Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CURITIBA
2022
DANIEL FABRICIO DA VEIGA
CURITIBA
2022
TERMO DE APROVAÇÃO
______________________________________
Profª. Drªa. Andréa Berriel
Orientadora – Departamento de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade Federal do Paraná
______________________________________
Profª. Drªa. Juliana Harumi Suzuki
Departamento de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade Federal do Paraná
______________________________________
Prof. Dr. Marcelo Caetano Andreoli
Departamento de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade Federal do Paraná
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15
2 CONCEITUAÇÃO E HISTÓRICO .......................................................................... 17
2.1 CONCEITOS DE CENOGRAFIA ........................................................................ 17
2.2 HISTÓRICO DA CENOGRAFIA .......................................................................... 19
2.3 CENOGRAFIA CONTEMPORÂNEA ................................................................... 36
3 ILUMINAÇÃO CÊNICA .......................................................................................... 43
3.1 BREVE HISTÓRICO DA ILUMINAÇÃO CÊNICA .............................................. 43
3.2 OBJETIVOS E PRINCÍPIOS .............................................................................. 50
3.3 ANGULAÇÃO E MODELAGEM ATRAVÉS DA LUZ .......................................... 52
3.3.1 Contraluz ......................................................................................................... 54
3.3.2 Luz chapada .................................................................................................... 55
3.3.3 Luz de chão ..................................................................................................... 55
3.3.4 Luz diagonal .................................................................................................... 56
3.3.5 Luz frontal ........................................................................................................ 57
3.3.6 Luz lateral ........................................................................................................ 58
3.3.7 Luz à pino ........................................................................................................ 59
3.3.8 Luz rebatida ..................................................................................................... 59
3.4 CHIAROSCURO ................................................................................................. 60
3.5 DESENHO DE ILUMINAÇÃO – APRESENTAÇÃO DE PROJETO ................... 63
4 ANÁLISE DE CORRELATOS................................................................................ 73
4.1 OTELO ................................................................................................................ 73
4.2 HOPPLA, WIR LEBEN! ....................................................................................... 79
5 DOM CASMURRO ................................................................................................ 87
5.1 RESUMO DA OBRA E ADAPTAÇÕES .............................................................. 87
5.2 RESUMO E APONTAMENTOS DA ADAPTAÇÃO PARA A TV “CAPITU” ........ 91
6 ELEMENTOS E DIRETRIZES EXTRAÍDOS DA PEÇA E DA MINISSERIE ........ 98
7 ANÁLISE DA REALIDADE – TEATRO GUAÍRA ............................................... 109
7.1 HISTÓRIA DO TEATRO ................................................................................... 109
7.2 ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS – GUAIRÃO .................................................. 112
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 116
REFERÊNCIAS....................................................................................................... 117
FONTES DE FIGURAS .......................................................................................... 119
15
1 INTRODUÇÃO
2 CONCEITUAÇÃO E HISTÓRICO
Urssi (2006) argumenta que o teatro possui uma origem anterior aos gregos.
“A origem do teatro é pré-histórica, ele nasceu da forma circular definida pelo público
que se posicionava em torno do espetáculo primitivo. O xamã, instrumento de
ligação entre a natureza mística e o ser humano, era o proto-personagem.” O autor
vai além e continua a descrever as características dessa expressão cultural que,
embora possua teatralidade, ainda não se define como teatro. Ao descrever o uso
do fogo e da fumaça pelo xamã, bem como os ornamentos de penas, peles de
animais e instrumentos musicais rudimentares, tenta nos mostrar como essas
ferramentas eram utilizadas para, segundo o autor, suspender a incredulidade dos
20
Em seu livro “Cenografia, uma breve visita” Cyro Del Nero argumenta que
embora o surgimento do teatro grego possa ser datado historicamente, através de
fontes e registros, a cenografia de certa forma o precede pois já era utilizada nos
rituais ligados a religiões e crenças espirituais:
melhores obras da época, a qual junto às outras artes, como escultura e arquitetura,
haviam alcançado um alto nível.
FIGURA 4 – KATABLEMATA
FIGURA 5 – PERIACTOS
rotacionada, sem que o ator precisasse entrar em cena pelas laterais ou fundo do
palco. (DEL NERO, 2009).
