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Resenha Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (Freud, 1905)

Parte I – As aberrações sexuais

 Pressuposto de uma pulsão sexual (analogia com a pulsão de nutrição – fome).


 Pulsão de nutrição: fome / pulsão sexual: libido (lembrar o conceito de pulsão:
representante psíquico de um estímulo somático).
 Visão do senso-comum sobre a pulsão sexual: “estaria ausente na infância e surgiria
com o processo de maturação da puberdade, exteriorizada nas manifestações de
atração irresistível de um sexo sobre o outro. Seu objeto (da pulsão sexual) seria a
união sexual, ou pelo menos atos que levassem nesta direção”.
 Objeto sexual: a pessoa de quem provém a atração sexual. Alvo sexual: a ação (ou o
objeto) para a qual a pulsão impele. Há inúmeros desvios com relação a ambos.
 Fábula da divisão do ser humano em duas metades (homem e mulher) apresentada no
Banquete de Platão por Aristófanes. Por isso causa surpresa tomar conhecimento de
que há homens cujo objeto sexual não é a mulher, mas outro homem. Trata-se da
inversão que pode ser encontrada em um número considerável de pessoas.

A inversão

 Invertidos absolutos, anfígenos e ocasionais. Alguns aceitam sua inversão como algo
natural enquanto outros a sentem como uma compulsão patológica.
 Variações temporais: traço que pode vir de longa data ou ocorrer próximo à
puberdade. Também pode ocorrer de ser um episódio esporádico no caminho para o
desenvolvimento normal. Também pode se exteriorizar pela primeira vez em época
posterior na vida, sobretudo após uma experiência frustrante com o objeto sexual
“normal”.
 Há uma concepção corrente de que a inversão seria um sinal inato de degeneração
nervosa, embora Freud questione ambas as visões: a de que a inversão seria inata e de
que seria um sinal de degeneração nervosa.
 Caráter adquirido da inversão: 1) Na vida de muitos invertidos é possível demonstrar a
influência de uma impressão sexual prematura; 2) Na vida de muitos outros é possível
indicar influências externas favorecedoras e inibidoras que levaram, em épocas
prematuras, à fixação da inversão (relacionamentos exclusivos com o mesmo sexo,
companheiros de guerra, detenção em presídios, celibato e fraqueza sexual (?)); 3) A
inversão pode ser eliminada pela sugestão hipnótica.
 Vivências da primeira infância são determinantes para a orientação da libido,
embora as mesmas não fiquem preservadas na memória consciente da pessoa, só
sendo relembradas através da Psicanálise.
 Em todos os indivíduos há certo grau de hermafroditismo anatômico (vestígios
anatômicos do outro sexo). A aqui uma clara tentativa de Freud de tecer paralelos e
correlações entre a sexualidade anatômica e biológica e a psíquica.
 Nota acrescentada em 1910: “Em todos os casos investigados, constatamos que os
futuros invertidos atravessaram, nos primeiros anos de sua infância, uma fase muito
intensa, embora breve, de fixação na mulher, em geral a mãe, após cuja superação
identificaram-se com a mulher e tomaram a si mesmos como objeto sexual. Ou seja, a
partir do narcisismo buscaram homens jovens e parecidos com sua própria pessoa, a
quem eles devem amar tal como a mãe os amou”.
 Nota acrescentada em 1915: “A investigação psicanalítica opõe-se com toda firmeza à
tentativa de separar os homossexuais de outros seres humanos como um grupo de
índole singular. Ao estudar outras excitações sexuais além das que se exprimem de
maneira manifesta, ela constata que todos os seres humanos são capazes de fazer uma
escolha de objeto homossexual e que de fato a consumaram no inconsciente”.
 “A conduta sexual definitiva só se decide depois da puberdade e resulta de uma série
de fatores ainda inabarcáveis, de natureza, em parte constitucional e em parte
acidental. Nos tipos invertidos, pode-se quase sempre confirmar o predomínio de
constituições arcaicas e mecanismos psíquicos primitivos. A vigência de escolha
narcísica de objeto e a retenção da importância erótica da zona anal figuram como
suas características essenciais.”
 “Entre as influências acidentais exercidas sobre a escolha do objeto, vimos ser digna de
nota a frustração (intimidação sexual precoce) e observamos também que a presença
de ambos os pais desempenha papel importante. A falta de um pai forte na infância
não raro favorece a inversão”.
 Não há uma ligação natural entre a pulsão sexual e o objeto sexual (normalmente
atrelado ao sexo oposto). O que há entre a pulsão sexual e o objeto sexual é apenas
uma solda. É provável que de início a pulsão sexual seja independente de seu objeto
(narcisismo) e tampouco deve ela sua origem aos encantos deste.

