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Dpcii- Questões- Exames - ANA Camacho- 2020 2021

Direito processual civil II (Universidade de Coimbra)

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REUNIDO POR ANA CAMACHO D.P.C II 2020/2021

EXAMES RESOLVIDOS ANOS ANTERIORES

Exame 25 de maio 2019 – CITAÇÃO EDITAL; FASE INTERMÉDIA; DESPACHO SANEADOR; INTERVENÇÃO PROVOCADO POR
TERCEIROS

I (12 valores)

Em janeiro de 2017, António celebrou com Berta e Carlos, casados entre si, um contrato promessa de compra e venda
de um terreno para construção. Berta e Carlos prestaram o corresponde sinal.

No entanto, até janeiro de 2020, não marcaram data para a escritura, nem mostraram vontade de o fazer. Aliás,
António nunca mais teve notícias do casal nem do seu parceiro.

Entretanto, António recebeu uma proposta mais vantajosa de compra do referido terreno por parte de Dário. Assim,
intentou contra Carlos uma ação de resolução do contrato de compra e venda com fundamento na perda de interesse
do cumprimento (artigo 808º do Código Civil)

Responda às seguintes questões de forma fundamentada e clara:

1. Qual a modalidade da citação que devia ser utilizada? Qual o prazo para contestar? (4 val.)

• CITAÇÃO-MODALIDADES

Primeiramente, note-se que o ato de citação é uma notificação por excelência pois é através do ato da citação que
o réu tem conhecimento de que lhe foi movida uma causa. Para além disso, fica notificado nesse ato de que a partir
daí começa a correr o prazo de defesa. Acrescente-se que a citação também se utiliza para chamar terceiros a intervir
num processo pendente.

Há duas modalidades da citação no âmbito de pessoas singulares

MODALIDADE CITAÇÃO EDITAL- REU AUSENTE ;

Se o citando for uma pessoa singular, a citação edital tem lugar quando o citando se encontre ausente em parte incerta ou
quando sejam incertas as pessoas a citar (cf. artigo 225.º, n.ºs 1 e 6)

• No caso sub judice a modalidade adequada é a modalidade da citação edital. Ora, aplica-se a citação
edital quando o réu está ausente em parte incerto ou são incertos os réus a citar (artigo 225º/1 e 2 e
artigo 236º). Vejamos que, nos termos do enunciado, António “nunca mais teve notícias do casal nem do
seu paradeiro”.

AFIXAÇÃO EDITAL- PUBLICITADA- PORTA ULTIMA RESIDÊNCIA RÉU TEVE NO PAÍS+ PÁGINA INFORMÁTICA
ACESSO AO PÚBLICO

• Quando a citação é edital, nos termos do artigo 240º e 243º a propositura da causa é publicitada através
da afixação de um edital (na porta da casa da última residência que o réu teve no país) e em seguida da
publicação de um anúncio em página informática de acesso ao público.

CONTEÚDO DO EDITAL- 241- ESPECIFICA AÇÃO PARA QUE O AUSENTE É CITADO , AUTOR E PEDIDO DA
PETIÇÃO INICIAL, TRIBUNAL, PRAZO DEFESA, DILAÇÃO E COMINAÇÃO

• Para sabermos o conteúdo do edital importa recorrer ao artigo 241º, o qual nos esclarece relativamente
às especificações do edital.

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PRAZO DILATÓRIO E PRAZO PERENTÓRIO

• Assim, o edital especifica a ação para que o ausente é citado, o autor e o pedido que este formulou na
petição (alínea a); o tribunal onde corre o processo (alínea b); o prazo para a defesa, a dilação e a
cominação, explicando que o prazo para a defesa só começa a correr de finda a dilação e que esta se
conta da data da publicação do anúncio (alínea c), assim como a data da afixação do edital).

• Relativamente ao prazo para contestar é fundamental ter em conta que quando o réu é citado
editalmente há uma dilação de 30 dias ( 245/3 CPC) Tal significa que só decorrido esse prazo dilatório é
que começar a contar o prazo para contestar, que é um prazo perentório (artigo 569º).

Em suma, a modalidade adequada para a citação do réu é a citação edital e, quando assim o é, a lei prevê uma
dilação de 30 dias, pelo que o prazo perentório para contestar só começa a ser contado depois de ter decorrido
o prazo dilatório (artigos 139º/1 a 3; 242º/2 e 245º/3).

Acrescente-se ainda que o recurso á citação edital mostra-se desvantajoso para o autor dado que o prazo
dilatório retarda o início da contagem do prazo para contestar (o prazo perentório).

Então, o autor tem todo o interesse em que o réu não esteja ausente em parte incerta.

AUTOR DEVE REQUERER PETIÇÃO INICIAL A CITAÇÃO URGENTE

Quando o autor saiba que é iminente a ausência do réu em parte incerta, deve requerer na petição inicial a
citação urgente- 552/ 9 + 561.

2. Na fase subsequente aos articulados o juiz convidou o autor a provocar a intervenção do cônjuge do réu,
pois entendeu que se verificava a preterição de litisconsórcio necessário passivo. Que despacho proferiu? Qual é a
modalidade da intervenção de terceiros adequada? (4 val.)

• FASE INTERMÉDIA- LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO PASSIVO- DESPACHO – MODALIDADE INTERVENÇÃO


TERCEIRO
• MODIFICAÇÃO SUBJETIVA

Estamos na fase subsequente aos articulados, isto é, na fase intermédia (antigamente denominada fase do
saneamento e condensação).

O juiz, em regra, só tem acesso aos autos nesta fase, ou seja, finda a fase dos articulados. Este é um momento crucial
para delinear e preparar as fases seguintes (audiência final e sentença). Esta fase intermédia está regulada a partir
do nº2 do artigo 590º visto que o nº1 do mesmo preceito trata daqueles casos em que há intervenção liminar do
juiz.

O juiz á luz da gestão processual (artigo 6ºnº2) deve proferir o despacho pré saneador. Desde logo, este despacho
pré-saneador serve para o juiz regularizar a instância, sendo este um momento crucial para o juiz averiguar se a
instância está regularmente constituída (se estão verificados todos os pressupostos processuais).

• DESPACHO PRÉ-SANEADOR ( REMISSÃO 595 )


• DESPACHO PRÉ-SANEADOR para suprir a falta pressupostos processuais- 592-A

Ora, este despacho pré-saneador destina-se a suprir/sanar falta de pressupostos processuais, isto é, tem de estar
em causa vícios processuais suscetíveis de sanação.

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• EXEÇÃO DILATÓRIA- LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO ( EXEÇÃO DILATÓRIA )

No nosso caso, o juiz entendeu que se verificava a preterição de litisconsórcio necessário passivo, ou seja, estamos
perante uma exceção dilatória de ilegitimidade plural suscetível de ser sanada (artigo 577º/e) e de ser conhecida
oficiosamente pelo juiz (artigo 578º).

Note-se que, sendo uma exceção dilatória, caso o vício não seja sanado o juiz deve absolver o réu da instância e não
pode pronunciar-se sobre o mérito da causa.

• INTERVENÇÃO PROVOCADA- TERCEIROS PROVOCADA

Assim, o juiz deve convidar Carlos a sanar o vício, tendo este a prerrogativa de provocar a intervenção principal de
Berta para que esta possa assumir o estatuto de parte principal (artigo 316ºnº1). Ora, nos termos do artigo 564º e
do artigo 260º, um dos efeitos principais da citação é a relativa estabilidade da instância.

• MODIFCAÇÕES SUBJETIVAS E OBJETIVAS -causa de pedir

Tal significa que a partir do ato da citação só nos casos consignados na lei é que é possível ocorrerem modificações
subjetivas (quando aos sujeitos) e modificações objetivas (quanto á causa de pedir e ao pedido).

Nos termos do artigo 262º alínea b), a instância pode modificar-se quanto às pessoas em virtude dos incidentes da
intervenção de terceiros.

A nossa lei admite a intervenção principal (espontânea e provocada) e a intervenção acessória. No nosso caso, visto
que se deu uma preterição de litisconsórcio necessário, o cônjuge preterido deve ser chamado a intervir para
regularizar a instância.

A intervenção principal provocada pode verificar-se em todas as hipóteses previstas no artigo 316º, sendo que a
situação plasmada no nosso caso encontra solução no nº1 do preceito. Assim, nesta situação, admite-se uma
modificação subjetiva da instância, o que configura um desvio ao princípio da relativa estabilidade da instância e
Carlos deve provocar a intervenção de Berta que irá assumir o estatuto de parte principal.

3. António pretende igualmente que seja judicialmente declarada a perda do sinal prestado por Berta e Carlos, mas
nada disso sobre isso na petição inicial. Poderá fazê-lo em momento posterior? (4 val.)

• PRINCIPIO ESTABILIDADE INSTÂNCIA- impede alteração da causa de pedir e pedido- MODIFICAÇÕES


OBJETIVAS

O princípio da estabilidade da instância impede a alteração da causa de pedir e do pedido de forma livre (assim como
a alteração dos sujeitos, ponto supra mencionado na questão 2). Note-se que tanto a causa de pedir como pedido
devem constar da petição inicial (artigo 552º/d/e), sob pena da petição ser inepta.

No nosso caso, o António na petição inicial indicou quer a causa de pedir, quer o pedido. O pedido é uma forma de
tutela jurisdicional pretendida pelo autor, e neste caso António pediu a resolução do contrato. Por sua vez, António
indicou também a causa de pedir, isto é, os factos concretos de onde deriva a sua pretensão (perda de interesse no
cumprimento).

Acrescente-se que o pedido tem que ser uma decorrência da causa de pedir. Ora, António pretende que seja
declarada a perda do sinal prestado por Berta e Carlos, mas não o disse na petição inicial, tal significa que António
pretende ampliar o seu pedido.

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• MODIFICAÇÃO OBJETIVA- SEM ACORDO DAS PARTES

Então, temos de analisar se esta modificação objetiva é permitida na nossa lei pois a partir do ato da citação só nos
casos consignados na lei é que é possível ocorrerem modificações objetivas (modificações da causa de pedir e do
pedido). O artigo 264º aborda a questão da alteração objetiva da causa quando há acordo entre o réu e o autor,
porém, não nos parece que haja acordo entre António, Berta e Carlos.

• ENCERRAMENTO DA DISCUSSÃO EM PRIMEIRA INSTÂNCIA À AUDIÊNCIA FINAL

Como tal, a situação subsumia-se ao nº2 do artigo 265º. Nos termos do nº2 do artigo 265º a ampliação do pedido
pode ser feita até ao encerramento da discussão em primeira instância, designadamente até á audiência final.

• AMPLIAÇÃO PEDIDO- CONSEQUÊNCIA DO PEDIDO INICIAL OU DESENVOLVIMENTO PEDIDO PRIMITIVO

O mesmo número impõe ainda que a ampliação do pedido seja uma consequência do pedido inicial ou o
desenvolvimento do pedido primitivo.

No caso em apreço estão preenchidas estas exigências pois a declaração da perda do sinal é uma consequência da
pretensão de resolução do contrato promessa, sendo admitida a sua formulação até ao encerramento da discussão
na audiência final.

II (8 valores) – AÇÃO DECLARATIVA ,MEIOS DE PROVA, RÉPLICA

Manuel é proprietário de um prédio rústico e pretende vende-̂ lo.

Contudo, Zulmira tem difundido, perante terceiros, que o bem está onerado com uma servidão, facto que desvaloriza
o bem.

Perante tal conduta, Manuel intentou contra Zulmira uma ação destinada a declarar a inexistência de uma servidão
de passagem a onerar o prédio rústico ( ação declarativa- 10º)

Na contestação, Zulmira sustentou que a servidão foi constituída por usucapião, sendo permanentes e visíveis os
sinais da sua existência (artigos 1547.o e 1548.o do Código Civil). Ambas as partes requereram apenas a produção de
prova testemunhal e por depoimento de parte ( meios de prova ).

Responda às seguintes questões de forma fundamentada e clara:

1.Será admissível réplica? (4 val.)

• RÉPLICA – 584 E 585

A réplica é o articulado através do qual o autor responde á contestação do réu.

• ADMISSÃO DA RÉPLICA- CASOS ADMITIDOS ( 584 )

A réplica não é livre, só sendo admitida em determinados casos. Tal significa que o nosso legislador quis restringir a
admissibilidade da réplica.

Ora, a réplica só se admite nos processos em que o réu tiver formulado um pedido reconvencional ou se ação for de
simples apreciação negativa.

• SIMPLES APRECIAÇÃO NEGATIVA- ADMITIDO

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Vejamos. Manuel intentou uma ação destinada a declarar a inexistência de uma servidão de passagem, portanto
estamos perante uma ação de simples apreciação negativa (artigo 10º) pois o autor solicitou ao tribunal que
declarasse a inexistência de um direito real limitado (servidão de passagem).

• FACTOS ESSENCIAIS DEMONSTREM INEXISTÊNCIA DO DIREITO

Assim, na ação de simples apreciação negativa, na petição inicial, o autor deve alegar os factos essenciais que
demonstrem a inexistência do direito.

• CONTESTAÇÃO- EXISTE

Por sua vez, o réu na contestação desta ação vai dizer que o direito existe e por isso se existe vai alegar factos
constitutivos do direito que se arroga.

• CONTESTAÇÃO À CONTESTAÇÃO

Logo, a réplica irá funcionar como se fosse uma contestação: em regra, quem alega factos constitutivos (noutras
ações) são os autores na petição inicial, aqui a regra está invertida.

Ora, o autor na réplica vai impugnar esses factos constitutivos alegados pelo réu e alegar outros factos de inexistência
do direito. Se o autor apresentar réplica nestas circunstâncias nada obsta a que ele aproveite para responder a
determinadas execções invocadas pelo réu.

• NÃO ADMITIDA RÉPLICA- RÉU RESPONDE NA AUDIÊNCIA PRÉVIA

Note-se que, no caso da réplica não ser admitida porque não se verifica nenhuma das circunstâncias previstas no
artigo 584º, em nome do princípio do contraditório o autor pode responder às exceções alegadas pelo réu na
audiência prévia ou se esta não ocorrer na audiência final. Porém, os nossos tribunais têm sido muito flexíveis e ao
abrigo da gestão processual e da adequação processual têm frequentemente admitido um terceiro articulado
inominado para responder às exceções.

Concluindo, na contestação Zulmira invocou factos constitutivos da aquisição originária (usucapião) da servidão.
Logo, a réplica irá funcionar como se fosse uma contestação, impugnando e contradizendo os factos constitutivos da
usucapião. A lei permite que Manuel aproveite a réplica para responder a determinadas exceções alegadas pelo réu..

• PRAZO PARA APRESENTAR RÉPLICA- 30 DIAS- 585

Nos termos do artigo 585º o prazo para apresentar a réplica é de 30 dias, equivalente ao prazo que o réu tem para
contestar os factos constantes da petição inicial

• CONSEQUÊNCIAS RÉPLICA ADMITIDA E NÃO APRESENTADA

Acrescente-se ainda que sendo a réplica admitida, caso não seja apresentada há consequências para o autor. Assim,
sobre o autor recai o ónus de impugnar os factos essenciais que integram as exceções, isto é, o autor deve tomar
uma posição definida perante os factos nossos apresentados pelo réu. Tal significa que, em consonância com o nº1
do artigo 587º que nos remete para o artigo 574º, se o autor não cumprir o ónus de impugnar esses factos novos
essenciais trazidos pelo réu, consideram-se tais factos admitidos por acordo, isto é assentes ou não controvertidos.

Há, no entanto, hipóteses em que o autor está desonerado desse ónus de impugnação (artigo 572º; 587º/2): sobre
o autor só recai o ónus de impugnar na réplica os novos factos essenciais alegados pelo réu se o réu tiver
individualizado as exceções.

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2. Pressuponha que o juiz entende que a prova requerida pelas partes é insuficiente. Se fosse juiz, a que meio de prova
recorria para se esclarecer sobre a existência de sinais visíveis da servidão? Podia faze-̂ lo oficiosamente?
(4 val.)

• MEIOS DE PROVA E PRINCIPIOS PROBATÓRIOS- VER

A atividade probatória começa, desde logo, pelos meios de prova que cada uma das partes deve indiciar nos seus
articulados – na petição inicial o autor deve apresentar os meios de prova de que se quer fazer valer (requerimento
probatório) e na contestação o réu idem. Na fase intermédia as partes podem alterar os seus requerimentos
probatórios para os adequar ás necessidades probatórias que resultam do despacho que fixa os termas de prova. Já
o juiz, pode determinar, a todos o tempo, isto é, até ser encerrada definitivamente a audiência final (artigo 607ºnº1)
a realização da prova sempre que esta se afigure importante para o apuramento da realidade dos factos. Quando o
juiz considera que há um determinado facto controvertido que carece de prova ele pode ex officio ordenar prova
sempre que a considere pertinente para o apuramento da verdade. Este princípio do contraditório está consagrado
no artigo 411º e é um poder-dever do juiz que está concretizado ao longo do CPC. Desta forma, se fosse juiz, ao
abrigo do princípio do inquisitório, iria optar pela prova por inspeção judicial (artigo 390º e 391º do CC, e artigos
490º a 493º do CPC) ou a verificação não judicial qualificada.
A prova por inspeção judicial é a prova direta por excelência e um meio privilegiado de formação da convicção do
juiz pois, ele próprio, vai inspecionar coisas, lugares ou pessoas. O juiz, ao abrigo do princípio do contraditório tem
que se fazer acompanhar dos advogados das partes para que estas possam assistir a sua inspeção.
Em 2013 o nosso legislador considerou que nem sempre fazer o juiz sair do tribunal era benéfico para o bom
funcionamento da justiça. Então, resolver prever um novo meio de prova: verificações não judiciais qualificados
(artigo 494º). Neste novo meio de prova, o juiz em vez de ele próprio realizar a inspeção judicial, delega num terceiro
essa atividade de inspeção. O juiz não pode recorrer a este meio de prova sempre que seja legalmente admissível a
inspeção judicial. Ora, só é admissível o recurso a este meio de prova quando estejam em causa matérias facilmente
apreensíveis e que não envolvam grande complexidade. Tal significa que o juiz deve ter em conta a natureza da
matéria sujeita a perceção e delegar num técnico ou numa pessoa qualificada a inspeção (de coisas ou lugares)
somente quando as constatações a retirar sejam de fácil apreensão. Do recurso a este meio de prova irá resultar um
relatório, elaborado pelo terceiro no qual o juiz delegou a função de inspeção. Este relatório deve ser apreciado á luz
do princípio da livre apreciação (salvo se as atestações constarem de documento emanado de autoridade pública).

1 junho de 2020 I (8 val.)

Bernardo intentou contra Carlos uma ação declarativa em que alegou que era legítimo proprietário de um prédio
rústico que dispõe de um poço, cuja nascente — também situada no seu prédio — tem um forte caudal de água. O
Autor invocou que sempre utilizou essa água na sua atividade agrícola até Carlos ter criado uma canalização
subterrânea que desviou a água para um prédio contiguo (do qual Carlos é proprietário). A partir de tal momento foi
impossível ao Autor continuar a sua atividade agrícola.

No pedido, o Autor requereu que o tribunal condenasse Carlos a repor a situação material tal como ela se encontrava
antes da violação do direito de propriedade bem como no pagamento de €20.000, a título de ressarcimento pelos
danos causados na sua atividade agrícola devido à falta de água para rega.

Responda às seguintes questões de forma fundamentada e clara:

1.Na contestação, o Réu afirmou que não desviou a água do poço, assinalando que o menor caudal de água foi
causado pela fraca pluviosidade. Sustentou ainda que não havia qualquer interesse em agir judicialmente. Qualifique
a defesa por este utilizada. (4 val.)

• CONTESTAÇÃO ( 572 )
• MODALIDADES CONTESTAÇÃO – DEFESA IMPUGNAÇÃO E DEFESA EXEÇÃO

Há duas grandes modalidades de defesa que podem integrar uma contestação: defesa por impugnação e defesa por
exceção (artigo 571º). Na contestação deve concentrar-se em regra toda a defesa do réu, não podendo este misturar
as defesas.

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• DEFESA POR IMPUGNAÇÃO


• IMPUGNAÇÃO FACTO ( 572 / 2-1 º PARTE ) E DIREITO

Impugnar significa contrariar o que o autor disse, isto é, o réu toma uma posição definida perante os factos que o
autor alegou na petição inicial. Na defesa por impugnação podemo-nos deparar perante uma impugnação de facto
ou uma impugnação de direito. Tal significa que o réu ataca a realidade dos factos alegados pelo autor ou o efeito
jurídico que este pretende retirar daqueles.

• IMPUGNAÇÃO DE FACTO- DIRETA E INDIRETA- FRONTALMENTE

Ora, na impugnação de facto podemos ter uma negação direta dos factos e uma impugnação indireta/motivada.
Vejamos, na primeira parte da contestação o Réu afirmou que não desviou a água do poço. Assim, na primeira parte
o Réu contradiz frontalmente os factos alegados pelo autor.

• IMPUGNAÇÃO DE FACTO- INDIRETA- NEGAÇÃO

Quando o réu assinala que o menor caudal foi causado pela fraca pluviosidade está a admitir alguns dos factos
(diminuição do caudal) mas dálhes um diferente enquadramento factual. Então, o réu diverge da perspetiva factual
dos factos conferida pelo autor na petição inicial e conta uma nova versão.

Tal significa que o réu não se limitou a negar, de forma frontal e direta os factos, pois motivou e justificou a
impugnação mediante a alegação de facto de ter chovido pouco, trazendo novos factos.

• DEFESA POR EXEÇÃO - EXEÇÃO DILATÓRIA- RÉU NÃO QUIS INTERESSE JUDICIALMENTE- FALTA INTERESSE

O réu alegou ainda que não havia qualquer interesse em agir judicialmente. Tal vício consubstancia uma exceção
dilatória inominada pois não consta do artigo 577º (note-se, portanto, que este artigo não é exaustivo).

Note-se ainda que uma vez verificada a falta de interesse em agir deve absolver-se o réu da instância (artigo 571º
nº2 e 576º nº2) e, portanto, o réu invoca um vício que obsta á apreciação do mérito da causa.

• RÉU RECAI ONÚS PRONUNCIAR FACTOS QUE INTEGRAM CAUSA DE PEDIR PELO AUTOR
• CASO RÉU NÃO IMPUGNE= ASSENTES = NÃO NECESSÁRIOS MEIOS DE PROVA
o EXEÇÃO DOS RÉUS DO 574-4 – NÃO TEM QUE IMPUGNAR

Acrescente-se ainda que, nos termos do artigo 574º, sobre o réu recai o ónus de se pronunciar sobre os factos que
integram a causa de pedir alegada pelo autor. Neste sentido, o réu deve tomar posição definida perante os factos
constantes da petição inicial (nº2). Assim, os factos não impugnados consideram-se admitidos por acordo, isto é,
assentes. Por sua vez, os factos impugnados consideram-se controvertidos (não assentes). Logo, se estes factos não
contestados ou não impugnados se consideram assentes, não será necessária a produção de meios de prova para
demonstrar a sua realidade, uma vez que já estão verificados.