FIGURA 6 – EKICLEMA
O theologuêion (lugar onde os deuses falam) que era uma tribuna armada
na parte superior do cenário, representando a morada dos deuses. O aparecimento
de divindades em cena se fazia acompanhar de relâmpagos e trovões. O relâmpago
se produzia por meio de archotes que se agitavam e o barulho do trovão era
conseguido com uma bacia de bronze colocada atrás da cena, na qual se lançavam
pedaços de ferro. (BRANDÃO, 1992)
A deus ex machina talvez seja a máquina de efeito visual mais expressivo do
período. Segundo Del Nero (2009), são as máquinas cuja finalidade é representar a
chegada dos deuses vindo do Olimpo ou Parnaso. Consistia em uma grua que fazia
os deuses aparecer em meios aos céus e os transportava pelo ar até o
theologuêion. A sofisticação deste mecanismo, e sua íntima relação com o uso de
cabos e mastros, cria a possibilidade de uma ligação com a origem deste
mecanismo no meio naval, pois o uso de dispositivo semelhante era feito para
transporte de cargas em embarcações.
27
Ainda de acordo com Del Nero (2009, p. 154), “Esse foi o primeiro grande
boom da história do espetáculo, quando a excelente engenharia romana podia
erguer teatros independentemente da forma dos terrenos, construindo alguns no
deserto, onde não havia nenhuma colina para se apoiar o theatron.” O segundo seria
com a ópera de Monteverdi e a abertura de vários teatros líricos pela Europa. O
terceiro foi o cinematográfico, no século XX. (DEL NERO, 2009).
28
Neste período também surgiu outra figura importante que viria a mudar a
formatação do edifício teatral. Andrea Palladio criou o Teatro Olímpico de Vicenza,
reduzindo suas medidas e adicionando um teto ao teatro romano. No mesmo
período, em Londres, Shakespeare utilizava o Teatro Globo, um tipo de circo
adaptado para espetáculos com diversas cenas em um mesmo palco. (DEL NERO,
2009).
dos mais famosos foi o Globe Theatre, com formato circular, galerias e camarotes.
(PEREIRA, 2017).
No teatro barroco “glórias”, visão dos céus, última cena, apoteose, na qual
todos os conceitos e efeitos se reuniam era o ponto alto do espetáculo. Segundo Del
Nero (2009, p. 201), “Cantores subiam do limbo posterior do palco sentados em
nuvens, como nas imagens sagradas, tomando o lugar de Cristo, com seus santos e
apóstolos.” Estas nuvens consistiam em painéis com assentos ocultos atrás deles.
Eles subiam juntos e eram interligados mas contavam com movimentação
independente. Del Nero (2009, p. 201), “Um leque de madeira, pantográfico,
sustentava-os e abria-se, expandindo as nuvens.” O efeito era grandioso e
reservado para o clímax da peça.
36
“As cordas herdadas dos navios, dos oceanos e dos séculos, e que no
teatro são chamadas de manobras, corriam para cima e para baixo,
contrapesadas – umas curtas, outras longas – passando nos eixos dos
gornes e das roldanas mestras, levando carga artística que cantava a glória
de deuses, reis e potestades. (DEL NERO; 2009, p. 201).
“Foi por meio de sua música e do edifício teatral que mandou construir para
ele que Wagner realizou suas ideais. Nesse edifício, a encenação que fez
visando ao futuro da obra de arte tinha a cenografia de suas obras ainda de
costas, ainda como se olhasse por um retrovisor histórico para o passado,
recorrendo também à arqueologia. Sua música era revolucionária e
profética, mas sua cenografia era antiga e referia-se a encenações de
cunho antigo.” (DEL NERO; 2009, p. 217-218).
sim uma apropriada ligação derivada da hierarquia entre estas diferentes formas de
expressão.
Adotando o ator como elemento primário e fundamental, pois o drama não
acontece sem sua figura, será sua ação que irá definir o espaço teatral. Desta forma
o espaço tridimensional se verá livre das tradições da caixa italiana e substituirá a
representação de cenários em duas dimensões. Os volumes substituem as
superfícies planas. (DEL NERO, 2009). A iluminação deve ser tida como uma
ferramenta de representação do meio dramático, de maneira ágil, dinâmica e que dê
vida ao espaço. “Música do espaço, a luz, entre outras funções, tem o poder da
sugestão e o de fazer ver ao espectador não a realidade, mas como o sentimento da
realidade envolve os personagens.” (DEL NERO; 2009, p. 220).
inclinados, os quais ilumina com parcimônia.” Appia desenvolveu sua arte em busca
de uma utopia na arte viva aberta para todos, abolindo até mesmo a noção de
representação.