Outros exemplos: animais e pessoas sexualmente imaturas como objetos sexuais

 “É esclarecedor que a natureza da pulsão sexual possa admitir tão ampla variação
quanto aos seus objetos, algo que não vemos acontecer com a fome, inclusive
ultrapassando a barreira das espécies (sexo com animais)”.
 “Por motivos estéticos, seria de bom grado atribuir estas aberrações da pulsão sexual à
loucura, mas isso não é possível. A experiência ensina que não se observam entre os
loucos quaisquer perturbações da pulsão sexual diferentes das encontradas entre os
sadios, bem como em raças e classes distintas. Os loucos apenas exibem tais
aberrações em grau intensificado. Eu opinaria que as moções da vida sexual, mesmo
normalmente, são as menos dominadas pelas atividades anímicas superiores.”
 Nota interessante (1910): Freud diz que na Antiguidade exaltava-se a própria pulsão
enquanto nós menosprezamos a atividade pulsional em si e só permitimos que ela seja
desculpada pelos méritos do objeto.

Desvios com respeito ao alvo sexual

 Alvo sexual “normal”: união dos genitais no ato designado como coito, que leva à
descarga da tensão sexual (orgasmo).
 Ocorre que neste processo “normal” permanecem rudimentos daquilo que, se
desenvolvido, levaria às aberrações descritas como perversões.
 São as relações intermediárias com o objeto tais como: apalpá-lo, contemplá-lo, beijá-
lo, etc.
 Estas atividades são ao mesmo tempo prazerosas em si mesmas e também
intensificam a excitação que deverá culminar no orgasmo.
 Algumas destas transgressões anatômicas: 1) supervalorização do objeto sexual
(paixão, amor)...o mesmo que ocorre na relação entre o hipnotizador e o hipnotizado
quando este investe sua libido na figura de autoridade do médico.Nota interessante de
1920: “Nos casos típicos, falta à mulher uma supervalorização sexual do homem, mas
esta quase nunca se mostra ausente com respeito ao filho que ela dá a luz”. 2) Uso
sexual da mucosa dos lábios e da boca (sexo oral) – Restrição deste alvo sexual
graças ao asco. “Os genitais do sexo oposto também podem gerar asco. É o que ocorre
no caso de todos os histéricos (sobretudo as mulheres)”. 3) Uso sexual do orifício anal:
também é fonte de asco por ser o mesmo orifício por onde saem as fezes. No caso dos
invertidos masculinos é a masturbação recíproca e não o coito anal a prática mais
encontrada.
 Certas partes do corpo como a mucosa anal e bucal são, com frequência, tratadas
como genitais, principalmente em certos estados patológicos.

Substituição imprópria do objeto sexual – fetichismo

 Fetichismo: quando o objeto sexual é substituído por outro que guarda certa relação
com ele, mas que é totalmente impróprio para servir ao alvo sexual normal (pés,
cabelos ou algum objeto inanimado que guarde relação com o a pessoa que este
substitui). Este objeto deve ter condições específicas (determinada cor de cabelo,
certas roupas ou mesmo algum defeito físico). Pré-condição: amedrontamento sexual
precoce que desvia a atenção do alvo sexual normal / conexão simbólica de
pensamentos que quase sempre não são conscientes para a pessoa.
 Ponto de ligação com o normal: supervalorização necessária do objeto sexual, que se
propaga para tudo o que está ligado ao objeto. Por isso, certo grau de fetichismo
constitui parte integrante do enamoramento normal, principalmente quando o alvo é
inatingível.
 Quadro patológico: quando o objeto fetiche coloca-se no lugar do alvo sexual normal
ou quando o mesmo se desprende da pessoa e se torna o único objeto sexual viável.
 Nota acrescentada em 1920: fetiche representa uma lembrança encobridora que
esconde uma fase submersa e esquecida do desenvolvimento sexual precoce. Também
está presente um prazer olfativo coprofílico que ficara perdido com o recalcamento.

Fixações de alvos sexuais provisórios

 Quando a consecução do alvo sexual normal é impedida (impotência, dificuldade de


ter acesso ao objeto sexual), a tendência a se buscar alvos sexuais provisórios ocorre.
 Tocar e olhar:
 Freud diz aqui que é pelo prazer de olhar o objeto sexual que o mesmo se desenvolveu
em termos de beleza. Também a ocultação das partes sexuais através de roupas
estimula a curiosidade em ver. Utiliza o termo sublimação pela primeira vez para
descrever que é possível sublimar este impulso de ver para alvos artísticos mais
elevados.
 Tais ações só se configuram como perversões quando: 1) o prazer de ver se restringe
somente à genitália; 2) quando se liga à superação do asco (Ex.: voyeur das funções
excretórias); 3) quando suplanta o ato sexual em vez de ser preparatório para este.
 Nesta perversão de olhar e ser olhado está presente a forma passiva (ser olhado)e
ativa (olhar). É a força que se opõe ao prazer de ver é a vergonha.
 Sadismo e masoquismo:
 Raízes do sadismo: sexualidade da maioria dos varões exibe uma mescla de agressão,
de inclinação a subjugar. O sadismo corresponde a este componente ativo
autonomizado e exagerado da pulsão sexual.
 Somente o ato de obter satisfação sexual unicamente pela via da sujeição e maus-
tratos merece ser chamada de perversão.
 Masoquismo: condicionamento da satisfação sexual ao padecimento de dor física.
Freud questiona inicialmente se é possível visualizar o masoquismo como um
fenômeno primário. Para ele, o masoquismo seria um sadismo voltado contra a
própria pessoa que tomou o lugar do objeto sexual.
 A forma ativa e passiva de perversão costuma estar presente numa mesma pessoa
(pares de opostos).

