Você está na página 1de 131

Desenvolvimento e

Comportamento Motor
Professora Mestra Juliana Montenegro Seron
Diretor Geral
Gilmar de Oliveira

Diretor de Ensino e Pós-graduação


Daniel de Lima

Diretor Administrativo
Eduardo Santini

Coordenador NEAD - Núcleo


de Educação a Distância
Jorge Van Dal

Coordenador do Núcleo de Pesquisa


Victor Biazon
UNIFATECIE Unidade 1
Rua Getúlio Vargas, 333,
Secretário Acadêmico Centro, Paranavaí-PR
Tiago Pereira da Silva (44) 3045 9898

Projeto Gráfico e Editoração UNIFATECIE Unidade 2


André Oliveira Vaz Rua Candido Berthier
Fortes, 2177, Centro
Revisão Textual Paranavaí-PR
Kauê Berto (44) 3045 9898

UNIFATECIE Unidade 3
Web Designer Rua Pernambuco, 1.169,
Thiago Azenha Centro, Paranavaí-PR
(44) 3045 9898

UNIFATECIE Unidade 4
BR-376 , km 102,
Saída para Nova Londrina
FICHA CATALOGRÁFICA Paranavaí-PR
FACULDADE DE TECNOLOGIA E (44) 3045 9898
CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ.
Núcleo de Educação a Distância;
SERON, Juliana Montenegro. www.fatecie.edu.br
Desenvolvimento e Comportamento Motor.
Juliana Montenegro Seron.
Paranavaí - PR.: Fatecie, 2020. 131 p.
As imagens utilizadas neste
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária livro foram obtidas a partir
Zineide Pereira dos Santos. do site ShutterStock
AUTORA

Professora Mestra Juliana Montenegro Seron

● Mestre em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá;


● Licenciada em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá;
● Professora de Pós-Graduação pelo Grupo Rhema de Educação;
● Professora de Educação Física do Ensino Médio – Colégio Axia;
● Docente do Curso de Design Gráfico pelo UniFCV – Centro Universitário Cidade
Verde;
● Gestora Educacional pelo Colégio Axia;
● Palestrante;
● Coaching Educacional;
● Coordenadora do curso de Educação Física na modalidade EAD pelo UniFCV
– Centro Universitário Cidade Verde;

Experiência com formação de professores, atua com cursos de capacitação do-


cente e assessoria educacional. Trabalha com organização de eventos. Atua em cursos e
palestras online.

Link do lattes: http://lattes.cnpq.br/3070192956405562


APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Seja muito bem-vindo(a)!


Se você se interessou pelo tema que iremos trabalhar nessa disciplina, já estamos
nos entendendo. Começamos o processo de aprendizagem que tem tudo para render bons
frutos. Estamos iniciando nossa jornada rumo ao fantástico universo do desenvolvimento
humano, e vamos juntos conhecer cada etapa e adquirir muito conhecimento sobre o as-
sunto.
A partir de agora teremos um combinado que vai durar o tempo que estivermos
aprendendo juntos sobre Desenvolvimento e Comportamento motor. Vamos nos enveredar
pelos caminhos das aprendizagens motoras do ser humano, começando desde antes do
nascimento, e só vamos parar lá na velhice. Na verdade, o movimento perpassa toda a vida
humana, desde a concepção até a morte, e vamos explorar tudo isso de maneira intensa e,
na medida do possível, leve.
● Na Unidade I vamos conhecer os conceitos básicos do desenvolvimento hu-
mano e compreender o desenvolvimento motor e suas especificidades. Vamos
conhecer modelos de desenvolvimento humano, bem como os aspectos que
afetam as aprendizagens motoras. Para terminar a unidade iremos nos encan-
tar pela famosa ampulheta proposta por Gallahue e Ozmun num livro que é
considerado a “bíblia” do desenvolvimento motor. Ficou curioso(a)?
● Já na Unidade II começaremos a desvendar cada uma das etapas do desen-
volvimento motor. Na verdade, vamos começar desde antes do nascimento,
conhecendo aspectos que o afetam e que podem ocorrer mesmo antes de nas-
cer. Incrível não?! Vamos conhecer como acontece o crescimento pré-natal e
infantil e tratar de duas etapas: a dos movimentos reflexos e a dos movimentos
rudimentares. Partindo sempre de reflexões e questionamentos pertinentes e
que te motivem a querer aprender mais.
● Na sequência, na Unidade III, falaremos a respeito da infância, como uma fase
essencial de aquisições de habilidades motoras. Tantas aprendizagens aconte-
cem neste período. Vamos explorar a fase das habilidades motoras fundamen-
tais, o próprio nome já nos diz o quão importante é essa etapa. Em seguida
iremos conhecer aspectos da famigerada e tão maltratada adolescência, que,
com todas as suas peculiaridades, é a fase das habilidades motoras especiali-
zadas e muito se tem para aprender sobre esse período.
● Em nossa Unidade IV vamos finalizar o conteúdo dessa disciplina com a fase
adulta e a velhice. Faremos um passeio pelo desenvolvimento humano, es-
pecificamente falando da motricidade, dos 25 até os 59 anos, num primeiro
momento, e depois a partir dos 60 anos.

Estou, a partir de agora, intimando você a se apaixonar e aprender muito comigo


sobre um dos temas mais importantes para quem trabalha com seres humanos. Posso
garantir que seus esforços para aprender e estudar tudo o que esse material oferecer não
serão em vão. Você sempre vai lembrar das aprendizagens que venha a adquirir nesta
disciplina.
Espero que você aproveite cada linha desta apostila e cada vídeo deste material,
devorando o conhecimento que ele fornece. Que esta disciplina contribua para seu cres-
cimento pessoal e profissional. E lembre-se: sempre que sentir necessidade revisite suas
anotações e o material desta aula.

Gratidão sempre e excelente percurso!


SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 7
Plano de Conhecimento

UNIDADE II.................................................................................................... 42
Primeira Infância

UNIDADE III................................................................................................... 72
Infância e Adolescência

UNIDADE IV................................................................................................. 102


Idade Adulta e o seu Desenvolvimento
UNIDADE I
Plano de Conhecimento
Professora Mestra Juliana Montenegro Seron

Plano de Estudo:
● Introdução e conceitos;
● Compreendendo o desenvolvimento motor;
● Modelos de desenvolvimento humano;
● Fatores que afetam o desenvolvimento motor;
● Explanação do modelo teórico do desenvolvimento motor.

Objetivos de Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar os principais termos utilizados que permeiam o
desenvolvimento motor;
● Compreender o desenvolvimento motor a partir de diferentes referenciais teóricos;
● Conhecer os fatores que interferem no desenvolvimento motor típico considerando
suas etapas.

7
INTRODUÇÃO

Olá, caro(a) aluno(a). Daremos início à primeira unidade da disciplina de Desenvol-


vimento e Comportamento Motor.
Nesse momento serão trabalhados alguns conceitos básicos que envolvem os
diversos assuntos relacionados ao desenvolvimento e ao comportamento motor, neces-
sários para que você possa estudar os próximos assuntos e aprender sobre aspectos do
desenvolvimento humano. Para que você se torne o profissional que atue de maneira eficaz
é necessário conhecer cada uma das etapas do desenvolvimento e os diversos aspectos
que fazem parte de cada uma delas.
Depois que conhecer alguns termos que iremos utilizar durante toda disciplina,
você irá compreender o desenvolvimento motor, suas características e particularidades. Em
seguida, aprenderá que existem diferentes modelos teóricos de desenvolvimento motor e,
a partir de alguns referenciais teóricos selecionados, observará possibilidades de trabalho
para o profissional da Educação Física.
Vale lembrar que o desenvolvimento humano não é linear nem tampouco fixo, ou
seja, sofre a influência de diversos aspectos e pode ser diferente de uma pessoa para
outra, o que justifica a necessidade de que você conheça alguns modelos teóricos de
desenvolvimento motor, buscando autores que estudam o assunto em suas pesquisas.
Diante disso, ao término da unidade você irá conhecer os aspectos que podem interferir
no desenvolvimento humano. Costumeiramente usamos para designar desenvolvimento
motor os termos típico – quando as aprendizagens motoras estão acontecendo conforme
o esperado para determinada idade; e atípico – quando algo nas ações motoras de um
ser humano não acontece de acordo com o esperado e este demonstra não estar desen-
volvendo as habilidades motoras de acordo com as tabelas de referência. Considerando o
exposto, finalizo a unidade explicando um modelo teórico de desenvolvimento motor.
Espero ter instigado sua curiosidade. A partir de agora te convido a ficar cada vez
mais intrigado e entendido do assunto.
Bons estudos!

UNIDADE I Plano de Conhecimento 8


1 INTRODUÇÃO E CONCEITOS

Neste tópico inicial você irá conhecer termos que serão utilizados durante toda a
disciplina. É fundamental que, sempre que necessário, esta unidade seja retomada. Se
achar melhor, monte uma tabela ou mapa mental desses termos para tê-los sempre à mão.
São conceitos que fazem parte dos estudos em desenvolvimento humano e que dialogam,
ou seja, existe uma relação entre eles, mas cada um tem aspectos específicos, que preci-
sam ser conhecidos por você. Por isso recomendo que, ao estudar o tópico, vá montando
anotações e recorra a elas sempre que precisar.

1.1 Desenvolvimento, Maturação, Crescimento, Aprendizagem e outros Termos


Neste tópico você irá conhecer termos e conceitos que serão utilizados de maneira
recorrente na disciplina e na sua atuação como profissional da Educação Física. Para tanto,
o embasamento teórico se deu em Gallahue e Ozmun (2013); Tani (2008); Fonseca (2008);
Magill (2000) e Haywood e Getchell (2016).
O desenvolvimento é entendido como o conjunto de processos de natureza
biológica que representa as transformações que ocorrem em um organismo no decorrer
da vida. Em se tratando de desenvolvimento humano, tal processo está relacionado a
aspectos de ordem psíquica, também é fruto das frequentes relações e interações sociais
que constrói, estabelece e promove no decorrer de sua vida. Sendo assim, em nós, seres
humanos, o desenvolvimento abrange diversos aspectos, sendo: sociológico, biológico e

UNIDADE I Plano de Conhecimento 9


psicológico. Considerando que tais dimensões funcionam de maneira interativa, formando
o ser humano de maneira integral, temos complexidade e individualidade no mesmo ser.
Ao tratarmos do desenvolvimento motor, falamos do conjunto de modificações
no comportamento, nas ações motoras, de acordo com a idade. Constitui um processo
complexo de alterações que, interligadas, envolvem aspectos de crescimento maturação de
sistemas e aparelhos do corpo humano. O desenvolvimento motor tem início na concepção,
se estende por toda a vida e termina ao morrer.
Por crescimento entende-se o conjunto de modificações morfológicas do ser
humano nos aspectos corporais, como composição e proporção dos segmentos, resulta
da mensuração das transformações de hipertrofia – aumento de massa muscular – e de
hiperplasia – aumento do número de células em órgãos ou tecidos. O crescimento é um
processo permeado por mudanças hormonais complexas, manifestado em períodos mais
e menos intensos. Portanto, não é um percurso linear e acaba por ser assimétrico, com
momentos de maior ou menor estabilidade.
Gallahue e Ozmun (2013, p. 30), na obra, considerada a “bíblia” do desenvolvimen-
to motor, de título Compreendendo o desenvolvimento motor, apresentam as seguintes
concepções (caro(a) aluno(a), recomendo que você grave este nome, será uma referência
fundamental na sua área).
Os termos crescimento e desenvolvimento são usados com frequência
como sinônimos, mas há diferença de ênfase. No seu sentido mais puro, o
crescimento físico refere-se ao aumento do tamanho do corpo do indivíduo ou
de suas partes durante a maturação. Em outras palavras, crescimento físico
é o aumento na estrutura do corpo provocado pela multiplicação ou aumento
das células. No entanto, o termo crescimento muitas vezes é usado para se
referir à totalidade das mudanças físicas e, assim, torna-se mais inclusivo,
assumindo o mesmo sentido de desenvolvimento. [...] o desenvolvimento,
no seu sentido mais puro, refere-se a mudanças no nível de funcionamento
do indivíduo ao longo do tempo. [...] embora o desenvolvimento seja visto
mais como o surgimento e a ampliação da capacidade de funcionar em um
nível elevado, temos de reconhecer que o conceito de desenvolvimento é
muito mais amplo e que ele é um processo cuja duração se estende pela vida
inteira.

A maturação é uma concepção estritamente biológica, expressa por um conjunto


de modificações fisiológicas determinadas pelas especificidades genéticas. Apesar de en-
contrar o seu sentido de forma mais ampla e até mesmo como sinônimo de desenvolvimen-
to, ou algumas vezes de aprendizagem, optamos por estabelecer maturação no patamar
dos processos internos que geram alterações morfológicas ou do que tange ao potencial
de aprendizagem e desenvolvimento do ser humano. Sobre maturação, Gallahue e Ozmun
(2013, p. 30) apresentam que

UNIDADE I Plano de Conhecimento 10


refere-se a mudanças qualitativas, que permitem a progressão até níveis
mais elevados de funcionamento. Quando vista a partir de uma perspectiva
biológica, a maturação é primordialmente inata; ou seja, é determinada ge-
neticamente e resistente a influências externas ou ambientais. A maturação é
caracterizada por uma ordem de progressão fixa, em que o ritmo pode variar,
mas a sequência de surgimento das características, em geral, não varia.

Ao tratarmos de maturação nos referimos aos processos específicos que ocorrem


em sistemas, como nervoso, ósseo, entre outros. Mesmo que possamos olhar aspectos
maturacionais de cada um desses sistemas, é fato que existem entre eles uma espécie de
comunicação expressa num mecanismo de regulação em conjunto, o que faz com que o
organismo funcione de maneira harmônica.
Segundo Haywood (2016, p. 21)
Maturação denota o progresso em direção à maturidade física, ao estado
de integração funcional ideal dos sistemas corporais de um indivíduo e à
capacidade de reprodução. já o desenvolvimento continua o mesmo depois
que se atinge a maturidade física. As mudanças fisiológicas não param ao
final do período de crescimento físico: elas ocorrem durante toda a vida.

Aspectos maturacionais são essenciais para o desenvolvimento motor e interferem


nas aprendizagens das pessoas, ou seja, caso uma criança, adolescente ou adulto não
esteja com seus sistemas “maduros” para desenvolver determinada habilidade ou compe-
tência, e isso está intimamente relacionado com a idade, ela pode não ocorrer.
O que quero dizer com isso, aluno(a)? Pense na aprendizagem do andar pela
criança, que acontece por volta dos 12 meses de vida. Pois bem, se não há minimamente
a maturação dos sistemas nervoso, ósseo e muscular, a criança vai conseguir aprender a
andar? Reflita sobre a situação por alguns instantes antes de continuar seus estudos...
Mas vamos deixar claro que o desenvolvimento humano não depende exclusiva-
mente da maturação, apesar de existirem linhas teóricas que defendem tal premissa. Neste
material vamos trabalhar com a ideia de que para que o desenvolvimento ocorra de maneira
saudável é necessário um conjunto de aspectos, entre esses a aprendizagem.
Aprendizagem é entendida como o conjunto de adequações e ajustes da resposta
a partir de uma vivência, que envolvem estruturas de tomada de decisão superiores. Consti-
tui-se em processos de mudanças comportamentais derivados de experiências construídas
em aspectos sócio afetivos, emocionais, neurológicos, ambientais e relacionais.
Nesse sentido, a aprendizagem motora é o conjunto de processos motores e
cognitivos relacionados às ações e à prática, e que acabam por modificar o comportamento
motor. A aprendizagem motora vai estudar o desenvolvimento de aquisições motoras no
decorrer da vida, quando, por exemplo, uma criança passa do não saber andar de bicicleta

UNIDADE I Plano de Conhecimento 11


para o conseguir realizar tal ação motora com destreza e segurança e de que maneira todo
o processo acontece. Nesta perspectiva serão estudados os aspectos que interferem na
aquisição das habilidades motoras, bem como os mecanismos que atuam nas alterações
do comportamento motor.
De acordo com Gallahue e Ozmun (2013, p. 32), “aprendizado motor portanto, é o
aspecto do aprendizado em que o movimento desempenha a principal parte. O aprendizado
motor é uma mudança relativamente permanente no comportamento motor, resultando da
prática ou da experiência passada”.
Por controle motor entende-se os movimentos realizados e controlados, ou seja,
os que são intencionais. Nesse caso são controlados voluntariamente pelo Sistema Nervoso
Central e trabalham de maneira coordenada do sistema muscular e ósseo, numa relação
entre sistema sensorial, meio ambiente e movimentos corporais. Para Gallahue e Ozmun
(2013, p. 33) “é o aspecto do aprendizado e do desenvolvimento motor que lida com o
estudo dos mecanismos neurais e físicos subjacentes ao movimento humano”.
O termo comportamento motor refere-se às alterações no controle e no desen-
volvimento motor e contempla aspectos de aprendizagem e dos processos maturativos
relacionando a performance na realização dos movimentos corporais. Sendo assim, o
comportamento motor estuda aprendizagem, controle e desenvolvimento motor. Estudando
de que maneiras os movimentos são apreendidos, bem como as alterações sofridas no
decorrer da vida em resposta aos fatores internos e externos.
Por habilidade motora entende-se a execução de uma ação motora que tenha um
objetivo específico e, para tal, requer a realização de movimentos voluntários do corpo ou
de membros, quais sejam: andar, correr, saltar, tocar um instrumento, entre outros. São os
movimentos voluntários realizados pelo corpo para executar determinada tarefa.
O termo movimento diz respeito às mudanças que observamos nas posições dos
segmentos corporais, que culminam de atos motores subjacentes.
E para terminar nosso glossário de verbetes fundamentais da disciplina vamos
falar de experiência, entendida como aspectos ambientais que possibilitam a alteração
do desenvolvimento no decorrer do processo de aprendizagem. As vivências da criança
podem interferir no ritmo dos padrões de comportamento motor que surgem. Por isso é
essencial que o ambiente seja saudável e que os estímulos proporcionados às pessoas
sejam coerentes com as etapas de desenvolvimento, respeitem os níveis maturacionais e
os interesses de acordo com a faixa etária.

UNIDADE I Plano de Conhecimento 12


Ao iniciarmos esta unidade fiz uma sugestão que retomo agora, se, por acaso, você
não fez. Agora que estudou diversos termos que serão utilizados no decorrer da disciplina,
e bem provavelmente durante o curso, bem como em sua atuação profissional, monte uma
tabela ou mapa mental do que foi trabalhado. Sempre que precisar ou tiver dúvida em
relação a um desses verbetes recorra às suas anotações.

UNIDADE I Plano de Conhecimento 13


2 COMPREENDENDO O DESENVOLVIMENTO MOTOR

No presente tópico iremos tratar do desenvolvimento motor: noções básicas e


conceituais, aspectos históricos, métodos de estudo do desenvolvimento – longitudinal,
transversal e longitudinal misto. Neste momento buscamos um aporte teórico essencial
para construção dos saberes da disciplina e que irão contribuir de maneira significativa para
as próximas unidades e para a sua formação profissional.

2.1 Noções Básicas e Conceituais


Antes de mais nada, pense por alguns instantes na importância dos movimentos
para a vida das pessoas. Isso mesmo... Pense no cotidiano das pessoas e o quanto o
movimento corporal é fundamental para realização das inúmeras tarefas que executamos.
Na verdade, tudo o que fazemos depende e envolve ações motoras, desde mo-
vimentos involuntários, como as batidas do coração ou a respiração, até os intencionais,
como caminhar, digitar e tantos outros que executamos o tempo todo.
Por isso entender a maneira como tais movimentos são realizados, compreender o
controle motor e aspectos de coordenação, realização de movimentos e de desenvolvimen-
to é fundamental para entendermos a vida humana.
Ao conhecer o processo de desenvolvimento motor típico – quando se dá de ma-
neira saudável e de acordo com o esperado para a idade, sem intercorrências – somos
capazes de proporcionar estímulos adequados e orientações essenciais para que o ensi-
no-aprendizagem ocorra de maneira eficaz.

UNIDADE I Plano de Conhecimento 14


O que isso quer dizer na prática? Quando os profissionais da Educação, da Educa-
ção Física e até mesmo pais e responsáveis compreendem aspectos do desenvolvimento,
estão aptos a selecionar estratégias, técnicas e atividades condizentes com as necessi-
dades de desenvolvimento do aluno, o que os permite construir o planejamento de ensino
pautado em referenciais que estudam o ser humano com base em suas especificidades,
respeitando cada etapa de aprendizagem. O resultado são aulas mais significativas para
o grupo, mais relevantes e que realmente desenvolvem habilidades essenciais para deter-
minada faixa etária e promovem aprendizagens que serão importantes para os próximos
conteúdos a serem aprendidos.
Você pode estar se perguntando, mas e aquelas pessoas que têm desenvolvi-
mento atípico, como crianças com transtornos do neurodesenvolvimento: Autismo, TDAH,
Deficiência Intelectual; ou transtornos específicos de aprendizagem: Dislexia, Disortografia,
Disgrafia, entre outros? De que serve conhecer aspectos e tabelas de referência de desen-
volvimento motor?
Pois bem, para essas pessoas, entender de desenvolvimento motor pelos profis-
sionais que os atendem fornece um suporte consistente que contribui na intervenção, no
processo terapêutico e na prescrição da medicação.
Compreender os processos de desenvolvimento humano é necessário em diversos
contextos da sua atuação profissional, quais sejam: escola, treinamento desportivo, acade-
mia, clínica, entre outros. Leia com atenção o que Gallahue e Ozmun (2013, p. 21) dizem
sobre o assunto
Sem noções sólidas sobre os aspectos do desenvolvimento do comporta-
mento humano, podemos apenas intuir técnicas educativas e procedimento
de intervenção apropriados. As instruções com base no desenvolvimento
envolvem experiências de aprendizado que são não apenas adequadas à
idade, mas também apropriadas e divertidas em termos de desenvolvimento.
O fornecimento de instruções é um aspecto importante do processo ensi-
no-aprendizado. As instruções, entretanto, não explicam o aprendizado; o
desenvolvimento, sim.

E aí? Percebeu a importância de conhecer o desenvolvimento para intervir de


maneira consistente e responsável? Sendo assim, podemos continuar nossos estudos...
Gostaria de esclarecer que para montagem deste material utilizei referenciais teó-
ricos significativos sobre o tema, mas que não se configuram como verdades absolutas,
pode ser que em suas pesquisas e estudos posteriores você encontre outras perspectivas
e diferentes abordagens e linhas teóricas. Permita-se o debate entre os diferentes olhares
e possibilite o diálogo e não o enfrentamento das teorias.

UNIDADE I Plano de Conhecimento 15


Feitos os devidos esclarecimentos, vou apresentar um esquema construído por
David Gallahue e Ozmun (vai aparecer muitas vezes por aqui...) que consiste numa visão
transacional sobre as causas do desenvolvimento motor. Neste momento gostaria que
você observasse a imagem e buscasse exemplos do cotidiano que explicitem cada um dos
fatores. Faça a tentativa!

Figura 1 - Visão tradicional da relação causal no desenvolvimento motor

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 22).

A Figura 1 mostra os diversos aspectos que atuam no desenvolvimento motor do


ser humano e representam a maneira como estão interligados. Justamente por isso que o
profissional da Educação Física deve estar atento às condições para o desenvolvimento
dos seus alunos, lembrando sempre que para que uma aprendizagem aconteça deve estar
em condições favoráveis: individuais, ambientais e da tarefa, como apresenta a figura.
Para vencer a relação dicotômica que existe entre os aspectos biológicos e os
ambientais a fim de compreender o desenvolvimento motor, Manoel (2008, p. 34) esclarece
que
[...] o desenvolvimento motor, nos últimos anos, é visto como um processo
que envolve a emergência, a aquisição e o aperfeiçoamento de funções e ha-
bilidades a partir de um script que vai sendo escrito ao longo da experiência.
A extensão do script, a gramática sobre a qual ele opera, é predeterminada
pela nossa natureza (biológica) humana.

UNIDADE I Plano de Conhecimento 16


É fundamental estudarmos o desenvolvimento como um processo contínuo que
começa ao nascer e se estende durante toda a vida, terminando com a morte. Por isso
devemos estudar o desenvolvimento em todas as idades, pensando que ocorre no decorrer
da vida e que as aquisições e aprendizagens são progressivas e contínuas, ou seja, elas
acontecem do mais simples para o mais complexo e dependem de aprendizagens anterio-
res para que possam evoluir.
Ficou confuso?
Exemplifico para esclarecer... Para aprender a correr, a criança deve primeiro andar,
para andar deve aprender a ficar em pé, em equilíbrio, e assim sucessivamente. De acordo
com Gallahue e Ozmun (2013, p. 23),
O processo de desenvolvimento, e, de modo mais específico, o processo de
desenvolvimento motor, deve nos fazer lembrar constantemente da indivi-
dualidade do aprendiz. Cada indivíduo tem um cronograma singular para a
aquisição das capacidades de movimento e das habilidades de movimento.
Embora o “relógio biológico” do indivíduo seja bem específico, quando se
trata da sequência de aquisição das habilidades de movimento (maturação),
a taxa e a extensão do desenvolvimento são determinadas individualmente
(experiência) e sofrem drástica influência das demandas de performance das
tarefas.

Sobre o desenvolvimento motor Haywood (2016, p. 4-5) aponta que deriva de


diversos aspectos e os aponta ao afirmar que
Primeiro, é um processo contínuo de mudanças na capacidade funcional.
pense na capacidade funcional como a capacidade de existir - viver, mover-
-se e trabalhar - no mundo real. Esse é um processo cumulativo, em que os
organismos vivos estão sempre em desenvolvimento, mas a quantidade de
mudanças pode ser mais ou menos observável ao longo da vida. Segundo,
o desenvolvimento está relacionado à idade (apesar de não depender dela).
À medida que a idade avança, o desenvolvimento ocorre. Todavia, ele pode
ser mais rápido ou mais lento em diferentes períodos, e suas taxas podem
diferir entre pessoas da mesma idade. Cada indivíduo não necessariamente
avança em idade e desenvolvimento na mesma proporção. Além disso, o
desenvolvimento não para em uma idade em particular, mas continua ao
longo da vida. Terceiro, o desenvolvimento envolve mudanças sequenciais.
Um passo leva ao passo seguinte, de maneira irreversível e ordenada. essa
mudança é resultado de interações internas do indivíduo e de interações
entre o sujeito e o ambiente. Todos os componentes de uma espécie passam
por padrões previsíveis de desenvolvimento, mas o resultado é sempre um
grupo de indivíduos únicos.

