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FACULDADE DE DIREITO
Fortaleza - Ceará
2006
ILANA DE SOUSA QUESADO
Fortaleza – Ceará
2006
ILANA DE SOUSA QUESADO
Relata a vida cotidiana dos tribunais da Inquisição da Espanha e de Portugal nos séculos XV a
XIX. Descreve a hierarquia dos tribunais e dos órgãos superiores do Santo Ofício. Analisa as
principais cerimônias realizadas pela instituição. Examina obras da literatura clássica que
condenaram os tribunais inquisitoriais, bem como a censura referente às mesmas. Enfatiza o
rito do auto da fé e a execução dos hereges após o mesmo. Apresenta um traçado da evolução
dos direitos humanos e faz um paralelo entre o processo penal moderno e o inquisitorial.
Conclui-se que a Inquisição não se justifica de forma alguma, bem como deve ser sempre
lembrada como um erro que jamais deve se repetir.
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 01
4. ORGANIZAÇÃO HIERÁRQUICA................................................................................ 11
6. AS VISITAS........................................................................................................................ 17
7. OS ÉDITOS........................................................................................................................ 26
7.1. A publicação.................................................................................................................... 27
8. OS AUTOS DA FÉ............................................................................................................. 32
8.1. A publicação.................................................................................................................... 33
8.2. A encenação..................................................................................................................... 34
8.3. As procissões.................................................................................................................... 35
8.4. A celebração..................................................................................................................... 36
8.5. A abjuração..................................................................................................................... 37
8.6. A execução....................................................................................................................... 38
8.7. A memória....................................................................................................................... 41
8.8. Desestruturação do rito.................................................................................................. 42
9.1. O processo........................................................................................................................ 47
9.1.2. Confissões...................................................................................................................... 50
9.1.3. Torturas.......................................................................................................................... 51
9.1.4. Testemunhas................................................................................................................... 52
9.2. Os delitos.......................................................................................................................... 54
9.3. As penas........................................................................................................................... 57
10. A ABOLIÇÃO.................................................................................................................. 60
1 INTRODUÇÃO
tinham cunho social, como, por exemplo, as críticas veementes contra o serviço militar e o
sistema governamental vigente.
Nos primórdios do século XII, os magistrados e o povo começaram a exigir que o
clero colaborasse mais vivamente para a contenção da heresia albigense. Dessa forma, em
1.163, o Concílio Regional de Tours determinou a caça aos seguidores da seita cátara.
Em 1.184, na Itália, a cidade de Verona foi cenário de uma assembléia que reuniu
o Papa Lúcio III, o Imperador Frederico Barba Roxa, vários bispos, prelados e príncipes. Em
tal ocasião, baixou-se um decreto que representava a união de forças dos poderes eclesiástico
e civil a fim de se obterem melhores resultados. Determinou-se, então, que os hereges seriam
procurados e punidos; cada bispo, por si ou por pessoas por ele indicadas, revistaria as
paróquias suspeitas uma ou duas vezes ao ano. Já os condes, barões e outras autoridades civis
tinham a obrigação de auxiliar essa atividade, caso contrário, perderiam seus cargos.
Para exemplificar, Henrique II, rei da Inglaterra, revelou bastante austeridade ao
reprimir a heresia em seu reino. Em 1.185, alguns hereges da região de Flandres se
refugiaram na Inglaterra; o monarca mandou prendê-los, marcá-los com ferro em brasa e
expô-los ao público nessa forma ultrajante.
Outro caso que convém relatar é o do Imperador Frederico II, do Sacro Império
Romano-Germânico, que, em 1.220, determinou que todos os oficiais de seu reino
prometessem expulsar os hereges de suas terras. Além disso, declarou a heresia crime de lesa-
majestade, sendo aplicada a pena de morte. Em 1.224, publicou um decreto cujo texto
estabelecia que as autoridades civis lombardas fossem obrigadas não apenas a lançar ao fogo
quem tivesse sido considerado herege pelo bispado, mas também deveriam cortar a língua
dos acusados a quem, por razões particulares, se houvesse poupado a vida.
Essa era a Inquisição Episcopal, a qual, devido ao seu caráter fragmentário e
desorganizado, mostrou-se insuficiente para deter os movimentos heréticos. Dentre as razões
de sua ineficácia, podem-se apontar a tolerância de alguns bispos e o fato de o seu raio de
ação se restringir às dioceses.
Em virtude disso, os Papas, já em fins do século XII, procederam à nomeação de
prelados especiais com plenos poderes para agir contra a heresia onde quer que ela se
encontrasse. Surgiu assim a Inquisição Pontifícia, que foi oficializada em 1.233, quando o
Papa Gregório IX designou aos dominicanos a função de inquisidores, que atuavam de
acordo com a jurisdição de cada distrito inquisitorial com o auxílio de vários funcionários,
como consultores, notários etc. Em tal momento, as normas do procedimento e dos tribunais
passaram a ser ditadas por Bulas Papais e decisões de Concílios.
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intervenção dos príncipes na nomeação dos inquisidores teve como conseqüência principal a
alteração das relações de fidelidade desses agentes.
Apenas em setembro de 1.480, os reis católicos nomearam os inquisidores, que
iniciaram seus trabalhos em dezembro, na cidade de Sevilha. Neste momento, observa-se
relativa simplicidade nos ritos de fundação da Inquisição na Espanha. A posição dos
primeiros inquisidores é tímida; inicialmente, são auxiliados por conselheiros régios para
apresentarem suas cartas de investidura às autoridades da cidade. Em tal ocasião, os reis não
se fazem presentes e o arcebispo nem sequer é mencionado na relação.
Entretanto, a simplicidade da criação da Inquisição na Espanha opõe-se à
determinação da ação dos inquisidores, que agiam com extrema arbitrariedade. Apenas no
primeiro mês de atividade, efetuou-se a prisão de centenas de acusados, dentre os quais
diversos cristãos-novos poderosos (ricos e politicamente influentes). Tais acontecimentos
provocaram grande terror e impulsionaram a fuga de milhares de pessoas para Portugal, Itália
e Norte da África.
Surgiram, então, resistências à fundação dessa nova Inquisição, no entanto, o
resultado sempre acabava sendo o enraizamento do tribunal. Neste ensejo, foram expedidos
vários recursos a Roma, que, inicialmente, foram recebidos pelo Papa, este, por sua vez,
sofreu protestos constantes dos reis católicos e de Carlos V, até que a Coroa conseguiu da
cúria romana a delegação ao inquisidor-geral da competência para apreciar todos os recursos
de última instância.
As inúmeras críticas à ação dos inquisidores não alteraram em nada as suas
atividades, mantinha-se a arbitrariedade, bem como o segredo do processo e o confisco dos
bens dos acusados. No entanto, em 1.485, passou-se das palavras aos atos. A oposição ao
tribunal de Saragoça propiciou o desenvolvimento de uma conjuração que culminou no
assassinato do inquisidor Pedro de Arbués. O homicídio foi consumado dentro da catedral,
enquanto o inquisidor, também cônego, rezava.
Desse modo, a opinião da cidade, até então adversa à Inquisição, alterou-se
completamente. Na manhã do dia seguinte, a população saía às ruas protestando contra os
assassinos e desejando que os mesmos fossem atirados à fogueira.