Este novo conceito de arte social proposto por Appia carregava consigo a
ideia de um novo lugar teatral, “a sala, a catedral do futuro, espaço livre, vasto e
transformável, capaz de acolher as manifestações das mais diversas de nossa vida
social e artística.” O que ele busca é um edifício teatral e uma cenografia cujo
mundo todo seja o palco, servindo a qualquer espetáculo.
“O ano de 1892 foi rico para o teatro moderno: Appia faz desenhos para
Ouro do Reno e Valquírias, além de desenhar a mise-en-scène de Mestres
Cantores de Nuremberg e de Tristão e Isolda. No fim desse ano termina a
Mise-en-scène do drama wagneriano, o primeiro dos três livros que
publicou.” (DEL NERO; 2009, p.228).
Tinha uma maneira única de cenografar suas peças, detentor de, segundo
Del Nero (2009, p. 269), “[sic] maneiras grandiloquentes de encenar os clássicos e a
nova dramaturgia.” Teve trabalhos realizados nos maiores teatros do mundo e
contribui em diversos setores ligados a cenografia, Del Nero (2009, p. 269), diz “[sic]
nos campos da óptica, da iluminação, da cinética cenográfica e dos novos meios
para fazê-lo. Foi quem mais realizou os sonhos de Appia e Craig. Uniu ilusão e
expressão, técnica e arte.” A obra de Wagner pode ser considerada uma ponte entre
os trabalhos de Appia e Svoboda. (DEL NERO, 2009).
3 ILUMINAÇÃO CÊNICA
Como o trecho acima diz, a obra teatral só existe quando executada para um
público, mas tal ponto levanta a questão sobre quando a luz deve ser introduzida no
desenvolvimento da peça para que seja considerada manifestação artística. Para
Tudella o trabalho do iluminador, a dita “montagem da luz”, começa, ou deveria
começar, logo nos primeiros ensaios, quando atores interagem com o texto, entre si
e não poucos dias antes da estreia, problema que aponta em sua dissertação.
Mesmo que não exista ainda um cenário, e até mesmo na ausência de palco, os
atores acabam por criar de forma virtual o lugar artificial da cena quando se
deslocam na sala de ensaio. Embora o autor se mostre preocupado com essa
participação do profissional da luz em etapas anteriores na criação de obras teatrais
Tudella enfatiza que as ideais e visões do iluminador ocorrem mesmo antes dos
ensaios em um estado que ele chama de “pré-cênico”, de acordo com Tudella (2017,
p. 20), “[sic] um processo vivo, constituído por todas as atividades que ocorrem
desde as primeiras ideias que levam à realização espetacular.”
Esta interação com a luz, mesmo nos ensaios, se faz necessária pois
diversas obras possuem a intenção de, através das falas, segundo Tudella (2017, p.
19), “compartilhar com o fruidor, não somente o lugar e o tempo da ação, mas
também a atmosfera de cada espetáculo, ou cena.” Neste momento de estudo
também podem ser sugeridas e testadas formas de uso da luz que evoquem
simbolismos que complementem a noção de cada ação, lugar, tempo ou atmosfera.
A influência da luz vai além, até mesmo se relacionando com os motivos e
desdobramentos do movimento dos personagens, tendo forte relação com a
argumentação da ação dramática. De acordo com Tudella (2017, p. 20), “Há algo
que provoca o movimento da personagem, levando-a a interagir com o mundo.” O
autor do texto dramático revela sua visão sobre este processo na maneira como a
44
desenvolve, o iluminador por sua vez observa estas relações e elabora sua própria
interpretação sobre como a peça será vista.
Ainda sobre a importância da luz na obra teatral cabe ressaltar que a criação
de um espetáculo é uma obra plural e que as disciplinas empregadas não são
estabelecidas de maneira hierárquica e nem mesmo de forma sequencial. O uso da
luz, no seu conceito máximo de algo que mostra o físico existente e o imaterial
subjetivo, permeia o processo em todas as suas etapas , não se submetendo a
ordens pré-estabelecidas e outros rigores impositivos. (TUDELLA, 2017).