Ainda sobre desenvolvimento motor, temos um pesquisador da área da Educação


Física, com uma abordagem inicialmente desenvolvimentista, Tani (2008, p. 317), que con-
sidera como ótimo o desenvolvimento motor que implica no
[...] aumento da diversificação e complexidade do comportamento motor.
Entende-se por aumento de diversificação o aumento na quantidade de
elementos do comportamento e por aumento de complexidade, o aumento
de interação entre os elementos de comportamento.

UNIDADE I Plano de Conhecimento 17


No próximo tópico iremos conhecer, de maneira sucinta, os principais aspectos
históricos que permeiam os estudos de desenvolvimento motor. Tais informações irão con-
tribuir de maneira significativa para compreender a importância de estudar o tema na sua
atuação profissional. O desenvolvimento motor transversaliza o trabalho do profissional de
Educação Física, tendo em vista que o seu objeto de estudo é o corpo em movimento.

2.2 Aspectos Históricos


Os primeiros estudos que tematizam o desenvolvimento motor partiram do princípio
da maturação e foram encabeçados por Arnold Gesell (1928) e Myrtle McGraw (1935).
Os pesquisadores defendiam a ideia de que “o desenvolvimento é função de processos
biológicos inatos, que resultam em uma sequência universal de aquisição das habilidades
de movimento pelo bebê” (GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 23). Além disso, partiam do pres-
suposto de que o ambiente influencia o desenvolvimento, mas que de temporariamente,
tendo em vista que os aspectos genéticos se sobrepunham aos fatores ambientais.
No final do século XIX aconteceram alguns estudos sobre a aprendizagem motora
e, nesse momento, foram impulsionados pela Psicologia, com os pesquisadores Bryan e
Harter (1897), ao tratar da aquisição de habilidades de manejo do código Morse. Posterior-
mente por Woodsworth (1899), com base na análise da relação entre precisão e velocidade
nos movimentos das mãos. Franklin M. Henry (1964), a partir da psicologia experimental,
considerado um dos principais pesquisadores das habilidades motoras, propõe estudos da
coordenação motora ampla, observando ações motoras realizadas por todo o corpo em
situações de jogos e ginásios.
Henry teve como discípulos nas décadas de 70 e 80 Dick Schmidt e Craig Wrisberg,
haja vista que Henry influenciou diretamente as áreas da Educação Física e da Cinesiologia
– ciência que analisa os movimentos corporais.
Após a segunda guerra mundial surgiram novos estudos sobre o desenvolvimento
motor, por pesquisadores da área da Educação Física que trabalharam com as potenciali-
dades da performance motora em crianças. Diferente de Gesell e McGraw, que trabalharam
mais com bebês, Espenschade, Glassow e Rarick (1981) concentraram suas investigações
em crianças em idade escolar.
Depois da década de 60, os estudos acerca do desenvolvimento motor foram am-
pliando. Estudantes e pesquisadores se propuseram a investigar a aquisição dos padrões
dos movimentos fundamentais e os meios subjacentes para tais aquisições, ou seja, quais
aspectos interferem nas aprendizagens motoras.

UNIDADE I Plano de Conhecimento 18


De acordo com Gallahue e Ozmun (2013, p. 24),
Durante as décadas de 1980 e 1990, a ênfase do estudo do desenvolvi-
mento motor de novo mudou de forma drástica. Em vez de focar o produto
do desenvolvimento, como nas abordagens normativas/descritivas das três
décadas precedentes, os pesquisadores passaram a enfatizar outra vez a
compreensão dos processos subjacentes envolvidos no desenvolvimento
motor. Embora a importância fundamental da hereditariedade tivesse sido
reconhecida, agora era dada uma importância complementar às condições
do ambiente do aprendizado e às exigências específicas da tarefa ou ação
motora.

Com o surgimento de novas perspectivas e outras possibilidades de entendimento


do desenvolvimento motor, os olhares para as aprendizagens foram se expandindo. Isso
aconteceu também pois o desenvolvimento infantil foi sendo mais estudado e as particu-
laridades da infância sendo analisadas e observadas com mais critérios. Durante muitos
anos a criança era vista como um “adulto em miniatura” e bastava que ela fosse capaz
de executar tarefas típicas da fase adulta para que a ela fossem dadas tarefas típicas da
maturidade.
Para ampliação das aprendizagens, no próximo tópico você irá conhecer alguns
modelos de desenvolvimento humano a partir de diferentes referenciais teóricos, pes-
quisadores que se propuseram a estudar o fenômeno do desenvolvimento humano e, a
partir disso, construíram teorias consistentes sobre o desenvolvimento do ser humano em
perspectivas teóricas diversas.

UNIDADE I Plano de Conhecimento 19


3 MODELOS DE DESENVOLVIMENTO HUMANO

Neste tópico iremos conhecer algumas teorias que tratam do desenvolvimento


humano em diferentes perspectivas. A proposta aqui é promover a ampliação de ideias
sobre a maneira como acontece o desenvolvimento humano a partir de diferentes referen-
ciais teóricos. Vale esclarecer que foram selecionados alguns pesquisadores que podem
contribuir para sua aprendizagem, o que não quer dizer que sejam os únicos.

3.1 Piaget – Teoria do Desenvolvimento Cognitivo


Uma das teorias mais exploradas pela Educação, idealizada por Piaget, a Teoria do
Desenvolvimento Cognitivo, está entre as mais conhecidas por pesquisadores do desen-
volvimento infantil. Piaget parte do desenvolvimento cognitivo para construir uma tabela de
referenciais de aprendizagem, de acordo com a faixa etária da criança. Estuda a maneira
como se aprende, do nascimento até os 11 anos, principalmente, e sugere organizar em
estágios, que podem ser observados na Tabela 1.
Distinguindo quatro períodos de desenvolvimento cognitivo, quais sejam: sensório-
-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal, Piaget afirma que o sujeito
constrói esquemas de assimilação mentais para interpretar a realidade.

UNIDADE I Plano de Conhecimento 20


Tabela 1 - Desenvolvimento cognitivo por estágios - Jean Piaget

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 58).

A aprendizagem humana acontece por meio da adaptação, complementada por


processos conhecidos como acomodação e assimilação, como pode ser observado no
esquema a seguir:

Figura 2 - Processos do desenvolvimento cognitivo de acordo com Piaget

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 59).

UNIDADE I Plano de Conhecimento 21


Nesta perspectiva, Piaget (2011, p. 89) afirma que
Levando em conta, então, esta interação fundamental entre fatores internos
e externos, toda conduta é uma assimilação do dado a esquemas anteriores
(assimilação a esquemas hereditários em graus diversos de profundidade) e
toda conduta é, ao mesmo tempo, acomodação destes esquemas a situação
atual. Daí resulta que a teoria do desenvolvimento apela, necessariamente,
para a noção de equilíbrio entre os fatores internos e externos ou, mais em
geral, entre a assimilação e a acomodação.

3.2 Erik Erikson – Teoria Psicossocial

Conhecida como psicossocial, essa teoria apresenta fases-estágio para estudar o


desenvolvimento humano. Embasado na experiência, Erikson defende que o desenvolvi-
mento psicossocial sofre influência de aspectos motores e da educação pelo movimento no
decorrer da vida, sendo o movimento o componente fundamental na relação de reciprocidade
nas relações parentais. Para o autor, o contato físico e as experiências corporais oferecem
suporte para o estado psíquico de confiança ou desconfiança estabelecido (GALLAHUE;
OZMUN, 2013).

A Tabela 2 mostra os estágios e as características da teoria proposta por Erikson.


Para esse momento da sua formação, caro(a) aluno(a), este panorama é suficiente, já que
a proposta aqui é apresentar teorias que possam dialogar com o desenvolvimento motor.

UNIDADE I Plano de Conhecimento 22


Tabela 2 - Desenvolvimento psicossocial organizado em estágios - Erikson

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 55).

UNIDADE I Plano de Conhecimento 23


3.3 Arnold Gesell – Teoria da Maturação
Gesell aborda na teoria da maturação do desenvolvimento e do crescimento que
o aspecto principal para o desenvolvimento dos aspectos físicos e motores do comporta-
mento humano é a maturação do sistema nervoso. Para o pesquisador, o desenvolvimento
humano está pautado em adquirir uma gama de habilidades motoras rudimentares pelo
bebê, e que essas capacidades atuam como indicadores fundamentais para o crescimento
social e emocional do indivíduo.
Gallahue e Ozmun (2013, p. 44) esclarecem que Gesell
descreveu várias idades em que as crianças se encontram em períodos
“nodais” ou então “fora de foco” em relação ao seu ambiente. O estágio
nodal é um período de maturação, durante o qual a criança exibe elevado
grau de domínio em situações no ambiente imediato, apresenta equilíbrio de
comportamento e geralmente é agradável. Estar fora de fora é o contrário: a
criança exibe um baixo grau de domínio em situações no ambiente imediato,
apresenta desequilíbrio ou problemas de comportamento e geralmente é
desagradável.

Essa teoria atualmente não é largamente aceita, mas já serviu de base para orientar
muitos estudos e pesquisas.

3.4 Freud – Teoria Psicanalítica


A teoria psicanalítica proposta por Freud apresenta estágios e pode ser vista como
um dos primeiros modelos do desenvolvimento humano, centrada na personalidade, trata
de “estágios psicossexuais do desenvolvimento”, que
[...] refletem várias zonas do corpo comas quais o indivíduo busca satisfazer
o id (fonte inconsciente de motivos, desejos, paixões e busca de prazer) em
determinados períodos etários gerais. O ego faz a mediação entre o com-
portamento de busca do prazer do id e o superego (senso comum, razão e
consciência) (GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 43).

Freud organizou sua teoria nos seguintes estágios: oral, anal, fálico, latente e geni-
tal, com base nos locais de busca de prazer do ser humano e afirma que, cada estágio está
relacionado com as sensações físicas e com as atividades motoras.

3.5 Robert Havighurst – Teoria do Ambiente


Essa abordagem parte do princípio de que, ao realizar uma tarefa e obter sucesso,
o indivíduo fica feliz, o que garante êxito nas atividades posteriores. Caso a realização
da tarefa não seja bem sucedida, o resultado será a infelicidade, desaprovação social e
dificuldade. De acordo com Gallahue e Ozmun (2013, p. 62),
Em cada nível do desenvolvimento, a criança encontra novas demandas
sociais. Essas demandas, ou tarefas, surgem a partir de três fontes. Pri-

UNIDADE I Plano de Conhecimento 24


meiro, surgem da maturação física. Depois, surgem das pressões culturais
da sociedade, como aprender a ler e a ser cidadão responsável. A terceira
fonte de tarefas é o próprio indivíduo. As tarefas surgem da personalidade em
maturação e dos valores e das aspirações próprias individuais.

Para Havighurst, o professor tem papel fundamental nesse processo, pois pode
planejar de maneira adequada o processo de ensino, “identificando as tarefas adequadas a
determinado nível de desenvolvimento e tendo plena consciência de que o nível de pronti-
dão da criança é influenciado por fatores biológicos, culturais e pessoais”, e que estes, por
sua vez funcionam de maneira integrada (GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 62)
Havighurst organizou as etapas do desenvolvimento da seguinte forma: fase do
bebê e primeira infância – nascimento até 5 anos; segunda infância – 6 a 12 anos; adoles-
cência – 13 a 18 anos; adultez jovem – 19 a 29 anos; meia-idade – 30 a 60 anos e terceira
idade – 60 anos em diante.
Segue uma tabela, trazida por Gallahue e Ozmun (2013), que apresenta os marcos
do desenvolvimento a partir da teoria de Havighurst. Lembrando que as aprendizagens
devem ser observadas de maneira ampla e com certa flexibilidade, haja vista que o ser
humano pode apresentar alterações, considerando que o que temos em tabelas de refe-
rência são aproximações convenientes e não protocolos rígidos ou enquadramentos que
determinam desenvolvimento humano.

Tabela 3 - Períodos do desenvolvimento de acordo com a teoria de Havighurst

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 62-63).

UNIDADE I Plano de Conhecimento 25


4 FATORES QUE AFETAM O DESENVOLVIMENTO MOTOR

Para começo de conversa reflita sobre as seguintes questões:


● Todas as pessoas têm as mesmas habilidades motoras desenvolvidas?
● Existem aprendizagens de movimento corporal que você consegue e outras
pessoas que conhece não conseguem fazer?
● Todas as crianças aprendem as ações motoras com a mesma idade?

Pois bem, acredito que suas respostas para as perguntas foram negativas, tendo
em vista que, mesmo entre irmãos gêmeos univitelinos, as aquisições das habilidades
motoras podem ser diferentes.
O que quero dizer com isso? Que apesar de existirem referências e tabelas para
o desenvolvimento humano, e para o motor também, existem aspectos que interferem e
influenciam diretamente na aprendizagem humana. E o objetivo deste tópico é exatamente
esse: mostrar para você quais fatores podem afetar o desenvolvimento das aprendizagens
motoras.
Sabendo que existem os fatores individuais, que estão relacionados a cada ser hu-
mano particularmente, os fatores ambientais, que dizem respeito ao meio no qual a criança
está inserida, e, por último, mas não menos importante, existem os aspectos relacionados
às tarefas físicas, como questões étnicas e culturais. É imprescindível que nós, profissio-

UNIDADE I Plano de Conhecimento 26


nais da Educação Física possamos conhecer cada um deles, para olhar o desenvolvimento
motor e todas as variáveis que interferem na evolução saudável.

4.1 Fatores Individuais


Aqui tratamos dos aspectos genéticos e hereditários. Quando falamos de similari-
dades, entendemos que existe uma tendência de que o desenvolvimento humano aconteça
de forma ordenada e previsível, porém existem aspectos biológicos que podem alterar tal
ordem e previsibilidade.
A direção do desenvolvimento é um desses aspectos individuais, está relacio-
nada à maturação neuromotora e à progressão cefalocaudal – controle da musculatura
partindo da cabeça em direção aos pés – e proximodistal – controle da musculatura e dos
movimentos, partindo do centro do corpo para as extremidades, em direção às partes mais
distantes.
Assim como no desenvolvimento cefalocaudal, o conceito de proximodistal
aplica-se tanto aos processos do crescimento como à aquisição das habili-
dades de movimento. Por exemplo, em relação ao crescimento, o tronco e a
cintura escapular crescem antes dos braços e das pernas, que crescem antes
dos dedos das mãos e dos pés. Na aquisição das habilidades, a criança mais
nova é capaz de controlar os músculos do tronco e da cintura escapular antes
dos punhos, das mãos e dos dedos. Esse princípio do desenvolvimento é
usado com frequência nos primeiros anos de escola, quando são ensinados
os elementos menos refinados da escrita antes do ensino dos movimentos
mais refinados e complexos (GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 84-85).

Tais aspectos se desenvolvem durante toda a vida e na velhice acontece o caminho


inverso, ou seja, as ações motoras que os membros inferiores e superiores realizam tendem
a perder a destreza e eficácia. Por isso é necessário que as pessoas se mantenham ativas
durante toda a vida e continuem fazendo atividades físicas na terceira idade, para que não
percam a capacidade de mobilidade corporal adquirida, tendo em vista que isso acontece
biologicamente.
Outro aspecto é a taxa de crescimento, que pode sofrer interferência quando a
criança é acometida por uma doença grave que, momentaneamente, pode afetar o seu pa-
drão de crescimento. Esse fator é resistente à influência externa, ou seja, mesmo que haja
alteração no crescimento no indivíduo, por doença ou prematuridade, a tendência é que a
criança recupere os níveis de crescimento e alcance os colegas com idade aproximada a
sua. Caso ocorra a permanência no atraso de crescimento essa diferença pode afetar o
desenvolvimento motor de maneira significativa e o efeito disso está relacionado ao tempo
de duração e da gravidade da carência, da idade em que tal fato ocorrer e do potencial de
crescimento genético do indivíduo.

UNIDADE I Plano de Conhecimento 27


O entrelaçamento recíproco é um aspecto do indivíduo que corresponde ao
“entrelaçamento coordenado, progressivo e intrincado dos mecanismos neurais dos
sistemas musculares opostos em uma relação de maturidade crescente” (GALLAHUE E
OZMUN, 2013, p. 85). Está relacionado à capacidade de diferenciar e integrar mecanismos
motores e sensoriais, aumentando de maneira complexa dois processos diferentes, chama-
dos de diferenciação e integração.
A diferenciação é relativa às ações motoras amplas que vão sendo progressiva-
mente refinadas na infância e adolescência. Por exemplo, a pega de um objeto, primeiro
ela é feita com a mão toda de maneira mais global e, à medida que o movimento vai sendo
diferenciado, vai refinando até que a pega fica como pegamos no lápis de maneira madura,
por volta dos 7 anos. O controle desses movimentos refinados se dá a partir da prática.
A integração acontece quando os músculos opostos e os sistemas sensoriais intera-
gem de maneira coordenada. A criança mais nova vai dos movimentos pouco coordenados
e imprecisos para ações motoras definidas, maduras e orientadas.
Sobre os processos de diferenciação e integração Gallahue e Ozmun (2013, p. 86)
esclarecem que
[...] tendem a reverter-se quando a idade avança. Conforme a pessoa en-
velhece e as capacidades de movimento começam a regredir, a interação
coordenada dos mecanismos sensoriais e motores frequentemente fica
inibida. O grau de regressão das capacidades do movimento coordenado não
é mera função da idade, mas sofre grande influência dos níveis de atividade
e da atitude.

Outro fator individual é a prontidão, que depende da junção de aspectos biológicos,


ambientais e físicos, diz respeito a estar pronto para aprender determinada tarefa. Algumas
variáveis interferem na capacidade de estar apto para aprender uma nova habilidade de
movimento corporal, quais sejam, maturação psíquica e física, interação de maneira moti-
vada, aprendizado de pré-requisitos e ambiente rico em estímulos. O aspecto da prontidão
sofre influência direta do professor, ou seja, cabe a quem ensina observar se a criança está
“madura” e já possui as aprendizagens necessárias para vivenciar um novo estímulo, que
vai dar origem a uma nova habilidade.
Os períodos de aprendizagem críticos e sensíveis estão relacionados à prontidão
e aos momentos da vida nos quais os indivíduos estão mais suscetíveis a certos estímulos
em relação a outros períodos. Por exemplo, a criança que não tem nutrição adequada ou
carência de experiências motoras na primeira infância pode sofrer consequências negativas
no desenvolvimento em uma idade mais avançada.

UNIDADE I Plano de Conhecimento 28


Existem etapas sensíveis amplamente determinadas, durante os quais as pessoas
estão aptas a aprender novas tarefas de forma mais eficaz e efetiva. Vale destacar que o
aprendizado acontece durante toda a vida, ou seja, é possível aprender novas habilidades
motoras ou de outra natureza em qualquer momento da vida, mas existem períodos em que
ocorre a aprendizagem facilitada, em que existem condições favoráveis para tal.
O fator que trata das diferenças individuais está relacionado às singularidades
que cada ser humano apresenta, ou seja, cada pessoa possui seu cronograma próprio de
desenvolvimento, que deriva da hereditariedade somada à influência do ambiente. Mesmo
que exista uma sequência para o desenvolvimento das características, o ritmo das aquisi-
ções pode variar.
As habilidades filogenéticas são vistas na perspectiva da maturação, surgem de
forma automática e resistem às influências externas, são
[...] as tarefas de manipulação rudimentares de alcançar, pegar e soltar
objetos; tarefas de estabilidade para adquirir controle sobre a musculatura
ampla do corpo; e as capacidades locomotoras fundamentais de caminhar,
saltar e correr são exemplos do que é considerado habilidade filogenética
(GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 88).

As habilidades ontogenéticas resultam de estímulos do ambiente e de oportunida-


des de aprendizagem. Exemplos como andar de bicicleta, nadar, não aparecem de maneira
automática, mas devem ser aprendidos ou vistos e experimentados para que possam ser
aprendidos pela criança, são fortemente influenciados por aspectos culturais e ambientais.
De acordo com Gallahue e Ozmun (2013, p. 88),
Embora haja uma tendência biológica para o desenvolvimento de determi-
nadas habilidades em função de processos filogenéticos, seria simplista
pressupor que, sozinha, a maturação é responsável pelo desenvolvimento
motor. A extensão ou domínio de qualquer habilidade de movimento voluntário
depende, em parte, da ontogenia, ou seja, do ambiente. Em outras palavras,
oportunidades de prática, estímulo e instrução, a ecologia ou condições do
ambiente contribuem significativamente para o desenvolvimento das habili-
dades de movimento ao longo da vida.

Apesar de existirem fatores individuais, ficou bastante claro que o papel do profes-
sor, dos estímulos e das vivências a serem oferecidas ao indivíduo constituem-se como
essenciais na formação e no desenvolvimento das habilidades motoras. A aprendizagem
depende de diversos aspectos, mas é imprescindível que seja oferecido à criança um am-
biente saudável e favorável para aquisição de habilidades e competências quando se trata
de movimento humano.

UNIDADE I Plano de Conhecimento 29


4.2 Fatores Ambientais
Quando falamos de fatores ambientais nos concentramos no comportamento das
pessoas que convivem com as crianças, nas relações parentais estabelecidas e na maneira
como tais relacionamentos afetam o desenvolvimento humano.
A premissa básica para entendermos esse aspecto é que as crianças aprendem
e passam grande parte da infância agindo por imitação. Isso mesmo, as crianças imitam
muitas coisas que estão ao seu redor. O que justifica muitas vezes os pais “não saberem” a
origem de determinados comportamentos, gestos ou falas de seus filhos. O fator conhecido
como laços trata da interação recíproca que se estabelece entre mãe e filho, pai e filho,
entre outras. Esta relação mútua pode atuar de maneira significativa no ritmo e na extensão
do desenvolvimento da criança.
O aspecto conhecido como estimulação e privação diz respeito ao nível de ex-
periências a que o ser humano é submetido. O quanto o treinamento e a exposição a
estímulos interferem no desenvolvimento de habilidades. Em contrapartida a carência e
escassez de vivências pode “atrasar” tais aprendizagens. Apesar de existir um potencial
biológico para que determinada habilidade seja desenvolvida, é fato que quando a criança
é estimulada a experimentar diversas possibilidades de ação motora, o resultado é um
repertório de habilidades e nível de destreza de acordo com o esperado para a idade ou até
mesmo avançado se comparado com uma criança da mesma idade que vive em condições
ambientais desfavoráveis em se tratando de estímulos ambientais.
Tal aspecto é facilmente observado quando olhamos os intervalos escolares. Ve-
mos meninos e meninas da mesma idade, mas com níveis de habilidades motoras bastante
diversificados.

4.3 Fatores das Tarefas Físicas


Neste item precisamos olhar para aspectos como: etnia, classe social, gênero,
formação étnica e cultural e, sem qualquer tipo de preconceito, olhar para tais fatores como
passíveis de influenciar o crescimento e o desenvolvimento motor. Vamos exemplificar de
maneira simples: se pensarmos na coordenação motora óculo pedal, quem desenvolve
mais facilmente? Meninos ou meninas?
Pois bem, de maneira geral, por questões culturais, os meninos são orientados
para o futebol e suas habilidades muito precocemente, o que interfere na aquisição e apri-
moramento das habilidades.

UNIDADE I Plano de Conhecimento 30


Evidente que muitas afirmativas que fazíamos há algum tempo já não podem ser
feitas atualmente, e assim as coisas vão sendo modificadas. Mas, como profissionais que
lidam diariamente com desenvolvimento humano, é necessário refletir sobre diversas situa-
ções que fazem parte do nosso cotidiano e da nossa atuação profissional.
A prematuridade é um aspecto bastante observado quando vamos tratar de de-
senvolvimento humano, mas especificamente das aquisições motoras. O nascimento pre-
maturo pode acarretar efeitos a longo prazo e ocasionar diferenças nas aquisições motoras
no decorrer da vida do indivíduo. Quando o bebê é submetido aos estímulos adequados e
tem os atendimentos necessários, muitas vezes acaba progredindo de maneira satisfatória
e acaba alcançando níveis de desenvolvimento de acordo com o esperado para a idade.
Porém, se não houver um acompanhamento adequado e atendimento necessário, a criança
pode ter seu desenvolvimento afetado.
O aspecto que se refere aos transtornos de alimentação trata de situações como
obesidade, compulsão alimentar, anorexia/bulimia, e entre crianças, adolescentes e adultos
podem afetar de maneira acentuada o crescimento e desenvolvimento motor. A obesidade
e o sobrepeso aumentam o risco do aparecimento de doenças graves, como diabetes e
hipertensão e estão associadas a várias situações negativas de saúde, como colesterol
elevado, problemas hormonais, entre outros.
A compulsão alimentar é um transtorno no qual o indivíduo apresenta descontrole
nos episódios de alimentação com intervalos e quantidades irregulares. A anorexia/bulimia
é um transtorno psíquico que deriva da aversão à comida e na autoinanição, podendo
resultar em atraso no desenvolvimento ou até mesmo levar à morte.
O nível de aptidão física de uma pessoa afeta no desenvolvimento motor, quando
falamos das condições de força, velocidade, flexibilidade, resistência, entre outras capa-
cidades relacionadas ao condicionamento físico, estamos também falando do desenvolvi-
mento das habilidades motoras. Quanto mais treinamos e nos exercitamos, melhores são
as nossas capacidades e consequentemente melhor será nosso condicionamento físico.
O aspecto que trata da biomecânica trata dos princípios mecânicos do movimento
corporal, numa relação com estabilidade, locomoção e manipulação. O ser humano é capaz
de movimentar-se de muitas formas, mas é importante conhecermos alguns movimentos
básicos que dão suporte para que todos os outros movimentos sejam aprendidos e realiza-
dos. Entre eles podemos citar o equilíbrio corporal, que dá base para muitos movimentos
que realizamos. Como podemos andar se não somos capazes de manter o corpo em equilí-

UNIDADE I Plano de Conhecimento 31


brio, em bipedia? O equilíbrio corporal sofre a ação da gravidade sobre o corpo e a maneira
como respondemos corporalmente a ela.
A força em situações como aplicação e recepção está relacionada à capacidade de
contração e relaxamento que permite executar diversas ações motoras e serve de pré-re-
quisito para que o corpo realize e aprenda uma variedade de movimentos corporais cada
vez mais complexos.