Considerações gerais sobre as perversões

 “A experiência quotidiana mostra que a maioria das transgressões, no mínimo as


menos graves, são componentes presentes na vida sexual das pessoas sadias (...)
Justamente no campo da vida sexual é que se tropeça quando se quer traçar uma
fronteira nítida entre o que é mera variação dentro da amplitude do fisiológico e o que
constitui sintoma patológico”.
 O termo perversão carrega ainda hoje um ranço moralista e denegridor.
 “A anormalidade manifesta nas outras relações da vida costumam mostrar
invariavelmente um fundo de conduta sexual anormal”.
 Sintoma patológico: “Quando a perversão não se apresenta ao lado do alvo e do objeto
sexual normal, mas antes suplanta e substitui o normal em todas as circunstâncias, ou
seja, quando há nela as características de exclusividade e fixação”.
 A pulsão sexual tem que lugar contra forças anímicas que funcionam como
resistências, sendo elas, a vergonha e o asco.

A pulsão sexual nos neuróticos

 Freud assevera que todas as psiconeuroses (histeria, neurose obsessiva, neurastenia,


demência precoce e paranoia) baseiam-se em forças pulsionais de cunho sexual.
 “Os sintomas são a atividade sexual dos doentes”
 “Sintomas são um substituto, uma transcrição de uma série de processos, desejos e
aspirações investidas de afeto que foram recalcados, negando-se a eles a descarga
através de uma atividade psíquica passível de consciência”.
 Caráter dos histéricos antes do adoecimento: grau alto de recalcamento sexual que
ultrapassa a medida do normal (asco, moralidade e vergonha) e uma fuga quase
instintiva para o intelecto deixando tais pessoas numa completa ignorância sexual,
mesmo depois de alcançada a maturidade.
 Por outro lado, há um desenvolvimento desmedido da pulsão sexual.
 O adoecimento geralmente ocorre num período da vida em que estão lhe sendo feitas
exigências reais ligadas ao sexo (casamento, por exemplo).

Neurose e perversão

 “A neurose é o negativo das perversões” – Freud explica que o neurótico não recalca
sua sexualidade “normal”, mas suas vivências sexuais perversas.
 “Na vida sexual de todos os neuróticos há moções de inversão, ou seja, da fixação da
libido em pessoas do mesmo sexo”.
 Nota de rodapé importante: “As fantasias claramente conscientes dos perversos (que,
em circunstâncias favoráveis podem se transformar em atos), os temores delirantes
dos paranoicos (projetados em sentido hostil) e as fantasias inconscientes dos
histéricos coincidem”.
 “No inconsciente dos psiconeuróticos é possível encontrar todas as transgressões
anatômicas, particularmente aquelas que reivindicam a boca e ao ânus o papel dos
genitais”.
 As pulsões parciais exercem uma grande influência na formação dos sintomas: a
pulsão de ver e de se exibir, bem como a pulsão cruel em sua forma ativa e passiva. É
por isso que o doente passa a ter uma existência tão sofrida.
 É por esta relação entre a libido e a crueldade que se dá a transformação de amor em
ódio que é característica de grande número de neuroses e até da paranoia em geral.

Esclarecimento sobre a aparente preponderância da sexualidade perversa nas


psiconeuroses

 “Na maioria dos psiconeuróticos, a doença só aparece depois da puberdade, a partir


das solicitações da vida sexual normal. É contra esta que se dirige o recalcamento. Ou
então, a doença se instaura quando a libido fica privada de satisfação pelas vias
normais. A libido se comporta como uma corrente cujo leito principal foi bloqueado. Ela
inunda as vias colaterais”.
 Freud sugere aqui que a perversão nos psiconeuróticos apareceria, além do fator
interno do recalque, graças a fatores externos e sociais (restrição da liberdade,
inacessibilidade do objeto sexual normal, riscos do ato sexual normal).
 “A neurose sempre produz efeitos máximos quando a constituição e a vivência
cooperam no mesmo sentido”.

Indicação do infantilismo na sexualidade


 Moebius: Todos somos um pouco histéricos.
 A predisposição às perversões faz parte da constituição normal de todo indivíduo.
 Entretanto, só a criança demonstra livremente os germes de todas as perversões. Por
isso, Freud diz que os neuróticos preservam o estado infantil de sua sexualidade ou
foram retransportados para ele.

