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A bateria de água do mundo: armazenamento de energia hidrelétrica e a


transição para a energia limpa

Chapter · November 2019

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Rafaela Baldi Fernandes

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VOLUME 1
RECURSOS
Rafaela Baldi Fernandes
NATURAIS E MEIO
rafaelacivil@yahoo.com.br
AMBIENTE SOB A
HP13216112540621

ÓTICA DELAS
MINERAÇÃO,
ENERGIA, ÓLEO E GÁS,
SUSTENTABILIDADE
E MEIO AMBIENTE
Coordenadoras:
Marina Ferrara
Marina Scalon
A bateria de água do mundo:
armazenamento de energia hidrelétrica
e a transição para a energia limpa

Rafaela Baldí Fernandes


Doutoranda em Geotecnia (FEUP/UERJ), mestre em
Geotecnia (UFMG/UFOP), especialista em Gestão
de Risco de Escavações Subterrâneas (USP/FEUP) e
engenheira civil (UFMG). Autora do Livro: “Manual
para elaboração de Planos de Ação Emergencial para
Barragens de Mineração”. É empresária, consultora e
engenheira geotécnica em diversos projetos, construção e
operação
Rafaela de barragens,
Baldi com experiência na elaboração de
Fernandes
PAE e PSB. Membro do Comitê Brasileiro de Barragens,
rafaelacivil@yahoo.com.br
da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e da
HP13216112540621
Associação Brasileira de Geossintéticos. Professora
universitária e de cursos de pós-graduação, bem como
Diretora de Meio Ambiente no Instituto Brasil.

Sumário
1. Introdução; 2. Breve histórico do armazenamento de energia hidrelétri-
ca bombeada; 3. O papel do PHS nos sistemas de geração de energia;

1. Introdução
Os projetos de usinas hidrelétricas bombeadas consideram a geração de
energia elétrica a partir da circulação de água que, geralmente, foi previa-
mente bombeada, ou conduzida, de uma fonte inferior para um reservatório
superior. Sendo assim, pode-se destacar dois tipos básicos de geração:

• Circuito fechado: quando a produção de energia é decorrente


somente do aproveitamento de água do reservatório superior,
sem abastecimento natural deste;

207
Marina Scalon
Marina Ferrara

• Circuito aberto: quando o reservatório superior ou inferior é


continuamente conectado a um recurso de provimento de água
que flui naturalmente.
As potências de geração estão diretamente relacionadas a capacidade de
armazenamento de energia, que são diretamente proporcionais ao tamanho
dos reservatórios. Por exemplo, com duas piscinas olímpicas e uma diferença
de altura de 500m entre elas, pode-se fornecer uma capacidade de geração de
3MW, armazenando até 3,5 MWh (megawatts-hora).
O armazenamento de energia será um componente chave na aceleração
dos esforços globais para atender às metas ambiciosas de mitigação do clima
e desenvolvimento sustentável. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas, que ocorreu em 2015 e teve seu relatório publicado recentemente,
afirma que a redução das emissões para atender a um limite de 1,5 °C exigirá
“transições rápidas e de longo alcance” na economia global. Existem muitos
caminhos para alcançar esse objetivo,
Rafaela Baldimas todos compartilham certas carac-
Fernandes
terísticas: emissões que chegam a zero com energias renováveis que atendem
rafaelacivil@yahoo.com.br
grande parte do futuro fornecimento de eletricidade, incluindo a eletrificação
HP13216112540621
de múltiplos setores de uso final de energia. O relatório também enfatiza os
recursos de flexibilidade da rede, como o armazenamento sendo um dos faci-
litadores essenciais para o desenvolvimento acelerado de renováveis.
A energia elétrica bombeada (PHS) representa cerca de 94% da capacidade
de armazenamento de energia global instalada e mais de 99% em termos de
energia armazenada, tendo sido utilizada como um meio de transferência de
carga e balanceamento de fontes inflexíveis de geração de energia.
No ano passado, foi percebido o maior crescimento, em um ano de geração
de energia renovável, sendo que a energia eólica e a solar fotovoltaica repre-
sentou quase 60% das adições líquidas à capacidade de energia global. Nesse
sentido, tem-se uma transformação global em andamento, à medida em que
as tecnologias eólicas e solar sofreram rápidas reduções de custo e agora são
competitivas com a energia térmica. O sucesso destas tecnologias é pautado
do apoio de políticas governamentais, e vem mudando os sistemas de energia
com uma variedade de desafios técnicos, regulatórios e de mercado.
As PHS conseguem equilibrar a natureza variável das energias eólica e solar,
fornecendo energia confiável, “à granel” e sob demanda, sendo que, ao mesmo
tempo, evita a necessidade de redução durante os períodos de excesso de oferta. A