UNIDADE I Plano de Conhecimento 32


5 O MODELO TEÓRICO DO DESENVOLVIMENTO MOTOR

Metodologicamente, o desenvolvimento motor é categorizado de acordo com a idade


cronológica, por meio da distribuição em grupos a partir das faixas etárias correspondentes.
Nesse sentido, Gallahue e Ozmun (2013) destacam que não são protocolos fechados, mas
sim escalas de tempo aproximadas que mostram os comportamentos observáveis durante
um período da vida.
A vida humana tem como uma das características justamente passar por diversas
transformações no seu decorrer e por diversas etapas: ovo, embrião, feto, recém-nascido,
criança, adolescente, adulto, idoso. Tais fases perpassadas pelo ser humano parte do
conjunto de funções básicas peculiares ao processo como um todo, que são crescimento,
desenvolvimento e maturação, incorporado às dimensões cognitiva, afetiva e social. É
fundamental que possamos olhar o desenvolvimento humano de maneira holística, ou seja,
como um todo, no qual as dimensões cognitiva, afetiva e motora atuam e funcionam de
maneira integrada, para que possamos contribuir de maneira significativa em suas apren-
dizagens. Os domínios do desenvolvimento humano não atuam de maneira isolada ou
independente, mas de forma interativa. Vou exemplificar...
Quando estamos emocionalmente desestabilizados nossa capacidade de aprendi-
zagem, ou seja, nossa cognição, acaba sendo afetada. A condição afetiva do ser humano
interfere na cognitiva e nos movimentos corporais e assim por diante.
Já que mencionamos os domínios de desenvolvimento humano, vamos entender
de maneira sucinta cada um deles:
Domínio motor: caracteriza as estruturas para identificar os movimentos corpo-
rais humanos. Atualmente, usamos o termo Psicomotor para designar esse domínio, por
entender que mente e corpo são aspectos indissociáveis e se refletem nas habilidades
motoras. São as transformações progressivas no comportamento motor, que ocorrem a
partir de condições ambientais, interagindo com ambientes favoráveis de aprendizado.
Nesse domínio estão as ações motoras básicas e fundamentais, como andar, correr, saltar,
pegar, lançar etc. Além dessas, também as habilidades esportivas, laborais e específicas,
como pilotar um avião.
Domínio cognitivo: são as mudanças progressivas nas habilidades de pensamento,
raciocínio e ação. É constituído de diversos processos mentais, tais como: atenção,
concentração, memória, entre outros.

UNIDADE I Plano de Conhecimento 33


Domínio afetivo: diz respeito à capacidade de interação e relacionamento que o
ser humano aprende no decorrer da vida. As pessoas utilizam o movimento para se relacio-
narem com o mundo ao seu redor, com as pessoas, com os objetos, com a natureza. Esse
domínio trata dos comportamentos sociais que são aprendidos quase em sua totalidade e
podem ser melhorados.
É de suma importância conhecer os domínios do desenvolvimento, tendo em vista
que existe uma inter-relação entre eles. Nosso comportamento motor responde aos estímu-
los decorrentes das demais dimensões do desenvolvimento humano.
Quando tratamos do desenvolvimento motor, buscamos referências que possam
contribuir para entender as aquisições e aprendizagens no decorrer da vida, do nascimento
até a velhice. Para nos ajudar no entendimento das aprendizagens motoras, irei apresentar
a famosa “ampulheta” do desenvolvimento motor, proposta por Gallahue e Ozmun (2013),
que mostra as etapas distribuídas por faixa etária.
A ideia é que você comece a se familiarizar com ela. Para tanto, gostaria que você
observasse a imagem a seguir e pensasse por alguns instantes em crianças e adolescentes
do seu convívio, se assim for possível, que estejam em cada uma das etapas.

Figura 3 - Fases e estágios do desenvolvimento motor

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 69).

UNIDADE I Plano de Conhecimento 34


Essa ampulheta apresenta as etapas do desenvolvimento motor, que, neste mo-
mento do material, serão brevemente apresentadas. Cada uma das etapas mostradas será
devidamente tratada nas próximas unidades. Fique tranquilo(a), aluno(a), que ao término
desta disciplina você irá conhecer todas as fases do desenvolvimento motor de maneira
detalhada, a fim de que tais conhecimentos possam auxiliar sua prática.
Vale ressaltar que tal ampulheta sofreu algumas alterações, ao considerar que
existem aspectos que interferem no desenvolvimento da motricidade, e ampliou o modelo
para o que será apresentado na sequência. Observe com atenção quais alterações foram
realizadas e tente, como num jogo das diferenças, detectar tais modificações. A nova versão
foi chamada “ampulheta triangulada”.

Figura 4 - Ampulheta triangulada proposta por Gallahue e Ozmun

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 76).

UNIDADE I Plano de Conhecimento 35


E então? Observou as inserções? Veja o que Gallahue e Ozmun (2013, p. 76)
afirmam sobre a figura
Preenchimento da ampulheta individual com “areia” (i.e., substância da vida).
A ampulheta representa a visão descritiva (produto) do desenvolvimento. O
triângulo invertido representa a visão explicativa (processo) do desenvolvi-
mento. Ambas são úteis à compreensão do desenvolvimento motor à medida
que o indivíduo se adapta continuamente às mudanças na busca constante
pela aquisição e manutenção do controle motor e da competência no movi-
mento.

Essa ampulheta fornece a visão descritiva de desenvolvimento humano, mostrando


as fases típicas e os estágios de acordo com a faixa etária, do nascimento até a velhice. O
triângulo invertido que atravessa a figura consiste numa orientação visual para observar-
mos aspectos como hereditariedade, meio e a maneira como interferem na realização das
tarefas de aquisição e desenvolvimento das habilidades motoras.
É fundamental estar atento(a) aos aspectos que interferem no desenvolvimento
motor, como os autores colocam na imagem: hereditariedade e ambiente. Aspectos que
podem ser herdados geneticamente e que fazem diferença na aquisição e desenvolvimento
de aprendizagens motoras e aspectos ambientais como uma variável essencial na apren-
dizagem das ações motoras pelas pessoas. Na segunda, os profissionais que passam pela
vida do indivíduo consistem em elementos fundamentais, ou seja, os estímulos recebidos
pelas crianças serão decisivos no seu desenvolvimento saudável ou não. Esteja sempre
atento(a) para a escolha das atividades e intervenções a serem realizadas para que sejam
coerentes com as necessidades, interesses e etapas de desenvolvimento do grupo que
atende.
Como podemos observar na própria ampulheta o desenvolvimento motor está
organizado em estágios: reflexivo, rudimentar, fundamental e especializado. Essas etapas
vão do nascimento até por volta de 12 anos de idade. A partir de 12 anos o ser humano
vai especializando os movimentos que já aprendeu e vai aprimorando suas habilidades
motoras aprendidas anteriormente.
Sobre o assunto Gallahue e Ozmun (2013, p. 80) esclarecem que
A aquisição de competências no movimento é um processo extensivo, que
começa com os movimentos reflexos iniciais do recém-nascido e continua
por toda a vida. O processo pelo qual o indivíduo passa pelas fases dos
movimentos reflexo, rudimentar e fundamental, até chegar, finalmente, a fase
das habilidades do movimento especializado e influenciado por fatores da
tarefa, do indivíduo e do ambiente.

Para esta unidade do material ficaremos por aqui. Daqui em diante iremos conhecer
cada etapa do desenvolvimento motor e suas particularidades.

UNIDADE I Plano de Conhecimento 36


SAIBA MAIS
Vamos falar sobre Psicomotricidade?
Durante a unidade tratamos do Desenvolvimento Motor numa perspectiva essencial-
mente desenvolvimentista e foram apresentadas diversas perspectivas teóricas e a fun-
damentação pautada em autores que, em seus estudos, privilegiaram as ações motoras
como objeto de estudo. Neste momento trago uma ciência que tem por objetivo ampliar
o olhar para a aprendizagem e para a realização dos movimentos corporais.
Diante disso, apresento a definição de Psicomotricidade de acordo com a Associação
Brasileira de Psicomotricidade (2019, on-line) e convido você a se encantar por essa
área, que olha para os movimentos humanos de maneira mais abrangente e além da
simples execução física deles.
“’Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimen-
to organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é
resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização.’ (Associação Bra-
sileira de Psicomotricidade)
‘A Psicomotricidade baseia-se em uma concepção unificada da pessoa, que inclui as
interações cognitivas, sensório motoras e psíquicas na compreensão das capacidades
de ser e de expressar-se, a partir do movimento, em um contexto psicossocial. Ela se
constitui por um conjunto de conhecimentos psicológicos, fisiológicos, antropológicos e
relacionais que permitem, utilizando o corpo como mediador, abordar o ato motor hu-
mano com o intento de favorecer a integração deste sujeito consigo e com o mundo dos
objetos e outros sujeitos.’ (Costa, 2002)
‘Em razão de seu próprio objeto de estudo, isto é, o indivíduo humano e suas relações
com o corpo, a Psicomotricidade é uma ciência encruzilhada... que utiliza as aquisições
de numerosas ciências constituídas (biologia, psicologia, psicanálise, sociologia, linguís-
tica...) Em sua prática empenha-se em deslocar a problemática cartesiana e reformular
as relações entre alma e corpo: O homem é seu corpo e NÃO - O homem e seu corpo’.
(Jean-Claude Coste, 1981)
A psicomotricidade pode também ser definida como o campo transdisciplinar que estuda
e investiga as relações e as influências recíprocas e sistémicas entre o psiquismo e a
motricidade.
Baseada numa visão holística do ser humano, a psicomotricidade encara de forma inte-
grada as funções cognitivas, sócio-emocionais, simbólicas, psicolinguísticas e motoras,
promovendo a capacidade de ser e agir num contexto psicossocial. A psicomotricidade
possui as linhas de atuação educativa, reeducativa, terapêutica, relacional, aquática
[...]”.

Fonte: Associação Brasileira de Psicomotricidade (2019).

UNIDADE I Plano de Conhecimento 37


REFLITA

“Se uma pessoa não pode aprender da maneira que é ensinada, é melhor ensiná-la da
maneira que pode aprender” (Marion Welchmann).

O desenvolvimento depende de história e contexto. Cada pessoa desenvolve-se dentro


de um conjunto específico de circunstâncias ou condições definidas por tempo e lugar.
Os seres humanos influenciam seu contexto histórico e social e são influenciados por
eles. Eles não apenas respondem a seus ambientes físicos e sociais, mas também inte-
ragem com eles e os mudam (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006).

UNIDADE I Plano de Conhecimento 38


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Então, caro(a) aluno(a), chegamos ao término desta unidade, que foi recheada
de conhecimento. Repleta de conceitos, busquei apresentar a disciplina de maneira a es-
timular diversas curiosidades em você. É fundamental que neste momento você faça um
balanço das aprendizagens adquiridas durante o percurso. Para isso irei retomar o que
vimos: conceitos de aprendizagem, desenvolvimento, maturação e crescimento para que
fosse estabelecido o primeiro contato com a disciplina, lembrando que esses termos serão
largamente utilizados durante sua vida acadêmica e em sua atuação profissional.
Em seguida começamos a entender do que se trata esse tal desenvolvimento mo-
tor, suas características, sua relevância na vida do ser humano e porque é tão importante
conhecer seus aspectos e suas particularidades.
Continuamos nossos estudos falando de diversas perspectivas teóricas que dialo-
gam com o desenvolvimento motor e contribuem para entender de que maneira acontece o
desenvolvimento humano. E chegamos, então, na etapa de estudos que fomos investigar o
que pode interferir nas aquisições motoras do ser humano, que aspectos podem prejudicar
ou potencializar a aprendizagem dos movimentos pelas pessoas. Nesse momento vimos
o quanto é fundamental o papel do professor e a escolha das intervenções feitas por ele.
E, por fim, mas não menos importante, conhecemos a famosa ampulheta proposta
por Gallahue e Ozmun, que, acredite, vai povoar muito seus pensamentos no decorrer da
disciplina que estamos cursando e deste curso. Ela nos mostra, de maneira figurada, que
existem etapas para as aprendizagens motoras, que elas funcionam de maneira hierárquica
e organizam o desenvolvimento motor de forma esquemática.
Antes de convidar você a partir para a próxima unidade, gostaria de ressaltar a
relevância de explorar as indicações que fiz neste material, as referências que sugiro para
complementar seus estudos e fazer desta disciplina o diferencial na sua profissão.
Feita esta breve revisão podemos partir para as próximas unidades do nosso estu-
do. Preparado(a)?

UNIDADE I Plano de Conhecimento 39


LEITURA COMPLEMENTAR

Caro(a) aluno(a),
Neste momento da unidade sugiro algumas leituras que podem contribuir para me-
lhorar seus estudos sobre o tema que estamos conhecendo. Sugiro que, mediante leitura dos
textos sugeridos, você faça anotações e apontamentos por escrito junto com os materiais
que utiliza na disciplina. Essas leituras podem fomentar uma série de aprendizagens novas
e instigar possíveis investigações que irão fazer de você o(a) profissional diferenciado(a)
que o mercado busca na atualidade.

DESENVOLVIMENTO MOTOR: PASSADO, PRESENTE E FUTURO


http://www.luzimarteixeira.com.br/wp-content/uploads/2010/05/desenvolvimento-motor-
-presente-passado-e-futuro.pdf

AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO MOTOR DE CRIANÇAS COM DIFICULDADES DE


APRENDIZAGEM
http://www.scielo.br/pdf/rbcdh/v12n1/a06v12n1

DESENVOLVIMENTO HUMANO
https://www.academia.edu/22315624/Diane_E._Papalia_-_Desenvolvimento_Humano.
PDF

ACERCA DA RELAÇÃO ENTRE ENSINO, APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO


https://www.redalyc.org/pdf/374/37415106.pdf

APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO: O PAPEL DA MEDIAÇÃO


http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/sem_pedagogica/jul_2009/apren-
dizagem_desenvolviemnto_sforni.pdf

UNIDADE I Plano de Conhecimento 40


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
• Título: Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem
• Autor: Vitor da Fonseca
• Editora: Artmed
• Sinopse: Neste livro, Vitor da Fonseca apresenta um levanta-
mento das principais linhas de conceituação do desenvolvimento
psicomotor, conseguindo superar o desafio de unificar concepções
de distintas disciplinas e de vários autores oriundos de diferentes
culturas. O resultado é a mais completa e compreensível descrição
do modo como funciona a psicomotricidade. 

FILME/VÍDEO
• Título: O enigma de Kaspar Hauser
• Ano: 1975
• Sinopse: Um filme alemão ocidental de 1974, um dos mais cele-
brados do diretor Werner Herzog. O trabalho, cujo título significa,
em tradução literal, “cada um por si e Deus contra todos” narra a
história de Kaspar Hauser, uma criança abandonada envolta em
mistério, encontrada na Alemanha Ocidental do século XIX, com
alegadas ligações à família real de  Baden. O filme fez parte da
competição para a Palma de Ouro no Festival de Cannes 1975,
em que ganhou três prêmios.
O filme de Werner Herzog é baseado no livro “Kasper Hauser oder
die Trägheit des Herzens”, de Jakob Wassermann, publicado em
1908, que, por sua vez, retrata o caso de um adolescente encarce-
rado na Alemanha do século XIX até a idade de 16 anos, quando
teve seu primeiro contato verbal e social. Somente depois disso
pôde ser observado algum desenvolvimento de Kaspar Hauser
na linguagem e na socialização com outros indivíduos.
Devido à aquisição tardia de uma língua materna, fora do período
crítico da infância, Kasper Hauser nunca desenvolveu a com-
petência linguística de um falante nativo, principalmente no que
concerne à sintaxe. Além disso, outras habilidades sociais foram
seriamente prejudicadas, ainda que ele fosse capaz de aprendi-
zagem de disciplinas. Tal episódio demonstra a importância da
linguagem no processo socializador de um indivíduo.
• Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=Wplj0ITkwho

UNIDADE I Plano de Conhecimento 41


UNIDADE II
Primeira Infância
Professora Mestra Juliana Montenegro Seron

Plano de Estudo:
● Fase pré-natal e infantil;
● Reflexos infantis e estereótipos rítmicos;
● Habilidades motoras rudimentares;
● Percepção infantil.

Objetivos de Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar os aspectos que afetam no desenvolvimento motor e
que acontecem na fase pré-natal;
● Compreender as características do crescimento infantil nas fases pré-natal e no
período da infância no que tange o desenvolvimento motor;
● Entender as particularidades do desenvolvimento desde o período gestacional até
a infância;
● Conhecer as etapas de desenvolvimento motor do movimento reflexo e do
movimento rudimentar;
● Entender a percepção infantil e de que maneira são desenvolvidas as percepções.

42
INTRODUÇÃO

Caro(a) estudante,
É com satisfação que dou início à nossa Unidade II desta disciplina. Durante
nossos estudos você terá a oportunidade de compreender o começo do desenvolvimento
infantil, quando pensamos numa perspectiva cronológica. Isso mesmo. Vamos começar
esta caminhada estudando o desenvolvimento motor antes do ser humano ter nascido,
na fase que chamamos de pré-natal, olhando para aspectos que acontecem durante a
gestação, no que se refere ao crescimento e desenvolvimento. Com base nas teorias de
desenvolvimento que já estudamos, estamos falamos da origem das aprendizagens e do
comportamento motor.
Pensando em contribuir em sua formação de maneira significativa, iremos explorar
aspectos do desenvolvimento desde a fase pré-natal, por entender que nesse período
acontecem diversas situações que devem ser aprendidas e que interferem na vida futura e
nas intercorrências ao longo do desenvolvimento.
Neste momento da disciplina nós iremos conhecer a base da ampulheta proposta
por Gallahue e Ozmun (2013), que foi apresentada a você na primeira unidade, a dos
movimentos reflexos, que são aqueles realizados pelo bebê, e a fase dos movimentos
rudimentares, ou seja, iremos explorar o desenvolvimento motor do nascimento até 2 anos
de idade.
Se buscarmos historicamente, durante muito tempo a infância não era vista com
suas particularidades e especificidades. A criança era vista como “adulto em miniatura” e
socialmente bastava que ela fosse capaz de realizar as tarefas típicas da vida adulta para
que ela assumisse diversas responsabilidades, dando adeus à infância e tudo àquilo que
uma criança precisa para se desenvolver como ser humano.
Hoje existem inúmeros estudos que apontam para o quanto esse período da vida
é fundamental para as etapas futuras e o quanto existe uma base de aprendizagens que
acontece na infância e que são aprendizagens essenciais e habilidades necessárias, que
serão utilizadas em muitas outras demandas, como na alfabetização, por exemplo.
Vamos, então, conhecer as duas primeiras fases do desenvolvimento motor: movi-
mento reflexo e movimento rudimentar?

UNIDADE II Primeira Infância 43


1 FASE PRÉ-NATAL E INFANTIL

Neste tópico iremos começar a explorar o desenvolvimento motor, partindo da


etapa pré-natal, que corresponde aos 9 meses ou 40 semanas de gestação, que pode,
por diversos fatores, durar mais ou menos tempo. Vamos apresentar aqui uma série de
aspectos que podem acontecer nesse período e podem também ser controlados, e, por sua
vez, impactam o desenvolvimento motor do bebê e no decorrer da vida. Em seguida iremos
tratar da taxa de crescimento pré-natal e infantil, sabendo que em nenhum momento da
vida o corpo humano cresce como desde a concepção até os dois anos aproximadamente.
Pensando na velocidade de crescimento que acontece nesse período de que for-
mas o movimento se comporta? E as aprendizagens motoras?
Neste tópico iremos conhecer aspectos da gestação que interferem no desenvolvi-
mento, ou seja, condições de antes ou durante a gravidez que aumentam o risco da criança
ter intercorrência e consequências no seu desenvolvimento. Em seguida vamos entender
como acontece o crescimento pré-natal e durante a infância.

1.1 Fatores Pré-Natais que Afetam o Desenvolvimento


Existem diversos fatores que afetam o desenvolvimento da criança e podem inclusi-
ve interferir futuramente no aprendizado de diversas habilidades e que acontecem durante
a gestação.

UNIDADE II Primeira Infância 44


Os fatores nutricionais e químicos estão relacionados à alimentação da mãe
durante o período da gravidez. Se tais aspectos irão realmente interferir no desenvolvi-
mento vai depender de algumas variáveis, tais como: “a condição do feto, o grau de abuso
nutricional ou químico, a quantidade ou dosagem, o período da gravidez” (GALLAHUE;
OZMUN, 2013, p. 100). O risco para o feto se dá quando existe um ou mais desses fatores
apresentados.
Especificamente como aspecto nutricional temos a má nutrição pré-natal, que
podem ter como resultado a má nutrição do feto, da placenta ou da mãe. A nutrição ma-
terna adequada significa que a mulher não ingere a quantidade necessária de nutrientes
diariamente, o que contribui significativamente para a saúde geral da mãe e do bebê e, em
alguns casos, impede deficiências de nascimento. Existem diversos estudos que associam
determinados nutrientes a menor incidência de doenças, como, por exemplo, a ingestão do
ácido fólico e a redução de deformidades do tubo neural que ocasiona a mielomeningocele
ou espinha bífida.
Um dos aspectos químicos que pode causar danos no desenvolvimento infantil é o
uso de medicamentos e drogas pela mãe. Como a parede da placenta é “porosa”, é possível
que substâncias a penetrem e atinjam o feto. Medicamentos comprados rotineiramente nas
farmácias, sem necessidade de receita ou acompanhamento médico podem causar danos
para o feto. Por isso o cuidado com a gestante e os medicamentos a serem usados durante
a gravidez são necessários, principalmente em determinados períodos da gestação.
Você já deve ter lido algo ou ouvido falar em doenças que acometem o universo
infantil e que podem ser associadas ao uso de determinados remédios. Muitas vezes são
pesquisas em andamento ou especulações, mas existe uma relação íntima do uso de me-
dicamentos com o desenvolvimento do bebê e o surgimento de doenças. Sempre que for
considerada a possibilidade de que uma disfunção seja associada ao uso de medicamentos
durante a gestação devem ser considerados os seguintes fatores: período da gravidez que
foi tomado, dose, tempo que tomou o remédio, predisposições genéticas do feto, interação
dos quatro aspectos.
A tabela a seguir mostra alguns exemplos de medicamentos que ocasionam efeitos
na criança quando usados durante a gestação.

UNIDADE II Primeira Infância 45


Tabela 1 - Efeitos de medicamentos usados durante a gestação que podem afetar o desenvolvimento

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 111).

Por outro lado, existem aqueles medicamentos que são “necessários”, ou seja,
que a mãe precisa tomar, pois estão em tratamento médico ou por mal-estar. Evidente que
quando existe o acompanhamento médico saudável, o profissional vai receitar remédio em
último caso. Vários medicamentos, sem receita, apresentam potencial para prejudicar o
desenvolvimento do feto. A tabela a seguir mostra algumas doenças que a mãe pode ter,
qual medicação é administrada e quais seus possíveis efeitos.

Tabela 2 - Drogas usadas durante a gestação e seus possíveis efeitos no bebê

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 112).

Por último vamos falar sobre o uso de drogas lícitas e ilícitas durante a gravidez.
Você já ouviu falar sobre a Síndrome Alcoólica Fetal ou do Alcoolismo Fetal? Pois bem,
está relacionada ao abuso de álcool durante a gestação e a maneira como tal hábito afeta
o desenvolvimento do feto. Essa síndrome, além de causar alterações nas características
faciais, traz como consequências atrasos no desenvolvimento psicomotor.

UNIDADE II Primeira Infância 46


Sobre o uso de álcool e tabaco na gestação Gallahue e Ozmun (2013, p. 113)
explicam que
Embora o álcool e o tabaco sejam considerados por muitos como drogas
que alteram a mente ou o humor, nos falaremos elas em separado por causa
da frequência de uso e para amplificar os potenciais perigos. Foi relatado
variavelmente que há mais de um milhão de mulheres alcoolistas em idade
fértil. O feto é afetado duas vezes mais rápido do que a mãe pelo consumo
de álcool e com o mesmo nível de concentração.

O uso de álcool e tabaco durante a gestação é muito mais comum do que imagi-
namos e pode trazer consequências significativas no desenvolvimento do feto e para as
aquisições psicomotoras da criança.
Não podemos esquecer do uso de drogas ilícitas, como maconha, cocaína, anfe-
taminas, entre outras. Só para você ter uma ideia, o uso de cocaína durante a gestação
indica para os bebês risco de mortalidade, morbidade e distúrbios de desenvolvimento e de
comportamento a longo prazo.
Observe a Tabela 3 e veja as possíveis decorrências do uso de drogas ilícitas.

Tabela 3 - Efeitos do uso de drogas ilícitas na gestação e recém-nascidos

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 113).

