A inversão
Invertidos absolutos, anfígenos e ocasionais. Alguns aceitam sua inversão como algo
natural enquanto outros a sentem como uma compulsão patológica.
Variações temporais: traço que pode vir de longa data ou ocorrer próximo à
puberdade. Também pode ocorrer de ser um episódio esporádico no caminho para o
desenvolvimento normal. Também pode se exteriorizar pela primeira vez em época
posterior na vida, sobretudo após uma experiência frustrante com o objeto sexual
“normal”.
Há uma concepção corrente de que a inversão seria um sinal inato de degeneração
nervosa, embora Freud questione ambas as visões: a de que a inversão seria inata e de
que seria um sinal de degeneração nervosa.
Caráter adquirido da inversão: 1) Na vida de muitos invertidos é possível demonstrar a
influência de uma impressão sexual prematura; 2) Na vida de muitos outros é possível
indicar influências externas favorecedoras e inibidoras que levaram, em épocas
prematuras, à fixação da inversão (relacionamentos exclusivos com o mesmo sexo,
companheiros de guerra, detenção em presídios, celibato e fraqueza sexual (?)); 3) A
inversão pode ser eliminada pela sugestão hipnótica.
Vivências da primeira infância são determinantes para a orientação da libido,
embora as mesmas não fiquem preservadas na memória consciente da pessoa, só
sendo relembradas através da Psicanálise.
Em todos os indivíduos há certo grau de hermafroditismo anatômico (vestígios
anatômicos do outro sexo). A aqui uma clara tentativa de Freud de tecer paralelos e
correlações entre a sexualidade anatômica e biológica e a psíquica.
Nota acrescentada em 1910: “Em todos os casos investigados, constatamos que os
futuros invertidos atravessaram, nos primeiros anos de sua infância, uma fase muito
intensa, embora breve, de fixação na mulher, em geral a mãe, após cuja superação
identificaram-se com a mulher e tomaram a si mesmos como objeto sexual. Ou seja, a
partir do narcisismo buscaram homens jovens e parecidos com sua própria pessoa, a
quem eles devem amar tal como a mãe os amou”.
Nota acrescentada em 1915: “A investigação psicanalítica opõe-se com toda firmeza à
tentativa de separar os homossexuais de outros seres humanos como um grupo de
índole singular. Ao estudar outras excitações sexuais além das que se exprimem de
maneira manifesta, ela constata que todos os seres humanos são capazes de fazer uma
escolha de objeto homossexual e que de fato a consumaram no inconsciente”.
“A conduta sexual definitiva só se decide depois da puberdade e resulta de uma série
de fatores ainda inabarcáveis, de natureza, em parte constitucional e em parte
acidental. Nos tipos invertidos, pode-se quase sempre confirmar o predomínio de
constituições arcaicas e mecanismos psíquicos primitivos. A vigência de escolha
narcísica de objeto e a retenção da importância erótica da zona anal figuram como
suas características essenciais.”
“Entre as influências acidentais exercidas sobre a escolha do objeto, vimos ser digna de
nota a frustração (intimidação sexual precoce) e observamos também que a presença
de ambos os pais desempenha papel importante. A falta de um pai forte na infância
não raro favorece a inversão”.
Não há uma ligação natural entre a pulsão sexual e o objeto sexual (normalmente
atrelado ao sexo oposto). O que há entre a pulsão sexual e o objeto sexual é apenas
uma solda. É provável que de início a pulsão sexual seja independente de seu objeto
(narcisismo) e tampouco deve ela sua origem aos encantos deste.
“É esclarecedor que a natureza da pulsão sexual possa admitir tão ampla variação
quanto aos seus objetos, algo que não vemos acontecer com a fome, inclusive
ultrapassando a barreira das espécies (sexo com animais)”.
“Por motivos estéticos, seria de bom grado atribuir estas aberrações da pulsão sexual à
loucura, mas isso não é possível. A experiência ensina que não se observam entre os
loucos quaisquer perturbações da pulsão sexual diferentes das encontradas entre os
sadios, bem como em raças e classes distintas. Os loucos apenas exibem tais
aberrações em grau intensificado. Eu opinaria que as moções da vida sexual, mesmo
normalmente, são as menos dominadas pelas atividades anímicas superiores.”
Nota interessante (1910): Freud diz que na Antiguidade exaltava-se a própria pulsão
enquanto nós menosprezamos a atividade pulsional em si e só permitimos que ela seja
desculpada pelos méritos do objeto.
