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A INFLUÊNCIA DA RELAÇÃO ENTRE PROFESSOR E ALUNO NO

PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

YOSHIDA, Cláudia Emi1.


KUHLKAMP, Moacir César2

RESUMO
O Presente artigo aborda um estudo acerca das questões referentes à relação entre
aluno e professor e a influência dessa relação no processo de ensino e
aprendizagem. Este projeto foi elaborado a partir da observação dos reflexos que as
relações afetivas entre professores e alunos se apresentam na aprendizagem. A
metodologia utilizada para a elaboração deste artigo foi a pesquisa bibliográfica, por
meio da qual pretende-se verificar as teorias já publicadas acerca desse tema. O
referencial teórico abordou a importância da relação professor aluno, o aluno
enquanto sujeito na construção do conhecimento, o professor no processo de ensino
e aprendizagem e a afetividade e a aprendizagem na referência de Miriam
Abramovay, Mônica Ribeiro Silva, Cláudia Mara Almeida, Kátia Cristina Dambiski
Soares e Ana Maria Lakomy, assim como os documentos do MEC como base de
estudos. Os resultados obtidos demonstraram a necessidade de se dar mais
atenção para as relações que se estabelecem entre professor aluno no sentido de
promover aprendizagens significativas para os sujeitos que estão em processo de
desenvolvimento na escola.

Palavras-chave: Professor. Aprendizagem. Aluno.

1 INTRODUÇÃO
O assunto abordado neste artigo se refere à influência da relação
aluno-professor no processo ensino-aprendizagem, tendo como objetivo observar
em que medida a relação desses sujeitos influencia na construção do conhecimento
e de que forma a afetividade nessa relação pode promover a melhora na
aprendizagem desses sujeitos.
A partir da observação de que há necessidade da análise mais detalhada de
quais fatores interferem ou favorecem a construção do conhecimento pelos alunos,

1
Professora de Língua Portuguesa da Rede Estadual de Ensino. Graduada em Letras Língua
Portuguesa e Respectiva Literatura pela Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Gravataí.
Pós-graduada em Educação para a Diversidade – UFRGS. Pós-graduada em Psicopedagogia e
Tecnologias da Informação e Comunicação – UFRGS. Pós-graduanda em Orientação do Trabalho
Pedagógico, Orientação Educacional, Supervisão e Gestão Escolar.
2
Matemático, Neuropsicólogo, Especialista em Educação Especial e Especialista em Educação das
Relações Étnico-Raciais. Professor Orientador do Centro Universitário Internacional UNINTER.
surge a necessidade deste estudo que tem como objetivo refletir sobre a relação
professor-aluno-conhecimento. Em que medida a relação entre professor e aluno
influencia no processo de construção do conhecimento? Segundo Freire, “a prática
educativa é: afetividade, alegria, capacidade científica e domínio técnico a serviço da
mudança” (FREIRE, 1996, p.161), conceitos indissociáveis que tornam o fazer
pedagógico importante na construção da sociedade e que evidenciam a importância
de repensar as relações que se estabelecem entre professor e aluno.
O estudo do aluno enquanto sujeito na construção do seu conhecimento
correlacionado à identificação do papel do professor no processo de ensino e
aprendizagem, a que se referem os itens 3 e 4 deste artigo, evidenciam a
importância dada a uma educação “que forme pessoas solidárias e sujeitos
participantes da transformação de si mesmos, de suas próprias vidas e destinos, de
seus outros e dos mundos sociais em que vivem” (ARROYO, 2012. p.49) tornando
as aprendizagens escolares significativas para suas vidas.
Os conceitos de afetividade e aprendizagem apontados nesse artigo são
relacionados como partes importantes do processo educativo nas escolas
contemporâneas. Conforme afirma Rogers, “a aprendizagem espontânea que
envolve a personalidade do aluno em sua totalidade - sentimentos e intelecto
imbricados – é a mais profunda e duradoura. (ROGERS, 2010, p.21). Em relação ao
professor, o mesmo autor afirma que ”ele deverá levarem conta tanto as questões de
ordem intelectual quanto as afetivas, esforçando-se por dar a estes dois tipos de
reações a importância de que elas se revestem para cada indivíduo e para o grupo.”
(ROGERS, 2010, p.22). Para tanto, registra ainda que “na sala de aula, o formador
prestará atenção constantemente para detectar reações afetivas profundas ou
violentas. Estas manifestações devem ser acolhidas com compreensão e devem
suscitar uma reação claramente expressa de confiança e de respeito. ” (ROGERS,
2010, p.22).
Nesse sentido se dá a importância desse estudo, elaborado a partir da
observação do cotidiano da escola e da revisão de literatura relacionada, com vistas
a favorecer um melhor desenvolvimento dos sujeitos nela envolvidos. Para tanto, a
seguir será feito um aporte teórico dos assuntos pertinentes às questões tratadas.
A relevância desse estudo evidencia-se na observação da necessidade de
ampliação da promoção de uma relação mais afetiva entre professor e aluno, com
vistas a envolvê-los de forma integral em atividades que relacionem os saberes
desses sujeitos, trazendo significado aos estudos para os alunos. De acordo com
Lakomy: “Henri Wallon desenvolveu uma teoria psicogenética na qual a dimensão
afetiva ocupa lugar central no processo de aprendizagem” (LAKOMY, 2014. p.50).
Evidenciam-se algumas dificuldades para colocar em prática essas teorias ao
se deparar com a realidade das escolas, as dificuldades encontradas na profissão
dos professores, bem como a realidade de dificuldades de algumas famílias dos
alunos, que trazem para o dia-a-dia das escolas demandas que ultrapassam os
limites de possibilidades de atuação dessas instituições.