UNIDADE II Primeira Infância 47


Muitas vezes a mãe não fornece tais informações sobre a gestação do bebê, ou
seja, ela pode não dizer que fez uso de drogas durante a gravidez, mas é fundamental
que os profissionais que trabalham com aprendizagem e desenvolvimento humano tenham
conhecimento de que tais influências existem e podem ser a causa de disfunções no
desenvolvimento da criança. Nesse sentido, o que devemos fazer? Buscar estratégias para
estimular essa criança/adolescente, buscando amenizar suas dificuldades e dar condições
para que ele tenha autonomia e possa desenvolver o maior número de habilidades possível.
Vamos agora conhecer os aspectos hereditários que podem afetar o desenvol-
vimento. No caso estão relacionados aos genes, aos aspectos genéticos do indivíduo e
podem ser expressos de duas formas: transtornos com base em cromossomos ou distúrbios
baseados em genes.
Nos transtornos com base em cromossomos podemos citar a Síndrome de Down
como um dos mais conhecidos. A também chamada Trissomia do 21 afeta os pares cro-
mossômicos da ordem genética do ser humano e traz diversas consequências de ordem
fenotípica. Quando observamos o desenvolvimento motor de uma criança com Síndrome
de Down, temos os seguintes distúrbios: “(1) atrasos no surgimento e inibição dos reflexos
primitivos e posturais, (2) hipotonia e hiperflexia e (3) atrasos substanciais no alcance dos
marcos motores” (GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 115).
Vamos parar um pouco aqui, aluno(a)... Com a inclusão e o aumento significativo
de pessoas com deficiência nas escolas e convivendo socialmente amparadas no princípio
da equidade, acredito que é fundamental olhar para este público, que tem direito de acessi-
bilidade e de aprendizagem. Não podemos esquecer jamais que o nosso trabalho deve se
pautar no direito que TODOS têm de aprender.
Nesse sentido, vou fazer aqui uma orientação breve e eficaz. Sempre que você
tiver que contribuir na aprendizagem e no desenvolvimento de uma pessoa com deficiência,
busque estudar o diagnóstico e saber quais são as limitações, causas, consequências, qua-
dro clínico, aspectos neurobiológicos, comorbidades, entre outros. Só assim é possível que
o seu trabalho seja realmente assertivo e promova os estímulos necessários para atender
o indivíduo dentro das suas capacidades. Além disso é essencial conhecer e explorar as
potencialidades do sujeito, valorizando, assim, aquilo que é capaz de fazer e não somente
enfatizando sua dificuldade.
Agora podemos continuar!
Os distúrbios baseados em genes são os defeitos genéticos e variam muito quanto
às consequências. De acordo com Gallahue e Ozmun (2013, p. 116),

UNIDADE II Primeira Infância 48


A gravidade do defeito depende de o gene mutante se encontrar em um
cromossomo autossômico ou ligado ao sexo, em um único gene ou também
no seu correspondente. Atraso e retardo no funcionamento motor e cognitivo
em geral não estão presentes em mutações autossômicas dominantes.

A tabela a seguir apresenta, de forma sucinta, o defeito no gene e a condição que


deriva dele e pode ser explorada a fim de entender esse fator.

Tabela 4 - Problemas com genes comuns no nascimento

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 118).

Como fatores pré-natais que afetam o desenvolvimento humano temos ainda os


ambientais, como a exposição à radiação e aos poluentes químicos – chumbo e mercúrio,
por exemplo.
Os problemas médicos, como doenças sexualmente transmissíveis, infecções ma-
ternas, desequilíbrios hormonais, incompatibilidade do fator Rh, gravidez na adolescência e
a Toxoplasmose, também podem afetar o desenvolvimento do feto e, consequentemente, o
decorrer da vida e das aprendizagens futuras.
Por essas e outras razões que fazer o acompanhamento médico, bem como ter os
cuidados necessários da mãe e do bebê durante a gravidez, é essencial e pode diminuir os
casos de deficiências e distúrbios que acometem o desenvolvimento infantil.
Evidente que algumas das situações apresentadas não podem ser controladas e
estão relacionadas a alterações genéticas, mas existem diversas intercorrências que podem
ser tratadas ou evitadas com cuidados básicos que envolvem saúde pública, maternagem,
entre outros.

1.2 Crescimento Pré-Natal e Infantil


Esse tópico irá tratar da taxa de crescimento, desde a concepção até o final do
período que temos um bebê, aos 2 anos de idade. Vale ressaltar que em nenhum outro
momento da vida crescemos em tamanho e mudamos as proporções como acontece da

UNIDADE II Primeira Infância 49


concepção até a infância, considerando crescimento típico e saudável, sem intercorrências
ou qualquer doença ou problemas que possam interferir no crescimento.
O crescimento começa na concepção e segue de maneira ordenada durante o
período pré-natal. Espermatozóide e óvulo se fundem na fecundação, formando o zigoto,
que vai se implantar na parede uterina e, nesse momento, começa a gravidez. Da segunda
semana até o segundo mês é o período chamado de embrionário, do terceiro mês até o
parto temos o período fetal. Mas quando tratamos de desenvolvimento, consideramos o
desenvolvimento por trimestre. Na imagem vemos a proporção de crescimento de 14 dias
após a formação do zigoto até 15 semanas de gestação, num desenho do embrião em
tamanho real.

Figura 1 - Esquema de um embrião - tamanho real

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 131).

Na tabela a seguir você pode observar os marcos de desenvolvimento embrionário


e fetal durante a gestação.

UNIDADE II Primeira Infância 50


Tabela 5 - Crescimento e desenvolvimento pré-natal

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 133).

Após o nascimento, o crescimento infantil é ainda mais impressionante. O bebê


nasce como um ser muito pequeno, indefeso, com repertório de movimentos bastante res-
trito e de posição predominantemente horizontal e torna-se uma criança que tem tamanho
maior, autonomia para realizar ações motoras, posição corporal verticalizada e fisicamente
ativa, em menos de 12 meses. Sobre o assunto Gallahue e Ozmun (2013, p. 132-134)
escrevem que
O crescimento físico do bebê tem influência definida sobre o seu desenvolvi-
mento motor. O tamanho da cabeça, por exemplo, afeta o desenvolvimento
das capacidades de equilíbrio. O tamanho da mão influencia o modo de
contato com objetos de tamanhos diferentes, e o desenvolvimento da força
influencia o surgimento da locomoção.

Ao observar a figura a seguir você pode perceber a relação de proporção das partes
do corpo, o tamanho da cabeça em relação ao tronco, por exemplo, como vai mudando com
o passar do tempo. O esquema mostra até 12 anos, quando consideramos ainda como
criança (a partir dessa idade já temos a adolescência).

UNIDADE II Primeira Infância 51


Figura 2 - Modificações na forma e proporção do corpo antes e após o nascimento

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 134).

No segundo ano de vida o crescimento do corpo ainda é rápido, mas diminui um


pouco em relação ao primeiro ano. Existe uma pequena diferença na altura e no peso dos
meninos em relação ao das meninas. Daqui para frente o crescimento da cabeça diminui,
o de tronco é moderado e os membros passa a ser mais rápido. Nesse caso, mãos e pés
passam, a partir dos anos, a crescer mais rapidamente, o que chamamos, na Unidade I,
de proximodistal. Se, porventura, você sentir necessidade, volte e dê uma olhada quando
tratamos dos conceitos cefalocaudal e proximodistal.

UNIDADE II Primeira Infância 52


2 REFLEXOS INFANTIS E ESTEREÓTIPOS RÍTMICOS

Neste tópico, se, por acaso, você tem ou teve contato com algum bebê, vai reco-
nhecer facilmente o conteúdo que irei apresentar. Vamos estudar os reflexos e os padrões
de comportamento motor estereotipados que os bebês fazem e que mostram informações
relevantes para compreendermos o desenvolvimento da motricidade humana.
Os recém-nascidos parecem se movimentar de maneira aleatória e somente em
uma direção. Realizam movimentos espontâneos que aparentemente parecem não ter sido
estimulados. Em outras situações parecem executar um movimento específico quando são
tocados em determinada parte do corpo, como, por exemplo, quando tocamos a palma da
mão do bebê e ele responde fechando os dedos, como se segurasse o nosso dedo. Esses
movimentos, chamados de reflexos, aparecem logo ao nascer e vão sumindo com a idade.
Por mais que pareçam aleatórios, existem algumas ações motoras que o bebê
realiza e que são consideradas marcos referenciais no desenvolvimento, que são base
para outras habilidades posteriores de locomoção, alcance para pegar e postura ereta.
Vamos pensar naquela lógica de realização de movimento que já havíamos comentado...
Aprendemos a andar porque anteriormente nos colocamos em bipedia, a correr porque
desenvolvemos a capacidade de andar com destreza e assim vamos compondo um reper-
tório de habilidades motoras que acontecem de maneira contínua e progressiva.
Para você ter uma ideia, existem até nomes – como reflexo de Moro – para os mo-
vimentos reflexos que o bebê precisa realizar para que seja avaliado seu desenvolvimento.

UNIDADE II Primeira Infância 53


O médico pediatra vai fazer as devidas análises investigando com manobras simples a
resposta do recém-nascido, muitas vezes são diagnosticados distúrbios do Sistema Ner-
voso Central somente observando os movimentos reflexos realizados pelo recém-nascido.
Os reflexos primitivos são aqueles relativos à conquista de nutrição e de proteção
que o bebê instintivamente necessita. Começam na fase fetal e duram o primeiro ano de
vida, são eles: reflexo de Moro e de alarme, que acontece quando “coloca-se o bebê na
posição supino e dá-se um tapinha em seu abdome ou produz-se alguma sensação de
insegurança de apoio”, como mostra a figura a seguir, em quem (a) é a fase de extensão e
(b) é a fase de flexão (GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 143).

Figura 3 - Reflexo de Moro - duas fases

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 144).

Esse reflexo pode ocorrer até o sexto mês de vida, passado esse período, se ele
persistir pode ser indicativo de disfunção neurológica. Conseguem perceber porque é tão
importante conhecer as etapas do desenvolvimento motor e suas peculiaridades?
Além desse, temos como primitivos os reflexos de busca e sucção, quando o
bebê, ao ser estimulado ao redor da boca virar a cabeça em direção à fonte de estimulação.
Os reflexos mãos-boca, “quando se esfrega levemente a base da palma, causa contração
dos músculos do queixo, erguendo-o” (GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 145).
Outro movimento reflexo do bebê é o de preensão palmar, quando há o estímulo
palmar, os dedos se fecham em volta do objeto, sem usar o polegar. É uma pega bastante
forte a ponto de sustentar a criança se for suspendida. Esse reflexo acontece do nascimento
até quatro meses de vida e
A intensidade da resposta tende a aumentar durante o primeiro mês e diminui
aos poucos depois disso. Uma preensão fraca ou a persistência do reflexo
após o primeiro ano pode ser um sinal de atraso no desenvolvimento motor
ou de hemiplegia, quando ocorre em um único lado (GALLAHUE; OZMUN,
2013, p. 145).

UNIDADE II Primeira Infância 54


Mais duas formas de movimentos são consideradas primitivas: reflexos de Babinski
e preensão plantar e reflexos tônicos assimétricos e simétrico do pescoço. O primeiro
é aquele ocorrido ao tocar a sola do pé do bebê, que provoca a extensão dos dedos e
posteriormente, com o sistema neuromuscular maduro a resposta é a contração dos dedos
quando estimulamos a sola dos pés.
O segundo está relacionado à posição que a cabeça assume quando colocamos
o bebê em posição supino ou com o corpo de lado, conforme mostra a imagem abaixo,
na qual (a) é o reflexo tônico assimétrico do pescoço e (b, c) representam o reflexo tônico
simétrico do pescoço:

Figura 4 - Reflexo tônico assimétrico e simétrico do pescoço.

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 147).

Existem também os reflexos posturais, que são: o Reflexo de endireitamento


labiríntico e óptico, quando a criança é colocada em pé e inclinada para frente, para trás
ou para um dos lados e ela responde ao estímulo tentando voltar a posição ereta com a
cabeça, tem a ver com a visão e com a necessidade de equilíbrio corporal da criança.
No reflexo de endireitamento labiríntico, os impulsos que emergem do otólito
do labirinto fazem com que o bebê mantenha o alinhamento apropriado da
cabeça em relação ao ambiente, inclusive quando outros canais sensórios
(i.e., a visão e o tato) são excluídos. O reflexo de endireitamento labiríntico
surge pela primeira vez em torno do segundo mês e persiste até cerca de 6
meses de idade, quando a visão geralmente se toma um fator importante. O
reflexo continua ao longo do primeiro ano como reflexo de endireitamento
ótico. Esse último, junto com seu similar mais primitivo, ou seja, o reflexo
de endireitamento labiríntico, ajuda o bebê a colocar a cabeça e o corpo na
posição ereta e a manter essa posição e contribui para o movimento do bebê
para a frente, que ocorre em torno do final do primeiro ano (GALLAHUE;
OZMUN, 2013, p. 147).

O Reflexo de flexão dos braços para manter a posição ereta pelo bebê, se o segu-
ramos pelos braços sentado e inclinamos o corpo para trás, a tendência é que ele flexione

UNIDADE II Primeira Infância 55


os braços para voltar à posição, como quando brincamos de serra, serra. Os Reflexos de
paraquedas e de extensão “são movimentos protetores dos membros na direção da força
aplicada” (GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 149), conforme mostra a figura:

Figura 5 - Reflexo de paraquedas

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 149).

Os Reflexos de endireitamento do pescoço e do corpo acontecem quando colo-


camos o bebê na posição supina, com a cabeça de lado, e o corpo vai se movimentando de
acordo com os movimentos que a cabeça realiza, buscando estar alinhado com a cabeça.
O Reflexo de engatinhar é quando colocamos o bebê na posição pronada e pressionamos
a sola do seu pé, num movimento reflexo ele vai se colocar na posição de engatinhar, tanto
com as pernas quanto com os braços.
O Reflexo primário de marcha automática é quando o bebê é colocado na posi-
ção ereta sob uma superfície plana e ele “anda”, faz a troca da passada, como se estivesse
andando. O Reflexo de nadar é aquele que vemos em propagandas ou reportagens sobre
bebês, que consiste em colocar o bebê dentro da água na posição pronada, de maneira
reflexa, a resposta do bebê é se movimentar como se estivesse realmente nadando, a
impressão que temos é que ele sabe nadar.
Todos os movimentos reflexos apresentados são fundamentais no desenvolvimen-
to do bebê e tem um tempo de duração para acontecer. Eles demonstram que existe ou
não um SNC que está se desenvolvendo de maneira saudável e que não existe nenhuma
intercorrência, mostra um desenvolvimento neurotípico. A tabela a seguir é um resumo das
aprendizagens do bebê e pode te ajudar a verificar diferentes aspectos dessa etapa do
desenvolvimento.

UNIDADE II Primeira Infância 56


Tabela 6 - Marcos do desenvolvimento do bebê

UNIDADE II Primeira Infância 57


Fonte: Haywood (2016, p. 104-105).

2.1 Estereótipos Rítmicos


Quanto aos estereótipos rítmicos, eles são comportamentos motores que o bebê
faz repetidas vezes espontaneamente e tem um certo ritmo nos movimentos, eles nos
mostram que o desenvolvimento motor humano acontece num sistema auto-organizado,
dedicado em ampliar o controle motor.
A partir de pesquisas realizadas existem mais de 40 comportamentos desta nature-
za e podem ser observados em diversas partes do corpo, quais sejam: pernas e pés, torso,
braços, mãos e dedos, cabeça e face.
Nas pernas e pés o que vemos com maior frequência são os chutes. No torso, o
mais comum é aquele em que o bebê, quando colocado de barriga para baixo, faz um arco
com as costas e vira uma “canoa”. Movimentos estereotipados rítmicos de braços, mãos e

UNIDADE II Primeira Infância 58


dedos mais frequentes são acenar e esmurrar. E com a cabeça e face são os que fazem
“não” e “sim”.
É fundamental ficar atento à persistência desses comportamentos após 1 ano de
idade, quando eles fazem parte do desenvolvimento motor infantil e a maneira com que
o bebê os realiza. Alterações observadas quanto à frequência, persistência ou tipologia
podem ser indicativo de alguma alteração no desenvolvimento do SNC e devem ser comu-
nicados aos profissionais que acompanham o bebê.
Vale lembrar que na carteira de acompanhamento do bebê, na qual são colocadas
as vacinas e as consultas médicas, existe uma tabela de referência com alguns marcos de
desenvolvimento, que pode ser utilizada como demonstrativo das aprendizagens.

UNIDADE II Primeira Infância 59


3 HABILIDADES MOTORAS RUDIMENTARES

Dando continuidade aos nossos estudos, iremos conhecer aspectos do desenvol-


vimento motor que estão na segunda fase da ampulheta do Gallahue e Ozmun. Lembra
dela?
Isso mesmo, vamos falar da etapa conhecida como Fase Motora Rudimentar. Neste
tópico iremos aprender sobre três categorias de movimentos essenciais para o desenvolvi-
mento infantil, que acontecem normalmente entre 1 e 2 anos de idade, a de estabilidade,
locomoção e manipulação, que são classificadas de acordo com a intencionalidade. Di-
versas aprendizagens acontecem nesse período e são a base para aprendizagens futuras.
Para que a criança fique em pé, um longo caminho de controle de partes do corpo
vai sendo percorrido, desde o controle de cabeça e pescoço, em seguida o de tronco. Feito
isso a criança vai aprender a sentar, num primeiro momento com o apoio, até conseguir
firmar o tronco para que sente sem apoio e então consiga ficar em pé. Primeiro ela fica
em pé segurando em objetos e buscando contato para se equilibrar, até que é capaz de
ficar em bipedia com segurança. Todas essas etapas precisam ser ultrapassadas para que
a criança possa começar a andar. Esse processo é uma das categorias de movimento,
chamada de estabilidade, que, segundo Gallahue e Ozmun (2013, p. 159) “é a mais básica
das três categorias de movimento, pois todo movimento voluntário envolve um elemento de
estabilidade”.

UNIDADE II Primeira Infância 60


Na tabela a seguir você pode observar as tarefas de estabilidade numa sequência
desenvolvimental, bem como a respectiva idade que ocorre tal aprendizagem na fase mo-
tora rudimentar.

Tabela 7 - Capacidades de estabilidade rudimentar - sequência e idade aproximada

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 160).

Enquanto você estiver estudando as aquisições motoras da fase rudimentar,


e durante a disciplina, tente pensar numa criança aprendendo e vivendo cada uma das
aprendizagens.
Uma das necessidades básicas do bebê é explorar o espaço ao seu redor e a ca-
tegoria da locomoção dá condições para tal. Aqui encontramos ações motoras, tais como
rastejar, engatinhar e executar a marcha ereta. É fundamental que uma habilidade não
substitua a outra e que o bebê realize todas para que ocorra o desenvolvimento saudável.
Comumente ouvimos comentários sobre o fato de que a criança andou sem ter engatinhado,
do ponto de vista do desenvolvimento motor não é recomendado que isso ocorra, pois os
estímulos e habilidades desenvolvidas ao engatinhar são essenciais para aprendizagens
futuras.
O rastejar consiste em se locomover pelo espaço de barriga para baixo, arrastando
o corpo sob a superfície, de modo que o bebê é capaz de controlar a cabeça, o pescoço e
o tronco. Geralmente usa os braços para se locomover e pode alcançar objetos que estão
a sua volta, deslizando o tronco pelo espaço.

UNIDADE II Primeira Infância 61


Engatinhar é diferente, é uma evolução do rastejar, já que o tronco não tem contato
com o chão. Nesse movimento braços e pernas se movimentam em oposição de maneira
rítmica e coordenada para realizar a ação.
A marcha ereta ou andar envolve estabilidade corporal. Assim que o bebê conse-
guir se colocar em pé de forma equilibrada ele vai, então, iniciar a realização da passada,
que, num primeiro momento, vai ser executada de maneira imprecisa, irregular e hesitante.
Até conseguir realizar o andar com segurança e maturidade, para, então, realizar algumas
variações dessa habilidade, como andar de lado ou de costas.
Na tabela a seguir você poderá visualizar as capacidades locomotoras rudimenta-
res de acordo com a idade.

Tabela 8 - Capacidades locomotoras rudimentares - sequência e idade aproximada

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 162).

Por fim, neste tópico veremos as capacidades manipulativas, que, assim como as
outras, acontecem no decorrer de uma série de estágios. Essas capacidades possibilitam
ao ser humano ter o mundo ao alcance das suas mãos, promovem o primeiro contato
com objetos no ambiente imediato. Estamos falando de ações motoras como alcançar, de
preensão e de soltar.
Nos primeiros meses de vida o bebê começa a ajustar os olhos com as mãos para
estar em contato com objetos, por vezes alternando o olhar entre o objeto desejado e a
mão. Isso acontece como preparação para que, posteriormente ele possa alcançá-lo e
segurá-lo.
A preensão está relacionada ao movimento que o bebê realiza quando colocamos
algo na palma se sua mão e ele o pega. Até o quarto mês de vida essa ação motora é
reflexa e não intencional. A partir de 5 meses o bebê tem capacidade para alcançar o
objeto e estar em contato com ele, já tem firmeza para isso. Aos 10 meses o movimento de

UNIDADE II Primeira Infância 62


preensão já é coordenado e realizado em um movimento único e contínuo. Aos 14 meses
sua capacidade de preensão já é muito semelhante à de um adulto. Essa habilidade é
fundamental para o desenvolvimento da escrita da criança, estimular a pega de diferentes
objetos desde os primeiros meses de vida vai fazer com que a criança adquira destreza na
realização de tal habilidade.
O soltar é nossa última capacidade rudimentar manipulativa e consiste em abrir a
mão e deixar o objeto que está segurando sair da mão. Até os 14 meses a criança não tem
domínio motor para realizar tal ação, ela somente segura o objeto. A partir dos 6 meses
de vida é capaz de segurar e, por vezes, ela balança o chocalho e parece até estar com
“raiva”, num movimento até frenético, o que é justificado quando sabemos que, na verdade,
ela ainda não sabe soltar.
Quando ela aprende a soltar os objetos, passa a executar essa ação motora como
uma brincadeira e “solta” repetidamente para que o adulto pegue. Com 18 meses a criança
já tem domínio motor para realização de movimentos, como alcançar, pegar e soltar, ou
seja, existe uma gama de movimentos que já possibilita uma série de brincadeiras.
Observe a tabela das capacidades manipulativas e esteja atento para as ações
específicas a serem aprendidas e com que idade deve acontecer.

Tabela 9 - Capacidades manipulativas rudimentares - sequência e idade aproximada

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 165).

Vale ressaltar que desenvolver as capacidades de estabilidade, locomoção e ma-


nipulação dependem de maturação biológica e neuromotora e de aprendizado, ou seja, a
criança vai adquirir tais habilidades mediante estímulos, ambiente favorável e saúde do
SNC e bom funcionamento do corpo. Lembrando que essas capacidades servem de base
para as aquisições que iremos aprender nas próximas unidades desta disciplina e que
estão na fase do movimento fundamental e na fase do movimento especializado.

UNIDADE II Primeira Infância 63


4 PERCEPÇÃO INFANTIL

Vamos terminar esta unidade falando das percepções infantis. O objetivo deste
tópico é tratar dos sentidos humanos e de como eles se desenvolvem. Existe uma relação
bastante estreita do sistema perceptivo com o motor, o que Gallahue e Ozmun (2013)
denominam de sistema perceptivo-motor.
Antes de começarmos nossos estudos pelas percepções humanas e como elas se
formam na infância e porque devemos estudá-las, gostaria de dar algumas dicas. Sempre
que tiver que selecionar uma atividade ou estratégia para crianças, lembre-se da seguinte
ordem: CORES-FORMAS-DESENHOS-IMAGENS-NÚMEROS-LETRAS.
Achou estranho? Eu explico! Coloquei na ordem o que nós, seres humanos,
captamos primeiro e identificamos visualmente. As cores são os elementos de mais fácil
identificação pela visão humana, em seguida vem as formas simples: círculo, quadrado,
triângulo, retângulo – depois você pode colocar outras formas, tanto geométricas como
não geométricas. Então use desenhos, que são representações. Depois utilize as imagens,
como as fotos. Os números e as letras são símbolos que representam quantidades e sons,
respectivamente. Para a criança a linguagem simbólica vai sendo apreendida no decorrer
da infância e demora um pouco para internalizar. Você pode misturar os elementos nas
brincadeiras, atividades e jogos que vai aplicar.
Voltando... Primeiro vamos entender o que significa percepção, segundo Gallahue
e Ozmun (2013, p. 174)

UNIDADE II Primeira Infância 64


[...] refere-se a qualquer processo em que informações sensórias ou sen-
sações são interpretadas ou recebem significado em relação ao que está
ocorrendo com a própria pessoa. O perceptivo-motor refere-se ao processo
de organização das informações recebidas e das informações armazenadas,
que leva a um ato ou a uma performance motora evidente. Todo movimento
voluntário envolve um elemento de percepção. Os estudiosos do desenvolvi-
mento motor devem preocupar-se com o desenvolvimento perceptivo por sua
importante ligação entre os processos perceptivo e motor.

Os sentidos são a nossa porta de conexão com o meio externo, todas as informa-
ções são captadas pelos sentidos humanos.
No bebê a percepção se desenvolve mais rápido que a motricidade. Existem alguns
sentidos que são extremamente aguçados no bebê. Como ele reconhece a mãe, se até os
6 meses de vida ainda não tem visão nítida?
Na verdade, o reconhecimento da mãe, assim como em outros animais, se dá
pela voz e pelo cheiro. O bebê passa todo o período da gestação ouvindo a voz da mãe
como uma caixa acústica, por isso quando nasce reconhece com facilidade a voz da mãe
e responde quando ouve. Você já deve ter visto alguns vídeos que circulam na internet em
que o bebê está chorando e se acalma quando uma peça de roupa da mãe é colocada
próxima a ele. O cheiro faz com que a criança entenda a presença da mãe e fique calma.
O neonato não tem acuidade visual, mas responde a intensidade da luz. Com 6
meses, devido à maturidade do sistema nervoso central e do periférico a acuidade visual,
já tem a visão nítida.
A Tabela 10 mostra o desenvolvimento da percepção de acordo com o tempo de
vida do bebê. Lembrando que o estímulo adequado é fundamental nesse período e que a
criança deve estar exposta a brinquedos e objetos que sejam condizentes com a idade dela
e respeitem sua etapa de desenvolvimento.

UNIDADE II Primeira Infância 65


Tabela 10 - Desenvolvimento de determinadas capacidades sensoriais dos bebês

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 184).