Alvo sexual “normal”: união dos genitais no ato designado como coito, que leva à
descarga da tensão sexual (orgasmo).
Ocorre que neste processo “normal” permanecem rudimentos daquilo que, se
desenvolvido, levaria às aberrações descritas como perversões.
São as relações intermediárias com o objeto tais como: apalpá-lo, contemplá-lo, beijá-
lo, etc.
Estas atividades são ao mesmo tempo prazerosas em si mesmas e também
intensificam a excitação que deverá culminar no orgasmo.
Algumas destas transgressões anatômicas: 1) supervalorização do objeto sexual
(paixão, amor)...o mesmo que ocorre na relação entre o hipnotizador e o hipnotizado
quando este investe sua libido na figura de autoridade do médico.Nota interessante de
1920: “Nos casos típicos, falta à mulher uma supervalorização sexual do homem, mas
esta quase nunca se mostra ausente com respeito ao filho que ela dá a luz”. 2) Uso
sexual da mucosa dos lábios e da boca (sexo oral) – Restrição deste alvo sexual
graças ao asco. “Os genitais do sexo oposto também podem gerar asco. É o que ocorre
no caso de todos os histéricos (sobretudo as mulheres)”. 3) Uso sexual do orifício anal:
também é fonte de asco por ser o mesmo orifício por onde saem as fezes. No caso dos
invertidos masculinos é a masturbação recíproca e não o coito anal a prática mais
encontrada.
Certas partes do corpo como a mucosa anal e bucal são, com frequência, tratadas
como genitais, principalmente em certos estados patológicos.
Fetichismo: quando o objeto sexual é substituído por outro que guarda certa relação
com ele, mas que é totalmente impróprio para servir ao alvo sexual normal (pés,
cabelos ou algum objeto inanimado que guarde relação com o a pessoa que este
substitui). Este objeto deve ter condições específicas (determinada cor de cabelo,
certas roupas ou mesmo algum defeito físico). Pré-condição: amedrontamento sexual
precoce que desvia a atenção do alvo sexual normal / conexão simbólica de
pensamentos que quase sempre não são conscientes para a pessoa.
Ponto de ligação com o normal: supervalorização necessária do objeto sexual, que se
propaga para tudo o que está ligado ao objeto. Por isso, certo grau de fetichismo
constitui parte integrante do enamoramento normal, principalmente quando o alvo é
inatingível.
Quadro patológico: quando o objeto fetiche coloca-se no lugar do alvo sexual normal
ou quando o mesmo se desprende da pessoa e se torna o único objeto sexual viável.
Nota acrescentada em 1920: fetiche representa uma lembrança encobridora que
esconde uma fase submersa e esquecida do desenvolvimento sexual precoce. Também
está presente um prazer olfativo coprofílico que ficara perdido com o recalcamento.
Neurose e perversão
“A neurose é o negativo das perversões” – Freud explica que o neurótico não recalca
sua sexualidade “normal”, mas suas vivências sexuais perversas.
“Na vida sexual de todos os neuróticos há moções de inversão, ou seja, da fixação da
libido em pessoas do mesmo sexo”.
Nota de rodapé importante: “As fantasias claramente conscientes dos perversos (que,
em circunstâncias favoráveis podem se transformar em atos), os temores delirantes
dos paranoicos (projetados em sentido hostil) e as fantasias inconscientes dos
histéricos coincidem”.
“No inconsciente dos psiconeuróticos é possível encontrar todas as transgressões
anatômicas, particularmente aquelas que reivindicam a boca e ao ânus o papel dos
genitais”.
As pulsões parciais exercem uma grande influência na formação dos sintomas: a
pulsão de ver e de se exibir, bem como a pulsão cruel em sua forma ativa e passiva. É
por isso que o doente passa a ter uma existência tão sofrida.
É por esta relação entre a libido e a crueldade que se dá a transformação de amor em
ódio que é característica de grande número de neuroses e até da paranoia em geral.
Faz parte da opinião popular que a pulsão sexual esteja ausente na infância e só surja
na puberdade, visão esta responsável pela ignorância sobre as condições básicas da
vida sexual.
É interessante observar como os estudiosos do assunto ocuparam-se mais da pré-
história representada pela vida dos antepassados (atribuindo influência maior à
hereditariedade) do que da outra fase pré-histórica que se dá na existência individual
da pessoa, a saber, a infância.
