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A SITUAÇÃO JURÍDICA DO NASCITURO, NA PERSPECTIVA DAS TEORIAS

CONCEPCIONISTA, CONDICIONAL E NATALISTA

Wesley Eduardo Gomes da Rosa1

SUMÁRIO: 1 Considerações iniciais. 2 A pessoa humana. 2.1 O conceito de pessoa humana.


2.2 O embrião humano. 3 A tutela jurídica do nascituro. 3.1 Conceito. 3.2 Os fundamentos do
direito. 3.3 Os direitos do nascituro. 4 As escolas doutrinárias quanto ao início da personalidade
civil do nascituro. 4.1 Teoria Natalista. 4.2 Teoria Condicional. 4.3 Teoria Concepcionista 5
Considerações finais. 6 Referências bibliográficas.

Resumo
O presente artigo busca analisar a discussão acerca das três mais significantes teorias referentes
a situação jurídica do nascituro, desde a concepção intrauterina até o nascimento. Trazer ao
leitor um breve relato acerca de algumas concepções do conceito de pessoa humana, bem como
a respeito do início da personalidade jurídica civil a partir do nascimento com vida. A ideia
deste artigo é divulgar os debates recentes e atuais relacionados ao tema, analisando-os à luz
doutrinária e de nosso ordenamento jurídico pátrio.

Palavras-chave: pessoa. vida. biodireito. nascituro. teorias.

Abstract
This article seeks to analyze the discussion about the three most significant theories regarding
the legal status of the unborn child, from intrauterine conception to birth. Bring the reader a
brief report about some conceptions of the concept of human person, as well as about the
beginning of the civil legal personality from birth alive. The idea of this article is to disseminate
recent and current debates related to the topic, analyzing them in the light of doctrine and our
national legal system.

Keywords: people. life. biolaw. unborn child. theories.

1
Acadêmico de Direito na Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre. E-mail: Eduardorosa89229583@gmail.com
1. Considerações iniciais

A evolução científica ao longo dos tempos trouxe diversos novos debates à sociedade
contemporânea, inclusive acerca do momento que se dá origem a vida humana e as
consequências jurídicas advindas deste fato, fazendo surgir novas questões a serem resolvidas
pelo Direito.
Desse modo, no presente trabalho, serão analisados os desafios jurídicos em relação a
perspectiva forense quanto às expectativas legais geradas pela existência de uma nova pessoa.
Isso, porque a legislação vigente deixa o tema em aberto, disponível ao debate, seja acadêmico,
seja doutrinário.
O método utilizado será o dedutivo. A técnica de pesquisa será a bibliográfica, pois serão
utilizadas, leis, doutrinas, jurisprudência, artigos científicos e notícias, visando o estudo acerca
do aludido tema proposto.

2. A Pessoa Humana

2.1 O conceito de pessoa humana

Grande parte dos estudiosos parece considerar a noção como sendo inata, assim o
conceito de pessoa seria um dado, que tem sempre existido. Mas, é indispensável para a
resolução de dilemas no campo do direito contemporâneo e para efetiva proteção jurídica do
indivíduo que se possa investigar adequadamente o conceito de pessoa.2
Os gregos utilizavam dois termos para se referirem à vida: um termo que expressava a
simples vida natural, uma simples forma de viver – zoé – e outro termo, bios, cuja significação
se refere à vida qualificada, a um modo de vida particular, à vida própria do indivíduo do grupo.
Aristóteles distingue entre vida contemplativa (bios theoretikos), vida do prazer (bios poietikós)
e vida política (bios politikós).3
Segundo Sgreccia4 “a pessoa humana é uma unitotalidade, ou seja, unidade de corpo e
espírito; e uma totalidade porque deve ser considerada em todas as suas dimensões (física,
psíquica, espiritual, social e moral). Assim, antes de serem considerados princípios ou normas
de ação, é preciso que olhemos para um fundamento, para o lugar de onde deve surgir a solução
de um dilema bioético – a pessoa humana”.5