Estimular o bebê com sons, músicas infantis, aromas e cheiros, sabores e gostos,
texturas e afins é fundamental para o desenvolvimento das percepções e de todo sistema
sensorial. Sempre com cautela e respeitando o desenvolvimento infantil e suas particulari-
dades. A alimentação, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, deve ser de fonte
exclusivamente materna até os seis meses de vida. Passado esse tempo, é fundamental
que a criança seja estimulada a ingerir alimentos in natura, pouco processados e com
menos aditivos possível. (BRASIL, 2002)

UNIDADE II Primeira Infância 66


SAIBA MAIS

Integração sensorial – O que é, qual sua importância e dicas de como estimular


A Integração Sensorial é a capacidade de receber, organizar e processar a informação
que chega pelos diferentes canais sensoriais (olhos, ouvidos, mãos, pés, boca e pele)
e produzir uma resposta motora adequada. Parte das habilidades de autoajuda está na
consciência do próprio corpo, onde e em qual posição no ambiente e isso se desenvolve
através do processamento sensorial.
As crianças que apresentam desordens de processamento sensorial poderão exibir
atrasos nas aquisições motoras grossas e finas, de equilíbrio, de coordenação, de com-
portamento e dificuldade na transição alimentar (deixar a mamadeira e passar a comer
frutas, papas e alimentos em pedaços).
Crianças com T21 podem apresentar diferenças na forma de processar os estímulos
sensoriais tendo como resultado final, dificuldade nas habilidades motoras, na alimenta-
ção e na exploração de objetos e brinquedos (limitando o brincar).
Isso acontece devido ao atraso no desenvolvimento cerebral e pode se agravar por
internações frequentes no início da vida e pela eventual superproteção dos pais e cui-
dadores.
A boa notícia, é que a estimulação sensorial correta pode leva à adaptação, resultando
na melhora das respostas ao ambiente, da percepção corporal, da exploração do meio
e do comportamento no geral.
Adiante, algumas dicas de como estimular o sistema sensorial em casa:
• Sempre que possível, permita que a criança ande descalça em diferentes superfícies
– areia, grama, piso gelado, terra, tapetes, cimento.
• Na hora da alimentação, ofereça pedaços maiores do que ela estiver comendo, para
que segure na mão, passe no rosto, faça “meleca” com a comida, experimentando as
diferentes sensações e texturas dos alimentos.
• No banho, deixe que a água do chuveiro caia em seu rosto, de forma gradual para não
assustar. Mude a temperatura da água sempre que possível.
• Passe pelas mãos, pés e rosto, texturas diferentes, vindas de peças de roupas, boli-
nhas, brinquedos, gelo, algodão…
• Faça massagem com hidratante ou óleo (prescrito pelo pediatra) diariamente.
• Faça gelatina colorida em forminha de gelo, coloque em uma bacia e permita que a
criança brinque, experimente o sabor e a textura (inclusive pelo corpo).
• Brinque de massinha de modelar, massinha de areia, água, tinta guache, giz de cera,
sempre buscando sensações diferentes.
• Brincar de pular, correr, subir e descer de locais também é um ótimo estímulo.
É importante saber que cada criança pode ter um distúrbio diferente, sendo necessária
uma avaliação específica, que pode ser realizada por terapeuta ocupacional ou
fisioterapeuta, com um plano terapêutico individualizado.
Se a criança tiver oportunidades, ela tentará experimentar, explorar, saber o que ela
pode fazer com tudo o que está a sua volta. Desde que seja seguro, deixe-a livre para
testar e descobrir o mundo!

Fonte: Biemann (2019).

UNIDADE II Primeira Infância 67


REFLITA

A motricidade animal adaptou-se em termos sensório-motores à Natureza e transfor-


mou alguma da sua ecologia, mas a motricidade humana (no sentido de atos, gestos e
ações), em particular as praxias aprendidas culturalmente, transformou radicalmente a
Natureza e criou um novo mundo envolvimental, ou seja, criou a Civilização, preservou
e transmitiu a Cultura, o que é algo diferente e de uma superioridade e excelência expe-
riencial verdadeiramente incomensurável.

Fonte: Fonseca (2018, p. 10).

UNIDADE II Primeira Infância 68


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Olhando para esta unidade fiquei impressionada com a quantidade de informações


e conhecimento que foram trabalhadas e o quanto tudo que estudamos aqui é demasiado
importante.
Começamos esta unidade falando da fase pré-natal e dos aspectos que envolvem
o período da gestação. Precisamos olhar para esse momento com delicadeza e saber que
muitos estudos apontam sua importância e como pode interferir no desenvolvimento do ser
humano no decorrer da vida.
Então fizemos um passeio “fofo” pelas aprendizagens do bebê, desde os movi-
mentos reflexos até quando ele aprende a andar. Fomos conhecendo as aprendizagens
que fazem parte desses momentos para tornar nosso trabalho responsável e assertivo.
Entendemos o quanto é essencial que os estímulos aconteçam adequadamente e vimos
que o papel da família e dos profissionais deve ser pautados em referências.
Isso porque só fomos até 2 anos de idade. Vem muito mais por aí!
Terminamos a unidade vendo as percepções humanas e falamos dos sentidos,
como eles se desenvolvem enquanto são bebês e o quanto é essencial trabalhar os estímu-
los visuais, táteis, olfativos, auditivos, gustativos para o desenvolvimento humano.
Vamos continuar nossos estudos. Espero que, até agora, você, assim como eu,
tenha gostado e ficado cada vez mais intrigado(a) de conhecer uma das dimensões do
desenvolvimento humano.

UNIDADE II Primeira Infância 69


LEITURA COMPLEMENTAR

Responda sem titubear: Quantos sentidos nós, seres humanos, temos?


Se você respondeu 5 sentidos eu diria que sua resposta está desatualizada… Isso
mesmo…
Pesquisas apontam que o corpo humano tem outros sentidos que vêm sendo
descobertos e explorados… No texto sugerido você irá conhecer um pouco mais sobre o
assunto, sobre a importância da Integração Sensorial para o desenvolvimento humano e de
que maneiras os sentidos estão em consonância com diversas das nossas aprendizagens.
Caso seu nível de curiosidade aumente, fique à vontade para explorar muitos outros textos,
artigos, livros e vídeos que a internet oferece sobre o tema.

Acesse:
http://centroevolvere.com.br/blog/aprenda-sobre-a-importancia-da-integracao-sensorial-no-desenvolvimento-infantil/

UNIDADE II Primeira Infância 70


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
• Autor: Kathleen M. Haywood e Nancy Getchell
• Editora: Artmed
• Sinopse: Traz, como diferencial, uma abordagem voltada para a
avaliação, estimulando o leitor a observar e a examinar como as
interações individuais e o ambiente colaboram para as mudanças
nos movimentos de uma pessoa. Cada capítulo traz uma vivência
real, com situações comuns do dia a dia. Além disso, os termos
principais, destacados no texto, são explicados na margem da
página, facilitando o entendimento.

FILME/VÍDEO
• Título: Precisamos falar sobre Kevin
• Ano: 2011
• Sinopse: Eva (Tilda Swinton) mora sozinha e teve sua casa e
carro pintados de vermelho. Maltratada nas ruas, ela tenta reco-
meçar a vida com um novo emprego e vive temerosa, evitando
as pessoas. O motivo desta situação vem de seu passado, da
época em que era casada com Franklin (John C. Reilly), com quem
teve dois filhos: Kevin (Jasper Newell/Ezra Miller) e Lucy (Ursula
Parker). Seu relacionamento com o primogênito, Kevin, sempre foi
complicado, desde quando ele era bebê. Com o tempo a situação
foi se agravando, mas, mesmo conhecendo o filho muito bem, Eva
jamais imaginaria o que ele seria capaz de fazer.

UNIDADE II Primeira Infância 71


UNIDADE III
Infância e Adolescência
Professora Mestra Juliana Montenegro Seron

Plano de Estudo:
● Conceitos e Definições de crescimento e desenvolvimento na infância;
● Habilidades motoras fundamentais;
● Conceitos e Definições de crescimento e desenvolvimento na adolescência;
● Habilidades motoras especializadas;

Objetivos de Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar o crescimento e o desenvolvimento no período da infância
e da adolescência;
● Compreender a fase motora fundamental, bem como as aprendizagens que fazem
parte desta etapa;
● Estudar as características da fase da adolescência a partir do desenvolvimento motor
num diálogo com as dimensões social afetiva e cognitiva;
● Entender a fase motora especializada e suas particularidades;

72
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) à Unidade III da disciplina Desenvolvimento e


comportamento motor. Nesta unidade iremos começar conhecendo a fase motora funda-
mental e o que tem de mais importante nesse período, até chegar na adolescência.
Vamos percorrer um caminho de aquisições de habilidades motoras que vai de 3 a
7 anos, a fase fundamental, e de 7 a 14 anos ou mais, a fase especializada.
Lembra da ampulheta do Gallahue e Ozmun? Falei que iríamos retomar algumas
vezes durante nossos estudos, não é?!
Lembre-se que o desenvolvimento humano não pode ser algo engessado e que,
apesar de existirem padrões de aquisições e aprendizagens, é necessário sempre observar
os aspectos que interferem no desenvolvimento. Cada criança é única e, portanto, o tempo
de aprendizagem pode ser diferente de uma para outra, o que não muda é a ordem, a
sequência.
Na fase motora fundamental é que acontece o amadurecimento de capacidades
motoras essenciais, como coordenação, lateralidade, equilíbrio, estruturação temporal,
estruturação espacial, consciência corporal, esquema corporal, que são um pré-requisito
para realização de muitas tarefas que executamos em nosso cotidiano, como ler, escrever,
dirigir, entre outras.
Na fase motora especializada todo repertório motor adquirido vai sendo aprimorado.
Nessa etapa ocorre a associação dos movimentos maduros e refinados e dos movimentos
complexos e específicos, e esses, por sua vez, sofrem adaptações de acordo com as con-
dições de determinada atividade, do cotidiano ou de uma prática desportiva.
Convido você para estudar comigo essas duas fases marcantes no desenvolvimen-
to da motricidade e que devem ser observadas com cuidado, pois são determinantes em
muitos aspectos do desenvolvimento humano.

UNIDADE III Infância e Adolescência 73


1 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO NA INFÂNCIA

O desenvolvimento na fase da infância é demarcado por modificações que são


incrementadas regularmente nos diversos domínios: cognitivo, socioafetivo e psicomotor.
O peso, a altura e a massa muscular durante a infância aumentam regularmente. O cres-
cimento nesse período não é tão intenso quanto na fase de bebê, diminui gradativamente
até o famoso “estirão”, que acontece na adolescência – falaremos sobre ele ainda nesta
unidade.
Sobre o crescimento na infância, Gallahue e Ozmun (2013, p. 189) afirmam que
As proporções corporais mudam acentuadamente durante o início da infância
devido às várias taxas de crescimento do corpo. De modo gradual, o peito tor-
na-se mais largo do que o abdome, e a protrusão do estômago diminui. Quan-
do os pré-escolares chegam ao primeiro ano da escola, as suas proporções
corporais lembram bastante as de crianças mais velhas. No início da infância,
o crescimento ósseo é dinâmico, e o sistema esquelético e particularmente
vulnerável à má nutrição, fadiga e doenças. Os ossos consolidam-se em um
ritmo rápido no início da infância e apresentam um atraso de crescimento de
cerca de três anos em crianças que sofrem privações.

Quanto ao desenvolvimento no início da infância, a principal ocupação da criança


é brincar, considerada equivalente ao trabalho para o adulto. Brincar para a criança é coisa
séria. A criança brinca para entender o mundo ao seu redor, e pela vivência com as brinca-
deiras ela vai ampliando seu repertório de habilidades, tanto motoras quanto cognitivas e
socioafetivas.

UNIDADE III Infância e Adolescência 74


O brincar das crianças e o modo primário pelo qual aprendem sobre seus cor-
pos e potencialidades de movimento. Também é um importante facilitador do
crescimento cognitivo e afetivo da criança mais nova, assim como importante
recurso para o desenvolvimento tanto das habilidades amplas quanto das
finas (GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 193-194).

Nesse período as crianças irão desenvolver funções cognitivas essenciais que


resultam em pensamento lógico e na capacidade de formular conceitos. Piaget (2011),
que nos conhecemos na Unidade I desta disciplina, com sua teoria do desenvolvimento
cognitivo, deu o nome de pré-operatória a essa fase. Alguns aspectos são bastante recor-
rentes na criança, quais sejam, o egocentrismo e a visão do mundo a partir de si mesmas;
o entendimento das coisas de forma literal; senso de autonomia e de iniciativa; aumento da
curiosidade e exploração; experimentação de novas ações motoras; formação do autocon-
ceito; imaginação criativa, entre outras.
Sendo assim, os profissionais devem entender as características de desenvolvi-
mento, os limites e as potencialidades das crianças nessa etapa. Somente assim é possível
organizar de maneira eficaz as experiências e vivências que representam as necessidades
e os interesses dos alunos, bem como estar condizente com o nível de desenvolvimento
do grupo.
A seguir você irá conhecer as principais características de desenvolvimento, se-
paradas por domínio: motor, cognitivo e afetivo. Para fins didáticos, organizei em formato
de quadro algumas das aprendizagens essenciais que acontecem durante o período que
estamos estudando.

UNIDADE III Infância e Adolescência 75


Quadro 1 - Características de cada um dos domínios do desenvolvimento humano: motor, cognitivo e afetivo

DOMÍNIO DO
DESENVOLVIMENTO PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
HUMANO
MOTOR ● Altura entre 83,8 e 119,4 cm, peso entre 11,3 e 24 kg para meninos e meni-
nas;
● Rápido desenvolvimento das percepções, mas confusão frequente das sen-
sações corporais, senso de direção e espaço-temporal;
● Controle de esfíncteres com episódios esporádicos de eliminação de urina e
fezes;
● Facilidade de realização de movimentos unilaterais, mas os bilaterais como
skipping com dificuldade.
● Tem bastante energia e correm mais do que andam, descansam em períodos
bastante curtos;
● Vestem-se sozinhas, precisando de auxílio para ações refinadas como abo-
toar ou ajustar as roupas;
● Funções e processos corporais regulados;
● Meninos e meninas são fisicamente bastante similares;
● Coordenação motora ampla definida, porém, a fina em processo;
● Dificuldade de esforço visual de curta distância por tempo prolongado.
COGNITIVO ● Consegue verbalizar ideias e pensamentos;
● Imaginação fantasiosa que permite imitar ações e símbolos;
● Capacidade investigativa e de descoberta;
● Aprende por meio das brincadeiras e das práticas o como e o porquê das
coisas do mundo;
● Transita da necessidade de autossatisfação para estabelecimento dos com-
portamentos sociais.
AFETIVO ● São egocêntricas e tem dificuldade de compartilhamento e de convivência;
● Temem viver novas situações e precisam se sentir seguras;
● Diferenciam certo de errado;
● Crianças com 2 e 4 anos tem comportamento instável, enquanto com 3 e 5
anos demonstram estabilidade comportamental e docilidade;
● Desenvolvem rapidamente o autoconceito, precisando de orientação coeren-
te e reforço positivo constante.
Fonte: a autora.

Nessa etapa é necessário oferecer experiências em que a criança possa vivenciar


diversas possibilidades de movimentos e explorar ambientes e materiais diversificados. As
atividades devem buscar estimular a resolução de problemas, otimizando a criatividade
e fomentando a curiosidade. À medida que a criança vai aprendendo o que está sendo
ensinado, é fundamental que o nível de complexidade da tarefa vá sendo intensificado,
para que haja o desafio e ocorra o aprendizado.
A correta execução das ações motoras deve ser trabalhada, mas não com ênfase
na performance de movimento. Lembre-se: todo movimento tem técnica. Se porventura a
criança aprende que pode andar na ponta dos pés, assim ela irá fazer, e fazendo o movi-

UNIDADE III Infância e Adolescência 76


mento da maneira errada pode prejudicar seu desenvolvimento. O trabalho com a criança
deve ser pautado no respeito às diferenças, entendendo que cada uma tem um ritmo de
aprendizagem próprio, desde que o progresso seja visível em seu desenvolvimento.
A abordagem deve ser sempre multissensorial, ou seja, aquela que privilegia a
diversidade de experiências e vivências, fazendo uso da estimulação sensorial em todos
as possibilidades.
Existem alguns aspectos que interferem na curva de crescimento e no desenvol-
vimento infantil, quais sejam: nutrição precária e inadequada – pobreza em nutrientes es-
senciais para o funcionamento do corpo, deficiências prolongadas e excessos alimentares;
exercícios e lesões que causam hipertrofia ou atrofia dos músculos ou lesões na placa de
crescimento; doença, clima, emoções e condições incapacitantes; tendências seculares,
que estão relacionadas ao aumento na taxa de crescimento de determinada geração.
Esteja atento às características que envolvem o crescimento das crianças e aos as-
pectos que devem ser considerados quando tratamos do desenvolvimento infantil. Sempre
olhe o desenvolvimento de maneira integral, a partir de diversos aspectos, considerando que
os domínios funcionam numa inter-relação. O profissional responsável vai ter consciência
de que o desenvolvimento psicomotor está associado a questões sociais e afetivas, que,
por sua vez, têm uma relação direta com a cognição e aspectos da inteligência humana.

UNIDADE III Infância e Adolescência 77


2 HABILIDADES MOTORAS FUNDAMENTAIS

Entre 2 e 7 anos de idade a criança está na fase que desenvolve as habilidades


motoras fundamentais (HMFs), é nesse período que deve ocorrer a exposição intensa da
criança a uma multiplicidade de experimentações e vivências que possibilitem aquisição
efetiva de condutas motoras básicas, expressas numa sequência formada por estágios e
etapas que representam de maneira progressiva a aquisição das habilidades motoras.
Tais habilidades derivam das aprendidas na etapa anterior, dos movimentos rudi-
mentares, que já estudamos. Sobre a fase que iremos estudar agora, Gallahue e Ozmun
(2013, p. 207) afirmam que
Agora as crianças são capazes de explorar o potencial de seus corpos
quando se movimentam no espaço (locomoção), tem maior controle sobre
a própria musculatura em oposição a gravidade (estabilidade) e dispõem de
crescente habilidade no estabelecimento de contatos controlados e precisos
com os objetos do seu ambiente (manipulação).

É uma fase que serve para descobrir como executar vários movimentos de estabi-
lização, locomoção e manipulação, inicialmente de maneira isolada e depois combinados.
Como, por exemplo, primeiro a criança anda, pega ou lança, executa um movimento de
cada vez. Nessa etapa ela vai aperfeiçoar a execução dessas habilidades isoladamente e
vai aprender a executar de maneira combinada, ou seja, ela vai andar lançando uma bola
e pegando ao mesmo tempo.

UNIDADE III Infância e Adolescência 78


A figura a seguir mostra, de maneira esquemática, a ação motora de pegar a bola
e de que forma os aspectos do ambiente e o propósito da tarefa operam sobre a pessoa
executando o movimento, gerando o resultado.

Figura 1 - Exemplo de pegar uma bola: restrições em ação

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 207).

Se, por um lado, é importante compreender como as restrições atuam sobre a


criança, resultando em um nível específico de performance, por outro, o mais
importante é considerar que as restrições da tarefa e do ambiente podem
ser manipuladas por professores, técnicos e médicos para promover o seu
desenvolvimento motor (GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 207-208).

As limitações individuais, ambientais, e da tarefa interferem na performance mo-


tora da criança, mas podem ser modificadas pelos professores, técnicos ou médicos, a fim
de contribuir no desenvolvimento de habilidades motoras.
As crianças que estão em desenvolvimento dos padrões motores fundamentais
aprendem a reagir de maneira controlada e com competência motora aos diversos estí-
mulos. O controle motor vai aumentando gradativamente mediante prática, e o movimento
passa a ser executado de maneira segura, discreta e contínua.
Essas HMFs são influenciadas por fatores maturacionais, ambientais e por fatores
da tarefa, que consiste no quanto a criança está exposta a esses estímulos. Embora a
maturação tenha um papel significativo na aprendizagem e desenvolvimento dos padrões
de movimento, não pode ser vista como única influência. As condições ambientais, como
oportunidades de vivência, instrução e cenário, ocupam papel fundamental no nível máximo
que os padrões de movimento alcançam.
Por que é tão importante que a criança desenvolva de maneira saudável as HMFs?
Para responder a essa pergunta, convido os pesquisadores que têm me auxiliado na mon-
tagem de todo este material, Gallahue e Ozmun (2013, p. 208):

UNIDADE III Infância e Adolescência 79


O desenvolvimento das HMFs e essencial para o alcance da proficiência em
vários esportes, jogos e danças de uma cultura. Elas consistem em blocos
básicos para um movimento eficiente e efetivo e oferecem às crianças modos
de explorar os seus ambientes, de adquirir conhecimentos sobre o mundo
ao seu redor. As HMFs em desenvolvimento podem ser consideradas como
letras ou caracteres de um alfabeto em uma cartilha para aprendizes. Esses
caracteres fornecem a base para o aprendizado das palavras (habilidades
motoras combinadas), que depois permitiram às crianças a produção de
sentenças e parágrafos (habilidades esportivas e sequências de dança es-
pecíficas) por meio da reestruturação das letras em várias combinações. Se
os princípios básicos dos caracteres e das letras não forem assimilados, as
crianças terão um desenvolvimento linguístico deficiente.

Todo movimento aprendido passa por etapas. Inicialmente a execução é imprecisa


e, mediante prática é que a criança é capaz de executar com destreza. A maestria na
execução das ações motoras vai depender da orientação que é dada e da repetição da
vivência. Numa situação de avaliação psicomotora é possível saber em qual estágio a
criança se encontra com base na execução da tarefa. Os estágios que iremos conhecer
agora são: inicial, elementar e maduro.
Estágio inicial: são as primeiras tentativas de execução dos movimentos. Geral-
mente aos 2 anos de idade os movimentos de locomoção, manipulação e estabilização da
criança estão na fase inicial. Evidente que pode ser diferente de uma criança para outra,
mas de maneira geral é o que acontece. Nesse estágio os movimentos são caracterizados
por elementos que faltam, que são restritos ou marcados em sequência, nos quais a criança
usa o corpo de maneira exagerada, realizados com dificuldade.
Estágio elementar/emergente: aqui os movimentos já mostram maior controle
motor e coordenação rítmica, realizados de maneira sincronizada entre elementos de tem-
po e espaço. Os movimentos são mais coordenados, mas ainda restritos e exagerados.
Crianças com desenvolvimento típico evoluem significativamente nessa fase, muitas vezes
vemos até mesmo adultos com desenvolvimento estagnado nesse estágio.
Estágio maduro/proficiente: as ações motoras são realizadas de maneira coorde-
nada, controlada e mecanicamente eficiente. A maior parte das HMFs podem ser adquiridas
por crianças entre 5 e 6 anos de idade com maestria. As habilidades manipulativas, como
rebater, derrubar, entre outras, por necessitarem de acompanhamento e interceptação de
objetos, acabam se desenvolvendo um pouco depois, devido aos requisitos e motores
serem mais sofisticados para execução dessa tarefa.
A figura a seguir apresenta a aprendizagem do chute, desde o estágio inicial até
que o movimento seja realizado com maturidade. Pode-se observar que, a cada etapa, a
criança vai modificando o gesto motor e isso está relacionado aos diversos aspectos que já
foram apresentados neste material.

UNIDADE III Infância e Adolescência 80


Figura 2 - Sequência da aprendizagem do chute

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 235).

Segundo Gallahue e Ozmun (2013, p. 208)


O desenvolvimento das HMFs e essencial para o alcance da proficiência em
vários esportes, jogos e danças de uma cultura. Elas consistem em blocos
básicos para um movimento eficiente e efetivo e oferecem às crianças modos
de explorar os seus ambientes, de adquirir conhecimentos sobre o mundo
ao seu redor. As HMFs em desenvolvimento podem ser consideradas como
letras ou caracteres de um alfabeto em uma cartilha para aprendizes. Esses
caracteres fornecem a base para o aprendizado das palavras (habilidades
motoras combinadas), que depois permitiram às crianças a produção de
sentenças e parágrafos (habilidades esportivas e sequências de dança es-
pecificas) por meio da reestruturação das letras em várias combinações. Se
os princípios básicos dos caracteres e das letras não forem assimilados, as
crianças terão um desenvolvimento linguístico deficiente. De modo similar,
no desenvolvimento motor, a capacidade de movimentar-se com facilidade,
combinando várias HMFs, fica comprometida quando a criança não adquire a
competência motora básica durante os primeiros anos.

Diante disso, as atividades motoras precisam auxiliar os alunos no conhecimen-


to do próprio corpo e no domínio do repertório das habilidades fundamentais, a fim de
contribuir de forma positiva para desenvolver as capacidades psicomotoras, cognitivas e
socioafetivas.
Quando tratamos das habilidades motoras fundamentais estamos falando de
manipulação, tais como: arremessar, pegar, chutar, volear, rebater. É fundamental enten-
dermos que, para que tais ações motoras sejam aprendidas, é necessário que a criança
seja ensinada e que as etapas sejam respeitadas, da inicial, passando pela elementar, até
que a realização do gesto motor esteja madura. O tempo de prática destinado a aprender

UNIDADE III Infância e Adolescência 81


as habilidades de manipulação, bem como as estratégias utilizadas farão diferença na
aquisição delas.
Como habilidade de locomoção temos cinco possibilidades no desenvolvimento
motor: corrida, galope, skip, saltos e saltitos. Para ilustrar o desenvolvimento progressivo
de uma das capacidades, trago a seguir uma figura que mostra o skipping.

Figura 3 - Sequência da aprendizagem do skipping

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 256).

2.1 A Criança e seu Desenvolvimento Físico


Nesse tópico iremos tratar da aptidão física relacionada à saúde e aptidão motora
das crianças. Segundo especialistas, esse assunto deve preocupar não somente pro-
fessores de Educação Física, mas também médicos, técnicos e demais profissionais da
Educação, pois está relacionado à diversos aspectos, como alimentação, atividade física
e hábitos de vida. Para esta disciplina iremos focar nas capacidades físicas, mas é preciso
estar atento a todos os aspectos que envolvem a saúde das crianças, desde os nutricionais
até as práticas de lazer e exposição aos equipamentos eletrônicos.
Nos últimos anos o número de criança com indícios de sobrepeso e obesidade vem
se tornando cada vez mais significativo. O que torna necessário que olhemos para esse
tema com cuidado e que o tornemos um dos conteúdos escolares. De acordo com Gallahue
e Ozmun (2013, p. 274)
A definição de aptidão física e um passo necessário para o estabelecimento
de padrões para crianças. Embora não haja consenso a respeito do termo
aptidão física, usaremos a seguinte definição como guia: “aptidão física e
um estado positivo de bem-estar, influenciado por atividade física regular,
constituição genética e adequação nutricional”. Em termos mais específicos,
pode ser dividida em aptidão física relacionada à saúde e aptidão motora ou
relacionada a performance.