Acrescente-se que há determinados sujeitos que têm o estatuto de réu mas estão desonerados do ónus de impugnar
(nº4 artigo 574º).

Note-se ainda que o ónus de impugnar recai também sobre o autor relativamente aos factos novos trazidos pelo réu.
Porém, para que recaia sobre o autor ónus de impugnar o réu deve individualizar as exceções que quer opor á
pretensão invocada pelo autor.

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2. Após ter apresentado a petição, na qual indicou o rol de testemunhas, o Autor apercebeu-se da necessidade de
aferir o caudal de água que emana da nascente, existente no seu prédio, para demonstrar o enorme volume de água
desviada. Que meio de prova deve requerer? Pode alterar o seu requerimento probatório? (4 val.)

• MEIOS DE PROVA- VER

A atividade probatória começa desde logo pelos meios de prova que cada uma das partes deve indicar nos seus
articulados. Assim, o autor requereu logo na petição inicial o rol de testemunhas. Porém, na fase intermédia o juiz
elabora o despacho que fixa os temas da prova e identifica o objeto do litigo (artigo 596º). Ora, através deste
despacho as partes têm a perceção da matéria sobre a qual ainda subiste controvérsia. Desta forma, se o autor se
aperceber que há determinados meios de prova que não foram indiciados nos seus requerimentos probatórios na
petição inicial, a lei permite que o autor altere o requerimento probatório para o adequar ás necessidades
probatórias que resultam do despacho que fixa os termas de prova. Assim, a lei permite que o autor altere o
requerimento probatório na audiência prévia (artigo 598ºnº1). Caso a audiência prévia não se realize o autor pode
requerer o aditamento do requerimento probatório nos termos do nº3 do artigo 593º. Assim, para o efeito da
veracidade da sua alegação Bernardo pode requerer a prova pericial. A prova pericial está regulados nos artigos 388º
e 389º do CC bem como nos artigos 467º a 489º do CPC. Ora, para demonstrar o volume de água desviada exige-se
um conhecimento especial, de cariz técnico, que o juiz não possui. Na prova pericial o perito aprecia ou valora factos
que exigem especiais conhecimentos (técnicos, científicos ou artísticos) que o juiz não possui. Vejamos então: o juiz
é o grande conhecedor de direito. Para o processo as partes trazem determinados factos e o juiz vai aplicar esse
direito aos factos trazidos pelas partes. Porém, sempre que a causa justifique certos conhecimentos técnicos,
científicos ou artísticos, o juiz ou as partes têm de requerer a prova pericial. Neste caso, foi o autor que requereu a
prova pericial. A perícia é, em regra, requerida a um estabelecimento, laboratório ou serviço oficial apropriado (artigo
467ºnº1), todavia, quando tal não seja possível ou conveniente, a perícia é feita por único perito nomeado pelo juiz
(ou mais do que um perito desde que verificados os pressupostos do artigo 468º). O relatório que resulta da perícia
deve ser apreciado livremente pelo tribunal (artigo 389º do CC). Note-se ainda que neste caso não se adequa o meio
de prova da inspeção judicial pois apesar deste meio de prova permitir ao juiz ter alguma perceção do caudal da
água, não permitiria uma aferição exata do volume de água que emanava o caudal.

II (12 valores)

Zulmira e Zebedeu são pais de Ester. Zulmira, no exercício das responsabilidades parentais, com o consentimento do
seu marido, celebrou com um colégio privado um contrato de prestação de serviços educativos em nome da sua filha
menor de idade, obrigando-se a pagar uma prestação mensal de €200.

No final do ano letivo, o colégio intentou uma ação declarativa contra Zulmira, enquanto representante legal de Ester,
alegando esta não tinha pago nenhuma mensalidade e requerendo a sua condenação no pagamento do valor anual
da mensalidade, acrescido de juros de mora.

Na contestação, Zulmira alegou que sempre tinha pago as mensalidades à funcionária da secretaria do colégio,
embora, estranhamente, nunca lhe tenham sido entregues os recibos correspondentes.

Responda às seguintes questões de forma fundamentada e clara:

1.Ao abrigo do nº 2 do artigo 16.º do código de Processo Civil, Zulmira alegou que o pai de Ester também devia ser
demandado, ocorrendo uma irregularidade na representação. Na fase subsequente aos articulados, que despacho
deve o juiz proferir? (4 val.)

• FASE INTERMÉRDIA- CONCEITO

Estamos na fase subsequente aos articulados, isto é, na fase intermédia (antigamente denominada fase de
saneamento e condensação).

O juiz, em regra, só tem acessos aos autos nesta fase, ou seja, finda a fase dos articulados. Este é um momento
crucial para delinear e preparar as fases seguintes (audiência final e sentença). Esta fase intermédia está regulada a
partir do nº2 do artigo 590º visto que o nº1 do mesmo preceito trata aqueles casos em que há intervenção liminar
do juiz.

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• DESPACHO PRÉ-SANEADOR E DESPACHO SANEADOR


• EXEÇÃO DILATÓRIA

O juiz á luz da gestão processual (artigo 6ºnº2) deve proferir o despacho pré-saneador. Desde logo, este despacho
pré-saneador serve para o juiz regularizar a instância, sendo este um momento crucial para o juiz averiguar se a
instância está regularmente constituída (se estão verificados todos os pressupostos processuais).

Ora, este despacho pré-saneador destina-se a suprir/sanar falta de pressupostos processuais, isto é, têm de estar
em causa vícios processuais suscetíveis de sanação.

Tal significa que, em regra, o juiz profere o despacho pré-saneador para ordenar o suprimento de exceções dilatórias.
Assim, caso o juiz verifique a existência de uma exceção dilatória insanável (que põe termo á causa) o juiz está,
obviamente, dispensado de proferir o despacho pré-saneador e deve proferir de imediato o despacho saneador
capaz de pôr termo á causa.

Não teria lógica ordenar a sanação de uma falta de pressuposto processual num despacho pré-saneador, sabendo
que existe uma exceção insanável que determina o fim da causa. Em síntese, o despacho pré-saneador é um
despacho que visa sanar os vícios do processo para que este prossiga sem vícios que, por sua vez, são suscetíveis de
sanação.

A Ré não pode estar por si só em juízo pois é destituída de capacidade judiciária (artigo 16ºnº1). Assim, o despacho
pré-saneador deve providenciar a sanação do vício processual da irregularidade da representação (promovendo a
citação do progenitor).

• REPRESENTADA AMBOS PROGENITORES

Este vício processual constitui uma exceção dilatória de conhecimento oficioso, nos termos dos artigos 577º alínea
c) e 578º. Ester deve estar representada por ambos os progenitores.

Note-se que, sendo uma exceção dilatória, caso o vício não seja sanado o juiz deve absolver o réu da instância e não
pode pronunciar-se sobre o mérito da causa.

Despacho pré-saneador destinado a sanar/suprir falta de pressupostos processuais (susceptíveis de sanação): artigo
590.º, n.º 2, alínea a), do CPC.

Nota importante: O momento adequado para providenciar a sanação da falta de pressupostos processuais (sanáveis)
é o despacho pré-saneador, “servindo” o despacho saneador para averiguar se as faltas ou irregularidades foram
efetivamente sanadas. Contudo, se, após a leitura do(s) articulado(s), o juiz “constatar”, em simultâneo, a existência
de duas exceções dilatórias, uma insanável e a outra sanável, deverá proferir um despacho saneador que determine
a absolvição do réu da instância com fundamento na exceção insanável (cf., porém, n.º 3 do artigo 278.º).

São insanáveis a incompetência absoluta, a ilegitimidade singular, a ineptidão da petição inicial


falta de personalidade judiciária e interesse processual

Quais são as exceções dilatórias insanáveis ? A exceção de incompetência absoluta (artigos 96.º e 97.º, n.º1), de
ilegitimidade singular (30.º), de falta de interesse processual (exceção dilatória inominada, ou não está tipificada no
artigo 577.º), do caso julgado e da litispendência (580º-581º), da ineptidão da petição inicial (cf., porém, n.º 3 do
artigo 186º e hipóteses de sanação supra explicitadas) e da falta de personalidade judiciária (salvo se a situação se
integrar no artigo 14.º). Ver também os artigo 577.º e 578.º.

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A alínea a) do nº1 do art. 595º apenas impõe o dever de conhecer no despacho saneador das exceções dilatórias e das nulidades
que hajam sido suscitadas pelas partes, bem como das que, face à matéria de facto processualmente adquirida, caiba apreciar
oficiosamente pelo tribunal.

O tribunal deve conhecer ex-officio de todas as exceções dilatórias, salvo as de: incompetência absoluta decorrente da violação
do pacto privativo de jurisdição (94º); preterição do tribunal arbitral voluntário; incompetência relativa nos casos não abrangidos
pelo art. 104º (art. 98º e 578º).
Ou seja, não terá lógica ordenar a sanação de uma falta de pressuposto processual num despacho pré-saneador, sabendo que
existe uma exceção insanável que determina o fim da causa.

2. Pressuponha que Zulmira pretende juntar aos autos uma carta que enviou ao colégio ( modificação objetiva ) (mas
da qual não tem qualquer cópia), sustentando que esta carta é importante para o processo, pois nela constava que
tinha procedido ao pagamento junto da funcionária da secretaria da escola e solicitava que lhe enviassem o recibo
da quantia paga. O colégio foi notificado para entregar a dita carta, mas recusou-se. O advogado da Ré ́ entende que,
perante tal conduta, o juiz deve inverter as regras do ónus da prova. Concorda com este entendimento?

• PRÍNCIPIO DA COOPERAÇÃO EM MATÉRIA DE PROVA

O nosso código consagra o princípio da cooperação em matéria de prova, isto é, as partes devem colaborar com o
tribunal para a descoberta da verdade. O artigo 417º consagra este princípio da cooperação em matéria de prova e
é a concretização do princípio basilar do nosso sistema presente no artigo 7º. O dever de colaboração para a
descoberta da verdade material impõe-se não só às partes como também a todos os terceiros. Ora, se temos um
dever de colaboração, se alguém viola este dever sofre determinadas consequências.

• RECUSA E CONSEQUÊNCIAS DO PRÍNCIPIO DE COOPERAÇÃO EM MATÉRIA DE PROVA


• MEIOS COERCITIVOS
• APRESENTAÇÃO DO DOCUMENTO
• MULTA
• MÁ FÉ = INDEMINIZAR
• INVERTE ÓNUS DA PROVA

Vejamos, o colégio ao recusar-se a entregar a dita carta está a desrespeitar o dever de cooperação imposto no artigo
417º. Nos termos do artigo 437º há a possibilidade de o tribunal utilizar meios coercitivos quando tal seja possível.
Estando em causa um documento (a carta) o tribunal pode ordenar a apreensão do documento que está em posse
do colégio (artigo 433º).

Não obstante os meios coercitivos que sejam possíveis, as partes que se recusem a colaborar são condenadas em
multa. Acrescente-se que a parte que não cumpre o dever de cooperação, com dolo ou negligência, é considerada
litigante de má fé e além da condenação ao pagamento de uma multa (artigo 417º n2º2) poderá ter de indemnizar
a parte contrária (artigo 542ºnº2/c).

Se não for exequível recorrer á utilização dos meios coercitivos (porque por exemplo a carta foi destruída) o juiz
deve apreciar livremente, para efeitos probatórios, o comportamento do recusante quando este seja parte.

Se o juiz considerar que a conduta censurável do colégio impossibilita ou torna muito difícil a prova do pagamento,
adotará sanções mais graves invertendo o ónus da prova.

Tal significa que será o colégio (parte não cooperante) a ter de provar que o pagamento não foi efetuado (em vez do
ónus da prova recair sobre os réus enquanto facto extintivo do direito de crédito).

Acrescente-se que há determinadas causas de inexigibilidade desse dever (artigo 417º/3).

Princípio da cooperação em matéria de prova (dever de colaboração para a descoberta da verdade material):
artigo 417.º.
O princípio da cooperação é um princípio basilar do nosso sistema (cf. artigo 7.º), concretizando-se, em matéria
de prova, no regime do artigo 417.º do CPC. Contudo, no campo probatório, o dever de cooperação não se restringe
apenas às partes, mas estende-se a terceiros

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As partes e terceiros que recusem colaborar são condenados em multa, sem prejuízo dos meios coercitivos que sejam
possíveis (cf., por exemplo, quanto à prova documental, artigos 433.º e 434.º e quanto à prova testemunhal, artigo 508.º, n.º
4). A parte que não cumpre o dever de cooperação, com dolo ou negligência grave, é considerada litigante de má fé além de
ser condenada em multa, pode indemnizar a parte contrária (artigo 542.º, n.º 2, alínea c).

2) Nos termos do n.º 2 do artigo 417.º, o juiz aprecia livremente, para efeitos probatórios, o comportamento do recusante
quando este seja parte. Naquelas hipóteses em que a recusa seja culposa e impossibilite (ou torne muito difícil) a prova do
facto, o juiz deve determinar uma inversão do ónus de prova, incumbindo à parte não cooperante o ónus de provar o facto
contrário (cf. n.º 2 do artigo 344.º do CC). (Cf. Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 2016,

3. Na sentença final, o juiz conheceu oficiosamente da prescrição da dívida, apesar de esta não ter sido alegada na
contestação. Qual é o vício da sentença? Explique (4 val.)

• EXEÇÕES PERENTÓRIAS = FACTOS RELATIVOS MÉRITO


• EFEITOS IMPEDITIVO, EXTINTITIVO DO CRÉDITO INDEMINIZATÓRIO

As exceções perentórias traduzem-se na alegação de factos relativos ao mérito que tem um efeito impeditivo,
extintivo ou modificativo do direito do autor. A prescrição da dívida consubstancia uma exceção perentória enquanto
facto extintivo do direito de crédito indemnizatório (artigo 576ºnº3).

O Regime da prescrição não é de conhecimento oficioso (artigo 303º do CC), por isso, o juiz só poderia pronunciar-
se sobre esta exceção perentória caso a Ré a tivesse invocado na contestação.

• PRESCRIÇÃO DÍVIDA- SÓ SE RÉ CONTESTAR- JUIZ NÃO CONHECE OFICIOSAMENTE


• PEDIDO DA PARTE

Ora, no caso em apreço o juiz conheceu oficiosamente da prescrição da dívida, ou seja, pronunciou-se sobre uma
matéria que não lhe é permitida conhecer. Assim, estamos aqui perante um excesso de pronúncia, o que leva á
nulidade da sentença (artigo 615ºnº1/d).

O Juiz está, pois, vinculado ao que foi pedido pela parte, não podendo condenar em objeto ou coisa diversa á que o
autor pediu. Se o juiz não respeitar o princípio do pedido a sentença é nula (artigo 615ºnº1/e).

22 junho de 2020 I (12 valores)

Gilberto intentou uma ação de anulação do ato de perfilhação de Dionísio, tendo alegado coação moral por parte da
mãe (de Dionísio) para que ele assumisse a paternidade.

Foi deduzida contestação, na qual os Réus (Dionísio e Mãe) sustentaram que já tinha decorrido o prazo de propositura
da causa (artigo 1860º nº 3, do Código Civil) e que Gilberto nunca foi ameaçado, pois perfilhou de forma espontânea
e de livre vontade.

Responda às seguintes questões de forma fundamentada e clara:

1. Se os Réus não apresentassem contestação, ficaria Gilberto desonerado de fazer a prova dos factos que
alega? (4 val.)

• NÃO CONTESTAR = REVELIA ( RÉUS )


• PRAZO CONTESTAR = 30 DIAS

Se os Réus não apresentassem contestação os mesmos estariam numa situação de revelia. Uma vez decorrido o
prazo perentório para contestar (artigo 569º) de 30 dias, o juiz vai averiguar se o réu, neste caso os réus, deram
algum sinal de si nos autos.

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• REVELIA ABSOLUTA= não dá o reu qualquer sinal de si nos autos


• JUÍZ AVALIA CITAÇÃO

Quando o réu não dá qualquer sinal de si nos autos, ou seja, não intervém de forma nenhuma no processo, ocorre
uma situação de revelia absoluta. Nesta hipótese, nos termos do artigo 566º, o juiz terá de averiguar se no ato da
citação foram tomadas todas as formalidades. Se o réu não dá sinais de si é provável que não tenha tinha
conhecimento de que lhe foi movida uma causa, isto é, pode não ter sido citado.
• REVELIA ABSOLUTA = dá sinal, não contesta

Há uma situação de revelia relativa quando, apesar do réu intervir de qualquer forma nos autos, não contesta.

• EFEITOS REVELIA
o RÉU NÃO CONTESTA = factos confessados da petição incial

O regime regra relativo aos efeitos da revelia (quer absoluta quer relativa) está regulado no artigo 567º. O preceito
regula a revelia operante. Tal significa que, se o réu não contestar, os factos alegados pelo autor na petição inicial
consideram-se confessados.
• EXEÇÃO REVELIA – REVELIA INOPERANTE ( não contesta, não factos confessados )

Vejamos, se o réu não contesta, o único articulado que consta nos autos e a petição inicial, não sendo esta
contestada, ficciona-se a confissão e têm-se a história do autor como verdadeira. As exceções a este regime estão
reguladas no artigo 568º, sendo que no presente artigo se regula a chamada revelia inoperante.

Dizemos que se trata de uma revelia inoperante pois não operam os efeitos normais da revelia consagrados no artigo
567º. Assim, quando o réu não contesta, mas não se consideram os factos confessados, estamos perante um caso
de revelia inoperante.
• SITUAÇÃO JURÍDICA INDISPONÍVEL- FILIAÇÃO

No caso sub judice, a ação versa sobre uma situação jurídica indisponível (vínculo de filiação) pelo que a
revelia, seja absoluta ou relativa, não acarreta a confissão dos factos alegados pelo autor. Tal situação subsume-se á
alínea c) do artigo 568ºº.

• CASOS PARA PROVADOS- CAUSA SEJA PROCEDENTE

A fase dos articulados termina e o processo continua a sua tramitação normal. Porém, por força da lei (artigo 592º)
não se realizará a audiência prévia.
Ainda assim, e não obstante não haver audiência prévia, o juiz deve proferir despachos considerados relevantes
atendendo às especificidades do caso concreto. Justifica-se a atividade probatória pois uma vez que os factos não se
consideram assentes, mas sim controvertidos, necessitam de ser provados através dos meios de prova para que a
causa seja considera procedente. A vontade das partes, é durante o processo, em regra, irrelevante para alcançar o
efeito jurídico pretendido pelo autor. No caso o autor pretende a anulação do ato de perfilhação que é um direito
potestativo.

Em suma, para a procedência ou improcedência da causa apenas é decisivo o julgamento que o tribunal efetue,
alicerçado na matéria de facto provada.

2. Pressuponha que o juiz entende que, na petição inicial, Gilberto não concretizou devidamente o tipo de
ameaças feitas pela mãe de Dionísio. Na fase intermédia, que despacho deve proferir? (4 val.)

Estamos na fase subsequente aos articulados, isto é, na fase intermédia (antigamente denominada fase de
saneamento ou condensação). O juiz, em regra, só tem acesso aos autos finda a fase dos articulados. Assim, a fase
intermédia afigura-se essencial para preparar as fases seguintes (audiência final e sentença). A fase intermédia está
regulada a partir do nº2 do artigo 590º, visto que o nº1 do mesmo preceito trata os casos nos quais o juiz intervém
liminarmente.

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O juiz, á luz da boa gestão processual (artigo 6ºnº2) deve proferir um despacho pré-saneador destinado a convidar
Gilberto a aperfeiçoar a sua petição, suprindo as insuficiências na causa de pedir mediante a alegação de factos
complementares e concretizadores. É necessário percebermos a diferença entre causa de pedir e factos
complementares e concretizadores. Ora, na causa de pedir constam os factos concretos de onde deriva a pretensão
do autor, dizendo respeito ao núcleo essencial dos factos. Os factos complementares são factos que complementam
a causa de pedir, mas não a descaracterizam. Relativamente aos factos concretizadores estes concretizam alegações
vagas que o autor faz na petição inicial. É ainda crucial perceber a diferença entre falta de causa de pedir ou
insuficiência da causa de pedir. Ora na falta de causa de pedir falta a origem da pretensão, os factos concretos de
onde deriva a pretensão. A falta de causa de pedir é um vício insanável que conduz á ineptidão da petição inicial
(artigo 186ºnºs 1 e 2). Já a insuficiência da causa de pedir pode ser sanada através do despacho de aperfeiçoamento.
Então, quando a causa de pedir, isto é, a matéria de facto está exposta de forma imprecisa e insuficiente o juiz deve
convidar o autor a concretizar a exposição dessa matéria de facto e estamos perante um vício suscetível de ser
corrigido. Acrescente-se ainda que, quando a exposição do autor tenha ficado pouco clara ou ambígua e, por
conseguinte, o autor tenha sido convidado a aperfeiçoar a petição inicial, caso o autor não acate o convite do juiz
não há nenhuma sanção expressa para esta inércia do autor. Tal acontece, pois, o nosso sistema processual civil
aposta numa estabilização da matéria de facto muito tardia. Tal significa que da petição deve constar a causa de
pedir e o pedido, mas apenas o núcleo essencial dos factos. Assim, todos os factos concretizadores ou
complementares da causa de pedir podem surgir ao longo do processo. Porém, se o autor não for diligente e nada
fizer para complementar a petição inicial quando o juiz o convidou para tal, arrisca-se a que haja uma improcedência
da causa. Ora, para existir causa de pedir basta que esteja lá o núcleo essencial dos factos, mas para que a causa seja
ganha tem de estar lá todos os factos que preencham o pressuposto da norma.

3. Pressuponha que, na sentença final, o juiz considerou procedente a alegacão de que o prazo de propositura
já ́ tinha decorrido. A sentença transitou em julgado. Identifique, de forma fundamentada, o tipo de caso
julgado que se formou. (4 val)

As exceções perentórias traduzem-se na alegação de factos relativos ao mérito que tem um efeito impeditivo,
extintivo ou modificativo do direito do autor. Estando em causa a caducidade e traduzindo-se esta num facto
extintivo do direito do autor, estamos perante uma exceção perentória. O nosso caso, como já foi supra mencionado,
versa sobre matéria de direitos indisponíveis. Assim sendo, tal como decorre do artigo 333ºnº1 o prazo de
caducidade é de conhecimento oficioso. Note-se que, em todos os demais casos a caducidade segue o regime da
prescrição e não é de conhecimento oficioso.
A sentença transitou em julgado, tal significa que adquiriu força de caso de julgado, ou seja, adquiriu uma certa
estabilidade pois quando uma decisão transita em julgado já não é suscetível de recurso ordinário nem de reclamação
(artigo 628º), salvo casos excecionais tipificados na lei. É possível se formais dois tipos de caso julgado: caso julgado
formal e caso julgado material. Quando o juiz se pronuncia sobre o mérito da causa, sobre o pedido do autor, essa
decisão uma vez transitada em julgado, forma caso julgado material (artigo 619º). Vimos que o juiz considerou
procedente a alegação de uma exceção perentória. Tal conduz á absolvição do pedido (artigo 576ºnº3). A absolvição
do pedido formará caso julgado material pois versa sobre o mérito da causa. Esta decisão de mérito, uma vez
transitada em julgado, forma caso julgado material (artigo 619º). Esta decisão torna-se indiscutível “dentro e fora”
do processo. Se uma das partes intentar ação idêntica (ocorrendo uma tríplice identidade quanto aos sujeitos, causa
de pedir e pedido), o réu pode invocar a exceção do caso julgado material, como obstáculo á apreciação do mérito
da causa (artigo 577º/i). Note-se que, quando se forme caso julgado formal (artigo 620º) significa que o juiz não
chegou a pronunciar-se sobre o mérito da causa. A absolvição do réu da instância é uma decisão puramente
processual. Como tal, em regra, esta decisão só produz efeitos naquele processo na qual foi proferida. Assim, nada
obsta a que o autor intente uma nova causa para discutir o mesmo objeto, visto que o tribunal nunca chegou a
pronunciar-se sobre este.