Parte II – A sexualidade infantil

O descaso para com o infantil

 Faz parte da opinião popular que a pulsão sexual esteja ausente na infância e só surja
na puberdade, visão esta responsável pela ignorância sobre as condições básicas da
vida sexual.
 É interessante observar como os estudiosos do assunto ocuparam-se mais da pré-
história representada pela vida dos antepassados (atribuindo influência maior à
hereditariedade) do que da outra fase pré-histórica que se dá na existência individual
da pessoa, a saber, a infância.
 As únicas referências à sexualidade infantil (masturbação, ereções, etc) são tratadas
como casos excepcionais ou como casos de depravação precoce (Stanley Hall
modificou este quadro com o seu livro de 1904).
 Nenhum autor reconheceu a normatividade da pulsão sexual na infância.

Amnésia Infantil

 Esta omissão se deve, em grande parte, ao fenômeno da amnésia infantil que faz
encobrir na maioria das pessoas as lembranças dos primeiros sete ou oito anos de
vida. Processo semelhante à amnésia histérica.
 Este esquecimento não é fortuito: esquecemos um momento da vida em que
reagíamos com vivacidade, sabíamos expressar dor e alegria de maneira humana, bem
como ciúmes, amor e outras paixões que nos agitavam violentamente.
 As mesmas impressões por nós esquecidas deixaram profundos rastros em nossa
vida anímica e se tornaram determinantes para todo o desenvolvimento posterior.
 Sem a amnésia infantil não haveria amnésia histérica.

O período de latência sexual na infância e suas rupturas

 O recém-nascido traz consigo germes de moções sexuais que continuam a se


desenvolver por um tempo, mas sofrem supressão progressiva, que pode ser rompida
por avanços do desenvolvimento ou por peculiaridades individuais. A vida sexual da
criança costuma ser acessível à observação por volta de três ou quatro anos de
idade.

As inibições sexuais
 Neste período de latência total ou parcial forças anímicas surgem como entraves no
caminho da pulsão sexual como uma espécie de diques que irão conter a pulsão
(surgem na forma de asco, vergonha e ideais estéticos e morais). Nas crianças
civilizadas têm-se a impressão de que estes diques são obra da educação, mas na
realidade este desenvolvimento é organicamente determinado e fixado pela
hereditariedade.
 Este afluxo sexual não cessa na latência, mas sua energia é desviada para outros fins,
particularmente aqueles ligados a realizações culturais. Este processo se chama
sublimação.
 Para Freud estas moções sexuais da infância seriam inutilizáveis porque não servem à
função reprodutora. Além disso, seriam perversas em si porque partiriam de zonas
erógenas. Por não serem em sua grande maioria satisfeitas levam a sensações
desprazerosas, algo que despertaria ainda mais as moções reativas que irão lhe conter
(asco, vergonha, moral).
 Rupturas do período de latência: O desenvolvimento sexual de cada um
frequentemente se desvia em algum ponto do ideal educativo. Assim, vez por outra
irrompe um fragmento da sexualidade que se furtou à sublimação ou se preserva
alguma atividade sexual ao longo de todo o período de latência. Os educadores,
mesmo sem saber disso, lutam para que se construam forças defensivas contrárias à
sexualidade e que a atividade sexual torna uma criança ineducável.

As manifestações da sexualidade infantil

O chuchar

 Sugar com deleite – consiste na repetição rítmica de um contato de sucção com a boca
do qual está excluído qualquer propósito de nutrição. Não raro, combina-se com a
fricção de alguma parte sensível do corpo, como os seios ou a genitália externa. Assim,
muitas crianças passam da sucção à masturbação.
 Freud nomeia este prazer de sugar de auto-erótico já que a pulsão satisfaz-se no
próprio corpo.
 Entretanto, ele salienta que o bebê busca no chuchar um prazer já vivenciado e agora
relembrado que é o prazer de sugar o seio.
 Portanto, a pulsão sexual apóia-se primeiramente na função alimentar e só depois se
torna independente desta. Esta dissociação deve ocorrer principalmente com o
aparecimento dos dentes.
 Desta forma, a busca do prazer auto-erótico é feita porque isso lhe é mais cômodo,
tornando-a independente do mundo externo que ela ainda não domina.
 Se esta zona erógena for constitucionalmente reforçada tais crianças se tornarão
ávidas apreciadoras de beijos e terão um poderoso motivo para beber e fumar. Caso
sobrevenha o recalque, sentirão nojo da comida e terão vômitos histéricos (distúrbios
alimentares).
 Três características das manifestações sexuais infantis: 1) nasce de uma função
somática vital; 2) ainda não conhece um objeto sexual (é auto-erótica); 3) seu alvo
sexual se acha sob o domínio de uma zona erógena.
Zona erógena

 Parte da pele ou da mucosa em que certos tipos de estimulação provocam sensação


prazerosa. A qualidade do estímulo é mais importante do que a zona erógena, embora
existam zonas que são predestinadas a serem erógenas (boca, ânus e genitais).
 As zonas erógenas são passíveis de serem deslocadas. Assim, na sintomatologia
histérica, pelo recalcamento da zona genital, outras zonas erógenas funcionam
exatamente como os genitais.

