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ANÁLISE DA DEMOCRACIA GREGA E A DOS DIAS DE HOJE (MOÇAMBIQUE)

Etelvino Ildo Namburete & Odélio Emídio Nhiuane

Resumo:
A nossa análise neste artigo girava em torno da democracia, onde nela, buscamos
trazer os principais fragmentos da democracia desde a sua evolução ou origem,
terminologia ate a sua definição, a forma como ela foi concebia pelos povos modernos
e as suas principais falhas, e a posterior trouxemos as possíveis soluções para uma
democracia verdadeira e justa para os moçambicanos.
Palavras-chave¬: Democracia, directa, participação.

É na Grécia antiga que foi inventado o que hoje chamamos de democracia, embora nem
todos os filósofos sofistas dessa época fossem completamente democratas, essa era
a tendência geral entre eles, e mesmo os menos democráticos construíram suas
filosofias principalmente a partir de coisas que valorizavam na democracia ateniense. O
termo democracia provém do Grego e é composto pelas duas palavras demos = povo e
kratein = reinar.

É possível traduzir democracia literal¬mente, portanto, com os termos reinado popular


ou reinado do povo, portanto, a democracia como forma de estado está em
demarcação com a monarquia, aristocracia e ditadura. A definição mais conhe¬cida da
democracia, é a de: (LINCOLN), que define democracia como: governo do povo, pelo
povo, para o povo. Traduzido de maneira simplicista é possível dizer: O poder surge do
povo, está a ser exercido pelo povo e no seu próprio interesse.

Democracia Grega
Na óptica de (BORBA), os gregos de Atenas e a maioria dos sofistas consideravam essa
forma de organização política (a democracia, ou poder do povo) como uma das mais
importantes invenções da História. De certo modo, a consideravam como algo capaz de
transformar o mundo, algo como a descoberta do fogo ou a invenção da roda. Viam a
democracia como se fosse justa para todos ou pelo menos para a maioria, para que os
conflitos, que são naturais entre as pessoas (porque elas são diferentes), não
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prejudicassem tudo isso, e todos pudessem continuar vivendo tão bem quanto possível.

Não só havia uma preocupação no seio do povo para que este pudesse participar
activamente neste modelo democrático de forma a evitar os conflitos e garantir uma
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vida razoavelmente boa para todos ou para a maioria: a preocupação com a areté .

Para atingir esse mínimo, e ainda mais para conseguir chegar à areté, era fundamental
que a população tivesse acesso de algum modo a uma boa educação, porque era
preciso que as pessoas fossem capazes de defender os seus pontos de vista
argumentando umas contra as outras, e não se agredindo ou partindo para a violência
que era um perigo para a democracia. Por essa razão, o ensino era considerado a base
de sustentação de tudo isso.

Na democracia grega havia a isenção do voto, visto que as mulheres e os escravos não
tinham esses privilégios. Isso quer dizer que podemos questionar o quanto aquilo era
realmente uma “democracia”? Comparando com a essência da democracia. Tendo em
conta que a democracia como diz o termo é governo do povo, pelo povo, para o povo.
De alguma forma eles têm razão, mas só quanto aos escravos, porque os escravos,
esses eram escravos de guerra, portanto estrangeiros de países inimigos, e a verdade é
que seria absurdo colocá-los para decidirem o destino de Atenas ou de qualquer outro
país.

A democracia antiga era restrita não simplesmente pela exclusão dos escravos e as
mulheres, quanto no sentido de que aqueles que teoricamente deveriam ter acesso a
ela, na prática, não usufruíam igualmente nem dos direitos políticos, nem dos bens
materiais produzidos naquele momento. Para NETO (1997), Além da participação
directa na vida política, a democracia ateniense era dotada de mecanismos que
permitiam responsabilizar todos os ocupantes de postos perante o corpo político. Ela
exercia, por exemplo, uma ampla fiscalização sobre a sua magistratura, que mesmo
sendo escolhida por sorteio, deveria ser submetida a exame prévio (dokimasia) e a uma

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Significa educar, instruir, formar, dar cultura, ensinar os valores, os ofícios, as técnicas, transmitir ideias
e valores para.
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devassa completa na sua vida pública e particular, e, ao terminar o mandato, a uma
rigorosa prestação de contas perante uma comissão de fiscais públicos.