As únicas referências à sexualidade infantil (masturbação, ereções, etc) são tratadas
como casos excepcionais ou como casos de depravação precoce (Stanley Hall
modificou este quadro com o seu livro de 1904).
Nenhum autor reconheceu a normatividade da pulsão sexual na infância.
Amnésia Infantil
Esta omissão se deve, em grande parte, ao fenômeno da amnésia infantil que faz
encobrir na maioria das pessoas as lembranças dos primeiros sete ou oito anos de
vida. Processo semelhante à amnésia histérica.
Este esquecimento não é fortuito: esquecemos um momento da vida em que
reagíamos com vivacidade, sabíamos expressar dor e alegria de maneira humana, bem
como ciúmes, amor e outras paixões que nos agitavam violentamente.
As mesmas impressões por nós esquecidas deixaram profundos rastros em nossa
vida anímica e se tornaram determinantes para todo o desenvolvimento posterior.
Sem a amnésia infantil não haveria amnésia histérica.
As inibições sexuais
Neste período de latência total ou parcial forças anímicas surgem como entraves no
caminho da pulsão sexual como uma espécie de diques que irão conter a pulsão
(surgem na forma de asco, vergonha e ideais estéticos e morais). Nas crianças
civilizadas têm-se a impressão de que estes diques são obra da educação, mas na
realidade este desenvolvimento é organicamente determinado e fixado pela
hereditariedade.
Este afluxo sexual não cessa na latência, mas sua energia é desviada para outros fins,
particularmente aqueles ligados a realizações culturais. Este processo se chama
sublimação.
Para Freud estas moções sexuais da infância seriam inutilizáveis porque não servem à
função reprodutora. Além disso, seriam perversas em si porque partiriam de zonas
erógenas. Por não serem em sua grande maioria satisfeitas levam a sensações
desprazerosas, algo que despertaria ainda mais as moções reativas que irão lhe conter
(asco, vergonha, moral).
Rupturas do período de latência: O desenvolvimento sexual de cada um
frequentemente se desvia em algum ponto do ideal educativo. Assim, vez por outra
irrompe um fragmento da sexualidade que se furtou à sublimação ou se preserva
alguma atividade sexual ao longo de todo o período de latência. Os educadores,
mesmo sem saber disso, lutam para que se construam forças defensivas contrárias à
sexualidade e que a atividade sexual torna uma criança ineducável.
O chuchar
Sugar com deleite – consiste na repetição rítmica de um contato de sucção com a boca
do qual está excluído qualquer propósito de nutrição. Não raro, combina-se com a
fricção de alguma parte sensível do corpo, como os seios ou a genitália externa. Assim,
muitas crianças passam da sucção à masturbação.
Freud nomeia este prazer de sugar de auto-erótico já que a pulsão satisfaz-se no
próprio corpo.
Entretanto, ele salienta que o bebê busca no chuchar um prazer já vivenciado e agora
relembrado que é o prazer de sugar o seio.
Portanto, a pulsão sexual apóia-se primeiramente na função alimentar e só depois se
torna independente desta. Esta dissociação deve ocorrer principalmente com o
aparecimento dos dentes.
Desta forma, a busca do prazer auto-erótico é feita porque isso lhe é mais cômodo,
tornando-a independente do mundo externo que ela ainda não domina.
Se esta zona erógena for constitucionalmente reforçada tais crianças se tornarão
ávidas apreciadoras de beijos e terão um poderoso motivo para beber e fumar. Caso
sobrevenha o recalque, sentirão nojo da comida e terão vômitos histéricos (distúrbios
alimentares).
Três características das manifestações sexuais infantis: 1) nasce de uma função
somática vital; 2) ainda não conhece um objeto sexual (é auto-erótica); 3) seu alvo
sexual se acha sob o domínio de uma zona erógena.
Zona erógena
Da mesma forma que na zona labial, a zona anal comparece na sexualidade apoiada
por outra função corporal – a de excreção. Daí deriva os distúrbios intestinais tão
comuns na infância e mesmo na personalidade neurótica. Ex.: Catarros intestinais que
deixam a criança “nervosa”, hemorroidas nos estados neuróticos, etc.
A criança tira proveito desta zona erógena retendo as fezes até que sua acumulação
provoque violentas contrações musculares e, ao passarem pelo ânus, exerçam grande
estimulação na mucosa anal. Experimenta-se com isso, ao mesmo tempo, uma
sensação de volúpia junto de sensações dolorosas.