2
https://jus.com.br/artigos/47003/conceito-de-pessoa-na-trajetoria-filosofia-e-juridica.
3
ARISTÓTELES, VI, 2; 1139 – 20.
4
Elio Sgreccia (Arcevia, 6 de junho de 1928 - Roma, 5 de junho de 2019) foi um cardeal italiano e Presidente
Emérito da Pontifícia Academia para a Vida.
5
REVISTA PISTIS PRAXIS, V. 2, N. 1, 2010.
Uma das principais perguntas existentes no debate bioético é a de quando se inicia a
vida humana. Trata-se de uma questão cuja reposta poderia ser, à primeira vista, facilmente
respondida: a vida do ser humano tem início, biogeneticamente, no momento da fecundação.
Este é um dado científico que deveria ser considerado indiscutível. Se existem
discussões sobre a definição filosófica de pessoa e também sobre a identificação do início da
vida pessoal, parece impossível que haja qualquer dúvida a respeito do início da vida
biogenética do ser humano, já que, sendo o ser humano espécie vivente do Homo sapiens, o
início de sua vida deveria coincidir com a união dos gametas humanos – masculino e feminino.
Juridicamente é o sujeito de direitos e deveres, ou seja, capaz de adquirir direitos e
contrair obrigações, podendo ser física ou jurídica. Lembra Paulo Nader “Pessoa física ou
natural é o ser dotado de razão e portador de sociabilidade, condição que o leva a convivência.
Por sua constituição corpórea integra o reino da natureza e se sujeita às leis da física em geral.
O que o distingue, todavia, é espiritualidade, dom divino que o singulariza na escala animal”.6

2.2 O embrião humano

Tanto a Convenção para os Direitos Humanos e a Biomedicina (CHRB,1996) como a


Declaração do Genoma Humano da UNESCO (Lenoir, 1997) não definem claramente o se
entende por embrião, por ser humano ou por pessoa. Afirmam, sim, o princípio inalienável do
respeito pela dignidade humana e pela sua identidade genética.7
O feto é ou não um ser humano? Não será apenas um pedaço do corpo da mãe? O
embriologista Bradley Patten responde-nos: "Quando um óvulo é fecundado por um
espermatozoide, surge um novo indivíduo com vida nova e pessoal. O feto não é apenas uma
massa celular viva, nem um simples pedaço do corpo da mãe, mas um ente autônomo que
depende da alimentação materna"8
Ora, há vida humana desde a concepção, pois no zigoto, primeira célula da união entre
o espermatozoide e o óvulo, já estão definidas todas as características daquele ser humano, que
o acompanharão até a morte.
Há no entanto uma diferença muito grande, a qual não pode ser confundida entre
nascituro e embrião, posto que nem sempre este último está implantado no ventre materno,

6
NADER, Paulo. Curso de Direito Civil – Parte Geral. Vo. I 1. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p.144.
7
Nunes, R. (2000). A natureza do embrião humano. Humanística E Teologia, 21(1), 47-65.
https://doi.org/10.34632/humanisticaeteologia.2000.6773
8
Human embriology, citado por Ruy Nunes, in "O Estado de São Paulo", 25-1-87. (“Roberto Vidal da Silva
Martin., Aborto no direito comparado, Folheto,” 1991).
tendo em vista as possibilidades de reprodução assistida e assim, não receberá proteção do
direito como se fosse um nascituro, posto que não o é.9

3. A tutela jurídica do nascituro

3.1 Conceito

O significado etimológico da palavra nascituro é “o que está por nascer”. Portanto, ente
já concebido (onde já ocorre fusão dos gametas, a junção do ovulo ao espermatozoide formando
o zigoto ou embrião), nidado (implementado nas paredes do útero materno), porém não nascido.
Majoritariamente, o que se tem verificado é que o nascituro surge com o fenômeno da nidação,
que é a fixação ou implantação (para o caso de concepções artificiais o in vitro) do zigoto nas
paredes do útero10

3.2 Os fundamentos do direito

A tutela jurídica dos direitos da personalidade, da qual, no quadro da teoria geral do


