Os contos populares.
A comadre Morte
- Muito desejava tê-lo por compadre, para poder batizar o mais depressa uma criança.
- Não me custa a aceitar o convite; ora você não sabe quem eu sou.
- Não sei, mas por isso mesmo.
- Eu sou a Morte.
- Tanto melhor.
E caminharam juntos, e nesse mesmo dia se fez o batizado. A comadre Morte, depois da cerimónia,
disse para o homem pobre:
- Já que vives tão apoquentado por falta de recursos vou-te ofertar um dom que te aproveitará
muito e até poderás viver com fartura.
- Ó minha querida comadre!
- É o que te digo. Faz-te cirurgião, e quando visitares os doentes e me vires à cabeceira da
cama é sinal de que não escapam; nem Deus nem os santos os salvam. Se me vires aos pés
do leito, receita o que quiseres, e parecerá a muitos que são curas milagrosas.
Assim foi correndo a vida, que o homem como cirurgião acreditado ganhava muito dinheiro.
Uma vez é chamado para um doente que era riquíssimo, mas, por infelicidade, ao visitá-lo,
encontrou a comadre Morte à cabeceira. Disse que nada podia fazer e quis ir-se embora. Agarraram-
no, ofereceram-lhe peças de ouro, uma boa saca. O cirurgião teve então uma ideia, para não perder
aquele dinheiro. Mandou virar a cabeceira do doente para os pés. Salvou-o, mas a comadre Morte
foi-se embora e jurou vingar-se daquela deslealdade.
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- Olha a minha comadre, como ela já está pronta! Sempre lhe quero pagar o bem que me fez.
Vou-lhe rezar um padre-nosso pela sua alma.
Rezou sinceramente e, logo que acabou, a Morte ergueu-se:
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O CONDE SOLDADINHO
Junto do palácio do rei morava um pobre soldado; no dia e hora em que nasceu um filho ao rei,
também a mulher do soldado teve um filho. Aconteceu serem muito amigos um do outro, e o rei
como era justiceiro e de bom coração deixou que o soldado e a mulher viessem viver para o palácio,
para as duas crianças brincarem juntas. Chamavam todos no palácio ao rapaz o Conde Soldadinho;
ele acompanhava o príncipe a todas as festas e caçadas.
Uma vez andava o príncipe à caça, e achou-se ardendo em sede. O Conde Soldadinho foi-lhe arranjar
água; daí a pedaço veio com um lindo jarro cheio de água fresca.
— Foi numa pobre cabana; que faria se o príncipe visse a mãozinha que mo deu!
Foram ambos levar o jarro à cabana, e o príncipe ficou logo apaixonado por uma rapariga muito
linda que ali morava. Tomou amores com ela, ia vê-la em segredo, até que prometeu casamento para
obter tudo o que queria. Temendo que o rei soubesse daqueles amores, nunca mais voltou à
cabaninha, mas andava muito triste com saudades. A rapariga, que não sabia que o namorado era o
príncipe, veio à corte deitar-se aos pés do rei para lhe valer:
Abatida e infamada
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O rei disse:
E mandou chamar o príncipe, que estava passeando no jardim, para vir à sua presença; o príncipe
veio suspirando:
— Calai-vos, meu amigo; que também eras soldado, e meu pai vos fez conde sem o teres merecido.
Quando chegou à presença do rei contou-lhe tudo, e o rei deu-lhe ordem para casar com a pastora.
Teófilo Braga, Contos Tradicionais do Povo Português, Vol II, Dom Quixote
f) O rei...
h) ...
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5. Indique a razão pela qual o filho do soldado pobre se chamava Conde Soldadinho.
As lendas
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A lenda do paraíso.
Responda às perguntas.
1. Conta esta lenda que, quando Deus criou o homem, este lhe fez algumas queixas. Enumere-
as.
2. A quem recorreu Deus para atender ao último pedido do homem?
2.1. Explique a condição que a terra impôs para dar de comer ao homem.
3. Explique o sentido do último parágrafo do texto.
4. Assinale a opção que melhor sintetiza o assunto desta lenda. Esta lenda “explica” por que
razão...
Deus criou o Paraíso.
A terra produz alimentos.
Os homens são enterrados quando morrem.
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6. No último parágrafo, o verbo “tornar” significa devolver. Comprove que esta palavra possui
mais do que um significado, retirando um exemplo do texto.
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