A criança também trata das fezes como parte do seu próprio corpo e como o primeiro
presente dado aos pais ao mesmo tempo em que as fezes também podem ser sentidas
como ataques.
Mais tarde, a criança experimentará as fezes como equivalendo à produção de um
bebê que, segundo esta teoria sexual infantil, é ingerido pela comida e nasce pelo
intestino.
Também há a estimulação masturbatória com a ajuda do dedo provocada por
comichões e coceiras, algo muito presente em crianças mais velhas.
Para ele, a criança que fora seduzida corre o risco de se tornar perversa polimorfa,
pois, todas as crianças trazem a disposição para tal apresentando pouca resistência, já
que, conforme a idade em que isso ocorre, os diques contra os excessos sexuais
(moral, vergonha e asco) ainda não foram erigidos.
As pulsões de olhar, de exibir e a crueldade aparecem também neste período com
certa independência das zonas erógenas e mais tarde entram em estreita ligação com
a vida genital.
A estas formas de obtenção de prazer (oral, anal, pulsão de olhar, de exibir,
crueldade em sua forma ativa e passiva) Freud deu o nome deorganização pré-
genital. Por isso, as crianças que mostram extrema crueldade com animais ou colegas
estão sujeitas a uma atividade sexual intensa e precoce advinda das zonas erógenas A
ausência da compaixão traz o risco de que esta associação entre a crueldade e as
zonas erógenas se torne indissolúvel na vida.
Entre três e cinco anos não ocorre somente a primeira florescência da sexualidade,
mas também a pulsão de saber se intensifica (amplamente intensificada pelos
problemas sexuais e até mesmo despertada por eles).
Enigma da Esfinge: a primeira questão prática que ocupa a mente das crianças não é a
diferença entre os sexos, mas de onde vêm os bebês.
Complexo de Castração e inveja do pênis
Teorias do nascimento
Ambivalência
Neste primeiro tempo de escolha objetal as aspirações sexuais já se voltam para uma
única pessoa. A única diferença com a etapa genital propriamente dita é que aqui a
sexualidade ainda está a serviço das pulsões parciais, sendo que o primado da
sexualidade genital só será conseguido na próxima etapa (puberdade).
Regiões da pele (a pele como um todo deve ser considerada uma zona erógena)
Excitações (agitações) mecânicas do corpo. Freud cita aqui o prazer sentido por uma
criança ao ser jogada para o alto pelo seu pai, bem como o embalo rítmico de uma
criança, capaz de fazê-la adormecer e o sacolejar de trens e carruagens.
Atividade muscular intensa. Segundo Freud, toda criança tira desta necessidade (de
agitação muscular intensa) o máximo prazer, embora ele não saiba ao certo se a
agitação muscular leva à excitação sexual ou se é uma forma de prazer sensual em si
mesma. Cita o caso de crianças e adolescentes que vivenciam os primeiros sinais de
excitação durante brigas e lutas com seus oponentes. Para ele, esta relação entre
atividade muscular e pulsão sexual explicaria uma das raízes da pulsão sádica.
Processos afetivos: excitações assustadoras, medo, angústia ou horror que, segundo
ele, tem um efeito sexualmente excitante. Aqui há um elemento importante de
diálogo com a pedagogia, pois, segundo ele, muitos dos problemas comportamentais
dos escolares se devem à emergência de sua sexualidade. Da mesma forma, segundo
ele, a dor, quando excluído o risco maior à vida, também tem um efeito erógeno no
corpo (uma das raízes da pulsão sadomasoquista ou o masoquismo erógeno).
Trabalho intelectual: pela via sublimatória, segundo ele, a atividade de se concentrar
num trabalho intelectual produz em muitas pessoas, jovens e adultas, uma excitação
sexual concomitante.
Freud conclui este capítulo argumentando que, segundo ele, não há nada que ocorra
no organismo que não forneça componentes para a excitação da pulsão sexual, muito
embora esta estimulação dependa da qualidade do estímulo e de sua intensidade.
Segundo ele, o próprio desenvolvimento do indivíduo lança mão de formas de colocar
a sua sexualidade em marcha, embora a elucidação deste processo ainda necessite de
maiores esclarecimentos.
Vias de influência recíproca: Para ele, se a fonte da excitação sexual está ligada à
outras funções fisiológicas é perfeitamente possível que o caminho inverso também
seja verdadeiro. Assim, quando as funções erógenas são perturbadas, distúrbios da
nutrição podem surgir. Da mesma forma, o estado de excitação sexual pode
influenciar a atenção dirigível a algo. Por isso, para ele, grande parte da
sintomatologia das neuroses derivada de perturbações nos processos sexuais, se
expressa em perturbações de outras funções não necessariamente sexuais.