Direito, o conceito de pessoa é fundamento, que pode ser resumida na inserção de um capítulo
próprio, a tratar dos direitos da personalidade (arts. 11 a 21 da parte geral do novo Código Civil
Brasileiro). Não se trata, pois, de novidade, já que a Constituição Federal traz proteção até mais
abrangente, principalmente no seu art. 5º, caput, que consagra alguns dos direitos fundamentais
da pessoa natural.
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...)”.
Acresça-se o fato de que o Brasil assinou o Pacto de São José -tratado internacional de
direitos fundamentais (art. 4º), que reconhece começar a vida na concepção -, o qual foi
incorporado ao direito interno, seja como norma constitucional (art. 5º, § 2º), ou como lei
ordinária (conforme interpretação de alguns juristas e membros do Judiciário).

3.3 Os direitos do nascituro


O Código Civil protege as expectativas de direito do nascituro, que se confirmam no
caso de haver nascimento com vida. Indispensável esclarecer que para se constatar que nasceu

9
https://jus.com.br/artigos/48678/direito-do-nascituro
10
PAMPLONA FILHO, Rodolfo; ARAÚJO, Ana Thereza Meirelles. Tutela jurídica do nascituro à luz da
Constituição Federal. Revista Magister de direito civil e processual civil. Porto Alegre, n. 18, p. 33-48, 2007.
com vida, utiliza-se da docimasia respiratória, que é quando se colocam os pulmões do recém-
nascido em água em uma certa temperatura e através disto verificando que os pulmões
flutuaram o diagnóstico é de que houve vida, mesmo que por alguns segundos apenas, ou seja,
o recém-nascido chegou a respirar, viveu.11
Não sem razão, o art. 2º do Código Civil declara que todos os direitos do nascituro estão
assegurados desde a concepção. “Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento
com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”.
É assegurado ao nascituro o direito de filiação, ao qual há a possibilidade do
reconhecimento pelos pais anterior ao nascimento do filho. Razão pela qual, qualquer um dos
pais poderá pleitear os direitos inerentes ao reconhecimento da paternidade ou maternidade.
Deste mesmo modo, fixando que o nascituro desde a sua concepção é considerado pessoa, não
há no ordenamento jurídico empecilho algum a mãe ajuizar representando seu filho nascituro
em uma ação de reconhecimento.
Conforme interpretação do artigo 1.609, parágrafo único do Código Civil por
Maria Helena Diniz, sobre o reconhecimento de filho antes de seu nascimento ou após
seu óbito, reflete: “Será possível a declaração de estado civil de filiação mediante
reconhecimento que preceda ao nascimento do filho para atender a certas razões de
ordem pessoal ou que suceda ao seu falecimento, desde que este tenha deixado
descendente que possa tirar proveito desse reconhecimento póstumo, hipótese em que a
esse descendente caberá consentir o reconhecimento.”12
O direito à sucessão também foi reconhecido ao nascituro. Mediante os ensinamentos
de Maria H. Diniz, no que tange a explicação do artigo 1.798 caput do Código Civil, que diz
respeito a capacidade sucessória do nascituro: “A capacidade sucessória do nascituro é
excepcional, já que só sucederá se nascer com vida, havendo um estado de pendência de
transmissão hereditária, recolhendo seu representante legal a herança sob condição resolutiva.
O já concebido no momento da abertura da sucessão e chamado a suceder, adquire desde logo
o domínio e a posse da herança como se já fosse nascido, porém em estado potencial, como lhe
falta personalidade jurídica material, nomeia-se um curador ao ventre”13.

11
ALMEIDA, Silmara J. A. Chinelato e. Op. Cit. 2000. p. 196
12
DINIZ, Maria Helena. Idem. Código Civil Anotado. 2005. p. 1.314.
13
DINIZ, Maria Helena. Idem. Código Civil Anotado. 2005.p. 1.471.
Caso nascer morto a sucessão será ineficaz, pois o feto será dado como se nunca tivesse
existido. Mas, nascendo com vida, ou seja, respirando, terá este a plena capacidade para
suceder.14
Bem como o direito de receber doações conforme o art. 542 do Código Civil de 2002 “A
doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal.” Entre outros
consagrados em nosso Ordenamento Jurídico Pátrio.
Portanto, podemos constatar, por meio de alguns exemplos, que o Código Civil
Brasileiro dispendeu alguns direitos ao nascituro.