II (8 valores)

Inácio intentou uma ação declarativa contra José, solicitando que o Tribunal condenasse este a concluir a
construção de uma garagem, cuja execução foi assumida contratualmente há mais de um ano e, no caso
de tal pedido ser improcedente, requereu que fosse decretada a resolução do contrato de empreitada.

Na contestação, José ́ considera que a petição é inepta pois foram formulados pedidos substancialmente
incompatíveis.

Responda às seguintes questões de forma fundamentada e clara:

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1. Se fosse juiz, considerava procedente a alegação da ineptidão por parte do José? (4 val.) ́

Inácio formulou vários pedidos e deu preferência a um dos pedidos (condenação de José a concluir a
construção de uma garagem). Estamos, portanto, perante pedidos subsidiários (artigo 554º). Assim, o
pedido de resolução (pedido subsidiário) só será apreciado se o pedido de condenação na conclusão da
obra for considerado improcedente. A incompatibilidade substancial não constitui um obstáculo
processual à admissibilidade de pedidos de diversidade. Para a admissibilidade dos pedidos subsidiários
exige-se que, para ambos os pedidos, o tribunal competente em razão da matéria, hierarquia e da
competência internacional seja o mesmo. Tal significa que se exige a competência absoluta do tribunal
(artigo 37ºnº1 e 2 e artigo 554ºnº2). Relativamente á forma de processo também não se evidencia no caso
algum tipo de obstáculo. A compatibilidade substancial só é exigível, sob pena de ineptidão, (artigo 186º/c)
quando o autor pretende a procedência simultânea de várias pretensões, isto é, no âmbito da figura da
cumulação de pedidos (artigo 555º). Porém, mesmo quando o autor formula dois pedidos cumulados e
estes sejam substancialmente incompatíveis, os nossos tribunais, em nome da economia e da gestão
processual (artigo 6º) em vez de considerarem de imediato que o processo é nulo (por ser inepto) têm
permitido ao autor a sanação desse vício. Assim, o juiz deve convidar o autor a transformar os pedidos
cumulativos em pedidos subsidiários (pois já não se exige a compatibilidade substancial) ou a optar por um
dos pedidos. Se o autor não responder ao convite e não corrigir a petição inicial, aí sim o juiz deve
considerar todo o processo nulo por ser inepto.
Em síntese, se fosse juiz, não considerava procedente a alegação da ineptidão por parte de José pois os
pedidos subsidiários não exigem a compatibilidade substancial e não se evidenciam obstáculos quanto à
forma de processo e à competência absoluta.

2. Suponha que uma das testemunhas arroladas pelo Autor depôs em sentido contrário ao do depoimento
prestado, quanto ao mesmo facto, por outra testemunha. Identifique o meio processual adequado para o
esclarecimento da referida incompatibilidade de versões. (4 val.)

Havendo contradição entre os depoimentos de testemunhas ou entre o depoimento destas e o


depoimento de parte, pode recorrer-se, a requerimento de qualquer uma das partes ou por determinação
do juiz á acareação. A acareação trata-se de um incidente probatório regulado nos artigos 523º e 524º.
Este incidente ocorre quando há duas versões opostas ou contraditórias sobre um facto controvertido (não
assente) e, como tal, pede-se novamente a presença de ambas as partes para as colocar lado a lado com
o propósito de perceber quem está a falsear a verdade. Assim, no caso concreto, havendo contradição
entre os depoimentos por parte de terceiros (depoimento testemunhal – artigo 498º e ss.) justifica-se o
recurso á acareação. Notese que, embora tais depoimentos estejam sujeitos ao princípio da livre
apreciação (artigo 607ºn5) só através deste incidente se conseguirá, ao colocar em confronto depoimentos
divergentes, determinar uma convicção segura sobre a realidade de factos relevantes para a resolução do
litígio.

29 de junho de 2020

I (8 valores)

Uma sociedade comercial intentou uma ação declarativa contra uma sucursal de uma seguradora, alegando que,
durante a execução de dois contratos de transporte internacional ocorreram “roubos” de mercadoria, sendo que os
riscos de tais sinistros se encontravam cobertos pelo contrato de seguro. Requereu, em conformidade, a condenação
da ré ́ no pagamento da indemnização pelos danos sofridos.

Na contestação, a Ré ́ alegou que não era suscetível de ser parte, pois, o contrato de seguro foi celebrado com a
administração principal com sede em Lisboa (cf. artigo 13.o, nº 1, do CPC). Invocou também que, mesmo que assim
não se entendesse, não era responsável já ́ que os danos alegados não estavam cobertos pelo contrato de seguro.

Responda, de forma clara e fundamentada, às seguintes questões:

1.Caracterize a defesa apresentada pela Ré ́ (4 val.).

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Há duas grandes modalidades de defesa que podem integrar uma contestação: defesa por impugnação e defesa por
exceção (artigo 571º). Na contestação deve concentrar-se em regra toda a defesa do réu, não podendo este misturar
as defesas.
Na defesa por exceção o réu invoca factos que obstam á apreciação do mérito da causa (exceções dilatórias) ou que
determinam a improcedência total ou parcial do pedido (exceções perentórias). A alegação da falta de personalidade
judiciária consubstancia uma defesa por exceção dilatória (artigo 11º, 576ºnº2 e 577/c). A falta de personalidade
judiciária é sanável nos termos do artigo 14º do CPC e é de conhecimento oficioso. Se este vício processual não for
sanado origina uma decisão de absolvição do réu da instância nos termos do artigo 278º. Nos termos do artigo 574º,
sobre o réu recai o ónus de se pronunciar sobre os factos que integram a causa de pedir alegada pelo autor. Neste
sentido, o réu deve tomar posição definida perante os factos constantes da petição inicial (nº2). Assim, no exercício
do ónus de impugnar, a Ré tomou uma posição definida perante os factos constitutivos alegados pela sociedade
comercial. Impugnar significa contrariar o que o autor disse, isto é, o réu toma uma posição definida perante os
factos que o autor alegou na petição inicial. Na defesa por impugnação podemonos deparar perante uma
impugnação de facto ou uma impugnação de direito. Tal significa que o réu ataca a realidade dos factos alegados
pelo autor ou o efeito jurídico que este pretende retirar daqueles. No caso em apreço a Ré, na última parte da sua
contestação, defende-se através de uma defesa por impugnação de facto, contradizendo frontal e diretamente a
factualidade apresentada pelo autor.
Vejamos, nos termos do artigo 574º, sobre o réu recai o ónus de se pronunciar sobre os factos que integram a causa
de pedir alegada pelo autor. Neste sentido, o réu deve tomar posição definida perante os factos constantes da
petição inicial (nº2). Assim, os factos não impugnados consideram-se admitidos por acordo, isto é, assentes. Por sua
vez, os factos impugnados consideram-se controvertidos (não assentes). Logo, se estes factos não contestados ou
não impugnados se consideram assentes, não será necessária a produção de meios de prova para demonstrar a sua
realidade, uma vez que já estão verificados. Acrescente-se que há determinados sujeitos que têm o estatuto de réu
mas estão desonerados do ónus de impugnar (nº4 artigo 574º). Note-se ainda que o ónus de impugnar recai também
sobre o autor relativamente aos factos novos trazidos pelo réu. Porém, para que recaia sobre o autor ónus de
impugnar o réu deve individualizar as exceções que quer opor á pretensão invocada pelo autor.

2. Pressuponha agora que as partes tinham celebrado uma convenção de arbitragem para os eventuais litígios
emergentes do contrato de seguro e que a Ré invocou esse facto na contestação. Que despacho deve o juiz proferir
na fase subsequente aos articulados? (4 val.)

O artigo 578º fala-nos da figura da preterição do tribunal arbitral voluntário. Esta é uma forma de incompetência
absoluta. Neste sentido, a ré invocou a violação de uma convenção de arbitragem na modalidade de cláusula
compromissória, isto é, as partes acordaram que os litígios futuros e eventuais emergentes do contrato de
empreitado seriam resolvidos por um tribunal arbitrário. Esta exceção dilatória não é de conhecido oficioso, sendo,
pois, uma exceção dilatória em sentido próprio.
Estamos na fase subsequente aos articulados, isto é, na fase intermédia (antigamente denominada fase de
saneamento ou de condensação). O juiz, em regra, só tem acessos aos autos nesta fase, ou seja, finda a fase dos
articulados. Este é um momento crucial para delinear e preparar as fases seguintes (audiência final e sentença). Esta
fase intermédia está regulada a partir do nº2 do artigo 590º visto que o nº1 do mesmo preceito trata aqueles casos
em que há intervenção liminar do juiz.
O juiz deve proferir o despacho saneador (artigo 595º). Através deste despacho o juiz controla a regularidade da
instância e, em determinadas circunstâncias, pode pôr termo á causa. No caso em apreço estamos perante uma
exceção dilatória que é insanável (daí não fazer sentido o juiz proferir um despacho pré-saneador), Neste sentido,
estando verificada uma exceção dilatória que não é suscetível de sanação, o juiz deve pôr termo á causa mediante
uma decisão de absolvição do réu da instância visto que esta exceção obsta á apreciação do mérito da causa. Em
regra, o juiz só decide na sentença final, todavia, se nesta fase o juiz se pronunciar sobre as exceções dilatórias e
puser termos á causa, há um julgamento antecipado da lide. Se este despacho saneador transitar em julgado (artigo
628º), ou seja, se já não for suscetível de reclamação nem de recurso ordinário forma caso julgado formal. Ora, uma
vez que o juiz não chegou a pronunciar-se relativamente ao mérito da causa, nada obsta a que seja intentada uma
nova causa de pedir para apreciar o mesmo objeto da causa, uma vez que o tribunal não chegou a pronunciar-se
sobre este (artigo 279º). Vejamos, nesta hipótese o juiz não chega a manifestar-se relativamente á relação material
controvertida uma vez que restringe a sua apreciação apenas á relação processual. Neste sentido, quando a decisão
forma caso julgado formal, tal significa que a questão não pode voltar a ser discutido dentro daquele mesmo
processo, mas não impede que a mesma questão seja suscitada num outro tribunal. Assim, podemos afirmar que o
caso julgado formal não tem, em regra, efeitos externos/extra processuais). Acrescente-se que, caso o juiz se tivesse
pronunciado sobre o mérito da causa, uma vez transitada em julgado, a sentença/decisão formaria caso julgado
material. Diversamente, no âmbito do caso julgado material, ou seja, quando a sentença é de mérito, esta adquire
força dentro e fora do processo. Assim, se uma das partes intentar ação idêntica (ocorrendo uma tríplice identidade
quanto aos sujeitos, causa de pedir e pedido) o réu pode invocar a exceção de caso julgado material como obstáculo
à apreciação do mérito da causa (artigo 577/i). Tal significa que o caso julgado material tem força dentro e fora do

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processo (artigo 619º). Note-se ainda que, caso estivéssemos perante uma situação de incompetência relativa e não
de incompetência absoluta a lei determinaria a remessa do processo para o tribunal competente (artigo 105ºnº3).
Em síntese, perante a exceção dilatória invocada pela Ré, o juiz deve proferir um despacho saneador, pondo termo
á causa mediante uma decisão de absolvição do réu da instância pois tal obsta a apreciação do mértio da causa. Tal
configurará um julgamento antecipado da lide (artigo 595º/1/a e 591/1/b), formando caso julgado formal (artigo
620º).

II (12 valores)

António intentou contra Berta uma ação de resolução de um contrato de arrendamento de um imóvel, com
fundamento na falta de uso, por esta, do local arrendado durante mais de um ano [artigo 1083.o, nº2, al. d), do
Código
Civil].

Na contestação, a Ré alegou que a não permanência no locado era legítima, dado que durante esse período adoecera
gravemente, tendo estado internada várias vezes e forçada a recuperar em casa de familiares (cf. alínea a) do nº2
artigo 1072.o do Código Civil).

Referiu também que, numa outra ação entre as mesmas partes, entretanto terminada, foi realizada uma perícia
médica com informações detalhadas sobre a sua doença.

Responda, de forma clara e fundamentada, às seguintes questões:

1.Poderá Berta requerer que o relatório resultante da perícia médica, por si invocado, seja apreciado na presente ação
de resolução do contrato de arrendamento? (4 val.)

A atividade probatória começa desde logo pelos meios de prova que cada uma das partes deve indicar nos seus
articulados. Berta na contestação indicou como meio de prova de que se quer fazer valer a prova pericial. Notese
ainda que, não obstante a invocação dos requerimentos probatórios na fase dos articulados, na fase intermédia as
partes podem alterar os seus requerimentos probatórios para os adequar às necessidades probatórias que resultem
do despacho que fixa os temas de prova (que assenta nos factos controvertidos).
Na prova pericial o perito aprecia ou valora factos que exigem especiais conhecimentos (técnicos, científicos ou
artísticos) que o juiz não possui. Vejamos então: o juiz é o grande conhecedor de direito. Para o processo as partes
trazem determinados factos e o juiz vai aplicar esse direito aos factos trazidos pelas partes. Porém, sempre que a
causa justifique certos conhecimentos técnicos, científicos ou artísticos, o juiz ou as partes têm de requerer a prova
pericial. Neste caso, foi o autor que requereu a prova pericial. Porém, está em causa o valor extraprocessual de um
relatório pericial. Nos termos do artigo 421º do CPC, o princípio do valor extra processual das provas permite que os
depoimentos e perícias possam ser utilizadas contra a mesma pessoa num outro processo. Berta refere que a perícia
médica foi realizado num processo contra as mesmas partes, sendo portanto a sua pretensão viável. Ora, se a perícia
é invocada contra a mesma parte do processo anterior, pressupõe-se que esta tenha tido aí oportunidade de exercer
o contraditório (artigo 415º).
Note-se que, não obstante o artigo 421º apenas nos falar do depoimento e das perícias devemos incluir as
verificações não judicias qualificadas (meio de prova novo, surgiu em 2013) desde que sejam apresentadas contra
um sujeito que já intervém num processo anterior. Contrariamente, o valor extraprocessual da prova não se aplica
nem á prova por inspeção judicial nem á prova documental. Vejamos: relativamente ás inspeções judiciais, sendo
este um meio de prova que interfere diretamente na convicção daquele juiz, as suas perceções (subjetivas e pessoais)
não podem vincular um outro juiz de uma outra causa; relativamente á prova documental (préconstituída), não se
justifica a aplicação deste valor processual pois esta pode circular entre vários processos sem que se ponha em causa
o seu maior ou menor valor.

2.O juiz ficou com dúvidas, após produção de toda a prova, sobre a verificação da doença, alegada pela Ré, ́ como
motivo da ausência da habitação arrendada durante mais de um ano. Por isso, julgou não provado esse facto.
Concorda? (4 val.)

Depois do juiz tomar em consideração todos as provas produzidas, emanem ou não da parte que devia produzi-las
(princípio da aquisição processual – artigo 413º) e ter realizado ou ordenado todas as diligências para apurar a
verdade (princípio do inquisitório – artigo 411º) o juiz ficou com dúvidas insuperáveis sobre a verificação da doença
alegada pela Ré. Porém, o juiz não se pode abster de julgar. Nesta hipótese, o nosso legislador criou uma válvula de
escape ao juiz que se traduz nos critérios de submissão do ónus da prova. As regras do ónus da prova estão presentes

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nos artigo 342º e ss. do CC. Neste sentido, o non liquet do juiz converte-se num liquet contra a parte sobre quem
recai o ónus da prova. No caso concreto, o ónus da prova recaía sobre Berta pois competia-lhe demonstrar que a
ausência do arrendado se devia á sua doença. Neste sentido, Berta tinha de provar esta factualidade para impedir a
procedência do direito do autor. Isto é, Berta defendeu-se por exceção perentória (artigo 576ºnº3),
consubstanciando a sua defesa num facto impeditivo que obsta a que o direito potestativo de resolução do contrato
de arredamento se tenha constituído e seja considerado procedente. Tendo o juiz ficado com dúvidas aplicou (e
bem) como regra de decisão, a regra geral do ónus de prova prevista no nº2 do artigo 342º do CC, proferindo decisão
desfavorável á Ré. Note-se que não se deve confundir o ónus da prova com o ónus de alegação. O ónus da prova
consubstancia-se em regras às quais o juiz recorre se tiver dúvidas sobre a verificação de um facto. Já o ónus de
alegação recai tanto sobre o autor como sobre o réu.

3. Pressuponha que a Ré não apresentou contestação, nem deu qualquer sinal de si nos autos. Quando o juiz verificou
a regularidade da citação, detetou que tinha havido erro na identidade da pessoa citada. Em conformidade, ordenou
a repetição do ato de citação. Identifique o vício da citação e pronuncie-se sobre a pertinência das diligências do juiz.
(4 val.)

Se a Ré não apresentar contestação, nem der qualquer sinal de si nos autos, incorre numa situação de revelia.
Quando o réu não dá qualquer sinal de si nos autos, ou seja, não intervém de forma nenhuma no processo, ocorre
uma situação de revelia absoluta. Nesta hipótese, nos termos do artigo 566º, o juiz terá de averiguar se no ato da
citação foram tomadas todas as formalidades. Se o réu não dá sinais de si é provável que não tenha tinha
conhecimento de que lhe foi movida uma causa, isto é, pode não ter sido citado. Ora, se após esta verificação das
formalidades o juiz concluir que a citação foi feita corretamente, o processo continuará com os efeitos da revelia. Se,
por outro lado, o juiz verificar alguma irregularidade (que é o que acontece no nosso caso) o juiz manda repetir a
citação para que ela se faça nos moldes legais. O erro na identidade do citado gera um vício da citação que a lei
denomina falta de citação (artigo 188º/1/b). A expressão falta de citação não significa que este vício só ocorra quando
haja efetivamente uma omissão do ato, esta expressão abarca outras hipóteses, designadamente a alínea b) do artigo
188º. A falta de citação é o vício mais grave da citação. O juiz agiu corretamente ao mandar repetir a repetição. Note-
se que, quando o ato de citação tiver que ser repetido, repete-se tudo o que tiver sido posterior ao ato da citação.
Por isso, se depois do ato da citação já tiverem sido praticados atos, estes também são anulados. Salva-se somente
a petição inicial pois tudo o que está antes do ato da citação não está nulo dado que a nulidade funciona para o
futuro.

6 de julho de 2020 I (12 valores)

António intentou contra Manuel, uma ação destinada a resolver um contrato de comodato com fundamento na
utilização da coisa para fim diverso do convencionado [cf artigo 1135.o, al. c), do Código Civil]. Alegou que, em janeiro
de 2019, tinha dado em comodato a Manuel um imóvel para o exercício da advocacia, mas teve conhecimento, no
mês de maio do ano corrente, que o local era utilizado como loja de vestuário.

Na contestação, Manuel afirmou que o tribunal, onde foi intentada a causa, era territorialmente incompetente, além
de que não ficou convencionado qualquer fim para o uso do bem dado em comodato.

Responda, de forma clara e fundamentada, às seguintes questões:

1. Pressuponha que, alguns dias antes de propor a ação, António tem conhecimento de estar iminente a
partida de Manuel para uma viagem pelo território asiático durante um longo período. Na petição inicial, o
que devia o advogado requerer quanto á citação? (4 valores)

Estando iminente a partida de Manuel para uma viagem pelo território asiático durante um longo período de tempo,
o advogado na petição inicial devia requerer a citação urgente (artigo 552ºnº9). A citação urgente é ordenada pelo
juiz após apreciação dos fundamentos da urgência (artigo 226º/4/f). Em regra, quando a secretaria executa as
diligências para a citação, não necessita de um despacho prévio do juiz a ordenar a citação. Porém, nas hipóteses do
nº4 do artigo 226º a secretaria não pode promover oficiosamente a citação pois esta só pode ser efetuada após o
juiz ter proferido um despacho prévio a ordená-la. A lei permite o requerimento da citação urgente quando esteja
iminente a ausência do réu em parte incerta pois quando o réu se encontre nestas circunstâncias a modalidade
adequada da citação é a citação edital e esta é desvantajosa para o autor. Ora, aplica-se a citação edital quando o
réu está ausente em parte incerto ou são incertos os réus a citar (artigo 225º/1 e 2 e artigo 236º). A modalidade da

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citação edital é desvantajosa para o autor em termos de celeridade processual. Vejamos o porquê: relativamente ao
prazo para contestar é fundamental ter em conta que quando o réu é citado editalmente há uma dilação de 30 dias.
Tal significa que só decorrido esse prazo dilatório é que começar a contar o prazo para contestar, que é um prazo
perentório (artigo 559º). Em suma, quando a modalidade adequada para a citação de pessoas singulares é a citação
edital, a lei prevê uma dilação de 30 dias, pelo que o prazo perentório para contestar só começa a ser contado depois
de ter decorrido o prazo dilatório (artigos 139º/1 a 3; 242º/2 e 245º/3). Então, o recurso á citação edital mostra-se
desvantajoso para o autor dado que o prazo dilatório retarda o início da contagem do prazo para contestar (o prazo
perentório). Então, o autor tem todo o interesse em que o réu não esteja ausente em parte incerta. Quando o autor
saiba que é iminente a ausência do réu em parte incerta, deve requerer na petição inicial a citação urgente.

2. Classifique a defesa apresentada por Manuel. (4 valores)

Há duas grandes modalidades de defesa que podem integrar uma contestação: defesa por impugnação e defesa por
exceção (artigo 571º). Na contestação deve concentrar-se em regra toda a defesa do réu, não podendo este misturar
as defesas.
Na defesa por exceção o réu invoca factos que obstam á apreciação do mérito da causa (exceções dilatórias) ou que
determinam a improcedência total ou parcial do pedido (exceções perentórias). Neste sentido, Manuel defendeu-se
por exceção dilatória – facto que obsta á apreciação do mérito da causa – quando invocou a incompetência territorial
do tribunal. Este vício processual determina a remessa do processo para o tribunal competente (artigo 105º/2/3,
576ºnº2 e 578º). Nos termos do artigo 574º, sobre o réu recai o ónus de se pronunciar sobre os factos que integram
a causa de pedir alegada pelo autor. Neste sentido, o réu deve tomar posição definida perante os factos constantes
da petição inicial (nº2). Assim, no exercício do ónus de impugnar, Manuel tomou uma posição definida perante os
factos constitutivos do direito potestativo à resolução do contrato de comodato. Impugnar significa contrariar o que
o autor disse, isto é, o réu toma uma posição definida perante os factos que o autor alegou na petição inicial. Na
defesa por impugnação podemo-nos deparar perante uma impugnação de facto ou uma impugnação de direito. Tal
significa que o réu ataca a realidade dos factos alegados pelo autor ou o efeito jurídico que este pretende retirar
daqueles. No caso em apreço Manuel, na última parte da sua contestação, defende-se através de uma defesa por
impugnação de facto, contradizendo frontal e diretamente a factualidade apresentada pelo autor.

