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Nobre | 2024/1
Investigação de suicídio
• Perguntas escalonadas: você tem tido pensamentos ruins? Costuma pensar
em morte? Já pensou em se machucar? Já se machucou? Já pensou em
suicídio? Já teve alguma intenção ou planejamento de suicídio? Já tentou se
matar?
o É interessante começar com perguntas mais amplas e menos específicas
para fazer um pente fino e não perder a informação em pacientes “não
tão suicidas” – isto é, identificar comportamentos parassuicidas ou
ideações mais leves
o Prestar atenção quando relatada vontade de dormir e não acordar mais,
de fugir de tudo, de sumir, ser esquecido, etc. Pensamentos assim
também podem ser classificados como alguma forma menos madura de
ideação suicida
o Não é necessário perguntar tudo isso a todos pacientes; naturalmente,
um paciente que negou ter pensamentos de morte não vai falar que já
tentou se matar, etc.; vá até onde o paciente permitir – se muita
resistência, talvez seja melhor abordar em segundo momento.
• Sempre investigar a letalidade das tentativas/planejamentos (método, quão
longe chegou, se havia chance de ser encontrado, preparações para morte,
etc.)
o OBS: normalmente, são fatores opostos (ex: paciente que está muito
focado na conversa não vai prestar atenção aos seus arredores e vice-
versa); no entanto, não é regra (ex: paciente está desatento a tudo,
conversa e arredores, principalmente quando com declínio de
consciência)
• Humor: experiência subjetiva do paciente frente às suas sensações – melhor usar
as palavras do paciente; difere do afeto por ser duradouro e contínuo
o Triste, irritado, extasiado, ansioso, eufórico, culpado, etc.
o Avaliar modulação (humor modulado é o normal, isto é, a pessoa é capaz
de transitar pelas emoções de forma saudável)
▪ Hipomodulado: certa restrição do humor que costuma ser vista
junta ao embotamento afetivo
▪ Hipermodulado: humor intenso, expansivo ou possivelmente
flutuante; “emoções à flor da pele”
• Afeto: representa a percepção do médico frente ao paciente e ao que ele
expressa no momento da consulta; refere-se a um sentimento atual e mais
efêmero que o humor
o Avalia-se qualidade, quantidade, variação, adequação e congruência
o Qualidade: disfórico, irritável, feliz, eutímico, choroso, embotado
o Quantidade: intensidade dos sentimentos
o Variação: se há oscilação ou flutuação do afeto
o Adequação: se os sentimentos expressos estão de acordo com o
ambiente e ocasião (postura em ambiente hospitalar pode ser diferente
de postura ambulatorial, etc.)
o Congruência: se os sentimentos expressos estão de acordo com o
humor/pensamento do paciente (ex: rindo ao falar de uma morte)
• Memória: avalia-se memória de trabalho, recente e de longo prazo
o Se todas estão adequadas, diz-se: memória preservada globalmente; se
alguma alteração, é importante averiguar quais memórias estão afetadas
• Sensopercepção: inclui alterações da percepção de realidade; cuidar para não
confundir com alterações do conteúdo do pensamento; sempre avaliar
frequência, gatilhos e desconforto causado pelas alterações
(egodistônicas/egossintônicas)
o Alucinações: percepções na ausência de estímulos (auditivas são as mais
frequentes; visuais, táteis e gustativas mais incomuns); sempre bom
avaliar se o paciente recebe comandos e se reconhece as vozes/figuras
o Ilusões: percepção errônea de estímulos (ex: o barulho de vento na janela
é interpretado como seu nome sendo chamado)
o Despersonalização: sensação de sentir-se estranho a si mesmo ou de que
algo mudou, mas não sabe dizer o que
o Desrealização: sensação do ambiente ter mudado ou ser subitamente
estranho de maneira difícil de descrever
• Pensamento: julga-se o conteúdo e processo do pensamento
Emanuel B. Nobre | 2024/1