Os responsáveis pelo homicídio foram executados e esquartejados, enquanto o
inquisidor assassinado se tornou um santo mártir. Neste azo, destaca-se que tal ato consignou
o fim do processo de fundação do Santo Ofício na Espanha. O sacrifício do inquisidor
proporcionou o ingrediente que faltava para a sagração do tribunal: o sinal da aprovação
divina. De fato, naquele momento, o assassinato de um juiz eclesiástico ter ocorrido no
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interior de uma catedral onde ele rezava era um acontecimento que podia ser utilizado como
uma indicação do caráter demoníaco dos opositores dos tribunais da fé.
Destaca-se, portanto, a importância desse episódio que marcou categoricamente a
necessidade da ação inquisitorial. As autoridades eclesiásticas argumentavam que, sem a
Inquisição, toda a cristandade seria contaminada; a heresia pervertia os costumes e a
sociedade, provocava inquietação e perturbação mental, estimulando a desobediência e a
rebelião.
A fundação da Inquisição em Portugal não se mostrou muito diversa do caso
espanhol, mas apresentou algumas peculiaridades. A bula de estabelecimento, Cum ad nihil
magis, foi assinada pelo Papa em 1.536 e nomeava três bispos como inquisidores-gerais,
outorgando ao rei D. João III a possibilidade de nomear um quarto inquisidor-geral. A bula
apontava como crimes heréticos o judaísmo dos cristão-novos, o luteranismo, o islamismo, as
proposições heréticas e os sortilégios (bruxaria).
No caso da Inquisição portuguesa, observa-se uma proeminente particularidade,
qual seja a intervenção do rei, que é consultado acerca dos mínimos detalhes, inclusive sobre
a organização cerimonial do primeiro auto da fé realizado em Lisboa, em 1.540. Além disso,
desde o início, esteve presente o total apoio das autoridades civis, o que contrasta com as
resistências do caso espanhol.
Quanto à legitimidade, os manuais escritos por inquisidores utilizavam passagens
da Bíblia para demonstrar a remotíssima ancestralidade da Inquisição. Partindo da premissa
de que Adão e Eva cometeram pecado de heresia, os juízes inquisitoriais declaravam que
Deus foi o primeiro inquisidor, que interrogou Adão e o sentenciou à expulsão do Paraíso – o
que originou a prática do confisco de bens dos acusados de heresia.
Segundo os inquisidores, nos Evangelhos, o primeiro inquisidor teria sido Jesus
Cristo, que veio anunciar a fundação de uma nova igreja. Posteriormente, teriam sido também
inquisidores São Pedro, São Paulo e os demais apóstolos, os quais passaram o cargo aos
pontífices e bispos.
Sendo assim, verifica-se que a fonte de legitimidade é sempre a mesma, ou seja,
trata-se de um tribunal eclesiástico, criado por delegação de poderes do Papa, tendo como
objetivo a perseguição aos acusados de heresia. Neste contexto, destaca-se que os tribunais da
Inquisição na Espanha e em Portugal tinham natureza mista: eram eclesiásticos, mas faziam
parte também da Coroa, devido aos mecanismos de nomeação e enquadramento
administrativo. Convém mencionar, neste aspecto, que a Inquisição se instalava em palácios
pertencentes à Realeza.
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4 ORGANIZAÇÃO HIERÁRQUICA
6 AS VISITAS
de bens desempenhavam papel muito importante no contexto das visitas, pois representavam
verdadeiro instrumento fiscal para manutenção financeira da instituição.
Posteriormente, em 1.561, as atribuições dos inquisidores foram limitadas, visto
que não podiam mais tomar a decisão de prender um suspeito sem consultar seus colegas
previamente. Além disso, os presos deviam ser transportados de imediato para a sede do
tribunal, onde deviam ser processados e julgados pelos juízes reunidos. Dessa forma, o
visitador ficava apenas com a competência de punir os delitos menores.
O sistema de visitas não perdurou muito na Espanha, principalmente devido ao
aumento dos custos das mesmas e às dificuldades financeiras que isso acarretava aos cofres
dos tribunais. Desse modo, constatou-se o declínio dessa prática já em 1.580. É importante
ressaltar que não foram apenas os problemas financeiros que impediram as visitas, mas
também a recusa dos inquisidores de saírem da sede do tribunal, bem como a sedentarização
deste através do implemento da rede de familiares e comissários. Tornou-se, portanto,
desnecessária a visita, em virtude dessa mudança administrativa no tribunal.
Quanto às visitas em Portugal, inicialmente, destaca-se uma diferença com o
sistema espanhol. Neste, a responsabilidade de realização da visita recaía nos inquisidores,
embora sob o controle e a fiscalização do Consejo. Em Portugal, a responsabilidade da
organização das visitas é centralizada pelo Conselho Geral da Inquisição. Apesar de pouco
intensas em comparação ao ritmo espanhol, as visitas portuguesas abragiam praticamente
todo o território. Os visitadores, no caso português, não eram inquisidores, e sim jovens
funcionários em início de carreira.
Durante o período de estabelecimento dos tribunais, as visitas funcionaram como
uma ferramenta para acumulação rápida de grande número de informações, o que permitiu o
desencadeamento das primeiras perseguições.
Em suma, o sistema de visitas decaiu muito antes do enfraquecimento da própria
Inquisição. Mas, ainda assim, tiveram a sua importância. Em primeiro lugar, um dos
objetivos principais das visitas não era diretamente o controle das crenças e do
comportamento populares, e sim o impacto que causavam na sociedade, bem como tinham a
finalidade de exprimir e consolidar a preeminência dos visitadores, que, em cada local onde
atuavam, estavam representando a própria Inquisição. Dessa forma, as visitas simbolicamente
fixavam na mente das pessoas que os tribunais do Santo Ofício significavam o advento e a
consolidação de um novo poder, ao qual ninguém podia se subtrair sem sofrer dura repressão.
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A missão dos ministros de Cristo neste mundo, não obstante, é levar os homens a
crer e ter fé em Cristo. A fé, porém, não tem qualquer relação ou dependência
com a coerção e a autoridade, mas apenas com a certeza ou probabilidade de
argumentos tirados da razão ou de alguma coisa em que se acredita. Os ministros
de Cristo neste mundo, enfim, não recebem com esse título qualquer poder
para punir alguém que não acredite ou contradiga o que dizem, quer dizer, o
título de ministros cristãos não lhes dá o poder de punir a ninguém. (02, grifos
nossos)
incoerências da Igreja na perseguição religiosa e denuncia a violência como uma afronta aos
direitos humanos e à filosofia iluminista. Montesquieu considera a Inquisição uma
manifestação de suprema ignorância e grosseria, bem como de intolerância. Vamos, então, ao
texto, que se intitula “Exortação muito humilde aos inquisidores da Espanha e de Portugal”,
cujas passagens, em alguns momentos, são carregadas das emoções do autor, que faz um
verdadeiro desabafo contra a intolerância da Igreja:
Uma judia de dezoito anos, que foi queimada em Lisboa no último auto-da-fé, deu
motivo a essa pequena obra; e acredito ter sido esta a mais inútil entre todas que já
foram escritas. Quando se trata de provar coisas tão claras, estar-se-á certo de não
convencer.