3. Pressuponha agora que Manuel era parte ilegítima. Se fosse juiz, que decisão proferiria sobre esta matéria
na fase intermédia? (4 valores) Sendo Manuel parte ilegítima tal consubstancia uma exceção dilatória,
insanável e de conhecimento oficioso (artigo 578º). Sendo uma exceção dilatória, a ilegitimidade singular
obsta á apreciação do mérito da causa. Se fosse juiz, estando na fase intermédia, isto é, na fase
subsequente aos articulados (antigamente denominada fase de saneamento ou de condensação) proferiria
um despacho saneador. Neste sentido, estando verificada uma exceção dilatória que não é suscetível de
sanação, o juiz deve pôr termo á causa mediante uma decisão de absolvição do réu da instância visto que
esta exceção obsta á apreciação do mérito da causa. Em regra, o juiz só decide na sentença final, todavia,
se nesta fase o juiz se pronunciar sobre as exceções dilatórias e puser termo á causa, há um julgamento
antecipado da lide. Se este despacho saneador transitar em julgado (artigo 628º), ou seja, se já não for
suscetível de reclamação nem de recurso ordinário forma caso julgado formal. Ora, uma vez que o juiz não
chegou a pronunciar-se relativamente ao mérito da causa, nada obsta a que seja intentada uma nova causa
de pedir para apreciar o mesmo objeto da causa, uma vez que o tribunal não chegou a pronunciar-se sobre
este (artigo 279º). Vejamos, nesta hipótese o juiz não chega a manifestar-se relativamente á relação
material controvertida uma vez que restringe a sua apreciação apenas á relação processual. Neste sentido,
quando a decisão forma caso julgado formal, tal significa que a questão não pode voltar a ser discutido
dentro daquele mesmo processo, mas não impede que a mesma questão seja suscitada num outro
tribunal. Assim, podemos afirmar que o caso julgado formal não tem, em regra, efeitos externos/extra
processuais.
Acrescente-se que, caso o juiz se tivesse pronunciado sobre o mérito da causa, uma vez transitada em julgado, a
sentença/decisão formaria caso julgado material. Diversamente, no âmbito do caso julgado material, ou seja, quando
a sentença é de mérito, esta adquire força dentro e fora do processo. Assim, se uma das partes intentar ação idêntica
(ocorrendo uma tríplice identidade quanto aos sujeitos, causa de pedir e pedido) o réu pode invocar a exceção de
caso julgado material como obstáculo à apreciação do mérito da causa (artigo 577/i). Tal significa que o caso julgado
material tem força dentro e fora do processo (artigo 619º).
Em síntese, perante a exceção dilatória o juiz deve proferir um despacho saneador, pondo termo á causa mediante
uma decisão de absolvição do réu da instância pois tal obsta a apreciação do mérito da causa. Tal configurará um
julgamento antecipado da lide (artigo 595º/1/a e 591/1/b), formando caso julgado formal (artigo 620º). Acrescente-
se ainda que o despacho saneador deve ser proferido depois das partes serem ouvidas para prevenir decisões
surpresa (artigo 3/3).

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II (8 valores)

Eleva, S.A. intentou contra o condomínio de um prédio constituído em propriedade horizontal uma ação declarativa,
em que requereu a condenação do Réu no pagamento de €15.000, a título de remuneração pela manutenção dos
elevadores do referido prédio.

Em contestação, o Réu formulou pedido autónomo contra a Autora, requerendo a condenação desta no pagamento
dos danos – correspondentes a €20.000 - que a mesma causou numa das paredes (parte comum do prédio) quando
realizou a última operação de manutenção.

Na réplica, a autora alegou que o pedido do Réu devia ser considerado inadmissível por falta de conexão substantiva
com a pretensão principal.

Responda, de forma clara e fundamentada, às seguintes questões:

1. Subscreve o entendimento da Autora sufragado na réplica? (4 valores)

Quando o réu deduz um pedido reconvencional ele pretende a satisfação de uma pretensão própria, aproveitando a
circunstância de ser réu para formular um pedido contra o autor do pedido inicial. Neste sentido, o autor do pedido
reconvencional (com o estatuto de réu relativamente ao pedido principal) toma a designação de reconvinte,
enquanto o réu, na reconvenção (autor quanto ao pedido principal) é o reconvindo. A nossa lei não admitiu a
formulação livre da reconvenção, assim esta só é admitida nos termos do artigo 266º. Ora a Autora, na réplica alegou
a falta de conexão substantiva com a pretensão principal o que obsta á admissibilidade do pedido reconvencional.
Tal significa que entre o pedido principal e o pedido reconvencional têm de existir alguma das conexões substantivas
previstas nas alíneas do nº2 do artigo 266º. Então, o réu não pode aproveitar a posição de réu para deduzir qualquer
pedido. A economia processual, razão de ser da admissibilidade do pedido reconvencional só será atingida quando
se discutem, simultaneamente, causas que têm algum “nexo” material. No caso sub judice está assegurado a
conexão substantiva. Vejamos, a reconvenção emerge de factos constitutivos que suportam a pretensão do autor. O
réu pretende, mediante a alegação de um contra crédito, a compensação de créditos. A compensação de créditos é
uma figura prevista no artigo 847º do CC e consiste numa forma de extinção das obrigações em que o devedor invoca
um crédito que tem sobre o credor. Tal significa que a compensação de créditos é uma forma de extinção recíproca
de créditos. Esta figura tem gerado ao longo dos anos uma grande controvérsia processual. Há quem entenda que a
compensação de créditos deve ser tratada como uma exceção perentória (facto extintivo do direito) e só se o crédito
do reconvinte excedesse o crédito do autor é que deveria ser tratada como pedido reconvencional. Em 2013
resolveu-se esta controvérsia e veio-se dizer que seja qual for o crédito que o reconvinte tem sobre o reconvindo,
deve merecer sempre o tratamento de reconvenção.
No nosso caso, o reconvinte visa realizar o seu crédito e liberar-se totalmente do crédito que o autor do pedido
principal tem sobre ele. Tal significa que os créditos extinguir-se-ão reciprocamente no valor em que sejam
compensáveis e, sendo o pedido procedente. O reconvinte visa ainda a condenação no pagamento do valor em que
o crédito invocado excede o da Autora (cinco mil euros).

2. Admita que, durante a audiência de julgamento, uma das testemunhas apresentadas pela Autora afirmou que
presenciou o ato de pagamento efetuado pelo Réu. Poderá o Autor desistir dessa testemunha por si arrolada e
exigir que o seu depoimento não seja considerado na sentença? (4 valores).

Antes de mais importa referir que a atividade probatória começa desde logo pelos meios de prova que
cada uma das partes deve indicar nos seus articulados. Note-se ainda que, não obstante a invocação dos
requerimentos probatórios na fase dos articulados, na fase intermédia as partes podem alterar os seus
requerimentos probatórios para os adequar às necessidades probatórias que resultem do despacho que
fixa os temas de prova (que assenta nos factos controvertidos). No caso em apreço Autora requereu a
prova testemunhal. São testemunhas todos aqueles terceiros, aptos física e mentalmente, que prestem
depoimento sobre matéria controvertida. Não é permitido ao autor desistir do depoimento da testemunha
por si arrolada mesmo que este não crie convicção no juiz da realidade dos factos que lhe são favoráveis.
Ao abrigo do princípio da aquisição processual (artigo 413º) o depoimento deve ser assumido em juízo
sendo indiferente quem o produziu. Tal significa que a prova uma vez entrada no processo, não é das
partes, mas do processo.

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6 de Junho 2019 I (13 valores)

Carlos intentou ação de impugnação da paternidade presumida contra Berta, alegando que não é pai biológico de Felisberto,
embora este tenha nascido na constância do matrimónio entre Carlos e Berta (cfr. artigos 1826.º e 1839.º do Código Civil). Na
petição inicial sustentou que vive separado de facto (de Berta) desde o momento em que a criança nasceu, pois teve conhecimento
de relações extramatrimoniais por parte da mãe. Afirmou, por outro lado, que o presumido filho foi criado e educado pelos avós
maternos. Na petição inicial, requereu também o depoimento dos avós maternos de Felisberto.

Na contestação, Berta alegou que o prazo de propositura da causa já tinha decorrido e que o Tribunal, onde foi intentada a
causa, era territorialmente incompetente. Requereu ainda o depoimento de Carlos.

Responda, de forma clara e fundamentada, às seguintes questões:

1. Caracterize a defesa apresentada pela Ré (3 val.)

Há duas grandes modalidades de defesa que podem integrar uma contestação: defesa por impugnação e defesa por exceção
(artigo 571º). Na contestação deve concentrar-se em regra toda a defesa do réu, não podendo este misturar as defesas. Na
defesa por exceção o réu invoca factos que obstam á apreciação do mérito da causa (exceções dilatórias) ou que determinam a
improcedência total ou parcial do pedido (exceções perentórias).
As exceções perentórias traduzem-se na alegação de factos relativos ao mérito que
tem um efeito impeditivo, extintivo ou modificativo do direito do autor. Estando em causa a caducidade e traduzindo-se esta
num facto extintivo do direito do autor, estamos perante uma exceção perentória. O nosso caso, versa sobre matéria de direitos
indisponíveis. Assim sendo, tal como decorre do artigo 333ºnº1 o prazo de caducidade é de conhecimento oficioso. Note-se que,
em todos os demais casos a caducidade segue o regime da prescrição e não é de conhecimento oficioso. Quando o juiz se
pronuncia sobre o mérito da causa, sobre o pedido do autor, essa decisão uma vez transitada em julgado, forma caso julgado
material (artigo 619º). Então, caso o juiz considere procedente a alegação desta exceção perentória, tal conduzirá á absolvição
do pedido (artigo 576ºnº3). A absolvição do pedido formará caso julgado material pois versa sobre o mérito da causa. Esta
decisão de mérito, uma vez transitada em julgado, forma caso julgado material (artigo 619º). Esta decisão torna-se indiscutível
“dentro e fora” do processo. Se uma das partes intentar ação idêntica (ocorrendo uma tríplice identidade quanto aos sujeitos,
causa de pedir e pedido), o réu pode invocar a exceção do caso julgado material, como obstáculo á apreciação do mérito da
causa (artigo 577º/i).
A Ré defendeu-se também por exceção dilatória – facto que obsta á apreciação do mérito da causa – quando invocou a
incompetência territorial do tribunal. Este vício processual determina a remessa do processo para o tribunal competente (artigo
105º/2/3, 576ºnº2 e 578º).

2. Na fase intermédia, o juiz considerou, oficiosamente, existir preterição de litisconsórcio necessário passivo,
fundamentando a sua decisão no facto de, nos termos legais, Felisberto ter de ser demandado (artigo 1846.º, n.º 1,
Código Civil). Identifique o despacho proferido, bem como o mecanismo ao alcance do autor para sanar o vício? (4 val.)

Estamos na fase subsequente aos articulados, isto é, na fase intermédia (antigamente denominada fase do
saneamento e condensação). O juiz, em regra, só tem acesso aos autos nesta fase, ou seja, finda a fase
dos articulados. Este é um momento crucial para delinear e preparar as fases seguintes (audiência final e
sentença). Esta fase intermédia está regulada a partir do nº2 do artigo 590º visto que o nº1 do mesmo
preceito trata daqueles casos em que há intervenção liminar do juiz.
No nosso caso, o juiz entendeu que se verificava a preterição de litisconsórcio necessário passivo, ou seja,
estamos perante uma exceção dilatória de ilegitimidade plural suscetível de ser sanada (artigo 577º/e) e
de ser conhecida oficiosamente pelo juiz (artigo 578º). Note-se que, sendo uma exceção dilatória, caso o
vício não seja sanado o juiz deve absolver o réu da instância e não pode pronunciar-se sobre o mérito da
causa.
O juiz á luz da gestão processual (artigo 6ºnº2) deve proferir o despacho pré-saneador. Desde logo, este
despacho pré-saneador serve para o juiz regularizar a instância, sendo este um momento crucial para o
juiz averiguar se a instância está regularmente constituída (se estão verificados todos os pressupostos
processuais). Ora, este despacho pré-saneador destina-se a suprir/sanar falta de pressupostos processuais,
isto é, tem de estar em causa vícios processuais suscetíveis de sanação. Assim, o juiz deve convidar Carlos

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a sanar o vício, tendo este a prerrogativa de provocar a intervenção principal de Felisberto para que este
possa assumir o estatuto de parte principal (artigo 316ºnº1).
Nos termos do artigo 564º e do artigo 260º, um dos efeitos principais da citação é a relativa estabilidade
da instância. Tal significa que a partir do ato da citação só nos casos consignados na lei é que é possível
ocorrerem modificações subjetivas (quando aos sujeitos) e modificações objetivas (quanto á causa de pedir
e ao pedido). Nos termos do artigo 262º alínea b), a instância pode modificar-se quanto às pessoas em
virtude dos incidentes da intervenção de terceiros. A nossa lei admite a intervenção principal (espontânea
e provocada) e a intervenção acessória. No nosso caso, visto que se deu uma preterição de litisconsórcio
necessário, o cônjuge preterido deve ser chamado a intervir para regularizar a instância. A intervenção
principal provocada pode verificar-se em todas as hipóteses previstas no artigo 316º, sendo que a situação
plasmada no nosso caso encontra solução no nº1 do preceito. Assim, nesta situação, admite-se uma
modificação subjetiva da instância, o que configura um desvio ao princípio da relativa estabilidade da
instância e Carlos deve provocar a intervenção de Felisberto que irá assumir o estatuto de parte principal.

3. Após ter elaborado o despacho que fixou os temas da prova, o juiz considerou relevante determinar a realização de
exames do DNA de Carlos e de Felisberto. Ser-lhe-á lícito ordenar oficiosamente essa diligência? (3 val.)

O artigo 596º do CC prevê o despacho proferido na fase intermédia pelo juiz que identifica o objeto do litígio e os termas da
prova. Os temas de prova são o elenco da matéria controvertida. Através do despacho que fica os temas da prova as partes
tomam conhecimento da matéria sobre a qual devem fazer recair o esforço de produzir prova. Esta peça traduz-se num guião
da atividade probatória tanto das partes como do juiz (do juiz porque este tem iniciativa instrutória). Ao abrigo do princípio do
inquisitório o juiz tem o dever de ordenar prova sempre que a considere pertinente para o apuramento da verdade. O juiz pode
determinar, a todo o tempo (até encerrada definitivamente a audiência final – artigo 607º) a realização da prova. No caso
concreto, a requisição do meio de prova – perícia médica – ocorreu ainda na fase subsequente aos articulados pois sucedeu-se
logo após o despacho que fixa os temas de prova. Nesse momento, após definir a matéria controvertida (factos não assentes) o
juiz apercebeu-se da importância da prova pericial. A prova pericial está regulados nos artigos 388º e 389º do CC bem como nos
artigos 467º a 489º do CPC. Na prova pericial o perito aprecia ou valora factos que exigem especiais conhecimentos
(técnicos, científicos ou artísticos) que o juiz não possui. Vejamos então: o juiz é o grande conhecedor de direito. Para o processo
as partes trazem determinados factos e o juiz vai aplicar esse direito aos factos trazidos pelas partes. Porém, sempre que a causa
justifique certos conhecimentos técnicos, científicos ou artísticos, o juiz ou as partes têm de requerer a prova pericial. A perícia
é, em regra, requerida a um estabelecimento, laboratório ou serviço oficial apropriado (artigo 467ºnº1), todavia, quando tal não
seja possível ou conveniente, a perícia é feita por único perito nomeado pelo juiz (ou mais do que um perito desde que verificados
os pressupostos do artigo 468º). O relatório que resulta da perícia deve ser apreciado livremente pelo tribunal (artigo 389º do
CC). A atuação do juiz é lícita ao abrigo do princípio do inquisitório, enquanto princípio que rege a atividade probatória.

4. Após ter ouvido os depoimentos de Carlos e da avó materna, o advogado de Berta quer reagir contra o facto de estes
serem totalmente contraditórios. Qual o expediente ao seu alcance? (3 val.)

Havendo contradição entre os depoimentos de testemunhas ou entre o depoimento destas e o


depoimento de parte, pode recorrer-se, a requerimento de qualquer uma das partes ou por determinação
do juiz á acareação. A acareação trata-se de um incidente probatório regulado nos artigos 523º e 524º.
Este incidente ocorre quando há duas versões opostas ou contraditórias sobre um facto controvertido (não
assente) e, como tal, pede-se novamente a presença de ambas as partes para as colocar lado a lado com
o propósito de perceber quem está a falsear a verdade. Assim, no caso concreto, havendo contradição
entre os depoimentos por parte de terceiros (depoimento testemunhal – artigo 498º e ss.) justifica-se o
recurso á acareação. Notese que, embora tais depoimentos estejam sujeitos ao princípio da livre
apreciação (artigo 607ºn5) só através deste incidente se conseguirá, ao colocar em confronto depoimentos
divergentes, determinar uma convicção segura sobre a realidade de factos relevantes para a resolução do
litígio.

II (7 valores)

Na petição inicial, Wilson invocou que cultiva e explora um prédio rústico há mais de vinte anos, sem interrupção, à vista e
com o perfeito conhecimento de toda a população. Argumentou também que Zulmira tem impedido o acesso ao terreno. Solicitou
que o Tribunal declarasse a existência do seu direito de propriedade sobre o bem.

Na contestação, a Ré impugnou os factos alegados pelo Autor e requereu que o Tribunal a declarasse única e exclusiva
proprietária do prédio, juntando para o efeito o testamento do qual consta o legado.

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Responda, de forma clara e fundamentada, às seguintes questões:

1. Pressuponha que o advogado de Wilson considera que a pretensão de Zulmira, formulada na contestação, não é
admissível por não existir nexo substantivo com o pedido do Autor (não obstante o Tribunal ser competente e não existirem
quaisquer obstáculos quanto à forma de processo). Que articulado deve apresentar para apresentar tais argumentos? Subscreve
o entendimento do advogado do autor? (4 val.)

Quando o réu deduz um pedido reconvencional ele pretende a satisfação de uma pretensão própria, aproveitando a
circunstância de ser réu para formular um pedido contra o autor do pedido inicial. Neste sentido, o autor do pedido
reconvencional (com o estatuto de réu relativamente ao pedido principal) toma a designação de reconvinte,
enquanto o réu, na reconvenção (autor quanto ao pedido principal) é o reconvindo. A nossa lei não admitiu a
formulação livre da reconvenção, assim esta só é admitida nos termos do artigo 266º. Entre o pedido principal e o
pedido reconvencional têm de existir alguma das conexões substantivas previstas nas alíneas do nº2 do artigo 266º.
Então, o réu não pode aproveitar a posição de réu para deduzir qualquer pedido. A economia processual, razão de
ser da admissibilidade do pedido reconvencional só será atingida quando se discutem, simultaneamente, causas que
têm algum “nexo” material. No caso sub judice está assegurada a conexão substantiva visto que ambas as partes
pretendem obter o mesmo efeito jurídico. O autor, no pedido inicial, intenta uma ação se simples apreciação positiva
com o objetivo de ser declarada a existência de um direito, e o pedido reconvencional pretende obter o mesmo
efeito jurídico. Wilson deve apresentar a réplica. A réplica é o articulado através do qual o autor responde á
contestação do réu. A réplica não é livre, só sendo admitida em determinados casos (584º). Tal significa que o nosso
legislador quis restringir a admissibilidade da réplica. Ora, a réplica só se admite nos processos em que o réu tiver
formulado um pedido reconvencional ou se ação for de simples apreciação negativa. No caso em apreço, visto que
houve a formulação de um pedido reconvencional, admite-se a réplica. Note-se que, se não for admitida réplica e o
autor quiser responder a exceções poderá fazê-lo na audiência prévia ou, no caso desta não ocorrer, na audiência
final. O prazo para apresentar a réplica é de 30 dias (585º), sendo equivalente ao prazo perentório que o réu tem
para contestar os factos constantes da petição inicial.

2. Na sentença final, não obstante toda a prova produzida, o juiz ficou com dúvidas sobre a verificação da usucapião,
decretando a improcedência do pedido formulado por Wilson. Explicite a regra do ónus da prova aplicada (3 val.)

Depois do juiz tomar em consideração todos as provas produzidas, emanem ou não da parte que devia produzi-las (princípio
da aquisição processual – artigo 413º) e ter realizado ou ordenado todas as diligências para apurar a verdade (princípio do
inquisitório – artigo 411º) o juiz ficou com dúvidas insuperáveis sobre a verificação da usucapião. Porém, o juiz não se pode
abster de julgar. Nesta hipótese, o nosso legislador criou uma válvula de escape ao juiz que se traduz nos critérios de submissão
do ónus da prova. As regras do ónus da prova estão presentes nos artigo 342º e ss. do CC. Neste sentido, o non liquet do juiz
converte-se num liquet contra a parte sobre quem recai o ónus da prova. No caso concreto, o autor não tinha apenas o ónus de
alegar os factos constitutivos da sua pretensão fundada na aquisição originária (artigo
5ºnº1), o autor tinha o ónus de os provar (artigo 342º do CC). Deste modo, na fundamentação de facto da sentença, o juiz terá
aplicado a norma geral constante do nº1 do artigo 342º do CC, o qual determina que o ónus de prova dos factos constitutivos
recai sobre aquele que alega o direito, decidindo desfavoravelmente a Wilson.

30 de Junho de 2018

I (10)

António intentou contra B (empresa distribuidora de energia elétrica) ação declarativa em que invocou que, a cerca de 6
metros da sua casa de habitação, se encontra implantado, num prédio rústico (que é propriedade da Ré), um poste de média
tensão, cujo funcionamento causa ruído e cria campos magnéticos que perturbam o sono e a saúde de António. Requereu que
a Ré fosse condenada a retirar o referido poste e a pagar ao Autor €20.000 a título de danos não patrimoniais.

A Ré contestou invocando que as emissões magnéticas respeitam os parâmetros legais e que desconhece se o funcionamento
do referido poste causa barulho.

Responda, de forma clara e fundamentada, às seguintes questões:

1.Classifique a defesa da Ré. (3 val.)