O alvo sexual infantil

 Consiste em provocar satisfação de alguma zona erógena que fora previamente


experimentada como satisfatória, algo que a própria natureza dá conta de estimular.
Esta necessidade de repetir a experiência satisfatória transparece de duas maneiras na
criança pequena: ela sente-se tensionada e experimenta um grande desprazer caso até
obter a satisfação e sente uma espécie de prurido ou estimulação centralmente
condicionada na zona erógena em questão.

Atividade da zona anal

 Da mesma forma que na zona labial, a zona anal comparece na sexualidade apoiada
por outra função corporal – a de excreção. Daí deriva os distúrbios intestinais tão
comuns na infância e mesmo na personalidade neurótica. Ex.: Catarros intestinais que
deixam a criança “nervosa”, hemorroidas nos estados neuróticos, etc.
 A criança tira proveito desta zona erógena retendo as fezes até que sua acumulação
provoque violentas contrações musculares e, ao passarem pelo ânus, exerçam grande
estimulação na mucosa anal. Experimenta-se com isso, ao mesmo tempo, uma
sensação de volúpia junto de sensações dolorosas.
 A criança também trata das fezes como parte do seu próprio corpo e como o primeiro
presente dado aos pais ao mesmo tempo em que as fezes também podem ser sentidas
como ataques.
 Mais tarde, a criança experimentará as fezes como equivalendo à produção de um
bebê que, segundo esta teoria sexual infantil, é ingerido pela comida e nasce pelo
intestino.
 Também há a estimulação masturbatória com a ajuda do dedo provocada por
comichões e coceiras, algo muito presente em crianças mais velhas.

Atividade da zona genital

 Esta zona está inicialmente ligada à micção (glande e clitóris).


 É inevitável a excitação destas zonas seja pela sua posição anatômica, pelas secreções
em que estão banhadas, pela lavagem e fricção advindas do cuidado com o corpo e
por certas excitações acidentais (passagem de vermes do ânus para a vagina, na
menina).
 Ela pode ser estimulada tanto pela fricção manual quanto pela pressão
(frequentemente provocada pelas meninas com a contração das coxas).
 Três fases da masturbação infantil:

 1) período de lactância: dura pouco e dificilmente é percebido pelo cuidador. Seu


prosseguimento ininterrupto é sinal de desvio de desenvolvimento;
 2) Redespertar da masturbação da lactância: antes do quarto ano de vida. Esta
segunda fase deixa marcas profundas no inconsciente e deriva daí a sintomatologia
das neuroses, caso este período sexual tenha sido esquecido e deslocado. Pode
surgir na forma de poluções e em ligação direta com o sistema urinário.
No caso de doenças neuróticas, como uma causa externa para o reaparecimento ou
não interrupção desta atividade sexual têm-se a influência da sedução que pode ser
exercida por um adulto ou por outra criança, o que obriga o indivíduo a renovar o
prazer sentido através do onanismo. Freud faz uma ressalva importante aqui: que
ele descobriu mais tarde que alguns indivíduos que passaram pela mesma influência
da sedução permaneceram normais enquanto outros se tornaram neuróticos.
 3) Onanismo da puberdade.

 Para ele, a criança que fora seduzida corre o risco de se tornar perversa polimorfa,
pois, todas as crianças trazem a disposição para tal apresentando pouca resistência, já
que, conforme a idade em que isso ocorre, os diques contra os excessos sexuais
(moral, vergonha e asco) ainda não foram erigidos.
 As pulsões de olhar, de exibir e a crueldade aparecem também neste período com
certa independência das zonas erógenas e mais tarde entram em estreita ligação com
a vida genital.
 A estas formas de obtenção de prazer (oral, anal, pulsão de olhar, de exibir,
crueldade em sua forma ativa e passiva) Freud deu o nome deorganização pré-
genital. Por isso, as crianças que mostram extrema crueldade com animais ou colegas
estão sujeitas a uma atividade sexual intensa e precoce advinda das zonas erógenas A
ausência da compaixão traz o risco de que esta associação entre a crueldade e as
zonas erógenas se torne indissolúvel na vida.

A investigação sexual infantil

 Entre três e cinco anos não ocorre somente a primeira florescência da sexualidade,
mas também a pulsão de saber se intensifica (amplamente intensificada pelos
problemas sexuais e até mesmo despertada por eles).
 Enigma da Esfinge: a primeira questão prática que ocupa a mente das crianças não é a
diferença entre os sexos, mas de onde vêm os bebês.
Complexo de Castração e inveja do pênis

 O problema da diferença entre os sexos nesta primeira etapa é resolvido da seguinte


maneira: o menino presume que todas as pessoas (inclusive as meninas) tenham uma
genitália igual à sua. Esta observação é abandonada somente após sérias lutas internas
mediante o complexo de castração (medo intenso de perder o pênis).
 Já a menina está pronta a reconhecer a presença do pênis no menino e sua ausência
nela, sentimentos que culminam na inveja do pênis e no desejo de ser um menino.