É também por esta “via de mão dupla” que se explica a possibilidade de sublimar a
sexualidade através do exercício de atividades não sexuais.
É neste momento que a vida sexual infantil encontra sua configuração normal
definitiva.
Obtenção de prazer através das zonas Descarga dos produtos sexuais (clímax
erógenas sexual) a serviço da função reprodutora
Os perigos do pré-prazer
Freud discute aqui que o modelo de relação com os objetos sexuais na puberdade e na
vida adulta estão assentados na relação originária com o seio. É a ternura exercida
pela mãe um dos principais motores para o posterior amor sexual.
“O trato da criança com a pessoa que a assiste é, para ela, uma fonte incessante de
excitação e satisfação sexual vindas das zonas erógenas, ainda mais porque a mãe
contempla a criança com os sentimentos derivados de sua própria vida sexual”.
“É verdade que o excesso de ternura por parte dos pais torna-se pernicioso na medida
em que acelera a maturidade sexual e também, mimando a criança, torna-a incapaz de
renunciar temporariamente ao amor em épocas posteriores da vida ou de se contentar
com menor dose dele. Um dos melhores prenúncios de neurose posterior é quando a
criança se mostra insaciável em sua demanda de ternura dos pais. Por outro lado, são
os pais neuropáticos que em geral tendem a exibir uma ternura desmedida”.
Angústia infantil
Angústia na infância: falta que a criança sente da pessoa amada, por isso se angustiam
diante de qualquer estranho. Tendem a um estado de angústia intenso crianças com
uma pulsão sexual desmedida ou prematuramente desenvolvida, ou que se tornou
muito exigente em função dos mimos excessivos.
Libido – angústia: “A criança transforma sua libido em angústia quando não pode
satisfazê-la, assim como o adulto neurotizado pela libido insatisfeita comporta-se
como uma criança em sua angústia: teme ficar sozinho e age por meio das medidas
mais pueris”.
A barreira do incesto
Quando a ternura dos pais pelo filho é bem sucedida em evitar (ou dosar) que a pulsão
seja prematuramente despertada nele, ele pode cumprir sua tarefa de orientar o filho,
na maturidade, em sua escolha de objeto sexual.
Mas, porque não escolher o caminho mais curto, ou seja, escolher como objeto sexual
as mesmas pessoas a quem se ama desde a infância? “O respeito à barreira do incesto
é uma exigência cultural da sociedade que tem que se defender da devastação pela
família dos interesses que lhe são necessários para o estabelecimento de unidades
sociais superiores”.
O jovem neste momento vivenciará fantasias incestuosas intensas, agora mais
comumente diferenciadas em atração pelo sexo oposto. Diante do repúdio a estas
fantasias, o jovem deverá realizar uma das mais significativas e dolorosas experiências
do período da puberdade: o desligamento da autoridade dos pais, única medida capaz
de trazer o progresso da cultura, entre a nova e a velha geração.
Entretanto, um grande número de indivíduos fica retido aí ou só conseguem realizar
esta passagem de maneira muito incompleta. Freud cita aqui o exemplo de moças que
se casam, mas não conseguem entregar ao marido o que lhe é devido (ou seja, uma
esposa adulta) e permanecem ainda muito vinculadas aos pais.
“As perturbações mais profundas do desenvolvimento psicossexual carregam, de
maneira inequívoca, escolhas objetais incestuosas, embora tais intenções permaneçam
inconscientes pelo repúdio à sexualidade que tais pessoas têm”.
“Necessidade exagerada de ternura e horror desmedido às exigências reais da vida
sexual. Agarram-se por toda a vida à sua inclinação infantil e voltam sua libido para
pais ou irmãos”.
Freud destaca aqui que nenhum ser humano escapa inteiramente da influência da
fixação incestuosa em suas escolhas amorosas adultas.
“O homem busca a imagem mnêmica da mãe e por isso esta, quando ainda viva, se
opõe a tal reedição dela mesma, tratando por isso a nora com hostilidade”.
“Em muitos histéricos, vê-se que a ausência precoce de um dos pais (por morte,
divórcio ou separação) em função da qual o remanescente absorveu a totalidade do
amor da criança, foi o determinante do sexo da pessoa posteriormente escolhida como
objeto sexual, com isso possibilitando a inversão permanente”.