Instruções:
Localização
A área total ocupada pelos ianomâmis no Brasil e na Venezuela é de 192 000 quilômetros quadrados. Abrange a região entre as
bacias dos rios Orinoco e Amazonas.
Em sua maior parte, o território está coberto por densa floresta tropical úmida em território acidentado, principalmente, onde se
tem a maior concentração da população Yanomâmi no Brasil. Os solos são, em sua grande maioria, extremamente pobres e
inadequados à agricultura intensiva. O Pico da Neblina, o maior pico do Brasil, está localizado dentro da Terra Indígena Ianomâmi e
do Parque Nacional do Pico da Neblina, na fronteira do Brasil com a Venezuela.
Sociedade
As aldeias, que podem ser constituídas por uma ou várias casas (malocas), mantêm, entre si, vários níveis de comunicação,
desenvolvendo-se relações econômicas, matrimoniais, rituais ou de rivalidade. As suas malocas são casas comunitárias circulares
chamadas yano ou shabono que podem acomodar até 4.000 pessoas. As áreas centrais das casas são o espaço para festas e rituais.
Os homens se ocupam principalmente da caça, enquanto as mulheres se dedicam à agricultura (banana, milho, mandioca, batata,
frutas, tabaco, algodão)[8] e à coleta de castanhas, larvas, mariscos e mel. A pesca é exercida tanto pelos homens como pelas
mulheres. Não existem chefes nas aldeias ianomâmis: todas as decisões são tomadas por consenso.
Religião
A religião ianomâmi baseia-se na visão pelos pajés de espíritos chamados xapiripë, através da ingestão de um rapé alucinógeno
chamado yakoana ou yãkõana (Virola sp.). Festas também costumam ser celebradas para marcar acontecimentos como a coleta da
pupunha e os funerais (festa do reahu).
História
Por volta do ano 1000, os ancestrais dos atuais yanomâmis ocuparam as cabeceiras do rio Orinoco e a serra Parima. Por volta de
1300, começou o processo de diferenciação das atuais quatro línguas da família ianomâmi. Até o fim do século XIX, os ianomâmis só
mantinham contato com os grupos indígenas vizinhos. A partir do início do século XX, começaram a entrar em contato com não
indígenas: extrativistas, missionários, soldados, funcionários do Serviço de Proteção ao Índio etc.
Ameaças: rodovia, garimpo, doenças, violência
A década de 1970 foi marcada por grandes projetos do governo do Brasil que tiveram grande impacto sobre os ianomâmis: a
construção da rodovia BR-210, programas de colonização pública e o projeto Radambrasil, que detectou importantes jazidas minerais
no território ianomâmi.
A descoberta dessas jazidas levou a uma grande invasão garimpeira no período de 1987 a 1992, atraída pelas reservas de ouro,
cassiterita e tantalita, com a ocorrência estimada de 1 500 a 1800 mortes entre a população ianomâmi, em função de doenças e de
atos de violência causados por 45 mil garimpeiros que invadiram suas terras. Visando a proteger a população ianomâmi dos
garimpeiros, em 25 de maio de 1992, a terra indígena ianomâmi foi homologada pelo presidente Fernando Collor. Mas, em julho de
1993, garimpeiros invadiram uma aldeia ianomâmi e assassinaram a tiros e golpes de facão 16 indígenas, entre eles idosos, mulheres
e crianças. O episódio ficou conhecido como o Massacre de Haximu e foi o primeiro caso julgado pela Justiça brasileira no qual os
réus foram condenados por genocídio.
Em 2004, os ianomâmis brasileiros fundaram a associação Hutukara (termo que significa "a parte do céu do qual nasceu a terra") para
defender seus direitos. Em 2011, foi a vez de os ianomâmis venezuelanos criarem sua própria associação, a Horonami.
Em novembro de 2014, a pedido da Hutukara Associação Yanomâmi (HAY) e da Associação do Povo Ye’kwana do Brasil (Apyb), uma
equipe de pesquisadores visitou 19 aldeias e coletou 239 amostras de cabelo dos indígenas, priorizando os grupos mais vulneráveis à
contaminação por mercúrio: crianças, mulheres em idade reprodutiva e adulta com algum histórico de contato direto com a
atividade garimpeira. Também foram coletadas 35 amostras de peixes, que são a base da alimentação desses grupos. O estudo foi
realizado nas regiões de Papiú e Waikás, onde residem as etnias ianomâmi e Ye’kwana. Na comunidade ianomâmi de Aracaçá, na
região de Waikás, 92% do total das amostras apresentaram alto índice de contaminação. Essa comunidade, entre todas as
pesquisadas, é a que tem o garimpo mais próximo. Na região do Papiú, onde foram registrados os menores índices de contaminação
— 6,7% das amostras analisadas — , há menor presença de garimpeiros.