4. As escolas doutrinárias quanto ao início da personalidade civil do nascituro

4.1 Teoria natalista

A teoria natalista prevalecia entre os autores modernos ou clássicos do Direito Civil


Brasileiro. Para esses o nascituro não poderia ser considerado pessoa, pois o Código Civil
Brasileiro ainda exige, para a personalidade civil, o nascimento com vida. Desta forma, o
nascituro não teria direitos, mas mera expectativa de direitos.
De acordo com Sergio Abdalla Semião: “No útero, a criança não é uma pessoa, se não
nasce viva, nunca adquiriu direitos, nunca foi sujeito de direitos, (...). Todavia, entre a
concepção e o nascimento, o ser vivo pode achar-se em situação tal que se tem de esperar o
nascimento para se saber se tem algum direito, pretensão, ação, ou exceção lhe deveria ter tido.
Quando o nascimento se consuma, a personalidade começa.15
Adeptos a está corrente, da doutrina tradicional, podem ser citados Silvio Rodrigues,
Caio Mário da Silva Pereira e San Tiago Dantas. Na doutrina contemporânea, filiam-se a essa
corrente Silvio de Salvo Venosa e Anderson Schreiber.16
A teoria natalista, no entanto, não responde ao seguinte questionamento: se o nascituro
não tem personalidade, não é pessoa; desse modo, o nascituro seria uma coisa? A resposta acaba
por ser positiva, devida a primeira constatação de que haveria apenas expectativas de direitos.
Ademais a teoria natalista está totalmente distante do surgimento das novas técnicas de
reprodução assistida e da produção dos direitos do embrião.

14
RIBEIRO, Tiago. INÍCIO DA PERSONALIDADE E A SITUAÇÃO JURÍDICA DO NASCITURO.
15
SEMIÃO, Sergio Abdalla. Os Direitos do nascituro: aspectos cíveis, criminais e do biodireito. 2 ed. Belo
Horizonte: Del Rey, 2000, p. 89.
16
TARTUCE, Flavio. Manual do direito civil. 10º ed. Vol. Único. Rio de Janeiro: Método, 2020. p.64.
4.2 Teoria condicional

A teoria da personalidade condicional é aquela pela qual a personalidade civil começa


com o nascimento com vida, entretanto, os direitos do nascituro estão sujeitos a uma condição
suspensiva, por isso, são direitos eventuais.
Para Claudia Regina Magalhães Loureiro, no que diz respeito à referida teoria, a
personalidade se inicia com a concepção desde que se nasça com vida, entretanto, coloca em
xeque o fato de os direitos de personalidade serem irrenunciáveis, absolutos,
independentemente do nascimento com vida.17
Como fundamento da tese e da existência de direitos sob condições suspensivas, pode
ser citado o art. 130 do atual Código Civil. No caso, a condição é justamente o nascimento
daquele que foi concebido.
O grande problema da corrente doutrinária é ser apegada a questões patrimoniais, não
respondendo ao apelo de direitos pessoais ou da personalidade a favor do nascituro.18 Ressalte-
se que os direitos de personalidade não podem estar sujeitos a condição, termo ou encargo,
como propugna a corrente.

4.3 Teoria Concepcionista

A teoria concepcionista é aquela que sustenta que o nascituro é pessoa humana, tendo
direitos resguardados por lei. Esse é entendimento defendido por Silmara Juny Chinellato,
Pontes de Miranda, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, José Fernando Simão,
Maria Helena Diniz entre outros respeitáveis juristas.
Registre-se que a conclusão pela corrente concepcionista consta no Enunciado n. 1, do
Conselho de Justiça Federal (CJF), aprovado na I Jornada de Direito Civil, e que também
enuncia direitos ao natimorto. Cujo teor segue: “Art. 2.º A proteção que o Código defere ao
nascituro alcança ao natimorto no que concerne aos direitos de personalidade, tais como nome,
imagem e sepultura”.19
Tal teoria é a que prevalece entre os doutrinadores contemporâneos do Direito Civil
Brasileiro. Com tal raciocínio se explica o fato de os nascituros poderem receber alimentos,
herdar, ser parte em ações judiciais, entre outros e possam ter seus direitos resguardados,
mesmo antes de nascerem.