Há duas grandes modalidades de defesa que integram a contestação: defesa por impugnação (de facto ou de direito) e
defesa por exceção (dilatória ou perentória). Impugnar significa contrariar o que o autor disse, isto é, o réu toma uma posição
definida perante os factos que o autor alegou na petição inicial. Na defesa por impugnação podemo-nos deparar perante uma

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impugnação de facto ou uma impugnação de direito. Tal significa que o réu ataca a realidade dos factos alegados pelo autor ou
o efeito jurídico que este pretende retirar daqueles. No caso concreto, a Ré diz que as emissões magnéticas respeitam os
parâmetros legais, assim, está a atacar o direito, as normas que o autor entende que se aplicam no litígio. A Ré reconhece a
factualidade mas nega as consequências jurídicas pretendidas pelo autor, isto é, sustentou que da factualidade alegada, não se
podia retirar o efeito jurídico indemnizatório pretendido pelo Autor.
A Ré defende-se também dizendo que desconhece se o funcionamento do referido poste causa barulho. A lei atribui um
sentido decisivo a esta declaração de desconhecimento. Quando o réu alega desconhecer se um determinado facto é real ou
não, se estiver em causa um facto pessoal de que a Ré devia ter conhecimento, têm-se o facto como confessado, ou seja,
assente (não controvertido). Assim, não basta para se exercer o ónus de impugnar dizer que se desconhece. Estamos,
portanto, perante uma confissão ficta. Apenas se se tratar de um facto não pessoal é que o desconhecimento invocado na
contestação vale como impugnação. Nos termos do artigo 574º, sobre o réu recai o ónus de se pronunciar sobre os factos
que integram a causa de pedir alegada pelo autor. Neste sentido, o réu deve tomar posição definida perante os factos
constantes da petição inicial (nº2). Assim, os factos não impugnados consideram-se admitidos por acordo, isto é, assentes.
Por sua vez, os factos impugnados consideram-se controvertidos (não assentes). Logo, se estes factos não contestados ou
não impugnados se consideram assentes, não será necessária a produção de meios de prova para demonstrar a sua realidade,
uma vez que já estão verificados. Acrescente-se que há determinados sujeitos que têm o estatuto de réu, mas estão
desonerados do ónus de impugnar (nº4 artigo 574º).

2.Admita que, numa outra ação proposta por um sujeito diverso, a Ré tinha requerido prova pericial e que no relatório os
peritos declararam que este tipo de postes não implicava qualquer risco para a saúde. Poderá a Ré fazer uso desse meio de
prova na presente acção? (3 val.)

A atividade probatória começa desde logo pelos meios de prova que cada uma das partes deve indicar nos seus
articulados. Berta na contestação indicou como meio de prova de que se quer fazer valer a prova pericial. Notese
ainda que, não obstante a invocação dos requerimentos probatórios na fase dos articulados, na fase intermédia as
partes podem alterar os seus requerimentos probatórios para os adequar às necessidades probatórias que resultem
do despacho que fixa os temas de prova (que assenta nos factos controvertidos).
Na prova pericial (artigo 388º do CC e 467º do CPC) o perito aprecia ou valora factos que exigem especiais
conhecimentos (técnicos, científicos ou artísticos) que o juiz não possui. Vejamos então: o juiz é o grande conhecedor
de direito. Para o processo as partes trazem determinados factos e o juiz vai aplicar esse direito aos factos trazidos
pelas partes. Porém, sempre que a causa justifique certos conhecimentos técnicos, científicos ou artísticos, o juiz ou
as partes têm de requerer a prova pericial. Neste caso, foi o autor que requereu a prova pericial. Porém, está em
causa o valor extraprocessual de um relatório pericial. Nos termos do artigo 421º do CPC, o princípio do valor extra
processual das provas permite que os depoimentos e perícias possam ser utilizadas contra a mesma pessoa num
outro processo. Admitindo que a prova pericial foi utilizada numa outra ação proposta por um sujeito diverso. Com
efeito, a Ré não podia fazer valer-se deste meio de prova pois António não interveio no processo anterior. A lei exige
que seja contra a mesma parte. Ou seja, a parte, a quem provavelmente vai ser desfavorável o resultado da prova,
deve ter a possibilidade de acompanhar a produção da prova (constituenda) ao abrigo do princípio do contraditório
(artigo 415ºnº2) o que no caso sub judice não sucedeu. Note-se que, não obstante o artigo 421º apenas nos falar do
depoimento e das perícias devemos incluir as verificações não judicias qualificadas (meio de prova novo, surgiu em
2013) desde que sejam apresentadas contra um sujeito que já intervém num processo anterior. Contrariamente, o
valor extraprocessual da prova não se aplica nem á prova por inspeção judicial nem á prova documental. Vejamos:
relativamente ás inspeções judiciais, sendo este um meio de prova que interfere diretamente na convicção daquele
juiz, as suas perceções (subjetivas e pessoais) não podem vincular um outro juiz de uma outra causa; relativamente
á prova documental (pré-constituída), não se justifica a aplicação deste valor processual pois esta pode circular entre
vários processos sem que se ponha em causa o seu maior ou menor valor.

3. Suponha que o juiz fica em situação de dúvida insanável quanto ao facto de o poste eléctrico ter sido causa dos danos
não patrimoniais invocados por António. Em que sentido deve decidir? (4 val.)

Na fase da sentença final (artigo 607º) depois do juiz tomar em consideração todos as provas produzidas, emanem ou
não da parte que devia produzi-las (princípio da aquisição processual – artigo 413º) e ter realizado ou ordenado todas as
diligências para apurar a verdade (princípio do inquisitório – artigo 411º) o juiz ficou com dúvidas insuperáveis quanto á
verificação dos danos não patrimoniais invocados pelo António. Porém, o juiz não se pode abster de julgar. Nesta hipótese,
o nosso legislador criou uma válvula de escape ao juiz que se traduz nos critérios de submissão do ónus da prova. As

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regras do ónus da prova estão presentes nos artigo 342º e ss. do CC. Neste sentido, o non liquet do juiz converte-se num
liquet contra a parte sobre quem recai o ónus da prova. Ou seja, o juiz deve recorrer ás regras do ónus da prova como
regras de decisão e verificar sobre quem recai este ónus da prova. No caso concreto, António tinha de provar todos os
factos que integravam a causa de pedir de onde emergia o pedido indemnizatório baseado em responsabilidade
extracontratual. Para haver indemnização de danos não patrimoniais, o autor tem de provar os factos constitutivos do
seu direito. Nos termos do artigo 483º do CC, para haver responsabilidade civil extracontratual tem de haver um facto
ilícito, culpa e um nexo de causalidade entre o facto ilícito e os danos invocados. Vejamos, António não conseguiu provar
os factos constitutivos do direito de que se arroga (os requisitos da responsabilidade civil extracontratual). Então, o juiz
na fundamentação de facto da sentença (nº4 do artigo 607º) deve aplicar o nº1 do artigo 342º do CC, decidindo
desfavoravelmente contra o António pois esse não demonstrou um dos factos constitutivos: o nexo de causalidade entre
o ruído e as emissões magnéticas e os danos alegadamente sofridos.

II

(10 valores)

Felisberto intentou ação declarativa contra Bernardo, requerendo a condenação deste a reconhecer a existência de uma
servidão de passagem de pé e carro, sobre o terreno do Réu que teria sido adquirida (com base em usucapião) a favor do prédio
do Autor.

Na contestação, o Réu alegou que se verificava a exceção de caso julgado, pois Felisberto propôs ação idêntica em que
requeria que fosse declarada a existência da (mesma) servidão de passagem, tendo, então, sido proferida decisão de
improcedência que já transitou em julgado.

Foi convocada oportunamente audiência preliminar.

Responda, de forma clara e fundamentada, às seguintes questões:

1. Admita que o Autor quer responder à exceção de caso julgado alegada pelo Réu, sustentando que esta não pode proceder,
pois, embora os sujeitos sejam idênticos, a ação anterior fundou-se, não em usucapião, mas num contrato constitutivo da
servidão (cfr. artigo 1547.º do Código Civil), cuja celebração o Tribunal considerou não provada. Em que momento terá o Autor
possibilidade de responder à referida exceção? Se fosse juiz considerava a exceção procedente? (4 val.)

Uma vez que não foi formulado um pedido reconvencional, nem a ação versa sobre uma declaração de simples apreciação
negativa, não é admita réplica. Assim, o autor não pode responder á exceção através deste articulado eventual (a réplica) tendo
em conta que o nosso legislador quis restringir a admissibilidade da réplica (artigo 584º). Em nome do princípio do contraditório
o autor pode responder às exceções alegadas pelo réu na audiência prévia ou se esta não ocorrer na audiência final. Porém, os
nossos tribunais têm sido muito flexíveis e ao abrigo da gestão processual e da adequação processual têm frequentemente
admitido um terceiro articulado inominado para responder às exceções.
Ao defender-se por via de uma exceção dilatória – invocação do caso julgado material – o réu pretende invocar um obstáculo
processual que obsta á apreciação do mérito da causa. Esta exceção dilatória prevista no artigo 577º/i visa prevenir decisões
de mérito e repetidas sobre a mesma controvérsia. Note-se que apenas quando se forma caso julgado material (e não formal)
é que a decisão transitada em julgado adquire força dentro e fora do processo. Ora, para haver caso julgado material o juiz tá
tem de ter conhecido do mérito da causa. Se o juiz apenas tivesse conhecido sobre questões processuais, depois de transitada
em julgado a sentença, esta adquiriria força de caso julgado formal. Assim, nesta hipótese, nada obstaria a que o autor
intentasse uma nova ação com o mesmo objeto visto que este nunca tinha chegado a ser apreciado. Voltando á resolução do
caso, para ser procedente a exceção do caso julgado material impõe-se que haja uma tríplice identidade quando aos sujeitos,
causa de pedir e pedido. No caso sub judice há identifica física das partes, o pedido é o mesmo (declaração da existência de
um direito), no entanto a causa de pedir é diversa. Enquanto que na primeira ação o facto jurídico de onde emergiu a pretensão
se baseava na celebração de um contrato, na presente causa, o pedido do autor emerge de uma aquisição originária do direito
real limitado (usucapião). Em suma, não se verificava qualquer impedimento ao conhecimento do mérito da causa e o juiz devia
considerar a exceção de caso julgado material improcedente no despacho saneador na medida em que já dispunha de
elementos suficientes para sobre ela se pronunciar (artigo 591º/1/ a e d; 595º nº1/a)

2.Na fase intermédia, o juiz apercebeu-se de que Felisberto tinha sido declarado inabilitado e de que não estava assistido
por um curador. Que despacho deve proferir? (3 val.)

Estamos na fase subsequente aos articulados, isto é, na fase intermédia (antigamente denominada fase do
saneamento e condensação).

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O juiz, em regra, só tem acesso aos autos nesta fase, ou seja, finda a fase dos articulados. Este é um momento crucial para
delinear e preparar as fases seguintes (audiência final e sentença). Esta fase intermédia está regulada a partir do nº2 do artigo
590º visto que o nº1 do mesmo preceito trata daqueles casos em que há intervenção liminar do juiz.
O juiz á luz da gestão processual (artigo 6ºnº2) deve proferir o despacho pré-saneador.
Desde logo, este despacho pré-saneador serve para o juiz regularizar a instância, sendo este um momento crucial para o juiz
averiguar se a instância está regularmente constituída (se estão verificados todos os pressupostos processuais). Ora, este
despacho pré-saneador destina-se a suprir/sanar falta de pressupostos processuais, isto é, tem de estar em causa vícios
processuais suscetíveis de sanação. No nosso caso, o juiz apercebeu-se que Felisberto tinha sido declarado inabilitado. Com
efeito, apercebeu-se da falta de capacidade judiciária – que é uma exceção dilatória sanável - consubstancia a falar de um
pressuposto processual relativo ás partes, de conhecimento oficioso, suscetível de ser sanada nos termos dos artigos 16º e 27º.

3. Após ter tomado conhecimento dos temas da prova, Felisberto pretende alterar o seu requerimento probatório,
requerendo uma inspecção judicial ao local. Poderá fazêlo? (3 val.)

A atividade probatória começa desde logo pelos meios de prova que cada uma das partes deve indicar nos seus
articulados. Não obstante a invocação dos requerimentos probatórios na fase dos articulados, na fase intermédia as
partes podem alterar os seus requerimentos probatórios para os adequar às necessidades probatórias que resultem
do despacho que fixa os temas de prova (que assenta nos factos controvertidos). Ora, na audiência prévia, após
debato contraditório com as partes, o juiz elabora o despacho que fixa os temas de prova e o objeto do lítigio. Estes
temas identificam, com maior ou menos minúcia, a matéria sobre a qual subsiste controvérsia, isto é, permite-se
com esta peça processual que o autor tome conhecimento do esforço probatório que terá de fazer para demonstrar
a verdade dos factos constitutivos que ainda não estão assentes. Com efeito, o autor pode alterar/acrescentar o
elenco de meios de prova que já teve oportunidade de requerer na petição inicial. Esta peça traduz-se num guião da
atividade probatória tanto das partes como do juiz (do juiz porque este tem iniciativa instrutória). Ao abrigo do
princípio do inquisitório o juiz tem o dever de ordenar prova sempre que a considere pertinente para o apuramento
da verdade. O juiz pode determinar, a todo o tempo (até encerrada definitivamente a audiência final – artigo 607º)
a realização da prova. Neste contexto, Felisberto pretende requerer a inspeção judicial (artigo 390º e 3921 do CC e
artigos 490º a 493º do CC). A prova por inspeção judicial é a prova direta por excelência e um meio privilegiado de
formação da convicção do juiz pois, ele próprio, vai inspecionar coisas, lugares ou pessoas. O juiz, ao abrigo do
princípio do contraditório tem que se fazer acompanhar dos advogados das partes para que estas possam assistir a
sua inspeção.
Em 2013 o nosso legislador considerou que nem sempre fazer o juiz sair do tribunal era benéfico para o bom
funcionamento da justiça. Então, resolveu prever um novo meio de prova: verificações não judiciais qualificados
(artigo 494º). Neste novo meio de prova, o juiz em vez de ele próprio realizar a inspeção judicial, delega num terceiro
essa atividade de inspeção. O juiz não pode recorrer a este meio de prova sempre que seja legalmente admissível a
inspeção judicial. Ora, só é admissível o recurso a este meio de prova quando estejam em causa matérias facilmente
apreensíveis e que não envolvam grande complexidade. Tal significa que o juiz deve ter em conta a natureza da
matéria sujeita a perceção e delegar num técnico ou numa pessoa qualificada a inspeção (de coisas ou lugares)
somente quando as constatações a retirar sejam de fácil apreensão. Do recurso a este meio de prova irá resultar um
relatório, elaborado pelo terceiro no qual o juiz delegou a função de inspeção. Este relatório deve ser apreciado á luz
do princípio da livre apreciação (salvo se as atestações constarem de documento emanado de autoridade pública).
Em suma, sendo requerida a inspeção judicial, o juiz deve deslocar-se até ao local para inspecionar os sinais visíveis
e permanentes da alegada passagem a pé e carro, cuja demonstração favorecerá a procedência da causa.

Exame 9 de junho de 2016


Caso Prático I
Gertrudes intentou uma ação de condenação contra Bártolo (advogado), sustentando que este tinha cumprido
defeituosamente o contrato de mandato judicial (no âmbito de um processo que terminou em Março deste ano).
Alegou que teve conhecimento que, no dito processo, não foi interposto um recurso, apesar de ser admissível, e de que
o rol de testemunhas não foi apresentado no tempo devido, factos que causaram a perda da ação. Requereu o ressarcimento dos
danos causados.
Na 1.ª parte da contestação, Bártolo alegou que, no dito processo, tinha procedido à indicação das testemunhas de
forma atempada e que não se sabia se tinha, ou não, interposto o recurso. Invocou a incompetência territorial do tribunal onde
a ação foi proposta.

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Na 2.ª parte da contestação, afirmou que Gertrudes tinha lesado o seu bom nome, junto de um círculo comum de
amigos, ao comentar, de forma reiterada, durante e após o dito processo, os problemas pessoais de Bártolo devido ao alcoolismo.
Solicitou a condenação de Gertrudes no pagamento de uma indemnização por danos morais.
Houve réplica. Em momento oportuno, o juiz marcou audiência prévia.
Responda, de forma clara e fundamentada, às seguintes questões:
1. Classifique a defesa do réu na 1.ª parte da contestação
Na 1.ª parte da contestação, Bártolo alegou que, no dito processo, tinha procedido à indicação das testemunhas de
forma atempada e que não se sabia se tinha, ou não, interposto o recurso. Invocou a incompetência territorial do tribunal onde
a ação foi proposta.

O réu tem de tomar posição definida sobre os factos constantes da petição inicial, sob pena de os factos (alegados pelo
autor) serem (em regra) admitidos por acordo (art. 574º/1, 2 CPC). O réu impugnou de facto, de forma direta, quando negou
que não tivesse apresentado o rol de testemunhas de forma atempada (art. 571º/2, 1ª parte).
Também alegou que desconhecia que se tinha, ou não, interposto recurso. A lei atribui um sentido decisivo a esta
declaração de desconhecimento.
Como se trata de um facto pessoal ou de que o réu deve ter conhecimento (o réu era o advogado da causa, por isso
tem ou deve ter conhecimento da tramitação da causa e dos atos processuais a praticar), a sua declaração, no caso concreto,
equivale a confissão (art. 574º/3 CPC).
Também se defendeu por exceção dilatória – facto que obsta à apreciação do mérito da causa – quando a invocou a
incompetência territorial (art. 571º/2 e 577º/a) CPC).
Esta exceção só é de conhecimento oficioso nos casos previstos no art. 104º CPC e determina a remessa do processo
para o tribunal competente (art. 576º/2 e 578º CPC).

2. Relativamente à 2.ª parte da contestação, o juiz entendeu que não existia qualquer conexão substantiva entre o
pedido formulado na petição e a pretensão formulada pelo Bártolo. Concorda?
Na 2.ª parte da contestação, afirmou que Gertrudes tinha lesado o seu bom nome, junto de um círculo comum
de amigos, ao comentar, de forma reiterada, durante e após o dito processo, os problemas pessoais de Bártolo devido ao
alcoolismo. Solicitou a condenação de Gertrudes no pagamento de uma indemnização por danos morais.

O réu deduziu um pedido reconvencional, o qual se traduz na formulação de uma pretensão própria contra o autor do
pedido principal (reconvindo).

A admissibilidade da reconvenção não é livre, pois a lei impõe, entre outros requisitos, que exista alguma das conexões
previstas nas alíneas do art. 266º/2 CPC.

No caso concreto, não se verifica nexo algum, à luz das alíneas do art. 266º/2, que justificasse a admissibilidade da
reconvenção.
Quanto à possível pertinência da al. a) do art. 266º, anote-se que a reconvenção não deriva da causa de pedir que
fundamenta o pedido principal e também não emerge de qualquer facto impeditivo, modificativo ou extintivo alegado pelo réu.

O pedido principal emerge de um contrato de mandato (causa de pedir), versando sobre uma situação de
responsabilidade contratual. Os factos (constitutivos) da reconvenção preenchem um caso de responsabilidade extracontratual
por ofensa do bom nome.

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3. Alguns dias após ter apresentado a petição, Gertrudes teve conhecimento de que Bártolo tinha também faltado a
uma audiência prévia no referido processo. Tem interesse em alegar este facto na presente ação. Pode fazê-lo? De que modo?
Estava em causa um facto constitutivo, integrante e complementar da causa de pedir invocada na petição inicial
(fundada no cumprimento defeituoso do contrato de mandato judicial). Como se trata de um facto que já tinha ocorrido, mas
que o autor só teve conhecimento depois de ter apresentado a petição inicial, estamos perante uma hipótese de superveniência
subjetiva (art. 588º/2 CPC). Deve ser alegado na réplica (“articulado posterior” - 588º/1 CPC) (consta do enunciado que houve
réplica, por isso seria na réplica que o autor alegaria tal facto novo).
De qualquer modo, anote-se que a admissibilidade da réplica também decorreria da circunstância de ter sido deduzida
reconvenção e aquela servir para responder a esta (art. 584º/1 CPC).

Caso Prático II
Felisberto, comprador de um imóvel, intentou ação de anulação do contrato de compra e venda com fundamento em
erro sobre o objeto (artigo 251.º do Código Civil). Afirmou que o prédio tinha uma área (descoberta) muito inferior àquela que
constava das plantas. Na altura da celebração do contrato, não conseguiu, em virtude das obras, através do exame visual, ter a
noção exata da área do prédio. Sustentou que, se soubesse que a dimensão era muito inferior, não teria celebrado o negócio.
Na contestação, os vendedores alegaram que Felisberto teve acesso, por diversas vezes, ao imóvel (para acompanhar
as obras que estavam a ser realizadas) e assinalaram que nunca se tinham apercebido que este desse importância à dimensão
da área descoberta. Invocaram a caducidade, pois o Autor tinha conhecimento do erro há mais de um ano.
Responda, de forma clara e fundamentada, às seguintes questões:
1. Pressuponha que os réus estavam ausentes em parte incerta. Ambos juntaram procuração aos autos, mas apenas
um dos réus (Manuel) contestou. Quais as consequências da falta de contestação de Maria?
Os réus foram citados editalmente (estavam ausentes em parte incerta – art. 225º/6 CPC), mas a revelia de Maria é
relativa, pois deu sinal de si nos autos juntando procuração. De qualquer modo, a revelia de Maria não determina os efeitos do
art. 567º, pois a contestação de Manuel aproveita a Maria relativamente aos factos por ele impugnados (art. 568º/a e 574º CPC).
Estamos perante uma revelia inoperante. A ação segue os seus trâmites normais, terminando a fase dos articulados e passando-
se para a fase intermédia.
2. O tribunal solicitou a comparência pessoal do autor para depor na audiência final. Este recusou. Quais as
consequências de tal comportamento?
Ao abrigo do princípio do inquisitório, o juiz ordenou a produção de um meio de prova: o depoimento de parte (art.
411º e 452º CPC). O autor vai depor sobre factos pessoais ou de que deva ter conhecimento (art. 454º/1 CPC) e visa-se que a
parte confesse (reconheça a existência de factos que lhe são desfavoráveis e favoráveis à parte contrária – art. 352º CC). Como
o autor não colaborou para a descoberta da verdade (art. 417º/1 CPC), além de ser sujeito ao pagamento de uma multa por
desrespeitar este dever, a lei permite que o juiz tire ilações probatórias da conduta processual pouco colaborante do autor (art.
417º/2 CPC). Só em casos muito residuais, o comportamento do recusante gera a inversão do ónus de prova: quando a sua
recusa impossibilite ou dificulte a prova do facto a cargo da contraparte (art. 344º CC). No caso concreto, dificilmente ocorreria
uma inversão, pois além do depoimento de parte, podia ser produzida outra prova, como prova documental (apresentação das
plantas) e declarações de parte.
3. Admita que, na fase intermédia (fase do saneamento e condensação), com base nos elementos constantes dos autos,
o juiz considera que o prazo de propositura da causa já decorreu. Que despacho deve proferir?
A caducidade é um facto extintivo do direito do autor, consubstanciando uma exceção perentória (art. 576º/3 CPC).
Como estamos no âmbito de matéria que está na disponibilidade das partes, não é de conhecimento oficioso (art. 333º/2 CC).
Na fase intermédia, após ouvir as partes (o que sucederá na audiência prévia: art. 591º/1/b CPC), o tribunal fará um julgamento
antecipado da lide, decretando a absolvição do réu do pedido no despacho saneador com fundamento na exceção de caducidade
(art. 595º/1/b CPC). Este despacho tem o valor de sentença e uma vez, transitado em julgado, forma caso julgado material (art.
595º/3, in fine e 619º CPC).
4. Depois de toda a prova produzida, o tribunal ficou com dúvidas sobre a cognoscibilidade, por parte dos Réus, da
essencialidade da dimensão/área do prédio na formação da vontade de Felisberto. Como não pode abster-se de julgar, em que
sentido deve decidir?
A cognoscibilidade, por parte dos Réus, da essencialidade da dimensão do prédio consubstancia um facto constitutivo
do direito potestativo do autor (direito à anulabilidade do contrato), que tem de ser alegado e provado pelo Autor. Ou seja é um
pressuposto da norma jurídica (art. 247º, ex vi 251º CC) que alicerça a pretensão. Em caso de dúvida sobre a verificação de um
facto (após a análise crítica de toda a prova produzida – art. 607º/4 CPC), o juiz deve recorrer às regras do ónus de prova como

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“regras de decisão”. Nos termos do art. 342º/1 CC, o ónus de prova recai sobre o autor, pelo que o juiz devia dar o facto por não
provado (decidia, neste ponto, desfavoravelmente ao Autor).