Democracia representativa
Segundo Madison, Hamilton e Joy, citados por NETO (1997), a democracia
representativa era a forma de governo em que o povo não participava directamente da
tomada de decisão sobre os temas de seu interesse, mas escolhia os seus
representantes que deveriam tomar por ele tais decisões.

A democracia moderna no seu nascedouro2 assume a forma de democracia


representativa. A sua marca primeira é a representação política, na qual o representante
deve estar voltado para atender aos interesses da nação e não aos interesses
particulares dos representados. Indo na mesma trilha Montesquieu3 (1979), defendeu
no seu livro O Espírito das Leis que: “O povo era excelente para escolher, mas péssimo
para governar.” Precisava o povo, portanto, de representantes, que iriam decidir e querer
em nome do povo.

Falhas da democracia representativa

Para um parlamentar poder representar os interesses de todos os seus eleitores, ele


teria que ser de fato todos os seus eleitores. O que é, obviamente, impossível. Outro
factor que aumenta a impossibilidade da representação é o fato dos interesses dos
eleitores dum único parlamentar serem divergentes. É comum ter, entre os votantes
dum mesmo político profissional, diferentes e contraditórias matizes ideológicas, e,
consequentemente, diferentes interesses políticos.

Não queremos com isso dizer que, a democracia representativa não pode ser um
modelo ideal para a governação dos estados, mas sim, não é o bastante. Assim, é
preciso reforçar a representação, pela criação de condições favoráveis no sentido de
que o cidadão passe a interferir concretamente nas decisões sociais e económicas por

2
Nascedouro significa: origem, inicio, começo, principio etc.
3
Montesquieu (1979), foi um dos principais teóricos que defendeu no seu livro O Espírito das Leis a
questão de uma democracia d
3
meio dos órgãos de decisão política. A pergunta é, qual é o modelo usual para accionar
mecanismos capazes de aperfeiçoar a representação no ceio de uma sociedade
capitalista?

Democracia directa

Democracia directa é uma forma colectiva e horizontal de fazer política onde todos os
interessados podem participar efectivamente da construção desta. Para Rousseau, o
Estado não se restringe ao governo. O Estado é por ele considerado como uma
comunidade politicamente organizada, que tem a função soberana de exprimir a
vontade geral. A autoridade do Estado não pode ser representada, mas precisa
expressar-se directamente através da promulgação, pelo povo, das leis fundamentais.

Seguindo por essa trilha, Rousseau, um dos pais da democracia moderna, em O


Contrato Social, formula as primeiras críticas à democracia representativa. No embate
com os defensores do Estado parlamentar, o autor afirma que a soberania não pode ser
representada. Os deputados do povo, na sua perspectiva, não são seus representantes
e não passando de seus comissários, nada podem concluir definitivamente. Rousseau
radicaliza o debate sustentando que:

É nula toda lei que o povo directamente não ratificar; em absoluto,


não é lei. O povo inglês pensa ser livre e muito se engana, pois só
o é durante a eleição dos membros do parlamento; uma vez estes
eleitos, ele é escravo, não é nada. Durante os breves momentos
de sua liberdade o uso, que dela faz, mostra que merece perdê-la.
(1983, p.108).
Na sua perspectiva, era necessário construir uma democracia directa, na qual o povo
fosse capaz de expressar realmente a sua vontade, em contraposição à democracia
representativa que a restringia. A participação directa e individual no processo de
tomada de decisão se constituía no eixo básico da teoria política de Rousseau. Nela, a
participação tem um carácter educativo. O sistema ideal de Rousseau foi concebido,
segundo PATEMAM (1992), para desenvolver uma acção responsável, individual, social
e política como resultado do processo participativo.

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Falhas da democracia directa

A evolução da sociedade moderna trouxe uma série de transformações reais que


tornaram problemática a teoria de Rousseau sobre democracia directa. No entanto,
deve-se realçar que nela são identificados elementos essenciais do pensamento
democrático, principalmente no que se refere a esse carácter educativo da participação.