Teorias do nascimento

 Embora não seja acessível à consciência de muitas pessoas, todos os pré-púberes já se


interessaram muito pelo problema de onde vêm os bebês.
 Algumas das teorias fundamentais são: que o bebê sairia do seio ou se recortaria do
ventre ou ainda sairia pelo umbigo. Também há a teoria de que os bebês nascem pelo
intestino, como as fezes.
 Grande parte das crianças também constrói a teoria de que a relação sexual é um ato
sádico e cruel infligido pelo homem à mulher.
 O que a criança ainda não sabe neste momento é o sobre o papel fecundante do
sêmen e sobre a existência do orifício vaginal.

Fases do desenvolvimento da organização sexual

 Fase auto-erótica em que o objeto da libido se encontra no próprio corpo. Nesta, as


pulsões parciais estão inteiramente desvinculadas e agem independentemente uma
das outras na obtenção do prazer.
 Freud chamou estas pulsões parciais de organização pré-genital, pelo fato de que nelas
as zonas genitais ainda não assumiram papel preponderante.
 As principais fases de organização pré-genital são: 1) fase oral canibalesca (desejo de
incorporação do objeto, mecanismo implicado futuramente na identificação); 2) fase
sádico-anal retentiva e expulsiva (ainda não há a concepção de masculino e
feminino, mas sim de ativo e passivo). Nela, a atividade é produzida pela pulsão de
dominação através da musculatura do corpo e como órgão sexual investido têm-se a
mucosa do intestino. Nesta fase já se apreende o objeto alheio, mas a sexualidade
ainda não está subordinada à função reprodutora.

Ambivalência

 Neste primeiro tempo de escolha objetal as aspirações sexuais já se voltam para uma
única pessoa. A única diferença com a etapa genital propriamente dita é que aqui a
sexualidade ainda está a serviço das pulsões parciais, sendo que o primado da
sexualidade genital só será conseguido na próxima etapa (puberdade).

Os dois tempos de escolha objetal

 Entre dois e cinco anos – fase fálica (primeiro tempo)


 Puberdade – fase genital (determina a configuração definitiva da vida sexual) (segundo
tempo)
 A escolha de objeto da puberdade tem que renunciar aos objetos infantis e
recomeçar como uma corrente sensual. Disso conclui-se que a raiz do amor sensual e
do amor terno pelos pais é a mesma. Pode ocorrer que o sujeito não consiga
estabelecer esta confluência da corrente sensual e terna em direção ao mesmo objeto
(pelo risco de concretizar um desejo infantil, sempre incestuoso) e por isso não pode
obter as duas formas de satisfação num mesmo objeto.

Fontes de (estimulação) da sexualidade infantil

 Regiões da pele (a pele como um todo deve ser considerada uma zona erógena)
 Excitações (agitações) mecânicas do corpo. Freud cita aqui o prazer sentido por uma
criança ao ser jogada para o alto pelo seu pai, bem como o embalo rítmico de uma
criança, capaz de fazê-la adormecer e o sacolejar de trens e carruagens.
 Atividade muscular intensa. Segundo Freud, toda criança tira desta necessidade (de
agitação muscular intensa) o máximo prazer, embora ele não saiba ao certo se a
agitação muscular leva à excitação sexual ou se é uma forma de prazer sensual em si
mesma. Cita o caso de crianças e adolescentes que vivenciam os primeiros sinais de
excitação durante brigas e lutas com seus oponentes. Para ele, esta relação entre
atividade muscular e pulsão sexual explicaria uma das raízes da pulsão sádica.
 Processos afetivos: excitações assustadoras, medo, angústia ou horror que, segundo
ele, tem um efeito sexualmente excitante. Aqui há um elemento importante de
diálogo com a pedagogia, pois, segundo ele, muitos dos problemas comportamentais
dos escolares se devem à emergência de sua sexualidade. Da mesma forma, segundo
ele, a dor, quando excluído o risco maior à vida, também tem um efeito erógeno no
corpo (uma das raízes da pulsão sadomasoquista ou o masoquismo erógeno).
 Trabalho intelectual: pela via sublimatória, segundo ele, a atividade de se concentrar
num trabalho intelectual produz em muitas pessoas, jovens e adultas, uma excitação
sexual concomitante.

 Freud conclui este capítulo argumentando que, segundo ele, não há nada que ocorra
no organismo que não forneça componentes para a excitação da pulsão sexual, muito
embora esta estimulação dependa da qualidade do estímulo e de sua intensidade.
Segundo ele, o próprio desenvolvimento do indivíduo lança mão de formas de colocar
a sua sexualidade em marcha, embora a elucidação deste processo ainda necessite de
maiores esclarecimentos.

 Estas diferentes fontes de excitação sexual estão presentes em todos os indivíduos,


embora não tenha a mesma intensidade em todas as pessoas.

 Vias de influência recíproca: Para ele, se a fonte da excitação sexual está ligada à
outras funções fisiológicas é perfeitamente possível que o caminho inverso também
seja verdadeiro. Assim, quando as funções erógenas são perturbadas, distúrbios da
nutrição podem surgir. Da mesma forma, o estado de excitação sexual pode
influenciar a atenção dirigível a algo. Por isso, para ele, grande parte da
sintomatologia das neuroses derivada de perturbações nos processos sexuais, se
expressa em perturbações de outras funções não necessariamente sexuais.