UNIDADE III Infância e Adolescência 82


A aptidão física em crianças com menos de 6 anos é pouco estudada e encontra-
mos uma carência de informações sobre o tema na literatura. Você pode estar pensando
que são questões relacionadas somente aos adultos, mas não são.
E quando falamos de aptidão física relacionadas à saúde, a que habilidades nos
referimos? Estamos falando da capacidade de resistência cardiovascular, força muscular,
flexibilidade, resistência muscular e composição corporal. Quanto aos componentes da
aptidão motora tem-se: coordenação, equilíbrio, velocidade, agilidade e potência.
Consegue perceber o quanto é essencial que possamos olhar para a aptidão física
no desenvolvimento do ser humano durante a infância e adolescência?! Se pararmos para
pensar, são esses componentes que citamos que nos possibilitam realizar todos os movi-
mentos corporais que nos permitem viver de maneira saudável.
Na sequência irei colocar duas tabelas que estão presentes no livro Compreendendo
o desenvolvimento motor, do Gallahue e Ozmun, que irão fornecer diversos elementos para
entender as capacidades relacionadas à aptidão física. Vale ressaltar que a criança deve
ser “testada” de acordo com a etapa de desenvolvimento em que se encontra e com suas
condições. Cada criança tem um tempo de aprendizagem e deve ser estimulada para que
possa desenvolver habilidades e competências que lhe permitam ter uma vida saudável.

UNIDADE III Infância e Adolescência 83


Tabela 1 - Medidas de aptidão física relacionada à saúde

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 284).

UNIDADE III Infância e Adolescência 84


Tabela 2 - Medidas de aptidão física relacionada ao desempenho

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 285).

O desenvolvimento motor e as aprendizagens dependem dos componentes apre-


sentados, como coordenação e equilíbrio. Assim que a criança demonstra controle de
coordenação e equilíbrio, está apta a melhorar a capacidade de força muscular. As medidas
de aptidão motora melhoram de maneira linear.

2.2 Desenvolvimento Perceptivo-Motor


O desenvolvimento perceptivo-motor tem uma relação íntima com o desenvolvi-
mento motor infantil. Embora progridam em ritmos diferentes, as capacidades motoras são
afetadas pelas perceptivas e vice-versa.

UNIDADE III Infância e Adolescência 85


Todos os movimentos voluntários que realizamos estão envolvidos com um elemen-
to da percepção. A partir do nascimento a criança interage com o ambiente por meio das
percepções e das ações motoras. Em torno de 2 anos os olhos já estão anatomicamente
e fisiologicamente prontos, porém as habilidades perceptivas ainda não estão maduras.
Por isso a criança consegue olhar fixamente em determinado objeto, acompanhar sua
movimentação e avaliar aspectos desse elemento, como tamanho e forma, ainda assim,
carecem de muito refinamento.
O desenvolvimento motor sofre influência da acuidade visual, da percepção das
imagens planas, percepção de profundidade e coordenação visomotora. Na criança as ha-
bilidades de percepção visual são restritas quando comparadas às do adulto. Quanto mais
vivências e experiências estimularem o aprendizado motor perceptivo da criança, melhor
ela desenvolverá a plasticidade de reação às situações motoras diversas.
São aspectos do desenvolvimento da percepção visual infantil: acuidade visual
– capacidade de diferenciar detalhes em ambientes estáticos e dinâmicos –, percepção
da figura-fundo – separar visualmente os objetos dos seus vizinhos –, percepção de
profundidade – condição de avaliar a distância dos elementos em relação a si mesma –,
coordenação visomotora – integrar olhos e mãos para rastrear e pausar em objetos ao
redor. Esses aspectos são desenvolvidos na criança até os 12 meses de vida.
Geralmente as crianças que apresentam falhas na aprendizagem perceptivo-moto-
ra sofrem restrições ambientais ou estímulos precários.
Famos sobre perceptivo-motor até agora e buscamos ajuda de Gallahue e Ozmun
(2013, p. 298) para esclarecer porque os termos estão juntos neste tópico.
Há hífen no termo perceptivo-motor por duas razões. Em primeiro lugar, sig-
nifica que a atividade de movimento voluntário depende de algumas formas
de informação perceptiva. Todos os movimentos voluntários envolvem um
elemento de consciência perceptiva, resultante de algum tipo de estimulação
sensorial. Em segundo lugar, o hífen indica que o desenvolvimento das ca-
pacidades perceptivas do indivíduo depende, em parte, da atividade motora.
As capacidades perceptivo-motoras são aprendidas. Assim, elas usam o
movimento como um importante meio de concretização do aprendizado.

São considerados componentes perceptivos-motores a consciência corporal, a


consciência espacial, a consciência direcional que, envolve lateralidade e direcionalidade,
a consciência temporal, que envolve o ritmo. Esses aspectos devem ser trabalhados nas
aulas de Educação Física e nos diversos momentos de estimulação que fazem parte das
atividades escolares. Os programas de estimulação psicomotora privilegiam o trato com
as habilidades apresentadas, haja vista que são essenciais para o desenvolvimento do ser
humano nas dimensões cognitiva e socioafetiva, e contribuem para a formação do aluno

UNIDADE III Infância e Adolescência 86


de maneira integral. A seguir você pode observar quais fatores estão relacionados aos
componentes perceptivo-motores.

Figura 4 - Fatores relacionados aos componentes perceptivo-motores

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 301).

É de suma importância que os profissionais da Educação conheçam detalhadamente


os aspectos do desenvolvimento infantil; saibam as habilidades motoras que devem ser
aprendidas, as percepções que a criança desenvolve, a relação entre as aprendizagens
motoras e as percepções e tudo mais que faz parte do repertório motor. Todos esses aspec-
tos são decisivos nas aprendizagens futuras e servem de base para algumas aprendizagens
formais que acontecem na escola, como aquilo que devemos aprender em Língua Portu-
guesa, Matemática, Geografia, entre outras disciplinas que contemplam a grade curricular
da escolarização.
Muitas vezes dificuldades de aprendizagem são justificadas por situações de défi-
cits psicomotores ou atrasos/falhas no desenvolvimento motor, que ocorrem por diversos
fatores que já foram explorados neste material.
Para terminar o tópico, falaremos sobre o autoconceito na infância. Por autocon-
ceito entendemos: crença de que podemos nos descrever, em palavras, para os outros.
Está relacionado com a imagem ou percepção que a criança tem de si mesma e como se
vê. A construção do autoconceito começa na infância e perpassa a vida de uma pessoa.
Devemos estar sempre atentos ao modo como a criança constrói uma ideia de si mesma, e
isso deve ocorrer de maneira saudável. A formação do autoconceito pela criança tem muita
influência do meio e da maneira como as relações são estabelecidas.

UNIDADE III Infância e Adolescência 87


Frases como “ela é preguiçosa” ou “ele não sabe escrever/ler” são destrutivas
no processo de formação do autoconceito e acabam contribuindo negativamente no enten-
dimento que a criança faz de si mesma. Certa vez, li uma frase em algum lugar, que faz
muito sentido para o assunto e eu gostaria de compartilhar com você. A frase era assim:
uma criança agredida verbalmente e menosprezada pelos pais não é capaz de deixar
de amá-los, então deixa de amar a si mesma...
Forte não?! Mas é exatamente isso que acontece. O meio e a maneira como o
adulto conceitua a criança interfere no entendimento que faz de si mesma e na maneira
como ela irá também formar o autoconceito, porque as crianças têm no adulto a referência
e buscam nele a segurança que precisam.
A família atua como primeiro espelho para a criança se construir como ser humano,
e posteriormente ela vai encontrando outras possíveis referências para que possa se es-
pelhar, como na escola, os professores, o grupo de amigos na adolescência, entre outros.

UNIDADE III Infância e Adolescência 88


3 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO NA ADOLESCÊNCIA

Chegou a hora de falarmos da etapa da adolescência, uma fase da vida tão cheia
de particularidades, que precisa ser vista e entendida em suas características. Neste tópico
vamos tratar do crescimento e da maturidade biológica na adolescência. Iremos conhecer o
que seria o famoso estirão que acontece nesse período da vida e que interfere nas aprendi-
zagens motoras. Trataremos de puberdade e outros assuntos relacionados à adolescência.
A passagem da infância para a adolescência é demarcada por um conjunto
de acontecimentos físicos e culturais, que, juntos, cooperam para o crescimento e
desenvolvimento motor. As pesquisas apontam que o período da adolescência tem se
estendido devido à associação de implicações biológicas e culturais.
Durante a adolescência ocorre a aceleração da curva do crescimento. Dos meninos
entre 12 e 17 anos, normalmente 1 ano após o aumento dos testículos; eles crescem em
torno de 10 centímetros no ano de crescimento máximo. Das meninas acontece entre 9,5
e 13,5 anos; elas crescem 9 centímetros no ano de crescimento máximo. Geralmente os
meninos ficam mais fortes e altos que as meninas. No aspecto crescimento existem essas
diferenças entre os gêneros.
A puberdade depende de aspectos genéticos e ambientais e tem início em diver-
sas idades. A adolescência é a preparação para a vida adulta, que sofre influência de
aspectos biológicos, considerando que no final da infância e início da adolescência temos

UNIDADE III Infância e Adolescência 89


o aparecimento da maturação sexual. O marco inicial da vida adulta é, culturalmente, a
independência financeira e emocional da família.
No início da adolescência temos aumentos somatizados de peso e altura. A idade,
duração e intensidade do estirão vão variar de acordo com a genética e com aspectos
individuais. De acordo com Gallahue e Ozmun (2013, p. 315),
O genótipo (herança genética) estabelece as fronteiras do crescimento
individual. No entanto, o fenótipo do indivíduo, ou seja, o modo como o seu
genótipo se expressa em características observáveis e mensuráveis, como
altura e peso, pode ser influenciado pelas condições do ambiente, como
nutrição e exercício. Para cada genótipo, é possível haver expressão de uma
ampla variedade de genótipos. Ainda que pudéssemos responder por todos
os fatores genéticos que contribuem para a altura e o peso de uma pessoa,
seria impossível prever com exatidão quais seriam as medidas de altura e de
peso, pois ambos são modelados, em certo grau, pelo fenótipo singular de
cada um (p. ex., fatores ambientais).

O estirão a que nos referimos dura em torno de 4 anos e meio. É variável, enquanto
alguns estão terminando o processo, outros ainda nem iniciaram. Na figura a seguir você
pode ver o pico de velocidade da altura de homens e mulheres em números, de acordo com
a faixa etária.

Figura 5 - Pico de altura em relação à idade

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 317).

UNIDADE III Infância e Adolescência 90


Em relação ao peso, as mudanças durante a adolescência são grandes. Geral-
mente o pico de velocidade é mais demorado nos meninos que nas meninas. Porém nas
meninas acontece entre 6 a 12 meses antes do que acontece nos meninos.
Nos meninos o ganho de peso ocorre devido ao aumento da massa muscular e da
altura, que são bastante significativos na adolescência. Sendo que o peso é bastante afeta-
do por fatores ambientais, como hábitos alimentares. O ganho de peso pode ser observado
na figura a seguir.

Figura 6 - Ganho de peso em relação à idade

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 319).

Os fatores de crescimento são variáveis e devem ser consideradas quando estuda-


mos o desenvolvimento motor, pois interferem nas aprendizagens.

UNIDADE III Infância e Adolescência 91


4 HABILIDADES MOTORAS ESPECIALIZADAS

Estamos no último tópico desta unidade. Aqui iremos conhecer a etapa do desen-
volvimento motor em que ocorre o aprimoramento dos movimentos fundamentais adquiridos
nas etapas anteriores. Isso mesmo! Durante os anos anteriores, a criança, que agora já não
está mais na infância e sim na adolescência, vai adquirindo um repertório diversificado de
habilidades motoras e passando por cada um dos estágios do desenvolvimento motor,
conforme a ampulheta proposta por Gallahue e Ozmun (2013), que estamos utilizando
como referência na disciplina. Lembrou da conhecida ampulheta proposta por Gallahue e
Ozmun?
A fase que antecede a que iremos estudar agora é a das habilidades motoras
fundamentais. Entre 2 e 7 anos acontece o aprendizado de uma série de ações motoras
de locomoção, manipulação e estabilização. A partir disso, tudo o que foi aprendido na
fase motora fundamental será aprimorado, refinado e especializado de maneira elaborada
e combinada, na fase motora especializada, como o próprio nome diz. Os movimentos
passam a ser aplicados como instrumentos em diversas atividades motoras, cada vez mais
complexas, com maior nível de exigência. Estão presentes em situações do cotidiano, em
situações recreativas e nas diversas modalidades esportivas.
Para que o indivíduo passe para a etapa do movimento especializado, deve estar
proficiente na etapa do movimento fundamental, conforme mostra a Figura 7.

UNIDADE III Infância e Adolescência 92


Figura 7 - Relação entre habilidades motoras fundamentais e especializadas

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 333).

Como nas demais fases do desenvolvimento motor, aqui também as aprendizagens


acontecem em estágios, quais sejam: transitório, de aplicação e permanente.
No estágio transitório, que vai dos 7 aos 10 anos, o indivíduo é capaz de fazer
associações, combinações e aplicações das habilidades motoras fundamentais no de-
sempenho das habilidades especializadas nas modalidades esportivas. De acordo com
Gallahue e Ozmun (2013, p. 334), “é caracterizado pelas primeiras tentativas do indivíduo
de refinar e combinar habilidades de movimento proficientes. Esse é o período em que os
aspirantes a atleta aprendem a treinar para aumentar a habilidade na performance”.
Dos 11 aos 13 anos temos o estágio de aplicação, no qual ocorre a busca por
participar de atividades específicas. Cresce quantitativamente a habilidade, a precisão de
movimentos, o desempenho motor. Nesse estágio são exploradas habilidades mais com-
plexas que serão utilizadas em atividades avançadas. Ocorre a participação mais intensa
em esportes que exigem maior precisão de movimentos. Durante este estágio

UNIDADE III Infância e Adolescência 93


[...] o indivíduo torna-se mais consciente dos valores e das limitações físicas
pessoais e, de modo adequado, foca certos tipos de esporte em ambientes
tanto recreativos como competitivos. A ênfase está em melhorar a proficiência.
A prática e fundamental para desenvolver graus de habilidade mais elevados
(GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 334).

O próximo é o estágio permanente, a partir dos 14 anos, considerado o auge


do desenvolvimento motor, definido como período da diversidade de movimentos que
foram adquiridos e serão utilizados no decorrer da vida. No entanto, quando pensamos
em conteúdos para ensinar algum esporte especificamente, em especial para crianças, é
fundamental que o professor tenha um conjunto de conhecimentos a respeito da etapa de
desenvolvimento que a criança está, bem como suas características, para que o trabalho
seja feito com responsabilidade, respeitando a necessidade de aprendizagem e o ritmo de
cada faixa etária.
O estágio que estamos conhecendo também pode ser conhecido como estágio de
uso ao longo da vida. Conforme Gallahue e Ozmun (2013, p. 335),
[...] os indivíduos em geral reduzem a abrangência de suas buscas esporti-
vas, escolhendo algumas poucas atividades para engajamento regular em
ambientes competitivos, recreativos ou cotidianos. Maior especialização e
refinamento das habilidades ocorrem no estágio de treinamento para compe-
tir e para participar. A maximização da performance e o objetivo-chave desse
estágio. Das habilidades esportivas em que se adquiriu domínio, e colocada
ênfase no nível ótimo da preparação de aptidão física, psicológica e tática. As
atividades ao longo da vida são escolhidas com base em interesses, capaci-
dades, ambições, disponibilidade e experiências prévias do indivíduo. Nesse
estágio, muitas vezes, as oportunidades de participação são limitadas, em
função das crescentes responsabilidades e dos compromissos.

Interessante pensar que quanto mais habilidades e potencial de movimento temos,


menores são as oportunidades de praticarmos esportes não é mesmo?! Considerando que
quanto mais velhos, mais responsabilidades diversas assumimos, com estudos, trabalhos e
outras tarefas e, por vezes, não conseguimos tempo para vivenciar modalidades esportivas
variadas e encontrar aquela que mais nos familiarizamos. É evidente que quanto mais
velhos ficamos, se não seguimos carreira de atleta ou não fazemos parte de algum time ou
equipe desportiva, acabamos praticando menos esporte, em virtude da rotina de atividades.

UNIDADE III Infância e Adolescência 94


SAIBA MAIS

POR QUE A ATIVIDADE FÍSICA NA INFÂNCIA É IMPORTANTE?


Uma das maiores alegrias da vida é ver uma criança correndo e brincando, dançando e se
divertindo, com saúde e disposição, seja nos parques, na rua, ou em uma sala cheia de
brinquedos. Ou seja, qualquer atividade física na infância.
Mas, é impressão minha, ou quase não estamos mais vendo crianças andando de bicicleta,
de patins, correndo, e subindo em árvores?
Sim, é verdade, a nova tecnologia chegou para todos, até para as crianças.
Não precisamos ir muito longe para ver uma criança de quatro anos já com o celular do
pai, do irmão, mexendo e vendo animações virtuais, pulando e saltitando apenas com os
dedinhos, mas seu corpo extremamente parado em uma cadeira, sofá, ou até mesmo no
chão, onde a interação acontece apenas entre ela e sua tela, do celular ou tablet.
E aí que chega a seguinte interrogação: e a socialização com as demais crianças? E a
fantasia de ser criança? E o movimento motor para chegar à idade adulta? E a saúde,
aonde fica?
Pois o corpo necessita de movimentos, o ser humano necessita de interação, socializa-
ção, precisa manipular e sentir, precisa tocar, e a infância é o período onde as descobertas
entram!
Portanto, o texto abaixo descreve a importância da atividade física na infância e os bene-
fícios do exercício físico. Vamos lá?
Atividade física na infância
A atividade física na infância, ou o movimento do corpo, tem um papel essencial para o de-
senvolvimento infantil! Esses movimentos expressam emoções, ampliam a postura cor-
poral, auxiliam na linguagem corporal, e desenvolvem a capacidade afetiva e intelectual.
● Habilidades Motoras do Movimento
● Caminhar
● Correr
● Saltar
● Habilidades Manipulativas do Movimento
● Arremesso de Objeto
● Chute de Bola
● Recepção de Algum Item,
● Ou até como Cortar um Papel

UNIDADE III Infância e Adolescência 95


● Habilidades Estabilizadores do Movimento
● Tentar Manter a Postura Vertical
● Ter Domínio do Corpo
● Rolar
● Andar sobre uma Faixa
● Corda no Chão
Todas essas habilidades devem ser estimuladas dentro da atividade física na infância, e
uma vez que esta etapa não seja trabalhada, a criança perde, e infelizmente não recu-
pera na idade adulta.
As mudanças do desenvolvimento motor e até afetiva ou emocional, ocorre no período
da educação infantil, e é na infância onde se constroem o desenvolvimento psicológico
e as habilidades motoras, e isto inclui atividades/ brincadeiras das crianças na infância.
O brincar no trabalho pedagógico é uma tarefa estratégica, utilizando de atividades para
garantir o aprimoramento das habilidades motoras.
E conforme esta criança avança com a idade, essas funções que foram desenvolvidas
ao longo do período auxiliam na melhora da capacidade de seus movimentos e habilida-
des e uma maior capacidade de controlar seus movimentos.
O brincar é onde a fantasia toma conta da realidade, e assim as atividades vão aconte-
cendo naturalmente.
Freire (1997) afirma que a criança é para ser educada e não adestrada, sendo assim, as
atividades desenvolvidas pelas crianças devem levá-las a pensar, a terem consciência
da ação corporal que estão realizando.
Independentemente de qual seja o conteúdo escolhido, os processos de ensino e apren-
dizagem devem considerar as características dos alunos em todas as suas dimensões:
1. Cognitiva
2. Corporal
3. Afetiva
4. Ética
5. Estética
6. Relação Interpessoal
7. Inserção Social
É com toda clareza que a infância é uma fase importantíssima para os desenvolvimentos
de habilidades e comportamentos, que perduram ao longo da vida.
Benefícios da atividade física na infância 

UNIDADE III Infância e Adolescência 96


Há 3 décadas ainda víamos crianças brincando nas ruas, com seus colegas e vizinhos
de porta, víamos mais crianças andando de bicicleta e brincando de pique esconde.
Os parques muitas vezes eram morros de areia de construção, os tijolos dos vizinhos,
e qualquer objeto que levasse a criança a imaginar uma situação no seu mundo imagi-
nário.
Porém, hoje temos crianças presas em paredes de tijolos, chamadas casas, que mais
parece uma prisão com muitos equipamentos eletrônicos.
O nível de obesidade infantil está se tornando algo comum na sociedade atual.
Isso, porque a falta de espaço no ambiente de casa, a falta de estrutura das cidades
grandes, e dos colégios e escolas fazem com que a criança se desmotive para brincar
ou fazer qualquer atividade, gerando assim um corpo parado, sem movimento, e atrás
de telas virtuais.
E para piorar: uma imensidade alimentos industrializados, devido à praticidade do dia a
dia. Os tornando assim, seres pequeninos, acima do peso, depressivos e com doenças
que antes aparecia apenas em pessoas adultas ou idosas.
A prática da atividade física pode aumentar a autoestima de qualquer pessoa, mas para
a criança, gera uma alegria imensurável, aquele sorriso no rosto, as mãos sujas de ma-
nipular algo diferente, a socialização de um convívio com demais crianças da mesma
idade, o humor e a autoconfiança.
A socialização com outras crianças é essencial, porque há brincadeiras individuais, mas
há outras brincadeiras que são coletivas e que precisam deste convívio, e dentro dessas
brincadeiras há regras, que devem ser orientadas a todos pelo professor, que tem papel
essencial nesta etapa.
Pois os jogos coletivos ou brincadeiras que envolvam ganhos e perdas, levam a criança
a lidar com este equilíbrio.
A questão de saúde e estética também é importante, pois hoje o índice de crianças com
diabetes e colesterol elevado, e um circunferência abdominal altíssima, faz com que
haja uma reflexão sobre o quão doente será este indivíduo na idade adulta.
E a atividade física influencia nesta questão, pois um corpo ativo, é um corpo saudável!
Muito se questiona que exercício físico para a criança é prejudicial, porém a atividade
física pode ser uma brincadeira ativa na qual a criança se movimenta brincando, e os
benefícios, são muitos. Dos quais:
● Estimula o Crescimento e Desenvolvimento
● Melhora Postura e Equilíbrio

UNIDADE III Infância e Adolescência 97


● Fortalece Ossos, Músculos e Articulações
● Tem Domínio do Corpo
● Autoestima Elevada
● Socialização
● Promove a Saúde
● Minimiza a Obesidade e Depressão
● Minimiza Doenças relacionadas ao Sedentarismo
Devemos ressaltar que toda atividade, brincadeira ou exercício, deve entreter e ser do
gosto da criança, para que seja algo prazeroso. E assim seja aproveitada a atividade
física na infância.
Concluindo…
O  exercício físico ou qualquer atividade, é bem-vinda em qualquer idade da vida,
porém, é na infância que os movimentos são trabalhados.
A atividade deve ser inserida desde os primeiros meses da vida, estimulando esta crian-
ça a manipular objetos diferenciados, engatinhar, segurar e puxar.
É importante que qualquer atividade seja feita de forma prazerosa, e que este importante
do movimento do corpo perdure até a velhice.
A atividade física na infância, de forma bem orientada, só trará benefícios ao corpo e
a mente. Muito além do lado estético, temos a saúde, porém a mente deve estar em
equilíbrio também!

Fonte: Zapelini (2018).

REFLITA

“Na brincadeira, a criança está sempre acima da média da sua idade, acima de seu
comportamento cotidiano; na brincadeira, é como se a criança estivesse numa altura
equivalente a uma cabeça acima da sua própria altura”.

Fonte: Vigotski (2008, p. 35).

UNIDADE III Infância e Adolescência 98


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao término da Unidade III da disciplina e, com isso, vale a pena lembrar
o percurso de aprendizado que fizemos até aqui. Posso assegurar que os estudos desta
unidade são extremamente importantes para sua atuação profissional, pois constituem a
base da formação motora do ser humano.
Conhecemos a fase motora fundamental e a especializada, passamos pela etapa
da infância e caminhamos pela adolescência para chegar até aqui.
Vimos que existem diversas ações motoras que precisam ser aprendidas pela
criança em determinado momento do desenvolvimento e que são essenciais para sua vida.
Entendemos a importância dos estímulos adequados e de um ambiente saudável para
que o aprendizado aconteça. Vimos também que cada ser humano tem um ritmo para
desenvolver as habilidades motoras e que existem aspectos que interferem nisso.
O papel do professor como mediador de aprendizagem é fundamental nesse pro-
cesso e deve atuar como um incentivador. Para a criança, o meio é um facilitador e a
ludicidade deve estar presente sempre, já que brincar é um excelente meio para aprender
e entender o mundo que a cerca.
Sendo assim, minha dica é que sempre que sentir necessidade volte às unidades
anteriores, reveja os vídeos, a apostila e o material de apoio para que se sinta seguro(a)
em atuar.

UNIDADE III Infância e Adolescência 99


LEITURA COMPLEMENTAR

As sugestões de leitura desta unidade estão relacionadas a uma discussão recor-


rente na área da Educação Física e em outras áreas que olham para o desenvolvimento da
criança. Falam do fenômeno esporte e da esportivização precoce, bem como as implicações
que acarretam no desenvolvimento infantil de acordo com as peculiaridades da infância. A
intenção aqui não é demonizar o esporte, nem tampouco sugerir a proibição da prática, mas
suscitar a reflexão para a inserção das práticas desportivas na infância de maneira lúdica,
respeitando as condições e interesses da criança.

Acesse:
● https://www.efdeportes.com/efd133/a-esportivizacao-da-educacao-fisica.htm
● https://www.efdeportes.com/efd195/esportes-e-adolescencia-uma-pratica-possivel.htm
● http://www.scielo.br/pdf/rbme/v11n5/27591.pdf

UNIDADE III Infância e Adolescência 100


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
• Título: Educação de corpo inteiro: Teoria e Prática da Educação
Física
• Autor: João Batista freire
• Editora: Scipione
• Sinopse: O livro mostra que corpo e mente devem ser entendidos
como componentes que integram o mesmo organismo e ressalta
a importância do exercício no aprendizado global do aluno dentro
da escola, de forma a estabelecer um elo entre o movimento e
o desenvolvimento mental da criança. A obra coloca a Educação
Física como matéria semelhante às outras, em que o professor é,
acima de tudo, um educador, com uma visão clara e abrangente
sobre o ensino, a qual se apoia no desempenho, por parte da
criança, de um trabalho com sentido e amplitude. Veja nesse livro:
a pedagogia do movimento na primeira e na segunda infâncias;
cognição, motricidade, competição, socialização, afetividade; a
educação física e as outras disciplinas.

