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Movimentos sociais

Mais recentimente, Gohn (2011) definiu movimentos sociais como sendo acções sociais
colectivas de caracter sociopolitico e cultural que viabillizam formas distintas de a população
se organizar e expressar suas demandas. Na acção concreta essas formas adoptam diferentes
estratégias que variam da simples denúncia, passando pela pressão directa como mobilizações,
marchas, concentrações, passeatas, distúrbios à ordem constituída, actos de desobediência civil,
negociações, até as pressões indirectas.

No âmbito da acção colectiva, para Gohn (2011) e Touraine (2004), os movimentos sociais
colocam a sociedade a par dos problemas sociais por eles identificados, para que os indivíduos
estejam conscientes das situações em que se encontram.

5. Origem dos Movimentos sociais

Talvez o mais antigo movimento de massas que nós podemos destacar como um princípio de
movimento social tenha sido a Queda da Bastilha, que marcou a Revolução Francesa em 1789
e foi responsável pela queda da monarquia absolutista francesa. Outro grande movimento de
massa que se tornou um movimento social organizado foi o movimento sufragista, considerado
parte da primeira onda do feminismo, movimento organizado por mulheres que reivindicavam
o seu direito ao voto e à participação cidadã na política.

Na passagem do século XIX para o século XX, os sindicatos institucionalizaram-se como


coletivos que visavam defender os trabalhadores da exploração patronal, inspirados,
principalmente, pelos ideais marxistas. Nesse sentido, surgiu em vários cantos do mundo
movimentos sociais em defesa dos trabalhadores, das classes sociais mais baixas, e movimentos
socialistas e anarquistas, que visavam uma completa revolução e dissolução da ordem social
capitalista. Na década de 1960, devido às sequelas deixadas pela Segunda Guerra Mundial e ao
clima de polarização mundial causado pela Guerra Fria, novos coletivos, ações e movimentos
surgiram por todo o mundo. As pautas dos movimentos sociais passaram a diversificar-se a
partir desse momento.

Nos Estados Unidos e na África do Sul, a população negra revoltou-se contra o injusto sistema
de segregação racial que garantia privilégios à população branca e retirava os direitos da
população negra, tratando esta camada como uma horda de cidadãos inferiores. As mulheres
também se organizaram em colectivos para lutar por seus direitos, buscando a liberdade sexual
e o tratamento igualitário entre os gêneros (essa ficou conhecida como a segunda onda do
movimento feminista).

A população LGBTQ+ também entrou em cena para reivindicar o direito de expressar-se


livremente e de não ser julgada ou segregada por isso. Um episódio marcado por um espontâneo
movimento de massa que gerou um grande movimento social foi o ocorrido no bar Stonnewall
Inn, em Nova Iorque, que resultou em confronto com a polícia e deu origem à Parada do
Orgulho Gay, hoje chamada de Parada do Orgulho LGBTQ+, que ocorre em várias cidades
pelo mundo."

O mundo passou por severas mudanças a partir da década de 1960, período em que as minorias
saíram às ruas para lutarem por seus direitos. A partir daí, vários movimentos sociais começam
a eclodir pelo mundo, sempre em busca de uma organização que visasse a inclusão de pessoas
excluídas e sempre se diferenciando de acordo com as especificidades de cada local.

5.1 Breve Historial dos Movimentos Sociais em Moçambique

As manifestações associativas em Moçambique surgiram no começo do século XX, com a


formação de associações de índole estudantil e juvenil, de actividades recreativas e sindicais,
todas de base urbana (NEVES, 2009), tendo se concentrado mais na então cidade Lourenço
Marques.

O movimento associativo africano durante o periodo colonial desempenhou um papel


determinante na transformação de um protagonismo numa cosciência nacionalista
intervencionista em Moçambique (NEVES, 2009, p. 179).

Antes da independência os movimentos sociais constituiam grupos de pressão da então jovem


´´elite´´ urbana moçambicana, junto do regime colonial, basicamente assente em questões de
emancipação social, económica e cultural, tais como o fim do trabalho escravo, da
discriminação racial e da exploração de terras, bem como de reivindicação pela sua educação e
de acesso ao poder (NEVES, 2009, p. 187-188).