208
Recursos Naturais e Meio Ambiente sob a ótica delas

expectativa é que este tipo de tecnologia deve crescer em muitas partes do mundo,
com até 78.000MW de capacidade adicional a ser comissionada até 2030.
O armazenamento de energia na forma de armazenamento de energia hi-
drelétrica bombeada, a “bateria de água” do mundo, fornece serviços flexíveis
de energia para redes elétricas desde o início do século XX. Atualmente re-
presentando mais de 94% da capacidade de armazenamento de energia global
instalada e mais de 99% em termos de energia armazenada, o PHS tem sido
usado como um meio de transferência de carga e balanceamento de fontes
inflexíveis de geração de energia.

2. Breve histórico do armazenamento de energia


hidrelétrica bombeada
A tecnologia de armazenamento de energia hidrelétrica bombeada (PHS
= Pumped Hydropower Rafaela
Storage) Baldi Fernandes
foi desenvolvida pela primeira vez na virada
rafaelacivil@yahoo.com.br
do século 20 mas, no entanto, o planejamento e a construção de projetos de
HP13216112540621
PHS começaram a ser desenvolvidos de forma mais ativa no fim da Segunda
Guerra Mundial. Os aumentos significativos na população do pós-guerra e o
rápido crescimento econômico, reformulou as curvas de demanda, aumen-
tando a taxa pico-a-base e criando picos sazonais mais distintos. O PHS tam-
bém se tornou cada vez mais atraente como parte de projetos multiuso, onde
aumentou a economia de cada unidade. Um exemplo, é o projeto Lewiston, na
fronteira entre os EUA e o Canadá, que garante fluxos diurnos mínimos sobre
as Cataratas do Niágara durante a temporada turística.
Na década de 1960, com a maioria dos novos geradores térmicos entran-
do em operação com unidades de grande capacidade, alta temperatura e alta
pressão, havia pouca perspectiva de melhorias significativas na eficiência. Es-
ses geradores eram mais adequados para um alto rendimento constante, a fim
de reduzir o estresse do equipamento e os custos de manutenção, otimizando
as eficiências operacionais. As usinas de PHS foram idealmente posicionadas
para absorver energia excedente e gerar capacidade de pico e, neste período,
eram quase exclusivamente construídas por empresas estatais. Muitos desses
projetos também foram projetados para oferecer co-benefícios de gerencia-
mento de água, com PHS iniciadas na Califórnia e mais tarde na África do
Sul, sendo usados para transferência significativa de água e esquemas de for-

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Marina Scalon
Marina Ferrara