FILME/VÍDEO
• Título: Estrada para a glória
• Ano: 2006
• Sinopse: Pela primeira vez na história, uma equipe formada
majoritariamente por negros disputa a final. É o time da Texas
Western, os Miners. Não precisa nem dizer a discriminação que
sofreram. Tudo isto foi muito bem retratado no bom filme Estrada
para a glória (2006). Baseado em uma história real, esse filme
é um ótimo retrato de um tenebroso período da vida dos EUA,
em que a discriminação racial era algo que beirava o absurdo. O
filme mostra a trajetória vitoriosa de uma equipe formada por 7
negros e 5 brancos: além do preconceito externo, a equipe tinha
que conviver com a desconfiança entre os próprios jogadores que,
comandados por um treinador com visão, conseguem superar as
desavenças, descrenças e intolerâncias, para conseguirem entrar
para a história do esporte nos Estados Unidos.

UNIDADE III Infância e Adolescência 101


UNIDADE IV
Idade Adulta e o seu Desenvolvimento
Professora Mestra Juliana Montenegro Seron

Plano de Estudo:
● Conceitos e Definições de desenvolvimento motor na idade adulta;
● Conceitos e definições da terceira idade;
● Aspectos do desenvolvimento motor e da vida do idoso.

Objetivos de Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar o desenvolvimento motor da idade adulta;
● Compreender as especificidades do desempenho motor do adulto;
● Entender as alterações fisiológicas que acontecem na fase adulta;
● Conhecer aspectos da terceira idade;
● Compreender a importância do desenvolvimento psicossocial para o idoso.

102
INTRODUÇÃO

Chegamos à quarta e última unidade desta disciplina. Pois bem, caro(a) aluno(a),
nesta etapa iremos falar sobre a idade adulta e os processos de envelhecimento. Conhece-
remos a maneira como o corpo humano responde, com o passar do tempo, às mudanças
que acontecem.
A gente sempre ouve expressões como: “depois dos 30 o metabolismo fica len-
to... depois dos 40 a gente come menos e precisa se exercitar o dobro... ah, você vai
ver como as coisas mudam depois dos 50 anos...”
Nesta unidade do material iremos falar exatamente disso, sobre as modificações
fisiológicas, anatômicas, comportamentais, entre outras, que levam o nosso corpo – isso
mesmo, NOSSO CORPO, porque todos iremos envelhecer, é o curso natural da vida – a
funcionar de maneira diferente.
É evidente que as pessoas percebem os resultados dessas mudanças. É por isso
que os profissionais que, de certa forma, atuam no desenvolvimento humano, precisam ter
conhecimento sobre as transformações relacionadas à idade nos diversos sistemas que
afetam o corpo humano e de que maneiras a sua atuação pode contribuir nessa jornada de
envelhecimento.
Nesta unidade buscaremos entender os efeitos que manter-se fisicamente ativo
têm sobre o processo de envelhecimento e como a atividade física é importante para a
manutenção da saúde, na previsão da longevidade e do envelhecimento saudável.
A expectativa de vida da população vem aumentando significativamente nas últi-
mas décadas, o que nos resta saber é de que maneira isso tem acontecido. É fato que o
envelhecimento implica em diversas limitações e dificuldades, inclusive físicas. Agora, a
maneira como as pessoas querem passar por essa etapa é fruto das escolhas feitas por
cada um.
Vamos lá conhecer a idade adulta e os aspectos que envolvem o envelhecimento
do ser humano.

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 103


1 ENTENDENDO A IDADE ADULTA

Dando início ao primeiro tópico desta unidade, iremos falar sobre a idade adulta. Da
mesma maneira que o crescimento e o desenvolvimento nas outras fases da vida podem
ser afetados por condições adversas, isso também acontece na fase adulta, considerando
que a execução das tarefas motoras nessa etapa pode sofrer comprometimento devido a
processos sofridos pelo sistema fisiológico em função da idade pelo envelhecimento.
Atualmente são utilizados alguns termos para designar essa fase, tais como: adul-
tez, adultescência, andragogia, adultidade, entre outros. A alguns desses nem estamos
familiarizados ainda, mas adianto que a ideia é olhar para essa etapa da vida, assim como
fizemos com as outras, entendendo que existem características peculiares e que devem ser
estudadas. Quando compreendemos aspectos específicos de cada etapa da vida humana
somos capazes de buscar meios para passar por cada fase, respeitando suas característi-
cas e da maneira mais saudável possível.
A idade adulta é permeada por fatos e feitos que levam as pessoas a agir, pensar e
tomar decisões de modos distintos, não estamos vivendo mais uma fase de aprendizagens
e de vivências que possibilitam estar em constante equilíbrio emocional. Não podemos
generalizar, mas “ser adulto” implica em ter know-how para lidar com muitas demandas
e ainda enfrentar, no decorrer dessa etapa, as mudanças fisiológicas que acontecem. As
demandas a que me refiro são relativas à profissão, relacionamentos, vida pessoal, entre
outras.

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 104


Nesta unidade vamos conhecer as diversas mudanças que ocorrem na vida adulta.
Vale ressaltar que o desenvolvimento deriva da interação entre aspectos individuais, da
natureza da tarefa e das condições ambientais. Podemos destacar que existem mudan-
ças fisiológicas relacionadas à idade que acontecem no sistema musculoesquelético, no
sistema nervoso central, no sistema circulatório e respiratório, na composição corporal e
nos sistemas sensoriais. Lembrando que existe uma relação entre o domínio motor e o
psicossocial já que a prática de exercícios tem um efeito sobre os aspectos psicológicos
especificamente em adultos de meia-idade e idosos. Fique tranquilo que todos esses as-
suntos serão tratados no decorrer desta unidade.
Muitas vezes o envelhecimento traz como consequência restrições na realização
de determinadas ações motoras ou dificuldades na execução de tarefas que, até então,
eram realizadas com certa facilidade. Conforme a idade vai avançando, aspectos das
nossas dimensões motora, cognitiva e afetiva interagem de maneiras diferentes e acabam
afetando nosso comportamento motor. De acordo com Gallahue e Ozmun (2013, p. 379),
Quando entramos na vida adulta, vivenciamos uma série de mudanças
físicas e fisiológicas que afetam o nosso comportamento. De modo similar,
a medida que damos prosseguimento a nossa vida, mudanças em nossas
capacidades afetivas e cognitivas alteram o modo como respondemos ao
ambiente. Conforme abordado nos capítulos anteriores, esses domínios não
são mutuamente exclusivos, mas estão intricadamente inter-relacionados. As
suas relações ficam evidentes quando um indivíduo mais velho compensa
a redução do tempo de reação relacionada à idade usando estratégias cog-
nitivas diferentes para realizar a tarefa. Nós também vemos a associação
entre os diferentes domínios quando indivíduos mais velhos apresentam
declínios na auto competência e na autoestima à medida que mudanças na
força muscular relacionadas à idade começa a limitar as suas capacidades
de realização das habilidades funcionais na vida diária.

Vale ressaltar que a expectativa de vida da população tem aumentado década após
década, com base em pesquisas e dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geogra-
fia e Estatística (IBGE), anualmente. Fato esse que acontece em decorrência de vários
fatores, entre eles, a melhoria na qualidade de vida, a prevenção de doenças, o cuidado
e o tratamento de doenças que antes causavam a morte, a melhoria na saúde pública, as
condições de saneamento básico, o surgimento de vacinas e prevenção contra diversos
males que acometiam a vida adulta.
Para você ter uma ideia, quem nascia no ano de 1900 tinha como expectativa de
vida em torno de 47 anos, o que em números atuais seria considerado absurdo, já que a
média de vida atual é de 77 anos.
Apesar do cenário ser favorável e muitas mudanças ambientais terem favorecido
o aumento na expectativa de vida das pessoas, as características individuais constituem

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 105


papel determinante se a pessoa vai ou não seguir a tendência atual de viver até 80 ou 90
anos com qualidade de vida.
A neurociência nos traz que o término da adolescência ocorre em torno de 24 anos,
o que nos leva a entender que a fase adulta começa a partir de então. De acordo com Silva
(2004), a idade adulta vai de 25 a 44 anos – adulto-jovem –, o envelhecimento, por sua vez,
é classificado em quatro etapas, a saber: meia-idade (45 a 59 anos), idoso (60 a 75 anos),
ancião (75 a 90 anos) e velhice extrema (90 anos em diante).
Na idade adulta ocorrem algumas mudanças fisiológicas que merecem nossa aten-
ção. Entenda que essas modificações são gradativas e dependem de diversos aspectos.
Já vimos que os fatores ambientais interferem de maneira significativa no desenvolvimento
motor do ser humano. Adultos ativos fisicamente e que buscam hábitos de vida saudáveis,
de certa forma, “retardam” os efeitos do envelhecimento. Por outro lado, aqueles que con-
trariam essa lógica costumam antecipar as consequências do envelhecimento.
O sistema musculoesquelético tem diversas funções e acaba sofrendo algumas
alterações com o envelhecimento, como a redução da estatura. Para você ter uma ideia,
as mulheres podem perder 5 cm entre 25 e 75 anos. Doenças como a osteoporose e a
osteopenia podem acometer pessoas na idade adulta. Atividade física regular e exercícios
apropriados podem contribuir para minimizar os sintomas dessas doenças, mantendo a
força muscular que sustenta a coluna.
Com a osteoporose ocorrem mudanças esqueléticas, como na estatura e no encur-
vamento da coluna, como mostra a imagem a seguir.

Figura 1 - Mudanças esqueléticas com osteoporose

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 386).

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 106


Vale ressaltar que existem diversos fatores de risco associados à osteoporose e
que, diante da incidência de casos que podemos encontrar, coloco neste material uma
tabela que os apresenta de maneira clara e objetiva.

Tabela 1 - Fatores de risco associados à osteoporose

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 388).

Outro aspecto fisiológico que muda na idade adulta é a força muscular e acaba
afetando diretamente os músculos e as articulações. Usamos a força em diversas situações
da vida diária e em atividades esportivas, a massa muscular diminui à medida que são redu-
zidos o número e tamanho das fibras musculares. Isso acontece de meados para o final da
vida adulta. A perda progressiva da massa muscular que acontece com o envelhecimento
é chamada de sarcopenia. Atingimos nosso vigor máximo de força muscular antes dos 30
anos, depois disso ocorre a redução natural. Segundo Gallahue e Ozmun (2013, p. 287)
A força muscular é essencial para a performance de habilidades motoras, se-
jam elas relacionadas a performance esportiva de alto nível ou a vida funcional
diária. Com a idade, a estrutura e a função do sistema musculoesquelético
mudam. Estruturalmente, os indivíduos apresentam a sarcopenia ou atrofia
da massa muscular esquelética. A massa muscular diminui à medida que
se reduzem o número e o tamanho das fibras musculares de meados até o
final da vida adulta. Do ponto de vista funcional, a redução na força muscular
parece ser paralela a essa perda de tecido muscular.

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 107


Os mesmos autores afirmam que
Há uma tendência geral nas mudanças na função muscular relacionadas com
a idade, mas se observa, também, imensa variabilidade entre os indivíduos. A
perda de massa muscular observada à medida que os anos passam também
e afetada pelos níveis individuais de atividade física e uso muscular. Além
disso, as demandas da função muscular de várias tarefas afetam o resultado
da performance da tarefa (GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 390).

Além da força muscular, as articulações e os tecidos conjuntivos também sofrem


modificações, pois parecem perder a flexibilidade. Em torno de 20 anos temos o ápice da
flexibilidade articular e, depois disso, nossa capacidade de flexibilidade vai degradando à
medida que os anos passam. A maior parte disso resulta da perda de água que ocorre no
tecido conjuntivo e que tem efeito sob os ligamentos e tendões, aumentando sua rigidez.
Em idosos as consequências são observadas nas atividades da vida diária, com a perda da
estabilidade articular.
Algumas doenças estão relacionadas à perda da mobilidade articular, as artrites,
como a osteoartrite, que causa não somente limitação em determinadas ações motoras,
mas pode restringir por completo alguns movimentos.
Ainda pensando nas alterações fisiológicas que ocorrem a partir da idade adulta,
temos as mudanças no Sistema Nervoso Central (SNC) – cérebro e medula espinhal. Ocor-
re a perda de neurônios que não serão substituídos. De acordo com Gallahue e Ozmun
(2013, p. 392),
Outras manifestações que parecem estar relacionadas com a idade são as
formações anormais, incluindo entrelaçamentos neurofibrilares, placas senis
e acumulação de lipofuscina. Essas formações com frequência são chamadas
de marcadores da idade, pois aparecem no cérebro mais velho e aumentam
em número enquanto continua o processo de envelhecimento.

Além disso, o cérebro humano, ao envelhecer, recebe uma quantidade menor de


oxigênio, o que pode causar hipóxia, que prejudica o funcionamento neurológico típico.
Algumas doenças, como o Alzheimer, são decorrentes do funcionamento anormal do SNC.
Vale ressaltar que existe a neuroplasticidade, que é a capacidade que o cérebro
tem de se reorganizar e de se modificar. É um processo contínuo de reorganização dos
circuitos neuronais, que possibilita que o idoso mantenha a saúde neurológica, mesmo
considerando as alterações que o sistema nervoso sofre com o avançar da idade.
Os sistemas respiratório e circulatório também têm suas funções reduzidas com o
envelhecimento. Quando envelhecemos nosso coração e vasos sanguíneos passam por
modificações que podem interferir no seu funcionamento. As paredes das artérias perdem
elasticidade, tornando-as mais rígidas, a formação de gordura nas paredes das artérias

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 108


são alguns dos exemplos de consequências do envelhecimento no sistema circulatório,
que afetam as tarefas cotidianas das pessoas e podem causar doenças cardiovasculares.
Mais alterações podem acontecer no sistema circulatório, como: as válvulas do coração e
os vasos engrossam e enrijecem, interferindo na sua eficácia.
Os órgãos que fazem parte da respiração também mudam com o envelhecimento.
Problemas posturais podem causar alterações na respiração, comprimindo o tórax e dificul-
tando o trabalho dos pulmões. Ocorre a diminuição da absorção máxima de oxigênio, uma
parte resulta do envelhecimento, outra se dá em virtude da falta de atividade física. Nesse
sentido o treinamento aeróbico em adultos seria o mais recomendado, tendo em vista que
potencializa os níveis de oxigênio no corpo e melhora sua capacidade de absorção. Além
de que atividade aeróbica melhora o potencial cognitivo, justamente em função do aumento
do volume de oxigênio.
A composição corporal é modificada com o advento da idade adulta e o passar dos
anos. Ocorre o aumento do peso corporal geral e da massa corporal até os 60 anos, depois
dessa idade a tendência é diminuir. A gordura abdominal aumenta e essa gordura localizada
está relacionada a condições como diabetes e obesidade. Dois fatores são considerados
significativos nesse processo de ganho de peso, o estilo de vida das pessoas, que têm
o nível de atividade física reduzido, e a diminuição natural da taxa metabólica basal, que
representa a eficácia do gasto energético. Segundo Gallahue e Ozmun (2013, p. 396)
Quando ganham peso além do que é considerado saudável, os adultos mais
velhos reduzem a sua mobilidade, o funcionamento físico e a independência.
Assim, aumenta o risco da necessidade de serviços de apoio, e a capacidade
de realizar as atividades da vida diária se reduzem.

A idade adulta e o envelhecimento modificam os sistemas sensoriais. Os olhos e


os ouvidos mudam anatomicamente com a idade, o que altera a captação da informação e,
consequentemente, a emissão das informações visuais, auditivas e proprioceptivas para o
cérebro ocorre de forma insuficiente ou distorcida.
A visão é o sentido que predomina nas habilidades de movimento, a diminuição da
qualidade visual com a idade avançada pode impactar diretamente as atividades funcionais
e adaptativas. Uma doença oftalmológica comum em decorrência do envelhecimento e
que interfere na qualidade visual das pessoas é a cataratas. Com intervenção cirúrgica
é possível resolver o problema, mas é fato que as pessoas idosas têm sua competência
visual reduzida e isso acaba interferindo na realização de atividades e tarefas do cotidiano.
A audição não é considerada primordial na realização da maior parte das tarefas
motoras, pois “as informações auditivas podem ser extremamente valiosas para fornecer

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 109


feedback em uma série de situações de movimentos” (GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 398),
mesmo assim, é essencial saber que consiste em um dos aspectos que sofre com o avanço
da idade e pode prejudicar o convívio social e situações do cotidiano dos idosos.
Por fim, com o avanço da idade, ocorrem alterações na propriocepção, que, segun-
do Gallahue e Ozmun (2013, p. 399),
[...] refere-se ao senso de posição e consciência do corpo. Um dos principais
métodos de recepção de informações proprioceptivas é por meio do sistema
vestibular. A principal função do sistema vestibular é fornecer informações
relativas aos movimentos e a posição da cabeça.

Comumente adultos e idosos sentem tonturas e vertigens. Tal fato pode estar rela-
cionado às alterações na propriocepção e no sistema vestibular.
No próximo tópico desta unidade iremos conhecer alguns aspectos da idade adulta
a partir do desempenho motor e do desenvolvimento psicossocial do ser humano.

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 110


2 O ADULTO E O DESENVOLVIMENTO

Neste tópico iremos abordar o desempenho motor do ser humano na idade adulta.
Portanto vamos conhecer aspectos da performance motora de pessoas com idade entre
25 e 59 anos, conforme apresentamos no início desta unidade. Para começarmos essa
conversa, apresento uma afirmação de Gallahue e Ozmun (2013, p. 280) sobre os aspectos
que interferem no desempenho motor de uma pessoa:
O comportamento motor exibido por um indivíduo depende da interação de
uma série de variáveis categorizadas por: (1) a natureza da tarefa; (2) as
condições ambientais; e (3) as características cognitiva, afetiva e psicomo-
tora do indivíduo. A natureza da tarefa envolve elementos como o grau de
dificuldade, duração e necessidade de velocidade ou precisão. O adulto mais
velho cuja visão está enfraquecida as vezes não é capaz de realizar bem
uma tarefa específica que envolva velocidade. No entanto, se não houver
exigências de tempo, o indivíduo consegue completar a tarefa com elevado
grau de sucesso.

O ser humano tem uma melhoria das capacidades motoras adquiridas na infância
durante a adolescência e atinge seu máximo potencial de desenvolvimento das habilidades
motoras na vida adulta. Isso mesmo, entre 25 e 30 anos atingimos o ápice do desempenho
motor, quando estamos com níveis excelentes do estado físico e fisiológico e acontece a
etapa de estabilização. Já desenvolvemos e aprimoramos muitas habilidades motoras e
agora somos competentes na realização. Usamos nosso repertório motor com maestria
e em diversas e complexas situações da vida diária e em eventos desportivos quando
necessário.

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 111


Nessa etapa, a curva de desenvolvimento está estável, considerando que atingi-
mos o limiar máximo de competência na performance motora. É evidente que isso acontece
desde que as condições ao longo da vida tenham sido favoráveis e o indivíduo mantenha-se
ativo fisicamente. A idade adulta, por sua vez, ainda é dividida em dois momentos, conforme
já mencionado anteriormente, de 25 a 44 anos temos o chamado adulto-jovem e com idade
entre 45 a 59 anos está o grupo da meia-idade.
Existem algumas diferenças do primeiro para o segundo grupo citado, entre 25 e 44
anos de idade é que ocorre o período da estabilização e que temos o auge da performance
e da maturação do sistema motor. Contudo a partir dos 45 anos ocorre o leve declínio do
desempenho motor em detrimento das alterações que foram estudadas no tópico 1 desta
unidade.
Vamos entender que entre 25 e 44 anos o indivíduo executará as tarefas motoras
do cotidiano com competência e, à medida que a idade vai avançando os declínios na
performance motora vão acontecendo. De acordo com Gallahue e Ozmun (2013, p. 410),
A maioria dessas mudanças envolve declínio na realização bem-sucedida
de tarefas. Essas mudanças prejudiciais à performance motora resultam
de degeneração nos sistemas fisiológicos relacionada com a idade, fatores
psicológicos relacionados com a idade, mudanças ambientais, demandas da
tarefa ou alguma combinação dessas quatro variáveis. [...] A interação de
diversas variáveis, algumas relacionadas com a idade, dita se o indivíduo vai
experimentar declínio em uma tarefa motora específica.

Quando pensamos no sistema motor, alguns sistemas fisiológicos sofrem altera-


ções e merecem ser estudados neste tópico. São eles: tempo de reação, equilíbrio e
controle postural, marcha e atividades da vida diária (AVDs).
O tempo de reação é o intervalo de tempo entre captar o estímulo do meio e iniciar
a resposta motora, como, por exemplo, acionar o pedal do freio ao sinal de pare ao dirigir.
O tempo de reação é um componente primordial para realização de muitas tarefas motoras
que realizamos.
Uma vez que os outros sistemas estão envolvidos, o tempo de receber o estímulo,
assim como o tempo de integração motora e de descarga motora vão prejudicar o tempo de
reagir, causando a demora na resposta motora nas diversas tarefas diárias. Desse modo,
a execução da maior parte das ações motoras pode significar algum tipo de perigo sempre
que o tempo de reação está prejudicado. Caminhar num trajeto com desnível ou frear brus-
camente no trânsito, quando necessário, podem ser tarefas difíceis, pois há necessidade
de reagir rapidamente.

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 112


Quando acometidos por essa dificuldade, adultos de meia-idade acabam optando
por realizar as tarefas mais devagar e com maior precisão, uma vez que não são mais
capazes de executar determinadas ações motoras com rapidez.
O equilíbrio e controle postural consistem em controlar a posição corporal no
espaço com estabilidade e orientação. O controle da posição do corpo é essencial para a
realização de diversas tarefas do cotidiano, envolve basicamente dois sistemas: muscu-
loesquelético e neurológico. Os elementos do sistema musculoesquelético, necessários
para manutenção do equilíbrio, são: a amplitude de movimento das articulações do corpo;
flexibilidade da espinha; especificidade muscular; interações biomecânicas dos segmentos
corporais conectados. Quanto aos componentes neuronais, têm-se: os processos moto-
res, que envolvem a organização dos grupos musculares na execução de determinado mo-
vimento; o processo sensorial, que envolve a relação entre os sistemas visual, vestibular
e somatossensorial; e os processos mentais superiores, que envolvem o processamento
das informações captadas pelos sentidos e a resposta motora a ser realizada.
Os adultos com mais idade têm maneiras diferentes dos jovens para recuperar a
estabilidade depois de sofrer alguma perturbação do equilíbrio corporal. E alguns aspectos
devem ser considerados – peso, altura e tamanho do pé – como decisivos para orientação
e equilíbrio das pessoas.
O controle postural tem uma estreita relação com o tempo de reação, sendo um as-
pecto essencial para o desempenho motor. Nas ações motoras que realizamos diariamente
está presente o desequilíbrio postural em diversos momentos. Para tanto, é necessário
aplicar práticas que possibilitem manter o equilíbrio e a orientação da postura corporal. Tais
estratégias devem ser adotadas tanto nas situações que ocorrem o desequilíbrio, quanto
naquelas em que se pode antecipar para evitar a perda do equilíbrio postural.
Quanto tratamos da marcha estamos falando do caminhar, que, a princípio, parece
uma tarefa simples de ser executada. Mas que, por exigir a interação do SNC, dos mús-
culos, das articulações de vários sistemas sensoriais, além de aspectos gravitacionais e
ambientais, torna-se uma ação motora complexa. De acordo com Gallahue e Ozmun (2013,
p. 418-419)
Neurologicamente, caminhar inclui a combinação intrincada de ações volun-
tárias e reflexas. Os músculos e as articulações do tornozelo, do joelho, da
pelve e, em certo grau, do tronco e dos ombros são componentes vitais de um
padrão de marcha eficiente. O processo da marcha utiliza informações obtidas
dos sistemas visual, auditivo e vestibular, e também de outros sistemas. As
forças relacionadas com a gravidade terrestre estão envolvidas na constante
alteração do centro de gravidade do corpo e no constante restabelecimento
da base de apoio durante o ciclo da caminhada. Condições ambientais, como

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 113


a superfície ou os objetos colocados no caminho de quem está andando,
podem alterar o padrão da marcha.

Basicamente três elementos fazem parte da execução da marcha: progressão


– padrão rítmico para ativar os músculos de pernas e do tronco, movimentando o corpo
na direção pretendida –; controle postural – recompor e manter a postura adequada – e
adaptação – julgar mudanças ambientais e do organismo e adequar de imediato.
A execução da marcha acontece em duas fases, a primeira é a de apoio, na qual
os dois pés estão no chão, seguida da fase de balança, que temos um dos pés no ar e o
outro no chão. Na fase de apoio ocorre uma pressão contrária à superfície, que impulsiona
o corpo na direção pretendida. Na fase do balanço é preciso responder aos propósitos de
progressão, bem como do controle da postura, além disso, é necessário fazer ajustes quan-
to aos possíveis obstáculos. Numa progressão normal de marcha, cada fase corresponde a
50% da execução, caso haja qualquer alteração nesse percentual podemos entender que
houve modificação no padrão do movimento.
E, por fim, vamos falar das atividades da vida diária, as AVDs. Aqui os adultos
jovens e os de meia-idade não sofrem grandes prejuízos na execução dessas tarefas, pois
estão relacionadas às ações motoras cotidianas, como escovar os dentes, levantar-se da
cama, trocar de roupas, tomar banho, entre outras. Apesar de ocorrer um declínio das
capacidades motoras em adultos de meia-idade, geralmente até os 59 anos é possível
realizar tais atividades sem a necessidade de auxílio, salvo em caso de doenças.
Quando falamos de indivíduos fisicamente ativos, então, a chance de continuarem
realizando as AVDs sem grande comprometimento aumenta significativamente. O que
acontece é que, com o passar dos anos, é necessário que sejam feitas algumas adapta-
ções ambientais para que as pessoas possam executar as AVDs sem dificuldade, como
colocar barras de apoio no banheiro, assim, mesmo com a perda parcial da capacidade de
equilíbrio corporal, a pessoa pode realizar, de maneira independente, suas atividades.
O trabalho com atividades motoras, principalmente em adultos de meia-idade, deve
privilegiar a melhora das capacidades motoras necessárias para realização das AVDs, tendo
em vista que a ideia é praticar atividade física para não sofrer os efeitos do envelhecimento,
nem tampouco antecipar os danos causados pela degeneração de alguns sistemas, como
já estudamos nesta disciplina.
A proposta para este grupo deve ser pautada em melhoria das capacidades físicas
e de coordenação, para que possam continuar realizando as tarefas do cotidiano de manei-
ra independente.