Embora o termo visão sugira o ato de ver como uma operação física, e
visualidade como um fato social, os dois não se opõem, como aspectos da
natureza, à cultura: a visão é social e também histórica, e a visualidade
envolve o corpo e a mente. (FOSTER; 1988, p. 9, tradução nossa)
Ele procura mostrar que, além de haver diferenças entre si, esses conceitos
demonstram uma tensão positiva no próprio processo visual, uma tensão que gera
interação entre o mecanismo da visão, suas técnicas históricas, os dados da visão e
suas determinações discursivas, com diversas diferenças entre a forma que vemos,
a forma como somos capazes, permitidos, ou induzidos a ver e a maneira como
compreendemos essa forma de enxergar. (TUDELLA, 2017).
A visualidade se relaciona à atitude crítica que orienta o iluminador e confere
postura estético-poética à sua contribuição para a práxis cênica. Enquanto jogar luz
sobre a cena gera apenas visibilidade. O estudo de aspectos técnicos, estéticos e
poéticos de tal atividade, caracteriza a visualidade de um espetáculo. A visualidade
não está presente apenas no que é considerado um espetáculo de sucesso, naquele
que é aclamado pela crítica ou pelo público, mas em toda e qualquer manifestação
artística. A forma como o iluminador define o que será visto, como irá construir sua
45
Somente com a tecnologia luminosa do gás foi possível ter controle sobre as
gradações da intensidade luminosa, embora limitado pelo odor exalado,
principalmente em ambientes fechados, e pelo altíssimo risco de incêndio. Esta
técnica tornou mais fácil a transição da representação do dia e da noite, livrando o
espaço teatral das manchas e da fumaça do uso do óleo. A inventividade dos
47
cenógrafos e iluminadores deste período merece atenção pois apesar das severas
limitações no uso da luz no palco, conseguiam através de engenhosas e, ao mesmo
tempo, simples invenções criar efeitos surpreendentes. Um deles era a necessidade
de escurecer o palco subitamente sem apagar a fonte luminosa que consistia em
algum tipo de chama acesa.
No livro de Sabbatini, Prática para fabricar cenários e máquinas de teatro ele
descreve uma prática solução para este problema. Consistia em cilindros de ferro
com uma cobertura na parte superior fosco que posicionados sobre as fontes
luminosas desceriam ao movimento de uma alavanca envolvendo a origem da luz e
desta forma gerando a escuridão necessária. Da mesma forma, ao operar a mesma
alavanca estes cilindros se elevariam trazendo novamente a luz ao palco. (RATTO,
2001).
para os efeitos reproduzidos nos palcos. Em alguns exemplos a luz se faz presente
mesmo sem a indicação de uma fonte luminosa real e factível. Na obra Os
discípulos de Emaús de Rembrandt a luz que irradia em torno da cabeça de Cristo
só pode ser creditada ao seu caráter divino, não correspondendo a uma fonte
luminosa física. Caso a intenção seja recriar este feito em uma peça, a luz deveria
partir da parte de trás do ator que representa Jesus e deve permanecer oculta para
que a magia da cena não se perca. O mesmo recurso é também empregado na obra
Tintoretto do mesmo pintor, mas dessa vez compete com uma luminária em outro
ponto da cena retratada. (RATTO, 2001).
Com esta análise dos usos simbólicos e recheados de mensagens que a luz
assume na pintura, além de sua função meramente prática de tornar visível aos
olhos, é possível perceber que ela já era usada como veículo para transmitir ideias,
sentimentos e criar atmosferas capazes de transportar quem as observa para um
lugar de fantasia e com maior número de possibilidades de interpretação.
Resgatando um termo já explicado neste trabalho, alguns pintores já se
preocupavam com a visualidade presente em suas obras e não somente a
visibilidade pura e simples.
Valmir Perez enumera uma série de características que a luz deve assumir
no espaço teatral com um enfoque mais técnico e direto de seus usos. A luz deve
permitir a percepção (visibilidade) do espectador do palco de forma geral, mas
também ter a possibilidade de iluminar apenas partes do cenário quando necessário.