necimento para os principais centros de demanda. A operação da maioria dos


PHS era relativamente simples: a energia excedente noturna era usada para
bombear a água até o reservatório elevado, armazenando para geração duran-
te as horas de pico de demanda durante o dia.
A maioria dos projetos de PHS foi construída entre as décadas de 1960 e
1980, impulsionada por preocupações de segurança energética e desenvolvi-
mento de energia nuclear após a crise do petróleo na década de 1970. Pou-
cos projetos, especialmente nos mercados mais maduros da Europa, Japão e
EUA, foram desenvolvidos nos anos 90. A principal razão para a redução foi
o resultado da desregulamentação do mercado de energia e um declínio no
crescimento nuclear. No entanto, houve algumas exceções. A Áustria, sem
geração nuclear, mas com um rico recurso hidrelétrico, desenvolveu o PHS
para melhorar a operação e a eficiência de sua grande escala.
Desde a virada do século, tem havido um interesse renovado em PHS em
vários países, mais notavelmente na China,
Rafaela Baldi mas também na Europa e nos de-
Fernandes
mais mercados. À medida que as fontes de VRE (Variable Renewable Energy
rafaelacivil@yahoo.com.br
= Energias variáveis renováveis) penetram cada vez mais nas redes, o PHS é
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visto como uma ferramenta chave de integração renovável. No final de 2017,
a capacidade instalada global era de 161.000 MW.A China contribuiu para
grande parte do crescimento recente, tendo acrescentado cerca de 15.000 MW
de capacidade desde 2010, impulsionada por metas governamentais ambicio-
sas para energias renováveis .
Estia-se que o total de energia armazenada nos projetos de PHS do mun-
do seja de até 9.000 GWh. Esse é o resultado de uma análise usando o banco
de dados hidrelétrico global da International Hydropower Association, que
é semelhante ao consumo anual total de eletricidade do Uruguai. Em com-
paração, o total de energia armazenada dentro de baterias VRE é estimada
em apenas 7 GWh.

3. O papel do PHS nos sistemas de geração de energia


O sucesso das fontes VRE está impulsionando a mudança nos sistemas de
energia em todo o mundo. Em baixos níveis de aplicação de VRE, as flutua-
ções no fornecimento podem ser gerenciadas com baixo impacto e os gerado-
res convencionais existentes são capazes de fornecer os serviços de balance-

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Recursos Naturais e Meio Ambiente sob a ótica delas

amento de sistemas necessários. No entanto, à medida que o VRE continua


a crescer e, em alguns sistemas, começa a substituir os geradores convencio-
nais, os operadores do sistema enfrentam o desafio de gerenciar efetivamente
o aumento da incerteza e da variabilidade. Como resultado, o planejamento e
as operações do sistema de energia estão sendo adaptados e atualizados para
adicionar “flexibilidade” ao sistema.
A flexibilidade é um dos termos usados para se referir à capacidade de um
sistema de energia de manter um serviço ininterrupto ao encontrar oscilações
frequentes e grandes na oferta ou na demanda, seja qual for a causa. A flexi-
bilidade nos sistemas de eletricidade pode ser fornecida por quatro pilares
principais. Essas ferramentas de flexibilidade podem proteger a segurança da
rede elétrica, garantindo que a demanda seja sempre atendida:

• Fornecimento de energia flexível - como turbinas a gás e energia


hidrelétrica que sãoBaldi
Rafaela capazesFernandes
de iniciar rapidamente e despachar
a saídarafaelacivil@yahoo.com.br
ajustável;
• Demanda de HP13216112540621
energia flexível - onde os consumidores são incen-
tivados a ajustar sua demanda de acordo com os requisitos do
sistema, como resposta do lado da demanda;
• Interconexões com sistemas de energia adjacentes - essencial-
mente expandindo a área sobre a qual oferta e demanda podem
ser equilibradas, enquanto ligam geradores flexíveis distantes; e
• Armazenamento de energia - para equilibrar oferta e demanda.
A energia hidrelétrica convencional tem tradicionalmente fornecido uma
geração de energia flexível, bem como a esmagadora maioria do armazena-
mento de energia em larga escala, armazenando água em reservatórios. Usinas
hidrelétricas que incorporam reservatórios (sem capacidade de bombeamen-
to) sempre forneceram flexibilidade significativa à rede elétrica, modulando a
produção de acordo com as flutuações na demanda e outras gerações. Quando
a produção é reduzida para acomodar o VRE excedente, um reservatório de
energia hidrelétrica funciona como armazenamento virtual à medida que a
água natural flui para o reservatório, aumentando seu potencial de energia
proporcionalmente à redução da produção. No geral, a energia hidrelétrica