A defesa da participação directa, como única forma de expressão da soberania


defendida por Rousseau, não se aplica em sociedades complexas como as do final do
século XX. O próprio Rousseau, já em sua época, tinha a compreensão de que: “Jamais
existiu, jamais existirá uma democracia verdadeira” (1983, p. 84).

Essa forma de governo exigiria certas condições difíceis de serem construídas: um


Estado muito pequeno, uma grande simplicidade de costumes, bastante igualdade entre
as classes e as fortunas, e pouco ou nada de luxo. Sugere, ainda, o autor que: “Se
existisse um povo de deuses, governar-se-ia democraticamente. Governo tão perfeito
não convém aos homens” (Rousseau, 1983, p. 86).

Nos dois modelos democráticos a que nos ocupamos em discutir somos unânimes em
verbalizar que a democracia directa não deve ser colocada como uma alternativa à
democracia representativa, mas como algo complementar.

DEMOCRACIA DOS DIAS DE HOJE (MOÇAMBIQUE)

Segundo SCHUMPETER, citado por MAZULA (2008), a característica de um governo


democrático não é a ausência de elites, mas a presença de muitas elites com
concorrência entre si para a conquista do voto popular.

Aqui, o ponto de partida é Moçambique cujo desafio se situa entre o combate à


pobreza. Começo por sistematizar aqueles que me parecem ser desafios reais de
Moçambique em particular e da África, em geral: exclusão social, disparidades
(assimetrias) regionais, predominância do governo dos homens. Neste momento o
campo da pobreza pesa mas que o bem-estar. Quanto maior for a pobreza, menor será
o bem-estar e menor será o grau de democracia. Há uma relação entre democracia e o
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desenvolvimento, como mostra DAHL. O campo da pobreza é mais propício à
instabilidade, à corrupção, à criminalidade e à deflagração dessa bomba atómica do
século que se chama HIV/SIDA, MAZULA (2008).

A questão que se levanta, agora, é se haverá um modelo universal de democracia ou


fórmula resolvente para as democracias africanas. A partida, diremos que não.
Coloca-nos um outro problema de corresponder o que seja uma educação democrática
para uma sociedade democrática.

Embora inspirando-se na experiencia ateniense de democracia, o ocidente não a copiou,


nem a reproduziu simetricamente. Cada país foi, a partir dela, construindo a sua
democracia.

Ainda na mesma trilha diz MAZULA que, o ocidente terá que aceitar que as sociedades
africanas construam os seus modelos de democracia e as próprias sociedades
africanas devem acreditar na possibilidade de se constituírem democráticas. O mais
importante não são as falhas históricas, mas a vontade de construir uma sociedade
desejável com uma democracia igualmente desejável.

Conclusão

Em jeito de conclusão, podemos dizer que não há ainda um modelo ideal democrático a
se seguir, como vimos tanto a representativa como a directa ambas apresentam falhas,
portanto, é preciso apreender dos dois modelos democráticos para se fazer uma
verdadeira democracia moçambicana essa que ira se ajustar aos moldes
moçambicanos. Devemos aprender dos erros cometidos na democracia ateniense para
fazer uma democracia verdadeira. Devemos buscar os pontos positivos da democracia
ateniense para servirem como nosso modelo como é o caso da dokimasia, essa que
consistia no seguinte: um politico ou dirigente, ao terminar o mandato, havia uma
rigorosa prestação de contas perante uma comissão de fiscais públicos.

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Referências
BECKER, Paula & RAVELOSON, Dr. Jean-Aimé A. o quê é democracia? Friedrich Ebert
Stiltung, S/D.
BORBA, João. A origem da democracia.

LALÁ, A. & OSTHEIMER, A. E. Transição e consolidação democrática em África: como


limpar as nódoas do processo democrático? Os desafios da transição e
democratização. Em Moçambique (1990-2003). Maputo: Konrad-Adenauer-stiftung.

MAZULA, Brazão. Na esteira da academia: razão, democracia e educação. Texto


editores, Lda. Maputo 2008.

NETO, António Cabral. Democracia: velhas e novas controvérsias. Estudos de


Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 1997.

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