Exame 5 de julho de 2016


Caso Prático III
António intentou contra Zulmira uma ação de resolução de um contrato de arrendamento de um imóvel com
fundamento na falta de uso do local arrendado durante mais de um ano (art. 1083º/2/d CC).
Na contestação, a Ré alegou que adoecera gravemente há cerca de um ano, tendo estado internada por diversas vezes
(art. 1072º/2/a CC). Afirmou também que, durante os primeiros meses do ano, estivera alojada em casa de familiares, pelo que
o não uso do locado devia ser considerado totalmente lícito.
Referiu, por outro lado, que, num outro processo comum declarativo, entretanto terminado, foi elaborado um relatório
médico com informações detalhadas sobre a sua doença.
Foi oportunamente convocada audiência prévia.
Responda, de forma clara e fundamentada, às seguintes questões:
1.O Autor pretende responder à contestação. Como e quando o deve fazer?
Zulmira defendeu-se por exceção perentória (art. 576º/3 CPC). A alegação do facto de a doença ter motivado e
justificada a ausência do imóvel consubstancia uma causa/facto impeditivo (art. 571º/2, in fine) que obsta a que o direito
potestativo de resolução do contrato de arrendamento se tenha constituído e seja considerado procedente. O autor não pode
responder na réplica, pois este articulado só é admitido quando há reconvenção ou a ação seja de simples apreciação negativa.
No caso concreto, não se verifica nenhuma destas hipóteses (art. 584º CPC). Logo, à luz do art. 3º/4, o Autor pode responder na
audiência prévia à exceção alegada pela Zulmira (no enunciado consta que foi oportunamente convocada a audiência prévia).
2.Pressuponha que a Ré não tinha apresentado contestação, nem dera qualquer sinal de si nos autos. O juiz verificou a
regularidade da citação e constatou que tinha havido erro na identidade da pessoa citada. Em seguida, ordenou a realização de
nova citação. Estará correto o procedimento adotado pelo juiz?
Se a Ré não contestar, nem intervier de qualquer modo nos autos, incorre em revelia absoluta. O juiz deve verificar a
regularidade do ato da citação como impõe o art. 566º CPC. O erro na identidade do citado gera um vício da citação que a lei
denomina “falta de citação” (art. 188º/1/b CPC), pelo que o juiz agiu corretamente ao mandar repetir a citação.
3. Poderá o relatório médico, mencionado por Zulmira, ser junto, por esta, na presente ação de resolução do contrato
de arrendamento?
O perito aprecia ou valora factos que exigem especiais conhecimentos especiais (técnicos, científicos ou artísticos) que
o juiz não possui (art. 388º CC e art. 467º ss. CPC). O relatório médico é uma prova pericial. Ao abrigo do princípio de direito
probatório consagrado no art. 421º CPC, Zulmira podia invocar esse meio de prova neste processo, desde que fosse contra a
mesma parte (valor extraprocessual da prova).
4. O juiz ficou com dúvidas, após produção de toda a prova, sobre o facto de a doença da Ré ter causado a ausência da
habitação arrendada, decidindo desfavoravelmente a esta parte (Zulmira). Concorda?
O juiz decidiu corretamente. Neste caso, o ónus de prova recaía sobre Zulmira, pois competia-lhe demonstrar que a
ausência do arrendado se devia à sua doença. Se provasse esta factualidade, demonstrava a licitude do não uso do bem
arrendado (facto que impedia a procedência do direito do autor). Como o juiz ficou com dúvidas, aplicou, como regra de decisão,
a regra geral do ónus de prova prevista no art. 342º/2 CC, proferindo decisão desfavorável a Zulmira.

Caso Prático IV
José requereu a condenação de Maria na restituição da autocaravana que lhe tinha dado em comodato e no pagamento
de uma indemnização, no valor de três mil euros, pelos danos causados nos bens móveis que faziam parte do recheio da
autocaravana.
Na contestação, Maria limitou-se a alegar que “José lhe tinha doado a autocaravana e que muita gente assistiu a este
gesto de amizade, pelo que a pretensão do autor não podia proceder”.
Responda, de forma clara e fundamentada, às seguintes questões:
1. Pressuponha que o juiz interveio na fase liminar e que se apercebeu, após leitura da petição, que já tinha julgado, no
mesmo tribunal, por decisão transitada, uma ação com os mesmos sujeitos e objeto. Identifique o despacho que o juiz proferiu.
O juiz deve proferir um despacho liminar, indeferindo liminarmente a petição inicial pela verificação da exceção de
caso julgado material, a qual é uma exceção dilatória insuprível (insanável) suscetível de ser conhecida oficiosamente (art. 577º/i,

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578º e 590º/1 CPC). Ocorre a exceção de caso julgado material quando se repete a causa (quanto aos sujeitos, causa de pedir e
pedidos) depois de a primeira ação já ter sido decidida por decisão transitada em julgado (art. 580º, 581º, 619º e 628º CPC).
2. Admita que, na fase intermédia, o juiz entendeu que a referência feita por Maria, quanto ao momento da doação,
era vaga e imprecisa. Que despacho deveria proferir?
Deve proferir um despacho pré-saneador destinado a convidar Maria a aperfeiçoar a sua contestação, suprindo as
insuficiências na exposição da matéria de facto mediante a alegação de factos complementares e concretizadores (art. 591º/2/b,
4, 5 e 6 CPC).
3. Durante a audiência final, José teve conhecimento de que o dano provocado num bem móvel (do recheio) era mais
elevado do que inicialmente tinha alegado. Pretende um aumento do pedido indemnizatório. Será viável processualmente?
A partir da citação devem manter-se estáveis os elementos essenciais da causa (causa de pedir, pedido e sujeitos), mas
a lei prevê diversos desvios (princípio da relativa estabilidade da instância). O art. 265º/2 CPC permite uma modificação do pedido
(em caso de falta de acordo das partes) até ao encerramento da discussão em 1.ª instância. José podia modificar o pedido,
ampliando-o, sendo que o novo pedido é o desenvolvimento do pedido primitivo (inicial).

Exame 8 de junho de 2018


Caso Prático V
Manuel intentou uma ação destinada a solicitar ao tribunal que condenasse a Sociedade Comercial Conimbricense a
pagar-lhe os serviços prestados, enquanto técnico informático, no valor de trinta mil euros.
Na contestação, o representante da Ré sustentou que a dívida já tinha sido paga. Alegou ainda que, na execução do
contrato de prestação de serviços, Manuel danificou vários programas de software, perturbando a atividade da empresa. Em
conformidade, requereu que Manuel fosse condenado a ressarcir os prejuízos causados no valor de vinte mil euros.
Responda, de forma clara e fundamentada, às seguintes questões:
1. É admissível réplica?
A réplica é um articulado eventual, apresentado pelo autor, que só é admissível nas situações pasmadas no artigo 584.º
do CPC: quando a ação for de simples apreciação negativa ou no caso de o réu ter deduzido reconvenção. No caso concreto, a
ação é condenatória, mas a Ré não alegou apenas uma exceção perentória (o pagamento é um facto extintivo do direito de
crédito do autor- artigos 571.º, n.º 2, in fine, e 576.º. n.º 3, do CPC), pois deduziu também um pedido reconvencional (artigo
583.º do CPC). Solicitou a condenação do Manuel no pagamento de uma indemnização pelo cumprimento defeituoso de
contrato de prestação de serviços.
A Ré não se limitou a ambicionar a improcedência da pretensão de Manuel, como pretendeu a satisfação de uma
pretensão própria. Este pedido reconvencional era admissível, pois emergia do facto jurídico que servia de fundamento à ação
(o contrato de prestação de serviços), sendo que ambas as pretensões seguiam a forma de processo comum (artigos 266.º, n.º
2, al. a), e n.º 3, 546.º e 548.º, do CPC). A réplica serviria para o autor expor toda a sua defesa quanto à reconvenção (artigo
584.º, n.º 1, do CPC), devendo ser apresentada no prazo de 30 dias (artigo 585.º do CPC). Uma vez que a réplica era admissível,
devia também aproveitar este articulado para responder à exceção perentória alegada.
2. Antes de apresentar a contestação, a Ré informou o seu advogado de que seria muito importante o depoimento de
Manuel, mas teve conhecimento de que este ia viajar para o Oriente e ficar lá pelos próximos meses. Se fosse advogado, que
diligências processuais requereria?
A Ré pretendia requerer o depoimento de parte (do autor). Trata-se de um meio de prova através do qual se pretende
obter o reconhecimento, por parte do depoente, de factos que lhe são desfavoráveis e favorecem a parte contrária (artigo 352.º
do CC e 452.º do CPC). Este meio de prova tem uma força probatória fixada na lei, ou seja é prova plena nos termos do artigo
358.º do CC. O requerimento probatório deveria ser feito na contestação (como decorre da al. d) do artigo 572.º do CPC), mas a
parte só iria depor na audiência final (artigo 604.º, n.º d), do CPC). Tendo em conta a probabilidade de Manuel estar ausente
nessa data, o advogado podia requerer o depoimento antecipado de Manuel à luz dos artigos 419.º e 420.º do CPC. Tal é possível
no caso de haver justo receio de vir a tornar-se impossível ou muito difícil a obtenção do depoimento no momento processual
em que normalmente em que a parte é ouvida.
3. Na sentença final, o tribunal absolveu a Ré do pedido pelo facto de se ter provado que a prestação de serviços já
tinha sido paga. Manuel entende que a decisão, uma vez transitada em julgado, forma caso julgado formal. Concorda?
Na sentença, o tribunal considerou provado o pagamento, ou seja a verificação de um facto extintivo que consubstancia
uma exceção perentória. O juiz conhece do mérito quando se pronuncia sobre uma exceção perentória (artigos 571.º, n.º 2, in
fine, e 576.º, n.ºs 1 e 3, do CPC). Esta decisão terá o valor de sentença e formará caso julgado material, com força dentro e fora
do processo, pelo facto de se tratar de uma pronúncia sobre o mérito da causa (um facto atinente à relação material
controvertida) (artigo 619.º do CPC). Tal significa que entre os mesmos sujeitos (de acordo com um critério de identidade jurídica-
artigo 581.º, n.ºs 1 e 2, do CPC) tornar-se-á indiscutível o pedido formulado fundado no contrato de prestação de serviços.

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Diversamente, o caso julgado formal ocorre quando o juiz se pronuncia sobre a relação processual (nomeadamente quando se
pronuncia sobre exceções dilatórias- artigo 576.º, n.º 2, do CPC), vinculando apenas o tribunal que a proferiu (artigo 620.º do
CPC).

Caso Prático VI
António intentou a presente ação declarativa contra Berta, pedindo a anulação do casamento realizado entre esta e
Carlos (seu pai, entretanto falecido).
Invocou o seguinte: a partir de certo momento, o pai precisou de ter algum apoio doméstico, o qual passou a ser
prestado pela Ré. Em 2017, começou a apresentar sinais de perturbação mental, não reconhecendo as pessoas íntimas, perdendo
o sentido da orientação e manifestando lapsos de memória. Em Janeiro de 2018, no mais completo segredo, seu pai contraiu
casamento com a Ré. Contudo, nessa data o seu pai estava notoriamente demente, incapaz de perceber os efeitos do ato de
casamento (artigos 1601.º, alínea b), e 1639.º, ambos do Código Civil).
Responda, de forma clara e fundamentada, às seguintes questões:
1. Admita que a Ré, citada na sua própria pessoa, não contestou. O Juiz entendeu que se verificava uma revelia
inoperante, tendo convocado as partes para uma audiência prévia. Subscreve o entendimento do Juiz e a convocatória para a
audiência prévia?
A Ré foi citada pessoalmente (artigo 225.º, n.º 2, do CPC) e está em revelia. Se não tiver dado sinal de si nos autos
(revelia absoluta), o artigo 566.º do CPC determina que o juiz aprecie a regularidade da citação. Se não houver irregularidade no
ato da citação (ou se estas forem sanadas porque o juiz mandou repetir a citação), o juiz deve considerar que ocorreu uma revelia
inoperante (não se aplicando, por conseguinte, os efeitos do artigo 567.º), uma vez que a ação de anulação do casamento versa
sobre direitos indisponíveis, sendo a vontade das partes ineficaz para atingir o efeito jurídico pretendido (a extinção do contrato
de casamento) (artigo 568.º, al. c)). Logo, terminará a fase dos articulados e o processo seguirá para as fases seguintes. Note-se,
porém, que, na fase subsequente, não há realização da audiência prévia (artigo 592.º, n.º 1, alínea a)), mas mantém-se a restante
atividade do juiz, nomeadamente a possibilidade de proferir um despacho pré-saneador – artigo 590.º, n.º 2 - e os despachos
judiciais discriminados no n.º 2 do artigo 593.º, ex vi n.º 2 do artigo 592.º. A instrução também será necessária pois os factos
alegados pelo autor não se consideram “confessados”.
2. Pressuponha que António juntou ao processo uma carta que o seu pai lhe tinha escrito pouco tempo antes de morrer,
onde evidenciava um estado de confusão mental. Berta alega que a carta não foi escrita por Carlos e pretende que seja feito um
exame à letra. Que meio de prova deve requerer?
A carta, junta ao processo por António, é um documento (artigo 423.º e ss. do CPC e artigo 373.º do Código Civil), prova
pré-constituída sobre o qual Berta se pronunciou, ao abrigo do princípio da audiência contraditória (artigo 415.º do CPC),
suscitando dúvidas em torno da autoria da letra. Para o efeito de apurar a veracidade da sua alegação pode requerer prova
pericial (artigos 467.º e 572.º al. d), ambos do CPC; e também artigo 388.º do Código Civil), pois a averiguação da genuinidade
da letra exige conhecimento especiais, de cariz técnico, que o juiz não possui. A perícia será requisitada pelo tribunal a
estabelecimento ou laboratório apropriado (artigo 467.º, nº1, do CPC), devendo o perito elaborar relatório, o qual será apreciado
livremente pelo tribunal (artigo 389.º do Código Civil).
3. Após a produção de prova, o Juiz ficou com dúvidas sobre a visibilidade e a notoriedade da demência de Carlos. Em
que sentido deve decidir?
António intentou uma ação de anulação do casamento, sendo que a demência notória (impedimento dirimente
absoluto) é a causa de pedir do direito potestativo à extinção do contrato de casamente entre seu pai (Carlos) e Berta (arrigo
1601.º, al. b) do Código Civil). Logo, se o juiz tiver dúvidas sobre um facto constitutivo (notoriedade/visibilidade da demência)
deve recorrer às regras do ónus de prova. As regras do ónus de prova, consagradas no Código Civil, consubstanciam regras de
decisão, permitindo que o juiz supere uma situação de non liquet no momento de proferir a sentença (artigo 607.º do CPC).
Determina o n.º 1 do artigo 342.º do CC que o ónus de prova dos factos constitutivos recai sobre aquele que alega o direito.
Como o direito potestativo à anulação foi alegado por António, é sobre que recai o ónus de prova dos factos constitutivos
essenciais que integram a causa de pedir.
Na fundamentação de facto da sentença (n.º 4 do artigo 607.º do CPC), o juiz vai considerar não provado o facto e, em
conformidade, decidir desfavoravelmente ao Autor.

Exame 1 de julho de 2017


Caso Prático VII
António intentou contra Beatriz uma ação de anulação do casamento com fundamento em erro sobre as qualidades
essenciais do outro cônjuge (art. 1636.º Código Civil). Na petição inicial, invocou que à data de celebração do casamento (20 de

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Setembro de 2016), desconhecia que Beatriz tinha apenas 15 anos de idade (art. 1601.º, a) Código Civil) e que apenas veio a ter
conhecimento de tal facto por ocasião da festa de aniversário de Beatriz (em 1 de Dezembro de 2016).
Na contestação, Beatriz alegou que António tinha perfeito conhecimento de que ela era menor de idade, tendo até
providenciado no sentido de falsificar o seu documento de identificação para que pudessem celebrar casamento. Invocou
igualmente que já tinha decorrido o prazo para propor a anulação do casamento com base em erro (art. 1645.º Código Civil).
Responda, de forma clara e fundamentada, às seguintes questões:
1. Caracterize a defesa da Ré.
No exercício do ónus de impugnar (art. 574º/1), Beatriz tomou uma posição definida perante os factos constitutivos
alegados por António, contrariando-os. A sua defesa foi uma defesa por impugnação de facto (art. 571º/1, 2, 1ª parte). Contudo,
não se limitou a negar, de forma frontal e direta, os factos, pois motivou e justificou a impugnação mediante a alegação do facto
de António ter providenciado a falsificação do documento de identificação. Deste modo, a defesa por impugnação assumiu as
vestes de uma “negação motivada” (ou também denominada impugnação de facto indireta).
Quando alegou a caducidade, defendeu-se por exceção perentória (exceção em sentido impróprio, de conhecimento
oficioso – art. 579º e art. 333º/1 CC) mediante a invocação de um facto extintivo do direito do autor (art. 571º/1 e 2, in fine e
576º/3). O decurso do prazo para intentar a causa, uma vez provado, gerava uma decisão de absolvição do réu do pedido.
2. Pressuponha que, na contestação, Beatriz solicitou que o casamento fosse anulado com base em coação, sustentando
que o casamento apenas foi celebrado porque ela se encontrava sob a ameaça de que, se não casasse com António, este divulgaria
informações que comprometiam o pai de Beatriz num escândalo de corrupção. O Tribunal entendeu que não existia qualquer
nexo substantivo entre esta pretensão reconvencional e o pedido principal. Concorda?
A reconvenção, enquanto pretensão autónoma, deduzida pelo réu, na contestação (art. 583º CPC) contra o autor do
pedido principal (art. 266º/1 CPC), é admitida desde que se verifique alguma das conexões substantivas do art. 266º/2 CPC. No
caso em análise, esse nexo existia, visto que a Reconvinte pretendia obter efeito jurídico equivalente ao do autor (a extinção do
contrato de casamento) (art. 266º/2/d CPC), embora cada uma das pretensões (a principal e a reconvencional) assentassem em
causas de pedir diversas: o pedido de António assentava no erro sobre as qualidades essenciais do outro cônjuge e o pedido
reconvencional emergia da coação moral.
3. Imagine que era o Juiz do processo e que, tendo tido acesso aos articulados apenas na fase intermédia, se deu, então,
conta da falta de capacidade judiciária da Ré. Que despacho proferia?
À luz da gestão processual (art. 6º/2), o juiz devia proferir um despacho-pré-saneador destinado a suprir a exceção
dilatória sanável (art. 590º/2/a). A falta de capacidade judiciária consubstancia a falta de um pressuposto processual relativo às
partes, de conhecimento oficioso (art. 578º), suscetível de ser corrigido mediante a citação do(s) representante(s) legítimos de
Beatriz (art. 15º, 16º, 27º e 577º/c).

Caso Prático VIII


Alegando ser titular de uma servidão de escoamento, com necessidade de escoar águas para o terreno de Carlos,
Bártolo demandou este último, sustentando que Carlos tinha tapado a extremidade de um tubo por onde escorria a água, o que
provocou o alagamento do seu prédio rústico, impedindo o seu cultivo. Bártolo terminou a petição inicial requerendo que o Réu
fosse condenado a desobstruir o tubo e a indemnizá-lo dos prejuízos causados. Cada uma das partes apresentou rol de
testemunhas e solicitou o depoimento da parte contrária.
Responda, de forma clara e fundamentada, às seguintes questões:
1. Se fosse juiz, que outro meio de prova, para além daqueles requeridos pelas partes, consideraria conveniente para
apurar o facto de o tubo estar obstruído?
Ao abrigo do princípio do inquisitório (art. 411.º), o juiz devia, ex officio, optar por um dos seguintes meios de prova: a
inspeção judicial (ao local) (art. 390º e 391º CC e art. 490º a 493º CPC), meio privilegiado de formação da convicção, ou
verificações não judiciais qualificadas (art. 494º). Sendo legalmente admissível a inspeção judicial, o juiz podia entender que tal
diligência se não justificava perante a simplicidade da matéria sujeita a perceção (ou seja, constatar se o tubo estava ou não
obstruído) e, nestas circunstâncias, podia incumbir um técnico ou uma pessoa qualificada de proceder a tais atos.
Nota: não se adequava ao caso a prova pericial, pois não estavam em causa factos cuja perceção exigisse especiais
conhecimentos especiais técnicos, científicos ou artísticos.
2. Admita que, na fase intermédia, o Tribunal entendeu que o Autor não invocou quaisquer factos constitutivos de
existência da servidão de escoamento, considerando a petição inepta. Que despacho irá proferir?
Estava em causa a falta de causa de pedir (factos essenciais de onde emerge a pretensão do autor – art. 5º/1), vício
que torna a petição inepta (art. 186º/2/a). Esta ineptidão gera a nulidade de todo o processo (art. 186º/1) consubstanciando
uma exceção dilatória (art. 577º/b), de conhecimento oficioso (art. 196º e 578º). Na fase subsequente aos articulados, o juiz

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REUNIDO POR ANA CAMACHO D.P.C II 2020/2021

devia proferir um despacho saneador, absolvendo o réu da instância pela verificação de uma exceção dilatória insanável (art.
576º/2), o qual, uma vez transitado em julgado, formava caso julgado formal (art. 595º/1/a, 3, 1ª parte e 620º).
3. Pressuponha que, estando o Réu ausente em parte incerta e tendo sido citado com todas as formalidades, não
contestou nem interveio de qualquer modo no processo. Quais as consequências desta revelia?
O réu foi citado editalmente, uma vez que se encontrava ausente em parte incerta (art. 225º/1, 6). Como não deu
qualquer sinal de si nos autos, incorreu em revelia absoluta. Neste circunstancialismo, o art. 566º determina que o juiz aprecie a
regularidade da citação (mas no enunciado diz-se que a citação foi feita com todas as formalidades essenciais, logo partia-se do
pressuposto que não tinha ocorrido qualquer irregularidade). Deste modo, só interessava apurar os efeitos da falta de
contestação.
No caso, a revelia era inoperante (não se aplicando, por conseguinte, os efeitos do art. 567º), uma vez que o réu foi
citado editalmente e permaneceu, até terminar o prazo da contestação, em revelia absoluta (art. 568º/b). Logo, terminará a fase
dos articulados e o processo seguirá para as fases seguintes. Note-se, porém, que, na fase subsequente, não há realização da
audiência prévia (art. 592º/1), mas mantém-se a restante atividade do juiz, nomeadamente a possibilidade de proferir um
despacho pré-saneador – art. 590º/2 - e os despachos judiciais discriminados no art. 593º/2, ex vi art. 592º/2. A instrução
também será necessária pois os factos alegados pelo autor não se consideram “confessados”.
4. Imagine que, na audiência final, uma testemunha de Carlos relatou que, há cerca de um mês, passou junto ao prédio
rústico de Bártolo e reparou na enorme plantação de milho. No seu depoimento, Bártolo afirmou que nunca cultivou milho nesse
prédio. Se fosse advogado de Carlos, a que mecanismo processual recorreria em prol do apuramento da verdade?
Se fosse advogado de Carlos, requeria a acareação entre a testemunha e a parte (Bártolo). Trata-se de um incidente
da prova testemunhal (art. 523º e 524º) que se justifica perante a contradição entre os depoimentos de terceiros (testemunhas)
ou entre um depoimento de parte e um depoimento testemunhal, afigurando-se a diligência útil à descoberta da verdade. Estava
em confronto o conteúdo do depoimento de parte (Bártolo), (meio de prova regulado nos art. 452º ss.) e aquele prestado por
terceiro (depoimento testemunhal, regulada nos art. 498º ss.).