2 PROFESOR-ALUNO: A IMPORTÂNCIA DESSA RELAÇÃO


O resultado de um trabalho que vem sendo desenvolvido há algumas
décadas, visando que a escola seja para todos, traz consigo um desafio para os
professores e pedagogos no sentido de tornar a relação entre professor, aluno e
conhecimento algo que promova o aprendizado desses alunos. De acordo com
Abramovay (2002) o impacto da massificação do acesso à escola, que passa a
receber jovens afetados por experiências de exclusão, é um dos fatores que geram
a violência escolar. A autora afirma ainda que “é preciso reconhecer que dentro da
própria escola existem possibilidades de lidar com as diferentes modalidades de
violência e construir culturas alternativas pela paz” (ABRAMOVAY, 2002.p.51).
Tornar o aprendizado significativo para esses jovens é um dos grandes desafios dos
professores, assim como estabelecer uma relação que promova o aprendizado
deles.
Antes, tínhamos uma escola que era para aqueles que entendiam a
importância do estudo, ou porque suas famílias queriam que esse sujeito estudasse,
ou porque essa criança, vinda para a escola de uma família em que os pais tinham
certa escolaridade, gostava das atividades escolares e tinha a organização nas suas
práticas diárias, por ter isso como hábito. Não havia nenhuma legislação que
impusesse às famílias manterem as crianças nas escolas, então aquelas que não se
adaptassem à escolarização acabavam por desistir dos estudos. Os motivos eram
dos mais variados indo desde as crianças que apresentavam dificuldades de
aprendizagem até aquelas em que não havia uma rotina organizada na família que
promovesse as idas diárias à escola. Bastava que o aluno não se saísse bem nos
estudos por alguns anos e ele simplesmente deixava de estudar.
Hoje, a realidade é diferente disso e temos a escolarização básica,
obrigatória, que vai dos 4 aos 17 anos de idade, conforme versa a Lei das Diretrizes
e Bases da Educação Nacional – LDB no seu artigo 4º: “ O dever do Estado com
educação escolar pública será efetivado I - educação básica obrigatória e gratuita
dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade” (BRASIL. 1996)
Sendo assim, encontramos nas salas de aula não só aqueles alunos que
gostam de estudar, que se saem bem nos estudos, que aprendem os conteúdos
com facilidade, que têm incentivo familiar para seu desenvolvimento, que são
comportados ou que seguem as regras, mas também os que têm dificuldade de
aprendizagem, aqueles que os pais saem para trabalhar e ficam o dia todo sem os
cuidados de um adulto, alunos que os familiares não veem necessidade de que eles
estudem e que são obrigados a mantê-los na escola por exigência legal e por isso
são muito resistentes a seguir as normas ou até mesmo seguir as orientações
simples dos professores, preferindo mostrar para seus pares que não querem fazer
as coisas ao invés de parecer que não conseguem ou não sabem fazê-las.
Nesse sentido a indisciplina se torna queixa comum dos professores no que
diz respeito aos desafios dos seus trabalhos nas salas de aula. Aqueles professores
que priorizam metodologias que dão ênfase à memorização e à valorização muito
rigorosa de regras têm esse problema mais acentuado, observadas as
características dos alunos hoje presentes nas salas de aula.
Quando os professores, tentam impor que o aluno se ajuste às suas regras,
sem considerar a construção de vida desse aluno, suas dificuldades, as lacunas do
seu processo de aprendizagem, suas necessidades, seus medos, traumas e
inseguranças, geram um conflito que tende a aumentar o quadro de indisciplina.
Conforme afirma Silva:

Na sociedade brasileira, cuja marca histórica da educação é a seletividade,


adquire relevância um projeto educativo capaz de assegurar, nos mais
variados tempos e espaços, a formação de homens e mulheres que tenham
condições de compreender em profundidade o mundo em que vivem e de
intervir nele de modo a transformá-lo, em direção à satisfação plena de suas
necessidades. Com isso, a educação contribuiria para que se chegasse
próximo do que se convencionou chamar, na sociedade, de cidadania.
(SILVA, 2013. p.79)

Portanto, para que haja melhor relacionamento entre professor e aluno, uma
alternativa é que os professores reconheçam todos os jovens que estão na sala de
aula enquanto sujeitos de direitos de aprendizagens, independente das habilidades
e dificuldades que eles tenham, assim como é importante que não haja classificação
entre eles como bons e maus alunos.
Como mediador no processo de ajuste entre esses indivíduos, temos o
Orientador Educacional. De acordo com o Decreto Nº 72.846 que regulamenta o
exercício do Orientador Educacional, faz parte do rol de atribuições deste
profissional:

Participar no processo de elaboração do currículo pleno da escola,


coordenar o processo de sondagem de interesses, aptidões e habilidades
do educando, participar no processo de identificação das características
básicas da comunidade e participar no processo de caracterização da
clientela escolar. (BRASIL, 1973)

Portanto, caso o Orientador Educacional observe desarmonia na relação entre


professor e aluno durante o processo educacional, compete a ele propor estratégias
que favoreçam melhor relação entre os indivíduos visto que:

A função orientadora do pedagogo escolar tem como referência, ponto de


partida e ponto de chegada, a relação professor/aluno, enquanto instância
fundamental no âmbito da escola, do processo de transmissão/apropriação
dos conteúdos. Nessa direção, várias ações podem ser desenvolvidas pelo
pedagogo relacionadas à aprendizagem escolar, na perspectiva da
democratização da escola e do conhecimento. (ALMEIDA, SOARES,
2012.p.83)

3 O ALUNO ENQUANTO SUJEITO NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO


O discurso de que é necessário aproximar os conteúdos ensinados nas aulas
do cotidiano dos alunos já se faz comum nos cursos de formação dos professores,
porém ainda é necessário que muito seja feito para efetivar esse discurso na prática.
Silva afirma que “o primeiro critério para a seleção dos conteúdos e das práticas
educativas é a relevância dos saberes escolares diante da experiência social
construída historicamente” (SILVA, 2013. p. 109). Assim, é importante privilegiar a
cultura presente na comunidade escolar, favorecendo então maior envolvimento dos
alunos nas atividades propostas pelos professores.