17
https://jus.com.br/artigos/48678/direito-do-nascituro.
18
TARTUCE, Flavio. Manual do direito civil. 10º ed. Vol. Único. Rio de Janeiro: Método, 2020. p.64.
19
https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/647 Acessado: 2021-11-28.
A corrente concepcionista tem também prevalecido na jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça. Em notório julgado foi reconhecido dano moral ao nascituro, pela morte de
seu pai ocorrida antes de seu nascimento:

“DIREITO CIVIL. DANOS MORAIS. MORTE. ATROPELAMENTO. COMPOSIÇÃO FÉRREA.


AÇÃO AJUIZADA 23 ANOS APÓS O EVENTO. PRESCRIÇÃO INEXISTENTE. INFLUÊNCIA
NA QUANTIFICAÇÃO DO QUANTUM. PRECEDENTES DA TURMA. NASCITURO. DIREITO
AOS DANOS MORAIS. DOUTRINA. ATENUAÇÃO. FIXAÇÃO NESTA INSTÂNCIA.
POSSIBILIDADE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. I - Nos termos da orientação da Turma,
o direito à indenização por dano moral não desaparece com o decurso de tempo (desde que não
transcorrido o lapso prescricional), mas é fato a ser considerado na fixação do quantum. II - O nascituro
também tem direito aos danos morais pela morte do pai, mas a circunstância de não tê-lo conhecido em
vida tem influência na fixação do quantum. III - Recomenda-se que o valor do dano moral seja fixado
desde logo, inclusive nesta instância, buscando dar solução definitiva ao caso e evitando inconvenientes
e retardamento da solução jurisdicional”.20

Anote-se que tal entendimento é reconhecido por outros acórdãos de datas mais
próximas da mesma Corte Superior, que confirmam a teoria concepcionista (STJ, AgRg no
AgRg no AREsp 150.297/DF, 3.ª Turma, Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 19.02.2013, DJe
07.05.2013).
Recentemente (informativo 547/2014) o STJ adotou essa teoria em um julgamento que
dizia respeito ao direito, ou não, de uma mãe receber o seguro DPVAT (pago, entre outras
hipóteses, aos herdeiros do falecido em caso de morte em acidente de trânsito), tendo em vista
aborto sofrido por ela, em razão de acidente de trânsito.
O benefício foi deferido a ela, sendo que o Ministro Relator afirmou o seguinte: “o
ordenamento jurídico como um todo – e não apenas o Código Civil de 2002 – alinhou-se mais
à teoria concepcionista para a construção da situação jurídica do nascituro, conclusão
enfaticamente sufragada pela majoritária doutrina contemporânea”21
Esclarecida e consolidada a prevalência da teoria concepcionista no Direito Civil
contemporâneo, cumpre trazer algumas palavras sobre a situação jurídica do embrião.
A Lei 11.105/2005, conhecida como Lei de Biossegurança, tutela e integridade física
do embrião, reforçando a teoria concepcionista. Isso, diante da proibição da engenharia genética
em embrião humano, como regra. O art. 5.º da referida lei autoriza a utilização de células-tronco
embrionárias para fins científicos e terapêuticos, desde que os embriões sejam considerados

20
STJ, REsp 399.028/SP, 4.ª Turma, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 26.02.2002. DJ 15.04.2002,
p.232.
21
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 1.415.727-SC. Relator: Ministro Luis Felipe
Salomão, julgado em 4/9/2014. Disponível em https://processo.stj.jus.br/jurisprudencia/externo/informativo/
Acessado: 2021-11-28.
como inviáveis. A lei exige autorização dos genitores do embrião, para que sejam utilizados
para tais fins. A utilização de células-tronco embrionárias é exceção e não regra.
Em maio de 2008, O Supremo Tribunal Federal discutiu a constitucionalidade do
dispositivo, em ação declaratória de inconstitucionalidade proposta pela Procuradoria-Geral da
República, por maioria prevaleceu o entendimento de sua constitucionalidade, autorizando a
pesquisa com células-tronco em nosso país (ADIn 3.510).