 É também por esta “via de mão dupla” que se explica a possibilidade de sublimar a
sexualidade através do exercício de atividades não sexuais.

Parte III – As transformações da puberdade

 É neste momento que a vida sexual infantil encontra sua configuração normal
definitiva.

Fase fálica Fase genital

Pulsão auto-erótica Pulsão encontra o objeto

Zonas erógenas agindo de forma Zonas erógenas se subordinam ao


independente uma da outra e buscando prazer genital (embora não deixem de
um prazer sexual exclusivo existir no pré-prazer)

Corrente terna e sensual devem


Corrente terna pelos objetos infantis convergir e se dirigir para o mesmo
(edípicos) objeto (externo ao núcleo familiar)

Obtenção de prazer através das zonas Descarga dos produtos sexuais (clímax
erógenas sexual) a serviço da função reprodutora

Primado das zonas genitais e o pré-prazer

 Com o desenvolvimento pleno dos órgãos sexuais externos e internos (que


permitem a reprodução), o aparelho sexual será acionado por estímulos externos,
internos e pela vida anímica (fantasias).
 Este acionamento será iniciado pela excitação sexual (estado de tensão que leva a
alterações nos genitais – ereção do pênis e umidificação da vagina).
 Tensão sexual: Freud deseja saber aqui como a satisfação da tensão sexual pelas
“preliminares” ao mesmo tempo traz satisfação e aumenta a tensão: ”por
exemplo, quando se estimula por contato, a pele do seio de uma mulher. Esse
contato logo provoca uma sensação prazerosa, mas, ao mesmo tempo, presta-se
como nenhum outro para despertar uma excitação sexual que exige um aumento
de prazer”.
 Mecanismo do pré-prazer:“Elas (zonas erógenas) são usadas para proporcionar
um aumento de prazer que leva a um acréscimo de tensão que produz a energia
motora necessária para levar a cabo o ato sexual. A penúltima etapa desse ato é a
estimulação da glande peniana pelo objeto mais adequado para isso (a mucosa da
vagina). Do prazer gerado por esta excitação, obtém-se, agora por via reflexa, a
energia motora requerida para a expulsão das substâncias sexuais (orgasmo). Este
último prazer é o de intensidade mais elevada e difere dos anteriores por seu
mecanismo”.
 “O pré-prazer é o mesmo que pudera ser produzido, embora em menor escala, pela
pulsão sexual infantil; o prazer final é novo e, portanto, está ligado à condições que
só surgem na puberdade”.

Os perigos do pré-prazer

 “(...) este perigo surge quando o pré-prazer se revela demasiadamente grande e


pequena demais sua contribuição para a tensão. Assim, todo o caminho se encurta e a
ação preparatória correspondente toma o lugar do alvo sexual normal. A experiência
nos ensina que a precondição dessa eventualidade perniciosa é que, já na vida infantil,
a zona erógena em questão ou a pulsão parcial haja contribuído numa medida
incomum para a obtenção de prazer”. “É dessa natureza o ato de muitas perversões,
que consistem numa demora nos atos preparatórios do processo sexual”.

O problema da excitação sexual

 Freud tenta ao longo destes pequenos capítulos encontrar as origens fisiológicas da


excitação sexual (papel das substâncias sexuais, particularmente do sêmen no
mecanismo da excitação sexual). Sua tese é a de que, na medida em que as
substâncias sexuais masculinas pressionam o canal seminal a tensão sexual aumenta.
Entretanto, segundo ele, esta teoria deixa sem explicação a excitação sexual das
mulheres e dos homens castrados. (papel das substâncias sexuais, apreciação dos
órgãos sexuais internos, teoria química).
 Teoria da libido: aqui Freud retoma sua identidade de psicólogo / psicanalista e volta a
se interessar pelos processos psíquicos que estão envolvidos na excitação sexual.
Segundo ele, o que faz uma pessoa excitar-se e buscar o objeto é o seu investimento
libidinal neste objeto. Segundo ele, a libido (pulsão sexual - Eros) é uma energia móvel
e dinâmica que pode tanto estar investida nos objetos (libido objetal) quanto no
próprio ego (libido narcísica). Liga as perturbações psicóticas à libido narcísica.

Diferenciações entre o homem e a mulher

 Puberdade – separação nítida entre os caracteres masculinos e femininos.


 Do ponto de vista psíquico, Freud faz equivalências entre o masculino e o ativo e o
feminino e o passivo, embora meninos e meninas tenha uma bissexualidade (aspectos
masculinos e femininos).
 A sexualidade das meninas na infância tem um caráter inteiramente masculino.“Se
soubéssemos dar aos conceitos de masculino e feminino um conteúdo mais preciso,
seria possível defender a alegação de que a libido é regular e normativamente de
natureza masculina, quer ocorra no homem ou na mulher”.