211
Marina Scalon
Marina Ferrara

tem um grande potencial para fornecer flexibilidade, com potencial de acele-


ração e níveis operacionais mínimos muito baixos.
O PHS tem a capacidade adicional de absorver energia excedente. Embora
o PHS tenha sido inicialmente desenvolvido para equilibrar a geração térmica
de carga básica inflexível, a tecnologia e operações da PHS estão se adaptando
ao sistema de energia em evolução, oferecendo uma gama mais ampla de ser-
viços auxiliares e de balanceamento com co-benefícios ocasionais para outras
soluções de flexibilidade.
As bombas-turbinas de velocidade variável e os sistemas ternários ofere-
cem flexibilidade de rede adicional ao permitir a regulação de potência e o
carregamento de carga quando em bombeamento, em oposição a unidades de
velocidade fixa mais convencionais, que operam a uma velocidade constante
e potência de entrada para bombeamento. A vantagem da velocidade variável
em relação às turbinas-bomba de velocidade fixa é que os projetos PHS de
velocidade variável podem operar em uma faixa mais ampla, maior eficiência
Rafaela
e tempo de resposta mais rápido.Baldi
Além Fernandes
disso, o PHS de velocidade variável
rafaelacivil@yahoo.com.br
também pode ajustar seu consumo de energia durante o bombeamento, per-
mitindo um melhor controle HP13216112540621
de frequência.
As turbinas-bomba de velocidade variável estão em uso desde o início dos
anos 90 no Japão, onde foram implementadas para reduzir o consumo de
combustível fóssil, transferindo a responsabilidade pela regulação de frequ-
ência para as instalações de armazenamento bombeado. As turbinas-bomba
de velocidade variável são adequadas à integração VRE em sistemas, mas não
necessariamente substituem as turbinas de velocidade fixa, já que ambos os
tipos oferecem serviços de rede exclusivos.
As máquinas de armazenamento por bombeamento hidráulico são uma
configuração de unidade em que bombas e turbinas são máquinas separadas
conectadas ao mesmo eixo. Isso significa que essas unidades não precisam re-
verter sua direção rotacional para alternar entre o bombeamento e a geração,
o que permite que a turbina e a bomba operem em paralelo, também conhe-
cido como “curto-circuito hidráulico”. Isso oferece tempos de resposta mais
rápidos e operações flexíveis em termos de tempos de modo mais rápido, ou
seja, o tempo necessário para mudar de modos de bombear para geradores.
A operação sob curto-circuitos hidráulicos também pode ser possível com
turbinas de bomba reversíveis de velocidade variável e fixa e reduz essencial-
mente o tempo necessário para trazer o sistema de volta à frequência ideal.

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Recursos Naturais e Meio Ambiente sob a ótica delas

A flexibilidade do sistema de energia sempre foi uma necessidade antes


mesmo do surgimento do VRE; no entanto, antes do VRE de baixo custo, as
principais fontes de variabilidade eram mudanças nos padrões de demanda e
falhas inesperadas por geradores ou infraestrutura de Transmissão e Distri-
buição (T&D). A geração substituível e síncrona era tradicionalmente a fonte
dominante de flexibilidade. À medida que a transformação dos sistemas de
energia progride, os geradores térmicos síncronos centralizados estão sendo
substituídos por fontes de VRE assíncronas, colocando um foco maior na fle-
xibilidade do sistema de potência. A falta de flexibilidade pode reduzir a resi-
liência dos sistemas de energia ou levar a perdas significativas de eletricidade
limpa por meio de cortes.
Os sistemas de eletricidade são complexos e a dinâmica entre os vários
componentes varia no tempo, desde microssegundos até a variabilidade in-
teranual das chuvas. Existem diferentes fontes de variabilidade que afetam o
equilíbrio entre oferta e demanda e, apropriadamente, diferentes opções para
Rafaela Baldi Fernandes
lidar com os desequilíbrios.
rafaelacivil@yahoo.com.br
Embora os sistemas de eletricidade do futuro exijam maior flexibilidade,
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muitos mercados têm demorado a reagir e a fornecer os sinais de preço ne-
cessários para garantir o investimento do setor privado à medida que a dinâ-
mica da arbitragem de energia muda. O PHS é uma tecnologia econômica e
tecnicamente comprovada, com fortes benefícios ambientais. O desafio para
a indústria e os formuladores de políticas é desenvolver as estruturas de mer-
cado e regulatórias que ajudarão a garantir que sua contribuição total para a
transição de energia limpa seja realizada.

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Rafaela Baldi Fernandes
rafaelacivil@yahoo.com.br
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