O autor declara que, apesar de ser judeu, respeita a religião cristã, e que ele a ama
bastante para retirar aos príncipes que não são cristãos um pretexto plausível para a
perseguir.
Diz ele aos inquisidores: Vós vos queixais de que o imperador do Japão mandou
queimar lentamente todos os cristãos que estavam em seus Estados; mas ele vos
responderá: “Nós vos tratamos, a vós que não tendes a mesma crença que nós, do
mesmo modo que vós próprios tratais os que não acreditam no mesmo que vós
acreditais; vós só podeis vos queixar de vossa fraqueza que vos impede de nos
exterminar, e que faz com que nós vos exterminemos”.
Mas é preciso confessar que sois muito mais cruéis do que esse imperador. Vós
nos fazeis morrer, a nós que só acreditamos naquilo que vós acreditais, apenas
porque não acreditamos em tudo o que vós acreditais. Seguimos uma religião que
vós sabeis, vós próprios, ter sido outrora a religião querida de Deus; e pensamos
que Deus ainda a ama; e vós acreditais que ele deixou de amá-la; e, porque vós
assim o julgais, fazeis passar pelo ferro e pelo fogo os que se encontram nesse
erro tão perdoável, de acreditar que Deus ainda ama aquilo que antes amou.
E sois cruéis a nosso respeito, sois ainda muito mais quanto a nossos filhos; vós os
mandai queimar porque seguem as inspirações que lhes são dadas por aqueles que
a lei natural e a lei de todos os povos lhes ensinam a respeitar como deuses.
Privais-vos da vantagem que vos deu sobre os maometanos, a maneira pela qual
sua religião está estabelecida. Quando eles se vangloriam do número de seus fiéis,
vós lhes respondeis que foi à força que o conseguiram, e que propagaram sua
religião com auxílio do ferro; por que então estabeleceis a vossa pelo fogo?
Quando quereis nos aproximar de vós, nós vos objetamos uma origem da qual vós
vos vangloriais de descender. Respondeis que vossa religião é nova, mas que é
divina, e isso o provais porque ela se alastrou com a perseguição aos pagãos e
com o sangue dos vossos mártires; mas hoje assumis o papel dos Dioclecianos, e
nos obrigais a assumir o vosso.
Nós vos conjuramos, não pelo Deus poderoso que nós e vós servimos, mas pelo
Cristo que dizeis ter tomado a forma humana, a fim de vos propor exemplos que
pudésseis seguir; nós vos conjuramos a agir para conosco como ele próprio agiria
se ainda estivesse sobre a terra. Quereis que sejamos cristãos e não o quereis ser
vós próprios.
Mas, se não quiserdes ser cristãos, sejais, pelo menos, homens. Tratai-nos assim
como faríeis se, não possuindo esses fracos lampejos de justiça que a natureza
nos dá, tivésseis uma religião para vos conduzir e uma revelação para vos
esclarecer.
Se o céu vos tem amado o bastante para fazer-vos conhecer a verdade, ele vos deu
uma grande graça; mas compete aos filhos que receberam a herança de seu pai
odiar os que não a receberam?
E, se possuís essa verdade, não a oculteis de nós pela maneira pela qual ela nos é
apresentada. O caráter da verdade será o seu triunfo sobre os corações e os
espíritos, e não essa impotência que revelais quando quereis fazê-la reconhecer
por meio de suplícios.
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Se fordes razoáveis, não deveis nos matar, pois não queremos vos enganar. Se o
vosso Cristo é o filho de Deus, esperamos que ele nos recompense por não termos
querido profanar os seus mistérios; e acreditamos que o Deus a que servimos,
tanto nós como vós, não nos punirá por termos padecido a morte por uma religião
que ele outrora nos deu, porque acreditamos ainda que a tenha dado a nós.
Viveis em um século em que a luz natural é mais viva do que nunca, em que a
filosofia esclareceu os espíritos, em que a moral de vosso Evangelho é mais
conhecida e em que os direitos respectivos dos homens uns para com os outros – o
império que uma consciência tem sobre outra consciência – estão melhor
estabelecidos. Se, portanto, não abandonais vossos antigos preconceitos que, se
não vos resguardardes, tornar-se-ão vossas paixões, será forçoso confessar que
sois incorrigíveis, refratários a toda luz e a toda instrução; e será bem infeliz
uma nação que outorga a autoridade a homens como vós.
Quereis que vos declaremos simplesmente nosso pensamento? Vós nos considerais
mais como vossos inimigos do que como inimigos da vossa religião, pois, se
amásseis vossa religião, não consentiríeis que fosse corrompida por uma
ignorância grosseira.
É preciso que vos façamos uma advertência: se alguém na posteridade ousar
dizer alguma vez que no século em que vivemos os povos da Europa eram
civilizados, vós sereis citados como prova de que eles eram bárbaros, e a idéia
que será feita a vosso respeito será tal que aviltará vosso século e fará recair o
ódio sobre todos os vossos contemporâneos. (03, grifos nossos)
Jesus nasceu sob a lei mosaica, segundo esta lei foi circunciso, dela cumpriu todos
os preceitos e celebrou todas as festas. Só pregou moral. Não revelou o mistério da
própria encarnação nem disse aos judeus haver nascido de uma virgem. Recebeu a
bênção de João Batista nas águas do rio Jordão, cerimônia a que muitos judeus se
submetiam, conquanto ele próprio jamais tenha batizado ninguém. Não falou dos
sete sacramentos. Humanamente não se colocou em nenhuma hierarquia
eclesiástica. Ocultou a seus contemporâneos ser filho de Deus, eternamente gerado,
consubstancial a Deus, e que o Espírito Santo procedia do Pai e do Filho. Não disse
que sua pessoa se compunha de duas naturezas e de duas vontades. (04)
7 OS ÉDITOS
7.1 A publicação
Outros delitos que se faziam constantemente presentes nos éditos da graça eram a
feitiçaria e as correntes espiritualistas. Já no período de declínio da atividade inquisitorial,
houve uma preocupação muito grande também com a maçonaria.
7.3 Os éditos da fé
Luzes, contendo apelos à denúncia dos que adotavam as idéias iluministas, especialmente as
de Voltaire, Rousseau e seus discípulos.
Tais documentos possuíam a mesma natureza dos éditos da fé, podendo prever,
inclusive, um tempo de graça. A particularidade, in casu, diz respeito à especificidade desses
éditos. Ou seja, seu conteúdo era voltado à apreciação de um tipo específico de delito.
Na Península Ibérica, os éditos de proibição de livros eram os mais populares. O
que ensejou sobremaneira tal circunstância foram ordens papais incisivas acerca da proibição
de livros luteranos. Havia abundância de éditos que dispunham sobre livros específicos, não
apenas nos intervalos de publicação dos catálogos das obras proibidas, mas também após o
declínio destes. Em verdade, a elaboração desses catálogos era tão minuciosa que, às vezes,
demorava dezenas de anos para ser concluída, situação que propiciou a divulgação dos éditos.
Sobre o seu conteúdo, os éditos estabeleciam as obras que podiam livremente ser
lidas, comercializadas e produzidas, portanto sua função era de exclusão dos livros proibidos,
quais sejam os que não figuravam no respectivo documento.