A escola, face às atuais exigências da Educação Básica, precisa ser


reinventada: reconhecer os educandos como produtores de conhecimento,
priorizar processos capazes de gerar sujeitos inventivos, autônomos,
participativos, cooperativos, preparados para diversificadas inserções
sociais, políticas, culturais, laborais e, ao mesmo tempo, capazes de intervir
e problematizar as formas de produção na sociedade atual. (BRASIL, 2012.
P.9)

Para que isso aconteça, são necessárias estratégias de ensino que superem
a mera transmissão de informações e avaliações que privilegiem a memorização.
Colocar o aluno como protagonista no processo de aprendizagem requer que as
dinâmicas de trabalho sejam a articulação de saberes e habilidades entre os
estudantes e entre os estudantes e os professores. Quanto à seleção das práticas
pedagógicas, Silva afirma que “tais processos devem enfatizar o pensar e promover
a interação entre os saberes docentes e os saberes discentes. ” (SILVA, 2013.
p.109)
Nesse sentido, o texto da Lei das Diretrizes Curriculares Nacionais da
Educação Básica, quando trata da formação de professores para o Ensino
Fundamental, cita Paulo Freire ao expressar que “as ciências devem estar
associadas à discussão de técnicas, de materiais e de métodos para uma aula
dinâmica; é preciso, indispensável mesmo, que o professor se ache repousado no
saber de que a pedra fundamental é a curiosidade do ser humano” (FREIRE,1996.
P.96).
Sobre os sujeitos e o processo educacional, Silva afirma que:

No fato existencial, a educação é o processo por meio do qual cada


indivíduo adquire sua essência, sua condição propriamente humana; já no
fato social, a educação é a ação por meio da qual a sociedade reproduz a
si mesma. A educação gera, portanto, ao mesmo tempo, a conservação e a
transformação do indivíduo. (SILVA, 2013. p.13)

Percebe-se, então, a importância do aluno enquanto sujeito na construção do


conhecimento, pois, de acordo com Brandão:

São pessoas humanas a serem formadas a partir de si mesmos, de dentro


pra fora, e de acordo com suas vocações individuais. Pois cada pessoa é
uma fonte única de vida, de sentimentos, de sentidos de vida e de saberes.
Tudo o que posso fazer como uma pessoa que educa é colocar-me ao seu
lado e dialogar com ela. Trocar vivências, afetos e saberes. E, assim,
partilhar com ela a experiência dialógica, inclusiva, solidariamente interativa
Da criação de saberes. (BRANDÃO, 2012. p. 54)

4 O PROFESSOR E O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM


Ao colocarmos o professor enquanto adulto de referência e modelo de
comportamento no exercício de sua profissão, colocamos para ele um compromisso
que toma outra dimensão além de simplesmente ensinar conteúdos programáticos.
“Aqueles a quem nos dirigimos enquanto educadores são pessoas como nós, e
estão diante de nós para aprender a saber, porque são diferentes de nós. O intervalo
entre as nossas diferenças tem esse nome: educação. ” (BRANDÃO, 2012. p. 54)
De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica,
“o trabalho docente tem a tarefa de cuidar e educar as crianças e jovens” (BRASIL,
2013. P.59) identificação que determina um perfil docente mais amplo e de caráter
social, político e cultural de fundamental importância no desenvolvimento integral
desses sujeitos.
Quando analisadas as realidades das escolas e em que situações se
encontram os estudantes delas, na sua maioria, vemos que se faz necessário que
os professores em exercício nessas instituições se coloquem de forma a
repensarem seus fazeres pedagógicos no sentido de equilibrarem suas práticas e
avaliações para que priorizem o desenvolvimento humano em detrimento à
transmissão de informações. Conforme Aquino:

Precisamos tornar o nosso ofício como um campo privilegiado de


aprendizagem, de investigação de novas possibilidades de atuação
profissional. Sala de aula é laboratório, sempre! Não é o aluno que não se
encaixa ao que nós oferecemos; somos nós que, de certa forma, não nos
adequamos às suas possibilidades. Precisamos, então, reinventar os
conteúdos em certa medida, precisamos reinventar nossa relação com eles,
para que se possa, enfim, preservar o escopo ético do trabalho pedagógico.
(AQUINO, 1998, p. 204)

Além disso, muitas das crianças e jovens que estão nas escolas não têm um
modelo de comportamento referencial que não sejam os professores ou demais
profissionais que estão na escola. Principalmente quando se refere a escolas
públicas, muitos alunos tem o professor como único adulto que seja modelo de
educação a ser seguido ou porque os pais têm uma jornada de trabalho que os
impede de participar da vida dos nossos alunos, ou porque esses estão em situação
de abandono. De acordo com Brandão:

Educadores são aqueles que, mais do que “ ensinar o que não se sabe”,
criam os cenários de reciprocidades que fazem fluir entre comunidades
aprendentes de/entre pessoas, o saber que, antes de ser apropriado
individualmente, existe e flui para ser coletivamente construído e
compartilhado. O educador é um elo de reciprocidades, um profissional
especializado em não permitir que aquilo que deve ser conhecido como um
saber fique restrito. A experiência da educação é, em sua vocação mais
singular, a aventura de criar múltiplas situações em que algo que venha a
tornar-se um dom de troca. (BRANDÃO, 2012.p.53)

A escola contemporânea exige uma nova postura docente, visto que a


sociedade se relaciona com as informações e construção de conhecimento de
maneira distinta de como acontecia há algumas décadas. A juventude de hoje tem
mais acesso à informação, e acesso rápido. No ponto de vista dos jovens, é
obsoleto ir para a escola para transcrever informações de que têm acesso rápido
para uma folha de papel. “Hoje, exige-se do professor mais do que um conjunto de
habilidades cognitivas, mas sim aprender a lidar com os nativos digitais” (BRASIL,
2013. p. 59).
O professor que se expressa de maneira afetiva, o faz exprimindo através da
linguagem emoções que despertem nos alunos o interesse que ele deseja ao
assunto ensinado. Considera-se de sucesso o processo no qual é possível atingir o
outro através daquilo sobre o qual é dissertado.
De acordo com Lakomy, são aspectos importantes para o professor:

Ser capaz de considerar as diferentes fases do desenvolvimento cognitivo


da criança para tirar melhor proveito no processo ensino-aprendizagem;
Perceber que a motivação, a curiosidade e a vontade de cooperar são
importantes para a aquisição de competências, servem de estímulo aos
alunos para a realização de investigação, trabalhos em grupo e outras
atividades;
Estimular o desejo pela pesquisa, peculiar a todos os seres humanos, por
meio de práticas complexas e interativas;
Desenvolver competências para utilizar a aprendizagem significativa em
detrimento da aprendizagem mecânica. (LAKOMY, 2014. p. 53)

5 A AFETIVIDADE E A APRENDIZAGEM
A teoria psicogenética de Henri Wallon afirma que a dimensão afetiva ocupa
um lugar central no processo de aprendizagem, sendo essa teoria fundamental no
desenvolvimento pessoal e cognitivo dos indivíduos. Henri Wallon afirma que a
inteligência e a aprendizagem se desenvolvem juntas desde os primeiros anos de
vida (LAKOMY, 2014. p. 50)
A relação de afeto entre os sujeitos envolvidos no processo de construção do
conhecimento, portanto, é um fator importante a ser considerado. As crianças
aprendem melhor quando sabem que seu professor gosta delas. De acordo com
Silva:

A escola tem privilegiado demasiadamente a dimensão cognitiva dos


educandos, colocando em segundo plano ou ignorando as dimensões
corpórea, social e afetiva. O aspecto emocional-afetivo tem recebido um
tratamento circunstancial, reduzido a momentos considerados
“problemáticos” da vida dos alunos, dentro e fora da escola. Com isso,
esquecemo-nos que a condição humana é considerada na sua inteireza e
complementaridade. Assim, um projeto educativo que considera o ser
humano em sua multidimensionalidade será necessariamente orientado em
uma direção que não seja circunscrita a apenas uma dessas dimensões.
(SILVA,2013. p. 81)

Nesse sentido, é importante considerar que ao professor, enquanto condutor


de um grupo de jovens quando ministra sua aula, deve estar atento às relações que
se estabelecem entre os estudantes, entre cada estudante e a construção do
conhecimento, entre cada estudante e o professor, assim como entre o grupo de
estudantes e o professor. Valorizar essas relações e promover atividades que as
tornem mais afetivas faz com que o objetivo de desenvolvimento cognitivo dos
alunos seja atingido, visto que:

Há uma expectativa de que os alunos irão desenvolver atitudes mais


positivas em relação a si mesmos e em relação à atividade escolar, se o
professor foi empático. A empatia acaba sendo mais uma tarefa do
professor, ao permitir comunicar aos alunos que eles são realmente
compreendidos em suas emoções e sentimentos. (BROLEZZI, 2014. p. 9)

O desenvolvimento dos alunos perpassa por várias dimensões, sendo a


emocional uma delas e de relevante importância, visto que, de acordo com
Perrenoud, para aprender é preciso:
Dar sentido ao que se faz e ao que se aprende;
Sentir-se reconhecido, respeitado como pessoa e como membro de uma
família e comunidade;
Não se sentir ameaçado em sua existência, sua segurança, seus hábitos e
sua identidade;
Sentir-se compreendido e apoiado, nos momentos de cansaço e fracasso;
Saber que pode contar com a confiança dos outros, que o considerem
capaz e desejoso de conseguir;
Acreditar que alguém dá valor ao que se faz ou aprende;
E, melhor que tudo isso, sentir-se que é amado. (PERRENOUD. 2001. p.
24)

Mediante tais afirmações, pode-se perceber que a afetividade está


diretamente envolvida com os processos de aprendizagem, visto que as emoções do
aprendente são a base para que o desenvolvimento cognitivo aconteça. Quando
nada disso é valorizado pelo professor no momento da aula, quando este apenas
preocupa-se com a transmissão de conteúdos e avaliações em testes padronizados,
sem importar-se com as emoções que envolvem o processo, é natural que grande
parte dos estudantes de uma turma não tenha interesse em aprender. Assim, “o que
é essencial na educação é a formação da pessoa humana , para além da
instrumentalização competente do indivíduo capaz.” (BRANDÃO, 2014. p. 46)
No que se refere aos interesses dos jovens e o quanto isso influencia no
processo de aprendizagem, Lakomy afirma que:

O interesse do jovem é pessoal e concreto quanto a sua definição como


sujeito. Também sua personalidade se torna polivalente no sentido de que é
capaz de assumir diferentes funções nos vários grupos sociais. É nesse
momento que ele se confronta com uma tarefa muito importante: manter um
“eu” diferenciado e, ainda assim, integrado, o que requer uma participação
muito importante da inteligência. [...] A construção da inteligência está
intimamente relacionada ao desenvolvimento da nossa afetividade; ambas
estão a serviço da contrução de um ser humano afetivo, individual, concreto
e social. (LAKOMY, 2014. p. 51, 52)

Portanto, conclui-se que a falta de interesse dos estudantes pelas atividades


desenvolvidas na escola é um dos fatores que geram o fracasso escolar. Alunos que
não têm interesse em realizar as atividades propostas pelos professores não as
fazem, ou fazem porque são obrigados, sem vontade e isso faz com que o
desempenho deles não seja tão bom. Quando o professor envolve o aluno, com
afetividade, quando o professor o motiva através de discurso afetivo e inspirador, ele
faz com que os alunos tenham interesse e, com isso, voltem suas atenções para o
que o professor está desenvolvendo.
Sendo assim, é preciso respeitar as necessidades afetivas das crianças, bem
como respeitar suas capacidades cognitivas para que os conteúdos apresentados
sejam assimilados e que elas possam utilizá-los posteriormente. Considerando que
a construção do indivíduo passa por momentos afetivos e cognitivos integrados e
interdependentes, é fundamental que ambas dimensões sejam tratadas com
fundamental importância no processo de ensino e aprendizagem.