Zonas dominantes no homem e na mulher


 Zona erógena dominante na menina – clitóris (equivalente ao pênis no menino). Todas
as experiências masturbatórias infantis da menina são clitorianas.
 Para transformar-se em mulher, a menina precisa “abandonar” o prazer clitoriano, ou
seja, exatamente recalcar uma parcela de sua sexualidade masculina, e transferir esta
excitação para a vagina.
 “A anestesia vaginal (frigidez) pode se tornar permanente quando a zona clitoriana se
recusa a abrir mão de sua excitabilidade, o que é preparado justamente por sua
atividade intensa na vida infantil. Sabe-se que, muitas vezes, a anestesia da mulher é
apenas aparente e localizada. Elas ficam anestesiadas na vagina, porém de modo
algum são incapazes de excitação no clitóris ou mesmo em outras zonas”. Esta
transferência de sua sexualidade masculina (ativa) para sua sexualidade feminina
(passiva) é inerente à natureza da feminilidade. Dito de outro modo, implica na
submissão da mulher à condição da castração, condição esta a que meninos e meninas
devem se submeter.

O objeto sexual na fase da amamentação

 Freud discute aqui que o modelo de relação com os objetos sexuais na puberdade e na
vida adulta estão assentados na relação originária com o seio. É a ternura exercida
pela mãe um dos principais motores para o posterior amor sexual.
 “O trato da criança com a pessoa que a assiste é, para ela, uma fonte incessante de
excitação e satisfação sexual vindas das zonas erógenas, ainda mais porque a mãe
contempla a criança com os sentimentos derivados de sua própria vida sexual”.
 “É verdade que o excesso de ternura por parte dos pais torna-se pernicioso na medida
em que acelera a maturidade sexual e também, mimando a criança, torna-a incapaz de
renunciar temporariamente ao amor em épocas posteriores da vida ou de se contentar
com menor dose dele. Um dos melhores prenúncios de neurose posterior é quando a
criança se mostra insaciável em sua demanda de ternura dos pais. Por outro lado, são
os pais neuropáticos que em geral tendem a exibir uma ternura desmedida”.

Angústia infantil

 Angústia na infância: falta que a criança sente da pessoa amada, por isso se angustiam
diante de qualquer estranho. Tendem a um estado de angústia intenso crianças com
uma pulsão sexual desmedida ou prematuramente desenvolvida, ou que se tornou
muito exigente em função dos mimos excessivos.
 Libido – angústia: “A criança transforma sua libido em angústia quando não pode
satisfazê-la, assim como o adulto neurotizado pela libido insatisfeita comporta-se
como uma criança em sua angústia: teme ficar sozinho e age por meio das medidas
mais pueris”.

A barreira do incesto
 Quando a ternura dos pais pelo filho é bem sucedida em evitar (ou dosar) que a pulsão
seja prematuramente despertada nele, ele pode cumprir sua tarefa de orientar o filho,
na maturidade, em sua escolha de objeto sexual.
 Mas, porque não escolher o caminho mais curto, ou seja, escolher como objeto sexual
as mesmas pessoas a quem se ama desde a infância? “O respeito à barreira do incesto
é uma exigência cultural da sociedade que tem que se defender da devastação pela
família dos interesses que lhe são necessários para o estabelecimento de unidades
sociais superiores”.
 O jovem neste momento vivenciará fantasias incestuosas intensas, agora mais
comumente diferenciadas em atração pelo sexo oposto. Diante do repúdio a estas
fantasias, o jovem deverá realizar uma das mais significativas e dolorosas experiências
do período da puberdade: o desligamento da autoridade dos pais, única medida capaz
de trazer o progresso da cultura, entre a nova e a velha geração.
 Entretanto, um grande número de indivíduos fica retido aí ou só conseguem realizar
esta passagem de maneira muito incompleta. Freud cita aqui o exemplo de moças que
se casam, mas não conseguem entregar ao marido o que lhe é devido (ou seja, uma
esposa adulta) e permanecem ainda muito vinculadas aos pais.
 “As perturbações mais profundas do desenvolvimento psicossexual carregam, de
maneira inequívoca, escolhas objetais incestuosas, embora tais intenções permaneçam
inconscientes pelo repúdio à sexualidade que tais pessoas têm”.
 “Necessidade exagerada de ternura e horror desmedido às exigências reais da vida
sexual. Agarram-se por toda a vida à sua inclinação infantil e voltam sua libido para
pais ou irmãos”.

As repercussões da escolha objetal infantil

 Freud destaca aqui que nenhum ser humano escapa inteiramente da influência da
fixação incestuosa em suas escolhas amorosas adultas.
 “O homem busca a imagem mnêmica da mãe e por isso esta, quando ainda viva, se
opõe a tal reedição dela mesma, tratando por isso a nora com hostilidade”.

Prevenção da inversão (homossexualidade)

 “Em muitos histéricos, vê-se que a ausência precoce de um dos pais (por morte,
divórcio ou separação) em função da qual o remanescente absorveu a totalidade do
amor da criança, foi o determinante do sexo da pessoa posteriormente escolhida como
objeto sexual, com isso possibilitando a inversão permanente”.

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