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Saberes gramaticais na escola

Barbosa (2011)

Ensino de Língua Portuguesa:


aprimoramento da habilidade de trânsito por diversas normas de uso;
capacitação para a decodificação de estruturas complexas próprias de
gêneros textuais mais eruditos.

“O problema não é ensinar língua padrão, mas sim ou ensinar,


exclusivamente, as variantes artificiais da escola ou não ter consciência dos
objetivos de ensino.” (p. 32)
Erros e acertos (?!) no ensino de LP

crise do magistério: desvalorização do professor do ponto de vista da


remuneração e das condições de trabalho;
crise social: mudanças no cenário brasileiro, sobretudo a partir da década
de 50, em virtude do processo de transferência da população do campo
para os centros urbanos. O sistema público de ensino sofre uma
transformação bruta e radical, com entrada no espaço escolar de normas
de uso cada vez mais distantes do modelo padrão.
crise de conteúdo: dificuldade em conscientizar os graduandos de que o
curso de Letras tem por objetivo capacitá-los a "descrever a língua de
maneira a conhecer os seus caminhos de eficácia e graça comunicativa”.

Consequências: preconceito linguístico, marginalização dos usos populares


que começaram a adentrar no contexto escolar.
Saberes envolvidos no ensino de Língua Portuguesa

saber linguístico da norma vernácula do falante, isto é, a norma de


uso dentro da comunidade de que o falante faz parte;
saber linguístico descritivo/prescritivo: o saber prescrito pela
Tradição Gramatical e que contempla, além da imposição de usos, o
estabelecimento de categorias descritivas;
saber científico oferecido nos cursos de Graduação.
“O profissional de Letras enquanto aprende a aprender sobre os fatos
da língua não deve limitar-se a preencher suas lacunas de
conhecimento do padrão culto da gramática tradicional escolar (nem
se esquecer de preenchê-las). Deve sempre se lembrar de que as
pesquisas linguísticas não estão ocupadas da questão do padrão
escolar, assim como a gramática escolar não se ocupa em descrever
toda a realidade linguística. São preocupações diferentes, ainda que
relacionadas.” (p. 41)
Como articular os três saberes em sala de aula?

A resposta depende da forma como se inicia o trabalho com língua na


escola:

ensinar gramática não é ensinar o “português certo”;

a gramática tradicional não tem a pretensão de cobrir todos os casos


existentes na escrita literária, nem mesmo os verificados na fala culta
prestigiada socialmente;

o professor de Língua Portuguesa é (ou deveria ser) um profissional


treinado para desenvolver nos alunos a capacidade de codificação e
decodificação de textos orais e escritos.
Caso o aluno seja alvo de um ensino que lhe apresente a gramática
tradicional escolar como a própria língua, e não como uma descrição
de parte da língua escrita literária, enriquecida por um conjunto de
convenções artificiais, acabará por categorizar como erradas formas
que são absolutamente normais, previstas e produtivas em diversas
comunidades de fala.

A articulação entre os saberes gramaticais pode ser estabelecida a


partir de diversas frentes:
a. No nível habitual (as normas “normais” na sociedade)

Esse uso é habitual ...


Para um grupo específico? Que grupo?
Para as camadas escolarizadas chamadas cultas?
Na escrita literário-científica produzida no dia-a-dia do mercado de
trabalho?
Para a sociedade brasileira em geral?
Para a comunidade lusófona em geral?
b. Nos níveis descritivo/prescritivo (gramática tradicional escolar)
Para esse fenômeno ...

Há alguma convenção, ou seja, há uma regra prescritiva específica criando


um uso artificial para diversos grupos de falantes?
Se há uma convenção explícita, posso sugerir usos formais com base no
meu conhecimento da língua culta, no meu bom senso de leitor assíduo?
Há alguma proposta em circulação que devo rechaçar por ser pretensiosa,
sem base científica ou baseada em falsas premissas?
Que estruturas do fenômeno em questão já estão descritas?
Que outras estruturas não estão explicitadas na descrição tradicional, mas
poderiam dela ser inferidas?
Que estruturas não estão explicitadas, não podem ser inferidas, mas devem
ser descritas para os alunos compreenderem o que leem (ou ouvem) em
discursos fora de suas normas?
c. No nível descritivo-teórico/explicativo (pesquisas linguísticas)

As relações/funções existentes no fenômeno em foco foram


abordadas em alguma gramática ou trabalho descritivo-científico?
Há, na abordagem científica, alguma descrição/explicação do
processo que eu possa usar no nível médio para completar as da
gramática tradicional escolar?
Como traduzir a terminologia acadêmica em minha explicação para
os alunos?

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