Deve manter a atenção do público concentrada nos atores porém também ser capaz
de explorar a tridimensionalidade do cenário, destacando suas formas, contornos e
demais elementos. Ser capaz de criar diferentes atmosferas e respostas emocionais
(visualidade) utilizando cores e intensidades diversas. Permitir a sensação de
diferentes horas do dia e da noite e também suas transições como amanhecer e
51
Com o advento da luz elétrica o seu controle e uso se tornou muito maior
quando comparado com as tecnologias anteriores, proporcionando uma nova forma
de linguagem através dela. Retomando ainda o emprego da luz na obra de
renomados pintores, estes não possuíam luz elétrica em seu tempo, mas mesmo ao
utilizarem as fontes de luz disponíveis quando criaram suas obras conseguiram
efeitos dramáticos impressionantes replicados até hoje no cinema e teatro. Esta
nova linguagem através da luz se dá pela variação dos ângulos com que ilumina
atores e cenário, como também pela variação de intensidade e cores. Quando estas
mesmas variações acontecem com mais de uma fonte luminosa as possibilidades
são incontáveis.
Graças a esta nova forma de iluminação novos movimentos teatrais surgem,
como o Naturalismo e o Simbolismo. O Simbolismo possuía propostas inovadoras,
sendo uma delas a iluminação na qual a . Para Roubine a luz elétrica traz outras
percepções da cena proporcionando uma transformação estética do espetáculo.
Vicenzia sobre o Simbolismo, de acordo com Vicenzia, (2006, p. 42), “[sic] a magia
da luz difusa – irreal – domina o espetáculo”. Já sobre o Naturalismo ela aponta:
Todo este jogo de luz e sombra descrito pela atriz em seu relato só é
possível pela variedade de ângulos e intensidades que a luz assume quando
trabalhada com uma sólida proposta estética. Segundo Perez (2002), para obter
estes e toda a gama de efeitos possíveis as luzes são posicionadas em varas de
iluminação na parte superior do palco ou estruturas posicionadas de maneira
semelhante. Os efeitos podem tanto reforçar a visualização do que é mostrado,
destacando os detalhes, como também pode ter a função de ocultar, jogando mais
sombras sobre a cena. Pereira cita:
54
3.3.1 Contraluz
Segundo Pereira:
Geram grandes sombras bem definidas ao fundo quando feitas com spots
de lentes. Cria um efeito teatral de fantasia, devido à sua própria condição
anti-natural. Gera impressões fantásticas, assombrosas e irrealistas. [sic]
Remete ao aconchego de uma fogueira ou lareira. (FIGUEIREDO; 2022,
não paginado).
56
Segundo Pereira:
Figueiredo (2022, não paginado), se refere a este tipo de luz como luz
cruzada e sobre ela diz, “Observar que desta forma o corpo ganha grande destaque,
bem como aumenta a revelação tridimensional. Uma forma bem comum para
iluminar um/uma solista de um show musical [sic]”.
57
Segundo Pereira:
3.4 CHIAROSCURO
Rembrandt explorou muito uma temática que ganhou maior força após o
tenebrismo ao representar cenas noturnas iluminadas por velas, muito popular nas
primeiras décadas do século XVII. Em toda a sua carreira oscilou entre diversos
estilos mas para o foco deste trabalho sua maior contribuição foi a do seu último
estilo adotado. O uso que fez da luz neste período seria mais tarde no cinema e é
até hoje muito utilizado no cinema. Ao iluminar o objeto por um lado e utilizar um
anteparo do outro, consegue uma variação da intensidade da luz que destaca a
figura ao mesmo tempo que a mantém imersa em uma sombra controlada. O traço
mais aparente da técnica talvez seja o aparecimento de um triângulo apontando
para baixo abaixo do olho que esta ao lado com menor iluminação. Este efeito é hoje
chamado de “luz de Rembrandt”.
63
Para ser qualificado como um projeto que trata a luz para a cena, dentro do
modelo mencionado, ele precisa apresentar um determinado conjunto de
documentos que registrem (grafem ou gravem), precisamente, todos os
procedimentos referentes à contribuição da luz para o espetáculo.
(TUDELLA; 2017, p. 31).
A iluminação tem papel importante ainda que o cenário seja constituído por
apenas planos de fundo bidimensionais pois deve iluminá-los de maneira apropriada
os revelando da melhor forma possível.