As poucas associações existentes emergem à margem do Estado e do regime colonial e


enraizam o nacionalismo moçambicano, urbano, como é o caso da Associação dos Negros
deMoçambique, a Associação dos Naturais de Moçambique, o Conselho Cristão de
Moçambique em Lourenço Marques e a Casa de Moçambique em Lisboa (NEGRÃO, 2003, p.
2).

Foi dentro desses movimentos associativos que saíram, mais tarde, alguns dos movimentos
sociais que participaram da fundação da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), o
amplo movimento político e militar que desencadeou a luta de libetação nacional e que governa
Moçambique desde 1975.

Com a independência nacional e em consequência da emergência do novo contexto político e


ideologico, os movimentos associativos do tempo colonial foram, obviamente, extintos, na
filosofia da construção de uma identidade nacional moçambicana e com o estabelecimento do
regime do partido único. As criadas organizacões democraticas de massa tiveram a missão de
dar continuidade ao processo ´´revolucionário´´. Todo o movimento associativo passa,
naturalmente, a atuar como um dos seus principais instrumentos de mobilização política e
ideologica (BIZA, 2007, p. 52), uma especie de braços sociais do partido único.

Movimentos como a Organização da Mulher Moçambicana (OMM), a Organização da


Juventude Moçambicana (OJM), a Organização dos Trabalhadores Moçambicanos (OTM), o
Sindicato Naciona de Jornalistas (SNJ), a Organização Nacional de Professores (ONP) –
existentes ainda hoje – foram fundados pela propria FRELIMO a partir da década de 1970 e
tiveram de desempenhar um papel inequivoco na educação política socialista e na formação de
quadros para o aparelho de Estado (BIZA, 2007, p. 59).

Tal como defendeu José Negrão, nessa fase, os movimentos associativos em Moçambique eram
frágeis e embrionários, serviam a fins políticos e não tinham margem de manobra para de forma
livre expor suas ideias e acções em prol do desenvolvimento do país. Contudo, entre 1975 a
1988, existiram algumas organizações que se desenvolveram à margem do controlo estrito do
partido único, entre elas o Conselho Cristão de Moçambique, o surgimento da Caritas de
Moçambique e a União Nacional de Camponeses. No periodo do partido único, a paticipação
da sociedade civil estava coartada por vários constrangimentos inerentes ao proprio regime
político (OSISA, 2009, p. 73).

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Características gerais de um movimento social

De acordo com Gohn (2014), para ser considerado um movimento social, deve haver uma
liderança, uma base e uma demanda. Além disso, para a autora, deve haver ainda opositores e
antagonistas, conflitos sociais, um projecto sociopolítico, entre outros.

Por sua parte, a ideologia abarca a luta política do movimento, pois esta será responsável por
articular a união entre os grupos sociais. Por fim, ao se instituírem, os movimentos sociais
estabelecem uma disposição hierárquica. Essa hierarquização pode ser mais ou menos
centralizada, numa estrutura deliberada para possuir líderes e outros integrantes.

Para que haja um movimento social efetivo é preciso haver um projeto, uma ideologia e uma
organização hierárquica. O projeto abarca a proposta e objetivos do movimento em questão.

Dessa forma, devemos destacar que, de acordo com Medeiros (2014), o simples fato de ir às
ruas protestar contra a corrupção, por exemplo, não caracteriza um movimento social. Uma
ação esporádica, ainda que mobilize um grande número de manifestantes, pode ter em seu
coletivo representantes de movimentos sociais e populares mas não caracterizam um
movimento social como tal.

7. Tipos de Movimentos Sociais

Segundo a filosofa Nancy Fraser, os movimentos sociais podem ser divididos:

 Movimentos redistribuidores: focam sua acção em exigências de questões imediatas e


concretas como direito ao voto, redistribuição de terras, moradias, etc. Exemplo:
movimentos dos Sem-Terra.
 Movimentos reconhecimento: pretendem mudar a cultura de uma sociedade ao
combater causas mais abstratas como o fim do preconceito e da discriminação racial,
sexual, etc. Exemplo: movimento LGBTI.
 Movimentos bivalentes: combinam as características de ambos os movimentos.
Exemplo: Movimento Indígena.

Ainda fazem parte dos movimentos sociais os movimentos populares, sindicais e a organizações
não governamentais (ONGs).