Exame 30 de junho de 2018


Caso Prático IX
António intentou contra B (empresa distribuidora de energia elétrica) ação declarativa em que invocou que, a cerca de
6 metros da sua casa de habitação, se encontra implantado, num prédio rústico (que é propriedade da Ré), um poste de média
tensão, cujo funcionamento causa ruído e cria campos magnéticos que perturbam o sono e a saúde de António. Requereu que a
Ré fosse condenada a retirar o referido poste e a pagar ao Autor €20.000 a título de danos não patrimoniais.
A Ré contestou invocando que as emissões magnéticas respeitam os parâmetros legais e que desconhece se o
funcionamento do referido poste causa barulho.
Responda, de forma clara e fundamentada, às seguintes questões:
1. Classifique a defesa da Ré.
A Ré tinha o ónus de tomar posição definida sobre os factos que integram a causa de pedir, sob pena de os factos
(alegados pelo Autor) serem, em regra, admitidos por acordo (artigo 574.º, n.ºs 1 e 2, do CPC). A Ré impugnou de direito, quando
admitiu a existência de emissões magnéticas, mas sustentou que estas respeitavam os parâmetros legais. Ou seja, sustentou
que, da factualidade alegada, não se podia retirar o efeito jurídico indemnizatório pretendido pelo Autor (artigo 574.º, n.º 2, 1.ª
parte). Também alegou que desconhecia o barulho causado pelo funcionamento do poste. A lei atribui um sentido decisivo a
esta declaração de desconhecimento. Como se trata de um facto pessoal ou de que a Ré deve ter conhecimento (as emissões
causadas pelo poste, e a observância dos parâmetros fixados na lei, consubstanciam circunstâncias que a Ré deve conhecer e
controlar), a sua declaração, no caso concreto, equivale a uma confissão ficta (artigo 574.º, n.º 3, do CPC).
2. Admita que, numa outra ação proposta por um sujeito diverso, a Ré tinha requerido prova pericial e que no relatório
os peritos declararam que este tipo de postes não implicava qualquer risco para a saúde. Poderá a Ré fazer uso desse meio de
prova na presente ação?
Está em causa o valor extraprocessual de uma perícia, ou seja o aproveitamento de um meio de prova produzido num
outro processo. No relatório pericial constam apreciações ou valorações de factos que exigem especiais conhecimentos especiais
(técnicos, científicos ou artísticos) que o juiz não possui (artigo 388.º do Código Civil e artigos 467.º ss. do CPC). Ao abrigo do
princípio plasmado no artigo 421.º do CPC, a Ré não podia fazer-se valer desse meio de prova, pois António não interveio no
processo anterior. A lei exige que seja contra a mesma parte. Ou seja, a parte, a quem provavelmente vai ser desfavorável o
resultado da prova, deve ter tido a possibilidade de acompanhar a produção da prova (constituenda) ao abrigo do princípio da
audiência contraditória (artigo 415.º, n.º 2, 1.ª parte), o que no caso sub judice não sucedeu.

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3. Suponha que o juiz fica em situação de dúvida insanável quanto ao facto de o poste elétrico ter sido causa dos danos
não patrimoniais invocados por António. Em que sentido deve decidir?
Na fase da sentença (artigo 607.º do CPC), depois da produção de prova (requerida pelas partes ou determinada
oficiosamente), o juiz pode ter ficado com dúvidas insuperáveis sobre o nexo causal, mas não pode abster-se de julgar. Neste
circunstancialismo, deve recorrer às regras do ónus de prova como regras de decisão. No caso concreto, o autor tinha o ónus de
alegar e de provar todos os factos que integravam a causa de pedir complexa de onde emergia o pedido indemnizatório baseado
em responsabilidade extracontratual. Isto é, sobre ele recaia ónus de prova da lesão culposa dos direitos ao repouso e descanso
e do nexo de causalidade entre o facto ilícito e os danos invocados (artigo 483.º do Código Civil). Deste modo, na fundamentação
de facto da sentença (n.º 4 do artigo 607.º), o juiz devia aplicar o n.º 1 do artigo 342.º do Código Civil. Ou seja, o juiz vai decidir
desfavoravelmente a António, considerando que não ficou demonstrado um dos factos constitutivos: o nexo de causalidade
entre o ruído e as emissões magnéticas e os danos alegadamente sofridos por António.

Caso Prático X
Felisberto intentou ação declarativa contra Bernardo, requerendo a condenação deste a reconhecer a existência de
uma servidão de passagem de pé e carro, sobre o terreno do Réu que teria sido adquirida (com base em usucapião) a favor do
prédio do Autor.
Na contestação, o Réu alegou que se verificava a exceção de caso julgado, pois Felisberto propôs ação idêntica em que
requeria que fosse declarada a existência da (mesma) servidão de passagem, tendo, então, sido proferida decisão de
improcedência que já transitou em julgado.
Foi convocada oportunamente audiência preliminar.
Responda, de forma clara e fundamentada, às seguintes questões:
1. Admita que o Autor quer responder à exceção de caso julgado alegada pelo Réu, sustentando que esta não pode
proceder, pois, embora os sujeitos sejam idênticos, a ação anterior fundou-se, não em usucapião, mas num contrato constitutivo
da servidão (artigo 1547.º do Código Civil), cuja celebração o Tribunal considerou não provada. Em que momento terá o Autor
possibilidade de responder à referida exceção? Se fosse juiz considerava a exceção procedente?
À luz do n.º 4 do artigo 3.º, Felisberto pode responder à exceção, alegada por Bernardo, na audiência prévia para a
qual as partes foram convocadas (enunciado). O Autor não podia ter respondido na réplica, pois este articulado não é admissível,
uma vez que não foi formulada reconvenção nem a ação proposta constituía uma ação de simples apreciação negativa (artigo
584.º do CPC). Ao abrigo do princípio da adequação formal (artigo 547.º), o tribunal também podia admitir um articulado
inominado de resposta à exceção de caso julgado material, antes (mesmo) da realização da audiência prévia.
A invocação da exceção de caso julgado material – uma exceção dilatória (artigo 577.º, al. i) e 580.º, n.º 1) – visa
prevenir decisões de mérito contraditórias e repetidas sobre a mesma controvérsia. Contudo, no caso concreto, não estavam
verificados os pressupostos deste impedimento processual/obstáculo ao conhecimento do mérito. Em conformidade com o
artigo 581.º, repete-se uma causa quando há identidade de sujeitos, da causa de pedir e do pedido. Os sujeitos são idênticos (no
caso verifica-se uma identidade física), o pedido é o mesmo (reconhecimento da existência de uma servidão a onerar o prédio
do Ré). No entanto, cada uma das ações fundou-se em diversa causa de pedir (facto constitutivo). Na primeira ação, o facto
jurídico, de onde emergiu a pretensão, foi a alegada celebração de um contrato, enquanto na presente causa, o pedido do Autor
emerge de uma aquisição originária (usucapião) (artigo 581.º, n.º 4). Em suma, não se verificava qualquer impedimento ao
conhecimento do mérito da presente causa, devendo o juiz considerar a exceção de caso julgado material improcedente no
despacho saneador, na medida em que já dispunha de elementos para sobre ela se pronunciar [artigos 591.º, n.º 1, al. b), d), e
595.º, n.º 1, al) a].
2.Na fase intermédia, o juiz apercebeu-se de que Felisberto tinha sido declarado inabilitado e de que não estava assistido
por um curador. Que despacho deve proferir?
À luz da gestão processual (artigo 6.º, n.º 2), o juiz devia proferir um despacho-pré-saneador destinado a suprir a
exceção dilatória sanável [artigo 590.º, nº2, al. a)]. A falta de capacidade judiciária consubstancia a falta de um pressuposto
processual relativo às partes, de conhecimento oficioso (artigo 578.º), suscetível de ser sanada mediante o instituto da assistência
(intervenção do curador do incapaz – sobretudo artigos 16.º e 27.º).
3. Após ter tomado conhecimento dos temas da prova, Felisberto pretende alterar o seu requerimento probatório,
requerendo uma inspeção judicial ao local. Poderá fazê-lo?
Na audiência prévia, após debate contraditório com as partes, o juiz elabora o despacho que fixa os temas da prova e
identifica o objeto do litígio (artigo 591.º, n.º 1, al. f), e artigo 596.º). Estes temas identificam, com maior ou menor minúcia, a
matéria sobre a qual subsiste controvérsia (factos controvertidos), factualidade sobre a qual recairá a instrução (artigo 410.º).
Logo, esta peça processual vai permitir que o autor tome conhecimento do esforço probatório que terá de fazer para demonstrar
a verdade dos factos constitutivos que ainda permanecem controvertidos, alterando/acrescentando o elenco de meios de prova
que já teve oportunidade de requerer na petição inicial (artigo 552.º, n.º 2). A lei permite-lhe, por conseguinte, alterar o
requerimento probatório na audiência prévia (artigo 598.º, nº1), e pelo enunciado do caso sabemos que esta foi convocada.

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Neste contexto, Felisberto requereu a inspeção judicial (artigos 390.º e 391.º do CC, e artigos 490.º a 493.º do CPC). Através
deste mecanismo probatório, um meio privilegiado de formação da convicção do juiz, este deslocar-se-á ao local para inspecionar
os sinais visíveis e permanentes da alegada passagem a pé e carro, cuja demonstração favorecerá a procedência da causa.

Exame 8 de junho de 2017


Caso Prático XI
Diana propôs uma ação declarativa, na forma de processo comum, alegando que é proprietária de uma biblioteca
particular (com centenas de obras antigas) em virtude de a ter adquirido por legado (deixado em testamento por um tio Zeferino).
Sustentou que os livros se encontram em péssimas condições na casa do falecido tio Zeferino e que os herdeiros recusam proceder
à sua entrega. Os Réus contestaram, alegando que o legado se circunscreve a vinte volumes de uma enciclopédia britânica e que
fizeram obras para os acondicionar corretamente.
Responda, de forma clara e fundamentada, às seguintes questões:
1. Admita que, no ato da citação pessoal, não foi indicado o prazo da defesa. Os herdeiros consideram que há um vício
na citação e pretendem invocá-lo. Preste-lhes os esclarecimentos necessários.
No ato de citação pessoal (ato através do qual o réu toma conhecimento de que lhe foi movida uma causa- artigo 219.º,
n.º 1) deve constar obrigatoriamente a indicação do prazo de defesa (artigo 227.º, n.º 2). A preterição desta formalidade essencial
gera a nulidade da citação (artigo 191.º, nº1), a qual deve ser arguida pelos Réus aquando da sua primeira intervenção do
processo (artigo 191.º, n.º 2, in fine), mas a arguição só é atendida se a falta cometida puder prejudicar a defesa dos citados
(artigo 191.º, n.º 4).
2.Pressuponha que, na contestação, os Réus querem exigir o pagamento das despesas efetuadas (no valor de € 5
000,00) para manter os livros, deixados em legado, em boas condições. Sabendo que não há obstáculos quanto a competência,
pronuncie-se sobre a admissibilidade desta pretensão.
Os Réus podem deduzir um pedido reconvencional contra a Autora, o qual se traduz na formulação de uma pretensão
própria e autónoma que transcende a simples improcedência da pretensão de Diana. Os sujeitos são idênticos, mas estão em
posições invertidas (artigo 266.º, nº1). A reconvenção deve ser deduzida de forma separada, na contestação. Os reconvintes
devem expor os fundamentos, concluindo pelo pedido condenatório no pagamento de cinco mil euros (artigo 583.º, nº1) e
indicando o valor da causa (artigo 583.º, n.º 2).
A admissibilidade da reconvenção não é livre, pois a lei exige que se verifique alguma das conexões substantivas
previstas nas alíneas do n.º 2 do artigo 266.º. No caso em análise, a situação reconduz-se à al. b) do n.º 2 do artigo 266.º, pois os
Reconvintes querem que a Reconvindo seja condenada no pagamento das despesas relativas à coisa cuja entrega lhe é pedida.
De igual modo, não se verificam impedimentos processuais quanto à competência e à forma de processo. A questão da
competência não se coloca (conforme consta do enunciado). No que diz respeito à forma de processo, uma vez que ambas as
pretensões seguem forma de processo comum (artigo 546.º) e este segue uma tramitação unitária (artigo 548.º), não há
qualquer obstáculo (argumento a contrario n.º 3 do artigo 266.º).
3.Numa outra ação declarativa, movida por Diana contra os mesmos herdeiros, uma testemunha, entretanto falecida,
referiu que Zeferino colecionou, durante toda a sua vida, livros raríssimos. Diana quer fazer uso deste depoimento neste processo.
É viável a sua pretensão?
A nossa lei processual, no seu artigo 421.º, permite que o depoimento de uma testemunha seja aproveitado noutro
processo. No caso concreto, a pretensão de Diana era viável, porquanto o depoimento é invocado contra a mesma parte do
processo anterior (os herdeiros), pressupondo-se que estes tenham tido aí a oportunidade de exercer o contraditório (artigo
415.º). O depoimento é, em regra, prestado na audiência, sendo gravado [artigos 155.º e 604.º, nº3, al. d)], pelo que, uma vez
requerido este aproveitamento da prova já produzida, esta gravação é “transferida” para o processo pendente. A prova
testemunhal goza assim de valor extraprocessual, ficando sujeita ao princípio da livre apreciação por parte do juiz do segundo
processo (artigo 607.º, n.º 5, primeira parte).
4. Se, na fase subsequente aos articulados, o juiz considerar que já tem elementos suficientes para conhecer do pedido
formulado pela Diana, considerando-o procedente, que despacho deve proferir?
Se o juiz já tiver elementos suficientes para conhecer do pedido genérico (artigo 556.º), deve fazê-lo no despacho
saneador, condenando os Réus a satisfazer a pretensão da Autora (artigo 595.º, n.º 1, al b). Ocorrerá um julgamento antecipado
da lide, tendo esta decisão o valor de sentença, com força de caso julgado material, pelo facto de se tratar de uma pronúncia
sobre o mérito da causa (artigos 595.º, nº3, in fine, e 619.º, ambos do CPC).

Caso Prático XII


Amélia, apresentadora de televisão, propôs uma ação contra a Clínica “Verdadeira Beleza”, solicitando que a Ré fosse
condenada a pagar-lhe, a quantia de € 60 000,00 a título de indemnização por danos patrimoniais e não patrimoniais. Alegou

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que acordou submeter-se a uma cirurgia estética levada a cabo por um cirurgião, Carlos, que trabalhava na referida Clínica. Esta
cirurgia, porém, não correu bem, não podendo Amélia regressar à apresentação de programas televisivos. Em conformidade,
alegou a perda de rendimentos por não poder trabalhar em televisão bem como a tristeza e a angústia que as suas novas feições
lhe provocaram. Na contestação, a Ré afirmou que Amélia não faz programas televisivos porque é dependente de drogas, além
de que a cirurgia se traduziu num simples lifting facial.
Responda, de forma clara e fundamentada, às seguintes questões
1. O Tribunal entendeu que ocorreu preterição de litisconsórcio necessário, pois Carlos devia ser chamado a intervir. Na
fase subsequente aos articulados, que despacho deve proferir?
O conhecimento, por parte do juiz, da ocorrência de preterição de litisconsórcio necessário passivo, deve determinar
a prolação de um despacho pré-saneador ao abrigo da alínea a) do n.º 2 do artigo 590.º do CPC. Estamos perante uma
ilegitimidade plural suscetível de ser sanada (artigo 577.º, al. e), do CPC) e de ser conhecida oficiosamente pelo juiz (artigo 578.º).
Enquanto gestor do processo (artigo 6.º, n.º 2, do CPC), o juiz deve convidar a Autora a sanar o vício, tendo esta a prerrogativa
de provocar a intervenção principal de Carlos para que este possa assumir o estatuto de parte principal (n.º 1 do artigo 316.º do
CPC). Ocorrerá uma modificação subjetiva da instância permitida pelos artigos 260.º e 261.º.
2. Na audiência final, após a inquirição da secretária clínica de Carlos, em cujo depoimento assentou grande parte da
defesa da Ré, a Autora quer invocar o facto de a testemunha ter sido já, por diversas vezes, condenada por falsas declarações.
Através de que expediente pode a Autora invocar tais circunstâncias nos autos?
Amélia pode desencadear um incidente (relativo à inquirição de testemunhas) denominado contradita com o fim de,
partindo de circunstâncias exteriores ao depoimento, abalar a credibilidade dele (artigo 521.º), seguindo-se os trâmites previstos
no artigo 522.º. Neste caso, mediante a invocação do facto de a testemunha ter sido condenada em processos anteriores por
falsas declarações, Amélia põe em causa a fé que a testemunha merece e não o próprio conteúdo do depoimento.
3. Após a produção de prova, o juiz ficou em dúvida sobre o facto de a cirurgia estética ter desencadeado os danos
alegados. Sobre quem recai o ónus de prova deste nexo causal?
Na fase da sentença (artigo 607.º do CPC), depois da produção de prova (requerida pelas partes ou determinada
oficiosamente), o juiz pode ter ficado com dúvidas insuperáveis sobre do nexo causal, mas não pode abster-se de julgar. Neste
circunstancialismo, deve recorrer às regras do ónus de prova como regras de decisão. O non liquet do juiz converte-se num liquet
contra a parte sobre quem recai o ónus de prova. No caso concreto, o autor tinha o ónus de alegar e de provar todos os factos
que integravam a causa de pedir complexa de onde emerge o pedido indemnizatório. São factos constitutivos da
responsabilidade da Clinica: a ilicitude da conduta médica (o cumprimento defeituoso/incumprimento dos deveres médicos), a
culpa (que na responsabilidade contratual se presume – artigo 799.º do Código Civil), os danos e o nexo de causalidade entre o
facto e os danos. Deste modo, na fundamentação de facto da sentença (n.º 4 do artigo 607.º do CPC), o juiz devia aplicar o n.º 1
do artigo 342.º do Código Civil. Ou seja, o juiz vai decidir desfavoravelmente a Amélia, considerando que não ficou demonstrado
um dos factos constitutivos: o nexo de causalidade entre o incumprimento/cumprimento defeituoso dos deveres médicos e os
danos alegadamente sofridos por Amélia.

Exame 12 de junho de 2015


Caso Prático XIII
A demandou o Clube Desportivo (réu B) e um médico (réu C), pedindo que os Réus fossem condenados a pagar-lhe,
solidariamente, a quantia de € 100 000,00.
Para tanto, alegou, em síntese, que, como jogador profissional de futebol, foi submetido a controlo antidopagem, que
confirmou a existência da substância lidocaína, considerada proibida; tal substância foi-lhe administrada pelo Réu C sem que este
o tivesse alertado para as consequências da sua administração. Afirmou que, em consequência desse controlo, divulgado pelos
meios de comunicação social, a sua imagem de bom desportista foi posta em causa, provocando-lhe danos patrimoniais e não
patrimoniais. Ambos os réus foram citados pessoalmente e juntaram aos autos procuração de advogado no prazo da contestação.
Contudo, apenas o réu C contestou.
Responda, de forma clara e fundamentada, às seguintes questões:
1. Pressuponha que, na contestação, o réu C alegou “que o jogador tinha perfeito conhecimento dos efeitos da
substância”. Caracterize a defesa.
Na contestação, o réu pode adotar dois tipos de defesa: defesa por impugnação e defesa por exceção (artigo 571.º do
CPC). No caso concreto, o réu tomou posição definida perante os factos constitutivos da pretensão indemnizatória do autor,
negando (frontalmente) a sua verificação. Cumpriu o ónus de impugnação, logo o facto impugnado será “facto controvertido”
(artigo 574.º, n.ºs 1 e 2). O autor tinha alegado que não tinha sido informado dos efeitos da substância administrada e o réu
contrariou-o, afirmando que isso era falso. Estamos perante uma impugnação de facto na forma de negação direta (artigo 571.º,
n.º 2 - “(…) quando contradiz os factos articulados na petição inicial…”).