Os elementos mecânico-dinâmicos estão relacionados com as novas
tecnologias de representação gráfica. Com a evolução de softwares de
representação da luz esta nova forma de produzir e comunicar acaba por
complementar, sem nunca substituir, o desenho técnico. Por possuírem grande
complexidade os desenhos de movimentação cenográfica sempre requerem novas
formas complementares de representação e com a popularização de arquivos no
formato digital estes estão agora ainda mais perto do público em geral.
do efeito desejado em cena. Caso estas indicações estejam apenas nas planilhas de
refletores os técnicos teriam problemas em identificá-las, o que dificultaria a
montagem. Para facilitar este processo por parte dos técnicos, os filtros, acessórios
e gobos, modelo ou dispositivo que cria padrões usando luz, devem estar indicados
nos mapas.
Os filtros e gobos possuem nomes padronizados e números indicados em
catálogos, devendo ser indicados junto aos desenhos dos equipamentos. Caso
sejam utilizados softwares para representá-los estes possuem bibliotecas que
seguem os padrões dos manuais. “No caso de utilização de gobos, torna-se
necessário às vezes a inclusão do ângulo de inclinação do desenho de projeção.
Isso é importante na medida em que as possibilidades de desenho projetado em
cenários, atores, adereços, elementos de cena e fundos, influenciam sobremaneira o
sentido exato da projeção na psicologia da cena.” (PEREZ; 2002, p. 54).
4 ANÁLISE DE CORRELATOS
4.1 OTELO
No quarto ato as tochas e lareira estão acesas para indicar a noite e pela
primeira vez o palco gira revelando o “Quarto”. A luz incide pela janela indicando os
raios da luz da lua. Otelo procura por Desdêmona no “Quarto” que se defende das
acusações mas Otelo não se convence e acaba por assassiná-la. Emília revela a
trama de Iago a Otelo e este se suicida sobre o corpo de sua amada.
espetáculo busca gerar em quem assiste uma postura ativa, enxergando o teatro
como uma crítica, de uma forma didática e mais realista. (SOARES, 2010).
Na obra de Ana Soares a leitura de uma das peças de Piscator foi dividida
em três itens. O dispositivo cênico, onde são analisados os elementos utilizados em
cena como grandes estruturas do cenário, volumes e mobiliário geral, bem como o
ângulo de enquadramento e abordagem visual da cena. O simbolismo apresentado
na cenografia como a interpretação dos elementos físicos e volumétricos utilizados
na cena e seu alcance subjetivo dentro da construção da imagem e narrativa do
espetáculo. E os agentes e processos que tratam da metodologia de construção e
montagem do espetáculo, dos profissionais envolvidos e meios de produção
aplicados. (SOARES, 2010).
Sobre o autor cabe destacar que Erwin Piscator (1893-1966) foi um diretor
alemão que vivenciou as duas guerras mundiais. Foi através do seu trabalho que se
começou a desenvolver o conceito de um teatro didático. Segundo Soares (2010, p.
13), “Um teatro que fosse capaz de provocar o público e de o ‘ensinar’, mostrando-
lhe como o sistema económico e político exercia repressão sobre o indivíduo.” Suas
obras eram sempre retiradas da história atual. Para Soares (2010, p. 23), “O seu
teatro ficou por isso conhecido como ‘Zeittheater’ (teatro contemporâneo).”
5 DOM CASMURRO
Para a finalidade deste trabalho foi escolhida uma peça teatral adaptada do
livro com certo rigor cronológico e que preserva os acontecimentos mais marcantes
servindo ao propósito de ser uma marcação dos principais pontos a serem exibidos.
A peça intitulada “Dom Casmurro” foi exibida no teatro Coronel Raimundo em 2019.
Conta com direção de Rick Von Dentz e produção da Cia Realce, composta por Iraci
Batista e Marco Bueno.