6 METODOLOGIA
A metodologia de pesquisa deste artigo foi de cunho qualitativo e tratou-se de
pesquisa bibliográfica baseada, inicialmente, na legislação que orienta o trabalho
docente nas instituições de ensino. Ainda, leitura seletiva, crítica, analítica e reflexiva
das publicações listadas nas referências deste artigo como objetos de estudo. Assim
como análise crítica e reflexiva das situações vivenciadas ao longo do exercício da
profissão docente nas escolas de Educação Básica em que trabalhei e também das
conclusões tomadas acerca da percepção em relação à convivência com o corpo
docente e discente dessas escolas.
A seguinte definição de metodologia é apresentada por Severino:

Um instrumento extremamente útil e seguro para a gestação de postura


amadurecida frente aos problemas científicos, políticos e filosóficos que
nossa educação universitária enfrenta. São instrumentos operacionais,
sejam eles técnicos ou lógicos, mediante os quais os estudantes podem
conseguir maior aprofundamento nas ciências, nas artes ou na filosofia, o
que, afinal, é o objeto intrínseco do ensino e da aprendizagem universitária.
(SEVERINO, 2000. p. 18)

Pretendeu-se, ao término desta pesquisa, realizar um levantamento dos


resultados visando divulgá-los para as escolas públicas da abrangência da 28ª
Coordenadoria Regional de Educação, no sentido de buscar o aprimoramento do
trabalho docente, visando maior qualidade da educação.
Assim, partindo do estudo aprofundado da relação entre professor e alunos e
o reflexo dela no processo de ensino e aprendizagem, foram elaboradas as
considerações finais como conclusão dessa pesquisa, que será apresentada a
seguir.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A elaboração desta pesquisa permitiu uma maior compreensão da
importância de ajuste das práticas pedagógicas que valorizem uma relação mais
afetiva entre alunos e professores, com vistas a tornar as atividades escolares mais
significativas para eles. Quando os alunos percebem que têm seus interesses
valorizados nessa relação, tornam-se mais receptivos, favorecendo o aprendizado.
Mesclar práticas tradicionais e contemporâneas, com o reconhecimento dos
estudantes enquanto sujeitos de uma sociedade digital, valorização dos momentos
com atividades diversificadas, inserção das tecnologias da informação e
comunicação e construção conjunta entre alunos e professores de uma relação mais
harmoniosa pode trazer melhorias em diversos aspectos do aprendizado desses
estudantes.
Considerando que se trata da relação entre os sujeitos envolvidos no objetivo
de promover o desenvolvimento dos jovens presentes nas escolas, valorizar essa
relação no sentido de desenvolver relações mais afetivas, adaptar as atividades
escolares às mais novas tecnologias, modernizando as formas de ensinar e
aprender contribui para uma ressignificação do conceito de estudar e de escola
presentes até então. A partir da observação pelo viés da Orientação Educacional,
em que os sujeitos em processo de aprendizagem estão em constante
desenvolvimento, com a promoção de relações mais afetivas e empáticas,
professores e alunos têm a possibilidade de se desenvolverem e assim contribuir
para uma escola adequada às exigências contemporâneas da sociedade.

REFERÊNCIAS
ABRAMOVAY, Miriam. O Be-a-bá da intolerância e da discriminação. Revista
Unicef.cap.02. 2002. Disponível em:< www.unicef.org> Acessado em: 19/03/2017.

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Educação de Currículo e Educação Integral. A Política Curricular da Educação
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