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8. Principios do Movimento social

Touraine (2004) defende que qualquer Movimento social deve ser caracterizado pela existência
de três principios sendo eles:

 O principio da identidade (conjunto de caracteristicas que nos permitem identificar de


que organização se fala, a quem representa, quais os seus objectivos e interesses);
 O principio da oposição (saber a que acções a organização se opõe, contra que situações,
ideias, entre outros);
 O principio da totalidade (que as reivindicações sejam reconhecidas por todos os
membros de uma colectividade e não apenas da organização).

9. Mudanças sociais

9.1 Conceito

Segundo Guy Rocher é toda a transformação observável no tempo, que afeta, de uma maneira
que não seja provisória ou efémera, a estrutura ou ofuncionamento da organização social de
uma dada coletividade e modifica o curso da sua história.

10. Características da Mudança social

As Mudanças sociais dem ser:

 Universais: Segundo Georges Balandier (n. 1920) “A sociedade é uma criação


permanente, refaz‐se a cada instante.” A cultura que cada geração recebe nunca é a
mesma que vai transmitir à geração seguinte.
 Contínuas e Identificáveis no tempo: Segundo Georges Balandier (n. 1920) Embora
nem sempre seja facilmente observável a cada instante, em momentos razoavelmente
separados no tempo as transformações evidenciamse. “Os processos de mutação social
têm uma existência subterrânea, antes de se tornarem manifestos e de provocarem as
transformações de que são agentes.”
 ritmo variável: Binómio tradição/modernidade (conforme os tipos de sociedade,
acentua‐se mais um ou o outro, a continuidade ou a mudança). Binómio
isolamento/contacto (a mudança social é mais rápida nas sociedades mais abertas às
influências vindas do exterior).

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 Durável: não se incluem na mudança social, por exemplo, determinados fenómenos
cíclicos
 Fenómeno coletivo: as transformações sociais afetam toda a sociedade ou grande parte
dela.
 Estrutural: a mudança social corresponde a transformações nas instituições, nas relações
entre instituições, na estrutura de classe, valores, estatutos, papéis sociais e práticas
sociais. Por exemplo, a crescente participação da mulher na atividade económica altera
o papel do homem e da mulher na família, dá origem à generalização dos infantários,
das residências para idosos, novo papel social da escola, etc.
 Multicausal: todas as mudanças sociais têm origem em múltiplos fatores. Umas
mudanças acarretam outras num jogo de sucessivas adaptações em cadeia nas diversas
partes da estrutura social.

11. Factores da mudança social

Os factores da mudança social podem ser:

 Endógenos - Provocam a mudança a partir do interior do sistema social. Conflitos


raciais, de género, intergeracionais, luta de classes, etc.
 Exógenos - Provocam a mudança a partir do exterior do sistema social. Guerras,
descobertas científicas, contacto com outras culturas, etc.
 Naturais - catástrofes naturais, etc.
 Demográficos - crescimento demográfico, migrações, envelhecimento da população,
etc.
 Políticos - Guerras, organização política, decisões dos governantes, etc.
 Económicos - Revolução agrícola, revolução industrial/capitalismo, liberalização do
comércio internacional, transnacionalização da produção, dívida externa, etc.
 Culturais - Desenvolvimento da ciência, desenvolvimento do pensamento
(secularização do pensamento, igualdade, liberdade individual, tecnologia, educação,
democracia, direitos humanos, etc).

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12. Agentes de mudança

 Elites - indivíduos ou grupos com autoridade, poder ou influência, que contribuem para
a ação histórica da coletividade seja pelas decisões tomadas, pelas ideias ou pelos
sentimentos ou emoções que experimentam ou simbolizam. Por xemplo, Elite política,
elite estudantil, elite operária, artistas, desportistas… (Che Guevara, Luther King,
Mandela, Papa, Graça Machel, dirigentes partidários…)
 Movimentos sociais - organizações relativamente estruturadas que visam a promoção
e a defesa de certos interesses definidos. Por exemplo, Movimento de Defesa da Vida;
Movimento Educação Livre (ensino doméstico); Movimento pela Abolição da
Tauromaquia em Portugal; Indignados; Movimento 12 de Março; Greenpeace; Amnistia
Internacional; Human Rights Watc, etc.

Recorrem a processos como: mediação; clarificação da consciência coletiva; pressão; etc.

 Grupos de pressão - organizações profissionais, associações de consumidores,


associações ambientais, etc.

Recorrem a instrumentos como: petições; ameaças; boicotes; sabotagens; greves;


manifestações; etc.

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