5. Considerações finais

Restou evidente, após breve verificação do tema, de que o direito brasileiro tutela, de
fato, os direitos do nascituro e do embrião, ainda que de forma reduzida. Por obvio, os direitos
garantidos não são exatamente àqueles dados à pessoa nascida com vida, malgrado, ainda lhe
são garantidos certos direitos que estão previstos pelo nosso ordenamento, e inclusive,
reconhecidos na prática, no cotidiano, nos diversos âmbitos do direito.
Pois bem, vale destacar as palavras de José Sebastião de Queiroz Oliveira:
“Independentemente da teoria adotada, é consenso entre os doutrinadores de que o nascituro
é um ser vivo e que tem direitos desde a sua concepção, seja na forma de expectativa tutelável,
pela teoria natalista, seja na forma suspensiva, pela teoria da personalidade condicionada, ou
seja, na forma plena, pela teoria verdadeiramente concepcionista.”
No caso de um tema tão relevante e discutido atualmente, o nascituro se destaca no
ordenamento jurídico brasileiro pela “atenção” adquirida, apesar do fato de sequer ter nascido.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

https://jus.com.br/artigos/47003/conceito-de-pessoa-na-trajetoria-filosofia-e-juridica

ARISTÓTELES, VI, 2; 1139 – 20.

Elio Sgreccia (Arcevia, 6 de junho de 1928 - Roma, 5 de junho de 2019) foi um cardeal italiano
e Presidente Emérito da Pontifícia Academia para a Vida.

REVISTA PISTIS PRAXIS, V. 2, N. 1, 2010.

PALAZZANI, 1996, p. 41-42.


NADER, Paulo. Curso de Direito Civil – Parte Geral. Vo. I 1. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense,
2004, p.144

Nunes, R. (2000). A natureza do embrião humano. Humanística E Teologia, 21(1), 47-65.


https://doi.org/10.34632/humanisticaeteologia.2000.6773

Human embriology, citado por Ruy Nunes, in "O Estado de São Paulo", 25-1-87. (“Roberto
Vidal da Silva Martin., Aborto no direito comparado, Folheto,” 1991).

https://jus.com.br/artigos/48678/direito-do-nascituro

TARTUCE, Flavio. Manual do direito civil. 10º ed. Vol. Único. Rio de Janeiro: Método, 2020.
p.64.

ALMEIDA, Silmara J. A. Chinelato e. Op. Cit. 2000. p. 196

DINIZ, Maria Helena. Idem. Código Civil Anotado. 2005. p. 1.314.

DINIZ, Maria Helena. Idem. Código Civil Anotado. 2005.p. 1.471.

RIBEIRO, Tiago. INÍCIO DA PERSONALIDADE E A SITUAÇÃO JURÍDICA DO


NASCITURO.

SEMIÃO, Sergio Abdalla. Os Direitos do nascituro: aspectos cíveis, criminais e do


biodireito. 2 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2000, p. 89.

PAMPLONA FILHO, Rodolfo; ARAÚJO, Ana Thereza Meirelles. Tutela jurídica do nascituro
à luz da Constituição Federal. Revista Magister de direito civil e processual civil. Porto
Alegre, n. 18, p. 33-48, 2007.

https://jus.com.br/artigos/48678/direito-do-nascituro

TARTUCE, Flavio. Manual do direito civil. 10º ed. Vol. Único. Rio de Janeiro: Método, 2020.
p.64.
https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/647 Acessado: 2021-11-28.

STJ, REsp 399.028/SP, 4.ª Turma, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 26.02.2002. DJ
15.04.2002, p.232.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 1.415.727-SC. Relator: Ministro
Luis Felipe Salomão, julgado em 4/9/2014. Disponível em
https://processo.stj.jus.br/jurisprudencia/externo/informativo/
Acessado: 2021-11-28.

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