Com cerca de uma hora e quinze minutos de duração, a peça narra a
trajetória de Bento iniciando nas disputas iniciais sobre sua ida ao seminário e seus
primeiros envolvimentos amorosos com Capitu. Narra também sua passagem pelo
seminário em que conhece Escobar e iniciam sua amizade. Bento abandona a vida
religiosa e se dedica ao direito e se casa com Capitu em 1865 enquanto Escobar se
casa com Sancha, amiga de Capitolina. Os ciúmes de Bento começam a se
manifestar em pequenos detalhes da vida cotidiana enquanto lamenta o fato de
ainda não ter tido um filho. Seu filho nasce e o batiza como Ezequiel em
homenagem a seu amigo Escobar. Suas desconfianças sobre a paternidade de seu
filho começam a surgir e são relacionadas às semelhanças com Escobar. A
proximidade de Escobar e Capitu acaba por aumentar os ciúmes de Bento. A morte
90
Seguindo a ordem dos capítulos do livro, e até mesmo citando seus títulos
quando a ação é representada, esta adaptação segue de forma cronológica os
acontecimentos, mantendo também trechos sem alterações da escrita. A obra conta
com dois atores no papel de Bento. Nas passagens referentes a sua infância Bento
é representado por César Cardadeiro, já na fase adulta e velhice Michel Melamed dá
vida ao personagem, sendo Michel também narrador está presente em quase todo o
espetáculo. Capitolina é representada por Letícia Persiles na infância e por maria
Fernanda Cândido nas fases posteriores. A obra conta ainda com Pierre Baitelli no
papel de Escobar e grandes nomes da teledramaturgia brasileira no elenco de apoio,
como Eliane Giardini no papel da mãe de Bento, Dona Glória.
Elenco:
[sic] sua equipe revestiu as paredes e colunas [sic] com camadas de papel
para dar a aparência de ruínas [sic]. Os tetos de cores neutras e
descascadas e os antigos espelhos manchados pelo tempo foram mantidos.
O chão do salão foi pintado de preto, como uma lousa das salas de aula das
escolas. O quintal e o muro que separa as casas dos dois vizinhos foram
desenhados no chão, em giz. Um recurso metafórico para mostrar que
Capitu é capaz de imaginar e sonhar seu próprio mundo. (MEMORIA
GLOBO; 2022, não p.).
transportadas pelos próprios atores. A obra também contava com reduzido número
de objetos de cena, sendo estes obtidos de antiquários ou mesmo produzidos pela
equipe de direção de arte. “As camas de Dona Glória e Bentinho, assim como várias
cortinas e o trem que leva Bentinho ao seminário foram feitos de jornal, uma forma
de homenagear o romancista Machado de Assis e o próprio ato de escrever.”
(MEMORIA GLOBO; 2022, não p.). O mar bravio representado na cena em que
Escobar acaba afogado foi realizado pelos atores que agitavam um enorme plástico
azul. A rua era mostrada na obra coberta por uma sobreposição de cartazes com
rasgos e colagens criando um painel com várias faces.
O prédio em ruínas foi apontado pelo diretor como o lugar perfeito para
contar a história de um homem em ruínas, que não consegue resgatar o
que perdeu. Bentinho se transforma em um prisioneiro patológico de sua
própria imaginação e memória, um “doente imaginário”, como frisou Luiz
Fernando Carvalho, parafraseando Molière. (MEMORIA GLOBO; 2022, não
paginado).
CENA 1
Dia. Casa da rua de Mata-cavalos. Interna (sala principal) passando para externa
(varanda e quintal)
PERSONAGENS
Dona Glória, José Dias, Tio Cosme, Prima Justina, Bentinho e Capitu
AÇÃO
Dona Glória, José Dias, Tio Cosme e Prima Justina estão na sala enquanto Bentinho
espia toda a conversa. É a cena que apresenta todos estes personagens do núcleo
familiar de Bento
José Dias lembra D. Glória de sua promessa de mandar Bentinho para o seminário e
insinua que o envolvimento de Bento com Capitu pode vir a ser um empecilho para
que a promessa se concretize. Ao comunicar esta ideia dispara uma resposta em
todos os personagens presentes. Dona Glória reage dizendo não ver mal algum, Tio
Cosme tenta se esquivar mas demonstra concordar que isto pode vir a ser um
problema. Prima Justina quando questionada evita emitir qualquer julgamento. Dona
Glória enfim rompe em lágrimas e é amparada pelos demais personagens enquanto
Bento movido pela revelação escapa para a varanda junto ao quintal onde encontra
Capitu.
99
PROPOSTA
O “recheio” destas paredes pode ser preenchido com flocos de algodão para
representarem a doçura desta fase do personagem fazendo uma referência ao
algodão doce. Caso se use o algodão branco este reagirá diretamente a luz usada,
mas caso se opte pela cor tons leves e pastéis devem ser empregados, como o rosa
e amarelo. Nesta etapa da vida de Bentinho as cores que iluminam os atores e
cenários devem ser claras e leves representando a infância e sua candura.
