aprimoramento da habilidade de trânsito por diversas normas de uso; capacitação para a decodificação de estruturas complexas próprias de gêneros textuais mais eruditos.
“O problema não é ensinar língua padrão, mas sim ou ensinar,
exclusivamente, as variantes artificiais da escola ou não ter consciência dos objetivos de ensino.” (p. 32) Erros e acertos (?!) no ensino de LP
crise do magistério: desvalorização do professor do ponto de vista da
remuneração e das condições de trabalho; crise social: mudanças no cenário brasileiro, sobretudo a partir da década de 50, em virtude do processo de transferência da população do campo para os centros urbanos. O sistema público de ensino sofre uma transformação bruta e radical, com entrada no espaço escolar de normas de uso cada vez mais distantes do modelo padrão. crise de conteúdo: dificuldade em conscientizar os graduandos de que o curso de Letras tem por objetivo capacitá-los a "descrever a língua de maneira a conhecer os seus caminhos de eficácia e graça comunicativa”.
Consequências: preconceito linguístico, marginalização dos usos populares
que começaram a adentrar no contexto escolar. Saberes envolvidos no ensino de Língua Portuguesa
saber linguístico da norma vernácula do falante, isto é, a norma de
uso dentro da comunidade de que o falante faz parte; saber linguístico descritivo/prescritivo: o saber prescrito pela Tradição Gramatical e que contempla, além da imposição de usos, o estabelecimento de categorias descritivas; saber científico oferecido nos cursos de Graduação. “O profissional de Letras enquanto aprende a aprender sobre os fatos da língua não deve limitar-se a preencher suas lacunas de conhecimento do padrão culto da gramática tradicional escolar (nem se esquecer de preenchê-las). Deve sempre se lembrar de que as pesquisas linguísticas não estão ocupadas da questão do padrão escolar, assim como a gramática escolar não se ocupa em descrever toda a realidade linguística. São preocupações diferentes, ainda que relacionadas.” (p. 41) Como articular os três saberes em sala de aula?
A resposta depende da forma como se inicia o trabalho com língua na
escola:
ensinar gramática não é ensinar o “português certo”;
a gramática tradicional não tem a pretensão de cobrir todos os casos
existentes na escrita literária, nem mesmo os verificados na fala culta prestigiada socialmente;
o professor de Língua Portuguesa é (ou deveria ser) um profissional
treinado para desenvolver nos alunos a capacidade de codificação e decodificação de textos orais e escritos. Caso o aluno seja alvo de um ensino que lhe apresente a gramática tradicional escolar como a própria língua, e não como uma descrição de parte da língua escrita literária, enriquecida por um conjunto de convenções artificiais, acabará por categorizar como erradas formas que são absolutamente normais, previstas e produtivas em diversas comunidades de fala.
A articulação entre os saberes gramaticais pode ser estabelecida a
partir de diversas frentes: a. No nível habitual (as normas “normais” na sociedade)
Esse uso é habitual ...
Para um grupo específico? Que grupo? Para as camadas escolarizadas chamadas cultas? Na escrita literário-científica produzida no dia-a-dia do mercado de trabalho? Para a sociedade brasileira em geral? Para a comunidade lusófona em geral? b. Nos níveis descritivo/prescritivo (gramática tradicional escolar) Para esse fenômeno ...
Há alguma convenção, ou seja, há uma regra prescritiva específica criando
um uso artificial para diversos grupos de falantes? Se há uma convenção explícita, posso sugerir usos formais com base no meu conhecimento da língua culta, no meu bom senso de leitor assíduo? Há alguma proposta em circulação que devo rechaçar por ser pretensiosa, sem base científica ou baseada em falsas premissas? Que estruturas do fenômeno em questão já estão descritas? Que outras estruturas não estão explicitadas na descrição tradicional, mas poderiam dela ser inferidas? Que estruturas não estão explicitadas, não podem ser inferidas, mas devem ser descritas para os alunos compreenderem o que leem (ou ouvem) em discursos fora de suas normas? c. No nível descritivo-teórico/explicativo (pesquisas linguísticas)
As relações/funções existentes no fenômeno em foco foram
abordadas em alguma gramática ou trabalho descritivo-científico? Há, na abordagem científica, alguma descrição/explicação do processo que eu possa usar no nível médio para completar as da gramática tradicional escolar? Como traduzir a terminologia acadêmica em minha explicação para os alunos?