Havia, porém, muitos outros éditos referentes a delitos bem específicos. A
maçonaria, por exemplo, foi objeto de éditos, assim como a feitiçaria. Quanto a este último, é
interessante notar que os éditos a ele concernentes previam a condenação à pena capital de
todos os feiticeiros que tivessem provocado a morte por intermédio de suas artes ou de pactos
com o diabo. Percebe-se a grande dificuldade, ou mesmo a impossibilidade de provar tal
crime. Ademais, observa-se certo disparate, visto que, se a Inquisição condenava quem assim
procedia, isso significa que ela mesma acreditava nos efeitos da feitiçaria e dos pactos com o
diabo, o que demonstrava que o próprio Santo Ofício era uma instituição que ainda
conservava resquícios de paganismo e superstições, práticas por ele mesmo execradas.
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8 OS AUTOS DA FÉ
8.1 A publicação
8.2 A encenação
8.3 As procissões
Outro cortejo era organizado na manhã do auto da fé, o dos inquisidores e seus
acompanhantes, que se dirigia para o palco logo após a procissão dos condenados, para
destacar a excelência do tribunal.
À frente da procissão, estavam os nobres e familiares, seguidos pelos ministros e
oficiais do tribunal, o fiscal com o estandarte da fé contendo as armas da Inquisição,
representantes da Justiça secular, o cabido da catedral e, por último, os inquisidores, na
posição mais destacada.
8.4 A celebração
Quando chegava a sua vez, cada condenado era levado ao altar da abjuração pelo
oficial de justiça dos cárceres (alcaide), fazia uma reverência à cruz que ali se encontrava e,
depois, aos inquisidores. Logo após a sentença era lida.
No caso dos penitentes (reconciliados), a sentença enfatizava que a excomunhão
tinha sido levantada, ou seja, relevada, graças a seu arrependimento, além de destacar a
reconciliação com a Igreja e, por fim, eram especificadas as penas.
Quanto aos relaxados à Justiça secular, eram levados ao mesmo estrado, onde
escutavam sua sentença. Freqüentemente, os relaxados se recusavam a fazer a vênia à cruz ou
aos inquisidores, ao mesmo tempo em que insultavam os mesmos. Em tais momentos, era
imposto o uso de mordaças, colocadas pelos guardas, o que provocava grande alvoroço entre
os espectadores.
O que tornava o auto da fé bastante dramático não eram apenas tais
acontecimentos, pois sempre havia a possibilidade de um arrependimento súbito por parte dos
relaxados, que pediam que fosse realizada uma audiência para discutir essa nova situação. Os
juízes e o suposto arrependido se dirigiam a uma sala no interior do cadafalso, onde era feita
a confissão. Depois, os inquisidores analisariam a possibilidade de modificar a sentença. A
revisão desta, porém, não implicava grandes alterações, mantendo-se geralmente o tipo de
execução previsto, ou então, decidia-se que, antes de ser lançado à fogueira, o condenado
morresse estrangulado, pois, segundo a mentalidade da época, o estrangulamento era
considerado uma morte católica; em casos excepcionais, o acusado era reenviado à prisão e
se submetia a novo inquérito.
É interessante notar que, durante todos esses eventos, a cerimônia era suspensa, o
que aumentava sobremaneira a inquietação dos espectadores, elemento que sublinha bem a
teatralidade do rito.
8.5 A abjuração
Neste azo, é importante tecer alguns comentários acerca dos penitentes que
morriam nos cárceres e sobre a atitude dos inquisidores perante os acusados que eram objeto
de falsas acusações.
Sobre os penitentes que morriam nas prisões, eram reconciliados post mortem pelo
tribunal, que concluía o processo absolvendo-os e extinguindo a excomunhão em que o
acusado incorrera. Nesse caso, fazia jus a um enterro cristão, ou seja, não era lançado à
fogueira.
Os penitentes mortos nas prisões eram objeto de um rito de reconciliação não
aberto ao público, sendo realizado em uma cerimônia privada no palácio da Inquisição. Eram
representados por estátuas de gesso com um sambenito. Nas mãos das estátuas, eram
colocados uma vela e um rosário, para simbolizar sua conversão à fé católica. Os inquisidores
acolhiam, em nome dos penitentes, sua abjuração formal, concediam a absolvição,
administravam a Penitência e o sacramento da Eucaristia e, por fim, conferiam-lhes sepultura
religiosa.
No tocante aos suspeitos de heresia que eram vítimas de falsas acusações, a
situação era bem mais complexa. Geralmente, eles não compareciam aos autos da fé, sendo
absolvidos em uma sala do próprio tribunal. Tudo era muito delicado, pois o próprio acusado
evitava se expor, enquanto, para a instituição, tal circunstância revelava sua fragilidade nos
procedimentos judiciários de perseguição às heresias. Qualquer mera falha prejudicava
sobremaneira a imagem do tribunal. Para arrefecer essa conjuntura, as falsas testemunhas
eram punidas em público, geralmente eram-lhes aplicadas centenas de vergastadas.
A série dos principais eventos da cerimônia era então: a leitura das sentenças dos
reconciliados; a leitura das sentenças dos relaxados; a entrega dos relaxados à Justiça secular;
e, por fim, a abjuração dos reconciliados.
Os relaxados abandonavam a plataforma pelo lado esquerdo, em alusão às
representações alegóricas do Juízo Final, onde os condenados ao inferno apareciam do lado
esquerdo de Cristo. Os reconciliados saíam pelo lado direito. É importante esclarecer que o
auto da fé finalizava mesmo com a abjuração dos penitentes, depois da entrega dos relaxados
e antes de sua execução, ou seja, o evento termina, intencionalmente, com a triunfante
reintegração dos arrependidos.
8.6 A execução
assistir à execução, que ocorria posteriormente ao auto. Todos ficavam arrebatados com as
cenas impressionantes dos hereges sendo mortos nas fogueiras.
Primeiramente, é imprescindível explicar o significado da expressão “relaxados à
Justiça secular”. Os relaxados eram entregues à Justiça secular, pois os inquisidores,
enquanto clérigos, não podiam condenar ninguém à morte, proibição estabelecida pelo
Direito Canônico. Observa-se facilmente, em tal situação, a hipocrisia do Santo Ofício, visto
que a palavra “condenar”, nesse sentido por ele empregado, dizia respeito apenas ao ato físico
de tirar a vida de alguém com as próprias mãos, pois, na verdade, eram os inquisidores,
desempenhando seu papel de juízes, que decidiam pela condenação dos acusados à morte. Já
a execução de tal pena era da competência dos funcionários da Justiça secular, porquanto as
autoridades da Inquisição não podiam macular suas mãos com o sangue dos condenados,
ficando esse “trabalho sujo” sob a responsabilidade dos funcionários da Justiça civil.