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 114


Outro aspecto que precisamos estar atentos no desenvolvimento humano é o psi-
cossocial, que se inter-relaciona com o domínio motor. Gallahue e Ozmun (2013, p. 400)
afirmam que
Vários aspectos do domínio motor influenciam o estado psicológico e as
características sociais dos adultos. O exercício, um estilo de vida fisicamente
ativo e a capacidade de realizar as habilidades da vida diária são fatores
orientados para o movimento que tem efeito positivo sobre o modo como os
adultos sentem-se a respeito de si mesmos e também sobre o modo como os
outros os veem. Declínios progressivos na ‘performance motora, a redução
da força muscular e a incapacidade de realizar as tarefas domésticas são
condições do domínio motor que afetam de modo negativo as perspectivas
psicológicas e as interações sociais dos adultos. Em numerosas situações,
o domínio motor interage com o domínio psicossocial. Quando há melhora
da autoestima do indivíduo e da sua imagem corporal após vários meses de
treinamento com peso ou quando adultos se reúnem para a caminhada mati-
nal no calçadão da cidade, observamos influências positivas da performance
motora sobre o comportamento psicossocial.

Em contrapartida, quando pessoas com problemas motores precisam frequentar


clínicas especializadas e ficam inseguras ou deprimidas, são observados aspectos nega-
tivos. Fatores psicológicos e motores interagem de diversas formas. Quando as pessoas
participam de programas de exercícios físicos, logo são percebidas melhoras em estado de
depressão, consciência da imagem corporal, sensação de bem-estar, entre outros.
Em virtude das mudanças causadas pelo envelhecimento, muitas pessoas apre-
sentam dificuldade em lidar com a imagem corporal de maneira saudável, o que pode
ocasionar até mesmo transtornos psíquicos.

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 115


3 O IDOSO EM QUESTÃO

Os tópicos 3 e 4 desta unidade serão destinados a falar do idoso em especial, ou


seja, iremos falar de pessoas que tem 60 anos ou mais. No tópico 3 iremos conhecer as
principais alterações fisiológicas que acontecem e as mudanças no desempenho motor
advindas da idade avançada, bem como as necessidades da pessoa idosa e os cuidados
necessários para melhor atendê-los no tocante às limitações motoras.
A área da ciência que estuda o processo de envelhecimento é chamada de Geron-
tologia. Assim como nas outras fases do desenvolvimento humano, é necessário olhar para
as particularidades da vida e do funcionamento do organismo do idoso para poder intervir e
contribuir de maneira expressiva e significativa, ajudando esse grupo, que tem necessida-
des específicas, a envelhecer da melhor forma possível, respeitando sua condição.
Sugiro que, se você tem interesse em trabalhar com idosos, leia com atenção o
Estatuto do Idoso, basta uma pesquisa rápida na internet e você terá acesso ao documento
na íntegra #ficaadica.
Quem se dedica a estudar a gerontologia vai conhecer disciplinas como a biologia,
a psicologia e a sociologia, a fim de entender esse grupo a partir de diferentes perspectivas
para “tentar identificar os mecanismos que fazem a pessoa envelhecer e o modo como isso
afeta a vida cotidiana dos indivíduos” (GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 382).
A partir dos 60 anos algumas perdas são intensificadas quanto à capacidade de
realização de movimento corporal. No tópico 1 desta unidade vimos diversos aspectos

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 116


que sofrem mudanças com o avanço da idade e com o envelhecimento. Pense que a cada
década o prejuízo nas condições fisiológicas vai aumentando, a perda das capacidades é
gradativa e o surgimento de doenças em decorrência do envelhecimento é fato.
Podemos retomar alguns desses prejuízos causados pelo envelhecimento, quais
sejam: mobilidade articular em decorrência da rigidez das articulações, tendões e ligamen-
tos, chegando até ao rompimento em casos graves; fraturas ósseas com facilidade como
resultado de quedas devido à perda da força muscular e dificuldade de equilíbrio e controle
postural; doenças do SNC, como Parkinson, Alzheimer ou demência, que interferem na ca-
pacidade de realização de tarefas simples do cotidiano; além das perdas no funcionamento
do sistema sensorial, como visão e audição.
Em muitos casos, a debilidade relacionada ao envelhecimento acontece em de-
corrência do estilo de vida das pessoas, do comportamento, da alimentação e de fatores
ambientais, portanto, podem ser modificadas.
Lembra que falamos sobre o desempenho motor em adultos jovens e de meia-ida-
de? Então, todos aqueles danos causados pelo envelhecimento, a partir dos 60 anos são
intensificados. Algumas perdas são até mesmo irreversíveis, como é o caso do equilíbrio e
do controle postural. Para diminuir os danos causados, é necessário dispor de estratégias
que possam compensar as dificuldades. Praticar atividade física, enfatizando o trabalho
de flexibilidade articular, pode melhorar a força muscular, melhorando a estabilidade e a
habilidade articular. A atividade física é reconhecidamente a alternativa na diminuição das
quedas decorrentes das dificuldades causadas pelo envelhecimento.
Nos idosos especificamente a habilidade da marcha fica comprometida em diversos
aspectos, como: velocidade curta; extensão do passo reduzida; ritmo diminuído; amplia a
largura do passo; ampliação da fase de apoio; aumenta o tempo que fica em duplo apoio;
diminui a fase de balanço; reduz o balanço dos braços; diminui a flexão de quadril, joelho
e tornozelo; o pé fica mais plano ao chocar do calcanhar com o solo; estabilidade dinâmica
reduzida no apoio; contrai a potência para gerar impulso; redução da potência de absorção
no choque de calcanhar.
Esse conjunto de mudanças no caminhar dos idosos os torna mais suscetíveis a
quedas ou perdas do equilíbrio corporal. A tabela a seguir mostra alguns fatores de risco em
relação a quedas e quais seriam as estratégias de intervenção.

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 117


Tabela 2 - Fatores de risco de queda e possibilidades de intervenção

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 419).

Gallahue e Ozmun (2013) apresentam uma tabela com sugestões para auxiliar os
idoso nas atividades da vida diária em ambiente doméstico:

Tabela 3 - Auxílio nas atividades da vida diária em ambiente doméstico

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 421).

Os mesmos autores trazem ainda algumas orientações para auxiliar adultos mais
velhos quando vão adquirir novas habilidades, que podem ser vistas na tabela a seguir:

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 118


Tabela 4 - Sugestões para auxiliar os idosos ao adquirir novas habilidades

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 422).

É de suma importância conhecer as especificidades dessa etapa da vida, a fim


de poder atender esse grupo de pessoas que tem necessidades especiais e carece de
atendimento que respeite suas demandas.
Vale ressaltar que o envelhecimento é um processo que faz parte da vida de todas
as pessoas e que pode ser passado de maneira saudável quando o indivíduo opta por um
estilo de vida pautado em atividade física regular e adequada, alimentação balanceada e
cuide das condições psicológicas, fator esse que iremos tratar no próximo e último tópico
desta unidade.

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 119


4 O IDOSO E A VIDA SOCIAL

No presente tópico iremos estudar aspectos do desenvolvimento psicossocial do


idoso, bem como a sua socialização. Lembrando que estamos falando de pessoas com
mais de 60 anos de idade que, por vezes, dependendo do estilo de vida, são acometidas
por doenças ou sofrem limitações decorrentes do envelhecimento e precisam de auxílio
para realizar as atividades e tarefas da vida diária. Não é regra que todas as pessoas com
mais de 60 anos terão as mesmas limitações e condições de vida que carecem de ajuda.
Com o aumento da expectativa de vida e mudanças nos hábitos cotidianos é possível ter
uma velhice saudável e poder viver bem apesar das condições e restrições causadas pelo
envelhecimento.
Uma das alternativas para uma velhice melhor é manter uma vida social. Existem
grupos de idosos no mundo que estão se organizando para morar juntos em comunidades
e envelhecer entre os pares. O que é considerada uma prática saudável para pessoas
idosas, que, por vezes, acabam a vida sozinhas.
Envelhecer bem é um conceito multidimensional e envolve “o engajamento apoiado
em atividades sociais e produtivas, a manutenção de um elevado funcionamento físico e
cognitivo e a prevenção de doenças e incapacitações”. (GALLAHUE; OZMUN, 2013, p.
404) Na Tabela 5 você pode observar algumas percepções errôneas sobre os adultos mais
velhos que são muito comuns na sociedade.

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 120


Tabela 5 - Ideias equivocadas sobre adultos mais velhos

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 405).

Existe uma visão estigmatizada na sociedade de que o idoso é “incapaz”, o que


torna essa fase da vida ainda mais complicada aos olhos de quem a vive. Por isso é funda-
mental conhecer uma base científica sobre as características deste período.
Pensando ainda no conceito do “envelhecer bem”, a figura a seguir mostra uma
interseção dos fatores que levam a esse objetivo.

Figura 2 - Fatores que resultam no envelhecimento saudável

Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 405).

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 121


Em relação ao desenvolvimento psicossocial do idoso, é fundamental falarmos do
papel da família nesse processo, que tem como propósito proteger, oferecer afeto e garantir
a sua identidade social. Consideram-se modificações na estrutura familiar e na sua evo-
lução, nos papéis tradicionais e nas relações entre as diversas gerações que fazem parte
de um mesmo núcleo familiar. Tudo isso pode interferir significativamente na qualidade das
relações estabelecidas.
Pesquisas mostram que trabalhadores mais velhos tendem a ser mais estáveis,
ter menos faltas e se envolver menos em acidentes do que jovens. Atualmente vemos
a crescente participação de pessoas que, mesmo depois da aposentadoria, continuam
atuando no mercado de trabalho de maneira formal ou na informalidade, pois muitas vezes
são os mais velhos que provem por maior parte do sustento de uma família. Tais aspectos
sociológicos mudam as relações sociais do idoso, que é visto como economicamente ativo
na sociedade contemporânea.
Quando falamos dos fatores de socialização e pensamos num processo excelente
de envelhecimento no que tange às relações interpessoais, devemos conhecer duas abor-
dagens: a Teoria da Atividade e Teoria do Desengajamento.
A primeira “sugere que, à medida que ficam velhos, os adultos precisam de inte-
ração com outras pessoas e atividade física continuada para ficarem felizes e satisfeitos”
(GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 403).
As abordagens são opostas no entendimento do que seria envelhecer bem e a
segunda propõe que “à proporção que envelhece, a pessoa começa a perder os rela-
cionamentos, aos poucos abandona os interesses do passado, e, no final, afasta-se da
sociedade” (GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 403).
Ambas apresentam uma visão do processo de envelhecimento com base na socia-
lização e consideram como marco sociológico para o adulto mais velho a aposentadoria.
Interessante pensar que algumas pessoas desejam e degustam, outras fogem e outras
sofrem com esse momento.
Numa relação com o domínio motor, Gallahue e Ozmun (2013, p. 403) afirmam que
Os aspectos do domínio motor podem ter papel benefício ou prejudicial nas
várias etapas desse processo. A manutenção de um estilo de vida fisicamente
ativo pode reduzir a apreensão a respeito das mudanças de vida represen-
tadas por esse evento. A participação em esportes por toda a vida ou em
atividades de lazer, como golfe, tênis, ciclismo ou caminhadas, pode abran-
dar de algum modo as transições potencialmente difíceis da aposentadoria,
fornecendo desafios e diversão ao aposentado, dentro de uma estrutura que
pode ser regulada por expectativas realistas. Além disso, como descrito em
vários exemplos nos capítulos anteriores, permanecer fisicamente ativo pelo
maior tempo possível pode ajudar a retardar o surgimento de problemas de

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 122


saúde e a dependência em relação a outras pessoas para a performance das
habilidades da vida diária.

Outro aspecto social que precisa ser apresentado e discutido é a discriminação


dos idosos, que diz respeitos aos preconceitos. A ideia de que os idosos têm deficiências
motoras e cognitivas e devem ser tratados como crianças é um exemplo disso. Existe uma
aversão às pessoas mais velhas por acharem que têm pouco valor para a sociedade ou que
somente consomem recursos. Adolescentes e adultos mais jovens consideram os idosos
menos aptos na realização de atividades físicas, inferiorizando-os.
Vale ressaltar que isso não é uma regra social e que muitas vezes acontece em
decorrência de aspectos culturais e da maneira como os idosos são vistos socialmente.
Conhecer para educar as pessoas de todas as idades quanto à necessidade de respeitar os
idosos e compreender que muitas situações que acontecem com eles são em decorrência
das mudanças advindas do envelhecimento é papel da sociedade, das famílias e do poder
público. Afinal de contas, um dia todos seremos idosos e estaremos no mesmo lugar que
eles estão atualmente.

SAIBA MAIS

A Importância da Atividade Física na Terceira Idade


Os padrões que marcam as normas de conduta social vão se aproximando cada vez
mais do lema de se ter uma vida saudável, considerando a atividade física como um
elemento a mais na forma de viver e nos hábitos diários. Se o corpo é o instrumento que
permite que uma pessoa se desloque, se relacione se expresse e intervenha em seu
meio social, é justo cuidar bem dele.
Já por volta dos 30 anos de idade os indivíduos começam a perder massa muscular e
possuem uma forte tendência a aumentar o percentual de gordura. E perda de massa
muscular significa perda de força, o que tende a se agravar com o tempo. O envelhe-
cimento traz consigo inúmeras transformações no corpo do idoso; e a diminuição do
desempenho físico talvez seja o mais percebido pelas pessoas. Isso porque na terceira
idade o organismo já não é como antes; os corpos não são mais tão flexíveis e os movi-
mentos não são tão ágeis. As articulações perdem mobilidade e elasticidade, as lesões
degenerativas como a osteoporose transformam o osso de um estado consistente para
esponjoso; o aparelho bronco-pulmonar sofre alterações, inclusive o pulmão tem seu

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 123


peso reduzido; no sistema cardiovascular, a capacidade do coração diminui, a pres-
são se eleva, diminuindo a circulação sanguínea. Certos indivíduos da terceira idade
possuem a reserva funcional tão baixa que atividades cotidianas aparentemente fáceis
(banhar-se, vestir-se e alimentar-se sozinho) tornam-se bastante difíceis.
A diminuição da força muscular é o fator mais diretamente relacionado com a indepen-
dência funcional de idosos. E o sedentarismo como fator agregado chega a ser assus-
tador ao se avaliar as consequências para a saúde. Segundo pesquisas, o idoso tem
perda de até 5% da capacidade física a cada 10 anos, e tem possibilidade de recuperar
10% dessa capacidade através de atividades físicas adequadas.
A atividade física oferece importantes benefícios à população da terceira idade, tais
como, a prevenção e diminuição de problemas cardiovasculares, pulmonares, auxilio no
controle da diabetes, artrite, doenças cardíacas, fortalecimento muscular, manutenção
da densidade óssea entre outros benefícios; proporcionando melhorias significativas no
equilíbrio, na velocidade de andar, no reflexo, na ingestão alimentar, diminuição da de-
pressão, e prevenindo a tão temida osteoporose e suas consequências degenerativas.
Já é comprovado que a hipertrofia muscular e a força aumentada, tem um impacto subs-
tancial nas atividades da vida diária e na atividade funcional do idoso, uma vez que os
protege contra lesões. Evidenciando uma vez mais, que a prática de exercícios produz
efeitos protetores contra a evolução de doenças crônicas degenerativas, aumenta a ex-
pectativa de vida, e acima de tudo melhora o estado de saúde do indivíduo, o que faz do
exercício uma importante estratégia de Saúde Pública.
Os problemas musculoesqueléticos preexistentes podem ser um impedimento para o
começo de uma atividade, pois mais de 50% dos idosos envolvidos em programas de
exercícios desenvolvem lesões que são exacerbações de condições preexistentes. Lem-
brando ainda, que a osteoartrose afeta 85% de todas as pessoas com 70 anos de idade
ou mais. Ou seja, é importante saber se (e quais) as atividades limitam essa população.
Por isso, é imperativo que a atividade seja orientada por um profissional competente e
responsável, que observe e respeite o limite do idoso.
Dentre tantas opções de atividades físicas, o ideal é que o idoso escolha uma onde pos-
sa executar exercícios que lhe agradem e motive, gerem bem estar e qualidade de vida;
seja ela a musculação, a yoga, o pilates, a caminhada, a natação, etc. Pois, a prática
regular de atividade física de maneira adequada às necessidades e realidade física, psi-
cológica e social do idoso, pode significar a diferença entre uma vida autônoma ou não.

Fonte: Dias (2004).

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 124


REFLITA

“A vida seria infinitamente mais feliz se pudéssemos nascer aos 80 anos e gradualmente
chegar aos 18”
Escrito por Mark Twain (1835-1910,) inspirou o conto de F. Scott Fitzgerald, dando ori-
gem ao filme “O curioso caso de Benjamin Button”

“Vivemos em uma cultura obcecada com a juventude que está constantemente tentando
nos dizer que, se não somos jovens, e não estamos brilhando, e não somos gostosos,
que não importamos. Eu me recuso a deixar que um sistema ou uma cultura ou uma
visão distorcida da realidade me digam que eu não sou importante. Eu sei que só saben-
do quem e o que você é, você pode começar a aproveitar a plenitude da vida. Todos os
anos devem nos ensinar uma lição valiosa. Se você entende a lição realmente depende
só de você” (Oprah Winfrey).

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 125


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), chegamos ao final da Unidade IV dessa disciplina. Nos últimos


quatro tópicos estudados percorremos a idade adulta e a velhice. Vimos que a adultez se
divide em dois momentos fundamentais da vida humana, aquele em que acontece o auge
das capacidades motoras, quando chegamos ao ápice da nossa condição física, se for
possível. Mas passamos disso para o declínio de muitas das habilidades que passamos a
vida toda adquirindo, desenvolvendo e aprimorando.
A partir dos famigerados 45 anos iniciamos o processo de perda de muito que
conquistamos ao longo da vida. A partir dos 60 anos, então... as coisas ficam mais lentas,
mais difíceis e algumas tarefas que eram fáceis de serem realizadas agora só podem ser
feitas mediante auxílio de materiais ou de terceiros.
Entendemos que isso faz parte do desenvolvimento e aceitamos. O que nos resta
fazer diante disso é aceitar.
Claro que não!
Vimos também que é possível envelhecer bem e cada vez melhor, que existe a
possibilidade de retardar os efeitos do envelhecimento e tornar a velhice mais uma fase
da vida, com suas particularidades, podendo ser vivida com maestria, com leveza e de
maneira saudável.
Estudamos algumas alternativas alcançáveis para enfrentar as mudanças do en-
velhecimento com elegância e respeitando as condições. Buscar um estilo de vida que
promova o envelhecimento saudável é uma questão de escolha e papel de cada um.
Não vamos esquecer que antecipar o envelhecimento também é possível, você
pode ter 30 anos e já estar vivendo como alguém de 60, tudo vai depender dos hábitos que
tem construído em seus dias.

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 126


LEITURA COMPLEMENTAR

Olá, aluno(a).
Como a última unidade da nossa disciplina está dedicada a entender como acon-
tece o desenvolvimento motor na fase adulta e na velhice, selecionei alguns artigos que
tratam da saúde dos idosos. A partir dos 60 anos muita coisa muda no funcionamento do
organismo humano e deve ser olhado com cuidado e atenção por todos, pela família e pelo
poder público, ao dispor de campanhas e atendimento a esse grupo de pessoas que tem
necessidades muito específicas. Pesquisas certificam o quanto faz diferença bons hábitos
de vida no envelhecimento humano. Aproveite cada um dos textos e, se esse público é de
seu interesse profissional, busque ainda mais aprofundamento.

● http://rbafs.org.br/RBAFS/article/view/13895/10971
● https://www.redalyc.org/pdf/408/40818308.pdf
● https://www.efdeportes.com/efd175/desenvolvimento-motor-em-adultos.htm
● http://www.saude.pr.gov.br/arquivos/File/LinhaGuiaSaudeIdoso_2018_atualiz.pdf

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 127


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
• Título: Crescimento e desenvolvimento motor
• Autor: Eliane Denise Araújo Bacil, Michael Silva e Oldemar Ma-
zzardo
• Editora: Intersaberes
• Sinopse: Conhecer como é o desempenho motor do ser humano
em todas as etapas da vida é essencial para os profissionais da
Educação Física. Afinal, não é apenas na infância e na adolescência
que encontramos informações preciosas sobre o desenvolvimento
do corpo humano. Também a idade adulta e a idosa guardam suas
particularidades e estudar as habilidades e os limites de movi-
mentação dos nossos corpos nessas fases é uma oportunidade
rica e inspiradora! Compreenda melhor a performance motora que
podemos esperar do corpo humano ao longo da vida e perceba
os diferentes cuidados que precisam ser tomados na prática de
atividades físicas.

FILME/VÍDEO
• Título: Eternos campeões
• Ano: 2011
• Sinopse: Este documentário vivaz acompanha atletas que par-
ticipam de competições para idosos e provam que a idade não
diminui o espírito esportivo.

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 128


REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE. O que é Psicomotricidade. 2019. Dis-


ponível em: https://psicomotricidade.com.br/sobre/o-que-e-psicomotricidade/. Acesso em: 25 abr.
2020.

BIEMANN, A. A. Integração sensorial – o que é, qual sua importância e dicas de como estimu-
lar. 2019. Disponível em: https://www.elo21down.com.br/2019/01/17/integracao-sensorial-o-que-e-
-qual-sua-importancia-e-dicas-de-como-estimular/.

BRASIL. Ministério da Saúde. Guia alimentar para crianças menores de dois anos. Brasília: Mi-
nistério da Saúde; Organização Pan-Americana de Saúde, 2002.

DIAS, J. A Importância da Atividade Física na Terceira Idade. 2004. Disponível em:https://sitean-


tigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/direito/a-importancia-da-atividade-fisica-na-terceira-i-
dade/18853.

FONSECA, V. da. Neuropsicomotricidade: ensaio sobre as relações entre corpo, motricidade,


cérebro e mente. Rio de janeiro: Wak Editora, 2018.

FONSECA, V. Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem. 2.ed. São Paulo: Artmed, 2008.

GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J.C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças,


adolescentes e adultos. 7. ed. São Paulo: Phorte, 2013.

HAYWOOD, K. M.; GETCHELL, N. Desenvolvimento Motor ao Longo da Vida. 6. edição. São


Paulo: Artmed, 2016.

IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2019. Em 2018, expectativa


de vida era de 76,3 anos. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-im-
prensa/2013-agencia-de-noticias/releases/26104-em-2018-expectativa-de-vida-era-de-76-3-anos.

MAGILL, R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo: Edgard.Blücher, 2000.

MANOEL, E. J. O estudo do desenvolvimento motor: tendências e perspectivas. In: TANI, G. Com-


portamento motor: Aprendizagem e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan 2008.
333 p.

PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano. 8. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2006.

PIAGET, J. Seis estudos de Piaget. 25. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2011.

SILVA, N. Ser adulto: alguns elementos para discussão deste conceito para a formação de profes-
sores de adultos. Millenium - Revista do Instituto Politécnico de Viseu, n. 29, Junho de 2004.
Disponível em: http://www.ipv.pt/millenium/Millenium29/35.pdf. Acessado em: Abril de 2020.

TANI.G, Comportamento motor: Aprendizagem e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2008.

VIGOTSKI, L. S. A brincadeira e seu papel no desenvolvimento psíquico da criança. Revista Virtual


de Gestão de Iniciativas Sociais, jun. 2008.

ZAPELINI, T. A. Por que a atividade física na infância é importante? 2018. Disponível em: https://
blogeducacaofisica.com.br/atividade-fisica-na-infancia/.

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 129


CONCLUSÃO

Caro(a) aluno(a),
Construí este material com muito capricho para que ele fosse realmente significativo
em sua formação, para que fizesse diferença em sua vida. Cada linha escrita, cada material
selecionado e os vídeos apresentados foram feitos pautados em referenciais renomados
sobre o tema abordado. Busquei trazer para você as informações essenciais para sua for-
mação e atuação profissional referentes ao desenvolvimento e comportamento motor. Para
tanto, apresentamos conceitos basilares sobre o tema, que serão utilizados em diversas
áreas e que podem auxiliar na construção dos planejamentos de trabalho, nos relatórios de
aprendizagens, entre outros.
Inicialmente fizemos uma caminhada pelo desenvolvimento humano para poder-
mos entender o desenvolvimento e o comportamento motor com mais propriedade. Desde
a concepção, na formação do ovo, quando ainda não há um embrião até a velhice. E a cada
etapa fomos explorando aspectos da motricidade, da cognição e da socio afetividade. En-
tendendo que o ser humano não é fragmentado, que as dimensões funcionam de maneira
interligada.
A cada etapa aprendida, a lembrar: período pré-natal, nascimento e perinatal, in-
fância, adolescência e idade adulta, fomos conhecendo as principais aquisições motoras,
como elas acontecem e de que maneiras podemos potencializar tais aprendizagens.
Além disso fomos verificando também os fatores que interferem nas aquisições
motoras, afinal de contas, nem todo mundo aprende do mesmo jeito e no mesmo momento.
Por isso é tão importante conhecer o desenvolvimento humano e suas particularidades.
Agora já entendemos que é fundamental ter referências de aprendizagens para
poder saber se o desenvolvimento está acontecendo de maneira saudável ou não. E, a
partir disso, poder intervir com consciência e responsabilidade.
Pronto! Agora você está apto(a) a desenvolver seu trabalho pautado em conheci-
mento científico e não em teorias de senso comum. Ainda que muitas vezes o conhecimento
popular nos ajude. Está pronto para aplicar tudo o que aprendeu nesta disciplina. Pode
começar observando as pessoas no seu entorno e como estão suas aprendizagens.

Voilà! Sucesso e faça seu trabalho sempre com muito amor.

Quem sabe nos encontramos em outra oportunidade. Abraço.

UNIDADE IV Idade Adulta e o seu Desenvolvimento 130

Você também pode gostar