CENA 2
Noite. Casa da época de casados na Praia da Glória. Externa (sala com janela e
varanda voltada para a praia)
PERSONAGENS
Bento e Capitu
AÇÃO
Bento fala a Capitu sobre as estrelas e planetas mas ela esta distraída em seus
pensamentos não dando muita atenção às lições de seu marido. O protagonista já
começa a dar sinais de desequilíbrio tendo um certo ciúme do mar que distrai
Capitu. Esta acaba revelando que sua distração se deve a cálculos ligados a somas
de dinheiro e entrega a Bento dez libras esterlinas. Revela também que Escobar foi
seu fiador e esteve com ela na casa momentos antes sem o conhecimento de seu
103
marido. Bento não se fica enciumado com a visita inesperada de Escobar e pede
que Capitu guarde o dinheiro.
PROPOSTA
O “recheio” das paredes nesta etapa são inspirados nos trabalhos da artista
plástica Adriana Varejão. Seus trabalhos fazem uso de preenchimentos viscerais
realistas em paredes e estruturas. Estes indicariam o estado mental do protagonista
que “pensa com o fígado” e tem reações agressivas e dramáticas nesta fase do
romance. Os azulejos portugueses citados anteriormente começam a se desordenar,
podendo até mesmo se mover durante as cenas no caso do uso de projeções sendo
disparados por diálogos ou palavras-chave.
104
Outro elemento que pode ser introduzido aqui é a inclinação das superfícies.
Mesmo que de forma sutil ao inclinarmos o piso ou uma das paredes o observador
mais atento percebe que algo não está correto nas memórias de Bento
105
CENA 3
Escuro/Sombras. Casa do Engenho Novo. Interna (Porão)
PERSONAGENS
Bento
AÇÃO
Na porção final do livro o protagonista profere alguns monólogos e este cenário final
pode servir a vários deles. Pegando em especial o capítulo 144 “Uma Pergunta
Tardia”, no qual Bento explica os motivos pelos quais ao invés de preservar a casa
antiga decidiu construir uma nova é possível explicar seus símbolos e mensagens.
Nesta passagem ele afirma ter feito uma visita a casa de Mata-cavalos mas relata
que não conseguia se identificar com a casa por mais que a inspecionasse. Acabou
optando por tentar reconstruir na ânsia de criar laços com o passado.
PROPOSTA
Lotação
Plateia: 1.135
Cadeirantes: 15
Primeiro Balcão: 539
Segundo Balcão: 478
Total: 2.167 lugares
Palco
Profundidade: 19,00m (da cortina de boca até o ciclorama)
Largura: 54,00m (de parede a parede)
Urdimento: 23,50m de altura
Proscênio: 20,00m x 6,30 x 11,00m de altura no ponto médio
Acesso ao Palco
Acesso por rampa, com porta nas dimensões de 4,00m x 3,20m
Sistema de varas
40 varas contrapesadas manuais, sendo:
33 varas de cenário, 8 varas de luz, 3 varas mecanizadas (guincho), 1 passarela de
luz sobre o proscênio e 1 sacada de iluminação sobre a plateia.
Camarins
6 camarins, com capacidade aproximada de 40 pessoas.
113
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
APPIA, Adolphe. Oeuvres completes: tome II. Paris: L’Age d’Homme, 1986.
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Rio de Janeiro: Ed. Garnier, 1899.
BAEZA, Alberto Campo. La idea construida. Madri, Espanha: Ed. COAM, 1996.
BRANDÃO, Juanito. Teatro grego origem e evolução. Rio de Janeiro: Ed. Ars
Poetica, 1992.
DEL NERO, Cyro. Cenografia, uma breve visita. São Paulo: Claridade, 2008.
LANDAU, David & PARSHALL, Peter. The Renaissance Print. New Haven, London:
Yale University Press, 1996.
SCOTT, Robert Gillam. Fundamentos del diseño. Buenos Aires: Editorial Victor
Lerú, 1970.
FONTES DE FIGURAS
BLADE RUNNER. Direção: (Ridley Scott). EUA, Hong Kong: The Ladd Company,
Warner Bros., Shaw Brothers, Blade Runner Partnership: Warner Bros., 1982. 1
Filme (117 min), sonoro, legenda, color, 16 mm.
DEL NERO, Cyro. Cenografia, uma breve visita. São Paulo: Claridade, 2008.