A execução dos condenados era, de fato, um “espetáculo” à parte no contexto das
grandes cerimônias do Santo Ofício. Uma passagem interessante de Francisco Xavier de
Oliveira, o Cavaleiro de Oliveira, retrata perfeitamente o momento da execução, marcado por
traços grotescos, cruéis e, ao mesmo tempo, estava sempre presente o caráter de festividade:
Um asiático que chegasse a Madri no dia de uma tal execução não saberia dizer se
se trata de uma celebração, de uma festa religiosa, de um sacrifício ou de
carnificina; e é tudo isso em conjunto. (07)
banco apoiado no tronco vertical. Nesse tronco, o condenado podia ser estrangulado, caso se
arrependesse de última hora e quisesse morrer como católico. Em torno dos cubos dispostos
para a fogueira, muitas vezes eram construídos balcões de madeira para proporcionar uma
visão melhor para os convidados ilustres, tais como o rei, o vice-rei e os nobres titulados.
Essas estruturas estavam aparelhadas, inclusive, para servir bebidas.
Para finalizar, é muito interessante o relato de Francisco Bethencourt acerca da
situação do corpo do condenado, que era tratado como um objeto de jogo sádico:
8.7 A memória
O auto da fé, por ser uma cerimônia tão forte e marcante, permanecia vivo na
memória das pessoas não apenas pelos eventos que aconteciam durante a celebração, mas
também devido à atividade inquisitorial que se seguia aos autos, como a fustigação em
público de condenados levada a cabo por autoridades civis alguns dias depois da cerimônia; o
uso obrigatório dos sambenitos durante meses ou anos; prisão no colégio da fé para a
catequização dos reconciliados.
Tudo isso contribuía sobremaneira para manter viva a memória da população. O
processo de doutrinação representava uma reintegração lenta, sendo a fase de expiação,
análoga ao purgatório, correspondente ao recinto fechado do colégio ou convento, que
geralmente se situavam em locais distantes, e ao uso da vestimenta penitencial.
Quanto ao uso obrigatório do sambenito, tratava-se de elemento que tornava o
ritual da reconciliação ainda mais dramático. De fato, é imprescindível explicitar que a
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reintegração não ocorria automaticamente, pois consistia num verdadeiro processo, visto que
as cerimônias de abjuração e reconciliação não suprimiam por si só a infâmia do penitente.
A reintegração dos cristão-novos era ainda mais traumática, porquanto, uma vez
que eram sentenciados pelo tribunal, ficavam imediatamente excluídos do acesso a
determinados cargos e funções, especialmente cargos públicos, medicina e advocacia.
O problema da desonra também atinge as famílias dos condenados. Em alguns
casos, ficavam inabilitados para a ocupação de certos cargos os descendentes dos acusados,
além disso, os hábitos penitenciais ficavam expostos em igrejas. Em virtude disso, as famílias
sofriam humilhações cotidianamente, pois qualquer tipo de relação com as heresias era
considerada abominável por toda a população.
Em verdade, a Inquisição ibérica possuía a tradição de recolher os sambenitos,
tanto dos reconciliados como dos relaxados, e providenciar a sua exposição no interior de
uma das principais igrejas da cidade, com uma transcrição especificando o nome do
condenado e o delito em que incorrera. Obviamente, o propósito era eternizar a lembrança
infamante dos acusados.
Concomitantemente, a Inquisição também procurava eliminar completamente a
memória de determinados hereges, para impedir que o espetáculo da execução surtisse efeito
diverso do pretendido, qual seja, a possibilidade de os hereges conquistarem a simpatia dos
seus seguidores como mártires. A morte na fogueira e a dispersão das cinzas pela água ou no
ar representavam uma maneira de eliminar a memória pelo culto do cadáver. Além disso, a
residência do heresiarca (líder de movimento herético) e o local de celebração de seus cultos
eram demolidos para “limpar” o perímetro urbano, uma vez que o terreno onde se
localizavam tais construções era salgado e nele era proibida a realização de novas
edificações.
novos à sociedade, que, aos poucos, sensibilizava-se com a situação dos perseguidos pelos
tribunais, bem como passou a compreender que o Santo Ofício constituía uma instituição
prejudicial à humanidade.
Os cristãos-novos, cujas prisões e execuções em público foram fundamentais para
a consolidação e legitimação da Inquisição em fins do século XV na Espanha, foram,
paulatinamente, enraizando-se na sociedade hispânica ao longo dos séculos XVI e XVII.
Em Portugal, essa integração ocorreu de maneira mais vagarosa, porém se
concretizou totalmente no século XVIII. Sendo assim, desaparecendo a hostilidade e a
aversão contra os indivíduos mais perseguidos pelos tribunais inquisitoriais, os autos da fé
não provocavam mais tanto entusiasmo na população, visto que esta passava a considerar
todo esse espetáculo um grande sacrifício covarde e sem motivos.
Essa considerável mudança na opinião pública contou com a concorrência de
alguns fatores: as comunidades hebraicas e protestantes de outros países sempre se
mostravam solidárias com as vítimas da Inquisição; muitos grupos católicos situados em
outras nações também se juntaram a essa rede de solidariedade gradativamente; e, por fim, as
elites sociais dos lugares controlados pela Inquisição ibérica também manifestaram sua
repulsa à ação dos tribunais da fé.
A nova mentalidade, portanto, engendrou uma inversão na imagem dos autos da
fé. Em vez de servirem como meio de perpetuar a má reputação e a desonra dos condenados,
tornaram-se referência para construir uma contramemória infamante do Santo Ofício. Sendo
assim, as pessoas que eram executadas nessa fase de decadência eram consideradas mártires,
situação esta que a Inquisição procurava sempre debelar por conhecer as conseqüências
nefastas que acarretaria à instituição. Neste caso, porém, o quadro era irreversível.
Posteriormente, a sociedade já se encontrava preparada para aceitar que as
heresias, definidas como tais pela Igreja romana, não constituíam ameaça à comunidade dos
fiéis. Dessa forma, a população deixou de comparecer às celebrações de auto da fé, que
desapareceram na segunda metade do século XVIII, enquanto as práticas heréticas deixaram
de ser consideradas crimes passíveis de pena capital. Em tal momento, já predominava a
consagração da tolerância religiosa no seio das grandes nações ocidentais.
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As justas leis que Hamurabi, o sábio rei, estabeleceu e (com as quais) deu base
estável ao governo ... Eu sou o governador guardião ... Em meu seio trago o povo
das terras de Sumer e Acad; ... em minha sabedoria eu os refreio, para que o forte
não oprima o fraco e para que seja feita justiça à viúva e ao órfão ... Que cada
homem oprimido compareça diante de mim, como rei que sou da justiça. Deixai-o
ler a inscrição do meu monumento. Deixai-o atentar nas minhas ponderadas
palavras. E possa o meu monumento iluminá-lo quanto à causa que traz, e possa
ele compreender o seu caso. Possa ele folgar o coração (exclamando) “Hamurabi é
na verdade como um pai para o seu povo; ... estabeleceu a prosperidade para
sempre e deu um governo puro à terra”. Quando Anu e Enlil (os deuses de Uruk e
Nippur) deram-me a governar as terras de Sumer e Acad, e confiaram a mim este
cetro, eu abri o canal. Hammurabi-nukhush-nish (Hamurabi-a-abundância-do-
povo) que traz água copiosa para as terras de Sumer e Acad. Suas margens de
ambos os lados eu as transformei em campos de cultura; amontoei montes de
grãos, provi todas as terras de água que não falha ... O povo disperso se reuniu; dei-
lhe pastagens em abundância e o estabeleci em pacíficas moradias. (09)
temporal. Citemos, então, um trecho de sua obra “Defensor Menor”: “É mais vantajoso para a
Igreja que os convertidos o sejam através da aquiescência e não por meio da coação”. (11)
Em seguida, veio o Renascimento e sua cultura humanista. Tudo nesse período se
opunha à Idade Média, especialmente porque os humanistas foram os precursores de uma
sociedade antropocêntrica, em contraste com o teocentrismo medieval. Já nesse momento,
faziam-se críticas à intolerância religiosa.