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2. Admita que o juiz pretende conhecer da prescrição do crédito indemnizatório, alegada pelo réu na contestação, na
fase subsequente aos articulados (fase intermédia). Em que despacho deve fazê-lo? Deve convocar audiência prévia?
A prescrição consubstancia uma exceção perentória enquanto facto extintivo do direito de crédito indemnizatório
(artigo 576.º, n.º 3 do CPC). Não é de conhecimento oficioso, por isso o juiz só pode pronunciar-se sobre a mesma pelo facto de
o réu tê-la invocado na contestação (é uma exceção em sentido próprio - artigo 303.º do Código Civil e artigo 579.º do CPC). Se
o juiz já tiver elementos suficientes para conhecer da prescrição, deve fazê-lo no despacho saneador, absolvendo o réu do pedido
(artigo 595.º, n.º 1, al b) in fine). Esta decisão terá o valor de sentença e formará caso julgado material, pelo facto de se tratar de
uma pronúncia sobre o mérito da causa (um facto atinente à relação material controvertida) (artigos 595.º, n.º 3, in fine, e 619.º,
ambos do CPC). O despacho saneador deve ser proferido na audiência prévia, devendo o juiz convocá-la para os fins das alíneas
b) e d) do artigo 591.º do CPC. Uma vez que o tribunal irá efetuar um julgamento antecipado da lide, deverá proporcionar às
partes a discussão (de facto e de direito) sobre a ocorrência da prescrição (uma vez que o autor não teve ainda oportunidade de
se pronunciar sobre a exceção, dada a inadmissibilidade de réplica: artigos 3.º, n.º 4, e 584.º, ambos do CPC). Desta forma,
observará o princípio do contraditório e prevenirá uma decisão surpresa (artigo 3.º, n.º 3, do CPC).
3. Quais as consequências da revelia do réu B (Clube Desportivo)?
O réu B é revel, porque não apresentou contestação. No entanto, a sua revelia é relativa, pois deu sinal de si nos autos
mediante junção de procuração de mandatário. Demonstra que teve conhecimento de que lhe foi movida uma causa. Quanto
aos efeitos da falta de contestação, a sua revelia não acarretará os efeitos normais plasmados no artigo 567.º (revelia operante),
mas configurará um caso de revelia inoperante. A situação subsume-se na al. a) do artigo 568.º do CPC, uma vez que, em caso
de pluralidade de réus, se um contestar, a contestação aproveita aos demais nos termos em que foi apresentada. Tal significa
que a revelia só se considera afastada relativamente aos factos que o réu C tiver impugnado. Nos demais, aplicar-se o regime do
n.º 2 do artigo 574.º do CPC.
4. Após a produção de prova, o juiz ficou em dúvida sobre a existência de danos não patrimoniais. Sobre quem recai o
ónus de prova destes factos?
Na fase da sentença (artigo 607.º do CPC), depois da produção de prova (requerida pelas partes ou determinada
oficiosamente), o juiz pode ter ficado com dúvidas insuperáveis sobre a verificação de danos não patrimoniais, mas não pode
abster-se de julgar. Neste circunstancialismo, deve recorrer às regras do ónus de prova como regras de decisão. O non liquet do
juiz converte-se num liquet contra a parte sobre quem recai o ónus de prova. No caso concreto, o autor tinha o ónus de alegar
os danos, pois estes constituíam factos constitutivos da sua pretensão indemnizatória fundada em responsabilidade
extracontratual (artigo 5.º, n.º 1, do CPC e artigo 483.º do CC).Deste modo, na fundamentação de facto da sentença (n.º 4 do
artigo 607.º do CPC), o juiz devia aplicar o n.º 1 do artigo 342.º do CC, fazendo recair sobre o autor o ónus de prova dos danos
não patrimoniais e, nesta medida, considerando não verificados os danos alegados na petição Ou seja, o tribunal decidia
desfavoravelmente ao autor.

Caso Prático XIV


A propôs uma ação de resolução de um contrato de arrendamento (artigo 1083.º, nº2, al. d, do Código Civil), alegando
que B, arrendatário de um imóvel, deixou de o habitar desde Março de 2014. Na contestação, o réu invocou o facto de ter estado
em missão militar, pelo que a não permanência no locado era legítima (artigo 1072.º, nº2, al. b, do Código Civil).
Responda, de forma clara e fundamentada, às seguintes questões
1. Na fase subsequente aos articulados (fase intermédia), pela leitura da contestação, o juiz apercebeu-se que o réu não
explicitou o local onde esteve em missão militar e o tempo que esta durou. Que despacho deve proferir?
Na fase intermédia, o juiz devia proferir um despacho pré-saneador (artigo 590.º, n.º 2, al. b, nº 4, 5 e 6, do CPC). Neste
despacho, o tribunal convidaria o réu a aperfeiçoar o articulado. Na contestação, o réu tinha alegado uma exceção perentória,
ou seja um facto impeditivo do direito do autor à resolução do contrato de arrendamento (artigo 576.º, n.º 3 do CPC). A alegação
da exceção devia ter sido feita na contestação de forma separada, completa, precisa e clara (artigo 572.º, al. c), e 573.º, ambos
do CPC). Como os factos que consubstanciavam a exceção foram deduzidos de forma imprecisa e insuficiente (não foi dito onde
o réu esteve em missão militar e qual foi a duração desta), o juiz deve convidar (é um poder-dever) o réu a suprir estas
insuficiências ou imprecisões na exposição da matéria de facto, devendo ser dada possibilidade ao autor de se pronunciar sobre
este novo articulado (artigo 590.º, n.ºs 4 e 5). O réu não pode aproveitar esta oportunidade para deduzir defesa que devia ter
sido deduzida na contestação (artigo 590.º, n.º 6).
2. Quando se iniciou a audiência final, o réu informou o seu advogado de que pretendia que A prestasse depoimento.
Será viável a sua pretensão?
O réu pretendia requerer, nesta fase tardia, o depoimento de parte (do autor). Trata-se de um meio de prova através
do qual se pretende obter o reconhecimento, por parte do depoente, de factos que lhe são desfavoráveis e favorecem a parte
contrária (artigo 352.º do CC e 452.º do CPC). Este meio de prova tem uma força probatória fixada na lei, ou seja é prova plena
nos termos do artigo 358.º do CC. Contudo, os requerimentos probatórios devem ser feitos nos articulados, por isso o réu devia
tê-lo feito na contestação (como decorre da al. d) do artigo 572.º do CPC). Este requerimento probatório, apresentado pelo réu

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no momento da contestação, podia ter sido alterado na audiência prévia (artigo 598.º, nº1, do CPC). Contudo, o réu não o fez.
Em síntese, a lei processual já não permitia ao réu requerer este meio de prova na audiência final. O único meio de prova que
podia ser apresentado, ex novo, na audiência final, seriam as declarações de parte (quando é a própria parte que pretende fazer
declarações- artigo 466.º do CPC), mas tal não correspondia à pretensão do réu.
3. Na audiência final, uma testemunha referiu que um sujeito, amigo do réu, lhe tinha contado que B nunca participado
numa missão militar. O juiz ordenou a inquirição desse sujeito. Estará correta a sua atitude?
O sujeito, que foi referido no âmbito da inquirição de uma testemunha, podia ser notificado, por iniciativa do tribunal,
para depor na qualidade de testemunha (artigo 526.º do CPC), sendo o seu depoimento apreciado livremente (artigo 396.º do
CC). Enquanto a apresentação dos requerimentos probatórios, pelas partes, está sujeita a prazos, o juiz pode determinar, a todo
o tempo (antes de encerrada definitivamente au audiência – artigo 607.º, n.º 1, do CPC) a realização de prova sempre que esta
se afigure importante para o apuramento da realidade dos factos. No caso concreto, a inquirição desta nova testemunha podia
ser muito pertinente para que, na sentença final, mediante a análise crítica de toda a prova produzida (n.º 4 do artigo 607.º do
CPC), concluísse pela ocorrência, ou não, da missão militar. A atuação do juiz está legitimada ao abrigo do princípio do
inquisitório, enquanto princípio que rege a atividade probatória (artigo 411.º do CPC).

Exame 6 de julho de 2015


Caso Prático XV
A solicitou a condenação de B e de C a restituir um imóvel (prédio urbano composto por casa de habitação e um anexo),
sustentando que estes o ocupam sem titulo. Para o efeito, alegou que os deixou usufruir do dito bem, por mera tolerância, até
que conseguissem arranjar habitação condigna. No entanto, nunca mais os réus procuraram casa, nem abandoaram o imóvel,
apesar da insistência do autor.
Na contestação, os réus alegaram que deixaram de residir no local, utilizando apenas o anexo do imóvel para guardar
uns bens móveis. Invocaram que têm um titulo legitimo para ocupar o anexo, pois celebraram um contrato de comodato, cujo
prazo de duração ainda não decorreu. Fizeram alusão a uma carta que enviaram ao autor há alguns meses, na qual agradeciam
a cedência gratuita do dito anexo durante 2 anos. Em conformidade, requereram que o autor fosse condenado a reconhecer a
existência do contrato de comodato.
1. O autor quer reagir à contestação com o intuito de alegar que a pretensão formulada pelos réus não tem qualquer
conexão substantiva com os factos expostos na petição. Que articulado pode apresentar? Terá razão na sua alegação?
O autor pode apresentar um articulado eventual denominado réplica (artigo 584.º), uma vez que os réus deduziram
um pedido reconvencional (“condenação no reconhecimento do contrato de comodato”), embora tenham também impugnado
factos alegados pelo autor. Além dos requisitos processuais (artigo 266.º, n.ºs 1 e 3, e 93.º, todos do CPC), a reconvenção,
enquanto pretensão autónoma, deduzida pelos réus na contestação (artigo 583.º do CPC), é admitida desde que se verifique
alguma das conexões substantivas do n.º 2 do artigo 266.º do CPC. Isto é, só se justifica a apreciação conjunta das pretensões
(de A e aquela deduzida por B e C) se existir algum nexo material entre ambas. No caso concreto, o pedido reconvencional
emerge do fundamento que serve de base à defesa, nomeadamente do facto impeditivo invocado pelos réus (artigo 576.º. n.º 3,
do CPC, artigo 266.º, n.º 2, al. a), 2.ª parte, do CPC). O alegado contrato de comodato configura um facto que impede o efeito
jurídico pretendido pelo autor (restituição da coisa). Desta exceção perentória emerge o pedido reconvencional, pelo que o autor
não terá razão na sua alegação.
2. O juiz determinou que o autor juntasse aos autos a carta que alegadamente lhe fora enviada pelos réus. O autor
recusou-se a entregá-la e, posteriormente, o tribunal teve conhecimento que este a tinha rasgado. Que ilações processuais deve
o juiz retirar da conduta do autor?
Está em causa um princípio de direito probatório formal plasmado no artigo 417.º do CPC. O autor desrespeitou, de
forma dolosa, o dever de cooperação para a descoberta da verdade, impedindo que o documento particular fosse junto aos
autos (artigos 429.º e 430.º do CPC). Deve ser considerado litigante de má fé (artigo 542.º, n.º 2, alínea c), do CPC). Além de ser
condenado em multa, pode ter de indemnizar a parte contrária (se esta formular pretensão nesse sentido). No caso concreto,
qualquer meio coercitivo será inútil, pois o documento já foi destruído. Se ficar demonstrado que a destruição da carta torna
impossível a prova, a cargo do Réu, o juiz deverá inverter o ónus de prova. Nestas circunstâncias, o juiz não se limitará a apreciar
livremente a conduta censurável do réu mas adotará sanções mais graves, invertendo o ónus de prova (artigos 417.º, n.º 2, in
fine, e 344.º, n.º 2, do CC). Se tal suceder, competirá ao autor demonstrar que o contrato de comodato não foi celebrado (em
vez de o ónus de prova desse facto recair sobre os réus enquanto facto que fundamenta a pretensão reconvencional-artigo
342.º, n.º 1 do CC).
3. Admita que, na audiência final, uma testemunha afirmou que, há cerca de meio ano, tinha visitado os réus na sua
residência e que a morada desta coincidia com a do imóvel descrito na petição. Contudo, os réus sabiam que esta testemunha
nunca os visitou, pois este emigrado e só regressou há um mês a Portugal. Como podem pôr em causa este depoimento?
A contradita é o incidente que deve ser desencadeado pelos Réus com o fim de abalar a credibilidade do depoimento
da testemunha (artigo 521.º do CPC). Para esse efeito, os Réus alegaram factos que colocaram em causa as circunstâncias que

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rodearam a perceção dos factos pela testemunha (prejudicando a “razão de ciência” alegada pela testemunha: esta disse que a
certa hora/dia esteve em determinado local, estes disseram que era impossível a testemunha depor sobre o que viu, pois estava
ausente do País) (alguns alunos partiram do pressuposto que existia um depoimento de parte (dos Réus) -apesar do enunciado
ser omisso quanto a este ponto - e que este era contraditório com o depoimento da testemunha. Invocaram, por isso, o incidente
da acareação. A resposta foi considerada correta desde que estivesse bem estruturada e justificada).

Caso Prático XVI


A intentou uma ação contra B, alegando que na sequência de um contrato de compra e venda (não sujeito a forma
escrita) ficou acordado que o réu cumpriria a sua prestação de entrega de um determinado bem no prazo de 1 mês. Até ao
presente, e não obstante tê-lo já interpelado por diversas vezes, este ainda não cumpriu.
Na contestação, B afirmou que não celebrou contrato algum com o autor e que, por isso, não recai sobre ele qualquer
obrigação de entrega. Explicou que chegaram a negociar a celebração de um contrato de compra e venda no inicio do ano de
2015, mas que não conseguiram entender-se.
1. Classifique a defesa do réu.
O réu tomou posição definida perante os factos alegados pelo autor, não se limitando a negá-los frontalmente, mas
apresentando factos novos que serviram para contradizer a versão apresentada pelo autor. Estamos, por conseguinte, perante
uma defesa por impugnação de facto na forma de “negação motivada” ou “indireta” (artigo 571.º, n.º 2, primeira parte, CPC).
2. Pressuponha que no ato de citação pessoal não ficou a constar a cominação em que réu incorre se não contestar.
Padece a citação de algum vício?
A indicação da cominação, em que incorre o réu no caso de não contestação, é um dos elementos que tem de constar
obrigatoriamente do ato da citação, ato mediante o réu toma conhecimento de que lhe foi movida uma causa (artigo 227.º, n.º
2, do CPC). A sua omissão gera um vício da citação denominado “nulidade da citação” (artigo 191.º, n.º 1, e). Este vício que não
é de conhecimento oficioso, devendo ser suscitado pelo réu no prazo da contestação (artigo 191.º, n.º 2, primeira parte).
3. Quais seriam as consequências de uma revelia relativa do réu?
Se a revelia for relativa, significa que o réu não contestou dentro do prazo mas deu sinal de si nos autos. Como no caso
em análise não se encontra preenchida qualquer uma das hipóteses de revelia inoperante previstas no artigo 568.º do CPC,
operam os efeitos normais da revelia previstos no artigo 567.º do CPC. A revelia tem como efeito principal a confissão tácita dos
factos (alegados pelo autor na petição). No caso de revelia operante termina a fase dos articulados, não havendo fase intermédia
(preparatória, em regra, dos passos processuais seguintes) nem a audiência final. No entanto, antes de se passar à fase das
alegações da matéria de direito, ao abrigo do dever de gestão processual consagrado no artigo 6.º, o juiz deve averiguar se a
relação processual está regularmente constituída, se não há insuficiências ou imprecisões nas alegações das partes, ou se falta
algum documento, proferindo despacho de aperfeiçoamento em situações idênticas àquelas que o justificam quando há lugar à
fase intermédia (artigo 590.º, n.º 2).
Regularizada a instância (ou se tudo estiver normal), os advogados (se as partes tiverem constituído advogado) têm a
possibilidade de fazer alegações de direito. Em seguida, o juiz profere sentença. O juiz vai julgar a causa conforme for de direito,
podendo proferir uma das seguintes decisões: absolvição do réu da instância pela verificação de exceções dilatórias de
conhecimento oficioso que não determinem a aplicação do n.º 3 do artigo 278.º do CPC, de absolvição do réu do pedido se os
factos alegados pelo autor (e que se consideraram confessados pela revelia do réu) não forem suficientes para deles fazer derivar
o efeito jurídico requerido ou de procedência do pedido.
4. Na fase subsequente aos articulados (fase intermédia), o juiz teve conhecimento da pendencia de uma ação idêntica
no tribunal onde exercia funções. Que despacho deve proferir?
Se uma das partes intentar ação, estando outra idêntica pendente (ocorrendo uma tríplice identidade quanto aos
sujeitos, causa de pedir e pedido), há um obstáculo à apreciação do mérito da causa (artigos 577.º, alínea i), 580.º e 581.ºdo
CPC). Esta exceção dilatória denomina-se litispendência. É insanável, de conhecimento oficioso e deve ser deduzida no processo
em que o réu é citado em 2.º lugar (artigos 578.º e 582.º do CPC). Na fase intermédia, o juiz conhecerá da exceção dilatória da
litispendência no despacho saneador (artigo 595.º, n.º 1, al. a), do CPC) proferido no contexto de uma audiência prévia
(convocada para esse fim para permitir um debate prévio com as partes em nome do princípio do contraditório- artigos 591.º,
n.º 1, al. b) e 3.º, n.º3, do CPC). Em síntese, a causa terminará com um despacho de absolvição do réu da instância (julgamento
antecipado da lide), o qual, uma vez transitado em julgado, formará caso julgado formal (artigos 595.º, n.º 3, 1.ª parte, e 620.º
do CPC).

Exame 11 de junho de 2014


Caso Prático XVII

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A instaurou ação de divórcio sem consentimento do outro cônjuge. Alegou que o réu padece de graves perturbações
mentais, há mais de um ano, estando comprometida a possibilidade da vida em comum (artigo 1781.º, al. b), do Código Civil). O
réu alegou que apenas há seis meses começou a fazer certas confusões mentais, mas trata-se de um estado passageiro. (nota:
apesar de o processo de divórcio ser um processo especial, decorrido o prazo da contestação, seguem-se os termos do processo
comum conforme dispõe o artigo 932.º do CPC).
Responda, de forma clara e fundamentada, às seguintes questões:
1. Admita que o réu não contestou, apesar de regularmente citado. Quais são os efeitos da falta de contestação?
A ação de divórcio versa sobre situações jurídicas indisponíveis, pelo que a revelia (seja absoluta ou relativa) não
acarreta a confissão dos factos alegados pelo Autor (alínea c), do artigo 568.º do CPC). Nesta hipótese de revelia inoperante,
termina a fase dos articulados e o processo segue normalmente para as fases seguintes. Justifica-se a atividade probatória, pois
os factos (alegados pelo autor) não se consideram assentes, mas sim controvertidos. Não há, porém, lugar à realização da
audiência prévia por força da al. a do n.º 1 do artigo 592.º do CPC, ficando o juiz sujeito ao regime do n.º 2 do artigo 593.º do
CPC.
(observação: as perturbações mentais não determinam “automaticamente” a incapacidade de B. É pressuposto da
ação de divórcio, no caso em análise, as graves perturbações mentais e não qualquer incapacidade de exercício de direitos que
tenha sido decretada por sentença.)
2. Pressuponha que, na fase do saneamento e condensação, o juiz pretende conhecer oficiosamente da falta de interesse
processual, mas tem dúvidas se deve convocar a audiência prévia. Preste-lhe os esclarecimentos necessários.
O juiz deve convocar a audiência prévia, pois pretende pronunciar-se sobre o interesse processual de forma oficiosa
(artigo 578.º do CPC), isto é sem que as partes tivessem suscitado a sua falta e debatido a sua verificação nos articulados. A
audiência prévia vai permitir que as partes não sejam surpreendidas por uma decisão de absolvição do réu da instância (com
fundamento na falta de interesse processual). Deste modo, a convocação da audiência prévia respeitará o princípio do
contraditório e a proibição das decisões-surpresa (artigo 3.º, n.º 3 do CPC) e ocorrerá ao abrigo do al. b), do n.º 1 do artigo 591.º.
Na própria audiência, o juiz proferirá, após debate com as partes, o despacho saneador previsto no artigo 595.º do CPC (despacho
adequado ao conhecimento de exceções dilatórias insupríveis como é o caso da falta de interesse processual) (artigo 591.º, n.º
1, al. d, do CPC).
3. Para apurar o estado mental do réu, o autor solicitou um relatório de um médico. Dada a complexidade do relatório,
o juiz solicitou que o médico viesse prestar esclarecimentos na audiência final. Este recusou-se a estar presente na audiência.
Quais as consequências processuais da conduta do médico?
O relatório médico foi proferido na sequência da prova pericial requerida pelo autor (artigo 484.º do CPC). O perito
devia ter comparecido na audiência final para efeitos de prestar esclarecimentos verbais (artigo 486.º e artigo 604.º, n.º 3, al. c)
do CPC). Ao não comparecer, desrespeitou o princípio da cooperação para a descoberta da verdade plasmado no artigo 417.º
(este dever de cooperação não abarca apenas as partes, mas também terceiros), ficando sujeito ao pagamento de multa (artigos
417.º, n.º 2, 1.ª parte e n.º 1 do artigo 469.º do CPC).
4. Após a produção da prova, o juiz considerou verificadas graves alterações das faculdades mentais do réu, mas ficou
com dúvidas se estas duram há mais de um ano. Sobre quem recai o ónus de prova deste período temporal?
A ocorrência de graves perturbações mentais há mais de um ano consubstancia a causa de pedir da ação de divórcio.
São factos constitutivos do direito potestativo do autor à extinção da relação matrimonial. Logo, se o juiz tiver dúvidas sobre a
duração das perturbações, deve decidir desfavoravelmente ao autor nos termos do n.º 1 do artigo 342.º do CC. As regras do
ónus de prova, consagradas no CC, consubstanciam regras de decisão, permitindo que o juiz supere uma situação de non liquet
no momento de proferir a sentença (artigo 607.º do CPC).

Caso Prático XVIII


A intentou uma ação de resolução de um contrato-promessa celebrado com os cônjuges B e C. Relatou que interpelara
os promitentes-compradores com vista à celebração da escritura de compra e venda e que estes se tinham recusado a cumprir.
Alegou que perdeu o interesse no cumprimento do contrato-promessa (artigo 808.º do Código Civil).
Responda, de forma clara e fundamentada, às seguintes questões:
1. Pressuponha que foi demandado apenas B, apesar de se configurar uma hipótese de litisconsórcio necessário passivo
(artigo 34.º, n.º 3, do CPC). Na fase de saneamento e condensação que despacho deve o juiz proferir perante a ocorrência deste
vício?

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O conhecimento, por parte do juiz, da ocorrência de preterição de litisconsórcio necessário passivo deve determinar a
prolação de um despacho pré-saneador ao abrigo da alínea a) do n.º 2 do artigo 590.º do CPC. Estamos perante uma ilegitimidade
plural suscetível de ser sanada (artigo 577.º, al. e), do CPC). Enquanto gestor do processo (artigo 6.º, n.º 2, do CPC), o juiz deve
convidar as partes a sanar o vício, tendo estas a prerrogativa de provocar a intervenção principal de C para que este possa assumir
o estatuto de parte principal (n.º 1 do artigo 316.º do CPC).
2. Admita que, no ato de citação pessoal, não foram indicadas as cominações, em que incorrem os réus, no caso de
revelia. Identifique o vício da citação.
A não indicação das cominações em que o réu incorre no ato da citação acarreta a nulidade da citação (artigo 191.º,
n.º 1, e 227.º, n.º 2, do CPC), vício que não é de conhecimento oficioso, devendo ser suscitado pelo réu no prazo da contestação
(artigo 191.º, n.º 2, primeira parte).
3. A pretende que o tribunal declare o seu direito ao sinal prestado pelos promitentes, nos termos do disposto no art.
442.º, n.º 2, primeira parte, do Código Civil. Contudo, não formulou tal pedido na petição inicial. Pode fazê-lo posteriormente?
Após o réu ter sido citado, a instância deve manter-se estável quanto aos sujeitos, causa de pedir e pedido, salvas as
possibilidades de modificações consagradas nos artigos 261.º a 265.º do CPC. Este princípio apelida-se de “princípio da relativa
estabilidade da instância” (artigo 260.º do CPC). No caso concreto, está em causa uma ampliação do pedido. As modificações
deste elemento objetivo são possíveis nos termos dos artigos 264.º e 265.º do CPC. A situação mais provável é não existir acordo
das partes nessa modificação, pelo que teremos de analisar se estão verificados os pressupostos do n.º 2 do artigo 265.º do CPC.
À luz deste número seria admissível a ampliação do pedido até ao encerramento da discussão em 1.ª instância, pois a nova
pretensão (declaração do direito ao sinal prestado) é uma consequência do pedido primitivo.

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