estabele­ Surgimento dos
A escola deve Por meio de
Tendência cidos a partir O professor é um É baseada na técnicos e/ou
adequar as experiências, Montessori, Decroly,
Liberal Renovada das experiências auxiliador no motivação e na especialistas em

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necessidades pesquisas e método Dewey, Piaget, Lauro
Progressista vividas pelos desenvolvimento estimulação de Educação. Ação
individuais ao de solução de de Oliveira Lima.
(Escola Nova) alunos frente às livre da criança. problemas. voltada para a
meio social. problemas.
situações- implementação dos
-problema. “métodos ativos”.

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Não há uma ação
Educação Aprender é modificar
Não há um específica definida
Baseia-se na busca centralizada no as percepções da
Tendência Liberal método definido – o supervisor é
Formação de de conhecimentos aluno. O professor realidade, atingir o Carl Rogers,
Renovada – é baseado na um “facilitador da
atitudes. pelos próprios garantirá um autoconhecimento A. Neill.
não diretiva “facilitação da aprendizagem”,
alunos. relacionamento de e a atualização das
aprendizagem”. como os demais
respeito. potencialidades.
docentes.
Relação
Tendência Papel da Ação
Conteúdos Métodos professor- Aprendizagem Manifestações
pedagógica escola supervisora
-aluno

Ação essencialmente
É modeladora do Procedimentos
São informações Relação objetiva. O Leis 5.540/68 e técnica, ênfase
comportamento e técnicas para Aprendizagem
Tendência Liberal ordenadas em uma professor transmite 5.692/71. nas tecnologias
humano por a transmissão baseada no
­Tecnicista sequência lógica e a informação e o Período da ditadura aplicadas ao ensino
meio de técnicas e recepção de desempenho.
psicológica. aluno deve fixá-la. militar no Brasil. e nos procedimentos
específicas. informações.
burocráticos.
Visa levar
professores e Ação facilita-
Resolução de
alunos a um nível A relação é dora do diálogo, da
Tendência situações-
de consciência Grupos de horizontal e problematização e
Progressista Temas ­geradores. -problema Paulo Freire.
da realidade em discussão. simétrica – de igual da reflexão crítico-
Libertadora ligadas à prática
que busquem a para igual. -transformadora da
social.
transformação realidade.
social.
Transformação Ação semelhante à
É não diretiva:
Tendência da personalidade, As matérias são Vivência grupal dos moderadores dos
o professor é Aprendizagem Freinet,

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Progressista no sentido da colocadas, mas não na forma de “grupos operativos”,
orientador e os informal, via grupo. Miguel Arroyo.
Libertária liberdade e da exigidas. autogestão. criados por Pichón-
alunos, livres.
autogestão. -Rivière.
Ação voltada para a

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esfera pedagógica,
O método parte de Papel do aluno na busca de parcerias
Tendência Conteúdos culturais
uma relação direta como participador Baseada nas Makarenko, B. políticas com o
Progressista universais que são
Difusão dos da experiência do e do professor estruturas cognitivas Charlot, Suchodolski, professor. Ênfase
Crítico-Social incorporados pela
conteúdos. aluno confrontada como mediador já existentes nos Manacorda, G. na mediação para
dos Conteúdos ou humanidade frente
com o saber entre o saber e o alunos. Snyders, Saviani. a definição crítica
Histórico-Crítica à realidade social.
sistematizado. aluno. dos conteúdos
significativos para a
aprendizagem.
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