Por fim, surgiu o Iluminismo, defendendo que todos tinham aptidão para perceber
a presença de Deus na natureza através da razão, dispensando-se a Igreja. Os ataques dos
filósofos contra todas as instituições de Antigo Regime propiciaram o enfraquecimento de
suas bases e prepararam o terreno para a difusão das idéias iluministas. A grande novidade
que marcou o período foi a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, promulgada na
França, em 26 de agosto de 1.789.
Pelo que foi exposto, observa-se o seguinte. Apesar de a sistematização da teoria
dos direitos humanos ter ocorrido nos últimos séculos, a idéia da existência de direitos
comuns a todos os homens e de direitos que preexistem às leis escritas já estava presente
desde as sociedades antigas. De modo que não se justifica de maneira nenhuma o instituto da
Inquisição, que foi marcada pelo total desrespeito de todos e quaisquer direitos concernentes
à pessoa humana. A dignidade desta foi cabalmente aniquilada. Todas as cerimônias
inquisitoriais ridicularizavam os condenados, tratando-os como meros objetos que serviam
tanto para assustar a população e, assim, incentivá-la a não incidir em práticas heréticas,
quanto como diversão para os espectadores.
Todo o processo inquisitorial era organizado de modo a dificultar ou suprimir a
defesa dos acusados. Não existia nenhuma garantia processual. Tudo era secreto; o acusado
não podia consultar os autos do próprio processo. Além disso, havia também a questão das
penas, que eram demasiado cruéis e, muitas vezes, passavam da pessoa do condenado,
atingindo pessoas da sua família. Quanto aos crimes, a situação também era delicada, posto
que uma mera superstição podia ser interpretada como prática herética. Imperava, portanto, o
medo e a coerção, a intimidação e a arbitrariedade. Tais assuntos serão elucidados a seguir.
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9.1 O processo
Atualmente, o processo penal tem de ser conduzido pelo princípio da busca pela
verdade real. Afinal, deve-se averiguar minuciosamente um crime e aplicar uma punição para
o responsável, de modo que é imprescindível que se conheçam todas as circunstâncias do
delito, bem como a sua autoria. No processo inquisitorial, a verdade dos fatos tinha relativa
importância, o problema era a sua verificação, que jamais foi levada a cabo com afinco.
Muitas vezes, baseava-se apenas na aparência física das pessoas para julgar se as mesmas
praticaram ou não certos delitos. Cita-se como exemplo uma inquietante passagem do
“Manual da Inquisição”, de Nicolau Eymerich: “É fato comum que se conhece com muita
facilidade os que invocam o demônio pelo seu olhar horroroso e sua fachada espantosa,
provenientes do seu contínuo trato com o diabo”. (13)
Em seguida, tem-se o princípio da legalidade. Este, por sua vez, era razoavelmente
observado pela Inquisição. Os regulamentos e as instruções da época dispunham acerca do
processo estipulando determinações que se coadunavam com a ação dos tribunais, ou seja, as
disposições eram tão arbitrárias quanto esta. Neste contexto, Montesquieu criticou a
legislação emanada das autoridades eclesiásticas que ditavam as regras da Inquisição,
afirmando que “é preciso que se evitem as leis penais em matéria de religião” (14). Além
disso, defendia o mesmo filósofo:
As leis humanas, feitas para falar ao espírito, devem apresentar preceitos e nunca
conselhos: a religião, feita para falar ao coração, deve dar muitos conselhos e
poucos preceitos. [...]. (15)
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Ainda que no foro ordinário as leis não permitam ouvir testemunhas e nem falar de
sentença definitiva, sem que se debata o ponto por ambas as partes, ouvindo-se o
réu, sendo o fundamento da determinação, segundo os jurisconsultores, a alegação
e réplicas respectivas de ambas as partes, não se segue esta máxima em matéria de
heresia, estando autorizados os inquisidores à omissão de formalidades,
procedendo simpliciter et de plano, em benefício da fé. De sorte que a declaração
de testemunhas, ainda que ausente o réu ou seu procurador, faz fé, posto que não é
assim em causa de outra natureza. (16)
terminar com uma sentença de condenação. Observa-se facilmente que tal aspecto caracteriza
bem o Santo Ofício como tribunal de exceção.
O princípio da inadmissibilidade das provas produzidas por meios ilícitos era
desrespeitado expressamente em instruções e regulamentos que autorizavam prisões
arbitrárias e a prática de tortura. Nesta ocasião, é importante destacar que a própria Inquisição
fez surgir muitas declarações falsas de heresia com o emprego de cruéis tormentos.
Quanto ao princípio da presunção de inocência, a questão é muito delicada. De
fato, tal preceito era inexistente na Inquisição, pois uma simples acusação era o suficiente
para configurar a culpabilidade, de modo que o suspeito deveria provar sua inocência, o que
era praticamente impossível. Como foi acima exposto, o processo era secreto e o acusado era
detido sem sequer conhecer nenhuma circunstância acerca do delito que supostamente
cometeu, desse modo, sua defesa restava gravemente comprometida, especialmente pelo fato
de apenas as autoridades do tribunal terem acesso aos autos do processo.
Além dos princípios peculiares ao processo penal, deve-se apreciar também um
dos princípios gerais do processo: a imparcialidade do juiz. Esse princípio era seriamente
vilipendiado. Primeiramente, os inquisidores eram, concomitantemente, policiais, delegados e
juízes, situação que, por si só, já afetava sua imparcialidade. Além disso, uma das penas mais
aplicadas era o confisco de todos os bens do condenado, o que levava a família deste à total
ruína. Alguns juízes, ao aplicar tal punição, apossavam-se de vários bens apreendidos.
Outra questão importante sobre o processo criminal da Inquisição era a
impossibilidade de se responder um processo em liberdade. Havendo denúncia, o acusado era
sempre preso, sem se averiguar se representava perigo à sociedade, nem se iria atrapalhar as
investigações ou fugir.
Por fim, os recursos quase não acarretavam benefícios aos condenados. Os
relaxados à Justiça secular, por exemplo, só conheciam sua sentença três dias antes da
execução, de modo que nem sequer havia tempo para interpor apelação. Além disso, quando
ao condenado era permitido, já no auto da fé, que fosse ouvido pelos inquisidores para
confessar seus delitos e pedir a revisão da sentença, tal situação geralmente não produzia
grandes alterações, permanecendo o acusado condenado à pena capital.
Havia três maneiras de instaurar um processo: por acusação, por delação e por
pesquisa. Na acusação, uma pessoa acusava outra de práticas heréticas, mas deveria
apresentar provas verossímeis que fundamentassem suas declarações. Averiguadas as
50
9.1.2 Confissões
9.1.3 Torturas
9.1.4 Testemunhas
Nos tribunais da Inquisição, tudo o que pudesse prejudicar o acusado era utilizado
para esse fim. Nos processos de heresia, portanto, eram admitidos testemunhos dos mais
diversos tipos de pessoas, tais como excomungados, os cúmplices do próprio investigado e
réus de delitos quaisquer. Entretanto, tais testemunhos apenas tinham validade se fossem
contra o acusado, jamais valiam a seu favor.
Também contra o acusado admitiam-se as testemunhas domésticas, tais como seu
cônjuge, seus filhos, seus irmãos, seus pais, outros parentes a até mesmo seus criados. Esse
grupo de pessoas apenas podia prestar declarações contra o acusado, nunca em sua defesa.
Rigorosamente, para que fosse proferida uma sentença definitiva contra o herege,
eram suficientes duas testemunhas. Situação absolutamente contrária ao que se aplica hoje no
processo penal moderno, segundo o qual o número das testemunhas jamais será levado em
consideração como critério de eqüidade para a elaboração da sentença.
Outro aspecto que destaca a natureza dos tribunais da Inquisição como de exceção
é a acareação. Naquele período, o instituto da acareação era praticado em outros tribunais,
mas nunca nas causas do Santo Ofício, onde não havia nenhum tipo de acareação, nem entre
as testemunhas, nem entre estas e o acusado. Tal situação dificultava ou, até mesmo, impedia
a defesa do réu, pois este não tinha condições de saber o que as testemunhas declararam a seu
respeito, conseqüentemente não podia contra-argumentar com as mesmas.
No processo inquisitorial, o acusado nem sequer conhecia a identidade das
testemunhas. A acusação era apresentada ao suspeito com a omissão de todas as
circunstâncias de tempo, lugar e pessoas, especialmente quando se suspeitava que o réu
pudesse adivinhar quem seriam seus delatores.
Também é interessante notar a aferição do valor do relato das testemunhas. Em
verdade, a credibilidade das denúncias dependia da “qualidade” das testemunhas e de sua
reputação na comunidade, bem como da sua conduta enquanto depunham no tribunal.
Após a prisão do acusado, situação em que este apenas sabia que o delito
supostamente cometido por ele tinha alguma relação com heresia, fazia-se um interrogatório
acerca de sua identidade, no intuito de verificar a sua genealogia. Perguntava-se se o acusado
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sabia por qual motivo estava sendo preso. Qualquer que fosse a resposta, o acusado recebia
uma explanação minuciosa esclarecendo que o Santo Ofício não prendia ninguém sem fortes
razões para tanto. Em seguida, eram realizadas várias audiências com extensos intervalos
entre uma e outra, nas quais o acusado narrava toda a sua vida, sendo-lhe perguntado
especialmente a que pessoas tinha o hábito de visitar; porém, as questões eram sempre vagas
e em termos gerais. Em tal momento, o réu se transformava, sem perceber, em delator, e o
tribunal lhe pedia que especificasse todos os nomes que constavam de seus relatos. Até então,
o acusado ainda não sabia por que motivo estava sendo processado.
Depois de uma vasta série de interrogatórios é que se dava ciência ao acusado
sobre o crime pelo qual estava sendo julgado, no entanto, a identidade dos seus delatores
ainda permanecia secreta. Em seguida, buscava-se que o réu confessasse suas culpas. Caso a
confissão não acontecesse espontaneamente, aplicavam-se as torturas.
Havendo ou não tortura, com ou sem confissão, o lento processo terminava com
uma sentença elaborada por uma comissão de inquisidores. Todavia, enquanto os outros
tribunais da época informavam aos condenados sobre a sentença a eles imposta, o Santo
Ofício mantinha as suas em segredo, à exceção dos crimes de inexpressiva gravidade.
Conforme já foi supra mencionado, os réus só tinham ciência do teor da sua condenação na
data da celebração do auto da fé, momento muito tardio para se fazer uma apelação, recurso
este que, muitas vezes, não era sequer apreciado.
No tocante à conduta dos inquisidores nos interrogatórios, devem-se analisar
alguns aspectos interessantes. Primeiramente, os inquisidores sempre pressupunham que os
acusados agiam no intuito de lhes enganar, desse modo, os tribunais criaram várias técnicas
para se conseguir chegar mais rápido à confissão.
Quando os depoimentos das testemunhas não estavam embasados em provas, mas
continham fortes indícios acerca do delito, e o réu continuava negando, o inquisidor lhe fazia
perguntas vagas. Depois disso, se o acusado ainda resistisse, o juiz folheava os autos e dizia
algo como “está claro que você não está dizendo a verdade, não minta mais”. Outra medida
tomada pelo inquisidor era folhear quaisquer papéis e, quando o réu negava alguma coisa, o
inquisidor fingia estar espantado e dizia “como pode negar tal coisa, sendo tão evidente?”.
Desse modo, o réu, caindo na armadilha do inquisidor, acreditava que existiam provas contra
ele nos autos e, por fim, acabava confessando.
Outro ardil empregado pelos inquisidores consistia no seguinte. Quando o réu
persistia em negar as culpas que lhe foram imputadas, o inquisidor lhe dizia que iria fazer
uma longa viagem e não sabia quando retornaria. Lamentava o fato de ser obrigado a deixá-lo
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preso, sendo sua maior vontade que confessasse suas faltas, para que se desse um fim mais
rápido à demanda. Por fim, o inquisidor dizia que, já que não queria confessar, o acusado
teria de lhe esperar, fato que o inquisidor lastimava, visto que o réu tinha compleição física
frágil e, com certeza, ficaria enfermo.
9.2 Os delitos
Sob o aspecto formal, crime seria toda conduta que atentasse, que colidisse
frontalmente com a lei penal editada pelo Estado. Considerando-se o seu aspecto
material, conceituamos o crime como aquela conduta que viola os bens jurídicos
mais importantes. Na verdade, os conceitos material e formal não traduzem com
precisão o que seja crime. Se há uma lei penal editada pelo Estado, proibindo
determinada conduta e o agente a viola, se ausente qualquer causa de exclusão de
ilicitude ou dirimente de culpabilidade, haverá crime. Já o conceito material
sobreleva a importância do princípio da intervenção mínima quando aduz que
somente haverá crime quando a conduta do agente atentar contra os bens mais
importantes. Contudo, mesmo sendo importante e necessário o bem para a
manutenção e subsistência da sociedade, se não houver uma lei penal protegendo-
o, por mais relevante que seja, não haverá crime se o agente vier a atacá-lo, em
face do princípio da legalidade . Como se percebe, os conceitos formal e material
não traduzem o crime com precisão, pois que não conseguem defini-lo. Surge,
assim, outro conceito, chamado analítico, porque realmente analisa as
características ou elementos que compõem a infração penal. [...] Alguns autores, a
exemplo de Assis Toledo e Luiz Regis Prado, aduzem que o crime é composto pela
ação típica, ilícita e culpável [...]. (19)
religião. A Igreja, por sua vez, desejava dar continuidade à sua secular função de delinear a
mentalidade e o comportamento da sociedade, o que somente seria concretizado se
conseguisse algum poder oficial junto à monarquia; além disso, pretendia experimentar a
obtenção de uma parcela de poder temporal. Sendo assim, as duas instituições se associaram
de tal modo que a Inquisição se tornou imprescindível para ambas. Destarte, a tipificação dos
crimes de heresia constitui um reflexo dessa aliança.
Podem-se classificar os delitos de heresia em quatro grupos: os atos e doutrinas
que afrontavam diretamente a fé cristã, desafiando a supremacia da Igreja; os atos contra a
ação do Santo Ofício; os atos que deveriam ser da jurisdição civil; e os atos que deveriam ser
apreciados pelo Vaticano.
No primeiro grupo, incluem-se: o judaísmo; o islamismo; o protestantismo; os
sortilégios; a vidência (adivinhações e superstições); a blasfêmia, que consistia, por exemplo,
em negar a divindade de Cristo, a capacidade de intervenção dos santos ou o dogma da
Santíssima Trindade; as correntes espiritualistas; as artes mágicas; a posse, impressão, leitura
e comércio de livros proibidos; invocação do demônio; conciliábulos secretos em matéria
religiosa; maçonaria; iconoclastia e idolatria; ortodoxia grega; ateísmo e ceticismo;
astrologia. Nesse rol, é importante destacar os crimes cuja prova era de difícil aferição, tais
como invocação do demônio e conciliábulos secretos em matéria religiosa. Quanto ao
primeiro, por exemplo, os inquisidores apenas o constatavam analisando o semblante dos
suspeitos e a sua conduta, sendo tais critérios absolutamente subjetivos.
Já os atos contra a ação do Santo Ofício eram as ofensas aos ministros da
Inquisição, aos denunciantes, às testemunhas; a revelação dos segredos do tribunal; os falsos
testemunhos; a solicitação (quando os confessores absolviam os penitentes que incorriam nos
delitos sob jurisdição inquisitorial); a proteção aos hereges. Por fim, também enquadrada
nesta categoria estava a conduta de olhar de “cara feia” os inquisidores, bem como olhá-los
com ódio.
Quanto ao terceiro grupo, é interessante notar que os delitos deveriam ser da
competência da jurisdição civil, conforme o foram outrora. Isso demonstra o imenso poder
alcançado pelo Santo Ofício, cuja jurisdição se ampliava vertiginosamente, abrangendo até
mesmo matérias da alçada das autoridades civis. Neste grupo, havia os crimes de bigamia;
sodomia; na Espanha, o contrabando de cavalos, armas, moedas e livros com os protestantes
franceses; em Portugal, o contrabando de armas e outros bens proibidos com os mouros do
norte da África; o concubinato; a usura.
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Por fim, o último grupo compreende os crimes cuja competência deveria ser do
Vaticano, mas acabaram passando à jurisdição inquisitorial: celebrar missa sem ser ordenado;
violação do segredo da confissão; casamento de autoridades eclesiásticas; abuso e desrespeito
contra os sacramentos.
Neste azo, é fundamental enfatizar a hipocrisia da Igreja, que punia quaisquer
condutas que revelassem o menor indício de paganismo, enquanto ela própria possui, até
hoje, diversos institutos importantes que sofreram forte influência pagã. Inclusive alguns ritos
católicos têm origem em cerimônias judaicas, as quais consistiam em delitos que eram
duramente punidos pelo Santo Ofício. Tal situação é bem elucidada por Thomas Hobbes:
Chama-se excomunhão esta parte do poder das chaves, perante a qual os homens
são expulsos do reino de Deus. Excomungar, no original, aposynágogon poiein,
expulsar da Sinagoga. Em outras palavras, expulsar do lugar do serviço divino.
Esta palavra é derivada do costume dos judeus, de expulsar de suas sinagogas os
que eram considerados, quanto à conduta ou à doutrina, contagiosos, do mesmo
modo que os leprosos, pela lei de Moisés, eram separados da congregação de
Israel, até ao momento em que fossem declarados, pelo sacerdote, perfeitamente
curados.
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.....................................................................................................................................
9.3 As penas
10 A ABOLIÇÃO
11 CONSIDERAÇÕES FINAIS
após, os relaxados à Justiça secular eram executados. Em todos esses atos, constatou-se que a
dignidade da pessoa humana foi duramente vilipendiada.
Dando prosseguimento, fez-se um traçado da evolução dos direitos humanos,
demonstrando que, apesar de não existir ainda a sistematização da teoria de tais direitos à
época da Inquisição, os atos praticados por esta jamais se justificaram. Nessa ocasião,
esboçou-se um paralelo entre o processo penal moderno e o processo inquisitorial. Depois,
elencaram-se os delitos e as penas especificados pelo Santo Ofício.
Dessa forma, conseguiu-se vislumbrar toda a vida cotidiana dos tribunais da
Inquisição, o que, por si só, demonstra que os atos perpetrados por essa instituição não se
justificavam de maneira nenhuma, pois constituíam verdadeiro atentado à dignidade da
pessoa humana, hoje insculpido no Art. 1o, inciso III, da Carta Política de 1.988, como um
dos fundamentos da República Federativa do Brasil.
Sendo assim, a Inquisição era uma entidade jurídica e eclesiástica que corresponde
a uma página negra na História da Igreja e do Direito. Não deve, portanto, ser esquecida, pois
constitui um exemplo a jamais ser seguido. Além disso, a Inquisição deve ser considerada um
alerta, um erro com o qual se deve aprender para que não seja repetido.
Em verdade, após o Santo Ofício, observaram-se situações críticas, que, assim
como os tribunais inquisitoriais, tiveram início com perseguição exacerbada e irracional.
Neste azo, podem-se citar o governo nazista de Hitler e a ditadura militar do Brasil.
Por fim, a conjuntura atual exige que a Inquisição seja relembrada como um sinal
de alerta, conforme já foi demonstrado anteriormente. De fato, após os atentados terroristas
de 11 de setembro de 2.001, contra os Estados Unidos da América, o mundo vivencia um
momento em que as liberdades individuais correm sério risco. Outro aspecto importante diz
respeito à xenofobia em relação aos povos árabes, os quais já vêm sofrendo perseguições e
preconceito, especialmente pelos Estados Unidos e pela Europa. Nesta ocasião, portanto,
todas as nações devem estar atentas para que não se cometam erros semelhantes aos da
Inquisição.
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12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 ROTTERDAM, Erasmo de. Elogio da Loucura. São Paulo: Martin Claret, 2001. p. 83-85.
3 MONTESQUIEU. Do Espírito das Leis. São Paulo: Martin Claret, 2004. p. 481-483.
19 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 5. ed. Rio de Janeiro: Impetus,
2.005, p. 156-157.
13 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
AQUINO, Rubim Santos Leão de; FRANCO, Denize de Azevedo; CAMPOS LOPES, Oscar
Guilherme Pahl. História das Sociedades: das Comunidades Primitivas às Sociedades
Medievais. 14. ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1980.
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 1999.
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 5. ed. Rio de Janeiro: Impetus,
2.005.
NORONHA, E. Magalhães Noronha. Curso de Direito Processual Penal. 3. ed. São Paulo:
Saraiva, 1969.
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MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
ROTTERDAM, Erasmo de. Elogio da Loucura. São Paulo: Martin Claret, 2001.